quarta-feira, 31 de julho de 2019

Hepatite: tudo o que você precisa saber sobre os diferentes tipos da doença, que pode levar à morte


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionA hepatite é a inflamação do fígado e é a segunda maior doença infecciosa letal do mundo

Todos os anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as hepatites virais causam 1,7 milhão de mortes no mundo.

No Brasil, entre 1999 a 2018, foram registrados 632.814 casos da doença. Desse total, 167.108 (26,4%) foram do tipo A, 233.027 (36,8%) do B, 228.695 (36,1%) do C e 3.984 (0,7%) do D (ou Delta).

Os dados constam no Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2019, divulgado esta semana pelo Ministério da Saúde.

A boa notícia é que, de 2008 a 2018, houve redução de 7% no número de notificações, passando de 45.410 para 42.383. O levantamento também apontou queda de 9% nos óbitos, saindo de 2.362 em 2007 para 2.156 em 2017, sendo 1,6% associados à hepatite A, 21,3% a B, 76% a C e 1,1% a D.

Em relação à distribuição dos casos pelo país, o Nordeste, concentra a maior proporção das infecções pelo vírus A (30,3%), o Sudeste, pelos vírus B e C, com 34,9% e 60,0%, respectivamente, e o Norte acumula, pelo D (74,9%).

O que é hepatite?

Segunda maior doença infecciosa letal do mundo (a primeira é a tuberculose), a hepatite é a inflamação do fígado. As principais causas dessa condição são os vírus (A, B, C, D e E) - alguns medicamentos, consumo excessivo de álcool e outras drogas e doenças autoimunes, metabólicas e genéticas também podem desencadeá-la.

Para saber mais sobre ela, a BBC News Brasil conversou com o patologista Helio Magarinos Torres Filho, membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (SBPC) e diretor médico do Richet Medicina & Diagnóstico; Ivan França, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, e Raquel Stucchi, infectologista e professora da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenadora do Grupo de Estudos das Hepatites da FCM.
Hepatite A


Direito de imagemERASMO SALOMÃO/MINISTÉRIO DA SAÚDEImage captionMelhor forma de se prevenir contra a hepatite A é com a vacina

Em 2018, de acordo com o Ministério da Saúde, foram notificados 2.149 casos de hepatite A no Brasil, o que equivale a uma taxa de detecção de 1 caso por 100 mil habitantes - em 2008, era de 6,2 por 100 mil habitantes.

Sua transmissão se dá por contágio fecal-oral, na ingestão de alimentos e/ou água contaminados, especialmente em locais com condições precárias de saneamento básico. Outra forma, essa menos comum, é através da prática sexual oral-anal, pelo contato da mucosa da boca com o ânus da pessoa infectada.

Nem sempre a hepatite A apresenta sintomas, apenas nos quadros agudos. Entre os principais estão dor abdominal, diarreia, náusea, vômito, intolerância a cheiros, pele e olhos amarelados, urina escura, fezes claras, mal estar e dor no corpo.

Na maioria dos casos, a doença se cura sozinha, em uma ou duas semanas, e a pessoa adquire imunidade, ou seja, não terá uma nova infecção.

O tratamento deste tipo de hepatite é sintomático e ainda inclui repouso, dieta e evitar o consumo de bebida alcoólica.

A melhor forma de se prevenir é com a vacina, disponível gratuitamente para crianças de 15 meses a 5 anos incompletos (4 anos, 11 meses e 29 dias) nas unidades básicas de saúde, e para grupos de risco (pessoas de qualquer idade que tenham hepatopatias crônicas, coagulopatias, hemoglobinopatias, HIV, doenças imunossupressoras e de depósito, fibrose cística e trissomias, candidatos a transplante de órgãos e doadores de órgãos cadastrados em programas de transplantes), nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIEs) - para os demais indivíduos, a imunização está disponível em clínicas e laboratórios privados.

Além disso, é importante lavar bem os alimentos antes de consumi-los, não comprá-los em qualquer lugar, só beber água limpa, ter atenção à água que usará para cozinhar e cuidar da higiene pessoal.
Hepatite B

No ano passado, 13.992 casos de hepatite B foram registrados no país, o que representa 6,9 casos por 100 mil habitantes.

Nesta variação, a transmissão ocorre pelo contato com sangue contaminado, por meio do compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos que furam ou cortam, materiais que não foram esterilizados corretamente, sexo desprotegido e de mãe para filho (transmissão vertical) no parto.

Apresenta tanto formas agudas, ou seja, quando há sintomas - são cerca de 10% das ocorrências, tendo as mesmas manifestações clínicas da hepatite A -, quanto crônicas (quando o vírus persiste no organismo por mais de seis meses).

A enfermidade tem tratamento, ofertado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e controle, a fim de que não evolua para cirrose e câncer de fígado. Ele é feito com a administração de medicamentos antivirais.

O Ministério da Saúde também disponibiliza vacina. Para as crianças, são quatro doses (ao nascer, 2, 4 e 6 meses) e, para os adultos, três doses a depender da situação vacinal. Pessoas que tenham algum tipo de imunodepressão ou o vírus HIV precisam de um esquema especial, com dose em dobro.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionIlustração do vírus da hepatite B a nível microscópico; transmissão ocorre pelo contato com sangue contaminado
Hepatite C

Pelos dados do Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2019, no ano passado foram notificados 26.167 casos de hepatite C no Brasil, com taxa de detecção de 13 por 100 mil habitantes.

Dentro todos os tipos da doença, essa é a mais mortal. Para se ter uma ideia, de 2000 a 2017, foram 53.715 óbitos associados a ela.

O Ministério da Saúde relata que, atualmente, mais de 500 mil pessoas convivem com o vírus e não sabem, já que se trata de uma enfermidade geralmente silenciosa, até que atinja maior gravidade.

A forma crônica é comum em 80% dos pacientes e, desses, 20% podem evoluir para cirrose hepática e de 1% a 5% para câncer de fígado.

A patologia é transmitida da mesma forma que a B, por contato com sangue contaminado, sexo desprotegido e de mãe para filho na hora do parto.

O tratamento, gratuito pelo SUS, se dá com o uso de antivirais de administração oral, determinados de acordo com o genótipo do vírus e o comprometimento do fígado. Ele é realizado de três meses a um ano e tem excelentes chances de cura, passando de 95%.

Por não ter vacina, a melhor forma de se prevenir é não compartilhar objetos de uso pessoal e cortantes ou perfurantes, usar preservativo e, ao se submeter a qualquer procedimento, certificar-se de que os materiais usados são esterilizados e os descartáveis não estão sendo reaproveitados.
Hepatite D

No ano passado, no país, houve 145 casos da hepatite D, também chamada de Delta. Esse tipo da enfermidade depende da presença do vírus B para contaminar uma pessoa.

Da mesma forma que as outras variações, dificilmente apresenta sintomas - que também são os mesmos. A forma de transmissão é por relações sexuais sem camisinha com alguém infectado, da mãe doente para o filho durante o parto e pelo compartilhamento de objetos cortantes.

A infecção pode ser tanto aguda quanto crônica e tem tratamento - com duração de três meses a um ano - e controle, evitando a evolução para cirrose e câncer. A melhor forma de se prevenir e não contrair a hepatite B, o que se consegue com vacina.
Hepatite E

Esse tipo de hepatite tem baixa prevalência no Brasil, tanto que nem consta no Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2019.

Seu contágio é igual ao da A: por condições precárias de saneamento básico, água e alimentos contaminados e falta de higiene pessoal.

Também quase não apresenta sintomas, mas, quando eles surgem, são basicamente os mesmos das demais: cansaço, enjoo, vômitos, febre, dor abdominal, fezes claras, urina escura e pele e olhos amarelados.

Na maioria dos casos, não necessita de tratamento, sendo indicado apenas repouso, dieta e não consumir bebida alcoólica. Há o risco de cronificar em pessoas imunodeprimidas e transplantados.

Por não ter vacina, a melhor forma de se prevenir é lavar bem as mãos após ir ao banheiro e antes de comer, lavar bem os alimentos e não ter contato com água de valões, riachos, chafarizes, enchentes e esgoto.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionSaneamento e higiene precárias favorecem infecção por hepatites A e E
Exames periódicos

Junto com as recomendações relacionadas a cada um dos tipos das hepatites virais, os especialistas consultados pela BBC News Brasil afirmam que é imprescindível fazer, pelo menos, uma vez no ano, exames de rotina para saber se tem a doença - são realizados com a coleta de uma amostra de sangue.

Isso porque o diagnóstico precoce é essencial para evitar complicações e para o sucesso do tratamento.

Em anúncio recente, por conta do Julho Amarelo, ação que visa prevenir e conscientizar sobre as hepatites virais, o governo disse que pretende aumentar o número de testagem e que irá ampliar a expectativa de tratamento para 50 mil por ano.




Autor: Renata Turbiani
Fonte: São Paulo para a BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 31/07/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-49173317

terça-feira, 30 de julho de 2019

Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) avalia que o Brasil desativou 16 mil leitos de internação pediátrica desde 2010


Foto: Marcello Casal/Agência Brasil

Desde 2010, houve queda de leitos de internação pediátrica tanto no SUS como em unidades privadas

ABr

Um levantamento feito pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) mostrou que nos últimos nove anos o Brasil desativou 15,9 mil leitos de internação pediátrica, aqueles destinados a crianças que precisam permanecer no hospital por mais de 24 horas. Segundo a SBP, dados obtidos no Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (CNES), mantido pelo Ministério da Saúde, indicam que em 2010, o país dispunha de 48,8 mil leitos no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2019, segundo dados relativos ao mês de maio, o número baixou para cerca de 35 mil.

