terça-feira, 31 de agosto de 2021

XIII Simpósio de Enfermagem em Terapia Intensiva da UERJ – online e gratuito. Inscreva-se!





O Programa de Enfermagem em Terapia Intensiva, Especialização Lato Sensu na Modalidade Residência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, realiza o XIII Simpósio de Enfermagem em Terapia Intensiva. O evento, intitulado “Ventilação mecânica e suas interfaces com o Trabalho de Enfermagem”, será gratuito e ocorrerá nos dias 01 e 02 de setembro de 2021, às 15h, por via remota. Para participar, a inscrição deve ser feita através do link: https://www.even3.com.br/simpti2021/



Vacinas COVID-19: onde estamos e desafios pela frente

 
Vacinas fraudulentas

As tentativas de obter essas vacinas a qualquer custo estão quase espelhando a desconfiança das vacinas. A compra ilegal de vacinas chinesas, e provavelmente vacinas falsas chinesas, está começando a ser anunciada em alguns sites da Internet. Certamente, a possibilidade de os habitantes da cidade de Jiaxing, no leste da China, envolvidos em obras essenciais, comprarem a vacina CoronaVax da Sinovac Biotech, que ainda está em ensaio de Fase III, não favorece o controle desse perigoso comércio (fig. 1).

Vamos para:

Diversas plataformas de vacinas

O drama da pandemia levou muitos cientistas ao redor do mundo a desenvolver possíveis vacinas alternativas de COVID-19. Assim, além do grande número de projetos oficiais alistados pela OMS, vários laboratórios universitários e pequenas empresas de biotecnologia estão estudando vacinas novas. Esse esforço intelectual e tecnológico inteligente fornece uma miríade de projetos diversos, alguns dos quais poderiam se tornar importantes se os projetos pioneiros conferissem proteção apenas parcial ou funcionassem mal em certos grupos da população. Custos altos e outras barreiras podem tornar algumas das vacinas pioneiras inadequadas para implantação em larga escala em países de baixa renda. Por exemplo, vacinas baseadas em bacteriófagos que infectam micróbios do nariz e da garganta e os fazem produzir a proteína Spike, ou outras vacinas que podem ser administradas por insuflação nasal ou pela boca parecem ser alternativas estimulantes. Seria realmente uma grande conquista desenvolver uma vacina que pudesse induzir uma imunidade eficaz nas superfícies mucosas: pudesse impedir a infecção viral e a disseminação do vírus através de gotículas respiratórias.

O sucesso e a aprovação das primeiras vacinas COVID-19 não devem prejudicar o entusiasmo e a possibilidade prática de planejar novos estudos que levem ao desenvolvimento e produção de vacinas de segunda e terceira geração, bem como ao desenho de diferentes tipos de ensaios clínicos. Na verdade, a erradicação da COVID-19 será um longo e tortuoso caminho que não terminará quando tivermos a primeira vacina disponível.

Vamos para:

Conclusões

No momento em que estamos concluindo este briefing, as vacinas COVID-19 estão a caminho. Atualmente, dados recentes dos ensaios de Fase III estão permitindo o registro de vacinas. Logo depois, poucas vacinas baseadas em diferentes tecnologias serão obrigatórias ou disponibilizadas para grupos selecionados da população da China, Rússia, Estados Unidos e Europa.

Assim, o cenário da pandemia está assumindo características completamente diferentes. Saberemos se as vacinas para controlar eficazmente a propagação do vírus SARS-CoV-2 continuam a ser um objetivo distante ou se já estão aqui. Neste último caso, a próxima questão candente será a disponibilidade da vacina e sua distribuição eqüitativa em todas as áreas do mundo. As políticas nacionais predatórias que visam assegurar que as primeiras doses da vacina sejam disponibilizadas à população de seu país vão se chocar com as tentativas de muitas organizações internacionais de estabelecer uma distribuição mais justa em todos os países do mundo. Este nobre esforço é fortemente contrastado pelo significado político que a vacina COVID-19 está assumindo. O líder político ou o país que produz a primeira vacina salvífica pode explorá-la para afirmar sua capacidade de proteger seus cidadãos e também os habitantes de países amigos. A vacina, portanto, pode se tornar uma medida inadequada de poder. Quantas sementes de doença, desespero e morte dificultarão o acesso à vacina semear entre as pessoas da terra? Cinicamente, poderia ser apenas a corrida predatória implacável para pegar as primeiras doses da vacina que poderia produzir uma distribuição justa de vacinas excedentes para as nações menos ricas em um tempo relativamente curto.

Finalmente, é nosso princípio que, a longo prazo, mais de uma vacina será necessária para garantir acesso global equitativo, proteção de diversos indivíduos e imunidade contra variantes virais.

Vamos para:

Reconhecimentos

Agradecemos ao Prof. Giuseppina Barsacchi pela leitura crítica do manuscrito. Alberto Mantovani agradece o apoio da empresa de moda Dolce & Gabbana.




Autor: Guido Forni, Alberto Mantovani
Fonte: Autor correspondente e em nome da Comissão COVID-19 da Accademia Nazionale dei Lincei, Roma
Sítio Online da Publicação: ncbi
Data: 28/02/2021
Publicação Original: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7818063/

Dez principais itens para o reconhecimento, avaliação e manejo da sepse materna

A mortalidade materna por infecção é a terceira causa de mortalidade direta no mundo, e pode ser relacionada indiretamente com 50% das mortes maternas (BRIZUELA, 2020). Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS- 2020) a mortalidade por sepse materna pode chegar a 13% nos países de baixa renda. Sendo assim toda equipe que presta assistência a gestantes precisa saber reconhecer, avaliar e tratar adequadamente a sepse materna para que possamos diminuir esses dados do ano de 2020.

Em agosto de 2021 foi publicada uma revisão na Obstetrics & Gynecology, com os dez principais passos para o reconhecimento, avaliação e manejo da sepse materna. O objetivo é trazer o passo a passo para que toda a equipe possa identificar e tratar adequadamente a paciente com sepse, de maneira simples, fácil e reprodutiva (SHIELDS, 2021).



Reconhecimento

1. Manter um alto índice de suspeita de sepse.

Mesmo sem um protocolo definido para o diagnóstico de sepse materna e as alterações fisiológicas da gestação e puerpério imediato podendo confundir o diagnóstico; é essencial a equipe sempre manter um alto índice de suspeita de sepse materna. A Sociedade de Medicina Materno-Fetal recomenda aos profissionais de saúde considerar sepse em todas as gestantes que apresentarem processos infecciosos, mesmo sem a origem da infecção estar determinada (órgão-alvo) e sem a gestante ou puérpera apresentar febre (SHIELDS, 2021).

Os fatores de risco que os profissionais assistenciais devem estar atentos nesse primeiro passo são:
Fatores da paciente: obesidade, deficiência imunológica ou terapia imunossupressora, anemia, intolerância à glicose, leucorreia de odor fétido, história de infecção pélvica, história de infecção por streptococcus do grupo B, contatos próximos com infecção pelo streptococcus do grupo A, maiores que 35 anos, baixa renda familiar, insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência renal crônica, insuficiência hepática crônica e lupus eritematoso sistêmico.
Fatores obstétricos: cesariana, restos ovulares, tempo prolongado de ruptura das membranas ovulares, gestação múltipla, cerclagem, amniocentese ou outro procedimento invasivo fetal, laceração perineal complexa e hematoma.

2. Implementação de uma lista de verificação rápida para detecção precoce da deterioração materna.

Não existe um protocolo que prediz mortalidade em pacientes com suspeita de sepse como o qSOFA (quick Sepsis related Organ Failure Assessment) definido para obstetrícia. Porém, podem ser usados outros três protocolos para verificação de deterioração materna precoce. São eles: MOEWS (Modified Obstetric Early Warning System), S.O.S. (Sepsis in Obstetrics Score), and omqSOFA (obstetric modified quick SOFA) (Tabela 1). Apesar do melhor protocolo ainda não estar bem estabelecido, os autores orientam utilizar o MOEWS ou o omqSOFA (SHIELDS, 2021).
Sistema de Escore Obstétrico Parêmtros Avaliados
MOEWS Frequência cardíaca e respiratória, saturação, pressão arterial sistólica, temperatura e alteração do nível de consciência.
omqSOFA Pressão arterial sistólica, padrão respiratório e nível de consciência.
S.O.S Frequência cardíaca e respiratória, saturação, pressão arterial sistólica, temperatura, alteração do nível de consciência, leuconcitose com desvio à esquerda e aumento do ácido láctico.


Manejo terapêutico na hora de ouro para salvar vidas

3. Implementar equipe de resposta rápida para paciente com sepse

A equipe de resposta rápida de sepse deve ser treinada para fazer uma anamnese direcionada e breve, além de checar sinais vitais, fazer exame físico completo, iniciar a estabilização hemodinâmica materna e a antibioticoterapia durante a primeira hora de deterioração da paciente. Neste momento, a equipe também deve definir se existe necessidade de transferir a paciente para cuidados da unidade de terapia intensiva (UTI). Segundo Shield (2021), a implementação de equipes de resposta rápida fizeram com que diminuísse a mortalidade por sepse em 02 a 03%.
 
4. Solicitar exames laboratoriais e radiológicos para identificar origem, guiar antibioticoterapia e classificar a gravidade. Lembrando de colher duas amostras de hemocultura, urocultura e amostra de secreção, caso haja, antes do início da antibioticoterapia. Dentro dos exames laboratoriais devem ser solicitados hemograma, ácido lático, Rotina de urina, coagulograma, painel metabólico, gasometria arterial.
 
