Projetos minerários
Representante da sociedade civil na câmara técnica do Conselho Ambiental de Minas, Maria Teresa Corujo foi a única a votar contra ampliação da mina de Feijão, onde ocorreu o rompimento da barragem
Por Alice Maciel, Agência Pública
Apenas um projeto minerário foi barrado na câmara técnica do Conselho Estadual de Política Ambiental de Minas Gerais (Copam) em 40 reuniões realizadas entre fevereiro de 2017 e janeiro de 2019, revelou Maria Teresa Corujo, representante do Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas (Fonasc), em entrevista à Agência Pública.
Ela foi a única componente da Câmara Técnica Especializada em Mineração (CMI) que votou contra a ampliação e continuidade até 2032 das minas de Jangada e Córrego do Feijão, localizadas em Brumadinho, na grande Belo Horizonte, em 11 de dezembro de 2018, que terminou com placar de 8 a 1 para a Vale/SA. Ontem, pouco mais de um mês depois, a barragem da mina Córrego do Feijão se rompeu espalhando um mar de lama. Foi como um déjà vu do desastre de Mariana ocorrido em novembro de 2015, aumentando ainda mais o temor de todos os mineiros que moram na mira de uma barragem de rejeitos.
O órgão é composto por 13 membros, sendo cinco representantes do governo do Estado, dois do governo Federal, três de entidades ligadas ao setor produtivo – Instituto Brasileiro de Mineração, Sindicato da Indústria Mineral do Estado de Minas Gerais, Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Estado de Minas Gerais – e outros três divididos entre Fonasc, Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais e Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea). “Nunca vi nenhum licenciamento que não tenha sido aprovado, com exceção da última reunião em que foi o meu suplente, do dia 16 de janeiro [passado], quando apareceu um parecer da Supram (Superintendência Regional de Meio Ambiente) pelo indeferimento e eles votaram pelo indeferimento. Eu até estranhei porque todos os outros foram aprovados. Foi o primeiro parecer que eu vi em 40 reuniões da CMI que era pelo indeferimento”, diz.
Segundo Maria Teresa, considerada a única ambientalista que representa a sociedade civil no grupo, a maioria de seus colegas costumam seguir os pareceres da Secretaria de Meio Ambiente, como no caso envolvendo a mina de Córrego do Feijão, em que os técnicos do Estado foram favoráveis ao empreendimento, apesar de denúncias contrárias ao projeto feitas por organizações da sociedade civil.
A mineradora saiu da reunião com todas as licenças necessárias para seguir adiante com seu projeto. De acordo com a ata, também foi pauta de debate durante a votação o fato de o empreendimento, antes com classe 6 (grande porte e potencial poluidor), ter passado para classe 4 (médio impacto ambiental), o que facilita a obtenção da licença ambiental por mais dez anos.
Como foi a aprovação das licenças de ampliação das minas de Jangada e Córrego do Feijão?
Em dezembro fizemos tudo para que não houvesse aquela licença, ainda mais [porque era] uma licença ao mesmo tempo prévia, de instalação e operação, tudo no mesmo dia. Com classe 4, um empreendimento que sempre foi classe 6, e uma ampliação para aumentar a produção em mais de 70%. Nós fizemos tudo que era possível, não adiantou de nada e teve a licença.
Dependentes do rio Doce, com medo da água – Mais de dois anos após o desastre que enlameou o rio Doce com rejeitos da mineração, a população de Governador Valadares espera a retomada dos processos na Justiça e não confia na qualidade do que chega às torneiras
Vocês têm conhecimento se a Vale S/A já tinha iniciado as obras de ampliação?
Não vamos poder saber se com essa licença na mão, eles começaram a mexer alguma coisa nessa barragem que rompeu. Pode ser que eles tenham começado outras partes dessa ampliação. Isso nós não vamos saber, a Vale nunca vai dizer. O importante é que na época nós questionamos a forma como estava sendo licenciado [o projeto] a toque de caixa porque muitas questões graves tinham que ser tratadas antes. Por exemplo, não foi apresentado balanço hídrico para saber se essa ampliação iria continuar consumindo muita água subterrânea, impactando aquíferos, se isso não ia precipitar mais ainda a segurança hídrica ali do entorno. A comunidade Córrego do Feijão já depende de caminhão pipa várias vezes por ano, [o município de] Casa Branca tem tido problema de acesso à água. Nós apontamos várias questões graves e dissemos que, antes de qualquer ampliação daquele complexo, tinha que ter uma avaliação sistêmica de tudo aquilo para não se tomar decisões sem o devido cuidado.
Qual foi a reação dos outros conselheiros em relação às denúncias apresentadas pelo Fonasc?
O empreendedor e os técnicos da Suppri, que é Superintendência de Projetos Prioritários do Estado, davam o tempo todo a entender que estava tudo certo, que o controle ambiental estava ótimo, que as medidas mitigadoras estavam ok, que estava perfeito aquele complexo, que era um exemplo. [Isso] para desqualificar a preocupação manifestada por nós e pelas pessoas que se manifestaram. Se o complexo Jangada/ Feijão estava tão ótimo que podia ter uma ampliação como classe 4, e ao mesmo tempo receber LP (licença prévia) mais LI (licença de instalação) mais LO (licença de operação), como se justifica o rompimento dessa barragem hoje? E outra coisa: essa barragem estava com estabilidade garantida pelo auditor, igualzinho a de Mariana, que também tinha estabilidade garantida.
Como você avalia a aprovação de projetos minerários pelo Conselho?
Nós estamos em uma situação catastrófica porque temos um estado (Minas Gerais), qualquer que seja o governo, que dá pareceres a favor de conceder licenças para projetos minerários com barragens, mas diz que não tem responsabilidade sobre o que o empreendedor apresenta nos estudos, sobre a tecnologia, e sobre as barragens. Isso o estado fala o tempo inteiro ‘que isso é responsabilidade do DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral). O DNPM diz que não tem funcionários suficientes para fiscalizar todas as barragens, mas [diz] que o empreendedor apresentou todos os documentos pedidos. E nós temos um Crea, lá no Conselho, que diz que a parte deles é só ver se os Arts (Anotações de Responsabilidade Técnica) foram apresentados. E nós temos barragens sendo licenciadas e ampliações a rodo. Ninguém querendo pagar o pato do que aconteceu.
Algum licenciamento já foi barrado no Conselho de Atividade Minerária?
Nunca vi nenhum licenciamento que não tenha sido aprovado, com exceção da última reunião em que foi o meu suplente, do dia 16 de janeiro, quando apareceu um parecer da Supram (Superintendência Regional de Meio Ambiente) pelo indeferimento e eles votaram pelo indeferimento. Eu até estranhei porque todos os outros foram aprovados. Foi o primeiro parecer que eu vi em 40 reuniões do Conselho que era pelo indeferimento.
Na sua avaliação, de quem é a responsabilidade desta tragédia?
A responsabilidade é compartilhada. O Estado tem responsabilidade porque ele é o órgão licenciador, cabe a ele fiscalizar, e cabe a ele apresentar os tais pareceres, e ele apresenta sempre a favor – tanto é que ele apresentou a favor desse complexo. O DNPM tem responsabilidade porque ele é quem trata da questão da segurança de barragens, de todo o complexo de barragens. O Crea, nós entendemos que iria se posicionar de uma forma mais crítica. O que adianta essas anotações de responsabilidade técnica, desse tanto de papelada. Esse monte de papelada adiantou para evitar mais essa tragédia?
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/01/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/30/projetos-minerarios-nao-sao-barrados-em-minas-diz-conselheira-representante-da-sociedade-civil/
quarta-feira, 30 de janeiro de 2019
Cerrado é o bioma brasileiro com maior taxa de desmatamento, diz estudo
Cerrado – Região possui apenas 7,7% de seu território integrado às áreas públicas de proteção integral, enquanto 45% da superfície original é ocupada por pastagens e cultivos agrícolas
Conhecido como a “savana brasileira”, o Cerrado é o bioma que vem sendo mais impactado pelo desmatamento no País. Cerca de 10 mil km² são devastados na região por ano, o que corresponde a 1 milhão de campos de futebol – área equivalente a quase duas cidades de Brasília. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o Cerrado está sendo desmatado cinco vezes mais rápido que a Amazônia, bioma com o dobro de extensão. Entre os fatores que favorecem essa exploração está a vegetação de pequeno e médio portes do Cerrado, que pode ser retirada com maior facilidade.
A derrubada de vegetação nativa, a expansão rural e a baixa quantidade de áreas protegidas faz com que o Cerrado seja uma das principais fontes de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) no Brasil: 7 bilhões de toneladas de gases nos últimos 30 anos. Atualmente, 45% da área original é ocupada por pastagens e cultivos agrícolas, enquanto apenas 7,7% do território possui áreas públicas com proteção integral para conservar habitats naturais. Dados do Ibama indicam que 900 multas por desmatamento na região foram aplicadas em 2018.
Na análise do gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, André Ferretti, as estratégias de conservação no bioma devem ser revistas para garantir menor impacto. “A exploração desordenada do Cerrado prejudica a regulação climática, a preservação da biodiversidade e o equilíbrio hidrológico, já que a região é berço das nascentes das principais bacias hidrográficas do País. É preciso conservar áreas naturais existentes, ecossistemas frágeis e espécies ameaçadas; fazer a restauração de regiões excessivamente degradadas e investir na criação de unidades de conversação, que atualmente são escassas neste território. Produção e conservação precisam ser aliadas para garantir que a biodiversidade seja preservada e serviços ecossistêmicos, como polinização e o fornecimento de água, sejam mantidos”, destaca o também coordenador do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
O impacto do Cerrado foi uma das pautas discutidas durante as reuniões da 24ª Conferência das Partes (COP 24) das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em dezembro de 2018, na Polônia. Participante do evento, Ferretti explica que a redução das emissões dos GEE é uma urgência que deve ser priorizada pelas esferas pública e privada. “É preciso amenizar as emissões provenientes da agropecuária e capturar carbono da atmosfera para mitigar as mudanças climáticas. No caso do Cerrado, governos, instituições privadas e a sociedade civil devem agir em conjunto para satisfazer todos os interesses. Desse modo, é importante desenvolver políticas públicas de conservação do Cerrado, reforçar os programas de monitoramento de desmatamento e promover incentivos para a agropecuária sustentável e de baixo carbono, visando um manejo equilibrado”, ressalta.
De acordo com o relatório produzido sobre o Cerrado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, há ainda cerca de 25 mil km² de áreas públicas sem categoria fundiária definida, que podem ser alvo de desmatamento irregular e grilagem de terras. Essa invasão pode ocorrer rapidamente, considerando a velocidade do desmatamento no Cerrado.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/01/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/30/cerrado-e-o-bioma-brasileiro-com-maior-taxa-de-desmatamento-diz-estudo/
Conhecido como a “savana brasileira”, o Cerrado é o bioma que vem sendo mais impactado pelo desmatamento no País. Cerca de 10 mil km² são devastados na região por ano, o que corresponde a 1 milhão de campos de futebol – área equivalente a quase duas cidades de Brasília. De acordo com dados do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), o Cerrado está sendo desmatado cinco vezes mais rápido que a Amazônia, bioma com o dobro de extensão. Entre os fatores que favorecem essa exploração está a vegetação de pequeno e médio portes do Cerrado, que pode ser retirada com maior facilidade.
A derrubada de vegetação nativa, a expansão rural e a baixa quantidade de áreas protegidas faz com que o Cerrado seja uma das principais fontes de emissões de Gases do Efeito Estufa (GEE) no Brasil: 7 bilhões de toneladas de gases nos últimos 30 anos. Atualmente, 45% da área original é ocupada por pastagens e cultivos agrícolas, enquanto apenas 7,7% do território possui áreas públicas com proteção integral para conservar habitats naturais. Dados do Ibama indicam que 900 multas por desmatamento na região foram aplicadas em 2018.
Na análise do gerente de Economia da Biodiversidade da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza, André Ferretti, as estratégias de conservação no bioma devem ser revistas para garantir menor impacto. “A exploração desordenada do Cerrado prejudica a regulação climática, a preservação da biodiversidade e o equilíbrio hidrológico, já que a região é berço das nascentes das principais bacias hidrográficas do País. É preciso conservar áreas naturais existentes, ecossistemas frágeis e espécies ameaçadas; fazer a restauração de regiões excessivamente degradadas e investir na criação de unidades de conversação, que atualmente são escassas neste território. Produção e conservação precisam ser aliadas para garantir que a biodiversidade seja preservada e serviços ecossistêmicos, como polinização e o fornecimento de água, sejam mantidos”, destaca o também coordenador do Observatório do Clima e membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza.
O impacto do Cerrado foi uma das pautas discutidas durante as reuniões da 24ª Conferência das Partes (COP 24) das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizada em dezembro de 2018, na Polônia. Participante do evento, Ferretti explica que a redução das emissões dos GEE é uma urgência que deve ser priorizada pelas esferas pública e privada. “É preciso amenizar as emissões provenientes da agropecuária e capturar carbono da atmosfera para mitigar as mudanças climáticas. No caso do Cerrado, governos, instituições privadas e a sociedade civil devem agir em conjunto para satisfazer todos os interesses. Desse modo, é importante desenvolver políticas públicas de conservação do Cerrado, reforçar os programas de monitoramento de desmatamento e promover incentivos para a agropecuária sustentável e de baixo carbono, visando um manejo equilibrado”, ressalta.
De acordo com o relatório produzido sobre o Cerrado pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, há ainda cerca de 25 mil km² de áreas públicas sem categoria fundiária definida, que podem ser alvo de desmatamento irregular e grilagem de terras. Essa invasão pode ocorrer rapidamente, considerando a velocidade do desmatamento no Cerrado.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/01/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/30/cerrado-e-o-bioma-brasileiro-com-maior-taxa-de-desmatamento-diz-estudo/
Brasil reforçou modelo escravista quando o mundo passou a condená-lo
Testamentos, inventários, decisões judiciais ao longo de décadas e o registro da história oral de descendentes de escravizados. É munido desses documentos que o historiador Thiago Campos Pessoa afirma que o Brasil do século XIX reforçou a escravidão, quando o mundo ocidental caminhava para sua abolição. As evidências encontradas para o fortalecimento tardio do modelo escravista, e sua reatualização no oitocentos, foram alvos das pesquisas do pós-doutorando ao abordar o tema da escravidão no Vale do Paraíba, especialmente no território fluminense. A tese do pesquisador foi lançada em livro, em 2018, após obter o Prêmio Arquivo Nacional de Pesquisa, e a continuidade dos trabalhos acontece com bolsa do Programa de Apoio ao Pós-doutorado, da FAPERJ.
