terça-feira, 30 de novembro de 2021

Organizações de blockchain se unem para neutralizar emissões de carbono

Organizações de blockchain se unem para neutralizar emissões de carbono

Durante as discussões da COP-26 em Glasgow, o presidente da Celo Foundation, Rene Reinsberg, comentou sobre o impacto das criptomoedas nas mudanças climáticas, principalmente após dados alarmantes serem divulgados no último relatório do IPCC.

Por Ana Paula Oliveira

Se o nível de emissões de carbono se mantiver nos níveis atuais, a temperatura do planeta deverá subir aproximadamente 6C até 2100. Hoje, 40% da energia consumida por fazendas de mineração de criptomoedas ainda utilizam carvão em sua origem.
Aproximadamente 80% de Bitcoins e outras criptomoedas são mineradas na China. Isso tem sido um grande desafio para que o país possa atingir a meta de se tornar carbono neutro até 2060.


 De acordo com a revista Nature, se o consumo energético continuar nesse ritmo a China deve gerar 130,4 milhões de toneladas de CO2 até 2024. Emissões semelhantes a países como Itália e Arábia Saudita. Em 2020, segundo um relatório da Bloomberg, as criptomoedas consumiram cerca de 67 terawatts de energia e, para 2021, a projeção é um consumo de 97 terawatts. Consumo semelhante a países como Paquistão, que tem 221 milhões de habitantes.

A crítica em torno das criptomoedas se deve, em parte, pela energia desperdiçada durante o processo de validação de transações. Para validar uma operação é necessário um grande esforço computacional relativo a à criptografia do blockchain atrelado. No entanto, apesar de muitos computadores participarem da solução da criptografia da operação,apenas um é remunerado pela solução do problema.

“A Celo não é somente um blockchain proof of stake (que independe da dinâmica de ineficiência energética descrita) e carbon negative, mas uma comunidade que impulsiona em mais de 120 países uma lógica econômica e organizacional que incentiva — inclusive financeiramente — o desenvolvimento de soluções para a crise climática. Não existe qualquer outro protocolo lastreado na preservação da vida humana e fomento às comunidades locais e ao meio ambiente. É mais do que um storytelling bacana: é uma revolução verde em sentido econômico, tecnológico e social. ”, comenta Camila Rioja, Head da cLabs no Brasil.

Climative Collective: organizações blockchain contra as mudanças climáticas

Em junho deste ano a XPRIZE, fundação do bilionário Elon Musk, abriu o desafio de $100 milhões para neutralizar a emissão de carbono em 10 mil toneladas ao ano até 2050 – e a comunidade de Celo entrou nessa jornada. Para alcançar a meta, organizações de blockchain se uniram e criaram o Climate Collective, um esforço para combater as mudanças climáticas com a tokenização das florestas tropicais e outros recursos importantes para a eliminação de CO2 da atmosfera.

O coletivo contou com dez empresas no lançamento, incluindo Curve Labs, Kolektivo, Moss e Regen Network, e propõe que, nos próximos 4 anos, essas árvores tokenizadas sejam adicionadas à Reserva Celo. O coletivo também defende que o sequestro de carbono e a consequente redução dos gases de efeito estufa são os caminhos mais rápidos para alcançar a meta do IPCC de remover 10 gigatoneladas de CO2 por ano até 2050, a fim de evitar que as temperaturas aumentem 2C.

A iniciativa foi inspirada no conceito de Capital Natural de Charles Eisenstein em “Sacred Economics” – Economia Sagrada, em tradução livre – que faz referência à mudança do padrão ouro no lastro do valor das moedas para um sistema baseado em confiança, conhecido como padrão Fiat. Apesar de não ser viável voltar ao padrão ouro, já é possível criar tokens e atribuir valor a recursos que atendam às necessidades sociais, como a preservação de florestas.

Através das moedas de capital natural, que determinam valor na preservação de recursos naturais, é possível gerar benefícios ao meio ambiente. A adesão dessas moedas pode ser uma solução mais eficiente do que a doação de dinheiro direto, ao passo que quanto mais a demanda pelas moedas de capital natural aumenta, mais o sistema se expande e financia o plantio de novas árvores e recursos naturais.

Os membros do coletivo trabalham em projetos de compensação de carbono em países como Brasil, Serra Leoa, Malaui, Indonésia e Panamá, visando a redução do desmatamento e a proteção de florestas. O Acre, por exemplo, tem 90% de seu território coberto por florestas, mas, devido às atuais taxas de desmatamento, esse total pode cair para 35% até 2030. O envolvimento da comunidade visa prevenir o desmatamento em mais de 100.000 hectares de floresta tropical intocada na bacia amazônica e proteger alguns dos habitats de maior biodiversidade do mundo.

Sequestro de carbono e proteção do capital natural

Hoje, a Reserva Celo já totaliza cerca de $850 milhões de dólares em árvores plantadas. As organizações que integram o Climate Collective propõem que até 40% da Reserva Celo (que apoia stablecoins como cEUR e cUSD) faça a transição para floresta tropical tokenizada e outros ativos sequestrantes de carbono nos próximos 4 anos, permitindo capital natural às moedas lastreadas no ecossistema da Celo.

Ao alocar uma fração desses ativos para o capital natural, a Reserva pode criar um mecanismo de incentivo que alinha a demanda por moedas estáveis com a proteção do capital natural. Este mecanismo atua como um sequestrador de carbono em grande escala.

Recentemente a comunidade Celo decidiu alocar 0,5% da Reserva como crédito de carbono voluntário e comprou créditos de carbono tokenizados pela Moss.Earth, que tem como objetivo a preservação de florestas.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/11/2021




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/11/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/11/30/organizacoes-de-blockchain-se-unem-para-neutralizar-emissoes-de-carbono/

FAPESP apoiará a retomada de programa de estímulo a vocações científicas da ABC

O Programa Aristides Pacheco Leão de Estímulo a Vocações Científicas (PAPL) foi criado pela Academia Brasileira de Ciências (ABC) em 1994. O nome homenageia o neurofisiologista que presidiu a ABC entre 1967 e 1981 e que, em 1993, tornou-se presidente emérito, em homenagem póstuma.

O PAPL já foi apoiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em períodos diferentes. Após a edição de 2019, o programa foi descontinuado por falta de apoio financeiro, ainda que sempre atraísse muitos jovens interessados.




Programa Aristides Pacheco Leão vai garantir bolsas de estágio em laboratórios de excelência para 50 jovens estudantes de todo o Brasil a partir do verão de 2023 (imagem: divulgação)

O PAPL já apoiou, aproximadamente, 750 estudantes de graduação de todas as instituições de pesquisa e ensino do Brasil. Um grande número desses estudantes manteve-se na vida acadêmica, dedicando-se à pesquisa em programas de pós-graduação (mestrado e doutorado) e pós-doutorado, em seus Estados de origem ou em outros Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, inclusive no exterior. Alguns são, hoje, docentes e bolsistas de pesquisa do CNPq.

Parceria com a FAPESP

Um acordo entre a ABC e a FAPESP, a ser lançado na quinta-feira, dará nova dimensão ao PAPL por um período de cinco anos, renováveis por mais cinco. Na nova versão do Programa Aristides Pacheco Leão para Vocações Científicas (PAPL/ABC – FAPESP), o programa ampliou o número de bolsas e agora contempla todas as áreas do conhecimento no âmbito da ABC. O acordo prevê que, a cada ano, 50 alunos de graduação poderão estagiar durante as férias de verão em laboratórios liderados por membros titulares da Academia.

O público-alvo, portanto, são estudantes vocacionados para as ciências de todas as instituições de ensino e pesquisa do Brasil, que terão a oportunidade de estagiar até 50 dias em laboratórios de excelência.

A ABC espera que, com o exemplo da FAPESP, fundações de amparo à pesquisa (FAPs) de outros Estados participem do PAPL, ampliando exponencialmente o número de jovens sendo formados para a ciência e ampliando o intercâmbio de conhecimentos científicos entre todas as regiões do país.

O funcionamento Os membros titulares da ABC de todo o país interessados em receber bolsistas deverão se cadastrar na ABC e no sistema da FAPESP, cujo link será divulgado em breve. A lista de nomes ficará disponível para que os estudantes possam entrar em contato com o pesquisador de interesse e, então, elaborar uma proposta de treinamento científico.

Os candidatos devem ser alunos de cursos de graduação, regularmente matriculados em cursos das diferentes áreas do conhecimento e de todos os Estados brasileiros. É obrigatório que os alunos estejam vinculados a programas de Iniciação Científica (com ou sem bolsa) em suas instituições, já tendo comprovado assim seu interesse e motivação para atuar em projetos de pesquisa.

O programa PAPL em parceria entre a FAPESP e a ABC também inova ao oferecer 50 bolsas na modalidade EVC no total de R$ 5 milhões, para subsidiar o transporte, a estadia e a realização do estágio.

Para o diretor científico da FAPESP, Luiz Eugênio Mello, que é membro titular da ABC, o estímulo a jovens talentos é um importante pilar dessa iniciativa. “Parear jovens brilhantes com cientistas destacados é uma ideia que a ABC já executou antes e com muito sucesso. Para a FAPESP, poder retomar essa ação é uma oportunidade com potencial transformador. A participação da FAPESP no PAPL valoriza a excelência que temos no Brasil e faz parte de uma estratégia de ampliação de nossa interação dentro do país”, ressaltou.

“A ABC e a FAPESP têm como objetivo comum difundir a ideia de que a ciência é um fator fundamental para o desenvolvimento social e tecnológico do país. O Brasil precisa muito de jovens cientistas integrando nossa rede de produção e aplicação de conhecimento”, disse o presidente da ABC, Luiz Davidovich.

O lançamento da nova versão do programa será realizado em evento na quinta-feira (02/12), às 18h30 e será transmitido pela pelo canal da ABC no YouTube.

O histórico do programa e os depoimentos de participantes de versões anteriores estão disponíveis em: www.abc.org.br/nacional/programas-cientificos-nacionais/programa-aristides-pacheco-leao/.




Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 29/11/2021
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/fapesp-apoiara-a-retomada-de-programa-de-estimulo-a-vocacoes-cientificas-da-abc/37420/

Experimento mostra ser possível estimular o sistema imune de recém-nascidos a combater o HIV

Estudo conduzido na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) mostrou ser possível potencializar a resposta imune de recém-nascidos contra o vírus HIV, causador da Aids. A descoberta, realizada em cultura celular e descrita no Journal of Infectious Diseases, amplia a possibilidade de novas intervenções terapêuticas para a proteção contra doenças infecciosas nesse período da vida.

No experimento, os pesquisadores estimularam a resposta inata (primeira linha de defesa imune, que não é específica para um patógeno e envolve células como macrófagos, monócitos e neutrófilos) em células oriundas do cordão umbilical de bebês cujas mães não tinham HIV por meio de um composto sintético denominado CL097. Em seguida, a equipe do Laboratório de Investigação Médica 56 incubou o vírus nas células in vitro. O composto se mostrou eficiente em promover respostas antiviral e inflamatória, inibindo a replicação do HIV nas células do cordão umbilical.