5. Saber que as causas de infecções maternas mais frequentes são diferentes da população geral, para poder definir rapidamente a origem da infecção. Neste item o autor destaca a importância de saber que uma infecção causada pelo streptococcus do grupo A mata rapidamente.

As principais causas de sepse materna durante a gestação são infecções geniturinárias e respiratórias; já intraparto é a corioamnionite; e no período do puerpério são endometrite, mastite, infecções gastrointestinais, de parede abdominal e do assoalho pélvico.

6. Escolher antimicrobianos adequados para o diagnóstico mais provável, de acordo com o protocolo realizado pela Comissão de Controle Hospitalar (CCIH) da instituição na qual presta assistência.
 
7. Ressuscitação volêmica deve ser iniciada rapidamente para pacientes com níveis de lactato maiores que 4 mmol/L ou pressão arterial média inferior a 65 mmHg.

A ressuscitação volêmica precoce otimiza a pré-carga cardíaca, pós-carga e a contratilidade em grávidas. Fluidos cristaloides, ringer lactato ou solução salina normal são o esteio da terapia. Para a ressuscitação na sepse, devemos iniciar a infusão com 30 mL/kg, seguido por fluidos adicionais como clinicamente aplicável; em um paciente de 70 kg, isso se traduziria em um mínimo de 2,1 L de fluido cristaloide como uma dose inicial em bólus (SHIELD, 2021).
Após a hora de ouro

8. A escalada do cuidado é fundamental para a sobrevivência.

Uma vez que a sepse é reconhecida e a avaliação inicial e tratamento estão em andamento, a rápida escalada de atendimento é crítico. A consulta precoce com infectologista e intensivista é aconselhável para ajudar com o escalonamento de cuidados e prescrição do paciente. Em alguns casos, a transferência imediata da paciente gravemente doente para um nível mais alto de cuidados pode ser necessário, pois a morte por choque séptico pode chegar a 50% (SHIELD, 2021).

9. Com o paciente estabilizado resolva o problema principal.

Grande parte dessas pacientes precisarão ser submetidas a procedimentos cirúrgicos ou realizar curativos específicos, e este é o momento de resolver isto. Nesse item, também deve ser checado cateteres, drenos e sondas que podem ser a origem da infecção; e se necessário, trocá-los ou removê-los.

10. Antecipar e prevenir eventos adversos na gestação.

A sepse isolada não é indicação de resolução da gestação, a menos que o foco seja intra-amniótico. Porém, 29% das pacientes com bacteremia evoluem para parto pré-termo segundo Shield (2021). Por isso, neste momento deve-se verificar vaga na UTI neonatal e passar o caso para a equipe de neonatologistas. Além de indicar corticoterapia para maturação pulmonar em pacientes com idade gestacional menor que 34 semanas, e levar para discussão com toda a equipe a necessidade de realizar nas pacientes entre 34 e 37 semanas.

Pacientes com risco de parada cardiorrespiratória ou com deterioração rápida, o parto cesárea deve ser seriamente levado em consideração, e dependendo do caso, realizado na UTI, sob a ciência da equipe de neonatologia.

O autor não descreve o uso de sulfato de magnésio para neuroproteção fetal nos prematuros extremos. Apesar de ainda ser controverso e necessitar de mais estudos para mostrar uma evidência forte que suporte o seu benefício. Diversos guidelines orientam realizar sulfato de magnésio quatro horas antes do parto de pacientes com menos de 32 semanas para neuroproteção fetal, por isso é pertinente introduzir este comentário nesse último item desta revisão (COUTINHO, 2018).

Autor(a):

Letícia Suzano Lelis Bellusci


Graduação em Medicina pela Universidade José do Rosário Vellano ⦁ Residência em Ginecologia e Obstetrícia pelo Hospital Regional de Presidente Prudente ⦁ Especialização em Endometriose e Ginecologia Minimamente Invasiva pelo Hospital Sírio-Libanês ⦁ Especialização em Ultrassonografia em Ginecologia e Obstetrícia pela Faculdade de Tecnologia em Saúde ⦁ Especialização em andamento em Medicina fetal pela Fetus


Referências bibliográficas:
Shields A, de Assis V, Halscott T. Top 10 Pearls for the Recognition, Evaluation, and Management of Maternal Sepsis, Obstetrics & Gynecology. 2021;138(2):289-304. doi: 10.1097/AOG.0000000000004471
Brizuela V, Bonet M, Trigo Romero CL On behalf of the World Health Organization Global Maternal Sepsis Study Research Group, et al Early evaluation of the ‘STOP SEPSIS!’ WHO Global Maternal Sepsis Awareness Campaign implemented for healthcare providers in 46 low, middle and high-income countries. BMJ Open. 2020;10:e036338. doi: 10.1136/bmjopen-2019-036338
WHO Global Maternal Sepsis Study (GLOSS) Research Group. Frequency and management of maternal infection in health facilities in 52 countries (GLOSS): a 1-week inception cohort study. Lancet Glob Health. 2020 May;8(5):e661-e671. doi: 10.1016/S2214-109X(20)30109-1.
Coutinho T, Coutinho CM, Coutinho LM. Neuroproteção fetal: uma utilização contemporânea do sulfato de magnésio / Fetal neuroprotection: a contemporary use of magnesium sulfate. Femina; 47(2): 114-121, 20190228. Artigo em Português | LILACS | ID: biblio-1046500. Biblioteca responsável: BR1365.1









Autor: Letícia Suzano Lelis Bellusci
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 30/08/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/dez-principais-itens-para-o-reconhecimento-avaliacao-e-manejo-da-sepse-materna/

O olho na Covid-19: partículas de SARS-CoV-2 na retina de pacientes infectados

O olho é afetado pela infecção por Covid-19 e os achados na retina foram atribuídos a alterações microvasculares e imunológicas secundárias. A presença de partículas de SARS-CoV-2 na retina de pacientes mortos por Covid-19 foi sugerida através de PCR e métodos imunológicos que detectam suas principais proteínas. Um estudo foi publicado na JAMA Ophthalmology em julho de 2021 com o objetivo de detectar a presença de partículas virais em pacientes que morrem de Covid-19 através de microscopia fluorescente de tecidos imunocorados para S1 e proteínas do nucleocapsídeo e microscopia eletrônica de transmissão. O estudo foi realizado na Universidade Federal de São Paulo em junho e junho de 2020.



Metodologia

Foram avaliados 3 olhos de 3 diferentes pacientes. Todos eles foram internados em CTI, submetidos a ventilação mecânica e tiveram envolvimento pulmonar grave associado a Covid-19, com mais de 50% de acometimento pulmonar e estavam recebendo heparina, antibióticos e corticoides. O paciente 1 era um homem de 70 anos, hipertenso, diabético e com enfisema pulmonar. Ficou 30 dias internado. Ambos os olhos não tinham achados relevantes no segmento anterior. Foi impossível obter acuidade visual e níveis de pressão intraocular durante a internação. O olho direito tinha hemorragia vítrea e o olho esquerdo apresentava hemorragia subretiniana temporal com aumento da tortuosidade vascular. O paciente 2 era uma mulher em torno de 70 anos, hipertensa, diabética e dislipidêmica e que faleceu uma semana após o diagnóstico. O paciente 3 era um homem de mais ou menos 60 anos, hipertenso, com insuficiência renal crônica em diálise e abuso de álcool. O diagnóstico de Covid-19 foi 2 meses antes. Os pacientes 2 e 3 não tiveram avaliação oftalmológica antes da morte. Partículas que variam de 60 a 70 nm foram vistas na região perinuclear das células da camada nuclear interna, especialmente em estruturas reticulares de dupla membrana derivadas de alterações no retículo endoplasmático induzidas pelo SARS-CoV-2. Foram também visualizadas em células endoteliais capilares presentes na camada nuclear interna. Granularidade eletrodensa dentro da partícula também foi observada. Na camada nuclear externa partículas virais numerosas foram encontradas nas regiões perinucleares e citoplasmáticas.

Uma das formas clássicas de determinar a presença de vírus dentro da célula é a abordagem imunocitoquímica usando anticorpos específicos que reconhecem 2 proteínas essenciais da partícula viral: a proteína S, exposta na superfície do vírus e a proteína do nucleocapsídeo, dentro do vírus. Usando essa abordagem o estudo identificou a presença de proteína do nucleocapsídeo na camada de células ganglionares e região perinuclear. A marcação com anticorpos que reconhecem a proteína S1 e N também foi observada na camada nuclear interna na região perinuclear. Também foi observada através do tecido sensorial da retina, camada de células ganglionares, camada plexiforme interna, camada nuclear interna, camada plexiforme externa e camada nuclear externa, além do epitélio pigmentar da retina e coroide.

Conclusão

Fica claro que após a infecção inicial respiratória, o vírus pode se espalhar por todo o corpo, atingindo diferentes tecidos e órgãos. Não é claro ainda se as alterações retinianas são secundárias à presença do vírus ou às alterações secundárias imunológicas e microvasculares. Um estudo demonstrou a detecção por PCR e outros estudos recentes mostraram a expressão de enzima conversora de angiotensina 2 em estruturas oculares. O novo estudo demonstrando o achado de partículas virais com morfologia similar ao observado em meios de cultura experimentais infectados com o vírus está de acordo com os estudos anteriores, apesar da limitação do pequeno número de casos. Esses achados podem ajudar a elucidar os mecanismos fisiopatológicos do vírus e entender melhor as sequelas da doença.