A pesquisa também mostra que os leitos disponíveis nos planos de saúde ou em unidades privadas caíram em 2.130 no mesmo período, com 19 estados perdendo leitos pediátricos nessa rede. São Paulo desponta com a maior queda: ao todo foram 762 unidades encerradas, seguido do Rio Grande do Sul (-251) e Maranhão (-217).

Segundo os dados, os estados das regiões Nordeste e Sudeste foram os que mais sofreram com a redução de leitos de internação no SUS, com 5.314 e 4.279 leitos a menos, respectivamente. Em seguida estão as regiões Sul (-2.442 leitos), Centro-Oeste (-1136) e Norte (-643).

São Paulo foi o estado que mais perdeu leitos de internação infantil entre 2010 e 2019, com 1.583 leitos pediátricos desativados. No sentido contrário dois estados tiveram aumento no número de leitos SUS: Amapá, que saltou dos 182 leitos pediátricos existentes em 2010 para 237 no fim do ano passado, e Rondônia, foi de 508 para 517.

Entre as capitais, São Paulo lidera o ranking dos que mais perderam leitos na rede pública (-422), seguidos por Fortaleza (-401) e Maceió (-328). Três capitais, Salvador, Macapá e Manaus, conseguiram elevar a taxa de leitos, o que sugere que o grande impacto de queda tenha recaído sobre as demais cidades metropolitanas ou interioranas dos estados.

Infraestrutura precária

Segundo a presidente da SBP, Luciana Rodrigues Silva, as informações coincidem com o panorama de limitações e precária infraestrutura que se apresenta àqueles que diariamente atuam nos serviços de assistência pediátrica. “A queda na qualidade do atendimento tem relação direta com recursos materiais insuficientes. Essa progressiva redução no número de leitos implica obviamente em mais riscos para os pacientes, assim como demonstra o sucateamento que se alastra pela maioria dos serviços de saúde do país”, disse.

De acordo com Luciana, entre os agravos que mais têm levado as crianças a precisar de internação estão as doenças respiratórias, com prevalência acentuada nos períodos de outono e inverno, como bronquiolites, crises de asma e pneumonias. Os problemas gastrointestinais, casos de alergias e as chamadas arboviroses, também de ocorrência sazonal, completam a lista que contribuem para o crescimento dessa demanda.

UTIs neonatais

De acordo com a SBP, levando em conta o número de prematuros que nascem no Brasil (912 por dia), faltam pelo menos 2.657 leitos intensivos neonatais em todo o Brasil, sendo que o ideal seria haver no mínimo quatro leitos para cada grupo de mil nascidos vivos.

“Atualmente, no entanto, dados do Cadastro Nacional de Estabelecimento de Saúde (Cnes) indicam a existência 9.037 leitos do tipo no país, públicos e privados, que correspondem a 3,1 por mil nascidos vivos. Se considerados apenas os leitos oferecidos no SUS, esta taxa cai para 1,6 leitos por mil 1.000, considerando as 4.764 unidades existentes”, diz a SBP.

Entre os estados, o pior resultado apurado pela SBP consta em Roraima, onde os 12 leitos de UTI neonatal disponíveis compõem a taxa de 1,02 leito por mil nascidos vivos. Na segunda pior posição, o Amazonas, com 1,29 leito por um milhar, seguido do Acre, onde o mesmo grupo de recém-nascidos tem 1,34 leito. Na outra ponta, três unidades da federação atingiram a taxa mínima preconizada pelos pediatras: Rio de Janeiro, com 5,53 leitos por mil nascidos vivos; Espírito Santo, com taxa de 4,82 leitos; e Distrito Federal, com 4,22.

Ministério da Saúde

Por meio de nota, o Ministério da Saúde informou que, de 2010 a maio de 2019 foi registrado aumento de quase três vezes no número dos leitos complementares no SUS, incluindo os de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), passando de 10.787 para 30.855, dos quais 4.764 de UTI Neonatal e 2.525 leitos de UTI Pediátrico. Os leitos de UTI são os de maior complexidade, que exigem estrutura e esforço de profissionais, além de serem destinados a pacientes em casos graves.

“O Ministério da Saúde, nos últimos anos, investiu na expansão de leitos pediátricos e neonatais para atendimento de maior complexidade, destinados a pacientes graves e que exigem maior estrutura e esforço de profissionais. O crescimento da oferta de leitos de cuidados intermediários e intensivos para esses casos foi de 25% entre 2010 e 2018, totalizando atualmente mais de 11,6 mil leitos no SUS, de julho de 2010 a março de 2019”, diz a nota.

Segundo o Ministério, a habilitação de novos leitos deve ser solicitada pelos gestores locais. A habilitação e a liberação de recursos são feitas mediante apresentação de projetos, que são analisados pela pasta. “O gestor local também tem autonomia para ampliar o número de leitos com recursos próprios, a partir de sua avaliação em relação a demanda e necessidade e capacidade instalada de oferta assistencial. A habilitação de leitos pelo Ministério da Saúde assegura recursos adicionais para o custeio do serviço”.


Por Flávia Albuquerque, Repórter da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/07/2019




Autor: Flávia Albuquerque
Fonte: Agência Brasil
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/07/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/07/30/sociedade-brasileira-de-pediatria-sbp-avalia-que-o-brasil-desativou-16-mil-leitos-de-internacao-pediatrica-desde-2010/

Plantas Alimentícias Não Convencionais – PANCs: Livro, disponível on-line e gratuitamente, traz receitas com plantas comestíveis pouco conhecidas

Você já ouviu falar nas PANC? Essa é a sigla para Plantas Alimentícias Não Convencionais. Ou seja, plantas que podem ser utilizadas em receitas culinárias, mas não são frequentemente aproveitadas, comparando-se com outros tipos de plantas.

Jornal da USP

Ora-pro-nóbis, capeba, capuchinha, serralha são exemplos de folhas que estão no Livro de Receitas com PANC, um compilado de 11 criações dos chefs de cozinha Flávia Zanatta e Michel Abras. O livro está disponível em PDF on-line para consulta e download.

As preparações culinárias foram ensinadas durante uma oficina culinária realizada, no ano passado, no Laboratório de Técnica Dietética da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP para nutricionistas da Secretaria Municipal de Educação da Prefeitura de São Paulo.

As receitas que integram o livro possuem como base os ingredientes utilizados na alimentação dos estudantes da rede municipal da capital paulista. Além de praticidade e simplicidade na elaboração dos pratos, foi considerada a dinâmica das cozinhas nas quais o cardápio estudantil municipal é preparado.

Além disso, as receitas dialogam com os princípios do Guia Alimentar para a População Brasileira do Ministério da Saúde, ao priorizar a utilização de alimentos in natura e minimamente processados, e com os pilares da alimentação sustentável, por meio do aproveitamento integral dos alimentos, minimizando o desperdício e consequentemente a geração de resíduos sólidos nas cozinhas escolares.

Entre as receitas estão escondidinho PANC, carne suína, filé de peixe, omelete de forno, sucos, doces e saladas. O vídeo completo da oficina, na qual os chefes falam sobre as plantas e as receitas, está disponível on-line no Canal Pedagógico da SME pelo YouTube.

Confira algumas PANC nas imagens abaixo:


Almeirão roxo – Foto: Paulo Roberto de Souza via Flickr / CC BY-SA 2.0


Cúrcuma: raiz pode ser usada para molhos e temperos em geral – Foto: Simon A. Eugster via Wikimedia Commons / CC BY-SA 3.0


Serralha – Foto: AnRo0002 via Wikimedia Commons / CC0
Com informações da Assessoria de Comunicação da FSP
Do Jornal da USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/07/2019



Autor: Jornal da USP
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/07/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/07/30/plantas-alimenticias-nao-convencionais-pancs-livro-disponivel-on-line-e-gratuitamente-traz-receitas-com-plantas-comestiveis-pouco-conhecidas/

Ações do MPF no Pará apontam provas do completo descontrole da cadeia econômica do ouro no Brasil

Em plena era digital, falta sistema informatizado de fiscalização, e notas fiscais ainda são preenchidas à caneta


Área de garimpo ilegal em que Ibama desativou máquinas de mineração na Terra Indígena Munduruku, no Pará, em maio de 2018 (créditos: Vinícius Mendonça/Ibama, em licença CC BY-SA 2.0, via Flickr)



Uma investigação inédita para esmiuçar o funcionamento de uma das maiores empresas compradoras de ouro no maior polo da mineração ilegal no Brasil, a bacia do Tapajós, no sudoeste do Pará, resultou em um retrato do completo descontrole do país sobre essa cadeia econômica, responsável por prejuízos financeiros, sociais e ambientais de proporções devastadoras.

Coletadas durante três anos pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF), uma série de provas do quanto é frágil a regulamentação e a execução do papel fiscalizador do Estado foram reunidas em duas ações propostas pelo MPF à Justiça Federal em Santarém em maio e julho deste ano.