Em laboratório da USP, células do cordão umbilical foram tratadas com um composto capaz de ativar a primeira linha de defesa do organismo e se tornaram mais aptas a combater o vírus causador da Aids. Estratégia pode proteger contra outras doenças infecciosas e potencializar a resposta a vacinas (foto: Pixabay)

“Os resultados reforçam o conhecimento que já tínhamos de que os recém-nascidos têm uma imunidade imatura, portanto, são mais suscetíveis a vírus como o HIV. No entanto, descobrimos que eles não são tão imunodeficientes quanto se imaginava, pois suas células são capazes de responder muito bem a esse tipo de estímulo com agonistas de imunidade inata [substâncias que estimulam a primeira linha de defesa]. Um dos diferenciais do estudo foi o uso desse tipo de agonista [CL097], pois ele mimetiza o patógeno e permite reduzir a infecção viral”, afirma Maria Notomi Sato, professora da FM-USP e autora principal do estudo.

A pesquisa foi apoiada pela FAPESP por meio de bolsa de mestrado concedida a Anna Julia Pietrobon, orientanda de Sato.

De acordo com os pesquisadores, a estratégia de aprimoramento das vias de defesa pode ser aplicada também no caso de outras infecções virais, bem como para melhorar a eficácia das vacinas em neonatos.

“Esse achado sem dúvida colabora para o desenvolvimento de tratamentos antivirais alternativos para os bebês. Os testes foram realizados com o HIV, mas é muito provável que isso se dê da mesma forma com outras doenças virais ou bacterianas. Ainda precisamos de mais estudos, mas, no futuro, poderíamos oferecer esses compostos para os nenéns a fim de ativar a resposta antiviral, fazendo com que eles respondessem tão bem quanto adultos, a ponto de prevenir a própria infecção e combater as células infectadas”, explica Sato.

A imunidade dos bebês

Por ainda não ter a imunidade completamente formada, recém-nascidos são mais suscetíveis a infecções por vírus, bactérias, fungos e outros patógenos. Isso ocorre porque, em geral, os monócitos, macrófagos e as células dendríticas dos bebês secretam quantidade menores de citocinas – proteínas reguladoras da resposta imune e inflamatória.

Há ainda outros fatores que contribuem para a imaturidade da resposta imune adaptativa (específica para cada patógeno) nos recém-nascidos, como, por exemplo, a falta de um microambiente para a interação entre as células T (linfócitos responsáveis pela imunidade celular) e as células B (linfócitos produtores de anticorpos).

“Leva algum tempo até que a imunidade dos bebês esteja inteiramente madura. Isso porque, embora muito dos anticorpos venha da mãe, a parte celular da resposta imune surge mais devagar. Por isso, há essa maior suscetibilidade a vários tipos de infecção no período pós-natal. Sabendo disso, fomos à procura de adjuvantes que pudessem estimular essa resposta imune imatura”, explica Pietrobon.

A pesquisadora ressalta que, em bebês, a forma mais comum de transmissão do HIV é a vertical – quando a mãe infectada contamina o filho durante a gravidez, o trabalho de parto ou a amamentação. “Estima-se que esse tipo de transmissão seja responsável por 9% dos casos de Aids no mundo”, informa.

Mas vale ressaltar que, atualmente, tratamentos com AZT ou coquetéis antirretrovirais durante a gravidez e o parto têm reduzido o risco de transmissão vertical. “No Brasil, felizmente, quase 100% das mulheres que necessitam têm acesso. No entanto, nem todos os países oferecem esse tipo de cuidado para gestantes HIV positivo e é importante buscar alternativas terapêuticas”, afirma Sato.

Macrófago ativado

O estudo conduzido na FM-USP teve como foco os macrófagos, que são células-alvo do HIV e, ao serem infectados, tornam-se um reservatório para o vírus. “Isso acaba sustentando a carga viral desses pacientes. Outro problema é que os macrófagos são um pouco mais resistentes à ação dos antirretrovirais. Por esses fatores, têm uma participação e uma contribuição muito grande na patogênese da doença e na dificuldade de encontrar uma cura para o HIV”, explica Pietrobon.

No experimento com células de recém-nascidos, a equipe demonstrou ser possível ativar vias de combate viral nos macrófagos com adjuvantes potencializadores da resposta imune inata a ponto de prevenir a infecção e a replicação viral.

“Como os neonatos ainda não têm células T de memória, imagina-se que, ao entrar em contato com um vírus – seja ainda dentro da barriga da mãe, durante o parto ou após o nascimento –, os macrófagos sejam os principais alvos de infecção. Por isso, é muito positivo ter essa alternativa para potencializar a defesa dos bebês”, diz.

O artigo Antiviral Response Induced by Toll-Like Receptor (TLR) 7/TLR8 Activation Inhibits Human Immunodeficiency Virus Type 1 Infection in Cord Blood Macrophages (doi: 10.1093/infdis/jiab389) de Anna J. Pietrobon, Fábio S. Y. Yoshikawa, Luana M. Oliveira, Natalli Z Pereira, Tais Matozo, Bruna C. de Alencar, Alberto J. S. Duarte e Maria N. Sato, pode ser lido em: https://academic.oup.com/jid/advance-article-abstract/doi/10.1093/infdis/jiab389/6342784?redirectedFrom=fulltext.




Autor: Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 30/11/2021
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/experimento-mostra-ser-possivel-estimular-o-sistema-imune-de-recem-nascidos-a-combater-o-hiv/37435/

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Emboques de Túneis em Regiões Serranas Tropicais Úmidas

Emboques de Túneis em Regiões Serranas Tropicais Úmidas, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos

Pode-se dizer que as técnicas de emboques de túneis pouco acompanharam os grandes avanços registrados pela engenharia viária brasileira na travessia de regiões serranas tropicais úmidas

Especialmente após a abertura da primeira pista da Rodovia dos Imigrantes, com seu trecho de serra inaugurado no ano de 1976, a qual, como filosofia de projeto, fez a opção por se desenvolver por túneis e viadutos como expediente de interferir o mínimo possível nas instáveis encostas da Serra do Mar, a engenharia viária brasileira experimentou um notável avanço tecnológico na transposição de regiões serranas tropicais.

Dentro da mesma filosofia de projeto, um segundo avanço tecnológico verificou-se na abertura da segunda pista da Imigrantes (2002), a qual, em uma previdente e ousada decisão, optou por túneis mais longos (11 túneis na primeira pista para apenas 3 túneis longos na segunda) expediente que permitiu passar dos 22 emboques anteriores para apenas 6 emboques.

Registre-se que esses saltos tecnológicos somente se tornaram possíveis por decorrência dos grandes ganhos de conhecimento sobre a dinâmica evolutiva das encostas serranas promovidos pela Geologia de Engenharia e pela Engenharia Geotécnica brasileiras ao longo das décadas de 1970 e 1980.

Mas se túneis e viadutos viabilizaram a decisão de interferir minimamente nas encostas serranas, os emboques de túneis inexoravelmente continuaram a exigir esse tipo de intervenção desestabilizadora e o decorrente enfrentamento dos históricos problemas geotécnicos, ambientais e financeiros nela implicados. De certa forma pode-se dizer que as técnicas de emboques de túneis pouco acompanharam os grandes avanços registrados pela engenharia viária brasileira na travessia de regiões serranas tropicais úmidas.

As técnicas atuais mais comuns de emboques em regiões serranas tem implicado em cortes frontais nas encostas de forma a permitir que a escavação tuneleira propriamente dita inicie-se somente quando alcançado e exposto o maciço rochoso em rocha alterada dura e rocha sã. Ou seja, uma técnica que impõe necessariamente uma grave desestabilização nos horizontes superficiais de solos e saprolito. Essa desestabilização tem sido normalmente compensada com a execução de extensas e dispendiosas obras de contenção. Vide concepção esquemática e imagens a seguir.





Emboque na nova subida da Serra de Petrópolis



Túnel Rodovia dos Imigrantes



Emboque na Via Transolímpica – RJ



Túnel Rodovia dos Imigrantes

Esse cenário tecnológico revela-se atrasado no tempo colocando para a Geotecnia brasileira uma demanda clara de novas concepções que atendam o objetivo de interferir o mínimo possível nos horizontes superficiais de solos e saprolito, procurando assim evitar sua instabilização e a decorrente necessidade de grandes obras de contenção.

Para tanto é sugerida uma operação preliminar de consolidação da zona frontal desses horizontes mais superficiais do manto de alteração e a conseqüente produção artificial de um maciço provido de razoável coerência e capacidade de auto-sustentação (~ Classe 2/3 Bieniawski), de forma a permitir o início da escavação tuneleira, com a devida promoção de imediata e concomitante sustentação estrutural, desde a superfície natural da encosta, ou seja, sem cortes frontais desestabilizadores.

Duas ações complementam a ideia básica: a adoção de uma extensão em túnel falso (algo como 20m de extensão) e a execução de uma testada de contenção de baixa altura (~3,0m) apoiada e ancorada estruturalmente na abóbada do túnel. Vide croqui esquemático adiante.

As técnicas aventadas para tanto são as utilizadas normalmente para consolidação de maciços terrosos ou saprolíticos, como enfilagens, Jet Grouting, injeção de calda de microcimento, utilizadas isoladamente ou em estudada combinação. Vale também lembrar a possibilidade de utilização de técnicas de congelamento de solos, as quais, se tornadas possíveis, contribuiriam positivamente para uma desejada posterior renaturalização do maciço tratado.

Enfim, ao apresentar algumas sugestões para uma melhor condução técnica das obras de emboques de túneis nas condições fisiográficas descritas, tem esse artigo o propósito de estimular a criatividade e a ousadia dos geotécnicos brasileiros na busca de inovações para o bom equacionamento do problema.



Geól. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)

• Ex-Diretor de Planejamento e Gestão do IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas

• Autor dos livros “Geologia de Engenharia: Conceitos, Método e Prática”, “A Grande Barreira da Serra do Mar”, “Diálogos Geológicos”, “Cubatão”, “Enchentes e Deslizamentos: Causas e Soluções”, “Manual Básico para elaboração e uso da Carta Geotécnica”, “Cidades e Geologia”

• Consultor em Geologia de Engenharia, Geotecnia e Meio Ambiente

• Articulista e Colaborador do EcoDebate


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/11/2021







Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/11/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/11/29/emboques-de-tuneis-em-regioes-serranas-tropicais-umidas/

Superar o Antropoceno e o Piroceno para criar o Ecoceno

Superar o Antropoceno e o Piroceno para criar o Ecoceno, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O fogo está moldando o planeta como causa, consequência e catalisador. A escala é vasta, o ritmo acelerado

“Podemos sobreviver sem uma ciência do fogo, mas não podemos viver sem uma cultura
do fogo – uma que garante o lugar adequado do fogo na paisagem”
Stephen Pyne

O Homo sapiens surgiu e se espalhou pelo mundo no período geológico do Pleistoceno, mas foi no Holoceno que floresceu a civilização e a espécie humana se tornou uma força onipresente no território global. A população mundial era de cerca de 4 milhões de habitantes no início do período Holoceno, há cerca de 12 mil anos. A estabilidade climática do Holoceno propiciou o florescimento do desenvolvimento econômico e social e o ser humano expandiu as atividades agrícolas, a domesticação dos animais, construiu cidades e montou uma máquina de produção e consumo de bens e serviços jamais vista nos 4,5 bilhões de anos da Terra.