Em seu livro “O império da escravidão”, Pessoa investigou o complexo de fazendas dos irmãos Joaquim e José Breves, que considera o maior complexo escravista do período. Em 1868, José Breves tinha nove fazendas e 1200 escravos aproximadamente. Joaquim, em 1889 – ano de sua morte – possuía 25 fazendas e havia sido senhor, segundo estimativas de cronistas da época, de três mil escravos, naquela altura já pessoas livres. “Então, acredito que eles detinham o maior complexo de fazendas no Brasil em meados do oitocentos. Eu não conheço nenhum outro caso de dois irmãos com quase quarenta fazendas e cerca de quatro mil escravos”, comenta.
O ingresso do pesquisador nessa área ocorreu em 2005, quando recebeu sua primeira bolsa de pesquisa, ainda na graduação, para trabalhar no projeto “Memórias do Cativeiro” do Laboratório de História Oral e Imagem, da Universidade Federal Fluminense (Labhoi/UFF), grupo ao qual o pesquisador continua vinculado. Em seguida, fez parte da equipe dedicada às pesquisas em três comunidades remanescentes de quilombo localizadas no Sul Fluminense: Santa Rita do Bracuí, em Angra dos Reis, Marambaia, em Mangaratiba, e Pinheiral, município onde estava localizada a sede da fazenda de José Breves.
Nos anos seguintes, participou do processo de digitalização do inventário de José Breves – organizado em 9 volumes –, aberto em 1879, e que permanecia em litígio até o início dos anos 2000. Finalizada a disputa pelo inventário, Pessoa pôde levar as cópias digitais para casa e estudar com mais detalhes o documento que lhe rendeu monografia, dissertação e tese.
O inventário é desdobramento do testamento de José Breves, considerado progressista para a época por doar terras e conceder liberdade para aqueles que havia escravizado, sob a condição de que trabalhassem por mais quatro ou oito anos. Pessoa explica que Joaquim, responsável por executar os pedidos deixados pelo irmão, era avesso aos ideais libertários e dificultou o cumprimento dos planos. No entanto, como o documento trazia a precificação de cada indivíduo, isso facilitou, contraditoriamente, a libertação de muitos que tinham condição de pagar o preço estipulado pela sua liberdade. Para negar a liberdade, Joaquim Breves argumentou na Justiça que já não existiam mais escravos, apenas “libertandos”, o que impediria a antecipação. O imbróglio expõe uma situação curiosa na argumentação judicial na análise do pesquisador. “Joaquim usou a categoria jurídica ‘liberdade’ para defender a escravidão, ao passo que os escravizados se valeram da sua própria precificação como propriedade, ou seja, da escravidão, para pedir sua liberdade”, avalia.
O testamento foi escrito no final da década de 1870, quando o Judiciário passava a acatar com mais frequência os pedidos de liberdade de escravizados. A Lei do Ventre Livre, de 1871, ao dizer que o preço da liberdade era correspondente ao valor da avaliação de cada indivíduo estabelecido no inventário, cumpre um importante papel nessa mudança, pois permitiu aos escravos do complexo cafeeiro dos Breves anteciparem sua liberdade.
Roda de Jongo em frente às ruínas da Fazenda do Pinheiro, a casa-grande de José Breves (Foto: Acervo Labhoi/UFF)
Pessoa destaca que muitos dos escravos do complexo Breves viviam em cativeiro ilegal, inclusive, sem respaldo na legislação brasileira. Em um acordo firmado em 1826 com a Inglaterra, o governo brasileiro se comprometeu a barrar o tráfico de escravos. A lei brasileira que proibiu a escravidão para os africanos que pisarem no País é de 1831, quando os ingleses passaram a tratar o comércio de escravos como pirataria. Em um período de 20 anos, até que uma segunda lei fosse aprovada, cerca de 800 mil africanos foram escravizados ilegalmente. Conhecida como lei Eusébio de Queiroz, a determinação que pôs fim ao tráfico em 1851, apesar de incorporar a lei anterior, não agiu para combater a escravidão daqueles indivíduos que chegaram ao longo das duas décadas passadas.
A explicação sobre os meandros do comércio de africanos na clandestinidade e sua operacionalização no litoral fluminense não está no livro publicado por Pessoa, mas é explorada em seu estágio de pós-doutoramento. “O Complexo Cafeeiro nasce no mesmo instante que o tráfico é colocado na ilegalidade. E aí a classe senhorial tinha esse impasse para resolver. A forma que encontraram foi não abolir a lei [de 1831] por uma questão dessa pressão feita pela Inglaterra e costurar internamente o seu não cumprimento a partir de um acordo político e jurídico com a classe dirigente, com amplo respaldo social”, comenta.
O histórico de descumprimento da lei não passou despercebido naquelas décadas. Inúmeros cronistas denunciavam nos jornais os absurdos e ilegalidades da escravidão. Entre eles, Thiago Pessoa reserva atenção especial ao jornalista, escritor e rábula Luiz Gama (1830-1882). Gama era filho de Luísa Mahin, mulher negra, livre, vinda de Costa Mina e de um português branco, com quem Mahin foi casada e depois o deixou. Com a perda de suas riquezas, o pai de Gama o vendeu como escravo. Mais tarde, o filho conseguiria fugir de seus senhores e provar sua liberdade. Advogado sem formação universitária, estima-se que Luiz Gama tenha ajudado a garantir a liberdade de cerca de 500 pessoas escravizadas, destacando-se como um ativo abolicionista.
A história de Gama ajuda a ilustrar a diferença entre aqueles que foram escravizados no ambiente rural em relação ao ambiente urbano, onde as ideias abolicionistas circulavam com muito mais força. Ao contrário do imaginário social comum, as grandes fazendas com escravos não foram um modelo único, apesar de serem características das plantações de café no Vale do Paraíba. “Nas cidades podemos pensar em diferentes graus de liberdade de um escravo, como, por exemplo, o ‘escravo de ganho’ que trabalhasse na rua do Ouvidor, no centro do Rio. Nesse caso, seja qual fosse a atividade exercida, era preciso repassar uma porcentagem dos ganhos ao senhor que detinha o documento de propriedade daquela pessoa escravizada. Podemos dizer que a vida dos escravizados na cidade às vésperas da abolição, em alguns casos, se assemelhava a de um trabalhador pobre”, comenta Pessoa.
Devido a essa movimentação das diversas frentes dos movimentos abolicionistas, desde a condenação moral do tráfico no mundo ocidental como “comércio da carne humana”, aos ecos da Guerra Civil Americana (1861-1865), evidenciando-se o fato de o Brasil ter sido o último país das Américas a abolir a escravidão, a historiografia tem colocado menos atenção à benevolência da princesa Isabel ao assinar a Lei Áurea em 1888. “A lei foi importante porque consagra uma construção coletiva de décadas, uma série de lutas dos próprios escravizados e de amplo leque da sociedade civil, materializando e institucionalizando essas lutas”, comenta o pesquisador.
O trabalho de Thiago Pessoa com o Complexo dos Breves teve orientação, desde a graduação, da professora Hebe Castro (Fotos: Divulgação)
Após mais de um século da existência do testamento de José Breves, a memória dos remanescentes quilombolas das comunidades visitadas por Pessoa permanece bastante viva em relação à dura vida levada por seus ancestrais. Na comunidade de Santa Rita do Bracuí, por exemplo, que recebera as terras em doação testamentária de José Breves em 1879, os descendentes dos antigos escravos mantém forte laço com às histórias dos seus ancestrais. "É muito interessante porque boa parte deles nunca tocou no testamento. É uma história transmitida geracionalmente, com uma riqueza de detalhes muito impressionante, transformada, ao longo dos séculos, em instrumento de luta e resistência”. Para Thiago Pessoa, a força da memória mantida pelas comunidades quilombolas em contraponto à sua invisibilidade reiterada pelo Estado brasileiro durante todo século XX, em discurso retomado recentemente, demonstra que o último país a abolir a escravidão nas Américas segue refém do seu passado.
Autor: Juliana Passos
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 24/01/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3695.2.2
Em seu livro “O império da escravidão”, Pessoa investigou o complexo de fazendas dos irmãos Joaquim e José Breves, que considera o maior complexo escravista do período. Em 1868, José Breves tinha nove fazendas e 1200 escravos aproximadamente. Joaquim, em 1889 – ano de sua morte – possuía 25 fazendas e havia sido senhor, segundo estimativas de cronistas da época, de três mil escravos, naquela altura já pessoas livres. “Então, acredito que eles detinham o maior complexo de fazendas no Brasil em meados do oitocentos. Eu não conheço nenhum outro caso de dois irmãos com quase quarenta fazendas e cerca de quatro mil escravos”, comenta.
O ingresso do pesquisador nessa área ocorreu em 2005, quando recebeu sua primeira bolsa de pesquisa, ainda na graduação, para trabalhar no projeto “Memórias do Cativeiro” do Laboratório de História Oral e Imagem, da Universidade Federal Fluminense (Labhoi/UFF), grupo ao qual o pesquisador continua vinculado. Em seguida, fez parte da equipe dedicada às pesquisas em três comunidades remanescentes de quilombo localizadas no Sul Fluminense: Santa Rita do Bracuí, em Angra dos Reis, Marambaia, em Mangaratiba, e Pinheiral, município onde estava localizada a sede da fazenda de José Breves.
Nos anos seguintes, participou do processo de digitalização do inventário de José Breves – organizado em 9 volumes –, aberto em 1879, e que permanecia em litígio até o início dos anos 2000. Finalizada a disputa pelo inventário, Pessoa pôde levar as cópias digitais para casa e estudar com mais detalhes o documento que lhe rendeu monografia, dissertação e tese.
O inventário é desdobramento do testamento de José Breves, considerado progressista para a época por doar terras e conceder liberdade para aqueles que havia escravizado, sob a condição de que trabalhassem por mais quatro ou oito anos. Pessoa explica que Joaquim, responsável por executar os pedidos deixados pelo irmão, era avesso aos ideais libertários e dificultou o cumprimento dos planos. No entanto, como o documento trazia a precificação de cada indivíduo, isso facilitou, contraditoriamente, a libertação de muitos que tinham condição de pagar o preço estipulado pela sua liberdade. Para negar a liberdade, Joaquim Breves argumentou na Justiça que já não existiam mais escravos, apenas “libertandos”, o que impediria a antecipação. O imbróglio expõe uma situação curiosa na argumentação judicial na análise do pesquisador. “Joaquim usou a categoria jurídica ‘liberdade’ para defender a escravidão, ao passo que os escravizados se valeram da sua própria precificação como propriedade, ou seja, da escravidão, para pedir sua liberdade”, avalia.
O testamento foi escrito no final da década de 1870, quando o Judiciário passava a acatar com mais frequência os pedidos de liberdade de escravizados. A Lei do Ventre Livre, de 1871, ao dizer que o preço da liberdade era correspondente ao valor da avaliação de cada indivíduo estabelecido no inventário, cumpre um importante papel nessa mudança, pois permitiu aos escravos do complexo cafeeiro dos Breves anteciparem sua liberdade.
Roda de Jongo em frente às ruínas da Fazenda do Pinheiro, a casa-grande de José Breves (Foto: Acervo Labhoi/UFF)
Pessoa destaca que muitos dos escravos do complexo Breves viviam em cativeiro ilegal, inclusive, sem respaldo na legislação brasileira. Em um acordo firmado em 1826 com a Inglaterra, o governo brasileiro se comprometeu a barrar o tráfico de escravos. A lei brasileira que proibiu a escravidão para os africanos que pisarem no País é de 1831, quando os ingleses passaram a tratar o comércio de escravos como pirataria. Em um período de 20 anos, até que uma segunda lei fosse aprovada, cerca de 800 mil africanos foram escravizados ilegalmente. Conhecida como lei Eusébio de Queiroz, a determinação que pôs fim ao tráfico em 1851, apesar de incorporar a lei anterior, não agiu para combater a escravidão daqueles indivíduos que chegaram ao longo das duas décadas passadas.
A explicação sobre os meandros do comércio de africanos na clandestinidade e sua operacionalização no litoral fluminense não está no livro publicado por Pessoa, mas é explorada em seu estágio de pós-doutoramento. “O Complexo Cafeeiro nasce no mesmo instante que o tráfico é colocado na ilegalidade. E aí a classe senhorial tinha esse impasse para resolver. A forma que encontraram foi não abolir a lei [de 1831] por uma questão dessa pressão feita pela Inglaterra e costurar internamente o seu não cumprimento a partir de um acordo político e jurídico com a classe dirigente, com amplo respaldo social”, comenta.
O histórico de descumprimento da lei não passou despercebido naquelas décadas. Inúmeros cronistas denunciavam nos jornais os absurdos e ilegalidades da escravidão. Entre eles, Thiago Pessoa reserva atenção especial ao jornalista, escritor e rábula Luiz Gama (1830-1882). Gama era filho de Luísa Mahin, mulher negra, livre, vinda de Costa Mina e de um português branco, com quem Mahin foi casada e depois o deixou. Com a perda de suas riquezas, o pai de Gama o vendeu como escravo. Mais tarde, o filho conseguiria fugir de seus senhores e provar sua liberdade. Advogado sem formação universitária, estima-se que Luiz Gama tenha ajudado a garantir a liberdade de cerca de 500 pessoas escravizadas, destacando-se como um ativo abolicionista.
A história de Gama ajuda a ilustrar a diferença entre aqueles que foram escravizados no ambiente rural em relação ao ambiente urbano, onde as ideias abolicionistas circulavam com muito mais força. Ao contrário do imaginário social comum, as grandes fazendas com escravos não foram um modelo único, apesar de serem características das plantações de café no Vale do Paraíba. “Nas cidades podemos pensar em diferentes graus de liberdade de um escravo, como, por exemplo, o ‘escravo de ganho’ que trabalhasse na rua do Ouvidor, no centro do Rio. Nesse caso, seja qual fosse a atividade exercida, era preciso repassar uma porcentagem dos ganhos ao senhor que detinha o documento de propriedade daquela pessoa escravizada. Podemos dizer que a vida dos escravizados na cidade às vésperas da abolição, em alguns casos, se assemelhava a de um trabalhador pobre”, comenta Pessoa.
