sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Tese premiada defende conciliação de várias formas de conhecimento




"A tese discute a crise ecológica e a necessidade de pensá-la também a partir de conhecimentos e práticas não ocidentais" (Foto: Andre Sigaf/Pixabay)


Há oito anos, Alyne Costa se dedica a estudar, pela lente da Filosofia, as implicações das mudanças climáticas e do chamado colapso ecológico. Seu primeiro contato com o assunto, no entanto, não foi como pesquisadora. Com graduação em Comunicação Social, Alyne trabalhou por nove anos na área de Responsabilidade Social de grandes empresas de energia, período ao longo do qual constatou que, apesar do discurso “verde”, as indústrias nada ou muito pouco fazem para frear o aquecimento global; foi assim que decidiu mudar de carreira. Neste ano, a pesquisadora, que foi bolsista Doutorado Nota 10 pela FAPERJ, viu sua tese de doutorado “Cosmopolíticas da Terra: modos de existência e resistência no Antropoceno” vencer o Prêmio Capes de Tese na área de Filosofia. A cerimônia de premiação será realizada em dezembro.

Embora diversos estudos já mostrassem que a degradação ambiental e o desmatamento aumentam o risco de pandemias, Alyne diz ter ficado assustada quando a pandemia do novo coronavírus eclodiu, confirmando as previsões. “Passo muito tempo lendo e pensando na catástrofe ecológica, mas nada disso me preparou para um evento como esse. Claro, sabemos muito bem que o atual modelo de desenvolvimento econômico e de agricultura não podia dar em coisa boa, então essa pandemia não chega ser uma surpresa; mas quando ela efetivamente se instala, percebemos que não estamos preparados para lidar. Dizer ‘eu avisei’ não serve de consolo”, reflete.

O trabalho foi orientado por Débora Danowski, professora do Departamento de Filosofia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) que criou a linha de pesquisa “Filosofia e a Questão Ambiental” e que, em 2014, lançou o livro “Há mundo por vir?” em co-autoria com Eduardo Viveiros de Castro, professor do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ). Tanto o livro quanto a tese premiada discutem a necessidade de repensar a relação entre seres humanos, natureza e conhecimento científico, trazendo também reflexões pautadas nas mudanças climáticas.




Para Alyne Costa, cientistas precisam promover o engajamento social para a defesa do combate às
mudanças climáticas (Foto: Ana Maria Rodrigues)


Nesse sentido, Alyne defende em sua tese que, no Antropoceno, era geológica em que as ações humanas têm grande impacto sobre o ecossistema, não podemos mais pensar os seres humanos como os únicos dotados de intencionalidade e capacidade de agir. Aqueles seres que antes considerávamos meros recursos naturais devem ser pensados, agora, como atores políticos com quem precisamos aprender a compor para evitar que seus poderes se tornem destrutivos. “Não podemos mais ver a natureza como um cenário inerte. Pense por exemplo no coronavírus ou no dióxido de carbono: a maneira como eles vêm se comportando tem causado mudanças profundas em nosso modo de vida, o que permite dizer que eles vêm agindo sobre nós e exigindo transformações para que possamos melhor coexistir. A atual pandemia e as mudanças climáticas mostram que certos equilíbrios que tomávamos como garantidos podem se desfazer; então, em lugar de uma natureza que simplesmente está aí, precisamos reconhecer que o mundo é formado por um emaranhado de agências que demandam atenção e cuidado”, explica.

O reconhecimento desses agentes também pressupõe a admissão de uma maior diversidade de conhecimento e olhares sobre o mundo. "Cosmopolítica é um conceito da filósofa Isabelle Stengers, mas vem sendo usado de formas ligeiramente distintas por muitos autores. De uma forma geral, ele convida a pensar uma coexistência mais justa entre modos distintos de habitar e entender o mundo. Quando Davi Kopenawa [xamã yanomami] avisa, por exemplo, que a exploração de minérios na Floresta Amazônica pode fazer o céu cair, ele fala de seres que, existindo naquele mundo, não necessariamente existem ‘para nós, ocidentais’, quando falamos das mudanças climáticas; ainda assim, esses fenômenos e mundos se conectam de alguma forma. É preciso tratar esses outros mundos como legítimos e experimentar formas de convivência que respeitem e valorizem a diferença entre esses mundos e o nosso”, avalia.

A ideia de negociar os espaços de convivência, em vez de impor verdades que devem ser acatadas, é também a proposta da autora para que se possa recuperar a confiança nas instituições e também na ciência. Para Alyne, não conseguiremos frear os negacionismos que têm lugar atualmente apenas os denunciando como mentira: é preciso fazer da “verdade inconveniente” das mudanças climáticas uma causa pela qual as pessoas acreditem que vale a pena lutar.




Autor: Juliana Passos
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/11/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4117.2.4

Brasil finaliza o mais completo estudo sobre a Diabetes Tipo 1 no país



O Diabetes Tipo 1 ocorre em pacientes jovens, enquanto o tipo 2 é mais comum em adultos e idosos (Foto: Tesa-Robbins_Pixabay)

Com uma vida dedicada ao estudo da Diabetes Tipo 1, a professora Marilia de Brito Gomes, médica e professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), se prepara para se afastar da vida acadêmica, deixando o legado do único estudo do Brasil, e mundialmente o mais completo, sobre o Diabetes Tipo 1 no País. Realizada com a colaboração de quase duas dezenas de instituições, entre universidades, hospitais, associações e centros de pesquisa, a investigação avaliou 1.760 pacientes de diversos perfis socioeconômicos em todas as regiões do País. O estudo resultou na publicação de diversos artigos, que fizeram com que o Diabetes Tipo 1 ganhasse visibilidade em todo o Brasil e no exterior.

A investigação foi realizada em duas etapas distintas. Na primeira, ainda na Presidência da Sociedade Brasileira de Diabetes (2008/2009), Marília estimulou a aplicação de um questionário e a avaliação dos prontuários médicos dos doentes. Na segunda fase, já com apoio da FAPERJ e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a equipe pôde realizar um trabalho realmente de ponta. Segundo a endocrinologista, pela primeira vez a comunidade científica internacional teve conhecimento da Diabetes do Tipo 1 no Brasil, como a doença se comporta, qual o perfil dos pacientes, como é e quais as dificuldades de tratamento. “O Brasil tem uma população muito miscigenada e a comunidade científica internacional não tem conhecimento nem vivência nesse aspecto”, explica Marilia. Outro ponto importante da pesquisa apresentado internacionalmente foram os dados socioeconômicos dos pacientes analisados, que, muitas vezes, justificam as dificuldades enfrentadas por eles no sistema púbico de saúde.

A médica, que conta com recursos do Programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ para desenvolver suas pesquisas, é pró-cientista da Uerj e pesquisadora do CNPq, esclarece que a Diabetes tipo 1 difere completamente da Diabetes tipo 2, tendo em comum apenas o aumento da glicose no sangue, mas causadas por motivos diferentes. Segundo ela, no tipo 1 o paciente tem o diagnóstico ainda jovem e saudável, enquanto o tipo 2 se caracteriza como uma doença progressiva e insidiosa, mais comum em adultos e idosos, ocasião na qual o doente geralmente já possui comorbidades como hipertensão, obesidade etc.

“No Diabetes tipo 1 há uma destruição quase total das células que produzem insulina, portanto, os pacientes dependem totalmente da reposição desse hormônio, sob pena de entrarem em coma ou irem a óbito”, explica a médica. Marilia garante que o diagnóstico costuma ser rápido, principalmente devido à uma evolução muito abrupta e uma sintomatologia muito florida da doença, na qual os principais sinais são a perda severa de peso, sede excessiva e necessidade frequente de urinar. A evolução é tão rápida que, não raro, leva crianças a uma descompensação aguda e à necessidade de internação em CTI. A endocrinologista ressalta as melhorias das ferramentas disponíveis atualmente para o tratamento: “Já dispomos de canetas e agulhas muito finas para a aplicação da insulina e podemos fazer a monitorização e acompanhamento da glicemia capilar e de outras formas mais cuidadosas com o paciente”.



Marilia com a camiseta do Dia Mundial do Diabetes, comemorado em 2019 no Cristo Redentor (Foto: arquivo pessoal)


Outro estudo, em parceria com a Associação de Diabéticos de Bauru (SP), revelou o aumento da incidência da doença no País, com um aumento anual médio de 3%. A doença já atinge de 10 a 20 jovens a cada 100 mil habitantes. O levantamento mostra ainda que 75% dos pacientes do universo pesquisado tiveram diagnóstico da doença até os 20 anos de idade. Em média, os doentes se aposentam muito jovens, por volta dos 38 anos, devido a uma perda de capacidade/ano de 17 anos, principalmente em decorrência da retinopatia diabética, complicação muito comum da doença, que pode evoluir para a cegueira. A taxa de mortalidade dos pacientes é três vezes maior do que a população brasileira, em geral, e a morte ocorre muito precocemente devido às complicações crônicas da doença.

A professora contou com a ajuda fundamental da aluna de doutorado Laura Gomes Nunes de Melo, contemplada com Menção Honrosa no Prêmio Capes deste ano, para estudar essa doença multifatorial. “A menção honrosa foi uma vitória para a Laura e para todos que participaram do trabalho. Para mim, particularmente, foi muito gratificante porque a Laura foi uma aluna especial. Ela não fez a faculdade na Uerj, veio da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio). Não nos conhecíamos, mas ela mostrou uma capacidade de trabalho muito grande”, conta a orientadora, comemorando o fato de ter contribuído para o crescimento científico e acadêmico da aluna.

O estudo da Laura avaliou justamente a retinopatia diabética, uma complicação que reduz, significativamente, a qualidade de vida do paciente, já que sua evolução pode gerar cegueira. “Esta complicação gera um custo alto para o sistema de saúde, pois esses pacientes se aposentam muito cedo devido à cegueira. Além disso, a morbidade é muito elevada”, esclarece Marilia. Segundo a orientadora, a fim de aprofundar o estudo, todos os oftalmologistas envolvidos na pesquisa receberam treinamento, conduzido pelo professor Paulo Henrique Morales, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), e os procedimentos foram padronizados, aumentando a robustez dos dados. Além disso, a verba do CNPq viabilizou a aquisição de seis retinógrafos para facilitar o trabalho dos oftalmologistas.