O crescimento da população e da produção foi de tal ordem que prêmio Nobel de Química, Paul Crutzen, avaliando o grau do impacto destruidor das atividades humanas sobre a natureza afirmou que o mundo entrou em uma nova era geológica, a do ANTROPOCENO, que significa “época da dominação humana”. Representa um novo período da história do Planeta, em que o ser humano se tornou a força impulsionadora da degradação ambiental e o vetor de ações que são catalizadoras de uma provável catástrofe ecológica.



Mas o Antropoceno é também a era do Piroceno. A palavra foi cunhada em 2015 por Stephen Pyne, professor emérito da Escola de Ciências da Vida da Universidade Estadual do Arizona. Piroceno foi encarado, inicialmente, apenas com um conceito a mais. Os seres humanos sempre deixaram sua marca no Planeta com fogo, primeiro para adaptar grandes áreas para caçar e criar assentamentos, depois para alimentar as pessoas, abrigar em casas, garantir a mobilidade por meio de navios, trens e carros e para criar conforto e bem-estar para uma população crescente. Mas, no Antropoceno, as queimadas geram custos cada vez maiores e o Piroceno virou uma evidência irrefutável.



O Antropoceno

O Antropoceno é uma Era sincrônica à modernidade urbano-industrial. A Revolução Industrial e Energética que teve início na Europa no último quartel do século XVIII deu início ao uso generalizado de combustíveis fósseis e à produção em massa de mercadorias e meios de subsistência, possibilitando uma expansão exponencial das atividades antrópicas.

Em 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Este crescimento demoeconômico foi maior do que o de todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens. Mas todo o crescimento e enriquecimento humano ocorreu às custas do encolhimento e empobrecimento do meio ambiente. O conjunto das atividades antrópicas ultrapassou a capacidade de carga da Terra e a Pegada Ecológica da humanidade extrapolou a Biocapacidade do Planeta. A dívida do ser humano com a natureza cresce a cada dia e a degradação ambiental pode, no limite, destruir a base ecológica que sustenta a economia e a sobrevivência humana.

No Antropoceno, a humanidade danificou o equilíbrio homeostático existente em todas as áreas naturais. Alterou a química da atmosfera, promoveu a acidificação dos solos e das águas, poluiu rios, lagos e os oceanos, reduziu a disponibilidade de água potável, ultrapassou a capacidade de carga da Terra e está promovendo uma grande extinção em massa das espécies. O egoísmo, a gula e a ganância humana provoca danos irreparáveis e um ecocídio generalizado, que pode se transformar em suicídio.



As emissões de gases de efeito estufa (GEE) romperam com o nível de concentração de CO2 na atmosfera, de no máximo 280 partes por milhão (ppm) prevalecente durante todo o Holoceno, e, em 2019, já está acima de 410 ppm e subindo cerca de 2,5 ppm ao ano, na atual década.

Com mais GEE na atmosfera, a temperatura média tem subido e a Terra está acima de um grau mais quente do que o período pré-industrial, podendo iniciar um período de descontrole climático. Esta possibilidade foi aventada em estudo de Steffen e colegas (2018) que indicou que a Terra pode entrar em uma situação com clima tão quente que pode elevar as temperaturas médias globais a até cinco graus Celsius acima das temperaturas pré-industriais. Isto teria várias implicações, como acidificação dos solos e das águas e aumentos no nível dos oceanos entre 10 e 60 metros.

O estudo mostra que o aquecimento global causado pelas atividades antrópicas de 2º Celsius pode desencadear outros processos de retroalimentação, podendo desencadear a liberação incontrolável na atmosfera do carbono armazenado no permafrost, nas calotas polares, etc. Em função do efeito dominó, as “esponjas” que absorviam carbono podem se tornar fontes de emissão de CO2 e piorar significativamente os problemas do aquecimento global. Isto provocaria o fenômeno “Terra Estufa”, o que levaria à temperatura ao recorde dos últimos 1,2 milhão de anos. Os seja, caso este cenário se torne realidade, seria algo parecido com o apocalipse para a vida humana e não humana no Planeta.

O Piroceno

Segundo Stephen Pyne (08/10/2020), ao suprimir todos os incêndios florestais e incessantemente queimar combustíveis fósseis, os humanos perturbaram o papel que o fogo historicamente desempenhou em fornecer equilíbrio ecológico. Assim, é preciso repensar nossa visão sobre o fogo e aceitar sua presença, mudando a forma como administramos as terras e planejamos nossas comunidades.

Pyne constata que os incêndios estão aparentemente em toda parte, e em todos os lugares e cada vez mais ferozes. Eles estão queimando do Ártico à Amazônia, de Nova Gales do Sul à Costa Oeste dos EUA. São visíveis, e sua fumaça projeta sua presença na forma de imensas mortalhas bem afastadas das chamas. Mas igualmente significativos são os incêndios que não estão acontecendo. A Terra é um planeta de fogo, o único que conhecemos. Teve incêndios desde que as plantas nasceram na terra. Remover o fogo de paisagens que co-evoluíram ou coexistiram com ele pode ser tão desastroso quanto colocar fogo em paisagens que não têm história disso. Os incêndios que não vemos – os incêndios que deveriam estar lá e não estão – são um índice de perda ecológica, como a imposição de uma seca em uma paisagem normalmente exuberante.

Ele argumenta que temos muitos incêndios ruins – incêndios que matam pessoas, queimam cidades e destroem paisagens valiosas. Mas também temos alguns poucos bons – incêndios que aumentam a integridade ecológica e mantêm os incêndios dentro de suas faixas históricas. Ao mesmo tempo, com a queima incessante de combustíveis fósseis, temos muita combustão no planeta em geral. A questão é: como a presença do fogo na Terra se tornou tão perturbadora?

Ainda segundo Pyne, o contraste crítico reside em uma dialética mais profunda do que as paisagens queimadas e não queimadas. É uma dialética entre queimar biomassa viva e queimar biomassa fóssil. Estamos retirando coisas do passado geológico, queimando-as no presente com todos os tipos de consequências pouco compreendidas e passando o efluente para o futuro geológico. Habitamos paisagens vivas. Mas temos alimentado cada vez mais esse mundo queimando paisagens líticas, ou seja, biomassa que já existiu, agora fossilizada em formas como carvão e petróleo. Esse choque de reinos de combustão está ondulando não apenas através dos regimes de fogo da Terra, mas seu ar, sua água e sua vida vegetal e animal. Incêndios em paisagens vivas vêm com controles e equilíbrios ecológicos.

Os incêndios em paisagens líticas não têm limites, exceto aqueles que os humanos impõem a si próprios. Cada vez mais, o fogo está moldando o planeta como causa, consequência e catalisador. A escala é vasta, o ritmo acelerado. Artigo de Adam Vaughan (08/09/2021) mostra que pelo menos 33 mil mortes ocorreram no mundo em função da poluição e das queimadas do mundo.

No início de outubro de 2021 o interior de São Paulo (assim como estados vizinhos) foi atingido por fortes tempestades de poeira, devido à falta de chuvas e os terrenos desmatados e assoreados. Em uma fazenda em Santo Antônio do Aracanguá, o fogo atingiu pastagens, canaviais e áreas de preservação, sendo que 4 pessoas morreram. As tempestades de poeira estão virando fenômenos rotineiros no Sudeste e no Centro-Oeste. O roteiro é parecido em todos os casos: a chegada de ventos fortes associados com tempestades acaba levantando a terra ressecada do solo, criando nuvens densas de poeira (chamadas de haboob). No dia 15 de outubro, o aeroporto de Campo Grande, MS, as rajadas de vento atingiram mais de 94 km/h. O vento forte danificou construções e deixou diversos municípios do estado sem energia elétrica ao longo do final de semana. A passagem da nuvem de poeira transformou uma tarde ensolarada e quente em um cenário digno de blockbuster apocalíptico. Um barco-hotel naufragou no rio Paraguai próximo a Corumbá depois de virar na água por causa da ventania. Pelo menos sete pessoas morreram, sendo quatro da mesma família. Os danos econômicos e em vidas humanas são cada vez maiores com o agravamento do aquecimento global.

Além de repensar o Antropoceno e o Piroceno, Stephen Pyne considera que precisamos de uma cultura do fogo que funcione. Seria como Prometeu que roubou o fogo dos Deuses para iluminar o progresso humano. Ele defende a ideia de que podemos renovar nossa antiga aliança e transformar o que se tornou um inimigo implacável em um amigo indispensável. A queima de combustíveis fósseis e a emissão de gases de efeito estufa é o relacionamento errado que a civilização está tendo com o fogo. Portanto, o Piroceno pode nos levar à “Terra estufa”. Por conseguinte, a transformação do Antropoceno em Piroceno pode tornar difícil a sobrevivência global dos seres humanos e das espécies não humanas, transformando a Terra em um Planeta inabitável.

O Ecoceno

Existem pessoas que acham que o momento atual não é bem representado nem pelo conceito de Antropoceno, nem Piroceno, apresentando como alternativa o conceito de Capitaloceno, que atribui toda a culpa da crise climática e ambiental ao capitalismo. Acontece que o regime capitalista não é só uma relação social entre “expropriados e expropriadores”, mas também um modo de produção industrial baseado nos combustíveis fósseis voltado para atender o consumo em massa da população. Como disse Marx e Engels, em 1848, “a burguesia desempenhou um papel revolucionário na história”. O capitalismo é o modo de produção que mais gerou riqueza na história (e também a maior concentração de renda e propriedade).

Romper com a lógica concentradora de riqueza e com o modelo “Extrai-Produz-Descarta” do capitalismo é urgente e imprescindível. Mas, sair do regime da propriedade privada dos meios de produção para a propriedade estatal, pode até resolver os problemas da desigualdade e da alienação do trabalho, mas não muda necessariamente a relação com o meio ambiente se não for alterado a quantidade e a forma de produzir. Lembrando que na Revolução Socialista na Rússia, Lênin dizia que o socialismo é “eletricidade + sovietes”. Assim, sem surpresas, a URSS implementou um dos modos de produção mais poluidores de todos os tempos e o acidente nuclear de Chernobyl é apenas uma parte da degradação ambiental ocorrida durante o regime dos sovietes. A China que se autodefine como comunista é o país mais poluidor do Planeta.

O mundo precisa de mudanças no padrão de produção e consumo para conseguir evitar os efeitos catastróficos das mudanças climáticas e ambientais geradas no Antropoceno. Atualmente a produção mundial de bens e serviços exige recursos da natureza que estão acima da capacidade de regeneração do Planeta. Distribuir equitativamente a produção é uma questão de justiça social que deve ser implementada. Mas, do ponto de vista ecológico, não basta. É preciso decrescer a pegada ecológica não só dos mais ricos, mas do conjunto das atividades antrópicas (Dasgupta, 13/10/2021).

A Declaração de São Paulo sobre Saúde Planetária diz: “A humanidade, e de fato toda a vida na Terra, está em uma encruzilhada. Nas últimas décadas, a escala dos impactos humanos nos sistemas naturais da Terra aumentou exponencialmente a ponto de exceder a capacidade do nosso planeta de absorver nossos resíduos ou fornecer os recursos que estamos usando. O resultado é uma vasta e acelerada transformação e degradação da natureza. Isso inclui não apenas a mudança climática global, mas também a poluição em escala global do ar, da água e do solo; degradação das florestas, rios, sistemas costeiros e marinhos de nosso planeta; e a sexta extinção em massa da vida na Terra” (The Lancet, 05/10/2021).