Devido a essa movimentação das diversas frentes dos movimentos abolicionistas, desde a condenação moral do tráfico no mundo ocidental como “comércio da carne humana”, aos ecos da Guerra Civil Americana (1861-1865), evidenciando-se o fato de o Brasil ter sido o último país das Américas a abolir a escravidão, a historiografia tem colocado menos atenção à benevolência da princesa Isabel ao assinar a Lei Áurea em 1888. “A lei foi importante porque consagra uma construção coletiva de décadas, uma série de lutas dos próprios escravizados e de amplo leque da sociedade civil, materializando e institucionalizando essas lutas”, comenta o pesquisador.
O trabalho de Thiago Pessoa com o Complexo dos Breves teve orientação, desde a graduação, da professora Hebe Castro (Fotos: Divulgação)
Após mais de um século da existência do testamento de José Breves, a memória dos remanescentes quilombolas das comunidades visitadas por Pessoa permanece bastante viva em relação à dura vida levada por seus ancestrais. Na comunidade de Santa Rita do Bracuí, por exemplo, que recebera as terras em doação testamentária de José Breves em 1879, os descendentes dos antigos escravos mantém forte laço com às histórias dos seus ancestrais. "É muito interessante porque boa parte deles nunca tocou no testamento. É uma história transmitida geracionalmente, com uma riqueza de detalhes muito impressionante, transformada, ao longo dos séculos, em instrumento de luta e resistência”. Para Thiago Pessoa, a força da memória mantida pelas comunidades quilombolas em contraponto à sua invisibilidade reiterada pelo Estado brasileiro durante todo século XX, em discurso retomado recentemente, demonstra que o último país a abolir a escravidão nas Américas segue refém do seu passado.
Autor: Juliana Passos
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 24/01/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3695.2.2
Sai resultado do programa de bolsas de Iniciação Tecnólogica (2018 / 2)
A Fundação divulgou nesta quinta-feira (17/01), a lista dos bolsistas contemplados na segunda janela de inscrições de 2018, do programa de Inovação Tecnológica (IT). Os contemplados deverão aguardar o recebimento do aviso para a retirada do termo de outorga no e-mail cadastrado no SisFaperj. Confira.
Resultado: programa de Iniciação Tecnológica – IT (2018 / 2)
Autor: Faperj
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 17/01/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3692.2.6
Resultado: programa de Iniciação Tecnológica – IT (2018 / 2)
Autor: Faperj
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 17/01/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3692.2.6
Influência da obesidade e adipocinas no risco cardiovascular – parte 1
Neste primeiro episódio do PEBMEDCast de uma série de três podcasts, a cardiologista Érika Campana, Doutora e Mestre em Medicina pela UERJ e Especialista em Cardiologia pela SBC/AMB, fala sobre obesidade e os efeitos das adipocinas no aparelho cardiovascular.
A especialista discute as intervenções no estilo de vida do indivíduo e como elas influenciam na redução de risco de desenvolvimento de cardiopatias. Ouça o episódio completo:
Autor: Roberto Caligari
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/influencia-da-obesidade-e-adipocinas-no-risco-cardiovascular-parte-1/
A especialista discute as intervenções no estilo de vida do indivíduo e como elas influenciam na redução de risco de desenvolvimento de cardiopatias. Ouça o episódio completo:
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Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/influencia-da-obesidade-e-adipocinas-no-risco-cardiovascular-parte-1/
A relação entre pais e adolescentes com pensamentos suicidas
O suicídio é um problema grave que vem traz preocupações e ganha grande destaque. Por isso, mais uma vez vamos abordar este assunto tão importante, desta vez com foco no público adolescente e a relação com os pais. O artigo de base foi publicado neste mês de janeiro de 2019 na American Academy of Pediatrics.
Nos EUA, o suicídio é segunda maior causa de mortes entre jovens de 10 e 24 anos e, infelizmente, esse número vem aumentando ao longo do tempo. Pesquisas americanas chegam a revelar que 18% dos jovens no ensino médio consideraram seriamente se matar no último ano. Nesse contexto, vale destacar que a intenção suicida é um importante fator de risco para se passar ao ato, sendo a identificação desse sintoma um passo importante para trabalhar a prevenção.
Um dos empecilhos para isso é que até 2/3 dessa população não procura ou tem acesso aos serviços de saúde mental. Uma das razões para isso é o desconhecimento dos pais sobre o que se passa com seus filhos. Dessa forma, o foco deste artigo é avaliar essa relação como uma forma de proteção e prevenção.
Método
A base do estudo foi uma Coorte de Neurodesenvolvimento da Filadélfia (CNF), uma amostra baseada na comunidade. Nela foi avaliada a população que não procurava atendimento psiquiátrico. Ela envolveu 9.498 participantes entre oito e 21 anos, recrutados na rede de atendimento pediátrico, mas foram excluídos os pacientes que não eram fluentes na língua do estudo (inglês); que possuíam algum atraso do desenvolvimento ou outras alterações físicas ou cognitivas que pudessem interferir com o estudo. Para fazer este trabalho, a amostra acabou delimitada a pacientes entre 11 e 17 anos. A coleta de dados sobre pensamento suicida foi realizada tanto entre os adolescentes, como em seus acompanhantes, sendo 97,2% destes os pais ou cuidadores. Foi dado a eles formulários com esclarecimentos e que pedem consentimento para a pesquisa.
O método de avaliação dos sintomas foi feito a partir de uma entrevista clínica estruturada e computadorizada chamada GOASSESS. Os avaliadores que aplicaram a pesquisa eram treinados para tal e visavam avaliar as principais áreas da psicopatologia. Dentro das questões, foram perguntados aos jovens sobre ideação suicida ao longo da vida e pensamentos sobre morte, as mesmas perguntas foram feitas aos acompanhantes. Aos pais também foi perguntado, por meio de questionário, sobre a história familiar de tentativa de suicídio e o histórico médico e psiquiátrico dos adolescentes, juntamente com os dados demográficos. Houve também um questionamento sobre a exposição a eventos traumáticos ou relacionados ao transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).
Após a coleta de dados, foi feita uma comparação entre a resposta dos responsáveis e a dos jovens. Os casos de discordância entre as respostas foram divididos dois grupos: os pais que desconheciam o pensamento suicida dos filhos ou os pais que conheciam, mas os adolescentes negaram tais pensamentos na entrevista.
Resultados e discussão
A sensibilidade e especificidade estimadas indicam importante desconhecimento dos pais sobre a presença de pensamento suicida nos adolescentes. Cerca de 49,9% dos pais não tinham ideia sobre a presença de pensamentos suicidas nos filhos e até 75,6% desconheciam que os filhos pensassem sobre morte. Também houve casos em que os pais relataram esses pensamentos em seus filhos, mas os filhos negaram durante a entrevista (48,4% negaram ideação suicida e 67,5% negaram pensamentos de morte).
Os dados também sugerem que o desconhecimento dos pais é maior quando se trata de adolescentes do sexo feminino com menor faixa etária, mas que isso tende a melhorar conforme ficam mais velhas. O inverso ocorre no sexo masculino: o desconhecimento dos pais sobre tais pensamentos aumenta conforme a idade avança. A negação dos filhos ou a ignorância dos cuidadores sobre o que eles pensam também foi maior entre minorias étnicas. Finalmente, o desconhecimento era maior entre pais do que mães. Contudo, quando os jovens tinham história prévia de tratamento psiquiátrico (incluindo internação), psicológico ou história familiar de suicídio os responsáveis eram mais conscientes sobre o que se passava. Condições psicopatológicas mais graves entre os jovens também diminuíram as chances de negação pelos adolescentes.
Esses dados revelam que há importantes discrepâncias na avaliação da ideação suicida, o que significa um grande número de jovens cujo risco não foi detectado. Estudos anteriores já demonstravam uma taxa de concordância de baixa a moderada.
No que diz respeito à concordância, a idade foi um fator importante. De modo geral, quanto maior a idade, menor a discordância ou desconhecimento entre pais e filhos. Ou seja, os mais novos estão sob maior risco. Contudo, é possível que a população mais jovem também possa ter maior dificuldade de interpretação sobre as questões propostas, o que pode aumentar a discordância e servir de alerta para os ambientes clínicos e de pesquisa com relação a essa faixa etária. A discordância também varia com o gênero, pois é menor em meninas mais velhas ou meninos mais novos.
Essa divergência pode refletir a diferente história de interação entre os sexos no que diz respeito aos sintomas depressivos. Estes achados podem ser úteis na hora de criar estratégias mais específicas para facilitar a relação com os pais e profissionais na área de saúde e medidas de prevenção. A discordância também foi maior entre minorias étnicas, especialmente quando de origem africana ou asiática. Esse dado é especialmente importante, pois esta é uma parte da população que menos usa o serviço de saúde antes de uma tentativa de suicídio.
Do ponto de vista do cuidador ou responsável, os pais desconheciam mais a condição dos seus filhos do que as mães.
No geral, quando os adolescentes tinham história de tratamento psiquiátrico (inclusive internação e uso de psicotrópicos), os pais eram mais alertas e conscientes sobre a presença de ideação suicida. História familiar de tentativas de suicídio ou de suicídio realizado também fazia com que os pais ficassem mais alertas e reconhecessem ideação suicida nos filhos.
Já a negação dos jovens foi aparentemente menor quando a sintomatologia psicopatológica era mais grave. Por exemplo, jovens com história de transtornos externalizantes tinham menores chances de negar ideação suicida. Uma ressalva é o grupo de adolescentes com história de maus-tratos, agressão ou isolamento social. Nesses, as chances de negar a ideação suicida foram maiores.
A discrepância dos achados também pode estar relacionada a diferenças nas características da amostra e da avaliação. Acredita-se que jovens com questões psico-comportamentais já tenham sido submetidos a tratamentos de saúde anteriormente e, portanto, podem se sentir mais à vontade durante uma avaliação para responder sobre ideação suicida.
Limitações
O estudo é limitado geograficamente, é incerto se pode ser generalizado para o resto da população.
A avaliação foi breve para conseguir abranger a grande quantidade de pacientes envolvidos.
Há também a possibilidade de viés uma vez que uma das perguntas era sobre pensamento suicida (conta com o relato do paciente).
A prevalência de ideação suicida neste estudo (8%) foi inferior à de estudos nacionais nos EUA (18%), o que pode ter ocorrido pela inclusão de adolescentes mais jovens (a partir de 11 anos), enquanto a amostra nacional envolvia apenas alunos do ensino médio.
A forma de avaliação (interpessoal) também pode ter afetado o relato dos jovens. Pesquisas indicam que as taxas de ideação suicida são maiores quando o estudo é feito por autoquestionários.
Os pensamentos sobre morte podem na verdade encobrir uma série de outros pensamentos e dúvidas nos jovens, o que não necessariamente indica risco de suicídio.
Finalmente, este estudo focou na relação entre pais ou cuidadores e os adolescentes, mas muitos jovens podem se sentir mais à vontade ao discutir esse tipo de assunto com outras pessoas que não os pais. Logo, seria interessante que outras pessoas próximas também fossem incluídas nas próximas pesquisas.
Conclusão
As implicações deste achado são importantes no contexto pediátrico. Dado o desconhecimento dos pais ou cuidadores e a negação de alguns jovens no que diz respeito à ideação suicida e pensamentos de morte, é importante tentar incluir este tema na rotina pediátrica e nas avaliações clínicas desta população. Por isso, é necessário fazer este alerta aos profissionais de saúde que lidam com esta faixa etária para que fiquem atentos e incluam esse questionamento em sua avaliação rotineira. A identificação e o tratamento precoces auxiliam na avaliação de risco de suicídio.
Autor: Roberto Caligari
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/a-relacao-entre-pais-e-adolescentes-com-pensamentos-suicidas/
terça-feira, 29 de janeiro de 2019
Contaminação por microplásticos encontrada em fonte comum de água subterrânea, relatam pesquisadores
Os microplásticos contaminam as águas superficiais do mundo, mas os cientistas apenas começaram a explorar sua presença em sistemas de águas subterrâneas. Um novo estudo é o primeiro a relatar microplásticos em aquíferos calcários fraturados – uma fonte de água subterrânea que responde por 25% do suprimento global de água potável.
O estudo identificou as fibras de microplásticos, juntamente com uma variedade de medicamentos e contaminantes domésticos, em dois sistemas aquíferos em Illinois. Os resultados são publicados na revista Groundwater.
Por Lois Yoksoulian*
University Of Illinois At Urbana-Champaign
A água subterrânea flui através das fendas e vazios de calcário, às vezes levando esgoto e escoamento de estradas, aterros e áreas agrícolas para os aquíferos abaixo, disse Scott.
Os pesquisadores coletaram 17 amostras de água subterrânea de poços e nascentes – 11 de um aquífero calcário altamente fraturado perto da área metropolitana de St. Louis e seis de um aquífero contendo fraturas muito menores no noroeste rural de Illinois.
Todas, exceto uma das 17 amostras, continham partículas microplásticas, com uma concentração máxima de 15,2 partículas por litro de uma fonte na região de St. Louis, segundo o estudo. No entanto, decifrar o que essa concentração significa é um desafio, disse Scott. Não existem estudos ou regulamentações de avaliação de riscos publicados.
Os pesquisadores descobriram, no entanto, que as concentrações de suas áreas de campo são comparáveis às concentrações de águas superficiais encontradas nos rios e riachos da região de Chicago, disse Samuel V. Panno , pesquisador do Estado de Illinois e principal autor do estudo.
Os pesquisadores identificaram uma variedade de contaminantes de saúde domésticos e pessoais junto com os microplásticos, uma indicação de que as fibras podem ter se originado de sistemas sépticos domésticos.
“Imagine quantos milhares de fibras de poliéster encontram seu caminho em um sistema séptico de apenas fazer uma carga de roupa”, disse Scott. “Então, considere o potencial para que esses fluidos vazem para o suprimento de água subterrânea, especialmente nesses tipos de aquíferos, onde a água da superfície interage tão prontamente com a água subterrânea.”
Há ainda uma quantidade monumental de trabalho a ser feito sobre este assunto, disse Scott. Ele antecipa que a contaminação por microplásticos em águas superficiais e subterrâneas será um problema nos próximos anos.