Com o sentimento de ver seu trabalho reconhecido, Laura, que publicou quatro artigos sobre o tema como principal autora, também atribui seu sucesso ao esforço da orientadora em empreender um estudo tão completo e pioneiro, “apesar das dificuldades enfrentadas por pesquisadores no País”. A oftalmologista avaliou, pela primeira vez no Brasil, a prevalência da retinopatia diabética no universo de 1.760 pacientes estudados e os diversos níveis de evolução da doença, que afeta um terço dos pacientes com Diabetes Tipo 1, comprovando o que a literatura mundial já mostrava. O estudo identificou os fatores de risco para o desenvolvimento da retinopatia entre os doentes, mostrando que o tempo da doença, a hipertensão arterial e o descontrole glicêmico são os principais fatores que levam os diabéticos tipo 1 a desenvolverem a retinopatia, corroborando com o disponível na literatura. Laura conta que o estudo revelou uma novidade: uma associação entre os níveis de ácido úrico e a retinopatia diabética. (https://bmcpublichealth.biomedcentral.com/articles/10.1186/s12889-018-5859-x e https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/aos.13760). Outra vertente da investigação constatou que os pacientes com retinopatia diabética proliferativa (fase mais avançada da doença) têm duas vezes mais chances de desenvolverem problemas cardiovasculares. O artigo publicado gerou diversas citações e configurou entre os principais artigos da revista Frontiers in Endocrinology (https://www.frontiersin.org/articles/10.3389/fendo.2019.00689/full). O quarto artigo produzido pela oftalmologista como primeira autora, já aceito para publicação, aborda a relação da retinopatia diabética proliferativa com fatores inflamatórios (http://dx.doi.org/10.1159/000510879). Sua expressiva produção acadêmica inclui, além dos artigos como primeira autora, a colaboração com outros trabalhos do restante da equipe.



Laura publicou quatro artigos como primeira autora e recebeu Menção Honrosa do Prêmio Capes deste ano (Foto: arquivo pessoal)


A professora Marilia ressalta a importância da investigação da orientanda na correlação entre a retinopatia diabética e os riscos de o paciente desenvolver doença cardiovascular. “Como a Diabetes é uma doença vascular sistêmica, nesse conjunto sistêmico o coração é afetado, assim como o cérebro”, explica a endocrinologista. Segundo ela, dependendo do resultado do exame de olho, o oftalmologista terá um alerta para a necessidade de encaminhar o paciente diabético para uma avaliação cardiológica. A pesquisadora destaca outro artigo, publicado recentemente, com apoio da FAPERJ, na Diabetes Research and Clinical Practice, uma publicação da International Diabetes Federation, único estudo disponível sobre a prevalência da doença renal nos pacientes com diabetes tipo 1 no Brasil, mostrando mais essa complicação (https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/33010359/). “Este artigo é importante para mostrar à comunidade científica as dificuldades de prosseguirmos na investigação da doença renal em pacientes com diabetes tipo 1. É um alerta para o Brasil e demais países que se dizem ‘desenvolvidos’ e não conseguem enxergar o que acontece em países situados abaixo da linha do Equador”, afirma a pesquisadora. A última etapa que finalizará o estudo, que também conta com apoio da FAPERJ por meio do Edital de Apoio a Projetos Temáticos, será a coleta de DNA, ou seja, um raio-x genético dos pacientes de Diabetes Tipo 1 no Brasil.

“Vou encerrar minha carreira acadêmica finalizando esse trabalho, que é uma grande realização, pois sempre trabalhei com Diabetes tipo 1 e desejava fazer uma radiografia dessa doença no Brasil”. E estamos conseguindo fazer. Marília manda um recado para jovens médicos que se interessarem por estudarem a Diabetes Tipo 1: “É uma doença sem fim de semana, sem feriado e sem férias, pois exige uma interação e dedicação grande ao paciente”. Marilia acredita que devido a todas as particularidades e complicações da doença, o sistema de saúde público e o privado precisam entender que o paciente muitas vezes demanda mais de uma hora de consulta. “Toda a família fica psicologicamente muito afetada, pois é uma das doenças endócrinas mais frequentes nos jovens e até hoje não tem cura. Por isso humaniza muito o médico, já que geralmente acompanha a criança até a vida adulta e, muitas vezes, o médico compartilha da evolução para as complicações crônicas o que causa muita diminuição da qualidade de vida de indivíduos ainda jovens”, lamenta Marilia.





Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/11/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4116.2.9

Seminário discute caminhos para fortalecer os Negócios de Impacto social e ambiental

Buscar soluções de negócio que resultem em impactos socioambientais positivos, gerando renda compartilhada e autonomia financeira para os indivíduos de poder aquisitivo mais baixo. Esses são alguns dos objetivos dos chamados ‘Negócios de Impacto’ social e ambiental. Com o objetivo de discutir perspectivas para esse segmento, o Movimento Rio de Impacto apresenta ao longo dessa semana o 5º Seminário de Negócios de Impacto, que teve início na tarde desta quarta-feira, 25 de novembro, e segue até a sexta, dia 27. Realizado com apoio da FAPERJ, o evento online ocorre das 14h às 18h nos três dias e aborda os principais desafios para os empreendedores que buscam aliar lucro ao benefício da sociedade, debatendo as políticas públicas e métricas para esse modelo de negócios, além do papel das empresas e Organizações Não-Governamentais (ONGs) nesses empreendimentos.


No primeiro painel de debates desta quarta-feira, o tema em pauta foi “O papel do Governo e da Sociedade nos Negócios de Impacto”. O presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, destacou a importância dos investimentos contínuos em ciência para gerar a inovação tecnológica, ainda mais necessária diante dos desafios impostos pela pandemia do novo coronavírus. “A ciência está na raiz da inovação. O sistema de conhecimento se interconecta desde a pesquisa básica, passando pela pesquisa aplicada até a geração de produtos e aplicações concretas. O papel dos cientistas é fundamental para o entendimento e a busca de soluções para a sociedade nesse momento de pandemia. O estado do Rio de Janeiro é o segundo maior produtor estadual de conhecimento no País, com centros de excelência em pesquisa estratégicos para a produção da vacina e terapias complementares, como a Fiocruz”, contextualizou.

Ele ressaltou a atuação da FAPERJ, agência estadual de fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação, como indutora na formação de redes de pesquisa e projetos que propõem soluções para a pandemia, com o lançamento das diversas chamadas do programa Ação Emergencial Projetos para Combater os Efeitos da Covid, e de outros editais, voltados à inovação. “Entre os diversos editais lançados pela FAPERJ nos últimos anos, no âmbito da Diretoria de Tecnologia da Fundação, estão o Doutor Empreendedor, para fomentar a transformação de projetos de pesquisa em empreendimentos conduzidos por pesquisadores com Doutorado residentes no estado, o Apoio à Inovação em Micro, Pequenas e Médias Empresas no Estado do Rio de Janeiro (InovAÇÃO RIO) e o Startup Rio, lançado desde 2013 e atualmente em sua quinta edição”, citou.

Diante do tema abordado no seminário, Lima destacou especialmente o lançamento pela FAPERJ do Programa de Apoio ao Empreendedorismo de Impacto Socioambiental do Estado do Rio de Janeiro, em 2018, que deve ser lançado novamente no início de 2021. “Foi a primeira ação de uma Fundação de Amparo à Pesquisa (FAP) voltada exclusivamente para os Negócios de Impacto, para projetos com propostas de enfrentamento a problemas estaduais nos segmentos ligados à Saúde, Educação, empregabilidade, tecnologias assistivas, mediação e resolução de conflitos, sistema prisional, desigualdades étnico-raciais, geracional, de gênero e orientações sexuais.”

O analista do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) Nacional Philippe Figueiredo traçou um breve perfil do setor empresarial no Brasil. “As micro e pequenas empresas correspondem a 98,5% de todos os empreendimentos em atuação no País, tendo participação de 27% no Produto Interno Bruto(PIB) nacional. Elas são responsáveis pela geração de 55% de empregos com carteira assinada no Brasil. Nesse cenário, devem ser pensadas as alternativas para os Negócios de Impacto socioambiental”, informou. Ele disse que desde 2013, ainda sob o conceito de “negócios sociais”, o Sebrae investe no segmento, adotando o conceito de Negócios de Impacto Social e Ambiental em 2017. Entre as iniciativas institucionais, ele citou o lançamento, em janeiro de 2020, do edital Labora + Sebrae, ciclo de aceleração voltado para startups que usam a tecnologia em negócios com soluções escaláveis para as questões sociais e ambientais, e do Sebraetec, produto do Sebrae que oferece aos empreendedores subsídios para contratar soluções tecnológicas.




O presidente da FAPERJ destacou a importância do Programa de Apoio ao Empreendedorismo de Impacto Socioambiental do Estado do Rio de Janeiro, que deve ganhar nova edição em 2021


O coordenador da Estratégia Nacional de Investimentos e Negócios de Impacto (Enimpacto), Lucas Ramalho Maciel, destacou a importância do debate para a melhor compreensão do modelo de negócio. “A ideia dos Negócios de Impacto é somar esforços com Governo e setores da filantropia, que investem tradicionalmente na agenda social e ambiental. Não vamos substituir o papel do Estado, que tem papel fundamental na formulação de políticas públicas, mas complementar”, explicou. A Enimpacto é uma iniciativa criada por decreto presidencial em dezembro de 2017, e coordenada pela Subsecretaria de Inovação do Ministério da Economia (SIN/ME). Trata-se de uma articulação de órgãos e entidades da administração pública federal, do setor privado e da sociedade civil com o objetivo de promover um ambiente favorável ao desenvolvimento de investimentos e Negócios de Impacto. A ideia de reforçar os investimentos estatais também foi colocada pelo superintendente de Proteção e Orientação aos Investidores Alexandre Vasco, da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). “A estratégia é misturar recursos de diferentes fontes, estatais e privadas, unindo rentabilidade e retorno aos investidores que apostam na geração de impactos sociais e ambientais”, completou.

Membro do conselho de administração do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e atualmente lotado no Departamento de Inclusão Produtiva (Dipro), na Área de Gestão Pública e Socioambiental do banco, William Saab disse que o BNDES vem historicamente apoiando desde sua criação, em 1952, projetos com impactos sociais e ambientais, pelo fato de sua natureza como banco de apoio ao desenvolvimento nacional. “Eu destacaria o Fundo Social, que já tem mais de vinte anos, os fundos Criatec, de investimento em participações em micro, pequenas e médias empresas inovadoras, nos quais a BNDESPAR é a principal investidora, e o programa de financiamento coletivo BNDES Matchfunding Salvando Vidas, que arrecadou recursos para a compra de equipamentos de materiais, insumos e equipamentos de proteção para os médicos, enfermeiros e outros profissionais de saúde que atuam na linha de frente da pandemia do novo coronavírus”, disse.

O diretor-executivo do Sistema B Brasil, Marcel Fukayama, falou da necessidade de uma nova cultura organizacional no Brasil e no mundo, pautada por valores sociais e ambientais, e não apenas pelo lucro. “É preciso mudar urgentemente o modelo de cultura corporativa tradicional, que só visa ao lucro, e está falido. O empreendedor bem-sucedido hoje deve agir a partir de três pilares sociais e ambientais: propósito, responsabilidade e transparência”, apontou o empreendedor social, responsável pela implementação do Sistema B no Brasil, movimento mundial que usa soluções de mercado para resolver problemas sociais e ambientais.