O dia da Sobrecarga da Terra ocorre cada vez mais cedo. Na verdade, o que precisamos é superar as Eras do Antropoceno e do Piroceno e caminhar para a Era do Ecoceno, onde o respeito ao meio ambiente coloque a Ecologia no centro do mundo, possibilitando que o ser humano possa viver em paz e harmonia com a biodiversidade e os ecossistemas, repartindo irmãmente e fraternalmente a Nossa Casa Comum, numa verdadeira Ecosfera saudável e feliz.

O ser humano não é dono, mas sim parte da Comunidade Biótica Global, na qual todos os seres vivos estão inseridos. Nenhuma pessoa e nenhuma espécie pode ser feliz sozinha. O futuro da vida na Terra depende da prosperidade comum e compartilhada entre todas as espécies.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

ALVES, JED. A crise do capital no século XXI: choque ambiental e choque marxista. Salvador, Revista Dialética Edição 7, vol 6, ano 5, junho de 2015
http://revistadialetica.com.br/wp-content/uploads/2016/04/005-a-crise-do-capital-no-seculo-xxi.pdf

MARTINE, G. ALVES, JED. Economia, sociedade e meio ambiente no século 21: tripé ou trilema da sustentabilidade? R. bras. Est. Pop. Rebep, n. 32, v. 3, Rio de Janeiro, 2015 (em português e em inglês)
http://www.scielo.br/pdf/rbepop/2015nahead/0102-3098-rbepop-S0102-3098201500000027P.pdf

MARTINE, G. ALVES, JED. “Disarray in Global Governance and Climate Change Chaos”, R. bras. Est. Pop., v.36, 1-30, e0075, 2019 https://www.rebep.org.br/revista/article/view/1317/1001

STEFFEN et. al. Trajectories of the Earth System in the Anthropocene, PNAS August 6, 2018. 06/08/2018 http://www.pnas.org/content/early/2018/07/31/1810141115

KATE YODER. Como os humanos iniciaram o Piroceno, uma nova Era do Fogo, Eco21, Revista 275, outubro de 2019
https://eco21.eco.br/como-os-humanos-iniciaram-o-piroceno-uma-nova-era-do-fogo/

Adam Vaughan. Wildfire pollution linked to at least 33,000 deaths worldwide, New Scientist, 08/09/2021 https://www.newscientist.com/article/2289547-wildfire-pollution-linked-to-at-least-33000-deaths-worldwide/

Tingting Ye et. al. Risk and burden of hospital admissions associated with wildfire-related PM2·5 in Brazil, 2000–15: a nationwide time-series study, The Lancet, 01/09/2021
https://www.thelancet.com/journals/lanplh/article/PIIS2542-5196(21)00173-X/fulltext

ED STRUZIK. The Age of Megafires: The World Hits a Climate Tipping Point, e360 Yale, 17/09/20
https://e360.yale.edu/features/the-age-of-megafires-the-world-hits-a-climate-tipping-point

PYNE, Stephen. Our Burning Planet: Why We Must Learn to Live With Fire, Yale e360, 08/10/20
https://e360.yale.edu/features/our-burning-planet-why-we-must-learn-to-live-with-fire

Myers et. al. The São Paulo Declaration on Planetary Health. The Lancet, 05/10/2021
https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(21)02181-4/fulltext

Sir Partha Dasgupta. Nature: Our most precious asset, 13/10/2021
https://www.youtube.com/watch?v=JvPJALCZOeo


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/11/2021





Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/11/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/11/29/superar-o-antropoceno-e-o-piroceno-para-criar-o-ecoceno/

Ômicron: a nova variante de preocupação do SARS-CoV-2

Enquanto a vacinação avança no Brasil e o número de casos mantém uma tendência de queda, outros países vivem um recrudescimento da epidemia. A descoberta de uma nova variante, entretanto, preocupa as autoridades sanitárias mundiais.

Batizada de Ômicron, a variante B.1.1.529 foi detectada inicialmente na África do Sul em 24 de novembro de 2021. Dois dias depois, a Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou-a como variante de preocupação (VOC – do inglês variant of concern). Entenda o que se sabe até o momento sobre ela.
Variantes de interesse e variantes de preocupação

Mutações virais são um fenômeno natural e frequente, favorecido pela replicação viral. Embora muitas dessas mutações sejam não funcionais e podem ser deletérias para o vírus, algumas mudanças em estruturas chave podem determinar aumento de transmissibilidade, virulência ou escape vacinal.

Diante da característica mutagênica do SARS-CoV-2, a OMS passou a classificar, de acordo com características específicas, algumas variantes como variantes de interesse (VOI) e outras como variantes de preocupação (VOC).



Sendo assim, as VOIs:

Possuem alterações genéticas que têm previsão ou conhecidamente afetam características do vírus como transmissibilidade, gravidade da doença, escape imune, escape diagnóstico ou terapêutico; E
Foram identificadas como causa de transmissão comunitária significativa ou de múltiplos clusters em vários países com aumento de prevalência relativa juntamente com aumento no número de casos ao longo do tempo ou outros impactos epidemiológicos aparentes que sugerem um risco emergente para a saúde pública global.

Já as VOCs atendem aos critérios de VOI e, a partir de uma avaliação comparativa, demonstraram estar associadas a pelo menos uma das seguintes mudanças de forma significativa para a saúde pública global:
Aumento de transmissibilidade ou alteração em epidemiologia considerada prejudicial;
Aumento de virulência ou mudança na apresentação clínica da doença;
Redução na efetividade de medidas sociais ou de saúde pública ou dos métodos diagnósticos, da terapia ou de vacinas.

Alterações genéticas da variante Ômicron

Umas das características que mais chama a atenção em relação à nova variante é a quantidade de alterações genéticas detectadas em seu sequenciamento, muitas delas em regiões da proteína S.

Enquanto algumas mutações já foram encontradas em outras VOCs, outras podem estar associadas a vantagens adaptativas modestas em relação ao vírus original e outras ainda até o momento com função desconhecida. Também foram detectadas mutações em outras regiões do SARS-CoV-2, como em genes associados a proteínas de nucleocapsídeo, que podem estar associados a aumento na transmissibilidade e que estão presentes em todas as VOCs detectadas até o presente.

Além disso, algumas alterações podem estar associadas à evasão da imunidade inata e à resistência a anticorpos neutralizantes.
Ômicron como VOC

Segundo a OMS, evidências preliminares sugerem um risco maior de reinfecção com a nova variante em relação a outras VOCs. Ao mesmo tempo, o número de casos pela B.1.1.529 parece estar aumentando em quase todas as províncias da África do Sul.

Os testes diagnósticos continuam a detectar a variante, mas 1 dos 3 genes alvos dos testes de PCR mais comumente utilizados não é detectado. Usando essa característica como indicativo de infecção pela Ômicron, a detecção da nova variante está acontecendo a taxas mais rápidas do que visto previamente, o que sugere uma vantagem evolutiva.

Essas alterações vistas na epidemiologia de infecções pelo SARS-CoV-2 levaram à classificação da Ômicron como VOC pela OMS. A organização solicita que os países aumentem o processo de vigilância e esforços para fazer sequenciamento das variantes circulantes, assim como procedam ao compartilhamento das informações.
O que se sabe até agora?

Até o momento, não há evidências que confirmem que a nova variante esteja associada a maior transmissibilidade ou a maior gravidade de doença. O risco de reinfecção parece ser maior, mas os dados ainda são limitados. Estudos já estão em andamento para avaliar possíveis impactos na eficácia de vacinas, testes diagnósticos e terapias.

Ômicron no mundo

Ao todo, mais de 10 países já identificaram casos de infecção pela nova variante em sua população. Com isso, a Ômicron está presente em todos os continentes, com casos na África, do Sul, Botsuana, Canadá, Israel, Hong Kong, Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Holanda, Itália, Reino Unido, República Tcheca e Austrália.

Ômicron no Brasil

No Brasil, a Secretaria de Vigilância em Saúde, por meio da Rede CIEVS, emitiu uma comunicação de risco em relação a nova variante. Até o momento, nenhum caso de infecção pela variante B.1.1.529 foi detectado no país.

Como resposta à identificação da Ômicron, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) prevê recomendações de medidas excepcionais e temporárias para entrada no Brasil direcionadas a estrangeiros. O fechamento das fronteiras aéreas para seis países da África já foi anunciado para iniciar a partir do dia 29 de novembro.






Autor: Isabel Cristina Melo Mendes
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 29/11/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/omicron-a-nova-variante-de-preocupacao-do-sars-cov-2/

sábado, 27 de novembro de 2021

Fiocruz e instituições portuguesas debatem saúde global em diferentes perspectivas

Após quase dois anos vivendo com a emergência sanitária instaurada pela Covid-19, sabemos que somente uma abordagem interdisciplinar, social e econômica pode apresentar respostas e apontar caminhos. Nessa perspectiva de interação, a partir de redes em diferentes dimensões - pesquisa, produção, gestão e, principalmente, educação - a Fiocruz fortalece sua parceria com instituições portuguesas com a realização do Seminário Internacional Pandemia ou Sindemia - Uma abordagem crítica para a saúde pública. O encontro, marcado para os dias 29 e 30 de novembro, será transmitido pelo canal da Fiocruz no Youtube e acontecerá de maneira híbrida em Portugal.

Essas reflexões e diálogos, sobre o ponto de vista da saúde global no contexto das pandemias e sindemias, serão feitas entre Brasil e Portugal envolvendo o Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, a Universidade de Aveiro, a Universidade de Coimbra, pelo país lusitano, e o Instituto de Tecnologia em Fármacos (Farmanguinhos), o Instituto Oswaldo Cruz (IOC), o Instituto de Ciência e Tecnologia em Biomodelos (ICTB/Fiocruz) pela Fiocruz, com o apoio do Programa Institucional de Internacionalização (PrInt), ligado à Coordenação-Geral de Educação, da Vice-Presidência de Educação, Informação e Comunicação (CGE/VPEIC).

Tais debates pretendem compartilhar as expertises adquiridas ao longo dos anos nesse processo compartilhado de construção e aprendizado, mas, sobretudo, buscam fortalecer a dimensão internacional da educação e da pesquisa na Fiocruz. A coordenadora-geral de Educação da Fiocruz, Cristina Guilam, falou sobre as expectativas desse encontro e exaltou as parcerias já consolidadas com Portugal. Segundo ela, "esta será uma grande oportunidade de darmos visibilidade às cooperações de sucesso com Coimbra e Nova Lisboa, como o doutorado internacional em cotutela - Direitos humanos, Saúde Global e políticas da vida -, a consolidação de grupos de pesquisa, de disciplinas internacionais e produções conjuntas; bem como de firmar novas parcerias com a universidade de Aveiro, por exemplo".