“Mesmo que paremos de fabricar plásticos hoje, ainda lidaremos com essa questão por anos, porque o plástico nunca vai embora”, disse Scott. “Estima-se que 6,3 bilhões de toneladas de resíduos plásticos tenham sido produzidos desde a década de 1940, e 79% delas estão agora em aterros sanitários ou no ambiente natural. Para mim, é um conceito tão estranho que esses materiais são destinados para uso único, mas eles são projetados para durar para sempre. ”
Referência:
Panno, S. V., Kelly, W. R., Scott, J. , Zheng, W. , McNeish, R. E., Holm, N. , Hoellein, T. J. and Baranski, E. L. (2019), Microplastic Contamination in Karst Groundwater Systems. Groundwater. Accepted Author Manuscript. doi:10.1111/gwat.12862
https://doi.org/10.1111/gwat.12862
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/01/2019
Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/29/contaminacao-por-microplasticos-encontrada-em-fonte-comum-de-agua-subterranea-relatam-pesquisadores/
O estudo identificou as fibras de microplásticos, juntamente com uma variedade de medicamentos e contaminantes domésticos, em dois sistemas aquíferos em Illinois. Os resultados são publicados na revista Groundwater.
Por Lois Yoksoulian*
University Of Illinois At Urbana-Champaign
A água subterrânea flui através das fendas e vazios de calcário, às vezes levando esgoto e escoamento de estradas, aterros e áreas agrícolas para os aquíferos abaixo, disse Scott.
Os pesquisadores coletaram 17 amostras de água subterrânea de poços e nascentes – 11 de um aquífero calcário altamente fraturado perto da área metropolitana de St. Louis e seis de um aquífero contendo fraturas muito menores no noroeste rural de Illinois.
Todas, exceto uma das 17 amostras, continham partículas microplásticas, com uma concentração máxima de 15,2 partículas por litro de uma fonte na região de St. Louis, segundo o estudo. No entanto, decifrar o que essa concentração significa é um desafio, disse Scott. Não existem estudos ou regulamentações de avaliação de riscos publicados.
Os pesquisadores descobriram, no entanto, que as concentrações de suas áreas de campo são comparáveis às concentrações de águas superficiais encontradas nos rios e riachos da região de Chicago, disse Samuel V. Panno , pesquisador do Estado de Illinois e principal autor do estudo.
Os pesquisadores identificaram uma variedade de contaminantes de saúde domésticos e pessoais junto com os microplásticos, uma indicação de que as fibras podem ter se originado de sistemas sépticos domésticos.
“Imagine quantos milhares de fibras de poliéster encontram seu caminho em um sistema séptico de apenas fazer uma carga de roupa”, disse Scott. “Então, considere o potencial para que esses fluidos vazem para o suprimento de água subterrânea, especialmente nesses tipos de aquíferos, onde a água da superfície interage tão prontamente com a água subterrânea.”
Há ainda uma quantidade monumental de trabalho a ser feito sobre este assunto, disse Scott. Ele antecipa que a contaminação por microplásticos em águas superficiais e subterrâneas será um problema nos próximos anos.
“Mesmo que paremos de fabricar plásticos hoje, ainda lidaremos com essa questão por anos, porque o plástico nunca vai embora”, disse Scott. “Estima-se que 6,3 bilhões de toneladas de resíduos plásticos tenham sido produzidos desde a década de 1940, e 79% delas estão agora em aterros sanitários ou no ambiente natural. Para mim, é um conceito tão estranho que esses materiais são destinados para uso único, mas eles são projetados para durar para sempre. ”
Referência:
Panno, S. V., Kelly, W. R., Scott, J. , Zheng, W. , McNeish, R. E., Holm, N. , Hoellein, T. J. and Baranski, E. L. (2019), Microplastic Contamination in Karst Groundwater Systems. Groundwater. Accepted Author Manuscript. doi:10.1111/gwat.12862
https://doi.org/10.1111/gwat.12862
* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/01/2019
Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/29/contaminacao-por-microplasticos-encontrada-em-fonte-comum-de-agua-subterranea-relatam-pesquisadores/
Obesidade infantil é tema de estudo
Com participação da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), um estudo analisou as ações de prevenção e controle da obesidade infantil, especialmente as de Promoção da Alimentação Adequada e Saudável (PAAS), que integram políticas do governo federal brasileiro nos últimos 15 anos. Destacam-se as disputas entre os interesses das corporações comerciais de alimentos processados e do agronegócio e os setores governamentais e societários norteados pelos objetivos de PAAS.
O estudo Políticas de Saúde e de Segurança Alimentar e Nutricional: desafios para o controle da obesidade infantil, de Patrícia Henriques, Patricia Camacho Dias, Roseane Moreira Sampaio Barbosa e Luciene Burlandy, da Universidade Federal Fluminense (UFF); e Gisele O’Dwyer, da Ensp/Fiocruz, diz que no Brasil o excesso de peso e a obesidade vêm sendo registrados a partir dos cinco anos de idade, em todos os grupos de renda e regiões, sendo mais prevalentes na área urbana do que na rural. “A infância é uma fase particularmente preocupante porque, para além das doenças associadas com a obesidade, o risco aumenta na idade adulta gerando consequências econômicas e de saúde, para o indivíduo e para a sociedade. Além disso, o estigma e a depressão podem prejudicar o desenvolvimento da criança, especialmente nas atividades escolares e de lazer”.
Conforme relata o artigo, há um consenso de que a obesidade é condicionada por fatores biológicos, ambientais, socioeconômicos, psicossociais e culturais. Entretanto, a sua ocorrência vem sendo predominantemente atribuída a um ambiente que promove ingestão excessiva de alimentos processados e ultraprocessados e desestimula a atividade física. “Estudos apontam que os principais condicionantes da obesidade em crianças são a ingestão de produtos pobres em nutrientes e com conteúdo elevado em açúcar e gorduras, a ingestão regular de bebidas açucaradas e atividade física insuficiente”.
Os autores do artigo expõem que a organização da Atenção Nutricional no Sistema Único de Saúde (SUS) é uma diretriz central da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) que prevê que os cuidados relativos à alimentação e nutrição (promoção da saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento de agravos) devem fazer parte do cuidado integral na Rede de Atenção à Saúde (RAS). Nessa perspectiva, afirmam eles, sobressai a Linha de Cuidado para o Tratamento do Sobrepeso e da Obesidade, que define as ações que devem ser desenvolvidas nos diferentes pontos da RAS, inclusive as de PAAS, planejadas com base no conhecimento do cenário epidemiológico e nutricional da população.
Para isso, observa o artigo, a Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) assume papel relevante no monitoramento e análise dos problemas nutricionais, subsidiando o planejamento da atenção nutricional no SUS. “A PAAS também é uma das diretrizes da PNAN que, segundo os termos da própria política, fundamenta-se nas ações de incentivo, apoio, proteção e promoção da saúde, planejadas de forma integrada no âmbito da RAS. Essas ações incluem a reorientação dos serviços, a construção de ambientes promotores de saúde, a educação alimentar e nutricional (EAN) o controle e a regulação de alimentos”.
A Política Nacional da Atenção Básica prevê a reorganização dos serviços com vistas a ampliar a equidade e a qualidade da atenção à saúde e, desse modo, propiciar ambientes que favoreçam a prevenção, a promoção e o cuidado integral em saúde. Nessa perspectiva destacam-se: a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil que visa promover o aleitamento materno e a introdução complementar de alimentos de forma adequada e saudável e o Programa Saúde na Escola (PSE). A promoção e a atenção à saúde do escolar integram tanto a PNAN, quanto a PNPS, e o PSE se propõe a articular a atenção básica em saúde com a escola, possibilitando ações de PAAS e o monitoramento do estado nutricional.
De acordo com o artigo, as ações de EAN integram todas as políticas analisadas e abarcam a produção de instrumentos e materiais educativos que fomentem escolhas alimentares mais saudáveis, e processos educativos desenvolvidos nas redes de educação e saúde e outros espaços públicos. Visando valorizar e qualificar esse conjunto de ações, o governo federal publicou o Marco de Referência de EAN para as políticas públicas.
Os guias alimentares destinados a crianças menores de dois anos e a população brasileira apresentam princípios para alimentação saudável, dentre eles o respeito à cultura alimentar local. Na perspectiva de complementariedade e diálogo entre os materiais produzidos, o livro Alimentos regionais brasileiros divulga a variedade de frutas, hortaliças e leguminosas, ressalta a diversidade cultural e valoriza os alimentos existentes no país. “O guia alimentar inova ao basear-se em uma classificação de alimentos que evidencia as relações entre o crescente consumo de alimentos processados e ultraprocessados e a obesidade. Além disso, aborda a alimentação na perspectiva da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)”.
Os pesquisadores ressaltam que a regulação da publicidade e comercialização de alimentos, especialmente para o público infantil, vem sendo objeto de políticas governamentais desde 2006, com elevado grau de conflito com o setor privado comercial, e obteve avanço significativo apenas na proteção aos lactentes e crianças de primeira infância. “Desde 2007 foram estabelecidos acordos voluntários entre o MS e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos para melhoria da composição de produtos industrializados, especialmente aqueles preferidos pelo público infanto-juvenil, com redução gradativa dos teores de açúcares livres, sódio e gorduras trans, mas os acordos para redução de açúcares ainda não foram definidos”.
Eles também enfatizam a regulamentação da rotulagem nutricional para garantir o acesso à informação ao consumidor e inibir a publicidade no rótulo. “Esse tipo de regulação tem avançado no país, contudo ainda existem desafios quanto à qualidade das informações veiculadas e o seu potencial informativo”.
*Este artigo foi originalmente publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva (vol.23 n.12), de dezembro de 2018.
Autor: Ensp/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/obesidade-infantil-e-tema-de-estudo
O estudo Políticas de Saúde e de Segurança Alimentar e Nutricional: desafios para o controle da obesidade infantil, de Patrícia Henriques, Patricia Camacho Dias, Roseane Moreira Sampaio Barbosa e Luciene Burlandy, da Universidade Federal Fluminense (UFF); e Gisele O’Dwyer, da Ensp/Fiocruz, diz que no Brasil o excesso de peso e a obesidade vêm sendo registrados a partir dos cinco anos de idade, em todos os grupos de renda e regiões, sendo mais prevalentes na área urbana do que na rural. “A infância é uma fase particularmente preocupante porque, para além das doenças associadas com a obesidade, o risco aumenta na idade adulta gerando consequências econômicas e de saúde, para o indivíduo e para a sociedade. Além disso, o estigma e a depressão podem prejudicar o desenvolvimento da criança, especialmente nas atividades escolares e de lazer”.
Conforme relata o artigo, há um consenso de que a obesidade é condicionada por fatores biológicos, ambientais, socioeconômicos, psicossociais e culturais. Entretanto, a sua ocorrência vem sendo predominantemente atribuída a um ambiente que promove ingestão excessiva de alimentos processados e ultraprocessados e desestimula a atividade física. “Estudos apontam que os principais condicionantes da obesidade em crianças são a ingestão de produtos pobres em nutrientes e com conteúdo elevado em açúcar e gorduras, a ingestão regular de bebidas açucaradas e atividade física insuficiente”.
Os autores do artigo expõem que a organização da Atenção Nutricional no Sistema Único de Saúde (SUS) é uma diretriz central da Política Nacional de Alimentação e Nutrição (PNAN) que prevê que os cuidados relativos à alimentação e nutrição (promoção da saúde, prevenção, diagnóstico e tratamento de agravos) devem fazer parte do cuidado integral na Rede de Atenção à Saúde (RAS). Nessa perspectiva, afirmam eles, sobressai a Linha de Cuidado para o Tratamento do Sobrepeso e da Obesidade, que define as ações que devem ser desenvolvidas nos diferentes pontos da RAS, inclusive as de PAAS, planejadas com base no conhecimento do cenário epidemiológico e nutricional da população.
Para isso, observa o artigo, a Vigilância Alimentar e Nutricional (VAN) assume papel relevante no monitoramento e análise dos problemas nutricionais, subsidiando o planejamento da atenção nutricional no SUS. “A PAAS também é uma das diretrizes da PNAN que, segundo os termos da própria política, fundamenta-se nas ações de incentivo, apoio, proteção e promoção da saúde, planejadas de forma integrada no âmbito da RAS. Essas ações incluem a reorientação dos serviços, a construção de ambientes promotores de saúde, a educação alimentar e nutricional (EAN) o controle e a regulação de alimentos”.
A Política Nacional da Atenção Básica prevê a reorganização dos serviços com vistas a ampliar a equidade e a qualidade da atenção à saúde e, desse modo, propiciar ambientes que favoreçam a prevenção, a promoção e o cuidado integral em saúde. Nessa perspectiva destacam-se: a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil que visa promover o aleitamento materno e a introdução complementar de alimentos de forma adequada e saudável e o Programa Saúde na Escola (PSE). A promoção e a atenção à saúde do escolar integram tanto a PNAN, quanto a PNPS, e o PSE se propõe a articular a atenção básica em saúde com a escola, possibilitando ações de PAAS e o monitoramento do estado nutricional.
De acordo com o artigo, as ações de EAN integram todas as políticas analisadas e abarcam a produção de instrumentos e materiais educativos que fomentem escolhas alimentares mais saudáveis, e processos educativos desenvolvidos nas redes de educação e saúde e outros espaços públicos. Visando valorizar e qualificar esse conjunto de ações, o governo federal publicou o Marco de Referência de EAN para as políticas públicas.
Os guias alimentares destinados a crianças menores de dois anos e a população brasileira apresentam princípios para alimentação saudável, dentre eles o respeito à cultura alimentar local. Na perspectiva de complementariedade e diálogo entre os materiais produzidos, o livro Alimentos regionais brasileiros divulga a variedade de frutas, hortaliças e leguminosas, ressalta a diversidade cultural e valoriza os alimentos existentes no país. “O guia alimentar inova ao basear-se em uma classificação de alimentos que evidencia as relações entre o crescente consumo de alimentos processados e ultraprocessados e a obesidade. Além disso, aborda a alimentação na perspectiva da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)”.
Os pesquisadores ressaltam que a regulação da publicidade e comercialização de alimentos, especialmente para o público infantil, vem sendo objeto de políticas governamentais desde 2006, com elevado grau de conflito com o setor privado comercial, e obteve avanço significativo apenas na proteção aos lactentes e crianças de primeira infância. “Desde 2007 foram estabelecidos acordos voluntários entre o MS e a Associação Brasileira das Indústrias de Alimentos para melhoria da composição de produtos industrializados, especialmente aqueles preferidos pelo público infanto-juvenil, com redução gradativa dos teores de açúcares livres, sódio e gorduras trans, mas os acordos para redução de açúcares ainda não foram definidos”.
Eles também enfatizam a regulamentação da rotulagem nutricional para garantir o acesso à informação ao consumidor e inibir a publicidade no rótulo. “Esse tipo de regulação tem avançado no país, contudo ainda existem desafios quanto à qualidade das informações veiculadas e o seu potencial informativo”.