Por sua vez, a coordenadora do movimento Rio de Impacto e secretária-geral do Fórum da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) de Desenvolvimento Estratégico, Geiza Rocha, que é a mediadora dos encontros, destacou que o objetivo do evento é conectar os atores ligados aos Negócios de Impacto Social e Ambiental no estado do Rio de Janeiro com o governo, as empresas e a sociedade. “A ideia é que possamos nessa jornada de três dias conhecer as ações, os desafios e as ferramentas que as instituições do ecossistema fluminense dos Negócios de Impacto estão colocando à disposição dos empreendedores e saber como elas têm impactado no resultado desses empreendimentos”, disse Geiza.

Na ocasião, houve ainda o lançamento do Guia de Instituições de Apoio a Negócios de Impacto Socioambiental 2020, documento que esclarece o papel das instituições integrantes do Movimento Rio de Impacto e disponibiliza os contatos de cada uma delas (disponível em: https://www.scribd.com/document/485772325/Guia-Rio-de-Impacto-2020). Para se conectar com os empreendedores, instituições e empresas que estarão no encontro, os participantes podem se inscrever pelo link bit.ly/5SeminarioNegociosImpacto para acessar a plataforma do Ecoa-PUC-Rio. Os painéis também estão sendo transmitidos ao vivo pelo canal do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico no YouTube. Os inscritos poderão solicitar certificado de participação.

Sobre o Rio de Impacto

O Movimento Rio de Impacto é um projeto que reúne diversas entidades dedicadas ao fomento de empreendimentos com impacto social e ambiental positivo, atuantes no mercado fluminense. Formado por 16 instituições, a iniciativa criada em 2016 conta com a colaboração das seguintes instituições: AbeLLha; Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj); Asplande; Buriti Consultoria; Cieds/Shell Iniciativa Jovem; Colaboradora; Instituto Ekloos; Incubadora da Escola de Design Industrial da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Esdi/Uerj); FAPERJ; Instituto Gênesis, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio); Iônica; Oi Futuro/Labora; Sebrae RJ; Sistema B; Sitawi-Finanças do Bem e Universidade Santa Úrsula. A Alerj compõe o grupo desde a sua criação por meio do Fórum da Alerj de Desenvolvimento Estratégico que, desde janeiro de 2020, assumiu a coordenação do movimento.

Confira a programação completa: https://riodeimpacto.com.br e https://www.youtube.com/watch?v=291fVn4GD7I





Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/11/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4115.2.3

FAPERJ retoma o Programa de Apoio à Editoração



A retomada do Apoio à Editoração fortalece a difusão do conhecimento gerado pela comunidade
acadêmica fluminense (Foto: Pexels/Pixabay)


A direção da FAPERJ anunciou, nesta quinta-feira, 26 de novembro, a divulgação dos resultados do Programa de Apoio à Editoração – 2020, destinado a dar suporte à difusão e divulgação de pesquisas e/ou estudos desenvolvidos no Estado do Rio de Janeiro, nos formato de livro, e-book, coletânea, publicação periódica temática, obra de referência, CD (de áudio, de dados e híbridos) e DVD (de vídeos documentários, científicos ou educativos, de dados e híbridos) nos suportes impresso, eletrônico ou digital. Entre as 121 propostas contempladas, nos mais variados formatos e em diversas áreas do conhecimento, destacam-se a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 33 projetos aprovados, e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), também com 33 aprovações.

A Universidade Federal Fluminense (UFF), com 18 aprovados, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com 6, a Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ),com 6, e a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), também com 6, vêm em seguida, numa lista que contempla um total de 21 Instituições de Ensino e Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. As Ciências Humanas tiveram 54 projetos aprovados, seguidas, pelas Ciências Sociais e Aplicadas (22), Linguística Letras e Artes (17), Ciências Biológicas (8), Ciências da Saúde (8), Ciências Exatas e da Terra (5), Ciências Agrárias (4) e Engenharias (3).

No total, serão investidos R$ 2,6 milhões de reais na divulgação de pesquisas de relevância não apenas acadêmica, mas que interessam ao desenvolvimento socioeconômico do estado, pois os recursos aplicados representam também apoio aos setores de edição, aos parques gráficos e aos profissionais que se integram nos processos de impressão de livros, CDs e DVDs no Estado do Rio de Janeiro. O Auxílio à Editoração é fundamental para a divulgação dos resultados da pesquisa acadêmica produzida pelas diferentes Instituições de pesquisa do Estado do Rio de Janeiro. Ao longo das últimas edições, este edital permitiu a publicação de livros de referência nas diferentes áreas, incluindo obras premiadas e indicadas a relevantes premiações no Brasil e no exterior.

Segundo o presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, a retomada do apoio significativo à editoração, em todas as suas formas, é crucial para que todo o espectro das atividades científicas e de inovação seja contemplado pelo conjunto das atividades de uma agência de fomento à pesquisa. “A produção de livros, documentários, números temáticos de revistas especializadas, entre outros, é fundamental para a transparência e para que os resultados dos mais importantes projetos estejam ao alcance de todos, dos pesquisadores e inovadores à população em geral”, afirma Lima Silva.

Confira a listagem completa dos contemplados no Edital Programa de Apoio à Editoração – 2020




Autor: FAPERJ
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/11/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4120.2.2

quarta-feira, 25 de novembro de 2020

Cientistas criam miniórgãos e revolucionam o conhecimento sobre a covid-19





A foto acima revela a estrutura de um organoide cerebral feito no Rio de Janeiro. Os pontos vermelhos são neurônios e os pontos azuis indicam o núcleo das células. As manchas verdes são progenitores neurais, estruturas que dão origem às células do sistema nervoso


Imagine pegar um punhado de células humanas de diferentes tipos e, após uma série de procedimentos, transformá-las num órgão em miniatura, que funciona de verdade e pode ser observado a olho nu.


Saiba que isso já é possível nos dias de hoje: os miniórgãos (ou organoides, nome preferido entre os cientistas) são uma ferramenta poderosa, que ajuda a entender como o Sars-CoV-2, o coronavírus responsável pela pandemia atual, provoca danos em diferentes partes do nosso corpo.


Graças a essa tecnologia, os especialistas avaliaram diversos tratamentos possíveis e entenderam rapidamente que a covid-19 não era apenas uma doença que atingia o sistema respiratório, mas tinha repercussões no coração, no intestino, nos rins e até no cérebro.


Mas, afinal, como se cria um miniórgão? E quais as vantagens que ele traz em comparação com outros métodos mais antigos, como culturas de células e cobaias?


Voltar ao passado para projetar o futuro


A matéria-prima básica para a construção de um organoide são células simples presentes na pele ou no sistema urinário. Após a seleção, os cientistas realizam um procedimento que faz essas unidades se transformarem em células-tronco.


"É como se elas voltassem no tempo. Por meio de uma transformação genética, elas viram células-tronco novamente", reforça a neurocientista Marília Zaluar Guimarães, do Instituto D'Or de Pesquisa e Ensino, no Rio de Janeiro (IDor).


A descrição desse processo biológico e da tecnologia capaz de torná-lo factível, inclusive, renderam o Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2012 ao britânico John Gurdon e ao japonês Shinya Yamanaka.


Mas essa é apenas uma parte da história. Depois que as células "voltam no tempo", é preciso realizar uma nova etapa. "De acordo com fatores que usamos no laboratório, fazemos com que essas células-tronco se diferenciem e se especializem novamente", completa Guimarães, que também é professora na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).


Em outras palavras, é possível pegar uma célula da pele e, seguindo alguns passos, fazer uma metamorfose para que ela vire um neurônio ou um glóbulo vermelho.


A grande sacada é que os organoides não são apenas um amontoado de células que podem ser analisados com o auxílio de um microscópio. Falamos aqui de formações mais complexas, que reúnem mais de um tipo de célula e muitas vezes são visíveis a olho nu. Trata-se realmente de um órgão em escala reduzida.


"No caso dos minicérebros, por exemplo, eles são esféricos, mas não têm a mesma formação do órgão verdadeiro. O que nos permite saber que aquela estrutura se assemelha ao original são suas características celulares e bioquímicas", aponta o biólogo Daniel Martins de Souza, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

Ilustração mostra tamanho de minicérebros numa placa de Petri. É possível vê-los a olho nu.

As origens


Numa perspectiva histórica, a possibilidade de construir miniórgãos é muito recente. Os cientistas só conseguiram botar a mão na massa de verdade nos últimos dez anos.


Apesar de jovens, os organoides já deram grandes contribuições à ciência. Um dos maiores exemplos disso aconteceu durante a epidemia de zika, que preocupou o Brasil (e o mundo) em 2015 e 2016.


Transmitido por uma picada do mosquito Aedes aegypti, o vírus provoca sintomas relativamente simples, como febre baixa, dor e vermelhidão nos olhos.


Mas a explosão de casos de microcefalia (quando o bebê nasce com o crânio e o cérebro menores do que o usual) na região Nordeste do país levantou o sinal de alerta: será que uma infecção por zika ao longo da gravidez poderia estar relacionada a essa grave complicação?


A suspeita foi confirmada graças às pesquisas com os organoides. Em laboratório, uma equipe liderada pelo neurocientista Stevens Rehen, da UFRJ e do IDor, utilizou minicérebros para demonstrar que o zika realmente afeta células do sistema nervoso e inibe seu crescimento, ocasionando a síndrome congênita associada à infecção pelo vírus, que causou a microcefalia e diversos outros problemas de saúde em bebês.


"Essa foi a primeira vez que o modelo dos organoides foi utilizado para entender uma doença viral", lembra Guimarães.

As vantagens


Nas últimas décadas, culturas de células e cobaias foram os principais meios para realizar os estudos preliminares com candidatos a remédios ou vacinas. A proposta estava em entender como essas novas moléculas agem numa escala menor e mais controlada antes de partir para os testes clínicos, que envolvem seres humanos.


Essas metodologias também permitem compreender como determinada doença afeta o organismo, mesmo que de maneira simplificada.


Mas as alternativas mais antigas trazem uma série de limitações, a começar por sua própria simplicidade, que não reproduz as mesmas características da vida real. "Os organoides, por outro lado, são compostos de diferentes células e têm uma estrutura tridimensional. Por isso, eles têm funções mais parecidas ao que acontece de verdade", compara o farmacêutico Kazuo Takayama, professor da Universidade de Kyoto, no Japão.


No caso das cobaias, há ainda uma limitação na quantidade de animais disponíveis para uso em experimentos. "É possível cultivar miniórgãos em laboratório quase que infinitamente, então eles podem ser usados para testes com novos medicamentos em larga escala", completa Takayama.

Conhecimento otimizado


Durante uma pandemia como a que vivemos, essa abordagem moderna também possibilitou acelerar alguns processos e obter informações essenciais com agilidade.


Sem os organoides, o conhecimento sobre a covid-19 demoraria muito mais para ficar disponível. Isso, por sua vez, impediria o avanço da ciência e atrasaria ainda mais a chegada de métodos de diagnóstico, prevenção e tratamento seguros e eficazes.


Vamos a exemplos práticos de como isso ocorreu durante os últimos meses. Diante da emergência sanitária global, muitos especialistas foram avaliar se existia alguma droga já disponível no mercado que poderia combater o vírus ou amenizar seu estrago.