Uma ação, na área criminal, foi ajuizada contra os responsáveis por um posto de compra de ouro da empresa Ourominas em Itaituba, acusados de formarem uma organização criminosa para fraudar documentação e, assim, “esquentar” (acobertar) a origem clandestina do ouro. Só entre 2015 e 2018, o grupo fraudou a compra de 610 quilos do minério, causando um prejuízo de R$ 70 milhões à União.

A outra ação, na área cível, foi proposta contra a Agência Nacional de Mineração (ANM), a União, o Banco Central, o posto de compra e a Ourominas. Nessa ação o MPF cita, pela primeira vez, trechos de um manual de atuação da instituição para o combate à mineração ilegal. O documento foi elaborado pela força-tarefa Amazônia do MPF, integrada por procuradores da República de todos os estados da região, que fizeram um diagnóstico aprofundado sobre os problemas, indicando soluções para a questão.

Procedimentos de controle arcaicos – Como ainda não contam com um sistema informatizado, os procedimentos atuais para o controle da compra, venda e transporte do ouro são um campo fértil para fraudes.

As notas fiscais são preenchidas manualmente, à caneta. O máximo de tecnologia exigido pela legislação para a confecção dos documentos da cadeia do ouro é a máquina de escrever e o papel-carbono. As notas fiscais em papel ficam estocadas com os compradores. Não há nota fiscal eletrônica, não há acesso automático às informações pelo poder público, e muito menos cruzamento de dados.

A atividade garimpeira sequer é definida de modo claro na legislação, permitindo que a atuação de uma empresa mineradora de porte industrial tenha seus impactos considerados equivalentes à atividade de um garimpeiro artesanal.

Não há limites para a emissão de autorizações de exploração de lavra: uma mesma pessoa ou cooperativa pode ser detentora de quantas permissões de lavra conseguir registrar em seu nome.

Também não há controle sobre o uso das permissões de exploração, facilitando muito o “esquentamento” do ouro clandestino. As permissões continuam em vigor mesmo que as áreas não tenham sido exploradas, ou que seus detentores não apresentem relatórios de produção, ou que apresentem relatórios zerados ou incompatíveis com a quantidade de minério indicada em notas fiscais.

A legislação prevê a criação de um sistema de certificação de reservas e de recursos minerais. No entanto, o sistema ainda não está criado. Houve consulta pública no final de 2018, e a avaliação das propostas está a cargo da ANM.

O sistema deveria servir para subsidiar a formulação e implementação da política nacional para as atividades de mineração, fortalecer a gestão dos direitos e títulos minerários, consolidar as informações relativas ao inventário mineral brasileiro, definir e disciplinar os conceitos técnicos aplicáveis ao setor mineral, entre outras funções.

Riquezas saqueadas – A Amazônia brasileira já tem mais de 450 áreas ou pontos de mineração ilegal, registra o relatório Amazônia Saqueada, publicado no final do ano passado por pesquisadores da Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (Raisg).

Só na bacia do Tapajós são comercializadas ilegalmente 30 toneladas de ouro por ano – R$ 4,5 bilhões em recursos não declarados –, seis vezes mais que o comércio legal na mesma região, segundo informações apresentadas pela ANM em audiência pública realizada em abril deste ano na Câmara dos Deputados.

Envenenamento em massa – De acordo com laudo elaborado pela PF e pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), nas águas do Tapajós a mineração ilegal de ouro despeja, a cada 11 anos, o equivalente à barragem da Samarco que rompeu em Mariana (MG) em 2015, destruindo a calha do rio Doce, entre Minas Gerais e Espírito Santo.

Há estimativas de que até 221 toneladas de mercúrio são liberadas por ano para o meio ambiente pela mineração ilegal no Brasil, indicam estudos preliminares apresentados em 2018 na primeira reunião do Grupo de Trabalho Permanente da Convenção de Minamata sobre Mércurio (GTP-Minamata), realizada pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA).

A Convenção de Minamata é um acordo global para controlar o uso do mercúrio, tendo em vista a letalidade da substância para a saúde humana e para o meio ambiente. Em agosto de 2018 foi publicado decreto presidencial que concluiu a internalização jurídica, pelo Brasil, da Convenção. Com a promulgação do decreto, as determinações da Convenção de Minamata tornaram-se compromissos nacionais oficiais.

O mercúrio envenena principalmente quem trabalha em áreas de mineração ou vive perto delas, como povos indígenas e comunidades ribeirinhas, além da população consumidora do pescado. No ser humano, a substância afeta o sistema nervoso central, causando problemas de ordem cognitiva e motora, perda de visão, doença cardíaca e outras deficiências.

Urgência sanitária – Na região do Tapajós, já foram detectadas alterações cardiológicas e neurológicas em pessoas que têm alto nível de metilmercúrio, relatou na audiência da Câmara dos Deputados o neurocirurgião Erick Jennings Simões, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) do Ministério da Saúde.

Ele destacou que não há cura para esses problemas originados pela contaminação por mercúrio, e que no Tapajós as pesquisas indicaram que a contaminação tem afetado até mesmo moradores de áreas urbanas distantes da região de garimpo, como os moradores de Santarém, um dos municípios mais populosos do Pará, com cerca de 300 mil habitantes.

Uma das lideranças indígenas presentes na audiência pública, Alessandra Korap, da etnia Munduruku, denunciou que as crianças estão reclamando de dores e que as mulheres grávidas estão sofrendo abortos espontâneos, algo que não acontecia nas aldeias. Segundo o neurocirurgião Erick Jennings, o metilmercúrio consegue atravessar a placenta, podendo causar danos irreversíveis ao feto.

Para pesquisadores do Ministério da Saúde e da Ufopa ouvidos por deputados federais, é “urgência sanitária” o monitoramento clínico e laboratorial das populações submetidas à contaminação de mercúrio na bacia do Tapajós.

Invasão originou ação – A mineração ilegal é um dos principais vetores de invasões a áreas protegidas, como Terras Indígenas e Unidades de Conservação (UCs). A investigação que deu origem às ações ajuizadas pelo MPF em Santarém, por exemplo, começou a partir das operações Dakji I e II, realizadas em 2016 para combater garimpagem ilegal de ouro na zona de amortecimento da Terra Indígena Zo’é, no município de Óbidos. A zona de amortecimento é uma área de proteção integral.

As operações deram origem a três inquéritos policiais. Em um deles, investigados que atuavam na área conhecida como garimpo Pirarara, na zona de amortecimento da Terra Indígena, relataram que vendiam o minério à Ourominas sem a necessidade de apresentar qualquer tipo de comprovante de legalidade da origem do produto.

Interditados nas operações, os garimpos ilegais foram sucessivamente reocupados por novas levas de garimpeiros, agora em 2019 pela terceira vez. “Este fato denota a dificuldade em se combater a extração ilegal de ouro tão somente a partir do exercício do poder de polícia ambiental in loco nos ‘garimpos’ ilegais. Esta ação civil pública busca promover um reenquadramento da problemática, impelindo os entes públicos a também exercerem sua atribuição regulatória e fiscalizatória sobre elos da cadeia que até então operam à margem do olhar estatal: os compradores de ouro ilegal”, explica o MPF na ação cível.

A ação cível foi assinada pelos procuradores da República Camões Boaventura, Paulo de Tarso Moreira de Oliveira, Ana Carolina Haliuc Bragança, Patrícia Daros Xavier e pelo assessor jurídico do MPF Rodrigo Magalhães de Oliveira. A denúncia criminal foi assinada pelos mesmos membros do MPF autores da ação cível, além dos procuradores da República Hugo Elias Silva Charchar e Antônio Augusto Teixeira Diniz.

Impactos em série – Além dos prejuízos financeiros bilionários para o país, dos graves riscos à saúde da população, e das invasões a áreas protegidas, a mineração ilegal estimula uma série de outros problemas socioambientais: desmatamento ilegal – que já eliminou 20% da cobertura vegetal original da Floresta Amazônica –, assoreamento de rios, grilagem (usurpação de terras públicas), conflitos agrários, trabalho insalubre, trabalho escravo, tráfico de pessoas e exploração sexual, doenças como malária, leishmaniose, e as sexualmente transmissíveis (DSTs), entre outras consequências.

Na prática – Nas próximas semanas, o MPF vai publicar uma série de matérias para resumir como as várias fragilidades do sistema de controle da cadeia do ouro possibilitaram a atuação da organização criminosa denunciada pela instituição.

Também serão descritos os pedidos feitos pelo MPF à Justiça relativos às instituições públicas e às empresas processadas.

O conteúdo integral das ações, com todos os detalhes disponíveis, já pode ser acessado nos links abaixo.


Ação cível: processo nº 1003404-44.2019.4.01.3902 – 2ª Vara da Justiça Federal em Santarém (PA)

Íntegra da ação

Consulta processual



Ação criminal: processo nº 0000244-28.2019.4.01.3902 – 2ª Vara da Justiça Federal em Santarém (PA)

Íntegra da ação

Decisão judicial

Consulta processual



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/07/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: Ministério Público Federal no Pará
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/07/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/07/30/acoes-do-mpf-no-para-apontam-provas-do-completo-descontrole-da-cadeia-economica-do-ouro-no-brasil/

Brasil é o 4º país que mais produz lixo plástico no mundo e o que menos recicla




Patrícia Faga Iglésias Lemos diz que impor multas ou punições é positivo, mas são necessários uma mudança de comportamento das pessoas e um trabalho educativo

Por Simone Lemos, Rádio USP

O Brasil é um dos países que mais produzem lixo plástico no mundo e o que menos recicla. São 11 toneladas por ano, e apenas 9% do plástico produzido no mundo é reciclado. Os números fazem parte de dados divulgados pela ONU no ano passado. Ainda não existe uma lei específica para o descarte do plástico, mas já existem ações que proíbem seu descarte irregular, com destaque e hoje em dia, para a proibição de uso dos canudos feitos desse material em São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará.