*Este artigo foi originalmente publicado na revista Ciência & Saúde Coletiva (vol.23 n.12), de dezembro de 2018.
Autor: Ensp/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/obesidade-infantil-e-tema-de-estudo
Farmanguinhos isola e purifica duas principais substâncias da pitanga
Uma equipe de pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Fármacos (Farmanguinhos/Fiocruz) isolou e purificou duas das principais substâncias encontradas no óleo essencial da pitanga, da classe dos terpenoides: selina – 1,3,7 (11) – trien-8-ona e epóxido de selina – 1,3,7 (11) – trien-8-ona. Os resultados foram publicados na última edição da Separation Science plus (SSC/Plus) sob o título "Isolamento de dois principais sesquiterpenos do óleo essencial de folha de Eugenia uniflora por cromatografia de contracorrente de alta velocidade em escala preparativa" (na tradução livre do Inglês). Dada a relevância, o estudo foi selecionado para compor a capa desse importante periódico científico.
Segundo o autor do artigo, o pesquisador André Mesquita Marques, a investigação teve como objetivo isolar os metabólitos majoritários do óleo essencial da Eugenia uniflora (nome científico da pitangueira) em alto grau de pureza de forma rápida e com economia de solvente. Para se ter uma ideia, ao todo, o óleo essencial da planta possui mais de 60 substâncias de caráter lipofílico, que são extremamente difíceis de isolar e purificar.
“Estes resultados abrem caminho para novos estudos sobre o óleo de Eugenia uniflora e seus metabólitos isolados. Esperamos poder fazer colaborações utilizando o óleo bruto assim como seus componentes majoritários para ensaios farmacológicos com foco para aplicação da biodiversidade e também contribuir para o estabelecimento de padrões químicos para a qualificação deste quimiotipo”, explica.
Segundo Marques, a técnica de cromatografia em contracorrente mostrou-se rápida e eficiente para separar as substâncias voláteis encontradas em diversos óleos essenciais de espécies vegetais.
“Pela primeira vez, esta técnica mostrou-se eficiente para separar sesquiterpenos majoritários de E. uniflora estruturalmente muito semelhantes, proporcionando produtos de alta pureza em um curto espaço de tempo com significativa economia de solvente”, frisa o pesquisador.
O trabalho com o óleo essencial de pitanga foi iniciado em 2014 e um método de separação foi desenvolvido e aprimorado. Um artigo sobre essa pesquisa foi elaborado em 2018 e publicado no fim do mesmo ano.
Desde o século 15 – De acordo com a literatura, várias são as aplicações da pitanga. A planta é descrita, por exemplo, como antidiarreica, anti-inflamatória, antirreumática, antipirética, hipotensora, diurética, hipolipidêmica e hipercolesterolemiante, antioxidante, antifúngica, vermífuga, antiparasitária, antimicrobiana, carminativa, expectorante, adstringente. Não por acaso, registros apontam que a espécie foi introduzida na medicina popular pelos índios guaranys ainda no século 15.
André Marques é doutor em Ciências pelo Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais (IPPN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob orientação dos também doutores Maria Raquel Figueiredo e Antonio Carlos Siani, ambos do mesmo grupo de pesquisa em produtos naturais de Farmanguinhos e coautores do estudo. Além deles, o trabalho teve a participação dos pesquisadores Marcelo Tappin, Maria Auxiliadora Kaplan, Virginia Correia e Victor Hugo de Aquino.
Autor: Alexandre Mattos
Fonte: Farmanguinhos/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/farmanguinhos-isola-e-purifica-duas-principais-substancias-da-pitanga
Segundo o autor do artigo, o pesquisador André Mesquita Marques, a investigação teve como objetivo isolar os metabólitos majoritários do óleo essencial da Eugenia uniflora (nome científico da pitangueira) em alto grau de pureza de forma rápida e com economia de solvente. Para se ter uma ideia, ao todo, o óleo essencial da planta possui mais de 60 substâncias de caráter lipofílico, que são extremamente difíceis de isolar e purificar.
“Estes resultados abrem caminho para novos estudos sobre o óleo de Eugenia uniflora e seus metabólitos isolados. Esperamos poder fazer colaborações utilizando o óleo bruto assim como seus componentes majoritários para ensaios farmacológicos com foco para aplicação da biodiversidade e também contribuir para o estabelecimento de padrões químicos para a qualificação deste quimiotipo”, explica.
Segundo Marques, a técnica de cromatografia em contracorrente mostrou-se rápida e eficiente para separar as substâncias voláteis encontradas em diversos óleos essenciais de espécies vegetais.
“Pela primeira vez, esta técnica mostrou-se eficiente para separar sesquiterpenos majoritários de E. uniflora estruturalmente muito semelhantes, proporcionando produtos de alta pureza em um curto espaço de tempo com significativa economia de solvente”, frisa o pesquisador.
O trabalho com o óleo essencial de pitanga foi iniciado em 2014 e um método de separação foi desenvolvido e aprimorado. Um artigo sobre essa pesquisa foi elaborado em 2018 e publicado no fim do mesmo ano.
Desde o século 15 – De acordo com a literatura, várias são as aplicações da pitanga. A planta é descrita, por exemplo, como antidiarreica, anti-inflamatória, antirreumática, antipirética, hipotensora, diurética, hipolipidêmica e hipercolesterolemiante, antioxidante, antifúngica, vermífuga, antiparasitária, antimicrobiana, carminativa, expectorante, adstringente. Não por acaso, registros apontam que a espécie foi introduzida na medicina popular pelos índios guaranys ainda no século 15.
André Marques é doutor em Ciências pelo Instituto de Pesquisas de Produtos Naturais (IPPN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob orientação dos também doutores Maria Raquel Figueiredo e Antonio Carlos Siani, ambos do mesmo grupo de pesquisa em produtos naturais de Farmanguinhos e coautores do estudo. Além deles, o trabalho teve a participação dos pesquisadores Marcelo Tappin, Maria Auxiliadora Kaplan, Virginia Correia e Victor Hugo de Aquino.
Autor: Alexandre Mattos
Fonte: Farmanguinhos/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/farmanguinhos-isola-e-purifica-duas-principais-substancias-da-pitanga
Aedes e Culex reagem de formas diferentes sob luz e calor
Um estudo liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) aponta que mosquitos Aedes aegypti e Culex quinquefasciatus apresentam reações diferentes aos estímulos de luz e calor, fatores fundamentais na regulação do relógio biológico dos seres vivos. Enquanto o Culex – popularmente conhecido pernilongo ou muriçoca – guia seus ciclos de atividade e repouso principalmente pelas variações de luminosidade, o vetor da dengue, Zika e chikungunya sofre maior influência da temperatura. Publicado na revista científica Journal of Biological Rhythms, o achado pode ter impacto na disseminação de doenças, uma vez que os padrões de locomoção interferem em aspectos importantes da biologia dos insetos, incluindo metabolismo, gasto energético, bem-estar e eficiência para transmissão de patógenos.
À frente de um grupo de cientistas dedicados a estudar os ritmos circadianos de insetos vetores de doenças, a pesquisadora Rafaela Vieira Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC e coordenadora do estudo, afirma que comportamento do C. quinquefasciatus mostra-se semelhante ao de outros insetos já estudados. Já a reação do A. aegypti é inesperada. “A maioria das pesquisas relacionada ao ritmo circadiano dos mosquitos é realizada com ciclos de claro e escuro, para simular o dia e a noite, e temperatura constante de 25°C. Porém, na natureza, a temperatura varia juntamente com a luminosidade e esse é um fator importante para o ajuste do relógio biológico. No trabalho, simulamos diferentes condições de luz e calor. Observamos que os Culex mantêm seu padrão noturno de locomoção, independentemente das mudanças de temperatura. Por outro lado, os Aedes – que normalmente são diurnos – trocam o dia pela noite quando confrontados com um ‘dia frio’ e uma ‘noite quente’”, relata a bióloga.
A pesquisa contou com a colaboração dos Laboratórios de Biologia Molecular de Insetos, de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC, além do Instituto de Biologia do Exército (Ibex) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM).
Autor: IOC/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/aedes-e-culex-reagem-de-formas-diferentes-sob-luz-e-calor
À frente de um grupo de cientistas dedicados a estudar os ritmos circadianos de insetos vetores de doenças, a pesquisadora Rafaela Vieira Bruno, chefe do Laboratório de Biologia Molecular de Insetos do IOC e coordenadora do estudo, afirma que comportamento do C. quinquefasciatus mostra-se semelhante ao de outros insetos já estudados. Já a reação do A. aegypti é inesperada. “A maioria das pesquisas relacionada ao ritmo circadiano dos mosquitos é realizada com ciclos de claro e escuro, para simular o dia e a noite, e temperatura constante de 25°C. Porém, na natureza, a temperatura varia juntamente com a luminosidade e esse é um fator importante para o ajuste do relógio biológico. No trabalho, simulamos diferentes condições de luz e calor. Observamos que os Culex mantêm seu padrão noturno de locomoção, independentemente das mudanças de temperatura. Por outro lado, os Aedes – que normalmente são diurnos – trocam o dia pela noite quando confrontados com um ‘dia frio’ e uma ‘noite quente’”, relata a bióloga.
A pesquisa contou com a colaboração dos Laboratórios de Biologia Molecular de Insetos, de Mosquitos Transmissores de Hematozoários e de Fisiologia e Controle de Artrópodes Vetores do IOC, além do Instituto de Biologia do Exército (Ibex) e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Entomologia Molecular (INCT-EM).
Autor: IOC/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/aedes-e-culex-reagem-de-formas-diferentes-sob-luz-e-calor
Presidente da Fiocruz se reúne com representante da Opas
A presidente da Fiocruz, Nísia Trindade de Lima, reuniu-se com a nova representante da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (Opas/OMS) no Brasil, Socorro Gross, na última quinta-feira (24/1), na sede da Opas/OMS em Brasília.
Nísia aproveitou a reunião para convidar a representante da Opas para participar do comitê de honra que celebrará em 2020 os 120 anos da Fiocruz (foto: Opas/OMS)
Na ocasião, elas conversaram sobre as várias parcerias que suas instituições possuem. A Fundação abriga cinco Centros Colaboradores da Opas/OMS, além de colaborar com o organismo internacional na produção de vacinas, em programas de vigilância, em pesquisa e na formação profissional.
A realização de trabalhos futuros conjuntos na área de inovação e tecnologia também foi discutida no encontro, bem como cooperação para ajudar o Brasil a alcançar as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Nísia aproveitou a reunião para convidar a representante da Opas para participar do comitê de honra que celebrará em 2020 os 120 anos da Fiocruz.
Socorro Gross é a primeira mulher a assumir o cargo e tomou posse no final de dezembro, após a aposentadoria de Joaquín Molina, que esteve à frente do organismo internacional por seis anos. Natural de Costa Rica, ela é médica e possui 30 anos de carreira na Opas/OMS.
Autor: Julia Dias
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/presidente-da-fiocruz-se-reune-com-representante-da-opas
Nísia aproveitou a reunião para convidar a representante da Opas para participar do comitê de honra que celebrará em 2020 os 120 anos da Fiocruz (foto: Opas/OMS)
Na ocasião, elas conversaram sobre as várias parcerias que suas instituições possuem. A Fundação abriga cinco Centros Colaboradores da Opas/OMS, além de colaborar com o organismo internacional na produção de vacinas, em programas de vigilância, em pesquisa e na formação profissional.
A realização de trabalhos futuros conjuntos na área de inovação e tecnologia também foi discutida no encontro, bem como cooperação para ajudar o Brasil a alcançar as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Nísia aproveitou a reunião para convidar a representante da Opas para participar do comitê de honra que celebrará em 2020 os 120 anos da Fiocruz.
Socorro Gross é a primeira mulher a assumir o cargo e tomou posse no final de dezembro, após a aposentadoria de Joaquín Molina, que esteve à frente do organismo internacional por seis anos. Natural de Costa Rica, ela é médica e possui 30 anos de carreira na Opas/OMS.
Autor: Julia Dias
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 29/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/presidente-da-fiocruz-se-reune-com-representante-da-opas
segunda-feira, 28 de janeiro de 2019
Doença de Chagas: estudo analisa fontes de alimentos do barbeiro
Um estudo da Fiocruz Minas, desenvolvido em parceria com outras três instituições, identificou as fontes alimentares dos triatomíneos, inseto transmissor da doença de Chagas também conhecido como barbeiro, capturados em um município do semiárido nordestino. A pesquisa também apontou o parasitismo pelo Trypanosoma cruzi, agente causador da doença, da principal espécie de barbeiro coletada, o T. brasilienses. Os resultados possibilitam compreender melhor a dinâmica de dispersão do vetor, auxiliando, dessa forma, antever os riscos de transmissão da doença.
Uma série de estudos anteriores já demonstrou que o ecletismo alimentar dessa espécie é um dos fatores que levam à reinfestação do ambiente artificial, ou seja, que sofre alteração do homem. “Isso acontece porque, sendo capazes de utilizar diversos tipos de alimento, insetos provenientes do ambiente silvestre conseguem se adaptar às novas condições do ambiente artificial”, explica a pesquisadora Liléia Diotaiuti, líder do Grupo de Triatomíneos da Fiocruz Minas.
O estudo foi realizado no município cearense de Tauá, área endêmica para a doença de Chagas, com altos níveis de infestação por triatomíneos. Para chegar aos resultados, os pesquisadores visitaram 252 residências, distribuídas em 18 localidades rurais, com o intuito de capturar os triatomíneos. As buscas foram realizadas no intradomicílio (dentro de casa), peridomicílio (galinheiro, chiqueiro, celeiro, construções, etc), bem como em esconderijos entre rochas do ambiente silvestre. As visitas ocorreram entre fevereiro de 2009 e agosto de 2015.
Nas áreas residenciais, foram capturados ao todo 2.906 insetos, sendo 66,4% da espécie T. brasilienses e 33,4% Triatoma pseudomaculata. Já no ambiente silvestre, os 1077 espécimes coletadas foram identificados como T. brasilienses. Por meio de testes laboratoriais, verificou-se que estavam contaminados pelo T. cruzi 10,3% dos insetos encontrados dentro de casa; 3,1% no peridomílicio; e 3,3 % em ambiente silvestre. Os números apontam que, conforme já mencionado em estudos anteriores, o T. brasilienses é a principal espécie responsável pela manutenção do ciclo de transmissão do T. cruzi na região Nordeste do Brasil.