Autor(a):

Juliana Rosa


Pós graduação Lato Sensu em Córnea pela UNIFESP ⦁ Especialização em lentes de contato e refração pela UNIFESP ⦁ Residência médica em Oftalmologia pela UERJ ⦁ Graduação em Medicina pela UFRJ ⦁ Contato via Instagram: @julianarosaoftalmologia


Referências bibliográficas:
Araujo-Silva CA, Marcos AAA, Marinho PM, et al. Presumed SARS-CoV-2 Viral Particles in the Human Retina of Patients With COVID-19. JAMA Ophthalmol. Published online July 29, 2021. doi:10.1001/jamaophthalmol.2021.2795





Autor: Juliana Rosa
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 30/08/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/o-olho-na-covid-19-particulas-de-sars-cov-2-na-retina-de-pacientes-infectados/

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Entrevista: Margareth Dalcolmo, médica pneumologista da Fiocruz



Débora Motta

Margareth Dalcolmo: a médica pneumologista destaca que a necessidade de cuidados de proteção individual e coletivos deve permanecer pelos próximos dois anos (Foto: Virginia Fuchs/Fiocruz)

A médica pneumologista e pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Margareth Dalcolmo foi eleita neste sábado, 31 de julho, "Personalidade 2020" pelo Prêmio Faz Diferença, organizado pelo jornal O Globo. Aos 66 anos, a cientista se notabilizou por sua destacada atuação desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), tornando-se uma das porta-vozes da Ciência, com orientações e informações confiáveis para a população. Ligada à Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca (Ensp/Fiocruz), ela já havia sido agraciada em maio com o Prêmio Nise da Silveira. Margareth possui graduação em Medicina pela Santa Casa de Misericórdia de Vitória, Residência Médica em Pneumologia, especialização em Pneumologia Sanitária pela Fiocruz; e doutorado em Medicina (Pneumologia) pela Escola Paulista de Medicina, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

A médica integrou a Comissão Ciência RJ no Combate à Covid-19” (ComCiênciaRJCOVID), criada em maio de 2020 por iniciativa da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) para colaborar com estratégias e táticas para o enfrentamento da pandemia da Covid-19 e que foi liderada pelo presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva. A cientista tem experiência na área de doenças respiratórias, tendo conduzido e participado de protocolos de pesquisa clínica e tratamento da tuberculose e outras micobacterioses. Foi ainda criadora e coordenadora do ambulatório do Centro de Referência Professor Hélio Fraga, da Fiocruz, instituição nacional de referência do Sistema Único de Saúde (SUS) para tuberculose e outras pneumopatias, que dirigiu de 2009 a 2012. Em entrevista concedida por telefone ao Boletim FAPERJ, ela avalia os desafios impostos pela pandemia à comunidade científica e à sociedade, a chegada da variante Delta, reafirma sua vocação como pesquisadora e fala do reconhecimento pelo Prêmio Faz Diferença.

BOLETIM FAPERJ – Como você recebeu a notícia da indicação ao Prêmio Faz Diferença do Globo?

Margareth Dalcolmo – Recebi com surpresa e emoção essa notícia, e com genuíno senso de dever porque é o reconhecimento de grandes jornalistas, da opinião pública. Tenho sempre tentado informar com a verdade, traduzindo informações científicas complexas em uma linguagem que todos possam compreender. Fiquei muito sensibilizada. Há colegas de muito mais valor do que eu. O Prêmio será entregue no dia 25 de agosto, em cerimônia presencial.

Quais são as perspectivas diante da chegada da nova variante Delta, do coronavírus, no Brasil?

Ela tem uma grande chance de se tornar uma variante dominante pela sua alta capacidade de transmissão, bastante superior às cepas originais, sobretudo a de Wuhan, na China. No Brasil, a exemplo do que vem ocorrendo em outros locais, ela deve se tornar dominante. No entanto, todas as vacinas até o momento mostram efetividade para as novas variantes. É esperado que uma vacina, diante de nova variante, pode perder biologicamente um pouco da sua capacidade protetora, mas os estudos feitos até agora mostram que são efetivas. A questão é que precisamos ter uma adesão às vacinas bastante maior e acelerar nosso ritmo de vacinação. Hoje temos menos de 20% da população brasileira, apenas, completamente imunizada. Isso nos preocupa, pois para termos ação efetiva e diminuir a hospitalização precisaríamos ter uma cobertura de vacinação bastante superior, com pelo menos 70, 80% dos brasileiros imunizados.

Na sua avaliação, como a comunidade científica brasileira tem lidado com os desafios impostos pela pandemia causada pelo novo coronavírus?

A comunidade científica brasileira mostrou uma capacidade de resposta extraordinária diante da pandemia do novo coronavírus, mesmo com a perda de cérebros preciosos, dos cientistas que deixaram o Brasil nesse período. Aqueles que ficaram demonstraram grande capacidade de trabalho, com publicações e colaborações científicas internacionais. Nessa pandemia ficou evidente a grande capacidade do ser humano de produzir, na Ciência, com descobertas, redescobertas e decepções. Entre as descobertas, estão as vacinas. A concepção de uma plataforma vacinal pode levar até 14, 15 anos, e hoje já temos em pouco tempo mais de dez vacinas aprovadas no mundo. Entre as redescobertas, eu elencaria a utilização da corticoterapia para tratar a Covid, com fármacos de efeito anti-inflamatório, que já eram utilizados nas síndromes respiratórias agudas graves. O uso de corticóides, sobretudo a dexametasona, se mostrou de grande valia na Covid-19. Outra redescoberta, positiva, foi a utilização de anticoagulantes. E entre as decepções estão o reposicionamento de fármacos como a cloroquina, a ivermectina e nitazoxanida, que não mostraram ação comprovada contra a Covid, nem para casos leves nem para impedir o agravamento da doença, e se revelaram como uma quimera.

Qual a importância de políticas de investimentos contínuos em Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) nesse cenário?

Mais do que nunca, nesse momento de pandemia houve a participação robusta da sociedade científica e nos ressentimos bastante da falta de reconhecimento da importância da pesquisa brasileira e da presença de políticas de investimentos contínuos em C,T&I. Nesse sentido, o papel dos órgãos de fomento e das Fundações estaduais de Amparo à Pesquisa (FAPs), como a FAPERJ, se torna cada vez mais evidente no Brasil. Isso precisa ser muito reconhecido e valorizado.

Daqui a alguns anos, quando você recordar a sua experiência profissional na linha de frente durante a pandemia, como será essa lembrança?

Foi uma vivência muito intensa porque comecei a tratar os pacientes desde o início da pandemia e vivi a experiência de ficar doente, o medo e a angústia. Essa experiência me aproximou do luto, indelével, com as perdas todas que tivemos. Todo mundo perdeu alguém conhecido nessa pandemia. Acredito que a Covid-19 ainda vai viver entre nós durante um bom tempo, e temos que estar preparados. Em primeiro lugar, temos que estar preparados para as próximas epidemias. Esta não será a última epidemia das nossas vidas. Comportamentos de proteção individual e coletiva, como o uso de máscaras, serão necessários pelo menos pelos próximos dois anos.





Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 05/08/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4279.2.0

Pesquisa propõe definição unificada de Economia Circular

Pesquisa propõe definição unificada de Economia Circular

Paula Guatimosim



O esquema responde às perguntas como, onde, o quê nas esferas macro, meso e micro,
e junta os por quês na esfera final colorida aliando meio ambiente, sociedade e economia.


“Economia Circular é um sistema econômico que visa zero desperdício e poluição em todo o ciclo de vida dos materiais, da extração do meio ambiente, passando pela transformação industrial, até chegar os consumidores finais, aplicando-se a todos os ecossistemas envolvidos. Ao término de sua vida útil, os materiais retornam a um processo industrial ou, no caso de um resíduo orgânico tratado, de volta ao meio ambiente com segurança, como em um ciclo natural de regeneração. Cria valor nos níveis macro, meso e micro e explora ao máximo o conceito de sustentabilidade. As fontes de energia usadas nos diversos processos são limpas e renováveis. O uso e consumo de recursos são eficientes. Órgãos governamentais e consumidores responsáveis ​​desempenham um papel ativo no processo, garantindo a operação correta do sistema a longo prazo”.

Esta é uma definição unificada, consensuada entre estudiosos da Economia Circular (EC), obtida por meio de pesquisa coordenada pelo administrador de empresas Gustavo Nobre, doutor em Administração pelo Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (Coppead) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Sua tese original, que busca mostrar como a Tecnologia da Informação (TI) pode contribuir com a economia circular, deparou com um entrave inicial: o grande volume de definições para Economia Circular.

Nobre iniciou sua pesquisa junto a cerca de 300 especialistas em Economia Circular de vários países, com a solicitação: “Usando suas próprias palavras, descreva o que você entende por Economia Circular” e selecionou os 44 conceitos mais robustos de pesquisadores experientes, todos PhDs no tema. Ao contrário do jornalista, que em suas primeiras lições aprende a fazer o lead (ou lide, em português), respondendo às perguntas o quê, quem, quando, onde, como e por que, no campo da pesquisa essas perguntas devem ser respondidas separadamente, para que o conceito seja mais preciso. “Uma coisa é o que é, outra é como faço, outra é por que devo fazer”, esclarece o pesquisador.