Segundo a professora Patrícia Faga Iglésias Lemos, do Departamento de Direito Civil da Faculdade de Direito da USP, impor multas ou punições é positivo, surte efeito, mas são necessários uma mudança de comportamento das pessoas e um trabalho educativo. A professora lembra da existência da lei federal de 2010, a Política Nacional de Resíduos Sólidos, na qual o descarte do material plástico se enquadra e proporciona uma destinação adequada. “O impacto dos resíduos dispostos inadequadamente no solo e também muitas vezes no mar é muito ruim para as pessoas, o meio ambiente e, no caso do mar, para os animais marinhos. Existe todo um entorno dessa lei que deve ser considerado e não somente a questão dos canudos”, observa. “A legislação é positiva ao impor um valor pelo descumprimento do seu regramento”, afirma Patrícia. Mas precisa ter um trabalho no comportamento, na educação, para alertar as pessoas.

Tocador de áudio

Da Rádio USP, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/07/2019



Autor: Rádio USP
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/07/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/07/30/brasil-e-o-4-pais-que-mais-produz-lixo-plastico-no-mundo-e-o-que-menos-recicla/

Pela segunda vez em menos de um mês, uma onda de calor intensa impacta a Europa

World Meteorological Organization (WMO)*


Pela segunda vez em menos de um mês, uma onda de calor intensa e intensa impactou a Europa, com muitos novos registros de temperatura máxima e mínima, interrupções no transporte e infraestrutura e estresse na saúde das pessoas e no meio ambiente.

A Bélgica, a Alemanha, o Luxemburgo e os Países Baixos registaram novos recordes nacionais de temperatura, com as temperaturas a ultrapassarem os 40 ° C no pico da onda de calor de 25 de julho. Na França, Paris registrou seu dia mais quente já registrado, com uma temperatura provisória de 42,6 ° C em 1632, um valor sem precedentes desde o início das medições. O Reino Unido registrou seu dia mais quente de julho.



Serviços meteorológicos e hidrológicos nacionais emitiram alertas de calor – incluindo o alerta vermelho de nível superior – e, em algumas áreas, avisos de incêndio para minimizar o risco à vida e ao meio ambiente.

A onda de calor foi causada pelo ar quente vindo do norte da África e da Espanha. De acordo com as previsões, o fluxo atmosférico transportará o calor para a Groenlândia, resultando em altas temperaturas e conseqüentemente aumentando o derretimento. O degenerescência e o escoamento persistentes nas últimas semanas, mas a corrida total da temporada um pouco abaixo de 2012, registraram uma alta perda, de acordo com cientistas climáticos do Instituto Meteorológico Dinamarquês. Isso também impactará o gelo do Ártico, onde a perda de gelo na primeira metade de julho correspondeu às taxas de perdas observadas em 2012, o ano que registrou a menor extensão do gelo marítimo em setembro, segundo dados do US National Snow e Centro de Dados de Gelo.

A onda de calor de julho segue uma onda de calor incomumente precoce e excepcionalmente intensa em junho, que estabeleceu novos recordes de temperatura na Europa e garantiu que o mês de junho fosse o mais quente já registrado no continente, com a temperatura média de 2 ° C acima do normal.
Junho foi também o mês mais quente de todo o mundo , com graves incêndios florestais no Ártico .

Mudança climática e ondas de calor

“Essas ondas de calor intensas e difundidas carregam a assinatura da mudança climática provocada pelo homem. Isso é consistente com a descoberta científica que mostra evidências de eventos de calor mais frequentes, prolongados e intensos, já que as concentrações de gases de efeito estufa levam a um aumento nas temperaturas globais ”, segundo Johannes Cullmann, diretor do Departamento de Clima e Água da OMM.

“A OMM espera que 2019 esteja nos cinco anos mais quentes já registrados, e que 2015-2019 seja o mais quente de qualquer período equivalente de cinco anos já registrado”, disse ele. A OMM enviará um relatório de cinco anos sobre o estado do clima 2015-2019 para a Cúpula de Ação Climática da ONU em setembro.

Muitos estudos científicos foram conduzidos sobre as relações entre as mudanças climáticas e as ondas de calor.

“Cada onda de calor que ocorre na Europa hoje é mais provável e mais intensa pela mudança climática induzida pelo homem”, disse um estudo publicado por cientistas da World Weather Attribution sobre a contribuição humana para a quebra de onda de junho de 2019 na França.

“As observações mostram um aumento muito grande na temperatura dessas ondas de calor. Atualmente, estima-se que esse evento ocorra com um período de retorno de 30 anos, mas ondas de calor igualmente freqüentes teriam sido cerca de 4 ºC mais frias há um século. Em outras palavras. , uma onda de calor intensa está ocorrendo pelo menos 10 vezes mais frequentemente hoje do que há um século “, afirmou.

Em seu Quinto Relatório de Avaliação (2014), o Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática disse que “é muito provável que a influência humana tenha contribuído para as mudanças observadas na escala global na frequência e intensidade dos extremos de temperatura diários desde meados do século XX. É provável que a influência humana mais do que duplicou a probabilidade de ocorrência de ondas de calor em alguns locais ”.
Em seu relatório de 2018 sobre o aquecimento global de 1,5 ° C, o IPCC disse que os riscos relacionados com o clima para a saúde, meios de subsistência, segurança alimentar, abastecimento de água, segurança humana e crescimento econômico devem aumentar com o aquecimento global de 1,5 ° C e aumentar mais com 2 ° C.

Limitar o aquecimento a 1,5 ° C em vez de 2 ° C pode resultar em 420 milhões de pessoas a menos sendo expostas a ondas de calor severas.

Entre 2000 e 2016, estima-se que o número de pessoas expostas às ondas de calor aumentou em cerca de 125 milhões de pessoas, pois a duração média das ondas de calor individuais foi 0,37 dias a mais, em comparação com 1986 e 2008, segundo a Organização Mundial de Saúde. .



Muitos países emitiram avaliações e cenários nacionais do clima que sublinham a estreita ligação entre a mudança climática e o calor.


Por exemplo, o relatório do Estado do Clima do Reino Unido mostrou um aumento nas temperaturas máximas mais altas e períodos de calor mais longos. O dia mais quente do ano para a década mais recente (2008-2017) aumentou 0,8 ° C acima da média de 1961-1990. Os períodos de calor também mais do que dobraram de comprimento – aumentando de 5,3 dias em 1961-90 para mais de 13 dias na década mais recente (2008-2017).

O verão de 2018 foi o conjunto mais quente já registrado para o Reino Unido como um todo e o mais quente de todos os tempos para a Inglaterra. A pesquisa do Met Office mostrou que a mudança climática induzida pelo homem fez com que as temperaturas recordes de verão do Reino Unido em 2018 fossem cerca de 30 vezes mais prováveis ​​do que teria sido naturalmente. Em 2050, espera-se que isso ocorra a cada dois anos.

A França também relatou um aumento na freqüência e intensidade das ondas de calor nos últimos 30 anos, de acordo com a Météo-France , em uma observação ecoada em outros lugares da Europa.
Os cenários suíços de mudança climática advertem que, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem a aumentar, em meados deste século, as temperaturas médias no verão podem ser até 4,5 ° C mais altas do que agora.

“Os aumentos nas temperaturas mais altas são ainda mais pronunciados do que nas temperaturas médias sazonais. Em 2060, os dias mais quentes em um verão comum podem ser até 5,5 ° C mais altos do que são hoje. Isso é explicado em parte pelo fato de que menos água estará evaporando e esfriando o solo porque haverá menos umidade no solo ”, diz o relatório suíço.

“As regiões da Europa que rodeiam o Mar Mediterrâneo, incluindo a Suíça, são afetadas por alguns dos aumentos mais severos nas temperaturas extremas em todo o mundo. Essa tendência tem sido aparente mesmo nas últimas décadas e é muito provável que continue no futuro ”, diz.

Onda de calor atual
O novo recorde absoluto de 42,6 ° C para Paris foi registrado em 25 de julho na estação meteorológica do centenário em Paris-Monsouris, e quebrou o recorde anterior que remonta a 28 de julho de 1947 com 40,4 ° C. Essa temperatura é típica da temperatura média de julho em Bagdad, no Iraque. A noite de 24/25 de julho também foi excepcionalmente quente, com temperaturas mínimas acima de 25 ° C e até 28,3 ° C em uma estação do centro de Paris.

O que chama a atenção é a margem com que os registros foram vencidos. Lille registrou 41,4 ° C, quase 4 ° C acima do recorde anterior. A França estabeleceu um novo recorde nacional de temperatura de 46 ° C durante a última onda de calor em 28 de junho. Foi apenas a segunda vez que a Méteo France emitiu alertas de nível vermelho para uma onda de calor na França. A primeira vez foi durante a onda de calor de junho, quando vários departamentos do sul foram colocados em alerta vermelho. Mas é sem precedentes que Paris e o norte do país estejam em alerta vermelho para uma onda de calor.