Muitas dessas terapias foram testadas nos organoides. Aquelas que não funcionaram logo de cara foram descartadas. Os remédios que mostraram algum efeito inicial puderam, então, evoluir mais rápido para as próximas fases de pesquisa. Imagina quanto tempo foi economizado com essa triagem inicial?


Mas as aplicações vão muito além da área farmacêutica. Trabalhos feitos no Japão e nos Estados Unidos focaram em minipulmões e descobriram que o Sars-CoV-2 invade e destrói algumas células do sistema respiratório. Isso, por sua vez, pode gerar uma resposta inflamatória muito forte e danosa à própria saúde da pessoa acometida pela infecção.


"De forma geral, os organoides permitiram que entendêssemos que células humanas o coronavírus consegue invadir e usar para se replicar. Nosso grupo demonstrou que isso acontece no intestino, o que ajuda a explicar os sintomas gastrointestinais observados em muitos pacientes", relatam os pesquisadores Joep Beumer e Maarten Geurts, do Instituto Hubrecht, na Holanda.


Outra experiência realizada na Universidade da Colúmbia Britânica, no Canadá, e no Instituto de Biotecnologia Molecular de Viena, na Áustria, construiu vasos sanguíneos em miniatura. A partir daí, foi possível observar que o vírus da covid-19 invade o endotélio (a camada interna de veias e artérias).



CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,

As pesquisas com os miniórgãos permitiram entender quais células o coronavírus invade. Hoje sabe-se que o patógeno pode afetar até os vasos sanguíneos.


Isso tem duas implicações principais. A primeira é a formação de coágulos que bloqueiam a passagem de sangue e podem dar início a infarto, AVC ou trombose. Em segundo lugar, há a suspeita de que, a partir da circulação, o patógeno consegue "vazar" para diversas áreas do corpo e afetar outros órgãos importantes.


As iniciativas não param por aí: nessa mesma linha, trabalhos com organoides continuam a avaliar as pegadas do coronavírus no fígado, nos rins, no coração e no cérebro.

Atuação nacional


No Brasil, dois grupos de pesquisa se debruçam sobre as repercussões da covid-19 no cérebro humano. No IDor, os cientistas utilizaram neuroesferas (um tipo mais simplificado de organoide) para demonstrar que o Sars-CoV-2 gera danos ao sistema nervoso, mas não consegue se replicar e produzir novas cópias virais ali.



CRÉDITO,CAROLINA PEDROSA - IDOR
Legenda da foto,

Foto de neuroesferas infectadas pelo Sars-CoV-2. Os pontos azuis são o núcleo das células. O verde é o coronavírus.


Já um trabalho feito na Unicamp avaliou a presença do coronavírus nos astrócitos, um tipo de célula do sistema nervoso. "A invasão viral parece modificar a forma como essas unidades produzem energia, o que impacta o funcionamento dos neurônios", resume Souza.


Essa ação da covid-19 na massa cinzenta pode ser um caminho para explicar os sintomas neurológicos da doença, que chegam a acometer até 30% dos pacientes. Entre as manifestações mais comuns nesta região do corpo estão a perda ou o enfraquecimento de sentidos como olfato e paladar e o aparecimento de quadros de ansiedade e depressão.


Vale mencionar, no entanto, que essa é uma área em constante evolução. As pesquisas são realizadas neste exato momento e é possível que apareçam novidades num futuro próximo.

Os limites


Apesar de tantas vantagens, os organoides não são perfeitos e não permitem encontrar todas as respostas. "Essa é uma área que dá seus primeiros passos e enfrenta desafios importantes. Muitas dessas estruturas são feitas com células que ainda estão imaturas, o que significa que elas não são 100% comparáveis com os órgãos de um adulto", avalia Núria Montserrat Pulido, professora do Instituto de Bioengenharia da Catalunha, na Espanha.


A bioquímica Shuibing Chen, da Universidade Cornell, nos Estados Unidos, destaca a grande variabilidade entre os modelos de miniórgãos usados pelos grupos de pesquisa. "É preciso padronizar esse material para entender as aplicações de nossos esforços no mundo real", conta.


O investimento financeiro é outra barreira a ser considerada neste contexto. "Os materiais que usamos são caros e estamos trabalhando para criar sistemas custo-efetivos", completa Chen.


Souza destaca mais um impeditivo: os miniórgãos (ainda) são estruturas isoladas, que não interagem com outros sistemas que compõem o corpo humano. Com isso, não é possível entender como os efeitos do coronavírus nos rins, por exemplo, repercutem no coração ou no intestino. "Quem sabe no futuro não tenhamos diferentes organoides conectados, de maneira que eles interajam no laboratório?", vislumbra.


Se, em seus primeiros passos, os organoides já proporcionaram tanto conhecimento, imagine o que eles poderão fazer quando forem aperfeiçoados.





Autor: André Biernath
Fonte: BBC News Brasil em São Paulo
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil em São Paulo
Data: 24/11/20
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-55052560

CURSO DE FÉRIAS JANEIRO/2021 – INSCRIÇÕES ABERTAS!!!!

ATENÇÃO!!!!

CURSO DE FÉRIAS JANEIRO/2021 – INSCRIÇÕES ABERTAS!!!!

Devido a pandemia do novo coronavírus, o Curso de Férias oferecido pelo Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM) será executado pela primeira vez em modelo remoto! A atividade tem como público alvo alunos do ensino médio, assim como professores/licenciandos, e ocorrerá no período de 12 a 14 de Janeiro de 2021, em dois turnos para cada dia: das 10 às 12h + 13h30 às 15h30.

O curso é 𝐆𝐑𝐀𝐓𝐔𝐈𝐓𝐎 e tem como título "Curso de Férias Online: Laboratório Virtual de Fermentação"!!!

Através de experimentos em um jogo online e discussões via plataforma Zoom, os participantes buscarão respostas que solucionem suas dúvidas sobre o tema dessa primeira edição remota, que será “Fermentação”. As inscrições deverão ser realizadas pelo link:

https://forms.gle/MYiG1846XJTbTBxi6

* O preenchimento 𝐂𝐎𝐌𝐏𝐋𝐄𝐓𝐎 da ficha de inscrição é fundamental no processo de seleção!!!!

* A ausência no 1º turno de atividades (em 12/01/2021, das 10 h às 12 h) implicará no 𝐂𝐀𝐍𝐂𝐄𝐋𝐀𝐌𝐄𝐍𝐓𝐎 da inscrição!!!

Para participar das atividades será necessário TER ACESSO À INTERNET.

Prazo das Inscrições: até 13/12/2020

A inscrição será confirmada por e-mail até o dia 20/12/2020.




Autor: IBqM
Fonte: IBqM
Sítio Online da Publicação: IBqM
Data: 25/11/20
Publicação Original: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSeLAZs3QZr4T6s2_j8Jpx0Y9mmRRKdqj1k5ChTIdU0mvRUU2Q/viewform

CURSO DE IMERSÃO EM PAISAGISMO E JARDINAGEM




Bom dia.

Hoje teremos 2 vídeos explicando um pouco mais sobre nossa promoção e sobre a metodologia de alguns cursos.

O primeiro fala um pouco sobre o NOSSO CURSO DE IMERSÃO EM PAISAGISMO E JARDINAGEM. Um curso que é ministrado desde 2015 com muito sucesso.

Aproveite 40 vagas para o ano de 2021 com 40 % de desconto. MEGA PROMOÇÃO





Autor: Mauro Andrade - Canal do Ser Humano Integral
Fonte: Ser Humano Integral
Sítio Online da Publicação: Ser Humano Integral
Data: 23/11/20
Publicação Original: https://www.youtube.com/watch?v=2HOMpfspRjc&feature=youtu.be&ab_channel=MauroAndrade-CanaldoSerHumanoIntegral

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Pesquisadora da Fiocruz se destaca no Brasil com o maior número de publicações sobre Covid

A pandemia causada pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) vem demandando esforços da comunidade científica internacional, que trabalha incessantemente em busca de soluções para a Covid-19. Até o último dia 17 de outubro foram produzidas e registradas 168.546 publicações sobre a doença no ano de 2020 em todo o mundo, de acordo com a plataforma acadêmica Dimensions. A maior parte das publicações são artigos (132.406) e pré-prints (29.349), que são versões prévias de textos científicos. Os países com maior número de publicações são Estados Unidos (34.129), China (15.990) e Reino Unido (14.724). O Brasil ocupa o 11º lugar no ranking mundial do número de publicações sobre Covid-19, com 4.029 publicações, o que representa 2,39% da produção mundial, à frente de países como Holanda (2.576 publicações), Suíça (2.556) e Japão (2.351).

Nesse contexto, a pesquisadora pós-doutoranda da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Marta Giovanetti se destaca como aquela com o maior número de publicações (26) sobre Covid-19 entre os pesquisadores residentes no Brasil, e também como aquela com o maior número de citações sobre o tema até o momento. Contemplada pela FAPERJ com bolsa do programa Pós-Doutorado Nota 10, ela é italiana e mora no Rio de Janeiro desde 2016, quando passou a trabalhar na Fiocruz, sob a orientação do doutor em Biologia Celular e Molecular Luiz Carlos Júnior Alcântara, que também tem o apoio da FAPERJ, por meio do programa Cientista do Nosso Estado. Eles vêm se dedicando a atividades de vigilância genômica e ao desenvolvimento de protocolos para a descoberta e monitoramento de vírus emergentes e reemergentes, incluindo o novo coronavírus (pois também está relacionado aos casos de doença febril aguda), no Laboratório de Referência Regional de Flavivírus, do Instituto Oswaldo Cruz (LABFLA/IOC).


Detalhe do trabalho com o dispositivo MinION, para a análise genômica viral



“Estamos realizando o monitoramento genômico do novo coronavírus, em diversas regiões do Brasil, para entendermos melhor a sua dinâmica de dispersão no País, bem como as características genéticas do SARS-CoV-2, que podem ser a chave para o desenvolvimento de vacinas e medicamentos, e as diferentes linhagens que estão circulando e co-circulando. Antes da pandemia, já estudávamos no LABFLA outros patógenos virais, principalmente os arbovírus [que são transmitidos aos hospedeiros vertebrados através da picada de vetores artrópodes], como os vírus da Zika, da Chikungunyae, da dengue e o da febre amarela”, explicou Marta.

Para o atual monitoramento genômico do SARS-CoV-2, eles aproveitam a expertise adquirida pela equipe com outros vírus. “Recentemente, durante o projeto ZiBRA2, realizamos o sequenciamento por nanoporos, em tempo real, utilizando o dispositivo MinION, desenvolvido pela Oxford Nanopore Technologies, na Inglaterra, para rastrear a origem e a disseminação do vírus Zika nas Américas, em 2016. Em seguida, ainda durante o mesmo projeto, desenvolvemos protocolos e realizamos o sequenciamento dos genomas completos de outros dois arbovírus circulantes, os da Chikungunya e o da febre amarela, o que permitiu a obtenção de sequências completas do genoma do vírus da febre amarela referente ao surto registrado no estado de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Espirito Santo, São Paulo e Bahia, e de sequências completas do genoma do Chikungunya, oriundas das regiões Nordeste, Sudeste e Norte do Brasil, na mesma época”, contou Alcântara.