Apoiado em seus estudos por meio do Programa Bolsa Doutorado Nota 10 da FAPERJ, o que Gustavo Nobre percebeu foi que muitos entrevistados tinham definições diferentes sobre o tema. Diante dessa surpresa, decidiu primeiro estabelecer uma definição consensual. Parte de sua tese, o artigo com o conceito consolidado foi publicado no The Journal of Cleaner Production, especializado em produção limpa e sustentável, da editora Elsevier, com o nome “The quest for a circular economy final definition:

A scientific perspective” (https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0959652621021910).


Gustavo Nobre espera frear o uso indevido do conceito por empresas


Ao longo dos seus estudos Nobre descobriu, por exemplo, que apenas um autor - Julian Kirchherr – já identificara, em 2017, mais de 100 definições diferentes para EC. De acordo com o pesquisador, esse assunto está cada vez mais valorizado por organizações e seus clientes finais, que procuram saber detalhes da produção daquilo que consomem. Para o pesquisador, a falta de uma definição concreta para o termo dificulta a verificação e a auditoria das organizações. “Vimos também que, devido à variedade de definições e pressões do mercado, empresas que não se enquadrariam no conceito vêm se apropriando do termo economia circular, criando sua própria definição, adaptando o conceito a ela, em vez de se enquadrarem ao conceito”, explica. Essa prática muito comum foi cunhada como greenwashing (lavagem verde) e significa a apropriação injustificada e divulgação de virtudes ambientalistas por parte de organizações, inclusive em seus relatórios anuais de sustentabilidade. “Para que uma empresa pratique a economia circular, o conceito deve fazer parte do DNA da organização. Não basta uma boa ação ou campanha pontual para se enquadrar no amplo conceito de EC”, lembra o pesquisador. O framework 9R, por exemplo (Recusar, Repensar, Reduzir, Reutilizar, Reparar, Renovar, Remanufaturar, Ressignificar, Reciclar e Recuperar) é apenas um componente de “como” se chegar a EC, dentre outros disponíveis, incluindo as tecnologias da Indústria 4.0.

Nobre espera que sua pesquisa forneça recursos para que as organizações de padrões e certificadoras estabeleçam políticas e regulamentações formais de economia circular, estabelecendo parâmetros, metas e desenvolvimento de Indicadores-chave de Desempenho (ou Key Performance Indicators – KPIs - em inglês), para avaliações e auditorias. Entre as certificadoras que podem se beneficiar da pesquisa estão a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) e a International Organization for Standardization (ISO) que, em 2018, instituiu comitê técnico com foco na normatização da Economia Circular. A parte final de sua tese, que mapeou como as tecnologias da Indústria 4.0 podem ajudar as organizações na adoção da Economia Circular, será apresentada no Encontro da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Administração (EnANPAD), segundo maior congresso de administração do mundo, que este ano será realizado em outubro.




Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 12/08/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4284.2.0

Covid-19: teste a partir de anticorpos de animais



Anticorpos extraídos de diferentes animais serviram de base para o desenvolvimento de mais um kit brasileiro de diagnóstico da covid-19. Anticorpos de cavalos, de camundongos e de coelhos foram utilizados para a obtenção de uma grande quantidade dos biossensores. Os anticorpos são a base dos testes e são muito caros quando adquiridos no mercado. A ideia, além de reduzir custos, é produzir um sensor fácil de manusear, barato e rápido no diagnóstico.

A pesquisadora Célia Machado Ronconi, da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que o grupo purificou o soro de cavalo contendo os anticorpos policlonais equinos doados pelo Instituto Vital Brazil (IVB). Os anticorpos foram produzidos a partir da proteína S (Spike) isolada do vírus pelo Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe – Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os bioconjugados fluminense, criados a partir dos anticorpos de cavalos e nanopartículas de ouro, foram capazes de identificar tanto a proteína S (Spike) isolada do vírus como o vírus inativado. Como os anticorpos equinos são produzidos em grandes quantidades no Instituto Vital Brazil, renderá uma produção dos bioconjugados também em grande escala.

Ronconi faz parte de uma rede nacional que inclui ainda cientistas da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), UFRJ, Universidade de Brasília (UnB), Universidade Federal de Minas gerais (UFMG), Universidade de São Paulo (USP-São Carlos), as universidades federais do Tocantins e de Goiás, o Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste, o Instituto Vital Brazil (IVB) e o Instituto Butantan. Segundo ela, já a equipe da UnB, coordenada pelo professor Ricardo Bentes de Azevedo, empregou anticorpos IgG de coelhos. E o sistema desenvolvido em Brasília reconheceu o vírus inativado em diferentes concentrações. Os ensaios iniciais com saliva de pacientes contaminados e não contaminados com o coronavírus foram realizados, com 176 pacientes, pelos cientistas de Brasília. Os testes mostraram que o sistema é seletivo ao vírus SARS-CoV-2.

Se o kit for aprovado pela Anvisa, o custo do teste, que será feito a partir de saliva ao invés do cotonete, ficará em R$ 5 e com o uso de equipamentos simples, o tempo de leitura entre 2 e 5 minutos.

Ronconi ainda destaca a perspectiva da metodologia desenvolvida permitir o acoplamento de anticorpos específicos para outros vírus, como H1N1, zika, dengue e aids. A metodologia também poderá ser utilizada para acoplar anticorpos específicos para a imunoterapia do câncer.

A rede recebeu R$ 608 mil de financiamento da FAPERJ e mais R$ 2,5 milhões do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).




Autor: Claudia Jurberg
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 12/08/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4282.2.9

Mudanças climáticas afetam espécies de lagartos

Cadeias montanhosas que formaram refúgios para espécies, grande quantidade de chuvas, variedade de vegetação, mangues e restingas. Elementos que tornam o Rio de Janeiro um estado que concentra uma grande biodiversidade na Mata Atlântica presente em território fluminense. É nesse ambiente rico, mas não imune a prejuízos, que o pesquisador do Instituto de Biologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Ibrag/Uerj) Carlos Frederico Rocha se dedica a identificar e monitorar espécies de répteis e anfíbios há mais de três décadas, com a ajuda de equipe de seu laboratório. Como resultado, nesse período, o grupo de pesquisa publicou cerca de 500 estudos entre artigos, livros e capítulos de livro, fruto do trabalho conjunto com seus alunos de Iniciação Científica, mestrandos, doutorandos e Pós-docs, grande parte deles subsidiados com bolsas da FAPERJ e com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

"Você não conserva o que não sabe que existe e, tampouco, se desconhece em que situação estão as espécies", afirma o pesquisador. Entre seus trabalhos mais recentes publicados está o inventário de espécies do Parque Nacional da Tijuca, publicado em 2021 na revista Biota Neotropica. Na coleta de dados realizada entre 2013 e 2015, fruto do trabalho de doutorado de Tiago Dorigo e equipe, foram encontrados 3.288 indivíduos, sendo 24 espécies de anfíbios e 25 de répteis. Destas, 80% são endêmicas, no caso dos anfíbios, contra apenas 28% entre os répteis. "A considerável diversidade da herpetofauna do Parque Nacional da Tijuca, que inclui espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, reflete a eficácia do reflorestamento dessa unidade de conservação e enfatiza a importância de sua conservação", escrevem os autores no artigo e se referindo ao reflorestamento iniciado no século XIX.

Coordenador do Laboratório de Ecologia de Vertebrados, vinculado ao Ibrag/Uerj, o biólogo concentra as atividades de monitoramento de espécies na Ilha Grande, para as quais conta com recursos de diversos editais lançados pela FAPERJ ao longo dos anos. Entre os financiamentos obtidos da Fundação e que estão em vigor, Rocha tem o apoio do programa Cientista do Nosso Estado. O trabalho também ocorre em parceria com o Instituto de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) para a realização de ações conjuntas de conservação das espécies.

Se a Floresta da Tijuca trouxe boas notícias por conta do reflorestamento, não é possível dizer o mesmo sobre a população de lagartos. De um total de 11 mil espécies conhecidas ao redor do globo, 800 ocorrem no País e 300 são de lagartos, o que coloca o Brasil na terceira posição no ranking de biodiversidade desses animais. No entanto, mais de 10% deste total estão ameaçadas de extinção e constam na Lista Oficial da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Ministério do Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis (MMA).

E não é apenas o desmatamento e a consequente destruição do habitat desses animais que preocupa os pesquisadores. Em 2010, os pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Vertebrados integraram um estudo internacional publicado na revista Science em que relacionam as mudanças climáticas com a diminuição da população destes animais. “Se as previsões que temos de que até 2080 o mundo perderá cerca de 20% das espécies de lagartos, caso não sejam revertidas as atuais taxas de emissão de gases do efeito estufa, isso implica dizer que é previsto perdermos, apenas no Brasil, cerca de 60 espécies de lagartos, um número muito elevado pela sua importância na natureza”, argumenta.

O pesquisador explica que a temperatura corporal desses animais é bem regulada pelo ambiente externo e em situações em que há uma elevação, os lagartos recorrem às sombras para se preservarem o significa um tempo reduzido para a caça, alimentação e outras funções vitais. “Um ponto importante de ser destacado é que diferentes estudos têm mostrado o imenso valor das Unidades de Conservação (UCs) e das terras indígenas demarcadas, não apenas para proteger a biodiversidade ali existente, mas também como possuidoras de um importante papel para mitigar os efeitos negativos das mudanças climáticas globais”, argumenta.