A Météo France disse que “todos nós somos ameaçados, até pessoas saudáveis”. Acrescenta: “O perigo é maior para os idosos, pessoas com doenças crônicas ou problemas de saúde mental, pessoas que tomam medicamentos regulares e pessoas que estão isoladas”. Aqueles que trabalham fora são instruídos a tomar cuidado e tomar cuidado com os sinais de insolação.

O Serviço Meteorológico Alemão, Deutscher Wetterdienst, descreveu o dia 25 de julho como um dia que fará a história do tempo. A Alemanha estabeleceu um novo recorde nacional de temperatura (figura provisória) de 42,6 ° C em Lingen, perto da fronteira holandesa, derrotando o antigo recorde de 2,3 ° C. Havia 25 estações meteorológicas acima de 40 ° C. O recorde anterior de temperatura nacional foi de 40,3 ° C (5 de julho de 2015).


a Holanda quebrou um recorde de calor de 75 anos (estabelecido em agosto de 1944) com uma temperatura de 40,7 ° C em Gilye Rijen. A Beigium também estabeleceu um novo recorde nacional de 41,8 ° C. Luxemburgo estabeleceu um novo recorde nacional de 40,8 ° C.
As temperaturas no Reino Unido chegaram a 38,1 graus Celsius no sul da Inglaterra, estabelecendo um novo recorde para a maior temperatura de julho registrada no Reino Unido. O novo recorde foi estabelecido em Cambridge às 15:37 desta tarde, batendo o recorde anterior de 36,7 ° C estabelecido em Heathrow em 2015, de acordo com o Met Office .


A Météo-France está alertando que a onda de calor acentuará a seca porque não choveu em muitas partes do país desde o final da última onda de calor no início de julho. Um número de lugares estabeleceu novos recordes para a menor quantidade de chuva desde o início dos registros, incluindo 0,2 mm no aeroporto de Orly, 1 mm em Lille. Milhares de hectares foram queimados por incêndios florestais no norte da França, onde é muito incomum ver incêndios florestais. Só na Normandia, um total de 1500 hectares ardeu ontem com 28 fogos diferentes. Esta região nunca experimentou tal situação antes.

O serviço meteorológico nacional da Espanha, AEMET, também está prevendo temperaturas acima de 40 ° C e a AEMET está alertando sobre riscos extremos de incêndio em grandes partes do país por causa de uma combinação de calor, vento e raios. Um incêndio assolou o centro de Portugal no início da semana.

Os serviços nacionais de meteorologia e hidrologia na Europa trabalham em estreita colaboração com as autoridades nacionais e locais em planos de ação de saúde de calor para proteger vidas. Esses sistemas de alerta precoce de saúde térmica ativaram os esforços de proteção civil em toda a região.

Os eventos de calor matam milhares de pessoas todos os anos e freqüentemente desencadeiam eventos secundários, como incêndios florestais e falhas nas redes elétricas.

A urbanização agrava o problema. A insolação, desidratação, doenças cardiovasculares e outras relacionadas com a temperatura são os principais riscos para a saúde.

Durante a onda de calor em andamento, o transporte público foi interrompido e as autoridades em muitas cidades impuseram limites aos carros particulares para tentar controlar a poluição.


* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/07/2019





Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/07/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/07/30/pela-segunda-vez-em-menos-de-um-mes-uma-onda-de-calor-intensa-impacta-a-europa/

segunda-feira, 29 de julho de 2019

Transtorno pós-parto: por que ocorre e como combater


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionUma mãe beijando seu bebê

Por Sarah Griffiths

São 3h da madrugada. Meu travesseiro está encharcado com suor frio, meu corpo está tenso e tremendo depois de acordar do mesmo pesadelo que me assombra todas as noites. Eu sei que estou segura na cama – isso é um fato. Minha vida não está mais sob risco, mas eu não consigo parar de pensar na terrível cena que passou novamente na minha cabeça enquanto eu dormia, então, continuo alerta, atenta a qualquer ruído no escuro.

Essa é uma das formas que eu vivencio o TEPT, ou transtorno de estresse pós-traumático. O TEPT é um transtorno de ansiedade causado por acontecimentos muito estressantes, assustadores ou perturbadores, que são frequentemente revividos em flashbacks e pesadelos. Os sintomas eram conhecidos como "shellshock" (trauma de guerra), e ficaram mais conhecidos depois da volta dos soldados das trincheiras da Primeira Guerra Mundial, depois de testemunhar horrores inimagináveis. Mesmo hoje, mais de cem anos depois do fim daquele conflito, TEPT ainda é predominantemente associado a guerras e a algo geralmente vivido por homens.

Milhões de mulheres no mundo todo, porém, sofrem de TEPT, não apenas depois de lutar em uma guerra – mas também depois do esforço para dar à luz, como aconteceu comigo. E os sintomas tendem a ser semelhantes, independentemente do trauma por que elas passaram.

"Mulheres com algum trauma podem sentir medo, sensação de impotência ou um horror em relação a suas experiências e enfrentar recorrentes lembranças desagradáveis, flashbacks, pensamentos ruins ou pesadelos relacionados ao parto. Elas podem sentir-se atormentadas, ansiosas ou em pânico, quando expostas a coisas que as lembrem do acontecimento, e evitar qualquer coisa que as lembrem do episódio, o que pode incluir falar sobre o assunto", diz Patrick O'Brien, um especialista em saúde mental materna do University College Hospital e porta-voz do Royal College de Obstetras e Ginecologistas do Reino Unido.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionUm parto, caso seja traumático, pode vir a causar TEPT na mãe e até mesmo no pai da criança

Apesar desses efeitos potencialmente desestabilizadores, o TEPT pós-natal só foi reconhecido nos anos 1990, quando a Associação Americana de Psiquiatria mudou sua descrição do que constitui um acontecimento traumático. Originalmente, a associação considerava TEPT apenas "algo fora do campo da experiência humana comum", mas depois mudou a definição para incluir um acontecimento em que a pessoa "testemunhou ou enfrentou uma ameaça física grave ou ferimento contra ela mesma ou outros e em que a pessoa reagiu com sentimentos de medo, impotência ou horror".

Isso significava que, antes da mudança, dar à luz um bebê era considerado algo corriqueiro demais para ser altamente traumático – apesar dos ferimentos com reflexos para a vida toda, e às vezes até mortes, que mulheres podem enfrentar em consequência de pôr crianças no mundo. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 803 mulheres morrem diariamente, em todo o mundo, em decorrência de complicações de gravidez e parto.

Há poucos números oficiais sobre quantas mulheres sofrem de TEPT pós-natal – e, devido à falta de reconhecimento dessa condição em mães, é difícil dizer se é um problema realmente comum. Alguns estudos estimam que 4% dos nascimentos levam a essa condição. Um estudo de 2003 concluiu que cerca de um terço das mães que sofrem um "parto traumático" – definido como aquele que envolve complicações, o uso de instrumentos para ajudar o parto ou risco de vida – acabam com TEPT.

Com o nascimento de 130 milhões de bebês a cada ano, isso significa que um número assustador de mulheres pode estar tentando lidar com o transtorno, com pouco ou nenhum reconhecimento. E o TEPT pós-natal pode não ser um problema apenas para mães. Estudos encontraram evidências de que pais também podem ter o problema, depois de testemunharem suas parceiras passarem por um parto traumático.

O fato é que quem passa por uma experiência dessas pode sentir um impacto longo em suas vidas. E os sintomas manifestam-se de muitas formas diferentes.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionMães que sofrem de TEPT podem ter pesadelos que fazem com que elas revivam momentos traumáticos de seus partos

"Eu frequentemente revejo as imagens do parto na minha cabeça", diz Leonnie Downes, uma mãe de Lancashire, no Reino Unido, que foi diagnosticada com TEPT, depois de achar que fosse morrer ao desenvolver sepse durante o trabalho de parto. "Eu me sentia constantemente ameaçada, uma sensação de insegurança constante."

Lucy Webber, outra mulher que teve TEPT depois de dar à luz, em 2016, diz que passou a ter comportamentos obsessivos e ficou extremamente angustiada. "Eu não consigo tirar o meu bebê de vista ou deixar que qualquer outra pessoa o toque", diz ela. "Eu tenho pensamentos sobre coisas ruins acontecendo com todas as pessoas que eu amo."

Nem todas as mulheres que enfrentam partos difíceis desenvolvem TEPT. De acordo com Elizabeth Ford, da faculdade Queen Mary, parte da Universidade de Londres, e Susan Ayers, da Universidade de Sussex, o problema está bastante ligado à percepção de cada mulher sobre o que ela vivenciou.

"Mulheres que sentem falta de controle durante o parto ou que recebem pouco cuidado e apoio têm maiores riscos de desenvolver TEPT", escrevem as pesquisadoras. As histórias de mulheres que desenvolveram TEPT depois de dar à luz parecem refletir isso.

Stephanie (nome fictício para proteger sua identidade) diz que recebeu pouco cuidado durante o parto e que as parteiras não demonstraram empatia nem compaixão. Num parto particularmente difícil, ela teve de ser fisicamente segurada pela equipe do hospital, enquanto dava à luz seu filho. "Ele nasceu completamente azul, foi levado para ser ressuscitado, e não me deram nenhuma informação sobre seu estado durante horas."