Desde que a pandemia teve início, no início de 2020, eles percorreram diversos estados brasileiros para fazer o sequenciamento genômico de diferentes patógenos virais circulantes e co-circulantes no País. Para isso, eles continuam utilizando o MinION, que por ser um dispositivo de pequenas dimensões, é portátil. “O MinION permite a realização do sequenciamento genético em até seis horas e é capaz de gerar em torno de 24 genomas completos virais. Por ele ser portátil, conseguimos montar um laboratório móvel em motorhome, no Centro Oeste”, detalhou o pesquisador da Fiocruz. As amostras biológicas dos pacientes que testaram positivo, com suspeita de infecção pelo novo coronavírus, são cedidas para o estudo através de uma parceria com os diversos Laboratórios Centrais de Saúde Públicas (LACENs) regionais. “Selecionamos amostras positivas baseadas em um valor chamado CT, que nos dá uma ideia indireta da carga viral do patógeno”, disse ela. O Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) também são parceiros do projeto.

Atividade itinerante da equipe da Fiocruz em Campo Grande, MS: análise genômica do vírus da dengue


No estado de Minas Gerais, por exemplo, eles capacitaram profissionais do Lacen-MG, e juntos realizaram o sequenciamento dos primeiros 40 genomas completos do SARS-CoV-2, em Belo Horizonte e diversas cidades da região metropolitana, considerando as informações genômicas e os dados epidemiológicos, como o histórico de dispersão e o número de casos. “Observamos que múltiplos e independentes eventos de introduções ocorreram no estado. Também identificamos a co-circulação de diferentes linhagens e sublinhagens no estado de Minas Gerais”, detalhou a Marta. “No entanto, ainda não há conhecimento científico para relacionar os diferentes tipos de linhagens virais com a gravidade dos sintomas nos pacientes. É algo muito recente, e as mutações virais precisam ser monitoradas com constância. Dentro de cada linhagem, há sublinhagens também. Daí a importância da vigilância genômica”, destacou Alcântara. Como resultado do trabalho, foi publicado o artigo intitulado The ongoing COVID-19 epidemic in Minas Gerais, Brazil: insights from epidemiological data and SARS-CoV-2 whole genome sequencing, no periódico britânico Emerging Microbes and Infections.

Sobre o reconhecimento por ser a pesquisadora com o maior número de artigos publicados a respeito do tema Covid-19 no Brasil, bem como a mais citada, Marta, que trabalhava em Roma no Instituto Superior de Saúde, o principal instituto de pesquisa na Itália, destaca a importância do trabalho em equipe e da cooperação científica internacional. “Os artigos abordam a dispersão e a caracterização de mutações associadas ao vírus, com o objetivo de entender a patogênese do vírus ao redor do mundo. Durante esse período de pandemia trabalhamos em colaboração com muitos parceiros internacionais. Ficamos empenhados na caracterização do vírus na Itália, desde os primeiros casos, e mais tarde participamos também de estudo sobre a circulação do novo coronavírus na África do Sul, em colaboração com o pesquisador Tulio de Oliveira, e esperamos dar continuidade a esse trabalho”, concluiu.






Autor: Débora Motta
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 19/11/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4112.2.7

Os desenhos de Da Vinci têm bactérias, fungos e DNA humano

Os desenhos de Da Vinci são famosos por serem elaborados com várias nuances e ideias tecnológicas avançadas. Mas uma nova pesquisa revelou outro nível de complexidade para as obras de arte de Leonardo Da Vinci: um mundo oculto de minúsculas formas de vida.

Pesquisadores relataram que as descobertas podem ajudar a construir um “catálogo” do microbioma para obras de arte. Cada uma das peças tinha uma coleção única de micróbios que poderiam ser identificados mais tarde, por meio de um estudo de sua biologia microscópica.

De modo importante, os microbiomas dos desenhos de Da Vinci tinham elementos-chave em comum suficientes para ajudar a identificar falsificações com base nas diferenças entre cada microbioma. Ou mesmo desenhos autênticos que foram armazenados em diferentes condições ao longo dos séculos.
Microbioma nos desenhos de Da Vinci



Além desses dados, os pesquisadores também mostraram que os desenhos de Da Vinci tinham um microbioma bem diferente do esperado, com várias bactérias e DNA humano. Provavelmente, por causa de séculos de manipulação pelos restauradores de arte e outras pessoas.


Desenhos estudados. Imagens: (Pinar et al., Frontiers, 2020)

Aliás, o papel dos restauradores é considerado mais importante, porque estiveram presentes os micróbios conhecidos por fazerem o papel de degradar com o tempo esses desenhos.

Portanto, o estudo é um exercício de prova de conceito, demonstrando futuramente como os microbiomas podem revelar histórias inesperadas de certas obras de arte e ajudar a detectar falsificações. Com isso, os pesquisadores examinaram o material biológico microscópico, vivo e morto, em sete dos desenhos emblemáticos do mestre.


Surpreendentemente, encontraram uma diversidade de bactérias, fungos e DNA humano.
A história que os materiais biológicos contam


A maior parte desse material coletado possivelmente pousou nos desenhos de Da Vinci bem depois de sua morte, 501 anos atrás. Então, o DNA (ou a boa concentração dele, pelo menos) vem de outras pessoas que manipularam os desenhos ao longo dos séculos.

Mas os novos materiais biológicos têm histórias para contar. A maior surpresa, relatada pelos pesquisadores, foi a alta concentração de bactérias nas obras de arte, especialmente comparando aos fungos.

A descoberta foi considerada excepcional, porque estudos anteriores mostraram fungos com a tendência de dominar microbiomas nos objetos de papel como esses desenhos. Entretanto, nesse caso, uma quantidade alta de bactérias de humanos e insetos (provavelmente, moscas que depositaram suas fezes) estavam presentes.


Excrementos de insetos. (Pinar et al., Frontiers, 2020)

“Ao todo, insetos, restauradores e a localização geográfica parecem ter deixado um traço invisível aos olhos nos desenhos”, disseram os pesquisadores em comunicado. Só é difícil dizer se alguns desses contaminantes são originários da época em que Leonardo Da Vinci estava os esboçando.



Realmente, a maior parte do DNA veio de pessoas que restauraram a obra a partir do século 15. Porém, a equipe ainda não analisou o material genético de forma detalhada para ver de quem especificamente pode ter vindo.

Concluindo, os pesquisadores usaram uma nova ferramenta chamada Nanopore, método de sequenciamento genético que decompõe e analisa rapidamente o material genético para estudar detalhadamente os diferentes materiais biológicos.

Estudo publicado na revista Frontiers in Microbiology .




Autor: AMANDA DOS SANTOS
Fonte: socientifica
Sítio Online da Publicação: socientifica
Data: 22/11/20
Publicação Original: https://socientifica.com.br/desenhos-de-da-vinci/

Neandertais estavam longe de ser "brutamontes", mostram novos estudos



Visitantes observam escultura no Museu Nacional de História Neandertal em Londres - (crédito: Pierre Andrieu/AFP)

Até pouquíssimo tempo — coisa de uma década e meia —, o Homo neanderthalensis, ou apenas neandertal, era o primo pobre da humanidade. Tida como brutamonte, intelectualmente inferior e incapaz de fazer rituais sofisticados, a espécie extinta há cerca de 50 mil anos na Europa começou a ser reabilitada por estudos arqueológicos e genéticos. As pesquisas não só descobriram padrões culturais muito semelhantes aos do homem moderno como revelaram proximidades no DNA, a ponto de se constatar que houve procriação com o Homo sapiens — um sinal de que não eram tão diferentes assim.


Esses estudos continuam e, recentemente, trouxeram à luz novas evidências de sofisticação da espécie e a aproximaram ainda mais do homem moderno. Por exemplo, agora se sabe que há muito mais do neandertal nos africanos do que se poderia imaginar. Enquanto a herança genética que eles deixaram para povos atuais que vivem nas Américas, na Europa e na Ásia já foi detectada pelo sequenciamento total do genoma neandertalense (2%), até hoje quase nada se sabia da influência desse homem extinto em um continente que parecia distante demais das cavernas europeias habitadas por ele.

Em um artigo publicado na revista Cell, uma equipe de pesquisadores do Instituto Lewis-Singer de Genômica Integrativa (LSI, sigla em inglês), da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, aproximou a população ancestral aos africanos modernos graças a uma nova tecnologia, a IBDmix. “Essa é a primeira vez que podemos detectar o sinal real da ancestralidade neandertal em africanos”, disse o coautor Lu Chen, pesquisador associado do LSI. “E, surpreendentemente, a análise mostrou um nível mais alto do que pensávamos.”

O método desenvolvido pelos pesquisadores de Princeton vem do princípio genético “identidade por descendência” (IBD), no qual uma seção do DNA em dois indivíduos é idêntica porque eles compartilharam um ancestral comum. O comprimento do segmento IBD depende de há quanto tempo existe essa ligação. Por exemplo, irmãos compartilham longos segmentos IBD porque o ancestral compartilhado é apenas de uma geração anterior. Da mesma forma, primos de quarto grau têm segmentos mais curtos porque o ancestral comum é de várias gerações anteriores.

A equipe de Princeton aproveitou o princípio do IBD para identificar o DNA do neandertal no genoma humano, distinguindo sequências que parecem semelhantes devido ao compartilhamento de um ancestral em um passado muito distante (cerca de 500 mil anos atrás), daqueles que resultantes de uma interação mais recente (por volta de 50 mil anos atrás). Adaptado, o IBDmix usa características da sequência do neandertal, como a frequência das mutações ou o comprimento dos segmentos do IBD, para distinguir a ancestralidade compartilhada do cruzamento recente.


Assim, os pesquisadores foram capazes de identificar a ancestralidade neandertal em africanos pela primeira vez e de fazer novas estimativas da herança da espécie em não africanos, que mostraram que europeus e asiáticos têm níveis mais próximos do que os descritos anteriormente. “É possível que a gente tenha de voltar e revisitar um monte de resultados da literatura científica publicada e avaliar se essa mesma tecnologia muda o que sabemos sobre o fluxo gênico em outras espécies”, destaca Kelley Harris, geneticista populacional da Universidade de Washington que não esteve envolvido no estudo.

Os cientistas aplicaram a tecnologia IBDmix no genoma de 2.504 indivíduos modernos do Projeto 1000 Genoma — que representa populações geograficamente diversas — e usaram a referência de um espécime escavado no Molte Altai (Sibéria) para identificar a sequência do neandertal nessas pessoas. Pela primeira vez, foi detectada uma ancestralidade significativa do Homo neanderthalensis nos africanos modernos: em média, 17 megabases (Mb) de sequência de neandertal por indivíduo nas amostras analisadas (o que corresponde a, aproximadamente, 0,3% do genoma). Para comparação, estudos anteriores baseados em métodos defasados relataram menos de uma megabase. Mais de 94% da sequência de neandertal identificada em amostras africanas foi compartilhada com não africanos.