Confira a programação e participe:

Dia 29/11 - 10h (horário de Brasília)
Tema: Uma interação epidêmica sinérgica nos níveis individual, social, econômico e ambiental, criando uma sindemia - O conhecimento tradicional, por si só, fornece uma resposta aos desafios globais da saúde?
Apresentações:
Saúde planetária: sindemia, ecosisitemas, negócios e saúde
Sindemia, uma saúde e um planeta

Dia 30/11 - 10h (horário de Brasília)
Tema: A saúde humana e os animais, as plantas e seu ambiente social e abiótico coevoluíram juntos, e seus destinos são interdependentes - Considerando a eco complexidade multidimensional dos dados e tecnologia da informação e o paradigma da Saúde Única, juntos, eles são suficientes para uma solução sindêmica (inteligência pandêmica global)?
Apresentações:
Atuação de Portugal no combate à pandemia por coronavírus Sars-CoV-2 Covid-19
Conquistas e desafios da Fiocruz, e do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) frente à sindemia de Febre Viral Trombonista (Covid-19)




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Autor: Isabela Schincariol (Campus Virtual Fiocruz)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 26/11/2021
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-e-instituicoes-portuguesas-debatem-saude-global-em-diferentes-perspectivas

Fiocruz submete pedido de registro da vacina Covid-19 com IFA nacional

A Fundação Oswaldo Cruz, por meio de seu Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), submeteu à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), nesta quinta-feira (25/11), o pedido de alteração pós-registro da vacina Covid-19 (recombinante), solicitando a inclusão do Instituto como unidade produtora do Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) do imunizante. Confira imagens 360º da área de produção do IFA nacional do imunizante da Fiocruz.

A previsão é de que a Anvisa conclua o processo em até 30 dias. Trata-se de um processo de transferência de tecnologia em tempo recorde. A conclusão de transferências de tecnologias em imunobiológicos costuma levar cerca de 10 anos. Com a vacina Fiocruz Covid-19, Bio-Manguinhos/Fiocruz concluirá a incorporação da tecnologia em apenas um ano, em atendimento à emergência sanitária.

Bio-Manguinhos/Fiocruz confeccionou a documentação para nova submissão durante cerca de dois meses, e participou de três reuniões via Parlatório, junto à Anvisa, para tratar especificamente sobre o pedido de alteração do local de fabricação do IFA. A submissão do pedido ocorre dentro do prazo previsto pela Fiocruz.

Para a obtenção de parecer favorável, a Anvisa avaliará a equivalência do processo produtivo, comprovando que as vacinas produzidas com o IFA de Bio-Manguinhos/Fiocruz possuem a mesma eficácia, segurança e qualidade daquelas processadas com o Ingrediente importado, além das metodologias analíticas exigidas e as etapas do processo produtivo.

Esta é a última etapa regulatória para a obtenção da vacina 100% nacional. Em fases anteriores, a Anvisa já havia concedido as Condições Técnico-Operacionais (CTO) da infraestrutura de produção do Ingrediente e o Certificado de Boas Práticas de Fabricação (cBPF) para produção deste insumo. Além dos documentos que compuseram o pacote entregue à Anvisa para o pedido de alteração do local de fabricação do IFA, mais dados poderão ser apresentados no decorrer da análise da Agência.


Até o momento, foi concluída a produção de cinco lotes de IFA nacional, dos quais quatro foram liberados internamente e se encontram em estudos de comparabilidade analítica no exterior (foto: Bio-Manguinhos/Fiocruz)

Produção da vacina 100% nacional

Até o momento, foi concluída a produção de cinco lotes de IFA nacional, dos quais quatro foram liberados internamente e se encontram em estudos de comparabilidade analítica no exterior. No momento, outros três se encontram em processamento no Instituto.

O processamento final (formulação, envase, revisão, rotulagem e embalagem) dos lotes com o IFA nacional e as primeiras entregas das vacinas nacionais ocorrerão somente após a aprovação da alteração pós registro pela Anvisa e pactuação com o Programa Nacional de Imunizações (PNI), de modo a garantir a máxima validade das doses no momento da sua distribuição.






Autor: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 26/11/2021
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-submete-pedido-de-registro-da-vacina-covid-19-com-ifa-nacional

Comitiva de reis iorubás visita Fiocruz para retomar parceria

Em 2018, o rei dos povos iorubá, Ooni de Ifé, Oba Adeyeye Enitan Babatunde Ogunwus, visitou a Fiocruz e lançou a ideia de uma parceria no campo da medicina tradicional e de práticas integrativas da saúde. Com a pandemia de Covid-19, as conversas ficaram estacionadas, mas foram retomadas nesta quarta-feira (24/11) com a visita de uma comitiva do Palácio de Ifé à Fundação.

A delegação liderada pelos reis Ajero de Ijero (do estado de Ekiti) e Apomu de Alapomu (do estado de Osun), junto com a Casa Herança de Oduduwa, que representa o Palácio de Ifé no Brasil, demonstrou interesse em levar essa cooperação adiante. Embora a Nigéria seja uma República presidencialista, o rei de Ifé é o principal líder espiritual. Ele é considerado o herdeiro do trono de Oduduwa que, segundo a mitologia iorubá, é o criador do mundo, e os demais reinos no país são a ele ligados.




“Nossos países enfrentam desafios semelhantes. A Nigéria é considerada um mercado emergente pelo Banco Mundial. Mas enfrentamos muitos desafios para melhorar as condições de vida de nossa população. Nesse sentido, a cooperação com a Fiocruz será de grande ajuda", diz um trecho da carta do Ooni de Ifé lida pelo rei Ajero.

Na mensagem, o líder espiritual propõe uma parceria para a formação de agentes comunitários e treinamento de profissionais de saúde, além de pesquisa sobre os medicamentos à base de ervas e raízes. A carta sugere que a Fundação ajude a validar, por meio de protocolos, o uso dessa medicina tradicional, utilizada há séculos na região.

Representante da Vice-Presidência de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Patricia Canto Ribeiro destacou que os dois lados têm muito a aprender um com outro. E citou iniciativas de curto prazo que poderiam ser estabelecidas, como a implantação de um banco de leite humano na Nigéria. Outras ainda poderiam ser desenvolvidas no campo da educação e na pesquisa e desenvolvimento de novos fármacos.

Valber Frutuoso, assessor do Gabinete da Presidência para Relações Institucionais, que participou do evento junto com Augusto Paulo Silva, pesquisador do Centro de Relações Internacionais em Saúde (Cris/Fiocruz), disse que a Fundação trabalhará para dar prosseguimento às propostas apresentadas.

A recepção no Auditório do Centro Administrativo Vinícius da Fonseca, no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), foi seguida por uma palestra do médico e sacerdote Atinuke Fagoroye, conhecido como Dr. White, sobre o uso de plantas no tratamento de doenças, como diabetes e hipertensão. A palestra, em iorubá, teve tradução simultânea para português e foi transmitida pela Casa Herança Oduduwa por meio do YouTube, sendo assistida no Brasil e na Nigéria. O palestrante foi acompanhado ainda por outro sacerdote, o babalawo Adekunle Olokooba.





Autor: Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 26/11/2021
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/comitiva-de-reis-iorubas-visita-fiocruz-para-retomar-parceria

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

Startup Manda Bem baixa valor do envio para o mercado de e-commerce

A pandemia do novo coronavírus fez o comércio online no País crescer mais de 40% em 2020, segundo levantamento da Ebit-Nielsen, que monitora e mede a reputação das lojas virtuais do mercado brasileiro de e-commerce por meio de pesquisas. As vendas do comércio eletrônico em 2020 atingiram R$ 87,4 bilhões, um crescimento de 41% em relação a 2019. Outra tendência verificada foi o avanço dessa modalidade em cidades do interior, fato que contribuiu para aumentar em 30% o número de pedidos. No entanto, um dos principais gargalos para quem está começando a fazer vendas pela internet é o valor do frete, que muitas vezes pode afetar diretamente o consumidor, fazendo com que a compra não valha a pena.

Foi a partir de sua primeira experiência no e-commerce com a “Máquina de Camisa” que Marcos Castro idealizou seu segundo negócio. O primeiro projeto como empreendedor aconteceu após sua experiência na B2W, uma das maiores empresas de comercio eletrônico do Brasil. “A nova ideia surgiu da dor”, explica Marcos, que viu seu negócio ser inviabilizado devido à exigência de cota mínima de venda e por conta do valor elevado do frete, segundo ele, principais dificuldades de quem está começando.



Antenado às oportunidades de mercado, Castro conheceu o Programa Startup Rio, da FAPERJ, em 2014, quando foi criada a primeira turma do programa. Passou a frequentar o coworking na Rua do Catete 243, no bairro homônimo, e iniciou importantes encontros colaborativos, assistiu a palestras, e participava ativamente das trocas de experiências. Inscreveu um projeto na segunda turma do Startup Rio, mas não foi selecionado porque havia outro projeto semelhante mais adiantado. Foi apenas em 2017, na terceira turma, já na prorrogação das inscrições, que conseguiu inscrever e ter seu projeto não só contemplado, mas selecionado como um dos 10 cases de sucesso apresentados no Demo Day, evento que apresenta os melhores exemplos de um programa de aceleração de startups. Um novo reconhecimento chegou em 2021, quando a Manda Bem figurou na lista do prêmio 100 Startups To Watch 2021, promovido pela publicação Pequenas Empresas Grandes Negócios (PEGN).

A plataforma oferece a quem tem e-commerce tudo o que o iniciante mais precisa: descontos nos envios, logística reversa e ainda acompanha o envio. Segundo Marcos, quanto mais lojistas em sua plataforma ele consegue mais descontos, que variam de 20% a 60%, repassados aos clientes. Um exemplo é o Sedex local (para a mesma cidade), que no balcão dos Correios custa R$ 21,00 e na plataforma sai por R$ 9,77. A Manda Bem também cuida das devoluções ou trocas de produtos, a chamada logística reversa, uma vantagem bastante atrativa para os compradores; e também cuida de todo o processo de rastreamento do envio até chegar ao cliente final.

Castro: Fizemos um bem para todo o mercado, ao
forçar as empresas a também baixarem suas tarifas


“A pandemia contribuiu bastante para o nosso crescimento”, afirma Marcos, que saiu de 1000 clientes em abril de 2020 para 5000 no mesmo mês de 2021, atingindo mais de 120 mil envios/mês. Não é cobrada nenhuma taxa ou mensalidade para usar a plataforma, o cliente paga um percentual dos envios que gerar. Também não existe uma quantidade mínima de envios por mês. Nem é preciso ter CNPJ, basta o número do CPF para se cadastrar na plataforma. O pagamento é feito através do PayPal (cartão de crédito ou saldo em conta), momento em que são geradas as etiquetas de envio. Quem não possui conta no PayPal e não possui cartão de crédito pode gerar crédito na plataforma através de boleto, transferência bancária, ou PIX.

Mas como é que a equipe da plataforma, composta por 13 pessoas, ganha dinheiro? Fazendo diferença no mercado, atraindo clientes, gerando volume de envios e satisfação do cliente, resume Marcos. “Fizemos um bem para todo o mercado repassando os descontos quase integrais para os clientes, levando o preço do frete baixar”, esclarece Castro, que se prepara para em 2022 oferecer outras opções de envio além dos Correios, agregando algumas transportadoras. “O ser humano tem muita dificuldade para mudar, mas é estimulado quando se depara com uma vantagem”, justifica o empreendedor, que deixou a concorrência “sem margem de manobra”.