Carlos Frederico Rocha participa de etapa de coleta em campo de lagartos, para medição de temperatura, na Ilha Grande (Foto: Arquivo pessoal)


Essa importância ganha maior destaque com o último relatório do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), divulgado recentemente, e que reúne 234 especialistas no tema, de 195 governos. Rocha conta que o relatório alertou de forma preocupante sobre o grau com que as atividades humanas aqueceram o planeta, e que a taxa de aquecimento está se acelerando. Com isso, diferentes impactos agora já se tornaram concretos e passamos a viver em um planeta alterado e menos estável. “O grande risco é que nos aproximamos de um ponto em que os efeitos serão irreversíveis, pois os ecossistemas do planeta têm uma capacidade limitada para atenuar os efeitos dessas alterações climáticas. Cada vez mais dependemos de ações efetivas governamentais, coletivas e individuais para impedir um futuro pior para a vida na Terra”.

As pesquisas subsequentes confirmam o risco de extinção e alertam para outras espécies que também preocupam e não estão relacionadas em listas de espécies ameaçadas: as espécies dos gêneros Hylodes e Crossodactylus, também conhecidos como hilodídeos. A vida desses sapos está restrita à calha dos riachos e córregos em florestas. “Considerando sua efetiva área real de ocupação, mostramos que estas espécies deveriam ser realocadas para a categoria de ameaçadas”, afirma o pesquisador.

Outro trabalho ao qual Rocha tem se dedicado é à produção do trabalho “Convivendo com serpentes”, em co-autoria com a professora Jane Oliveira e que deverá resultar em um livro, cujo projeto foi contemplado pelo programa Apoio à Editoração (APQ 3), da FAPERJ. Apesar do título chamativo, ele garante que a maioria destes animais ganhou má fama por conta das poucas espécies existentes venenosas, o que traz problemas para a manutenção de biomas. “Das cerca de 400 espécies de serpentes existentes no Brasil menos de 15% são das chamadas espécies venenosas”, explica e lamenta: “As serpentes são organismos com um papel muito relevante na cadeia alimentar dos ecossistemas em que vivem. O efeito da perseguição seguida de morte, afeta profundamente as populações de todas as espécies e pode trazer danos ambientais e danos econômicos graves como o descontrole populacional de suas presas”.







Autor: Juliana Passos
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/08/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4298.2.8

sexta-feira, 27 de agosto de 2021

Espécie ancestral de baleia de quatro pernas é descoberta no Egito



CRÉDITO,DR ROBERT W. BOESSENECKER
Legenda da foto,

O esqueleto parcial do fóssil foi encontrado no deserto ocidental do Egito


Cientistas no Egito identificaram uma espécie desconhecida de baleia, com quatro patas, que viveu 43 milhões de anos atrás.


O fóssil do anfíbio Phiomicetus anubis foi originalmente descoberto no deserto ocidental do Egito.


O crânio dele se parece com o de Anúbis, o antigo deus egípcio com cabeça de chacal — Deus dos Mortos, como foi batizado.


Os ancestrais das baleias modernas desenvolveram-se a partir de mamíferos terrestres semelhantes a cervos que viveram na terra ao longo de 10 milhões de anos.


Pesando cerca de 600 kg e com 3 metros de comprimento, o Phiomicetus anubis tinha mandíbulas fortes o suficiente para capturar suas presas, de acordo com o estudo publicado pelo Proceedings of the Royal Society B na quarta-feira (25/08). A baleia era capaz de andar na terra e nadar na água.


O esqueleto parcial dela foi encontrado na depressão de Fayum, no Egito, e analisado por cientistas da Universidade de Mansoura. Embora a área agora seja deserta, ela já foi coberta pelo mar e é uma rica fonte de fósseis.


"O Phiomicetus anubis é uma nova espécie de baleia e uma descoberta de destaque para a paleontologia egípcia e africana", disse o autor do estudo, Abdullah Gohar, à agência de notícias Reuters.


Embora esta não seja a primeira vez que o fóssil de uma baleia com pernas foi encontrado, acredita-se que o Phiomicetus anubis seja o tipo mais antigo de baleia semi-aquática a ser descoberto na África.


Acredita-se que as primeiras baleias tenham se desenvolvido no sul da Ásia há cerca de 50 milhões de anos. Em 2011, uma equipe de paleontólogos no Peru descobriu um fóssil de baleia de 43 milhões de anos, com quatro patas, pés palmados e cascos.






Autor: BBC NEWS BRASIL
Fonte: BBC NEWS BRASIL
Sítio Online da Publicação: BBC NEWS BRASIL
Data: 26/08/2021
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-58351199

A brasileira que salvou as araras azuis da extinção e entrou para o Hall da Fama das Mulheres Cientistas da ONU




Foi nos anos 80 que Neiva Guedes, recém-formada em Biologia, avistou pela primeira vez uma arara azul – no mesmo dia em que descobriu que seus netos, indiscutivelmente, não teriam a mesma oportunidade, uma vez que a espécie, 100% brasileira, estava fadada a desaparecer.

O mix de sentimentos que sentiu naquele dia foi o que definiu o destino de Neiva dali para frente: ela decidiu dedicar sua vida a evitar a extinção das araras azuis – e, 30 anos depois, conseguiu!

A bióloga foi a campo, estudou o comportamento das aves, se aproximou da comunidade e entendeu que os dois principais fatores que contribuíam para o fim das araras azuis na natureza eram a caça ilegal – para serem vendidas como aves de estimação – e o desmatamento, uma vez que essas aves se reproduziam apenas quando encontravam boas cavidades naturais nos troncos das árvores, que estavam cada vez mais sendo derrubadas.

Consciente do problema, Neiva então fundou o Instituto Arara Azul, fez um belíssimo trabalho para conscientização e envolvimento da comunidade, desenvolveu técnica para instalar na natureza ninhos artificiais em condições perfeitas para as araras azuis se reproduzirem e cerca de três décadas depois assistiu ao que muitos julgavam como impossível quando começou o trabalho: a espécie sair, oficialmente, da lista de animais em extinção.


Ainda há muito trabalho a ser feito – sobretudo no que diz respeito ao impacto das mudanças climáticas na vida das araras azuis -, mas o legado que Neiva construiu até aqui é inegável e garantiu à bióloga, entre outros reconhecimentos, um lugar muito especial no ‘hall da fama’ das Meninas e Mulheres Cientistas da ONU Mulheres, quando virou personagem de história em quadrinhos da Turma da Mônica, que é parceira da organização.





Autor: DÉBORA SPITZCOVSKY
Fonte: thegreenestpost
Sítio Online da Publicação: thegreenestpost
Publicação Original: https://thegreenestpost.com/a-brasileira-que-salvou-as-araras-azuis-da-extincao-e-entrou-para-o-hall-da-fama-das-mulheres-cientistas-da-onu/

quinta-feira, 26 de agosto de 2021

Devemos indicar coronariografia precoce em pacientes com insuficiência cardíaca aguda?

Doença arterial coronária (DAC) é causa importante de insuficiência cardíaca (IC), ocorrendo em até dois terços dos casos, e a sua presença leva a um pior prognóstico. A isquemia pode ser um gatilho para o início do quadro de IC e para a descompensação com necessidade de internação. Estudo publicado recentemente avaliou uma coorte de pacientes com IC isquêmica aguda (definida pela presença de IC e pelo menos um dos três: infarto prévio, troponina aumentada ou angina na apresentação inicial) e o objetivo foi determinar se havia associação entre realização de coronariografia precoce com mortalidade, readmissão hospitalar e revascularização miocárdica.


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Métodos do estudo e população envolvida

Foram incluídos pacientes que procuraram atendimento médico no departamento de emergência em Ontario, Canadá, de abril de 2010 a março de 2013. As informações foram obtidas a partir de uma base de dados e os pacientes eram incluídos apenas se preenchessem os critérios de Framingham para IC.

Pacientes com IAM na admissão eram excluídos, assim como os com antecedente de IAM, coronariografia ou revascularização miocárdica nos três meses anteriores. Também foram excluídos os que tinham contraindicação à coronariografia, que foi chamada precoce quando realizada em até 14 dias pós atendimento inicial. Estenose coronária significativa foi definida como maior que 50% no tronco da coronária esquerda (TCE) ou maior que 70% nas artérias descendente anterior, circunflexa ou direita.

O desfecho primário foi mortalidade por todas as causas e mortalidade cardiovascular e o desfecho secundário foi readmissão por todas as causas, por IAM ou por IC. Também foi avaliada revascularização miocárdica, tanto percutânea quanto cirúrgica e todos os desfechos foram avaliados em 90 dias e em 2 anos.

Resultados

O número de pacientes elegíveis inicialmente era 6.166, dos quais 4112 tinham critérios para IC isquêmica aguda. Após aplicação dos critérios de exclusão, restaram no estudo de coorte final 2.994 pacientes, sendo que 1.567 (52,3%) realizaram coronariografia precoce.

Maior probabilidade de realização do exame ocorreu em pacientes com IAM prévio, nos que tinham dispneia, história familiar de DAC, fração de ejeção reduzida ou midrange, troponina aumentada, alterações do segmento ST e hemoglobina mais alta. Pacientes com demência, maiores valores de creatinina, DPOC, fibrilação ou flutter atrial, cirurgia de revascularização miocárdica prévia, idade mais avançada e etnia branca tinham menor probabilidade de realizar o exame.

Em relação ao desfecho primário, houve 914 óbitos no seguimento de 4853 pessoas-ano. O grupo que realizou a coronariografia precoce teve menor mortalidade por todas as causas (HR 0,51 IC95% 0,42-0,63, p < 0,001) e por causas cardiovasculares (HR 0,55 IC95% 0,42-0,72, p < 0,001) em 2 anos. Este resultado se manteve inclusive após ajustes (HR 0,74 IC95% 0,6-0,90, p – 0,002 e HR 0,72 IC95% 0,56-0,93, p = 0,012 respectivamente).