Os pesquisadores também observaram níveis de ancestralidade neandertal em europeus (51 Mb/indivíduo), asiáticos do leste (55 Mb/indivíduo) e sul-asiáticos (55 Mb/indivíduo) que eram surpreendentemente semelhantes entre si. Já os asiáticos orientais tinham apenas 8% mais herança neandertal em comparação com os europeus. “Isso sugere que a maior parte da ancestralidade neandertal que os indivíduos têm hoje pode ser rastreada até um evento de hibridização comum envolvendo a população ancestral de todos os não africanos logo após a dispersão para fora da África”, diz o geneticista que liderou os estudos, Joshua Akey.
Fluxo gênico

Se a África é o berço da humanidade — de onde todos os humanos das mais diferentes espécies que já pisaram na Terra saíram —, é impossível não se perguntar como os africanos modernos compartilham DNA com um povo extinto há 50 mil anos na Europa. Akey explica que o fluxo gênico ocorreu nas duas direções. Primeiramente, há 200 mil anos, mais de um grupo de Homo sapiens saiu da África e procriou com neandertais, introduzindo o DNA humano moderno nos genomas dos neandertais.


Da mesma forma, europeus e asiáticos que compartilhavam genes com o Homo neanderthalensis migraram de volta ao continente africano, onde esse material foi sendo introduzido. “Fico impressionado com o fato de que, muitas vezes, conceituamos a história humana em termos muito simples”, diz Akey. “Por exemplo, imaginamos que houve uma única dispersão para fora da África que levou ao povoamento do mundo. No entanto, nossos resultados mostram que essa história era muito mais interessante e havia muitas ondas de dispersão para fora da África, algumas das quais levaram à mistura entre humanos modernos e neandertais que vemos nos genomas de todos os indivíduos vivos hoje.”
Cerimônias fúnebres

“Nos últimos anos, vimos evidências crescentes de que os neandertais eram mais sofisticados do que se pAdicionarensava, desde pinturas em cavernas até o uso de conchas decorativas e de garras de animais, usadas como adorno ou amuleto, em colares”, diz Emma Pomeroy, pesquisadora do Departamento de Arqueologia de Cambridge, no Reino Unido. Neste ano, ela revisitou descobertas feitas num sítio arqueológico neandertal no Curdistão iraquiano que sugerem a prática de enterrar flores junto aos restos mortais de adultos e crianças. Nesse local, há evidências de que a antiga espécie humana destinou uma caverna unicamente para depositar seus mortos.

Para saber mais

Habilidosos e adaptáveis

Junto com um povo asiático conhecido como denisovano, os neandertais são nossos parentes humanos mais próximos. A espécie tem uma longa história evolutiva. Os neandertais mais conhecidos viveram entre cerca de 130 mil e 50 mil anos atrás. A julgar pela evidência fóssil de Sima de los Huesos, no norte da Espanha, e de Swanscombe, em Kent (Inglaterra), já estavam bem estabelecida na Europa há 400 mil anos. Eram adaptáveis, vivendo em ambientes de estepe frias e em florestas temperadas quentes.


Sabe-se, por ferimentos encontrados em suas presas — como mamutes, bisões e renas —, que os neandertais eram caçadores proficientes, inteligentes e capazes de se comunicar. Danos ósseos curados e não curados encontrados nos indivíduos da espécie sugerem que eles mataram animais grandes à queima-roupa — uma estratégia arriscada que exigiria considerável habilidade, força e bravura. A espécie também desenvolveu a habilidade de fazer fogo há pelo menos 200 mil anos.

Embora não haja consenso sobre a extinção dos neandertais, algumas teorias sugerem que a concorrência com o homem moderno, que começou a chegar na Europa 10 mil anos antes, pode ter contribuído, assim como as mudanças climáticas. O que os pesquisadores concordam, hoje, é que esse não foi um único fenômeno. Os primos mais próximos do Homo sapiens teriam, na verdade, desaparecido gradualmente.



Autor: Paloma Oliveto
Fonte: Correio Braziliense
Sítio Online da Publicação: Correio Braziliense
Data: 22/11/20
Publicação Original: https://www.correiobraziliense.com.br/ciencia-e-saude/2020/11/4890520-neandertais-estavam-longe-de-ser-brutamontes-mostram-novos-estudos.html

sábado, 21 de novembro de 2020

Pesquisadores da Fiocruz investigam casos de infecção por coronavírus em animais


Coleta de saguis na Mata Atlântica: objetivo é identificar o potencial de circulação do SARS-CoV-2 em animais e suas chances de transmissão para humanos (Foto: Divulgação)


A recente notícia do primeiro caso confirmado de um animal doméstico contaminado no Brasil pelo novo coronavírus (SARS-CoV-2) — uma gata de Cuiabá que contraiu a infecção de um dos seus cuidadores, e se manteve assintomática, conforme noticiado pelo jornal O Globo em 19 de outubro —, coloca em pauta a relação entre os animais e a doença Covid-19. Um grupo de pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) vem se dedicando a esse tema de estudo na região da Pedra Branca, considerada a maior floresta urbana do mundo, superior em extensão à Floresta da Tijuca, localizada entre os bairros do Recreio dos Bandeirantes e Jacarepaguá, e recoberta por área ainda preservada da Mata Atlântica.


Coordenado por Ricardo Moratelli, da Fiocruz Mata Atlântica, que vem desenvolvendo seus estudos com apoio da FAPERJ, pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado, o projeto visa avaliar a circulação de vírus e outros parasitas com potencial de causar doenças em animais domésticos e silvestres, entre os quais morcegos, roedores silvestres e sinantrópicos, que são aqueles que vivem próximos às residências, além de saguis, preguiças, serpentes, cães, gatos, cavalos, porcos, gado e aves de reprodução. “O maciço da Pedra Branca é cercado por comunidades com diferentes níveis de desenvolvimento social e condições sanitárias e essa floresta está sob intensa pressão pela caça e pelo desmatamento causado pela especulação imobiliária, o que pode levar a um maior contato entre humanos e microrganismos. O objetivo do projeto é determinar as taxas de infecção do SARS-CoV-2 em animais silvestres e domésticos, além de levantar a ocorrência de outros vírus circulantes na fauna silvestre”, explicou Moratelli.

O estudo, que também foi contemplado por meio da chamada Ação Emergencial Projetos para Combater os Efeitos da Covid, uma iniciativa conjunta entre a FAPERJ e a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES), e pelo edital Apoio a Grupos Emergentes de Pesquisa, não se limita à investigação dos casos de infecção em animais da região por coronavírus. “Trabalhamos com vários parasitas. Nosso objetivo é descobrir qual o nível de contato entre os animais silvestres, os animais domésticos e os humanos, e pensarmos diferentes cenários ecológicos para identificar as possibilidades de transferência de um vírus ou outro parasita de de animais para humanos”, contextualizou Moratelli. Ele contou ainda que o estudo já vinha sendo desenvolvido desde 2013 e foi intensificado ao longo dos anos. “No início, trabalhávamos principalmente analisando morcegos, para entender a diversidade de parasitas em geral nesses animais, incluindo outros vírus, protozoários e bactérias.”


Moratelli destaca a importância de conhecer a relação entre os vírus, outros parasitas e os humanos


A região da Pedra Branca foi selecionada pelo elevado contato entre animais domésticos e silvestres em área de floresta alterada, o que aumenta o risco de transferência de vírus para os seres humanos, assim como o risco de transmissão do SARS-Cov-2 de humanos para animais silvestres, como os saguis. “Por enquanto, não identificamos nenhum caso do novo coronavírus nos animais avaliados”, disse Moratelli. Como parte dos trabalhos de campo, os pesquisadores vêm coletando material biológico de animais silvestres e domésticos da região, especialmente em residências com relatos de infecções pelo novo coronavírus. “Protegidos com equipamentos de proteção individual, coletamos em vários animais amostras das mucosas nasal, oral e retal e também sangue, para verificar a presença de material genético do vírus e anticorpos, ou seja, avaliar se o animal está ou foi infectado pelo SARS-CoV-2. “Capturamos os morcegos à noite na floresta e os testamos para ver a diversidade de coronavírus em geral e outros vírus neles. Não acredito que possamos encontrar SARS-CoV-2 em morcegos, mas talvez entre os saguis e outros animais domésticos. Os saguis são capturados perto das residências e lá coletamos amostras para testar a presença de SARS-CoV-2, além de outros coronavírus, vírus respiratórios e gastroentéricos neles. Já no caso de cães e gatos, vamos até a casa das pessoas que tiveram Covid e coletamos amostras de seus animais”, detalhou. Até o momento, foram analisados 50 morcegos, 12 saguis, 40 cães e dez gatos, em mais de 30 casas. A ideia é alcançar 525 animais analisados até fevereiro.

O material genético extraído será analisado por modernas técnicas de Biologia molecular para identificação de outros vírus da família dos coronavírus. Essa parte de detecção e análise da diversidade de coronavírus é coordenada pelos laboratórios de Vírus Respiratórios e Sarampo e de Virologia Comparada e Ambiental da Fiocruz. “Existem pelo menos 40 espécies de coronavírus formalmente reconhecidos na literatura”, disse Moratelli. As amostras positivas para coronavírus em geral serão comparadas com amostras de outras localidades, disponíveis em bancos genéticos, para entender a dinâmica desses vírus nas populações animais. “A importância deste trabalho é alertar as autoridades sanitárias do Estado sobre quais vírus estão em circulação e entender os cenários ecológicos de possíveis transmissões de um vírus de uma espécie para outra, incluindo a espécie humana”, justificou.

Moratelli lembrou ainda que comparações genômicas de vírus isolados dos primeiros pacientes com outros coronavírus de humanos e animais revelaram que o SARS-CoV-2 tem alta similaridade com um coronavírus encontrado em morcegos da China, mas o vírus nunca foi detectado neles. “Os estudos experimentais preliminares indicaram que esse vírus pode infectar diversos mamíferos. A partir daí, consideramos importante saber quais animais são possíveis hospedeiros ou permissivos à infecção”, concluiu.

Participam do projeto pesquisadores da Fiocruz Mata Atlântica e de laboratórios do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), como o de Virologia Comparada e Ambiental (Marina Galvão Bueno e Marize Pereira Miagostovich); de Vírus Respiratório e Sarampo (Maria Ogrzewalska, Paola Cristina Resende Silva e Marilda Agudo Mendonça Teixeira de Siqueira); de Pesquisa Clínica em Dermatozoonoses em Animais Domésticos (Rodrigo Caldas Menezes e Sandro Antônio Pereira); e de Biologia e Parasitologia de Mamíferos Silvestres Reservatórios (Rosana Gentile e Cecilia Andreazzi). Também integram o projeto, além de Moratelli, outros pesquisadores da Fiocruz Mata Atlântica, como Sócrates Fraga da Costa Neto, Marina Carvalho Furtado, Iuri Veríssimo, Roberto Novaes, Amarildo Miranda, Helena Medrado, Maria Alice do Amaral Kuzel, Isabel Cristina Bonna; e os colaboradores internacionais Judith Breuer, Sunando Roy e Rachel Williams, do University College of London.