Bacharel em Direito pela PUC-Rio, o fundador da Manda Bem investe no crescimento orgânico da sua empresa, cuja marca é uma cegonha levando uma lâmpada (símbolo de uma ideia). Para isso, a maioria dos integrantes da sua equipe é de atendentes, pois em sua opinião o atendimento diferenciado gera indicações e o marketing boca a boca. O trabalho em home office, característico do setor de tecnologia, aos poucos vem dando espaço a encontros mensais com a equipe. Na próxima reunião, inclusive, Marcos conhecerá seu sócio Reginaldo Gomes, que mora em São João do Paraíso, município do interior ao norte de Minas Gerais.







Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 25/11/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4366.2.5

FAPERJ divulga o resultado da Chamada MAECI-Confap

 A FAPERJ divulgou nesta quinta-feira, 25 de novembro, a lista das propostas aprovadas no âmbito da Chamada para Cooperação Conjunta em Ciência e Tecnologia – Itália/Brasil (2019). A iniciativa é fruto da parceria entre o Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), a FAPERJ, como membro integrante deste conselho e o Ministério das Relações Exteriores e de Cooperação Internacional da Itália (MAECI).

Lançada em novembro de 2019, a chamada tinha por objetivo apoiar projetos de pesquisa bilateral entre equipes de pesquisadores brasileiros e italianos nas áreas de inteligência artificial, ciências básicas (química, física e matemática), doenças transmissíveis, energias renováveis, nutrição e doenças metabólicas, agricultura de precisão, ciências espaciais, produção sustentável e uso estratégico de minerais. As propostas deveriam ser elaboradas em conjunto pelos coordenadores dos dois países, em língua inglesa e ser submetida nas plataformas italiana e na brasileira, e no caso dos pesquisadores fluminenses, através do SisFAPERJ. A ação permitia a participação de equipes de diferentes estados em uma mesma proposta, desde que houvesse um coordenador principal definido pelo lado brasileiro.

“É com grande alegria que divulgamos o resultado desta chamada, retomando o histórico de cooperações frutíferas entre o Estado do Rio de Janeiro e a Itália. Esta foi, entre as chamadas internacionais, uma das mais concorridas na FAPERJ até hoje. Esperamos poder oferecer mais oportunidades de cooperação como esta no futuro", disse o presidente da FAPERJ, Jerson Lima.




“É de extrema importância que estes projetos multidisciplinares sejam apoiados, amplificando os esforços já empenhados pela comunidade científica brasileira”, ressalta a chefe do Departamento de Relações Internacionais da FAPERJ, Vania Paschoalin, celebrando a divulgação do resultado de mais uma chamada envolvendo projetos multilaterais. "Um dos projetos apoiados envolve sete instituições de pesquisa diferentes, três delas localizadas na Itália, duas em São Paulo (sendo financiadas pela Fapesp), uma em Minas Gerais e a Coppe/UFRJ no Rio de Janeiro."

Para esta chamada, inicialmente foram alocados recursos no valor de R$ 1.500.000,00, destinados a apoiar até 5 projetos. A FAPERJ realizou o procedimento de avaliação por pares, de fora do estado, durante a primeira etapa, recomendando 18 propostas, entretanto, apesar da demanda altamente qualificada e o número elevado de propostas recebidas, após a etapa final de julgamento em conjunto com os parceiros italianos e as outras FAPs, apenas 2 projetos foram recomendados. O período para realização dos projetos conjuntos de pesquisa deverá se dar entre 01/03/2021 a 01/03/2024;

Confira, no link abaixo, os dois projetos que receberão apoio da FAPERJ:

Resultado: Projetos em Cooperação com a FAPERJ - Chamada MAECI-Confap

Veja, abaixo, o resultado completo das propostas selecionados em todo o País:

Resultado: Chamada para Cooperação Conjunta em Ciência e Tecnologia – Itália/Brasil (2019)

* Os contemplados receberão um email da FAPERJ com mais instruções e deverão retornar o contato em até 15 dias, de forma a informar as novas datas de vigência e enviar os documentos atualizados. Outras dúvidas relacionadas deverão ser encaminhadas para assessoria.internacional@faperj.br




Autor: FAPERJ
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 25/11/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4381.2.0

Pesquisadores descobrem efeitos de planta da Amazônia contra o novo coronavírus

Uma planta encontrada na Amazônia pode se tornar uma aliada no combate ao novo coronavírus (SARS-CoV-2). Com o nome científico Siparuna cristata, a espécie (da mesma família daquela popularmente conhecida como limão-bravo) começou a ser investigada inicialmente por ter propriedades contra a gripe, em estudo coordenado pela pesquisadora Gilda Guimarães Leitão, do Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IPPN/UFRJ), e por Suzana Guimarães Leitão, docente da Faculdade de Farmácia da UFRJ. Na instituição, Suzana coordena o Laboratório de Fitoquímica e Farmacognosia, voltado ao estudo de plantas da biodiversidade brasileira. “Em estudo anterior do nosso grupo de pesquisa, confirmamos que o extrato em diclorometano da Siparuna cristata, uma planta medicinal reconhecida pela sabedoria popular no tratamento de gripes e resfriados, apresenta atividade anti-Influenza. Assim, passamos a investigar também os efeitos da planta contra o novo coronavírus. Devido à situação emergencial da Covid-19, a busca por substâncias anti-SARS-CoV-2 é fundamental para a saúde pública”, justificou Suzana, que vem realizando seus projetos com apoio da FAPERJ, por meio do programa Cientista do Nosso Estado.




O estudo teve como resultado a recente publicação de um artigo na revista científica Brazilian Journal of Pharmacognosy, intitulado "Flavonoids from Siparuna cristata as Potential Inhibitors of SARS‑CoV‑2 Replication" (https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs43450-021-00162-5). Em colaboração com as pesquisadoras Milene Miranda e Marilda Siqueira — ambas do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e coautoras do artigo —, elas investigam as propriedades de flavonoides (compostos bioativos com propriedades antioxidantes, antivirais, antibacterianas e anti-inflamatórias) presentes nos extratos da planta amazônica. Dois flavonoides (kumatakenina e a retusina) demonstraram uma promissora capacidade de inibir a replicação in vitro do coronavírus (SARS-CoV-2).

No Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do IOC, foram realizados os ensaios antivirais, usando dois modelos de células diferentes, a Vero (célula de rim de macaco) e a Calu-3 (modelo celular de pneumócito humano). Os flavonoides retusina e a kumatakenina foram capazes de inibir a replicação do vírus SARS-CoV-2 nos modelos celulares, com resultados mais expressivos que aqueles obtidos nos ensaios comparativos realizados com os medicamentos que vêm sendo testados por grupos de pesquisa internacionais em casos de infecções por coronavírus (a combinação de lopinavir e ritonavir).

"A retusina foi a molécula com melhor desempenho em nosso ensaio antiviral in vitro. Comparando esta molécula com a combinação Lopinavir/ritonavir, inibidores da protease viral, o resultado foi superior nas células Vero em mais de 1200 vezes e na Calu-3 em mais de 400 vezes", disse Milene. “Esses resultados mostram a relevância dos estudos de bioprospecção da nossa biodiversidade para a busca de potenciais novos fármacos", completou Suzana.


Detalhe da retusina em pó: o flavonoide se destacou pela sua capacidade de inibir, in vitro, a replicação do novo coronavírus

Os flavonoides foram isolados pela doutoranda Carla Monteiro Leal, do Programa de Biotecnologia Vegetal da UFRJ, no Laboratório de Fitoquímica e Cromatografia Contracorrente, coordenado por Gilda Guimarães Leitão, no Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais Walter Mors (IPPN/UFRJ). “Usamos a cromatografia contracorrente, técnica muito empregada para separação e purificação na indústria farmacêutica. Por cromatografia líquida e análise de espectrometria de massas, descobrimos a composição química detalhada dos extratos da planta”, contou Gilda.

O grupo contou, ainda, com a colaboração da química Manuela Leal da Silva, do Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade Nupem/UFRJ, em Macaé, e seus alunos de pós-graduação do PPGMCF/UFRJ e do PGBCS/IOC/Fiocruz, para a realização de estudos in sílico, que revelaram os flavonoides como possíveis inibidores das proteases de SARS-CoV-2, e da farmacêutica Rosineide Costa Simas, especialista em espectrometria de massas e professora visitante na Faculdade de Farmácia entre 2017 e 2019.

Trata-se de um resultado promissor, que precisa de continuidade para chegar à etapa de ensaios clínicos. “Precisamos de mais estudos, incluindo testes toxicológicos, para avançar para a realização de ensaios clínicos, com pessoas. Sabemos do potencial da biodiversidade brasileira. O Brasil é detentor de uma das mais importantes biodiversidades do mundo e queremos dar continuidade a esse projeto. O estudo coloca em nosso horizonte a possibilidade de aplicação de flavonoides metilados, como a retusina, para o desenvolvimento de uma terapia antiviral no tratamento de Covid-19”, concluiu Suzana.

Assinam o artigo: Carla Monteiro Leal, Suzana Guimarães Leitão, Romain Sausset, Simony C. Mendonça, Pedro H. A. Nascimento, Caio Felipe de Araujo R. Cheohen, Maria Eduarda A. Esteves, Manuela Leal da Silva, Tayssa Santos Gondim, Maria Eduarda S. Monteiro, Amanda Resende Tucci, Natália Fintelman‑Rodrigues, Marilda M. Siqueira, Milene Dias Miranda, Fernanda N. Costa, Rosineide C. Simas e Gilda Guimarães Leitão.






Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 25/11/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4380.2.5

segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O cientista brasileiro que descobriu o maior cometa já visto no Universo: 'Foi pura sorte, um acaso'



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O cosmólogo brasileiro Pedro Bernardinelli descobriu o maior cometa já conhecido pela humanidade

Quando iniciou seu doutorado nos Estados Unidos, o cosmólogo Pedro Bernardinelli, de 27 anos, não esperava encontrar cometas. "A ideia não era essa. O que aconteceu foi sorte mesmo", diz. Em abril deste ano, ele encontrou um enorme astro em uma tabela cheia de dados sobre objetos espalhados pelo Universo. Mas não apenas isso: era o maior cometa conhecido pela humanidade, cerca de 2,5 vezes maior que o detentor do recorde anterior.


Dias depois, o então cometa C/2014UN271 mudou de nome para Bernardinelli-Bernstein, homenagem ao cientista brasileiro e a seu orientador no doutorado, Gary Bernstein. "Houve um processo para a troca de nome, mas durou poucos dias. Me pediram para guardar segredo. Foi uma experiência engraçada", conta.


O novo astro já tinha sido detectado pela primeira vez em 2014, mas havia poucos informações sobre ele. Até este ano, ele era apenas um pontinho luminoso em milhares de fotos do céu tiradas por telescópios que observam o universo. Por isso levava a alcunha provisória, um número. Agora, a partir da análise do brasileiro, sabemos que ele tem cerca de 4,5 bilhões de anos e um diâmetro de 150 km (distância entre Rio de Janeiro e Cabo Frio ou São Paulo e Bertioga), o maior já registrado.