Quanto ao desfecho secundário, houve redução de readmissão hospitalar por todas as causas, por IAM e por IC em 2 anos no grupo que realizou coronariografia precoce. Porém, após ajustes, essa redução se manteve apenas para reinternação por IC (HR 0,84 IC95% 0,71-0,99, p=0,042).

Dos pacientes que realizaram coronariografia precoce, 58,5% tinham doença coronária obstrutiva e 17,6% realizaram revascularização miocárdica em 90 dias. Esse número foi de apenas 3,1% nos que não realizaram o exame de forma precoce. As taxas de angioplastia, cirurgia e revascularização por qualquer método foram maiores nos pacientes que realizaram o exame precocemente, sendo o resultado mantido após ajustes. Após 2 anos de seguimento, em relação aos que realizaram alguma revascularização, 42,9% fizeram angioplastia, 54,1% cirurgia e 3% ambos os procedimentos.

A associação entre coronariografia precoce e menor mortalidade se manteve na análise dos subgrupos infarto prévio, aumento de troponina e angina.
Conclusão

Neste estudo, houve menor mortalidade geral e por causas cardiovasculares, menos internações por IC e maior taxa de revascularização em 90 dias e 2 anos no grupo que realizou o exame de forma precoce, com estes resultados se mantendo nos subgrupos analisados.

Um dos motivos que pode justificar a melhora dos desfechos é a realização de revascularização precoce quando detectada doença obstrutiva, com limitação do impacto da doença isquêmica na progressão da IC. Outra possível explicação é a otimização terapêutica visando controle dos fatores de risco relacionados a DAC, com consequente redução de sua progressão. 

Além disso, a ausência de doença coronária no exame pode levar a mudança terapêutica significativa com suspensão de medicações que não trariam benefício, mas possivelmente risco de eventos adversos.

Baseado nesses achados, a angiografia coronária deve ser considerada de forma precoce nos pacientes com IC aguda e suspeita de doença isquêmica como causa, porém mais estudos são necessários para confirmar o benefício do exame, assim como do tratamento precoce nestes pacientes, sendo que um estudo prospectivo randomizado seria bastante interessante.

Autor(a):

Isabela Abud Manta

Editora de cardiologia do Portal PEBMED ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Atualmente atuando nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.


Referências bibliográficas:
Kosyakovsky LB, et al. Early invasive coronary angiography and acute ischaemic heart failure outcomes. European Heart Journal. 2021;00:1–11. doi: 10.1093/eurheart/ehab423






Autor: Isabela Abud Manta
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 24/08/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/devemos-indicar-coronariografia-precoce-em-pacientes-com-insuficiencia-cardiaca-aguda/

Dose de reforço: Ministério da Saúde anuncia aplicação em idosos com mais de 70 anos e imunossuprimidos

Na última terça-feira, 25, o Ministério da Saúde anunciou que será aplicada uma dose de reforço da vacina contra a Covid-19 em idosos com mais de 70 anos e imunossuprimidos a partir do dia 15 de setembro.

No caso das pessoas imunossuprimidas, a indicação é que tomem a dose de reforço com no mínimo 28 dias após a segunda dose ou a dose única. Já para os idosos com mais de 70 anos, a recomendação do Ministério da Saúde é para que recebam a aplicação adicional da vacina contra Covid-19 com pelo menos seis meses após a data em que completaram o ciclo vacinal.


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Dose de reforço

A vacina administrada será, preferencialmente, a da Pfizer. Caso haja falta desse imunizante, a recomendação é que se utilize imunizantes de vetor viral, que podem ser a vacina da Janssen ou a Astrazeneca.

O Ministério da Saúde ainda destaca que a dose de reforço é indicada para quem completou a vacinação regular com qualquer vacina usada na campanha nacional de vacinação contra a Covid-19.

Redução de intervalo entre doses

Além de trazer informações sobre a dose de reforço, o Ministério da Saúde também anunciou a redução do intervalo entre as doses da vacina da Pfizer e Astrazeneca. Até então, o tempo entre as doses era de 12 semanas (três meses). A partir do dia 15 de setembro, o intervalo será de 8 semanas (dois meses).

Segundo o Ministério, a diminuição deste intervalo foi estudada e analisada pela Câmara Técnica, se tornando viável após a aplicação da primeira dose de grande parte da população brasileira com idade acima dos 18 anos. A pasta ainda afirma que, até o momento, 77% do público-alvo já iniciou o ciclo vacinal com a primeira aplicação.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED

Referência bibliográfica:
Ministério da Saúde anuncia dose de reforço para vacinação contra a Covid-19 na segunda quinzena de setembro. Ministério da Saúde. 25 de agosto de 2021. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/ministerio-da-saude-anuncia-dose-de-reforco-para-vacinacao-contra-a-covid-19-na-segunda-quinzena-de-setembro







Autor: PEBMED
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 25/08/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/dose-de-reforco-ministerio-da-saude-anuncia-aplicacao-em-idosos-com-mais-de-70-anos-e-imunossuprimidos/

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

Conectividade de áreas protegidas ajuda espécies a lidarem com as mudanças climática


Floresta fragmentada – Desmatamento no entorno do Território Indígena do Xingu (MT) | Beto Ricardo – ISA
Conectividade de áreas protegidas ajuda espécies a lidarem com as mudanças climáticas
Passagens seguras para espécies que se adaptam às mudanças climáticas nem sempre estão sendo protegidas, alerta um novo estudo da Universidade de Liverpool.

University of Liverpool*

Com o aumento das temperaturas alterando onde as espécies podem sobreviver, muitas estão se mudando para áreas recentemente hospitaleiras mais ao norte. A chave para esta jornada é garantir a conectividade adequada entre onde as espécies vivem atualmente e onde podem viver no futuro.

“Se fragmentos de habitat vitais para a conectividade forem perdidos porque não estão protegidos, uma das principais maneiras pelas quais as espécies podem se adaptar às mudanças climáticas será prejudicada. Portanto, precisamos de métodos para identificar os ‘trampolins’ mais importantes e considerá-los ao designar áreas protegidas para conservação ”, explica o pesquisador Thomas Travers.

Em um novo artigo publicado no Proceedings of the Royal Society B , os pesquisadores usaram uma ferramenta de software de ponta chamada Condatis para explorar como as espécies podem se mover para o norte através de 16 redes de habitat diferentes na Inglaterra, quantificando a importância de diferentes manchas para essa conectividade. Eles também exploraram o quanto a conectividade poderia ser melhorada protegendo algumas das áreas-chave.

O estudo foi realizado por pesquisadores da Universidade de Liverpool, da Natural England e do UK Centre for Ecology and Hydrology.

A equipe descobriu que partes de conexão importantes eram frequentemente deixadas de fora das redes existentes de área protegida, o que significa que menos conectividade foi protegida do que você poderia esperar, dada a quantidade de proteção do habitat. Em 12 das 16 redes de habitat que estudaram, essa deficiência foi em média de 13,6%.

No entanto, eles também descobriram que se apenas uma pequena quantidade de área adicional fosse protegida, isso poderia ter um grande impacto ao ajudar a corrigir esse desequilíbrio e reduzir a vulnerabilidade à mudança climática. Ao focar em reservas naturais adicionais para priorizar a conectividade, a equipe estima que uma média de 41% a mais de conectividade poderia ser alcançada com apenas um aumento de 10% na proteção da área.

O autor principal, Thomas Travers, estudante de doutorado da University of Liverpool, disse: “A comunidade científica tem enfatizado a importância de incorporar a conectividade ao processo de planejamento por pelo menos 30 anos e, à medida que os climas globais continuarem a mudar, essa importância aumentará. Infelizmente, parece que a conexão dos habitats permanece vulnerável à degradação e perda por falta de proteção. Mostramos que patches importantes para a conectividade de longa distância podem ser facilmente identificados, permitindo que a proporção protegida seja aumentada com recursos adicionais mínimos. ”

O coautor Dr. Jamie Alison, do UK Centre for Ecology and Hydrology, acrescentou: “Não devemos esquecer de proteger os habitats que parecem ser pequenos e periféricos. Eles são lugares valiosos para as pessoas desfrutarem da natureza – mas também para as espécies lidarem com as mudanças climáticas. ”

A autora sênior, Dra. Jenny Hodgson , da Universidade de Liverpool, disse: “Garantir a proteção de nossos melhores habitats para a vida selvagem é um primeiro passo fundamental para tornar o mundo natural resiliente em um clima em mudança. A meta proposta da Convenção sobre Diversidade Biológica de proteger 30% da terra e dos mares da Terra para a natureza até 2030 (meta 30 × 30) oferece uma oportunidade importante e oportuna para reduzir parte desse déficit de proteção de conectividade. ”

O Dr. Humphrey Crick, da Natural England deu as boas-vindas ao estudo e disse: “A importância da conectividade foi enfatizada na abordagem do governo para a adaptação às mudanças climáticas e este estudo fornece um excelente exemplo de como podemos usar a ciência mais recente para ajudar a identificar essas áreas que são potencialmente importantes ”.

O software Condatis foi desenvolvido pela Dra. Jenny Hodgson e tem sido usado em todo o mundo para priorizar o melhor habitat para proteger e restaurar.

Thomas Travers foi financiado por uma bolsa de estudos do NERC por meio da Parceria de Treinamento para Doutorado Adaptando aos Desafios de um Ambiente em Mudança ( ACCE ). O estudo também recebeu apoio financeiro e logístico da Natural England.