Do total de insetos coletados, 279 passaram por testes moleculares para identificação das fontes de alimento. Sangue de 21 espécies de vertebrados foi identificado no tubo digestivo dos triatomíneos, tendo características dos diferentes ambientes: silvestre, peridomiciliar e domiciliar. A maior parte das amostras encontradas se refere a roedores (57,8%), seguidos de caprinos (21/1%). Também foram detectados bovinos, gatos, galinhas, marsupiais, suínos e cavalos.
Dentre as amostras analisadas, não foi detectado DNA humano, fato incomum no histórico epidemiológico do T. brasiliensis. De acordo com os pesquisadores, isso pode ser reflexo do trabalho de controle realizado, minimizando o contato dos insetos com os humanos.
Os resultados do estudo demonstram a intensa mobilidade de T. brasiliensisna região estudada, fato reforçado pela marcação genética do T.cruzi. Linhagens desse parasita tipicamente de regiões silvestres foram detectadas nas amostras de insetos capturados dentro de casa. “Encontrar triatomíneos contaminados dentro e fora das casas aponta para o risco com que os moradores convivem e reforçam a necessidade de manutenção das ações de vigilância entomológica”, avalia Liléia.
Outro aspecto a ser destacado é a diversidade de fonte alimentares observadas no peridomicílio. Por se tratar de uma região inserida no bioma da caatinga, caracterizado por grande aridez, o entorno das residências acumula muitos esconderijos, como telhas, tijolos e se sobrepõe às rochas do ambiente natural, constituindo, assim, abrigo para animais domésticos e silvestres, bem como favorecendo a proliferação de colônias de triatomíneos.
“Por se tratar de uma região muito quente, os triatomíneos procuram locais onde possam se abrigar e fugir da luz do sol. Então, esses esconderijos produzidos pelo próprio homem são ambientes propícios para a proliferação do inseto. Além disso, o ambiente silvestre, constituído pelas rochas altamente infestadas e muito próximas das casas, contribui para a formação de colônias junto ao homem”, afirma a pesquisadora.
Intitulado Triatoma brasiliensis Neiva, 1911: food sources and diversity of Trypanosoma cruzi in wild and artificial environments of the semiarid region of Ceará, northeastern Brazil [Triatoma brasiliensis Neiva, 1911: fontes alimentares e diversidade de Trypanosoma cruzi em ambientes silvestres e artificiais da região semiárida do Ceará, nordeste do Brasil], o estudo foi publicado recentemente na revista Parasites&Vectors. A pesquisa que, além da Fiocruz Minas, envolveu a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Secretaria de Estado de Saúde do Ceará e a Universidade de Buenos Aires é fruto da tese de doutorado de Cláudia Mendonça Bezerra, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC, sob orientação da pesquisadora Liléia Diotaiuti (IRR) e do pesquisador Alberto Novaes Ramos Júnior, da UFC.
Autor: Keila Maia
Fonte: IRR/Fiocruz Minas
Sítio Online da Publicação: Fiocruz Minas
Data: 25/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/doenca-de-chagas-estudo-analisa-fontes-de-alimentos-do-barbeiro
Uma série de estudos anteriores já demonstrou que o ecletismo alimentar dessa espécie é um dos fatores que levam à reinfestação do ambiente artificial, ou seja, que sofre alteração do homem. “Isso acontece porque, sendo capazes de utilizar diversos tipos de alimento, insetos provenientes do ambiente silvestre conseguem se adaptar às novas condições do ambiente artificial”, explica a pesquisadora Liléia Diotaiuti, líder do Grupo de Triatomíneos da Fiocruz Minas.
O estudo foi realizado no município cearense de Tauá, área endêmica para a doença de Chagas, com altos níveis de infestação por triatomíneos. Para chegar aos resultados, os pesquisadores visitaram 252 residências, distribuídas em 18 localidades rurais, com o intuito de capturar os triatomíneos. As buscas foram realizadas no intradomicílio (dentro de casa), peridomicílio (galinheiro, chiqueiro, celeiro, construções, etc), bem como em esconderijos entre rochas do ambiente silvestre. As visitas ocorreram entre fevereiro de 2009 e agosto de 2015.
Nas áreas residenciais, foram capturados ao todo 2.906 insetos, sendo 66,4% da espécie T. brasilienses e 33,4% Triatoma pseudomaculata. Já no ambiente silvestre, os 1077 espécimes coletadas foram identificados como T. brasilienses. Por meio de testes laboratoriais, verificou-se que estavam contaminados pelo T. cruzi 10,3% dos insetos encontrados dentro de casa; 3,1% no peridomílicio; e 3,3 % em ambiente silvestre. Os números apontam que, conforme já mencionado em estudos anteriores, o T. brasilienses é a principal espécie responsável pela manutenção do ciclo de transmissão do T. cruzi na região Nordeste do Brasil.
Do total de insetos coletados, 279 passaram por testes moleculares para identificação das fontes de alimento. Sangue de 21 espécies de vertebrados foi identificado no tubo digestivo dos triatomíneos, tendo características dos diferentes ambientes: silvestre, peridomiciliar e domiciliar. A maior parte das amostras encontradas se refere a roedores (57,8%), seguidos de caprinos (21/1%). Também foram detectados bovinos, gatos, galinhas, marsupiais, suínos e cavalos.
Dentre as amostras analisadas, não foi detectado DNA humano, fato incomum no histórico epidemiológico do T. brasiliensis. De acordo com os pesquisadores, isso pode ser reflexo do trabalho de controle realizado, minimizando o contato dos insetos com os humanos.
Os resultados do estudo demonstram a intensa mobilidade de T. brasiliensisna região estudada, fato reforçado pela marcação genética do T.cruzi. Linhagens desse parasita tipicamente de regiões silvestres foram detectadas nas amostras de insetos capturados dentro de casa. “Encontrar triatomíneos contaminados dentro e fora das casas aponta para o risco com que os moradores convivem e reforçam a necessidade de manutenção das ações de vigilância entomológica”, avalia Liléia.
Outro aspecto a ser destacado é a diversidade de fonte alimentares observadas no peridomicílio. Por se tratar de uma região inserida no bioma da caatinga, caracterizado por grande aridez, o entorno das residências acumula muitos esconderijos, como telhas, tijolos e se sobrepõe às rochas do ambiente natural, constituindo, assim, abrigo para animais domésticos e silvestres, bem como favorecendo a proliferação de colônias de triatomíneos.
“Por se tratar de uma região muito quente, os triatomíneos procuram locais onde possam se abrigar e fugir da luz do sol. Então, esses esconderijos produzidos pelo próprio homem são ambientes propícios para a proliferação do inseto. Além disso, o ambiente silvestre, constituído pelas rochas altamente infestadas e muito próximas das casas, contribui para a formação de colônias junto ao homem”, afirma a pesquisadora.
Intitulado Triatoma brasiliensis Neiva, 1911: food sources and diversity of Trypanosoma cruzi in wild and artificial environments of the semiarid region of Ceará, northeastern Brazil [Triatoma brasiliensis Neiva, 1911: fontes alimentares e diversidade de Trypanosoma cruzi em ambientes silvestres e artificiais da região semiárida do Ceará, nordeste do Brasil], o estudo foi publicado recentemente na revista Parasites&Vectors. A pesquisa que, além da Fiocruz Minas, envolveu a Universidade Federal do Ceará (UFC), a Secretaria de Estado de Saúde do Ceará e a Universidade de Buenos Aires é fruto da tese de doutorado de Cláudia Mendonça Bezerra, do Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública da UFC, sob orientação da pesquisadora Liléia Diotaiuti (IRR) e do pesquisador Alberto Novaes Ramos Júnior, da UFC.
Autor: Keila Maia
Fonte: IRR/Fiocruz Minas
Sítio Online da Publicação: Fiocruz Minas
Data: 25/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/doenca-de-chagas-estudo-analisa-fontes-de-alimentos-do-barbeiro
Revista Radis aborda a epidemia de sífilis
Matéria publicada na edição 196 da revista Radis - jan/2019
A médica de família Júlia Rocha registrou recentemente em sua página no Facebook indignação com um caso que atendeu: “Quando você descobre que aquela idosa de 80 anos que já passou por outros seis profissionais e está tomando diversos medicamentos psiquiátricos na tentativa de conter seus sintomas (sem sucesso) tem sífilis há décadas e isso causou comprometimento neurológico mas ninguém pediu um exame básico e, por isso, ela não foi tratada e sim rotulada de queixosa”. Nos comentários, uma colega reforça: “A sorologia para sífilis é exame de triagem em síndromes demenciais e sintomas ´psiquiátricos´ no idoso! Está no protocolo de investigação de demências! Como que ninguém pediu antes?!”
Esse “esquecimento” em torno da prevenção e tratamento da doença está cobrando o seu preço em termos de estratégias de saúde pública. Desde que foi tornada de notificação obrigatória, em 2010, os dados mostram curvas extremamente altas de crescimento da sífilis, mesmo sendo curável, com tratamento relativamente barato (o mais clássico dos antibióticos, a penicilina) e disponível na rede pública. O Brasil vive uma epidemia, reconhecida pelas autoridades de saúde em 2016. De qualquer ângulo que se olhem os dados epidemiológicos, a doença está crescendo. O número de infectados aumentou 48% de 2016 para 2017. No ano passado foram notificados 13.328 casos de sífilis adquirida, aquela que ocorre em adultos — para efeito de controle, ela é dividida em sífilis adquirida, sífilis em gestantes e sífilis congênita (transmitida na gravidez ou parto para o bebê).
“Até 2014, o crescimento dos números poderia refletir apenas um aumento de notificação, uma vez que a sífilis adquirida se tornou de notificação obrigatória somente em 2010. Mas, depois disso, não parece ser o caso. Há evidências que sugerem um aumento real da circulação da bactéria na população”, comenta a epidemiologista Rosa Domingues, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). As fontes oficiais atribuem o aumento de notificações, “em parte”, ao aprimoramento do sistema de vigilância e à ampliação da utilização de testes rápidos.
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível, causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum, que, por sua forma espiralada ao ser vista no microscópio, é conhecida também como espiroqueta. Pode ser transmitida ainda por transfusão de sangue contaminado ou da mãe para o bebê durante a gravidez ou parto. Até o século 19, era cercada de estigma e considerada a “doença venérea” (termo que caiu em desuso) por excelência — antes do advento do antibiótico, vitimou inúmeros artistas e escritores. Uma grave epidemia assolou a Europa ao longo dos séculos 16 e 17. Há registros de sequelas da sífilis em ossadas milenares nas Américas, mas a origem da circulação do Treponema não está totalmente esclarecida.
Os sintomas se manifestam no corpo em três estágios, explica a infectologista Cristina Hofer, professora do departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na chamada fase primária, uma ferida profunda, indolor e sem crosta aparece depois de 10 dias da infecção (mas pode ocorrer até 3 meses após) no órgão genital. “Na mulher, a lesão pode ficar na área interna da vagina e, como não dói, pode passar totalmente despercebida e não receber nenhum tratamento”, alerta Cristina. Sendo ou não tratada, essa lesão some naturalmente. Mas, sem tratamento, a bactéria permanece circulando no corpo.
Então, vem a fase secundária, com febre, ínguas e erupções na pele. “Os sintomas podem ser confundidos com viroses ou reações alérgicas, e se a doença não receber o cuidado adequado, continua circulando e sendo transmitida”, explica a médica. Na fase terciária, afeta os ossos, o coração, os olhos e os grandes vasos sanguíneos e causa sintomas neurológicos, como o citado por Júlia Rocha, podendo levar à morte ou deixar sequelas.
MULHERES VULNERÁVEIS
Dados do Boletim Epidemiológico da Sífilis 2018 mostram que a taxa de detecção da sífilis adquirida aumentou de 44,1 por grupo de 100 mil habitantes, em 2016, para 58,1 por 100 mil, em 2017. O boletim indica que o grupo populacional mais afetado é o de mulheres, principalmente as negras e jovens na faixa etária de 20 a 29 anos, que somam 14,4% de todos os casos de sífilis adquirida e de sífilis em gestantes. Em 2017, foram 10 casos em mulheres para cada sete casos em homens, razão que vem se mantendo estável desde 2014.
A infecção vem se instalando entre os segmentos mais jovens da população brasileira, “o que impõe a necessidade de desenvolver estratégias intersetoriais, incluindo ações de prevenção nas escolas e nas redes de interação juvenil”, como recomenda o texto do boletim. Campanhas publicitárias de âmbito nacional voltadas ao público jovem já podem ser vistas em grandes cidades do país, como cartazes nas estações do metrô do Rio de Janeiro. “É alarmante a situação”, conclui Cristina.
“A doença é considerada negligenciada e está relacionada a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Não se pesquisa mais sobre ela. Testes mais precisos não são desenvolvidos. Um exame um pouco mais detalhado, e necessário para as grávidas que apresentarem sorologia positiva no teste rápido, o VDRL, pode levar meses para retornar do laboratório”, relata a médica.
O principal tratamento é a injeção de penicilina benzatina ou benzetacil, dolorosa. Houve desabastecimento do produto em todo o país em 2017, por fatores do mercado global — justamente porque o medicamento é barato, o preço de compra estava abaixo do custo de produção. Rosa esclarece que o sistema de saúde ainda tem entraves de cuidado, ligadas à aplicação da injeção. “Muitas unidades preferem encaminhar para a emergência, em vez de aplicar ali mesmo”, conta. Outra questão é que implica comunicar o resultado positivo do exame para o parceiro e tratá-lo junto. “O machismo e a negligência dos parceiros estão relacionados a muitos casos de reinfecção, na avaliação de Cristina: “É comum que uma mulher já tratada volte porque o parceiro recusou se tratar”.
SÍFILIS CONGÊNITA
Fernanda (nome fictício) decidiu fazer o pré-natal em uma clínica particular. Ao longo da gravidez, passou por diferentes exames. Nenhum para detectar sífilis. Seu bebê nasceu com alterações na coagulação, ictérico (coloração amarelada na pele decorrente de alterações no funcionamento do fígado), problemas no baço e precisou ficar 10 dias internado no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Cristina, a médica que atendeu o menino, conta que a doença é cada vez mais frequente por ali. “É um problema que acarreta até falta de leitos nas maternidades, porque o bebê que nasce com a doença precisa ficar internado e algumas vezes necessita ir para a Unidade de Tratamento Intensivo”, constata ela.