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O cometa deve chegar no ponto mais próximo do Sol em janeiro de 2031

Ele também está vindo na direção da Terra, mas não há com o que se preocupar. Os dados mostram que o cometa chegará ao ponto mais próximo do Sol em janeiro de 2031, e, ainda assim, será a uma distância de 11 UAs (cerca de 1,5 bilhões de quilômetros, próximo da órbita de Saturno).


"Uma piada que costumo contar: falar que esse objeto está vindo na direção da Terra não é errado, porque ele realmente está. Mas é a mesma coisa que falar que, toda vez que recebo meu salário, minha fortuna chega perto da fortuna do Silvio Santos. Tecnicamente está certo, mas não quer dizer que vai chegar lá", brinca o cosmólogo.


O brasileiro integra o Dark Energy Survey (DES), uma iniciativa com estudantes de universidades de oito países, incluindo o Brasil. De maneira colaborativa, o objetivo do grupo "é mapear centenas de milhões de galáxias, detectar supernovas e encontrar padrões de estrutura cósmica que podem revelar a natureza da energia escura que está acelerando a expansão do Universo", segundo site da iniciativa.


Segundo o DES, o cometa descoberto pelo brasileiro é "cerca de 1000 vezes mais massivo do que um cometa típico, tornando-o indiscutivelmente o maior cometa descoberto nos tempos modernos".

Descoberta 'por acaso'



CRÉDITO,DARK ENERGY SURVEY
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Telescópio Blanco, no Chile, tem sido usado para a descoberta de novos astros no Universo


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Fim do Podcast


O doutorado e o projeto de pesquisa de Bernardinelli tinham outro foco: medir o tamanho de galáxias e a influência da matéria escura no Universo.


Mas em uma análise com dados reunidos nos últimos seis anos, ele e outros colegas começaram a encontrar alguns "objetos transnetunianos", astros que estão além da órbita de Netuno, o oitavo planeta do Sistema Solar.


"A grande graça desses objetos é que eles são uma espécie de entulho da formação do Sistema Solar, são os restos que foram chutados para longe. Vale muito a pena estudá-los porque, com eles, é possível reconstruir a história do Sistema Solar", diz.


Neste ano, Bernardinelli se deparou com um cometa maior e um pouco mais próximo do que Netuno enquanto analisava uma tabela com milhares de números que representam astros detectados em imagens feitas por telescópios.


"Foi pura sorte, um acaso. Ele estava bem no limite do que era possível recuperar com os dados. Foi bem óbvio que era algo diferente", conta.


O cometa logo chamou atenção da comunidade de cosmólogos por ser um típico astro vindo da Nuvem de Oort, uma região nos confins do Sistema Solar (depois de Urano e Netuno) e supostamente ocupada por bilhões de objetos que orbitam o Sol.


As órbitas desses astros são consideradas "excêntricas": elas podem chegar muito perto do Sol e, em seguida, ficar extremamente distantes. A maioria dos cometas de ciclo longo, vindos da Nuvem de Oort, leva milhares e até milhões de anos para completar essa volta em torno da estrela.


No ano passado, um cometa chamado C/2002 F3 (Neowise), vindo da Nuvem de Oort, pôde ser visto da Terra durante o verão no hemisfério Norte. Foi uma oportunidade única, pois ele só passará novamente pelo planeta daqui a 6,8 mil anos.


Já o Bernardinelli-Bernstein, com uma orbita "achatada", tem um caminho ainda mais demorado. "Sabemos que ele teve uma passagem dentro do Sistema Solar há cerca de 3,5 milhões de anos e que objetos como ele foram chutados para a Nuvem de Oort há 4,5 bilhões de anos. Então estimamos que ele tenha essa idade", diz o cientista.


O cometa terá seu periélio (momento em que chega mais próximo do Sol) em 21 de janeiro de 2031. "É quando ele fica mais brilhante para quem está observando da Terra", diz Pedro Bernardinelli.


Esse período de dez anos para o periélio é um ponto positivo da descoberta, segundo o cosmólogo. "A gente pegou esse objeto muito distante do Sol, e isso não é sempre que acontece. A gente ainda não entende o que os cometas fazem quando estão muito longe do Sol. Temos dez anos para monitorá-lo, é uma oportunidade incrível", diz.


A partir de 2023, um observatório chamado LSST (Large Synoptic Survey Telescope), no Chile, cujo objetivo é achar objetos no Universo, passará a tirar fotos do céu inteiro a cada três dias. Para o cientista brasileiro, a iniciativa ajudará a entender melhor o cometa que leva seu nome. "A melhor maneira de descrever é que teremos uma foto dele a cada três dias, teremos um filme dele se mexendo pelo Universo", explica.



CRÉDITO,NOIRLAB/NSF/AURA/J. DA SILVA
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Apelidado de Bernardinelli-Bernstein, corpo celeste tem 150 km de diâmetro, mas não vai colidir com nosso planeta

Trabalho 'chatíssimo'


Pedro Bernardinelli nasceu em Itaquera e cresceu na Vila Matilde, ambos na periferia da zona leste de São Paulo. "Quando chegou o vestibular, eu gostava de física e computadores, então escolhi Física, porque aliava os dois", conta.


Ele entrou na USP e se formou em 2015. Já durante a graduação, quando começou a estudar o Universo, um professor o convenceu a pular o mestrado e tentar uma bolsa de doutorado em alguma universidade dos Estados Unidos. Conseguiu na Universidade da Pensilvânia, onde passou a integrar o Dark Energy Survey.


O trabalho de um cosmólogo em si, diz o cientista, pode ser bastante entediante. Portanto, não é verdadeira aquela imagem de uma pessoa comum que descobre um cometa que vai destruir a Terra olhando por um telescópio na janela de casa (como no filme-catástrofe Impacto Profundo).


"Não é assim que funciona. Na verdade você fica dias e dias olhando tabelas com milhares de números e tenta encontrar alguma coisa ali. O trabalho é basicamente processar dados em um supercomputador", diz.


Aconteceu assim com o próprio cometa Bernardinelli-Bernstein. "Depois da tabela, o processo de verificação foi essencialmente ficar horas e horas olhando imagens em preto e branco com uma bolinha bem fraca no meio para ver o que era esse objeto", explica.


"Isso é uma coisa chatíssima. Eu tinha que parar a cada meia hora, abrir a janela para descansar a vista, já estava vendo tudo em preto e branco", conta.


Nos últimos meses, Bernardinelli iniciou um pós-doutorado na Universidade de Washington, em Seattle. Agora, pretende estudar melhor o cometa que leva seu nome. Há muitas coisas a descobrir, diz.


"Ainda não entendemos o que os cometas fazem longe do Sol. Estamos interessados em saber quais são os processos que ocorrem na superfície desses objetos, como o derretimento do gelo quando há aproximação do Sol", explica.


O cosmólogo e outros cientistas também querem saber quantos desses astros existem. "Esse é o primeiro cometa desse tamanho já visto. Mas ele é único ou há outros? Qual é a população desses objetos no Sistema Solar?", questiona.






Autor: Leandro Machado
Fonte: BBC News Brasil em São Paulo
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 20/11/2021
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59269265

A luta de jovem com autismo para permanecer no automobilismo brasileiro



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Dimitry Fernandes afirma que se sente realizado quando corre


Quando pilota o kart, o jovem Dimitry Fernandes Kalinowski experimenta uma sensação que classifica como a melhor da vida. "Eu recebo uma injeção muito grande de endorfina, por isso gosto muito", diz à BBC News Brasil.


Primeiro piloto com autismo registrado na Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA), o jovem considera que a pista representa a liberdade. O maior sonho dele é conseguir cada vez mais destaque no esporte a motor.


Mas Dimy, como é chamado pela família, convive com a incerteza sobre o seu futuro na modalidade, que tem custos elevados. Ele, que mora em Cuiabá (MT), não possui nenhum tipo de ajuda externa e a sua família não tem recursos financeiros para auxiliá-lo por muito tempo.

Em meio às dificuldades, o jovem tem um apoio fundamental: o da mãe, a nutricionista Branca Fernandes. "Eu sei que ele tem capacidade para ser um piloto diferente e luta para isso", diz ela.


Neste ano, Dimy participou da sua primeira competição. O início da concretização do sonho também foi um momento em que as dificuldades enfrentadas por ele ficaram mais claras. Isso porque o jovem se envolveu em um acidente na disputa, ficou machucado, quebrou o kart e não sabe quando voltará a correr.

Apesar dos empecilhos, o jovem não cogita abandonar o automobilismo.



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Jovem sonha em ser piloto desde a infância

O início do sonho das pistas


Os automóveis encantam Dimy desde pequeno. O garoto, que nasceu e passou parte da infância em Curitiba, costumava acompanhar o automobilismo pela televisão e dizia que se tornaria piloto.



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Aos quatro anos, os pais deram um carro elétrico, uma pequena réplica da Ferrari, para ele. Pouco depois, Dimy deu a sua primeira volta de kart em uma pista de um shopping center. "Passei a correr nessa pista de kart ocasionalmente, quando algum familiar me levava", diz o jovem.


A paixão pelo esporte a motor cresceu cada vez mais. Ele gostava de ver carros, escutar barulho de motos e acompanhar corridas. Com frequência, insistia para que familiares o levassem para correr em kartódromos de forma amadora.


"Com oito anos, pedi ao meu pai para abandonar a escola e ser piloto, mas ele não aceitou", conta. Dimy diz que posteriormente pediu outras vezes para parar de estudar e se dedicar exclusivamente ao automobilismo, mas os pais não concordaram.


Ele afirma que se sentiu frustrado com a situação. "Eu não conseguia aceitar que teria que ser outra coisa que não fosse piloto. Cheguei até a tentar suicídio aos 11 anos. Como sobrevivi, pensei: é melhor seguir em frente", diz.


Então, ele continuou participando de disputas amadoras. Segundo Branca, o filho sempre se destacava nessas competições e recebia elogios.

O autismo

O modo como lidava com o interesse pelo automobilismo, que fazia com que não desse atenção a outros temas, fez sentido para Dimy e para a mãe dele por causa de um diagnóstico que ele recebeu aos 15 anos: Transtorno do Espectro Autista (TEA), popularmente conhecido como autismo.



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Branca diz que desde que o filho era pequeno desconfiava que ele pudesse ser autismo


O transtorno é uma desordem complexa no desenvolvimento cerebral — há diversos estudos para apurar a origem, mas não há uma conclusão até o momento. Entre as características do TEA estão dificuldades de socialização e comunicação, comportamentos repetitivos e interesses restritos.


A descoberta do autismo em sua vida fez com que Dimy passasse a interpretar o automobilismo como o seu hiperfoco, ou interesse restrito, que é a capacidade que pode ser desenvolvida por pessoas com TEA para manter a atenção voltada para um interesse específico — como idiomas, astronomia ou música.


O jovem afirma que o diagnóstico representou um melhor entendimento sobre si. "Fez muita diferença pra mim. Eu sabia que era diferente, desde criança, e isso serviu para explicar o motivo", diz.


Para Branca, o diagnóstico foi a resposta sobre uma dúvida que surgiu nos primeiros anos do filho. Ela conta que sentia falta do contato visual com o garoto durante a amamentação. "Ele ficava muito alheio a tudo e também parecia que era surdo", diz. Ela desconfiou que pudesse ser autismo, mas os médicos que atenderam o garoto descartaram a possibilidade.