Referência:

Travers TJP, Alison J, Taylor SD, Crick HQP, Hodgson JA. 2021 Habitat patches providing south–north connectivity are under-protected in a fragmented landscape. Proc. R. Soc. B 20211010. https://doi.org/10.1098/rspb.2021.1010

Henrique Cortez *, tradução e edição

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/08/2021




Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 25/08/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/08/25/conectividade-de-areas-protegidas-ajuda-especies-a-lidarem-com-as-mudancas-climatica/

Crises de clima e biodiversidade devem ser tratadas como uma só




Crises de clima e biodiversidade devem ser tratadas como uma só

“A montanha-russa deste verão de temperaturas extremas, secura, enchentes e incêndios florestais tem sido ruim, mas provavelmente muito melhor do que o que podemos ver no futuro”

O recente relatório do IPCC confirma que o aquecimento global está ficando cada vez mais rápido. O impacto ocorre em tempo real enquanto observamos aldeias inundadas e florestas queimadas. Enquanto isso, a crise oculta da perda de biodiversidade continua com a perda de florestas para o desmatamento, agravada pelos incêndios.

À medida que as crises de clima e biodiversidade se potencializam, a nova análise da EASAC [“Key Messages from European Science Academies for UNFCCC COP26 and CBD COP12”] adiciona os dados mais recentes para informar a Cúpula do Clima da ONU em Glasgow e a Cúpula da Biodiversidade na China neste outono, com foco em 16 áreas que requerem ação urgente para proteger a humanidade do pior .

O resumo da análise dos dez anos de pesquisa científica da EASAC cobrindo meio ambiente, energia e biociências é colocado contra o cenário assustador de um aumento inexorável na temperatura e umidade que se expande em algumas áreas a níveis onde é difícil ou impossível para os humanos ou para as plantações e gado que eles precisa sobreviver. Adicionando ciência muito recente para ter sido incluída no Relatório do IPCC, as Academias de Ciências da Europa exortam os governos a tratarem as Crises Climáticas e de Biodiversidade como uma só, e igualmente urgente.
Crises de clima e biodiversidade devem ser tratadas como uma só

“A montanha-russa deste verão de temperaturas extremas, secura, enchentes e incêndios florestais tem sido ruim, mas provavelmente muito melhor do que o que podemos ver no futuro”, explica o Prof. Michael Norton, Diretor do Programa Ambiental da EASAC. “A perda de biodiversidade e as perigosas Mudanças Climáticas potencializam-se mutuamente em suas consequências desastrosas. É um círculo vicioso que não só leva a condições meteorológicas extremas, mas também ao colapso dos sistemas alimentares e ao aumento dos riscos de patógenos perigosos, zoonoses e outros impactos na saúde. ”

A análise ilustra as múltiplas interações de crises: a substituição das florestas tropicais pela agricultura reduz a biodiversidade ao mesmo tempo que libera o carbono armazenado, reduzindo a absorção de carbono na terra e aumentando as emissões de outros gases de efeito estufa (GEE). O aquecimento das temperaturas e as mudanças associadas à precipitação reduzem a produtividade agrícola, bem como deslocam as espécies para fora de sua área habitável, em alguns casos levando-as à extinção. O aquecimento e a acidificação dos oceanos, juntamente com a circulação enfraquecida, reduzem a capacidade dos oceanos de absorver e remover o dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, ao mesmo tempo em que muda ou degrada os ecossistemas.
Saia da estrada para nossa própria destruição

Mas os cientistas também veem oportunidades: conservar, gerenciar e restaurar ecossistemas, por exemplo, pode mitigar as mudanças climáticas e permitir a adaptação aos seus impactos, ao mesmo tempo que melhora a biodiversidade. “Esses desafios têm soluções, mas até agora as Convenções sobre Mudança Climática e sobre Biodiversidade, separadamente, não tiveram vontade política para implementá-los, ou os formuladores de políticas tomaram caminhos fáceis sem considerar adequadamente as consequências”, diz Norton “O exemplo clássico é a falha em avaliar adequadamente os impactos climáticos da queima de árvores para eletricidade antes de alocar bilhões em subsídios. As duas reuniões no outono precisam mapear uma saída da estrada atual que leva à nossa própria destruição. ”

Com base no trabalho anterior da EASAC, a análise inclui uma lista de 16 campos de ação em que os governos já deveriam ter feito mais. Eles abrangem mudanças climáticas, o papel da energia de biomassa, emissões de gases de efeito estufa de diferentes matérias-primas de petróleo, políticas para reduzir as emissões em transportes, edifícios e infraestrutura e as interações entre as mudanças climáticas e a saúde humana.
Contar com o sistema baseado no PIB não vai funcionar

Questões sistêmicas, como as barreiras às mudanças transformadoras necessárias para enfrentar a Crise do Clima e da Biodiversidade, também são abordadas. “Contar com o sistema atual para entregar as reduções necessárias não vai funcionar”, diz Norton. “O sistema econômico baseado no PIB, no qual os combustíveis fósseis, alimentos e interesses agrícolas estão elevando os níveis de CO2, desmatamento, desmatamento e pesca excessiva, não é mais adequado se os níveis atmosféricos de gases de efeito estufa devem ser reduzidos em um curto espaço de tempo. período possível. ” Os cientistas deixam claro que os governos precisam apertar o botão de reset. Se a humanidade deseja deter as mudanças climáticas e preservar a biodiversidade de que necessita para sua sobrevivência, deve mudar o sistema econômico para um que recompense e incentive escolhas e comportamentos sustentáveis.
Concentre-se nos pontos de inflexão que desviam a atenção da seriedade das tendências lineares subjacentes

Desde a Cúpula do Clima de Paris em 2015, tem havido muito foco nos pontos de inflexão. Mas, de acordo com a EASAC, tendências catastroficamente perturbadoras também estão ocorrendo como mudanças graduais incrementais. “O foco nos pontos de inflexão cria uma imagem de pontos de retransmissão até os quais as mudanças climáticas podem ser vistas como ‘seguras’. No entanto, não apenas os diferentes pontos de inflexão interagem entre si e aumentam os perigos, mas as tendências lineares subjacentes, como temperatura e umidade, são sérias por si mesmas ”, explica Norton.
Oportunidade para uma ação coordenada, ousada e transformadora

“Como pais e avós, estamos tão apavorados quanto todos os outros com o que vemos por vir. Mas, como cientistas, sabemos que existem maneiras de mitigar o pior e se adaptar. Mas apenas se os governos na Europa e em todo o mundo assumirem a responsabilidade e mostrarem liderança agora ”, disse Lars Walloe, Presidente do Programa Ambiental da EASAC.

Com as agendas políticas intimamente relacionadas da Cúpula do Clima e da Cúpula da Biodiversidade, os negociadores têm a oportunidade de tomar ações coordenadas, ousadas e transformadoras para entregar uma estrutura nova, mais integrada e coerente para lidar com a perda de biodiversidade e as mudanças climáticas em conjunto. A urgência é tanta que ambos precisam trabalhar juntos agora, tirar proveito das muitas sinergias potenciais entre as mudanças climáticas e as políticas de biodiversidade – como a restauração massiva de ecossistemas – e mudar o curso da humanidade em direção a um futuro sustentável.

EASAC Commentary “Key Messages from European Science Academies for UNFCCC COP26 and CBD COP12”: https://easac.eu/publications/details/key-messages-from-european-science-academies-for-unfccc-cop26-and-cbd-cop15/

References:

EASAC (2013) Trends in extreme weather events in Europe: implications for national and European Union adaptation strategies

EASAC (2015) Ecosystem services, agriculture and neonicotinoids

EASAC (2016) Greenhouse gas footprints of different oil feedstocks

EASAC (2017a) Multi-functionality and sustainability in the European Union’s forests

EASAC (2017b) Valuing dedicated storage in electricity grids

EASAC (2017c) Opportunities and challenges for research on food and nutrition security and agriculture in Europe

EASAC (2018a) Commentary on forest bioenergy and carbon neutrality

EASAC (2018b) Negative emission technologies: what role in meeting Paris Agreement targets?

EASAC (2018c) Opportunities for soil sustainability in Europe

EASAC (2018d) Extreme weather events in Europe. Preparing for climate change adaptation

EASAC (2019a) Forest bioenergy, carbon capture and storage, and carbon dioxide removal: an update

EASAC (2019b) Decarbonisation of Transport: options and challenges

EASAC (2019c) The imperative of climate action to protect human health in Europe

EASAC (2020a) Hydrogen and synthetic fuels

EASAC (2020b) Towards a sustainable future: transformative change and post-COVID-19 priorities

EASAC (2020c) How can science help to guide the European Union’s green recovery after COVID-19?
EASAC (2021a) Decarbonisation of buildings: for climate, health and jobs

EASAC (2021b) Policy briefs to the Scientific Group of the UN Food Systems Summit 2021

EASAC (2021c) A sea of change: Europe’s future in the Atlantic realm

EASAC and FEAM (2021) Decarbonisation of the health sector

Do European Academies’ Science Advisory Council (EASAC), in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/08/2021





Autor: European Academies’ Science Advisory Council (EASAC)
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 25/08/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/08/25/crises-de-clima-e-biodiversidade-devem-ser-tratadas-como-uma-so/

Tentativa de abertura da Estrada do Colono ameaça biodiversidade e mais de 1.600 espécies de animais



Tentativa de abertura da Estrada do Colono ameaça biodiversidade e mais de 1.600 espécies de animais
Publicação alerta sobre os impactos se a Estrada do Colono for aberta e como a pressão política está influenciando na aprovação do projeto de lei; animais serão os mais atingidos com a degradação ambiental

A revista britânica Nature, uma das publicações mais respeitadas do mundo, publicou no último dia 17 de agosto, um artigo sobre os impactos da abertura da Estrada do Colono, localizada dentro do Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná. Com a chamada “Brazilian road proposal threatens famed biodiversity hotspot (Proposta de rodovia brasileira ameaça famoso ponto de biodiversidade – título traduzido), o artigo é assinado pela jornalista Meghie Rodrigues e analisa o Projeto de Lei no. 984/2019.