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionOferecer a enfermeiros e médicos melhores condições para quem deem apoio a mães é uma forma de reduzir a incidência de TEPT

Emma Svanberg, uma psicóloga clínica envolvida na campanha Make Births Better (Melhorem os Partos), diz que o problema é um assunto comum entre as mulheres com quem ela tem contato. "Uma reclamação que sempre ouvimos é sobre a falta de cuidado e compaixão da equipe do hospital", diz ela.

Um estudo da pesquisadora Jennifer Patterson, da Universidade Napier, de Edimburgo, na Escócia (Reino Unido), indica que, apesar de as parteiras estarem normalmente cientes de que dar à luz pode ser algo traumático para mulheres, elas estão geralmente tão ocupadas que têm dificuldade em oferecer apoio e informação adequados a mães que possam estar sob risco de TEPT.

Alguns grupos de mulheres também são mais propensas a desenvolver TEPT mesmo antes de dar à luz. "Para mulheres que têm um histórico anterior de trauma, talvez vítimas de abuso sexual na infância e aquelas que tiveram anteriormente TEPT, depressão ou ansiedade , o risco de desenvolver TEPT é significativamente maior. Elas têm cinco vezes mais chance, diz Rebecca Moore, psiquiatra perinatal do NHS (sistema de saúde britânico) que trabalha no leste de Londres.
Processo pós-natal

O desafio do TEPT está no cérebro. Normalmente, lembranças são arquivadas no hipocampo do cérebro. Mas, se uma experiência é traumática, a mente entra num processo de disputa, e a parte do cérebro associada com medo, a amígdala cerebral, é acionada. Isso faz com que lembranças fiquem presas nessa parte primitiva do cérebro, em vez de serem arquivadas de forma segura.

Isso também significa que, quando alguma coisa faz a mãe se lembrar de sua experiência – como ver o nascimento de um bebê na televisão ou estar num hospital –, as lembranças traumáticas se parecem menos como lembranças e mais como um perigo iminente, disparando reações físicas, como ataques de pânico e flashbacks.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionOs efeitos do TEPT podem afetar negativamente a vida de um casal, levando mães a se afastarem de seus parceiros

Com esse sistema de arquivamento quebrado, "você acaba ficando numa espécie de vai e volta dessa lembrança na sua cabeça, o tempo todo", explica Moore. Isso pode causar mudanças estruturais no cérebro também. Pesquisadores da Universidade da Califórnia (EUA) estudaram os cérebros de 89 atuais e antigos integrantes com TEPT das Forças Armadas, usando equipamentos de varredura (scanners) para medir o volume de várias partes do cérebro. Os exames mostraram que a parte direita da amígdala nos cérebros de indivíduos com treinamento militar que sofriam de TEPT era 6% maior do que nas de seus colegas. A parte direita da amígdala é particularmente associada ao controle do medo e à aversão a estímulos negativos.

"Nós nos perguntamos se o tamanho da amígdala pode ser usado para determinar quem tem mais risco de desenvolver sintomas de TEPT depois de um trauma mediano no cérebro", diz Joel Pieper, da Universidade da Califórnia, em San Diego, um dos profissionais que coordenaram o estudo.

Não se sabe ainda se mudanças semelhantes ocorrem nos cérebros de mulheres com TEPT pós-natal, mas os dados podem oferecer uma forma de diagnosticar aqueles que são afetados. A complexa mistura de sintomas experimentados por mulheres com TEPT depois do parto, no entanto, pode levar a atrasos e até mesmo diagnósticos errados.

Outra questão que atrapalha o diagnóstico de TEPT é o estigma associado à condição. Algumas mulheres sentem-se pouco a vontade ao falar abertamente sobre isso, por medo de serem vistas como fracassadas como mães ou por parecerem ingratas por terem tido um filho.

Svanberg acredita que o trauma de parto seja uma questão feminista. "Existe um campo de pesquisa enorme sobre a falta de reconhecimento das dores de mulheres, especialmente mulheres marginalizadas, e com frequência as vozes das mulheres são silenciadas", diz ela. Muitos especialistas concordam que as mulheres simplesmente não recebem atenção ou a informação de que precisam para tomar as melhores decisões para elas e para suas famílias.

"Dar a mulheres os fatos sobre as diferentes formas de dar à luz, durante a gravidez, não é assustador, significa dar mais poder a elas", acrescenta Moore. "As mulheres são capazes de tomar suas próprias decisões, mas raramente elas são informadas da forma certa sobre riscos e tratamentos quando o assunto é o parto."


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionMuitas mães que sofrem de TEPT podem desenvolver um excesso de proteção ao seu bebê e não deixar que ninguém se aproxime dele

Svanberg acredita que o problema seja mais social. "As mulheres são geralmente tratadas como princesas quando estão grávidas, mas depois que o bebê nasce, todo mundo só quer saber do bebê", diz ela. "Não é raro que novas mães sofrendo de alguma doença mental ouçam algo como 'Você tem um bebê saudável, por que você está reclamando?' E aí fica ainda mais difícil para as mulheres conseguirem coragem para pedir ajuda."

Acredita-se que metade das mulheres que sofrem de problemas de saúde mental acabem não recebendo tratamento.

"Ainda existe vergonha em pedir ajuda, e as mulheres que têm dificuldade em enfrentar seus problemas têm medo de ser julgadas e criticadas", afirma Moore.

As tentativas de esconder sua condição prejudicaram até as relações de Stephanie com o marido e sua filha mais velha. Seu próprio TEPT manifestou-se como uma forma de hipervigilância, deixando-a num estado permanente e exaustivo de alerta, sempre esperando o pior.

"Eu sabia que eu não estava bem, mas continuei escondendo isso durante meses", diz Stephanie. "Eu não conseguia comer ou dormir. Eu me recusava a deixar qualquer pessoa cuidar do meu filho. Meus outros filhos tinham que ficar com o pai, porque eu estava ocupada demais com o meu bebê."

"Meu relacionamento com a minha filha sofreu, e ela só tinha dois anos. Eu perdi toda a minha confiança na minha capacidade de ser mãe, enquanto antes eu estava sempre calma e levava as coisas de forma tranquila. Eu me afastei do meu marido e minha família."
Disfunções sexuais

Um estudo coordenado pela Universidade de Sussex, da Inglaterra (Reino Unido), confirmou que as mulheres com TEPT registraram efeitos negativos nas relações com seus parceiros, incluindo disfunções sexuais, desentendimentos e culpa por acontecimentos relacionados ao parto. O laço entre mãe e bebê também foi seriamente afetado.

Quase todas as mulheres envolvidas na pesquisa registraram sentimentos iniciais de rejeição em relação ao bebê – e, embora isso tenha mudado com o passar do tempo, o estudo concluiu que o TEPT pós-parto pode ter efeitos "graves e duradouros" sobre mulheres e seus relacionamentos.

Em outros casos, as carreiras são abaladas. "O TEPT mudou minha vida", diz Leonnie Downes, que trabalhava no serviço de ambulâncias da rede de saúde pública na Inglaterra. "Eu tinha uma boa carreira, mas tive de deixar meu emprego para virar autônoma e poder trabalhar de casa. Minha esposa teve de deixar seu emprego para se tornar minha cuidadora oficial. Agora, sou registrada como portadora de deficiência, e pela primeira vez temos de viver de benefícios do Estado para pessoas com deficiência."

Moore diz que se encontra regularmente com mulheres que estão traumatizadas demais para voltar ao trabalho, incluindo paramédicos e parteiras. Lucy Webber é uma dessas parteiras. "Eu pedi demissão porque não conseguia lidar com o fato de não ser capaz de dar às mulheres o apoio de que elas precisavam."

Mas existe ajuda disponível para mulheres que sofrem de TEPT pós-natal, contanto que elas tenham acesso a ela. O tratamento geralmente funciona com medicação ou terapia cognitivo-comportamental (TCC) – uma terapia verbal que visa a mudar comportamentos e formas de pensar.
Tratamentos

Outro tratamento possível é a Dessensibilização e Reprocessamento por Meio dos Movimentos Oculares (EMDR, na sigla em inglês). O EMDR às vezes envolve tapping (conhecido também como terapia EFT e que envolve dar palmadas em pontos específicos do corpo) ou o uso de música para ajudar o cérebro da paciente a lembrar que ela está no presente e não presa em algum momento do seu flashback. Estudos também mostraram que meditação transcendental pode ajudar veteranos de guerra com TEPT.

"Trauma ligado ao parto não é algo tão difícil de tratar, mas é muito difícil para mulheres e seus parceiros terem acesso ao apoio apropriado", diz Svanberg, alertando que muitas mulheres recebem um diagnóstico errado de depressão pós-parto – uma condição debilitadora diferente, que pode ocorrer após o nascimento de uma criança, mas que apresenta outro conjunto de sintomas.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionSe o TEPT for mais reconhecido e aceito, com menos preconceitos, mais mães terão experiências positivas com a maternidade e seus bebês

No Reino Unido, o acesso ao tratamento oferecido pelo sistema público de saúde, o NHS, pode ser difícil em algumas partes do país. Em outros lugares, como nos Estados Unidos, os preços chegam a ser proibitivos. Para muitos, a melhor prevenção para TEPT pós-parto seria a redução de riscos, além de um melhor treinamento de parteiras e obstetras.