O número de bebês nascidos com sífilis quadruplicou nos últimos 10 anos — em 2007, a taxa era de 1,9 casos para cada mil crianças nascidas vivas; em 2017; de 8,6 casos por cada mil nascidos vivos. Em 2014, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu como meta menos de meio caso para mil nascidos vivos. O Brasil está 16 vezes acima. Alguns estados apresentam taxa ainda maior do que a média nacional. A cidade de Porto Alegre, por exemplo, tem 32,8 casos por mil nascidos vivos. “Cerca de 85% dos registros de sífilis congênita na América Latina acontecem no Brasil. Quando se tira o país da conta, a doença está estável na região”, ressalta Rosa.
Toda gestante, durante o pré-natal, deve ser testada. Cristina indica que o protocolo de consulta inicial de gestantes são três testes rápidos: para HIV, sífilis e hepatites B e C. Mesmo se o exame resultar negativo, precisa ser repetido a cada trimestre da gravidez. “Mulheres fazem sexo também quando estão grávidas”, lembra a médica. Ou seja, pode acontecer infecção ou reinfecção (quando depois de tratada a grávida é exposta novamente à bactéria), se o parceiro não for tratado.
A pesquisa Nascer no Brasil mostrou que 99% das brasileiras passam por pelo menos uma consulta de pré-natal, grande oportunidade que o sistema de saúde tem de diagnosticar e tratar a infecção e impedir a transmissão para o bebê. Na Estratégia Saúde da Família, para diagnóstico de sífilis em gestantes, o protocolo é o uso do teste rápido. O resultado sai em 30 minutos. “Se a gestante for tratada corretamente, a transmissão vertical é evitada em 97% dos casos. Para isso, é preciso que a dose certa da penicilina seja administrada”, explica Rosa.
O tratamento da sífilis congênita tem um inimigo: o calendário. “Se você considerar que a maioria das gestantes não começa o pré-natal no primeiro trimestre, a janela de oportunidade é muito curta. É uma questão de organização. Eu sou uma defensora do teste rápido mas reconheço que ele implica em mudanças na forma como a equipe de atenção básica se organiza”, analisa.
Testar as grávidas e tratar elas e seus parceiros a tempo é a única forma de garantir que a criança nasça livre da bactéria. No entanto, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, mais de 40% das mulheres que têm a doença, que causa graves danos ao feto, só descobre o fato na hora do parto, curetagem ou aborto. O município do Rio de Janeiro é o lugar do país que tem as mais altas taxas de sífilis em gestantes, de 35,6 casos por mil nascidos vivos.
“Houve diminuição da subnotificação, entretanto há ineficiência no diagnóstico precoce e no tratamento adequado materno e de seu parceiro. Esse resultado é preocupante já que a sífilis gestacional é diagnosticada e tratada rapidamente por um baixo custo e com fácil acesso nas unidades básicas, demonstrando que há falhas na implementação das medidas de prevenção e de controle na atenção primária”, apontou a pesquisadora Marcela Pegoraro Bottega no artigo “Sífilis congênita: a incidência no Brasil e seus determinantes”, publicado em 2018 no periódico Anais da Medicina.
A sífilis congênita pode causar abortamento e morte do bebê pouco depois do nascimento. Em 2017, foram 206 óbitos por sífilis congênita no país, uma taxa de 7,2 casos por mil nascidos vivos, e as séries históricas mostram que a taxa vem crescendo em ritmo acelerado ano a ano. Na comparação com o controle de outras infecções sexualmente transmissíveis que podem acometer o bebê ao nascer, o controle da sífilis perde feio: “Temos observado uma grande queda na transmissão vertical do HIV, mas esse progresso não se reflete em uma doença tão antiga quanto a sífilis”, constata Cristina.
“Um dos fatores é que a sífilis pode ser transmitida durante todas as fases da gravidez da mãe para o bebê por via placentária, enquanto o controle da transmissão vertical do HIV se dá na maior parte dos casos com cuidados especiais na hora do parto”, explica a infectologista. A sífilis no bebê é doença de notificação obrigatória. “Para que o parto seja pago pelo SUS é obrigatório o VDRL do bebê, feito após a clampeagem do cordão umbilical”, reforça Cristina.
O boletim epidemiológico da doença mostra que para 90% das gestantes diagnosticadas foi prescrita a medicação, mas os altos percentuais de tratamentos prescritos não significam necessariamente altos percentuais do tratamento. “A mulher precisa entender a doença que tem, caso contrário, como ela vai aderir a um tratamento?”, questiona Rosa.
Acesse o site da Revista Radis
Autor: Revista Radis
Fonte: FioCruz
Sítio Online da Publicação: FioCruz
Data: 25/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/revista-radis-aborda-epidemia-de-sifilis
A médica de família Júlia Rocha registrou recentemente em sua página no Facebook indignação com um caso que atendeu: “Quando você descobre que aquela idosa de 80 anos que já passou por outros seis profissionais e está tomando diversos medicamentos psiquiátricos na tentativa de conter seus sintomas (sem sucesso) tem sífilis há décadas e isso causou comprometimento neurológico mas ninguém pediu um exame básico e, por isso, ela não foi tratada e sim rotulada de queixosa”. Nos comentários, uma colega reforça: “A sorologia para sífilis é exame de triagem em síndromes demenciais e sintomas ´psiquiátricos´ no idoso! Está no protocolo de investigação de demências! Como que ninguém pediu antes?!”
Esse “esquecimento” em torno da prevenção e tratamento da doença está cobrando o seu preço em termos de estratégias de saúde pública. Desde que foi tornada de notificação obrigatória, em 2010, os dados mostram curvas extremamente altas de crescimento da sífilis, mesmo sendo curável, com tratamento relativamente barato (o mais clássico dos antibióticos, a penicilina) e disponível na rede pública. O Brasil vive uma epidemia, reconhecida pelas autoridades de saúde em 2016. De qualquer ângulo que se olhem os dados epidemiológicos, a doença está crescendo. O número de infectados aumentou 48% de 2016 para 2017. No ano passado foram notificados 13.328 casos de sífilis adquirida, aquela que ocorre em adultos — para efeito de controle, ela é dividida em sífilis adquirida, sífilis em gestantes e sífilis congênita (transmitida na gravidez ou parto para o bebê).
“Até 2014, o crescimento dos números poderia refletir apenas um aumento de notificação, uma vez que a sífilis adquirida se tornou de notificação obrigatória somente em 2010. Mas, depois disso, não parece ser o caso. Há evidências que sugerem um aumento real da circulação da bactéria na população”, comenta a epidemiologista Rosa Domingues, pesquisadora do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz). As fontes oficiais atribuem o aumento de notificações, “em parte”, ao aprimoramento do sistema de vigilância e à ampliação da utilização de testes rápidos.
A sífilis é uma infecção sexualmente transmissível, causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum, que, por sua forma espiralada ao ser vista no microscópio, é conhecida também como espiroqueta. Pode ser transmitida ainda por transfusão de sangue contaminado ou da mãe para o bebê durante a gravidez ou parto. Até o século 19, era cercada de estigma e considerada a “doença venérea” (termo que caiu em desuso) por excelência — antes do advento do antibiótico, vitimou inúmeros artistas e escritores. Uma grave epidemia assolou a Europa ao longo dos séculos 16 e 17. Há registros de sequelas da sífilis em ossadas milenares nas Américas, mas a origem da circulação do Treponema não está totalmente esclarecida.
Os sintomas se manifestam no corpo em três estágios, explica a infectologista Cristina Hofer, professora do departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Na chamada fase primária, uma ferida profunda, indolor e sem crosta aparece depois de 10 dias da infecção (mas pode ocorrer até 3 meses após) no órgão genital. “Na mulher, a lesão pode ficar na área interna da vagina e, como não dói, pode passar totalmente despercebida e não receber nenhum tratamento”, alerta Cristina. Sendo ou não tratada, essa lesão some naturalmente. Mas, sem tratamento, a bactéria permanece circulando no corpo.
Então, vem a fase secundária, com febre, ínguas e erupções na pele. “Os sintomas podem ser confundidos com viroses ou reações alérgicas, e se a doença não receber o cuidado adequado, continua circulando e sendo transmitida”, explica a médica. Na fase terciária, afeta os ossos, o coração, os olhos e os grandes vasos sanguíneos e causa sintomas neurológicos, como o citado por Júlia Rocha, podendo levar à morte ou deixar sequelas.
MULHERES VULNERÁVEIS
Dados do Boletim Epidemiológico da Sífilis 2018 mostram que a taxa de detecção da sífilis adquirida aumentou de 44,1 por grupo de 100 mil habitantes, em 2016, para 58,1 por 100 mil, em 2017. O boletim indica que o grupo populacional mais afetado é o de mulheres, principalmente as negras e jovens na faixa etária de 20 a 29 anos, que somam 14,4% de todos os casos de sífilis adquirida e de sífilis em gestantes. Em 2017, foram 10 casos em mulheres para cada sete casos em homens, razão que vem se mantendo estável desde 2014.
A infecção vem se instalando entre os segmentos mais jovens da população brasileira, “o que impõe a necessidade de desenvolver estratégias intersetoriais, incluindo ações de prevenção nas escolas e nas redes de interação juvenil”, como recomenda o texto do boletim. Campanhas publicitárias de âmbito nacional voltadas ao público jovem já podem ser vistas em grandes cidades do país, como cartazes nas estações do metrô do Rio de Janeiro. “É alarmante a situação”, conclui Cristina.
“A doença é considerada negligenciada e está relacionada a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Não se pesquisa mais sobre ela. Testes mais precisos não são desenvolvidos. Um exame um pouco mais detalhado, e necessário para as grávidas que apresentarem sorologia positiva no teste rápido, o VDRL, pode levar meses para retornar do laboratório”, relata a médica.
O principal tratamento é a injeção de penicilina benzatina ou benzetacil, dolorosa. Houve desabastecimento do produto em todo o país em 2017, por fatores do mercado global — justamente porque o medicamento é barato, o preço de compra estava abaixo do custo de produção. Rosa esclarece que o sistema de saúde ainda tem entraves de cuidado, ligadas à aplicação da injeção. “Muitas unidades preferem encaminhar para a emergência, em vez de aplicar ali mesmo”, conta. Outra questão é que implica comunicar o resultado positivo do exame para o parceiro e tratá-lo junto. “O machismo e a negligência dos parceiros estão relacionados a muitos casos de reinfecção, na avaliação de Cristina: “É comum que uma mulher já tratada volte porque o parceiro recusou se tratar”.
SÍFILIS CONGÊNITA
Fernanda (nome fictício) decidiu fazer o pré-natal em uma clínica particular. Ao longo da gravidez, passou por diferentes exames. Nenhum para detectar sífilis. Seu bebê nasceu com alterações na coagulação, ictérico (coloração amarelada na pele decorrente de alterações no funcionamento do fígado), problemas no baço e precisou ficar 10 dias internado no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Cristina, a médica que atendeu o menino, conta que a doença é cada vez mais frequente por ali. “É um problema que acarreta até falta de leitos nas maternidades, porque o bebê que nasce com a doença precisa ficar internado e algumas vezes necessita ir para a Unidade de Tratamento Intensivo”, constata ela.
O número de bebês nascidos com sífilis quadruplicou nos últimos 10 anos — em 2007, a taxa era de 1,9 casos para cada mil crianças nascidas vivas; em 2017; de 8,6 casos por cada mil nascidos vivos. Em 2014, a Organização Mundial da Saúde estabeleceu como meta menos de meio caso para mil nascidos vivos. O Brasil está 16 vezes acima. Alguns estados apresentam taxa ainda maior do que a média nacional. A cidade de Porto Alegre, por exemplo, tem 32,8 casos por mil nascidos vivos. “Cerca de 85% dos registros de sífilis congênita na América Latina acontecem no Brasil. Quando se tira o país da conta, a doença está estável na região”, ressalta Rosa.
Toda gestante, durante o pré-natal, deve ser testada. Cristina indica que o protocolo de consulta inicial de gestantes são três testes rápidos: para HIV, sífilis e hepatites B e C. Mesmo se o exame resultar negativo, precisa ser repetido a cada trimestre da gravidez. “Mulheres fazem sexo também quando estão grávidas”, lembra a médica. Ou seja, pode acontecer infecção ou reinfecção (quando depois de tratada a grávida é exposta novamente à bactéria), se o parceiro não for tratado.
A pesquisa Nascer no Brasil mostrou que 99% das brasileiras passam por pelo menos uma consulta de pré-natal, grande oportunidade que o sistema de saúde tem de diagnosticar e tratar a infecção e impedir a transmissão para o bebê. Na Estratégia Saúde da Família, para diagnóstico de sífilis em gestantes, o protocolo é o uso do teste rápido. O resultado sai em 30 minutos. “Se a gestante for tratada corretamente, a transmissão vertical é evitada em 97% dos casos. Para isso, é preciso que a dose certa da penicilina seja administrada”, explica Rosa.
O tratamento da sífilis congênita tem um inimigo: o calendário. “Se você considerar que a maioria das gestantes não começa o pré-natal no primeiro trimestre, a janela de oportunidade é muito curta. É uma questão de organização. Eu sou uma defensora do teste rápido mas reconheço que ele implica em mudanças na forma como a equipe de atenção básica se organiza”, analisa.
Testar as grávidas e tratar elas e seus parceiros a tempo é a única forma de garantir que a criança nasça livre da bactéria. No entanto, de acordo com a Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro, mais de 40% das mulheres que têm a doença, que causa graves danos ao feto, só descobre o fato na hora do parto, curetagem ou aborto. O município do Rio de Janeiro é o lugar do país que tem as mais altas taxas de sífilis em gestantes, de 35,6 casos por mil nascidos vivos.
“Houve diminuição da subnotificação, entretanto há ineficiência no diagnóstico precoce e no tratamento adequado materno e de seu parceiro. Esse resultado é preocupante já que a sífilis gestacional é diagnosticada e tratada rapidamente por um baixo custo e com fácil acesso nas unidades básicas, demonstrando que há falhas na implementação das medidas de prevenção e de controle na atenção primária”, apontou a pesquisadora Marcela Pegoraro Bottega no artigo “Sífilis congênita: a incidência no Brasil e seus determinantes”, publicado em 2018 no periódico Anais da Medicina.
A sífilis congênita pode causar abortamento e morte do bebê pouco depois do nascimento. Em 2017, foram 206 óbitos por sífilis congênita no país, uma taxa de 7,2 casos por mil nascidos vivos, e as séries históricas mostram que a taxa vem crescendo em ritmo acelerado ano a ano. Na comparação com o controle de outras infecções sexualmente transmissíveis que podem acometer o bebê ao nascer, o controle da sífilis perde feio: “Temos observado uma grande queda na transmissão vertical do HIV, mas esse progresso não se reflete em uma doença tão antiga quanto a sífilis”, constata Cristina.