Autor: Débora Motta
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 13/11/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4100.2.0

FAPERJ anuncia o lançamento de dois editais de fomento à pesquisa




A FAPERJ anunciou nesta segunda-feira, dia 09 de novembro, o lançamento dos editais Educação Digital Inclusiva – Apoio às Instituições Públicas de Educação Superior – 2020 e Apoio à conservação da biodiversidade: coleções biológicas do Estado do Rio de Janeiro – 2020. Com o lançamento desses dois editais o investimento total na pesquisa fluminense é de R$ 16 milhões. O prazo para a submissão de projetos vai até 19 de novembro.

O programa Educação Digital Inclusiva tem como proposta apoiar a implantação, difusão e expansão da educação mediada por tecnologia, em todos os seus níveis, por meio de projetos apresentados por pesquisadores com vínculo funcional ou empregatício nas instituições de ensino superior do Estado do Rio de Janeiro, visando à melhoria das práticas de ensino-aprendizagem; produção de conteúdo, metodologias de inclusão digital; infraestrutura de laboratórios e demais ambientes tecnológicos.

Para financiamento do edital os recursos alocados são de até R$ 8 milhões, definidos na Programação Orçamentária da FAPERJ, a serem pagos em até duas parcelas, podendo ser incluídos recursos adicionais, a critério da Presidência da Fundação, dependendo da disponibilidade orçamentária.

O prazo para a execução de cada projeto é de no máximo 12 meses, contados a partir da liberação dos recursos.

Já o programa de Apoio à conservação da biodiversidade (COLBIO), esse se destina a apoiar o financiamento de projetos que visem dar suporte à organização, manutenção, informatização, digitalização, gestão e divulgação das coleções biológicas (microrganismos, zoológicas, botânicas) das instituições sediadas no Estado do Rio de Janeiro, por meio de diversas ações, como por exemplo, melhoria de infraestrutura e promoção de digitalização e informatização de coleções biológicas.

O proponente deve possuir um vínculo empregatício ou estatutário com instituição de ensino e pesquisa sediada no Estado do Rio de Janeiro. Nessa chamada, a FAPERJ disponibilizará R$ 8 milhões em recursos para financiamento podendo ser incluídos recursos adicionais, a critério da Presidência da Fundação, dependendo da disponibilidade orçamentária.

“Por meio desses dois novos editais, a FAPERJ segue cumprindo com êxito a sua missão de fomentar a ciência, tecnologia e inovação do Estado. Assegurar a inserção da tecnologia como ferramenta inclusiva é de fundamental importância, principalmente neste momento de pandemia, pois cria ambientes de ensino interdisciplinares e que geram mais motivação aos usuários. Assim como a conservação da biodiversidade também tem sua fundamental relevância e, aliada ao conhecimento científico, torna-se um importante recurso para avançar nesse tema”, disse a secretária de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, Maria Isabel de Castro.

Confira o conteúdo completo dos editais nos links abaixo:

Edital FAPERJ Nº 07/2020 - Programa Educação Digital Inclusiva – Apoio às Instituições Públicas de Educação Superior

Edital FAPERJ Nº 08/2020 - Programa Apoio à conservação da biodiversidade: coleções biológicas do Estado do Rio de Janeiro (COLBIO)




Autor: Ascom Faperj
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 13/11/20

Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4104.2.1

FAPERJ anuncia o lançamento do edital Espaço Escola Inovadora – 2020



O lançamento do programa Espaço Escola Inovadora, anunciado nesta terça-feira, dia 10 de novembro, tem como proposta promover a inclusão social e a inserção produtiva da população do Estado do Rio de Janeiro, através da atualização das ferramentas de comunicação digital da sociedade e das novas demandas do mercado de trabalho, especialmente na situação pós-pandemia da COVID-19.


Ao final do programa, serão implantados 10 (dez) Centros de Capacitação, a serem localizados dentro de shopping centers e centros comerciais, nas cidades que compõem a região metropolitana do Estado, de forma que possam abrigar atividades presenciais e semipresenciais para cursos da área tecnológica voltados à população de crianças, jovens, adultos e idosos de cada região.

Para financiamento do edital os recursos alocados são de até R$ 3 milhões, definidos na Programação Orçamentária da FAPERJ, a serem pagos em uma parcela, podendo ser incluídos recursos adicionais, a critério da Presidência da Fundação, dependendo da disponibilidade orçamentária. O prazo para submissão de propostas vai até o dia 20 de novembro.

O prazo para a execução de cada projeto é de no máximo 18 meses, contados a partir da liberação dos recursos.

Confira o conteúdo completo do edital no link abaixo:

Edital FAPERJ Nº 09/2020 - Programa Espaço Escola Inovadora






Autor: Ascom Faperj
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 13/11/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4105.2.7

terça-feira, 17 de novembro de 2020

Diabetes é fator de risco para insuficiência renal




Diabetes é fator de risco para insuficiência renal

Doença está entre o segundo fator de risco para insuficiência renal. O tratamento para a doença renal é feito por sessões de hemodiálise ou transplante do órgão. Sábado (14/11) é comemorado o Dia Mundial do Diabetes para conscientização sobre a doença.

O diabetes atinge 16 milhões de brasileiros segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Fatores como obesidade, envelhecimento populacional e sedentarismo tem contribuído para o aumento no número de casos de diabetes.

No próximo sábado, 14 de novembro, é comemorado o Dia Mundial do Diabetes, uma data para prevenir e conscientizar a população sobre essa doença que causa muitas mortes no mundo. Além da mudança de vida que a doença exige do paciente, complicações podem comprometer outros órgãos, como os rins.

O diabetes, apesar de ser uma doença conhecida de nome pela população, ainda é cercada de mitos e informações desencontradas, principalmente para os portadores dessa patologia. Diferente do que muitos pensam, quem tem o problema pode ter uma vida normal, mas para isso, o acompanhamento médico, a adesão ao tratamento e a prática de hábitos saudáveis são fundamentais, principalmente para evitar outros transtornos.
Insuficiência renal
O diabetes pode trazer danos aos rins, comprometendo a sua capacidade de filtragem.

“Os altos níveis de açúcar fazem com que os rins filtrem muito sangue, sobrecarregando os órgãos e levando a perda de proteínas na urina”, explica o médico nefrologista e presidente da Fundação Pró-Rim, Dr. Marcos A. Vieira.

“Com o tempo e o excesso de resíduos no sangue, a sobrecarga faz com que os rins percam a capacidade de filtragem e venham a falhar. Assim, o paciente diabético vai necessitar de sessões de hemodiálise ou de um transplante renal”, complementa.

Segundo dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), aproximadamente 25% das pessoas com diabetes tipo I e 5 a 10% dos portadores de diabetes tipo II desenvolvem insuficiência nos rins. Cerca de 35% dos pacientes renais crônicos atendidos na Fundação Pró-Rim – referência nacional no tratamento renal – são diabéticos.
Epidemia silenciosa

A doença renal crônica é considerada uma epidemia silenciosa. Por não ter sintomas específicos, a insuficiência renal pode ser confundida com outras doenças, ocasionando atraso no seu diagnóstico. Os sinais mais comuns são inchaço, falta de apetite, enjoos, fraqueza, dores no estômago e perda de sono. “A identificação da doença muitas vezes só acontece quando se encontra em estágio avançado, e os rins já estão em fase crítica de funcionamento”, conta o nefrologista.
Diagnóstico e prevenção

É recomendado que os diabéticos, tanto do Tipo 1 e do Tipo 2, façam a pesquisa de microalbuminúria, a qual vai verificar a quantidade albumina (proteína produzida no fígado) eliminada na urina. Quanto maior a quantidade de albumina é eliminada pelo organismo, mais os rins estão afetados.

A Sociedade Brasileira de Nefrologia e a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) recomendam que toda pessoa com diabetes, entre os 12 a 70 anos de idade, faça a pesquisa pelo menos uma vez por ano.

“O controle da glicose é uma das medidas que o diabético deve gerenciar, evitando assim complicações para outras doenças, como a doença renal crônica, doenças cardiovasculares e a retinopatia diabética”, enfatiza Dr. Marcos A. Vieira.

Cuidados com a pressão arterial, o uso correto de medicamentos alinhados com a prática de hábitos saudáveis, como a prática de exercícios físicos, controle de peso e o não consumo de álcool e cigarros, podem reduzir o desenvolvimento de outras doenças.

“Nem todos os diabéticos desenvolvem a doença renal. O baixo controle da taxa glicêmica e da pressão arterial, e os fatores genéticos podem favorecer o surgimento da doença. É possível conviver com a diabetes desde que a pessoa se comprometa com o tratamento”, conclui o médico.
Identificando a diabetes

Existem dois tipos de diabetes: 1 e 2. A tipo 1 é uma doença autoimune. Aparece geralmente na infância e adolescência, mas pode ser diagnosticada em adultos também. Já a tipo 2 é quando o organismo não consegue usar adequadamente a insulina que produz, ou não produz insulina suficiente para controlar a taxa de açúcar no sangue. Esse tipo é principalmente causado pela obesidade.

Fatores de risco:

– Idade igual ou superior a 45 anos

– História familiar de Diabetes Mellitus (pais, filhos e irmãos)

– Excesso de peso (IMC igual ou maior a 25Kg/m²)

– Sedentarismo

– Taxa de HDL-c (“bom” colesterol) baixa ou de triglicerídeos elevada

– Hipertensão Arterial

– Diabetes Mellitus gestacional prévio

– Macrossomia ou história de abortos de repetição ou mortalidade perinatal

– Uso de medicamentos hiperglicemiantes: corticosteroides, tiazídicos, betabloqueadores

Fonte: Fundação Pró-Rim



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 13/11/2020




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 13/11/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/11/13/diabetes-e-fator-de-risco-para-insuficiencia-renal/

Veneno à nossa mesa – O Brasil é o país que mais consome agrotóxicos




Abrimos o especial sobre “Agro É Tóxico”, durante a pandemia sanitária de Sars-Cov-2, com um tema preocupante, o Brasil se destaca como o maior consumidor de agrotóxicos do mundo.

A reportagem é de Antony Corrêa, Jade Azevedo e Lucas Souza, publicada por Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – MST, 12-11-2020.

O ano de 2020 está quase no fim, e já é considerado como um ano atípico, no qual, as condições de vida e subsistências de trabalhadoras e trabalhadores foi severamente afetada. No Brasil, temos a triste marca de 163.406 mortes pelo novo coronavírus até a metade do mês de novembro. Em contrapartida, há setores e grupos de empresas que parecem passar pelo oposto, com conquistas e lucros durante este período. É o que acontece com a indústria do agro-minério-negócio, além do aumento do seu Produto Interno Bruto (PIB) em cerca de 2,42% de janeiro a fevereiro, é crescente as aprovações de registros de agrotóxicos para fabricação e uso em nosso país.