"O sistema inteiro contribui para o trauma", diz Moore. "Com frequência mulheres são atendidas por funcionários da linha de frente, que fazem seu trabalho, mas não com muita compaixão, porque estão esgotados." A campanha Melhorem os Partos tenta combater essa deficiência com o treinamento de profissionais de medicina. Pequenas mudanças que não custam nada, como o uso de linguagem mais carinhosa e menos jargões médicos, e podem fazer toda diferença para impedir que mulheres tenham problemas físicos e mentais após o parto.

A maioria das mulheres concorda que dar à luz é um acontecimento transformador e marcante. Com o apoio correto, o saldo positivo mesmo dos nascimentos mais traumáticos. Lucy Webber diz que sua experiência a ajudou a se tornar uma mãe mais carinhosa, e Stephanie inclusive decidiu se tornar ela mesma uma parteira.

Depois de quase dois anos, a minha própria vida está gradativamente ficando mais fácil, mas encaro o aniversário da minha filha com uma mescla de entusiasmo e ansiedade, por causa das lembranças e reações físicas que a data sem dúvida vai me trazer. Ela é o melhor presente que pude ganhar, e seu aniversário também será uma comemoração de o quanto nós avançamos desde sua chegada.

Além do pequeno violão de brinquedo que daremos a ela, talvez o melhor presente que eu possa dar é fazer minha pequena parte ao desafiar as normas sobre o que significa dar à luz e ser mãe, para que traumas de parto e o TEPT pós-natal possam ser enfrentados de forma aberta.



Autor: BBC News Brasil
Fonte: BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 26/07/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-48437569

HIV: injeção testada no Brasil pode impedir a transmissão do vírus causador da Aids


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionA droga da PrEP injetável fica depositada em um músculo e é liberada gradualmente ao longo de dois meses, quando é preciso renovar a dose

Tomar uma injeção de um medicamento antirretroviral a cada dois meses é uma forma eficaz de impedir o contágio por HIV?

Pesquisadores brasileiros investigam esta possibilidade com cientistas de outros seis países e esperam ter uma resposta em até dois anos.

O estudo realizado pela HIV Prevention Trials Network, uma organização internacional cientifica com sede nos Estados Unidos, avalia se esse tipo de profilaxia pré-exposição (PrEP) funciona tão bem quanto o outro método disponível atualmente.

Na chamada PrEP oral, a pessoa toma um comprimido com drogas antirretrovirais. Se o tratamento for feito corretamente, sua eficácia para prevenir a transmissão do vírus causador da Aids pode chegar a 99%.

Então, porque seria necessária uma PrEP injetável se já existe outra versão com excelentes resultados?

"O paciente precisa ter organização para tomar um comprimido diário. Então, precisamos de alternativas para quem não consegue fazer uso crônico de uma medicação e está vulnerável ao HIV", diz Beatriz Grinsztejn, chefe do laboratório de pesquisa clínica em DST e Aids do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (Fiocruz) e responsável pela direção global da pesquisa junto com o pesquisador Raphael Landovitz, da Universidade da Califórnia em Los Angeles.
Adesão ao tratamento com PrEP oral cai com o tempo

A PrEP oral foi aprovada pela Food and Drugs Administration (FDA), a agência do governo americano equivalente à brasileira Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), em 2012.

Desde o fim de 2017, é oferecida no Brasil gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) para grupos considerados mais vulneráveis ao HIV, como homens gays e bissexuais, mulheres transexuais, profissionais do sexo e pessoas em um relacionamento com alguém que tenha o vírus.

Este método é considerado uma revolução no combate ao HIV por oferecer uma forma inédita de prevenção com um medicamento e não só com preservativos.

No entanto, pesquisas mostram que a taxa de adesão ao tratamento, ou seja, o índice de pessoas que o segue à risca, cai com o tempo, explica o infectologista Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (NIAID, na sigla em inglês), que é o principal patrocinador do estudo da PrEP injetável.

"Isso varia bastante, mas a taxa chega a cair pela metade, porque as pessoas se cansam de tomar um comprimido diariamente ou se esquecem. E, se não é tomado todo dia, não funciona", afirma Fauci.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionA PrEP oral é considerada uma revolução por oferecer uma forma inédita de se prevenir do HIV com medicamento e não com preservativos

Grinsztejn diz que a baixa adesão é um problema especialmente entre os jovens, um grupo no qual o número de diagnósticos de HIV vem crescendo mais do que a média. Entre 2007 e 2018, houve um aumento de 220% entre brasileiros de 15 a 24 anos, de acordo com dados do governo federal, bem acima do aumento de 136% na população em geral.

No entanto, a cientista da Fiocruz afirma que isso não pode ser considerado preguiça ou desleixo dos jovens com uma doença que não tem cura.

"Você diria isso de um diabético? Tradicionalmente, adolescentes e adultos jovens têm mais dificuldade com um tratamento contínuo para diabetes. Não é uma particularidade do HIV, é uma questão da faixa etária. E, se o vírus avança entre estas pessoas, é importante buscar novas formas de prevenção."
Como é feito o estudo da PrEP injetável

Enquanto a PrEP oral usa uma combinação de duas drogas - fumarato de tenofovir desoproxila e emtricitabina -, a versão injetável é feita a partir de outra substância, cabotegravir.

Ambos os medicamentos impedem a multiplicação do HIV ao se ligarem a enzimas essenciais ao processo de replicação do vírus, mas atuam em etapas diferentes do ciclo.

O comprimido deve ser tomado diariamente para garantir que seus princípios ativos estejam no corpo sempre em níveis adequados. Já o cabotegravir é injetado no músculo de uma das nádegas e fica depositado ali, sendo liberado gradualmente ao longo de dois meses, quando é preciso renovar a dose.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionMedicamentos de PrEP agem sobre o ciclo de reprodução do vírus HIV

Iniciado no fim de 2016, o estudo HPTN 083 testará a PrEP injetável com 4,5 mil homens gays e bissexuais e mulheres trans, em 43 centros no Brasil, Estados Unidos, Argentina, Peru, África do Sul, Tailândia e Vietnã. Ao menos 500 brasileiros já participam - e o recrutamento de voluntários ainda está acontecendo.

Os pacientes são distribuídos por sorteio eletrônico entre dois grupos. O primeiro toma comprimidos placebo e a injeção de PrEP. O segundo toma comprimidos de PrEP e injeção placebo. Todos são aconselhados sobre sexo seguro e recebem preservativos ao longo da pesquisa.

"No fim, vamos comparar o número de infecções por HIV entre os dois grupos para entender se a PrEP injetável funciona tão bem quanto a oral", explica Grinsztejn.
Homens gays e mulheres trans são mais vulneráveis ao HIV

O infectologista Rico Vasconcelos, coordenador médico do centro de pesquisa da PrEP injetável na Universidade de São Paulo (USP), explica que o Brasil foi escolhido para participar porque tem uma epidemia de HIV concentrada entre homens gays e bissexuais e mulheres trans, que são o público-alvo do estudo.

Pesquisas mostram que, enquanto 0,4% dos brasileiros vivem com o vírus na sociedade em geral, entre homens gays e bissexuais, são mais de 18% - na cidade de São Paulo, chega a quase 25%. Entre mulheres trans, pode passar de 40%.

Vasconcelos avalia que estas pessoas são hoje mais vulneráveis ao vírus porque, entre outros motivos, não houve por muito tempo políticas públicas de educação e saúde específicas para elas. Isso contribuiu para elevar o índice de pessoas com HIV nestes grupos e fez com que seja hoje mais provável que um homem gay ou bissexual e uma mulher trans entrem em contato com o vírus.

"O senso comum é de que a culpa é da vítima, que um homem gay ou bissexual e uma mulher trans pegam HIV porque querem, mas faz 38 anos que temos uma epidemia concentrada nestes grupos, e a primeira vez que o Ministério da Saúde fez algo específico para protegê-los foi há pouco mais de um ano, quando incluiu a PrEP no SUS, priorizando esses grupos", diz o infectologista.

Vasconcelos afirma ser comum que um jovem gay, bissexual ou trans comece a transar sem ter recebido educação sexual ou sido informado sobre a epidemia de HIV nestes grupos.

Ao mesmo tempo, não podem muitas vezes falar abertamente sobre sua vida sexual com a família e amigos e, quando procuram um serviço de saúde, há chances de não serem bem acolhidos. "A homofobia e a transfobia também transmitem HIV", diz o infectologista.
Cientistas investigam outras formas de prevenção

O estudo da PrEP injetável será concluído em 2021. Se os resultados forem positivos, a expectativa é que seja autorizado pelo FDA para ser usado por seu público-alvo até o ano seguinte, diz Fauci, da NIAID.


Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionNúmero de novos casos de HIV vêm caindo lentamente na última década

Outro estudo com mulheres heterossexuais e cisgênero (ou seja, que não são transexuais) está sendo feito na África. Vasconcelos diz que será preciso aguardar os resultados das pesquisas em curso e testes com outros grupos, como homens heterossexuais cisgênero, para que a PrEP injetável possa ser recomendada universalmente.

"Se o estudo mostrar que a PrEP injetável é um método de prevenção eficaz para o sexo anal, que é o tipo de exposição sexual de maior risco ao HIV, isso indica que provavelmente também será para o sexo vaginal, em que o risco é menor. Mas não se pode aprovar o uso de uma medicação para uma população específica sem que antes tenha sido testada por ela", diz o infectologista da USP.