No artigo, a jornalista descreve que, caso o projeto de lei seja aprovado, será construída uma rodovia na Estrada do Colono, que hoje conta com vegetação nativa (visto de cima, não existe mais a estrada antiga) e conecta cidades ao norte e ao sul, em um trecho de 18 quilômetros, entre os municípios de Serranópolis do Iguaçu e Capanema. A matéria também aborda como a abertura irá impactar diretamente na biodiversidade do parque, que abriga mais de 1.600 espécies de animais, incluindo ameaçados em extinção, como as onças e as antas e diversas espécies de pássaros, além de projetos de pesquisas e ecossistemas preciosos.

A Nature ainda destaca a luta dos ambientalistas e pesquisadores contra a abertura, sob o argumento que trará, além da poluição do ar, do solo, da água e até do som para o parque, também caçadores ilegais, que podem ameaçar os animais, incluindo o tráfico de onças e outros animais silvestres. A jornalista Meghie Rodrigues ouviu fontes locais como Ivan Baptiston, chefe do Parque Nacional do Iguaçu entre 2015 e 2020; Carmel Croukamp Davies, diretora do Parque das Aves; Carlos Araújo, ativista ambiental argentino; e pesquisadores como o biólogo Victor Prasniewski, que fez um estudo sobre o impacto de uma estrada em meio à floresta (poluição do ar, solo, água e sonora), para a reprodução de animais que vivem no entorno.


“O fechamento da estrada é questão que transita em julgado pela justiça brasileira,ou seja, aos olhos da Lei, ela não pode ser reaberta. O PL não passa de manobra política, que não interessa a ninguém, além de meia dúzia de políticos, do ponto de vista ambiental é uma catástrofe e economicamente não traria nenhum benefício a região. Ao contrário, causaria vergonha internacional, afastando os turistas estrangeiros e fazendo o Parque perder o título de Patrimônio Natural da Humanidade. Quem defende o país, não pode deixar isso acontecer”, afirma Angela Kuczach, diretora executiva da rede Pró-UC (Pró Unidade de Conservação da Natureza).


Projeto de Lei teria interesses pessoais para a abertura


A reportagem da Nature também traz que o projeto de lei é patrocinado por Nelsi Coguetto Maria, integrante da Câmara dos Deputados, e argumenta que a mídia local noticiou que sua família potencialmente tem a ganhar com a Estrada do Colono, pois dois de seus filhos são sócios em empresas de construção que poderiam pavimentar a estrada. Um dos argumentos é que o restabelecimento da rodovia seria uma “solução para um problema logístico do Paraná”.


“O escritório de Coguetto Maria não respondeu às perguntas da Nature sobre isso ou sobre as preocupações dos pesquisadores sobre a estrada. Quando a Câmara dos Deputados aprovou a aceleração do projeto de lei, ele argumentou que o Brasil de hoje é ‘responsável’, tem ‘competência e capacidade para construir uma estrada ecologicamente correta’, ressaltando que a estrada existia como um caminho para caminhadas antes mesmo de o parque ser criado”, alerta o texto da Nature. Estudos históricos, no entanto, refutam essa teoria.


Se aprovada, A Lei irá enfraquecer ainda mais a legislação ambiental brasileira


Um ponto importante que o artigo da Nature aborda é o posicionamento do governo brasileiro, que sob a liderança do presidente Jair Bolsonaro, enfraqueceu a proteção das florestas do país em favor dos setores de mineração, extração de madeira e pecuária. Se o projeto de lei for aprovado, irá enfraquecer ainda mais a legislação ambiental brasileira, além de abrir caminhos para a criação de estradas e rodovias em outros parques e unidades de conversação no país.


Se o projeto for aprovado vira uma lei, que estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação, é o que questiona Neucir Szinwelski, professor na Universidade Estadual do Oeste do Paraná. “O que acontecer no Parque Nacional do Iguaçu poderá sim acontecer em outras unidades de conservação. Não há no projeto de lei qual limitação a isso e, portanto, a abertura de estradas será baseada apenas na demanda e nos interesses econômicos, pois em termos legais tais procedimentos estão regulamentados. Cabe ressaltar que o projeto foi aprovado com regime de urgência, sem que discussões fossem feitas nas câmaras especiais. Ainda, o que é dito pelo autor do projeto é que após a aprovação é que será discutido o modelo de implantação. Não faz sentido isso. Como podem pensar em aprovar uma lei que não se sabe o que vai estar contido dentro dela”.


Abertura de Estrada do Colono não irá impulsionar o ecoturismo


Sobre os argumentos para a abertura, a matéria da Nature foi enfática ao afirmar que não faz sentido que a rodovia irá potencializar o turismo no Paraná. Para Hélio Secco, Secretário Geral da Rede Brasileira de Especialista em Ecologia de Transportes e Pesquisador colaborador do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o projeto de lei não tem a intenção de atrair o ecoturismo, sendo que o mesmo já é atraído pelos pontos tradicionais do Parque. Para ele, ainda existe o risco de atropelamento da fauna, uma vez que a estrada será para encurtar distâncias e o volume de veículos pode ser uma ameaça para as espécies locais.


“Eu não acredito que o projeto de lei será aprovado. Eu acho que com a pressão organizada pela sociedade civil, institutos de pesquisas e acadêmicos vêm demonstrando por diversos motivos o quão negativo seria esta abertura, que inclusive a própria mídia já vem repercutindo, o que acaba fazendo com que muitos parlamentares tomem uma decisão contrária e evitem se expor neste momento”, comenta o especialista.


Já na visão de Szinwelski, professor na Universidade Estadual do Oeste do Paraná, o projeto sofrerá grande resistência tanto na Câmara quanto no Senado, isso porque há grande pressão do empresariado nacional e dos investidores internacionais para que o projeto seja retirado de pauta e rejeitado. “Enquanto o mundo está ligando suas atividades à conservação da biodiversidade, a proteção e ampliação de florestas, a reestruturação dos habitats naturais, o Brasil parece ir em sentido contrário, com um projeto de lei que modifica a estrutura do Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), e faz isso começando pela maior e mais emblemática unidade de conservação: o Parque Nacional do Iguaçu. O projeto visa, literalmente, partir o parque em dois, e abre precedentes para que isso seja feito em qualquer unidade de conservação”, complementa.


Sobre a Estrada do Colono


O Parque Nacional do Iguaçu é conhecido pelas Cataratas do Iguaçu – uma das maiores do mundo. Fundado em 1939, o Parque contém a maior mancha remanescente de Mata Atlântica no sul do Brasil, rica em vegetais e animais e se estende na costa sudeste do Brasil até a Argentina e o Paraguai. Mas devido ao aceleramento do desmatamento causado pela urbanização e pelas atividades agrícolas e industriais no século XX, a floresta já perdeu 90% da sua cobertura arbórea. Em 1986, ocorreu o primeiro fechamento da Estrada do Colono, que também foi declarado Patrimônio Mundial pela Organização das Nações Unidas (UNESCO). No mesmo ano, o Ministério Público Federal abriu uma ação civil para fechar a Estrada e, no ano seguinte, uma juíza federal a fechou oficialmente. Em 1997 ocorreu uma reabertura ilegal e, em 2001, a Justiça Federal determinou o fechamento definitivo durante 2 anos. Moradores resistiram a entregar a área e a desocupação foi feita pelo Exército, Polícia Federal e o Ibama.


Com o fechamento, alguns moradores locais tentaram abrir a estrada, alegando dificuldades econômicas e a impossibilidade de viajar com eficiência para a área, mas o argumento econômico não se sustenta mais. “Os danos causados à altamente valorizada Mata Atlântica do parque superariam em muito os ganhos econômicos potenciais para as cidades vizinhas’, dizem eles. Além disso, as espécies protegidas pelo parque são insubstituíveis, acrescentam. O Parque Nacional do Iguaçu é o único local do mundo onde a população de onças está aumentando em vez de diminuir”, cita o texto da Nature.


“Os retrocessos ambientais serão muito severos e o Brasil já deu grandes demonstrações de que não sabe cuidar dos seus recursos naturais e que não sabe tomar decisões ambientais assertivas, ao contrário do que diz o autor do projeto de lei”, finaliza Szinwelski.


Para ler o artigo da Nature na íntegra, clique em https://www.nature.com/articles/d41586-021-02199-x.


Sobre a Rede Pró UC


A Rede Pró-Unidades de Conservação é uma organização não governamental advocacy que busca ampliar sua representatividade e impacto em prol da proteção dos ambientes naturais. A Rede foi fundada em 1998 e atua em todo o território nacional fortalecendo Unidades de Conservação da Natureza juntamente com outras instituições e colaboradores que atuam em defesa das UCs no Brasil. Mais informações, acesse em http://redeprouc.org.br/.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/08/2021







Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 25/08/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/08/25/tentativa-de-abertura-da-estrada-do-colono-ameaca-biodiversidade-e-mais-de-1-600-especies-de-animais/