Nos cinco primeiros meses do ano, em plena pandemia sanitária de Covid-19, o Ministério da Agricultura já havia publicado o registro de 150 agrotóxicos para uso no Brasil. Destes, 118 agrotóxicos foram liberados só entre março a maio, com 84 deles destinados agricultura e 34 para uso na indústria. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), aponta que parte dessas novas mercadorias devem ser reavaliadas, pelas possíveis ligações a casos de câncer. Concomitante a isso, as empresas que concentram a produção de veneno, já haviam solicitado a liberação de mais 216 produtos.

O número de aprovações neste ano já foi maior do que o ocorrido no mesmo período de 2019. O que é preocupante, já que no ano anterior se havia batido o recorde de aprovações, com 474 novos produtos anualmente. Em setembro de 2020 já havíamos atingido a marca de 315 novas autorizações publicadas, como se pode observar no gráfico a seguir.

Registro anual de agrotóxicos no Brasil de 2000-2020. (Fonte: Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, 2020)


Como informa a Agência Repórter Brasil (2020), entre os agrotóxicos aprovados estão produtos que foram banidos em outras nações, como o Fipronil, inseticida banido em 2004 na França, o Clorotalonil, banido na União Europeia e Estados Unidos, e o Clorpirifós, banido na União Europeia. Estes dois últimos, por afetarem o as células favorecendo o aparecimento de câncer, e neurotoxicidade que afeta o desenvolvimento humano.

As aprovações só foram possíveis pelo fato de serem enquadradas como atividades essenciais durante a pandemia. As licenças para fabricação de veneno se distribuem entre 53 empresas de 11 países. No entanto, diferente de 2019, este ano, os registros se concentram nas mãos de empresas brasileiras, com destaque a AllierBrasil.
Uma herança para produzir alimentos lucro

No Brasil, o uso do agrotóxico foi integrado ao Plano Nacional de Desenvolvimento Agrícola (PNDA) de 1975, que incentivou financeiramente as indústrias de fabricação desses produtos, e contribuiu na difusão do argumento da produção de alimentos em escala para resolver o problema da fome no mundo. O Brasil, hoje, é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo e o segundo maior exportador, atrás apenas dos Estados Unidos. E mesmo ao liderar essas produções de larga escala como a soja, o milho e carne, a fome no Brasil tem aumentado. O que suscita as questões: que tipo de “alimento” é produzido? Mercadoria? Para quem? Com que qualidade nutricional? E a que custo?

De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em setembro deste ano, a fome, insegurança alimentar grave, atingiu cerca de 4,6% da população entre 2017 a 2018. São mais de 10 milhões de brasileiros com menos do que o necessário para suprir as demandas nutricionais. Essa pesquisa é apresentada, cinco anos depois do Brasil ter saído do mapa da fome. Estatística da qual o país tem se aproximado rapidamente com os desmontes da política de segurança alimentar. Outro argumento para o agrotóxico defendido por corporações transnacionais é que isso representa a modernização da técnica e agricultura. Ao investigar o tema, se percebe que a aplicação do agrotóxico no agronegócio é mais do que um melhoramento técnico. É uma articulação política e econômica entre latifundiários, indústrias transnacionais químicas e de biotecnologia que trabalham pelo mercado, o que amplia a taxa de lucro e o poder político global desses conglomerados.
O agronegócio financia a política

No Brasil, existe uma articulação se torna nítida ao olharmos para os financiadores da Frente Parlamentar da Agropecuária, popular bancada ruralista. Essa, recebe recursos do Instituto Pensar Agro, financiado por 38 associações do agronegócio ─ conglomerados que concentram o controle deste ramo no país e no mundo. No Infográfico a seguir podemos observar 12 dessas associações, que exercem maior influência.



Brasil: O maior consumidor de agrotóxicos

A média anual de uso dos agrotóxicos no Brasil entre 2012 a 2014 totalizaram 877.782 toneladas, de acordo com o atlas Geografia do Uso de Agrotóxicos no Brasil e conexões com a União Europeia de 2017, contabilizando: 334.628 toneladas no Centro-Oeste, 244.911 no Sul, 188.512 no Sudeste, 101.460 no Nordeste e 28.271 no Norte.


Em 2017, com cerca de 550 mil toneladas de ingredientes ativos, o Brasil alcançou o título de maior consumidor de agrotóxicos em volume de produto do planeta ㅡ de acordo com os dados da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados apresentados em audiência de 2019 em Brasília.

Leonardo Melgarejo, engenheiro agrônomo e integrante do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos, comenta que existem estudos que tentam dizer o contrário, e são amplamente divulgados em órgãos institucionais, pela Frente Parlamentar da Agricultura, a bancada ruralista.

Esses “números são feitos com base [na venda e] no valor do agrotóxico utilizado por hectare”, o que coloca países como o Japão na frente do Brasil. Podemos ter a falsa impressão de que esses países consomem mais veneno, por gastarem mais dólares em agrotóxicos que são mais seguros. “Nessa conta parece que no Brasil se usa menos do que fato é utilizado. Nós usamos mais venenos e os piores venenos”, alerta Melgarejo.

O pesquisador destaca como confiável o método produzido na Universidade Federal do Mato Grosso, por Wanderlei Pignati, que considera para o cálculo os principais municípios produtivos, a área cultivada das principais culturas e as informações dos produtos mais aplicados. Isso permite chegar a uma média que extrapolam para toda a área cultivada, e se estima os dados que faltam das vendas ilegais de agrotóxicos. Essa estimativa é de “um bilhão de litros de agrotóxicos por ano. Dá uns 30% a mais do que as vendas contabilizadas pelo IBAMA”, observa.

Melgarejo observa que a flexibilização da legislação tem aumentado o descuido com a informação e consequentemente a contaminação. Um exemplo recente é o caso do Paraquat, proibido em 2017 pela ANVISA, com o prazo de três anos para a retirada do produto do mercado brasileiro. Em setembro, o produto deveria ser banido e excluído de todas as prateleiras. Contrariando as suas decisões anteriores a Anvisa cedeu às pressões do agronegócio e autorizou o uso do estoque de Paraquat.
Entenda um pouco mais: o que são agrotóxicos?

De acordo com o decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, os agrotóxicos são: produtos e componentes resultantes de processos físicos, químicos ou biológicos. Destinados ao uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na produção de florestas nativas ou implantadas. Também são utilizados em outros ecossistemas com a finalidade de alterar a composição da flora e fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos. São conhecidos ainda como substâncias e produtos desfolhantes, dessecantes, estimulantes e inibidores de crescimento.

Um marco regulatório da Anvisa de 2019, alterou a classificação de toxicidade dos agrotóxicos, adotando o padrão internacional, com cinco divisões, o Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos (GHS). Por este novo padrão, são considerados venenos extremamente tóxico apenas aqueles produtos que causarem morte horas depois do contato ou ingestão pelo indivíduo. Agrotóxicos “pouco tóxicos” não terão mais a advertência de risco no rótulo. Dessa forma, dos agrotóxicos aprovados no início do ano, apenas seis produtos haviam sido classificados como extremamente ou altamente tóxicos. Podemos observar esta nova classificação no infográfico.
O veneno paira no ar

Pode ser considerado um agrotóxico todo produto que for tóxico para a agricultura e pecuária. Leonardo Melgarejo, aponta que os agrotóxicos podem ser extratos de plantas como também de síntese química. Esse último, predomina na agricultura atualmente, e são formulações desenvolvidas em laboratórios que geram o xenobiótico. Essas substâncias têm uma finalidade específica, como matar determinado inseto, entretanto possuem ações colaterais. Um exemplo desse efeito colateral citado pelo engenheiro agrônomo, é a “luta dos produtores de uva contra os produtores de soja, quando os produtores de soja usam o 2,4-D, que é um herbicida para limpar as suas lavouras”. O que acontece é que este herbicida fica à deriva no ar, atinge os parreirais dos vizinhos, e afeta a produção das uvas.

Caso semelhante é relatado pela agricultora assentada Maria Aparecida Mota Belarmindo (Cida), 43 anos, natural da Paraíba, e moradora do Assentamento Olívio Albani, em Campo Erê, Santa Catarina. Ela nos relatou o caso ocorrido na região em 2007, em que fazendeiros despejavam veneno sobre o acampamento localizado entre os latifúndios. “Quando a gente veio pra cá, eles passavam de avião o veneno, nas propriedades deles, a gente fica bem no meio, e nos quatro lados tem fazendeiro. A gente denunciou para Ministério Público, para IBAMA, para a FATMA, pra tudo”, lembra a camponesa.

Ela conta que logo em seguida da aplicação dos agrotóxicos, muita gente ficou doente por causa das águas, daquele veneno. Parte das pessoas afetadas foram internada no hospital em Campo Erê e parte em Palma Sola. Entre os sintomas estava a diarréia e vômito. Cida, relembra que os vizinhos durante este período continuaram a aplicação do veneno até o final da safra, e depois que o caso repercutiu, passaram a fazer as aplicações com máquinas de solo.

Ela associa alguns problemas na saúde mental das pessoas no assentamento à exposição ao veneno, “tem bastante gente muito ansiosos, nervosos aqui no assentamento, por causa disso, por causa do veneno”. Outro problema que permanece atualmente, é a monocultura de pinus que cerca a vizinhança, e que Cida também considera um veneno para a saúde.

A camponesa e assentada relata que depois de um longo período, mesmo não havendo mais aplicação de veneno por aviões, os impactos da persistência do agrotóxico e envenenamento da terra são perceptíveis. “A gente plantava as frutas e não dava nada, principalmente a parreira, a uva, não dava por causa dos veneno da soja”. Ela relata, que mesmo com barreiras contra o veneno, seu vizinho seguia a plantação de soja. “Teve uma época ali que as minhas uvas não vinham por causa disso […] aqui no assentamento [agora] é proibido plantar soja por causa do veneno, porque ele é muito mais forte, mata mais, e trás outras doenças e outras pragas”, destaca.

Cida e tantas outras camponesas e camponeses que produzem agroecologicamente e/ou que estão em processo de transição são pontos de resistência que em meio às contradições do sistema e violência do agro-minério-negócio, florescem por meio de suas experiências ancoradas em um projeto de sociedade e de campo que é popular e que respeita às formas milenares de produzir da natureza.

Neste atual cenário do Brasil o debate sobre a produção de alimentos e uso de agrotóxicos é constante dentro da luta dos Movimentos Sociais pelo direito à alimentação e Reforma Agrária Popular, que discute técnicas agrícolas, pecuárias, questões políticas, conômicas, sociais e formativas de concepção de mundo, enquanto projeto de campo e sociedade. Neste bojo, publicaremos ao longo das semanas o “Especial Agro é tóxico”, com o intuito de pôr elementos para a discussão sobre: o cenário nacional, a legislação sobre agrotóxico, saúde e contaminação e a contraposta que vem sendo construída pelos movimentos sociais do campo, por meio da agroecologia e Reforma Agrária Popular.

(EcoDebate, 16/11/2020) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]


Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 16/11/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/11/16/veneno-a-nossa-mesa-o-brasil-e-o-pais-que-mais-consome-agrotoxicos/