Além disso, há outras pesquisas sendo realizadas para outros métodos de prevenção ao vírus, como anéis intravaginais, implantes de medicamentos antirretrovirais e injeções de anticorpos.

Fauci explica que essas alternativas são importantes, porque o número de novos casos de HIV vem caindo lentamente na última década, com uma redução de 12% entre 2008 e 2018. Em comparação, entre 1998 e 2008, a queda foi de 24%.

"Hoje, há um tratamento capaz de fazer com que pessoas com HIV fiquem vivas e saudáveis, mas o avanço do vírus não está sob controle. Ainda temos 1,7 milhão de novos diagnósticos por ano. É um problema sério", diz Fauci.

Vasconcelos argumenta que, quanto mais formas de prevenção existirem, mais fácil vai ser de combater a transmissão do vírus.

"A melhor forma de proteção é aquele que a pessoa escolhe, por entender como funciona e achar que é capaz de usá-la correta e constantemente. Se casais heterossexuais têm hoje várias maneiras diferentes de evitar terem filhos, por que acreditamos algum dia que, para o HIV, uma forma só de prevenção, a camisinha, seria suficiente?"




Autor: Rafael Barifouse
Fonte: BBC News Brasil em São Paulo
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 27/07/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-49077308

Saião, flor de mamão, pata-de-vaca: os riscos dos tratamentos caseiros contra a diabetes

Pote e copo com moringa em póDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionAnvisa proibiu a fabricação, a importação, a comercialização, a propaganda e a distribuição de alimentos com a moringa
No mundo, estima-se que 500 milhões de pessoas tenham diabetes. Em 2040, segundo a International Diabetes Federation (IDF), serão 642 milhões.
O Brasil é o quarto país com mais portadores da doença: são cerca de 13 milhões - daqui 21 anos, deverão ser 23,2 milhões de brasileiros diabéticos-, sendo que metade não sabem disso e, dentre quem sabe, mais de 70% não têm os níveis de glicose controlados.
Além da falta de adesão ao tratamento, que exige uma série de mudanças nos hábitos de vida e atenção total com a medicação, uma questão preocupante é que os pacientes, não raramente, optan por soluções caseiras e receitas encontradas na internet como opções de tratamento para combater a enfermidade.
Pela internet, o que muitos recomendam é que é possível controlar a glicemia no sangue por meio do consumo regular de chás, sucos e farinhas de plantas, como a chamada 'insulina vegetal' (Cissus sicyoides L.), flor de mamão, jambolão (Syzygium cumini), saião ou folha-da-fortuna (Kalanchoe brasiliensis Camb.), Noni (Morinda citrifoli), pata-de-vaca (Bauhinia variegata) e moringa (Moringa oleifera).
Mas será que isso é verdade?
De acordo com Marlice Marques, nutricionista do Departamento de Nutrição da Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), a resposta é não. A recomendação dos especialistas consultados pela BBC News Brasil é evitar as soluções caseiras, para não agravar a enfermidade, e sempre buscar a orientação de um endocrinologista ou clínico geral para fazer o tratamento correto.
"Temos uma forte cultura popular no Brasil em relação ao uso de substâncias naturais para tratar doenças, só que não existem evidências científicas que comprovem seus benefícios em relação ao diabetes", afirma.
A especialista pontua que, até agora, poucos estudos foram realizados sobre o tema, e a maioria em animais. "Os raros testes em humanos foram feitos com poucas pessoas e em poucos dias. Eles ainda são inconclusivos e apresentam metodologias e resultados controversos", acrescenta.
Um exemplo que ela cita é a da planta moringa, alvo de proibição da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em decisão anunciada em junho.
"Em pesquisas feitas com ratos, há a hipótese de que a planta, por possuir antioxidantes e compostos bioativos que influenciam na imunidade e na atividade anti-inflamatória, pode melhorar a resistência à insulina, a tolerância à glicose e prevenir algumas complicações do diabetes, porém, os benefícios reais em humanos não foram constatados", disse a agência.
A Anvisa suspendeu no dia 4 de junho deste ano a comercialização, a distribuição, a fabricação, a importação e a propaganda de produtos contendo a moringa em todo o país, em quaisquer formas de apresentação, como chás e cápsulas, e também do próprio insumo.
A farinha de moringa costuma ser informalmente recomendada, além da diabetes, para o tratamento de colesterol elevado, pressão arterial elevada, aterosclerose e envelhecimento precoce.

Falta pesquisa sobre perigos e eficácia do uso de plantas

De acordo com Rodrigo Moreira, presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), todas as entidades médicas nacionais e internacionais são radicalmente contra tratamentos naturais ou caseiros no combate ao diabetes.
Objetos que remetem ao cuidado da diabetes, como pílulas, injeções e medidor de glicoseDireito de imagemGETTY IMAGES
Image caption'Algumas plantas até parecem ajudar no controle da doença, mas isso não significa que deva ser utilizada como medicamento', diz especialista
"Algumas plantas até parecem apresentar substâncias que podem ajudar no controle da doença, como a pata-de-vaca, que sugere efeitos benéficos sobre os níveis de glicose. Mas isso não significa que ela ou qualquer outra deva ser utilizada, isoladamente ou combinada, como medicamento para tratamento do diabetes", analisa.
O problema, ele acrescenta, é que ainda não se tem conhecimento de todos os elementos presentes nas espécies, se são mesmo eficazes e como são metabolizados pelo organismo, bem como o risco de efeitos colaterais.
"Também não sabemos quais partes das plantas devem ser usadas, como fazer os preparos, as doses mínimas e máximas seguras, os efeitos colaterais e a inte-relação com outros medicamentos que a pessoa utiliza", pondera. "Precisamos que mais pesquisas sejam feitas, principalmente em humanos, para que possamos conhecer todos esses detalhes", acrescenta.

O que é o diabetes?

Como explica a SBD, o diabetes é uma doença crônica, na qual o pâncreas não produz insulina (hormônio que controla a quantidade de glicose no sangue) ou o corpo não consegue empregar adequadamente a insulina produzida.
Com isso, o nível de açúcar fica alto - o normal, para uma pessoa saudável, é abaixo de 100 mg/dl, em jejum - e esse quadro, quando permanece por longos períodos, pode causar danos graves em órgãos, vasos sanguíneos e nervos.
Na lista das complicações importantes estão doenças cardiovasculares, diálise por insuficiência renal crônica, cirurgias para amputações dos membros inferiores, problemas na visão (retinopatia diabética e glaucoma são alguns), levando até a cegueira, e acometimento dos nervos (neuropatia periférica).
Os riscos de morte também são grandes. Para se ter uma ideia, dados da última pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), do Ministério da Saúde, indicaram que, entre 2010 e 2016, 406.452 pessoas perderam a vida por conta do diabetes.
É preciso salientar que o diabetes é uma enfermidade silenciosa, o que dificulta o diagnóstico. "Os sintomas só aparecem quando os níveis de glicose estão muito altos, acima de 300 mg/dl normalmente. Aí o paciente vai apresentar boca seca, sede excessiva e urinar mais do que o normal", diz o presidente da SBEM.
Representação de células sanguíneas e da glicoseDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionSintomas da doença só aparecem quando o nível de açúcar no sangue fica muito alto

Tipos de diabetes

São quatro os tipos de diabetes: Tipo 1, Tipo 2, Latente Autoimune do Adulto (LADA) e gestacional.
O Tipo 1, de acordo com a SBD, se dá quando o sistema imunológico ataca equivocadamente as células do pâncreas que produzem insulina, fazendo com que pouca ou nenhuma quantidade do hormônio seja liberada para o corpo. Como resultado, a glicose fica no sangue ao invés de ser usada como energia.
Essa variedade, causada por fatores genéticos e outros ainda desconhecidos, se manifesta geralmente na infância ou na adolescência - mas pode atingir os adultos. Seu tratamento é feito com insulina, medicamentos, planejamento alimentar e atividades físicas.
Mais comum, o diabetes Tipo 2 acomete cerca de 90% dos pacientes e se manifesta com mais frequência em adultos. Diretamente relacionado ao sobrepeso, sedentarismo e dieta inadequada, surge quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de glicemia.
O tratamento inclui mudança dos hábitos de vida, com a inclusão de atividade física e dieta equilibrada. Em alguns casos ainda é necessário o uso de insulina e/ou outros medicamentos para controlar a glicose.
Menos conhecido, o Latente Autoimune do Adulto (LADA) é um agravamento do diabetes Tipo 2. Ele ocorre quando o paciente desenvolve um processo autoimune que ataca as células do pâncreas.
Nesta situação, o controle da glicemia é feito como nos demais tipos, ou seja, com insulina e/ou medicamentos orais, planejamento alimentar e atividade física.
Por fim, o diabetes gestacional é uma condição temporária que acontece durante a gravidez por conta das alterações hormonais - acredita-se que entre 2 e 4% das gestantes sejam afetadas.
Ele pode trazer riscos tanto para as mães quanto para os bebês, como crescimento excessivo (macrossomia fetal), partos traumáticos e prematuros, hipoglicemia neonatal e obesidade e diabetes na vida adulta.
O controle desta variedade de diabetes é feito, na maioria das vezes, com a orientação nutricional adequada. Mas também pode ser indicada a prática de atividade física e o uso de insulina.


Autor: Renata Turbiani
Fonte: São Paulo para a BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News BrasilBBC News Brasil
Data: 27/07/2019 
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-49078716