Na escola, Dimy também apresentava traços de autismo, como a dificuldade de interação com os colegas. Uma professora chegou a falar para a mãe que ele não era igual às outras crianças.


"Parecia que não existia mais ninguém além dele e ele não interagia. O Dimy também tinha uma irritabilidade acima do comum e era muito birrento, insistia em algo mesmo que fosse inviável. Hoje, olhando para trás, vejo que esses pontos eram algumas das características do autismo", comenta Branca.


A mãe conta que conseguiu o diagnóstico do filho somente quando procurou um especialista no tema, após ler sobre o autismo quando o filho era adolescente.


"Eu já achava que estava errada em pensar que ele é autista, depois de tantas pessoas terem me dito que ele não era. Mas quando li mais detalhes sobre o autismo em uma revista, voltei a ter essa dúvida, porque aquelas características descritas batiam com o Dimy. Foi quando procurei um especialista no tema", detalha Branca.


O autismo é classificado em diferentes níveis. Isso varia conforme as dificuldades do indivíduo. O grau do transtorno é classificado em leve, moderado ou severo, e varia de acordo com o quanto a pessoa precisa de suporte.



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Mãe é a maior incentivadora do filho no automobilismo


No caso de Dimy, Branca detalha que o filho tem o nível moderado, por precisar de apoio frequente para atividades do cotidiano. "Eu preciso estar junto com ele em tudo o que envolve interação com outra pessoa", diz a mãe dele.

Um piloto com TEA


Após o diagnóstico, Branca decidiu apoiar o jovem no automobilismo, ao perceber que ele não desistiria da ideia de se tornar piloto. "Quando ele terminou o ensino médio e ficou em casa, sem querer mais nada que não fosse ser um piloto, eu vi que não haveria outra opção", explica.


Em meados de 2017, pouco mais de um ano após o jovem terminar o ensino médio, Branca e o filho foram atrás de um kart. O preparador técnico Sérgio Lima relembra do primeiro contato que teve com Dimy. "Ele apareceu na pista junto com a mãe e os dois começaram a me fazer perguntas sobre o kart. Eu fui respondendo e ele parecia cada vez mais fascinado", conta Lima.


Depois desse contato com o preparador, Dimy ganhou o primeiro kart. Era um modelo considerado antigo, mas era o único que a mãe tinha condições para comprar.


Lima passou a acompanhar Dimy nos treinamentos. "A dedicação, a concentração e o desejo de pilotar um carro de corrida que a gente enxerga nele são muito maiores do que nos outros", afirma o preparador técnico, que acredita que Dimy pode ter um futuro brilhante no automobilismo se receber incentivo para isso.


O neurocirugião Virgílio Vilá Moura, que conhece e acompanha Dimy há três anos, frisa que o paciente não tem qualquer dificuldade com o automobilismo por ser autista. Segundo o médico, a atividade ajuda o jovem a progredir em relação à "postura social, na interação e na capacidade de resolução de problemas".


O médico ressalta que cada paciente com autismo deve ser analisado individualmente em cada atividade feita, para avaliar os impactos disso para o indivíduo.



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Dimy (com o kart de número 88) participou do primeiro campeonato de kart meses atrás


No caso de Dimy, o neurocirurgião reforça que o automobilismo é o hiperfoco do jovem e destaca que a atividade traz um grande desafio para o jovem quando ele está fora da pista e precisa interagir com outras pessoas. "Essa é uma das maiores dificuldades dos pacientes com o TEA. Ou seja, vivenciar o kart é uma terapia para o Dimy", afirma Moura.


"Não existe tratamento medicamentoso para o autismo, por isso é necessária uma abordagem multiprofissional (com especialistas de diferentes áreas). Isso fica mais difícil à medida que o paciente se torna adulto, pois a grande dificuldade é justamente conviver e ser funcionalmente ativo na sociedade", acrescenta o neurocirurgião.


A interação é o maior empecilho para Dimy no esporte. Para isso, ele precisa do apoio intenso da mãe. "Ele não vai à pista de corrida sem mim. Ele não depende de mim para pilotar, mas preciso estar ali pra conversar com um mecânico ou em tudo o que envolve interação com outra pessoa, para garantir que ele entendeu o que foi dito. De repente, uma pessoa pode falar algo brincando e ele, como autista, achar que é pra valer".


Dimy treinou poucas vezes desde que ganhou o primeiro kart, em razão dos custos elevados na modalidade.


Segundo Branca, os gastos mensais não saem por menos de R$ 2,5 mil por mês, caso o jovem corra com frequência. "Isso inclui manutenção, combustível e custo com treinador. Como eu não tinha condições para pagar sempre, o Dimy fez somente seis treinos entre 2017 e o início de 2021", diz.

A filiação na Confederação de Automobilismo


Neste ano, Dimy conseguiu fazer muito mais treinos do que no passado, porque a mãe dele comprou um kart mais moderno para o filho e teve recursos para pagar os custos necessários para o jovem correr.



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Jovem piloto sonha em conseguir patrocínio para seguir no automobilismo


Branca conta que usou parte do valor da venda da casa da família, após se divorciar, para conseguir arcar com esses custos relacionados ao sonho do filho.


O novo kart, que era seminovo, passou a ser usado por Dimy em julho deste ano. No período, o jovem logo iniciou treinamento intenso. Um mês depois, em meados de agosto, ele participou de uma etapa do campeonato Campeonato Mato-grossense de kart.


O jovem conquistou o quinto lugar na competição, que foi realizada em um kartódromo de Várzea Grande, na região metropolitana de Cuiabá. "Foi uma boa posição, porque ele competiu com outras 18 pessoas. Ele ficou na frente de gente que pilota há anos", diz Branca.


O resultado poderia ser ainda melhor, comenta a mãe do jovem. Porém, segundo ela, Dimy passou boa parte da prova segurando a lateral do kart após o veículo apresentar problema no meio da disputa. "Isso fez com que o kart dele perdesse velocidade", justifica Branca.


No mesmo dia dessa primeira corrida dele, Dimy recebeu a sua carteira de filiado à Confederação Brasileira de Automobilismo. O jovem conta que em maio deste ano conseguiu se filiar à CBA e a carteira foi entregue posteriormente para oficializar o fato.


Ele é filiado à confederação na classe Piloto Portador de Necessidade Especial. Criada em 2014, essa categoria da CBA já teve 58 filiados. Segundo a confederação, Dimy é o primeiro piloto apontado como autista. Para conseguir se filiar, o jovem precisou encaminhar um laudo médico no qual comprovou que tem condições de pilotar.


A CBA explica, em nota à BBC News Brasil, que para uma pessoa com necessidade especial ser aceita na confederação é preciso avaliar a intensidade da deficiência dela. "No âmbito do esporte a motor, sob a alçada da Confederação Brasileira de Automobilismo, há pilotos filiados com deficiência física, sensorial, intelectual, visceral", diz comunicado da confederação.



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Dimy ficou em quinto lugar em corrida da qual participou em agosto

O acidente e a luta para seguir no automobilismo


No fim de setembro, Dimy correu em mais uma etapa do Campeonato Mato-grossense de kart. Mas ele não concluiu a disputa, porque o automóvel do jovem teve novos problemas, dessa vez ainda mais graves.


"O meu kart estava muito complicado para pilotar na corrida. O banco estava quebrado, mas meu mecânico tentou arrumar. O freio também estava com problema. O bico do meu kart estava amassado, torto e arrastando no chão, por isso a roda levantava. Eu não consegui ficar com as quatro rodas no chão", detalha Dimy.


O jovem conta que esses problemas surgiram durante a corrida, porque até então o veículo parecia apto para a disputa. "Essas coisas acontecem. Fui pilotando do jeito mais ousado possível, mas foi muito difícil e cansativo", diz Dimy.


Enquanto corria, ele perdeu o controle do veículo. "O kart embicou, ficou na perpendicular e fui arremessado para fora da pista", detalha Dimy.


No acidente, ele tentou se proteger e acabou fraturando a mão esquerda. Semanas depois, Dimy precisou passar por uma cirurgia e segue em recuperação até o início de 2022. "Nesse período tenho que ficar com o braço engessado, não posso pilotar ou fazer qualquer atividade física", diz o jovem.


Ele ainda não sabe se voltará a correr com o kart que pilotava no acidente. "O que sei é que está quebrado. Talvez tenha conserto, mas não sei detalhes porque ainda não vi isso", explica.


A única certeza que ele tem sobre o futuro é que deseja voltar a pilotar o quanto antes. Ele considera que cada período longe das pistas é um tempo a menos para avançar no automobilismo. "É triste ter que esperar mais um pouco, porque agora era o meu começo", lamenta.


O tempo é um fator que preocupa muito o rapaz, porque ele teme que as pessoas o considerem "muito velho" para um iniciante. Por isso, prefere não revelar a idade, por medo de perder patrocinadores por não ser mais tão novo como os outros que estão iniciando na atividade agora. O jovem limita-se a dizer que tem mais de 20 e menos de 25 anos.


O kart, diz Dimy, é o seu passo inicial no automobilismo, assim como foi para grandes nomes como o piloto Ayrton Senna, que se destacou na Fórmula 1.


"Se eu puder escolher, quero chegar à Fórmula Indy, mas não é necessariamente um objetivo, o importante é avançar para outra categoria", diz. "O meu objetivo principal é um dia ganhar a vida com o automobilismo, receber para correr e poder viver disso", acrescenta o jovem.


Cada pequeno avanço de Dimy no automobilismo é uma enorme vitória para a mãe dele. Por diversas vezes, ela ouviu comentários de pessoas próximas que a aconselharam a fazer o jovem desistir de ser piloto.


"Muitos duvidaram, disseram que ele deveria abandonar esse sonho, porque achavam que era ilusão, e falavam para buscar outra área. Falavam: já que ele gosta de automobilismo, por que não tenta engenharia mecânica? Por que não trabalha como mecânico em uma oficina?", diz Branca.


Nunca teve outra opção para Dimy, diz a mãe. Isso é um temor para ela, que teme que o filho se sinta muito frustrado caso não consiga prosseguir com a carreira. "É um medo que eu tenho", diz Branca.


Ela e Dimy frisam o quanto o jovem precisa de patrocínio: sem isso, dizem, a carreira dele acaba por falta de recursos. "Já tentei diferentes patrocínios nos últimos anos, mas nunca consegui nada", lamenta o piloto.


"O meu filho é um talento que está sendo desperdiçado por falta de oportunidades. Isso me dói", diz Branca.


Além do prazer que sente com a velocidade, Dimy destaca que se sente acolhido no automobilismo. "Já sofri muito na escola por reagir como autista. No automobilismo nunca sofri nada assim, sempre me receberam muito bem e sou muito respeitado".


E o jovem afirma que hoje não corre apenas por si, mas também para representar outros autistas. "A mãe de um menino de seis anos, que também tem autismo, me procurou para falar que ele conheceu a minha história (em reportagens locais), achou incrível e ele também quer ser piloto", conta Dimy. "Acabo me tornando exemplo também", diz o jovem.






Autor: Vinícius Lemos - @oviniciuslemos
Fonte: BBC News Brasil em São Paulo
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 19/11/2021
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-59115028