“Um dos fatores é que a sífilis pode ser transmitida durante todas as fases da gravidez da mãe para o bebê por via placentária, enquanto o controle da transmissão vertical do HIV se dá na maior parte dos casos com cuidados especiais na hora do parto”, explica a infectologista. A sífilis no bebê é doença de notificação obrigatória. “Para que o parto seja pago pelo SUS é obrigatório o VDRL do bebê, feito após a clampeagem do cordão umbilical”, reforça Cristina.
O boletim epidemiológico da doença mostra que para 90% das gestantes diagnosticadas foi prescrita a medicação, mas os altos percentuais de tratamentos prescritos não significam necessariamente altos percentuais do tratamento. “A mulher precisa entender a doença que tem, caso contrário, como ela vai aderir a um tratamento?”, questiona Rosa.
Acesse o site da Revista Radis
Autor: Revista Radis
Fonte: FioCruz
Sítio Online da Publicação: FioCruz
Data: 25/01/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/revista-radis-aborda-epidemia-de-sifilis
Projeto transforma espaços ociosos em verdadeiras hortas urbanas e estimula cultivo orgânico em Roraima
Hortas urbanas – Um quintal de possibilidades
Ter um quintal à disposição e vontade para aprender a cultivar os próprios alimentos unem famílias carentes participantes de um projeto inovador em Roraima. São os ‘Quintais Sustentáveis’, uma iniciativa da Embrapa em parceria com o Lar Fabiano de Cristo (unidade Casa de Timóteo) e fomento do CNPq, que busca estimular a produção e consumo de hortaliças, frutas e plantas medicinais em quintais de Boa Vista.
Iniciado em 2018 e com duração prevista de dois anos, o projeto tem em seus pilares a produção sustentável de base agroecológica, a segurança alimentar e nutricional, geração de renda e inclusão social e produtiva de públicos em situação de vulnerabilidade.
‘As pessoas não imaginam o potencial produtivo de um simples quintal’, diz Rafael Porto, pesquisador da Embrapa e coordenador do projeto. O agrônomo explica que, por meio de técnicas simples e acessíveis, qualquer pessoa pode explorar espaços dentro de áreas urbanas e periurbanas, conseguindo obter uma variedade interessante de frutas e hortaliças.
A ideia é qualificar as famílias para a produção sustentável, contribuindo para a diversificação alimentar e inclusão de produtos mais saudáveis e nutritivos nas refeições diárias. Para isso, o projeto vem realizando cursos e oficinas práticas sobre o cultivo orgânico, produção de adubo, técnicas de compostagem, uso racional da água e formas de aproveitamento dos alimentos.
A iniciativa também busca estimular o comércio dos produtos excedentes gerados pelas famílias em feiras e comércios locais. Esse viés, inclusive, já foi colocado em prática durante III Simpósio de Agroecologia, evento que ocorreu em Boa Vista, no final de 2018. Participantes do projeto foram convidados a integrar as atividades do Simpósio, levando para comercialização alimentos cultivados em seus espaços domésticos.
O resultado foi mais que positivo. Além do incremento da renda, a participação no evento mostrou uma oportunidade de negócio para as famílias, que fizeram contato com chefes de restaurantes e potenciais consumidores. “Na verdade, as possibilidades são várias, incluindo a produção de mudas e também de composto orgânico para venda”, revela o pesquisador.
Atualmente, o projeto conta com 11 famílias participantes e estimativa de chegar a 15 até o final de 2019. Já o alcance indireto é maior, estimado em mais de 300 pessoas, uma vez que as famílias atendidas também funcionam como multiplicadores junto a sua comunidade.
Para o corpo e mente
Moradora do bairro Nova Cidade, localizado na periferia de Boa Vista-RR, Dona Gisaura foi uma das primeiras participantes a ter o seu quintal transformado. Antes de conhecer o projeto, tinha pouco contato com hortas. Hoje, já está produzindo alface, cebolinha, coentro, tomate, rabanete e cenoura, além do próprio composto orgânico. “Acho que tenho uma mão boa para isso, pois tudo que planto está brotando, crescendo e florando”, revela.
Além do aprendizado sobre adubação, plantio e controle de doenças, a dona de casa destaca a melhoria na alimentação da família como um dos principais ganhos. “Tudo que cultivo é livre de agrotóxico, feito de forma natural. A alimentação lá de casa está muito mais saudável agora”, afirma.
Para ela, a atividade na horta trouxe ainda outro benefício. “Funciona como uma terapia, um momento para desestressar dos problemas do cotidiano. Quando estou mexendo nas plantas, esqueço do mundo, fico até mais relaxada”, conta.
Entre os planos futuros, está a ampliação da horta. “Quero plantar berinjela, maxixe e quiabo”. A berinjela foi apresentada à Dona Gisaura em uma das oficinas realizadas. Nesses momentos, além das questões técnicas, também são repassadas informações sobre a preparação e utilização das verduras e legumes, com degustação de receitas, tudo para incentivar ainda mais o consumo de produtos naturais pelas famílias.
Caráter colaborativo
Para ser beneficiada com um Quintal Sustentável, a família deve, primeiramente, estar cadastrada na Casa de Timóteo. É feito então uma seleção, observando a disponibilidade e compromisso do grupo familiar para manutenção dos quintais e viabilidade dos espaços para instalação das hortas e pomares.
Com as famílias selecionadas, iniciam-se as capacitações técnicas na linha de produção orgânica, com posterior doação de mudas e sementes para instalação inicial dos Quintais. Nessa etapa, o trabalho é realizado em mutirão, quando todas as famílias envolvidas ajudam na implantação dos quintais uma das outras.
Esse caráter colaborativo é um dos destaques do projeto. A seleção das espécies a serem instaladas é feita em conjunto com os participantes, com aplicação de um questionário para entender o hábito alimentar da família, explica Raimeyre Dias, agrônoma ligada à Casa de Timóteo.
“Realizamos um trabalho participativo para que todos tenham voz nas escolhas e se sintam integrados ao processo. Por isso, buscamos utilizar muito do que as famílias já têm em casa, trabalhando com materiais alternativos como pneus para a construção das hortas e canteiros. O objetivo é produzir, conforme a realidade de cada um. Primeiro para si, depois para a venda ou doação”, diz Raimeyre.
O compartilhamento de informações também é um diferencial. Por meio de um aplicativo de troca de mensagem, os participantes conseguem se comunicar facilmente com os técnicos envolvidos, enviando fotos, vídeos e tirando dúvidas sobre doenças e pragas, por exemplo. Essa comunicação também estimula a aproximação entre as famílias, que se tornam amigas com a troca.
Parceiros
A produção de mudas é feita na sede da Casa de Timóteo, instituição social que atende crianças de baixa renda com atividades de reforço escolar, educação e recreação. Para o pesquisador, a parceria com a entidade está sendo essencial para o sucesso do Projeto. “A Casa de Timóteo possui uma infraestrutura física e de pessoal que facilita bastante a articulação das ações e capacitações, além de também já desenvolver trabalhos com hortas urbanas desde 2007”, diz.
Também são parceiros do projeto a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Roraima (SEAPA), Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (FEMARH), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Estadual de Roraima (UERR), Faculdades Cathedral, Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus/AM) e Universidad Nacional de Loja (Equador).
Por Clarice Monteiro Rocha
Embrapa Roraima
Ter um quintal à disposição e vontade para aprender a cultivar os próprios alimentos unem famílias carentes participantes de um projeto inovador em Roraima. São os ‘Quintais Sustentáveis’, uma iniciativa da Embrapa em parceria com o Lar Fabiano de Cristo (unidade Casa de Timóteo) e fomento do CNPq, que busca estimular a produção e consumo de hortaliças, frutas e plantas medicinais em quintais de Boa Vista.
Iniciado em 2018 e com duração prevista de dois anos, o projeto tem em seus pilares a produção sustentável de base agroecológica, a segurança alimentar e nutricional, geração de renda e inclusão social e produtiva de públicos em situação de vulnerabilidade.
‘As pessoas não imaginam o potencial produtivo de um simples quintal’, diz Rafael Porto, pesquisador da Embrapa e coordenador do projeto. O agrônomo explica que, por meio de técnicas simples e acessíveis, qualquer pessoa pode explorar espaços dentro de áreas urbanas e periurbanas, conseguindo obter uma variedade interessante de frutas e hortaliças.
A ideia é qualificar as famílias para a produção sustentável, contribuindo para a diversificação alimentar e inclusão de produtos mais saudáveis e nutritivos nas refeições diárias. Para isso, o projeto vem realizando cursos e oficinas práticas sobre o cultivo orgânico, produção de adubo, técnicas de compostagem, uso racional da água e formas de aproveitamento dos alimentos.
A iniciativa também busca estimular o comércio dos produtos excedentes gerados pelas famílias em feiras e comércios locais. Esse viés, inclusive, já foi colocado em prática durante III Simpósio de Agroecologia, evento que ocorreu em Boa Vista, no final de 2018. Participantes do projeto foram convidados a integrar as atividades do Simpósio, levando para comercialização alimentos cultivados em seus espaços domésticos.
O resultado foi mais que positivo. Além do incremento da renda, a participação no evento mostrou uma oportunidade de negócio para as famílias, que fizeram contato com chefes de restaurantes e potenciais consumidores. “Na verdade, as possibilidades são várias, incluindo a produção de mudas e também de composto orgânico para venda”, revela o pesquisador.
Atualmente, o projeto conta com 11 famílias participantes e estimativa de chegar a 15 até o final de 2019. Já o alcance indireto é maior, estimado em mais de 300 pessoas, uma vez que as famílias atendidas também funcionam como multiplicadores junto a sua comunidade.
Para o corpo e mente
Moradora do bairro Nova Cidade, localizado na periferia de Boa Vista-RR, Dona Gisaura foi uma das primeiras participantes a ter o seu quintal transformado. Antes de conhecer o projeto, tinha pouco contato com hortas. Hoje, já está produzindo alface, cebolinha, coentro, tomate, rabanete e cenoura, além do próprio composto orgânico. “Acho que tenho uma mão boa para isso, pois tudo que planto está brotando, crescendo e florando”, revela.
Além do aprendizado sobre adubação, plantio e controle de doenças, a dona de casa destaca a melhoria na alimentação da família como um dos principais ganhos. “Tudo que cultivo é livre de agrotóxico, feito de forma natural. A alimentação lá de casa está muito mais saudável agora”, afirma.
Para ela, a atividade na horta trouxe ainda outro benefício. “Funciona como uma terapia, um momento para desestressar dos problemas do cotidiano. Quando estou mexendo nas plantas, esqueço do mundo, fico até mais relaxada”, conta.
Entre os planos futuros, está a ampliação da horta. “Quero plantar berinjela, maxixe e quiabo”. A berinjela foi apresentada à Dona Gisaura em uma das oficinas realizadas. Nesses momentos, além das questões técnicas, também são repassadas informações sobre a preparação e utilização das verduras e legumes, com degustação de receitas, tudo para incentivar ainda mais o consumo de produtos naturais pelas famílias.
Caráter colaborativo
Para ser beneficiada com um Quintal Sustentável, a família deve, primeiramente, estar cadastrada na Casa de Timóteo. É feito então uma seleção, observando a disponibilidade e compromisso do grupo familiar para manutenção dos quintais e viabilidade dos espaços para instalação das hortas e pomares.
Com as famílias selecionadas, iniciam-se as capacitações técnicas na linha de produção orgânica, com posterior doação de mudas e sementes para instalação inicial dos Quintais. Nessa etapa, o trabalho é realizado em mutirão, quando todas as famílias envolvidas ajudam na implantação dos quintais uma das outras.
Esse caráter colaborativo é um dos destaques do projeto. A seleção das espécies a serem instaladas é feita em conjunto com os participantes, com aplicação de um questionário para entender o hábito alimentar da família, explica Raimeyre Dias, agrônoma ligada à Casa de Timóteo.
“Realizamos um trabalho participativo para que todos tenham voz nas escolhas e se sintam integrados ao processo. Por isso, buscamos utilizar muito do que as famílias já têm em casa, trabalhando com materiais alternativos como pneus para a construção das hortas e canteiros. O objetivo é produzir, conforme a realidade de cada um. Primeiro para si, depois para a venda ou doação”, diz Raimeyre.
O compartilhamento de informações também é um diferencial. Por meio de um aplicativo de troca de mensagem, os participantes conseguem se comunicar facilmente com os técnicos envolvidos, enviando fotos, vídeos e tirando dúvidas sobre doenças e pragas, por exemplo. Essa comunicação também estimula a aproximação entre as famílias, que se tornam amigas com a troca.
Parceiros
A produção de mudas é feita na sede da Casa de Timóteo, instituição social que atende crianças de baixa renda com atividades de reforço escolar, educação e recreação. Para o pesquisador, a parceria com a entidade está sendo essencial para o sucesso do Projeto. “A Casa de Timóteo possui uma infraestrutura física e de pessoal que facilita bastante a articulação das ações e capacitações, além de também já desenvolver trabalhos com hortas urbanas desde 2007”, diz.
Também são parceiros do projeto a Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Roraima (SEAPA), Fundação Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (FEMARH), Universidade Federal de Roraima (UFRR), Universidade Estadual de Roraima (UERR), Faculdades Cathedral, Embrapa Amazônia Ocidental (Manaus/AM) e Universidad Nacional de Loja (Equador).
Por Clarice Monteiro Rocha
Embrapa Roraima
Produção de hortaliças contribui para a melhoria da qualidade nutricional de familias carentes de Roraima- FOTO Rafael Porto
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/28/projeto-transforma-espacos-ociosos-em-verdadeiras-hortas-urbanas-e-estimula-cultivo-organico-em-roraima/
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/28/projeto-transforma-espacos-ociosos-em-verdadeiras-hortas-urbanas-e-estimula-cultivo-organico-em-roraima/
Whitebook: saiba o que é psoríase e como identificar
Definição: Doença inflamatória crônica da pele e articulações.
Fisiopatologia: Multifatorial, imunomediada. Fatores desencadeadentes específicos (infecções, medicamentos, estresse emocial, etc..) podem abrir o quadro nos pacientes pré-dispostos.
Quadro Clínico: A lesão clássica é a placa eritemato-escamosa bem delimitada, podendo atingir qualquer parte da pele.
Formas clínicas da psoríase:
- Psoríase em placas (?psoríase vulgar?): placas eritemato-escamosas clássicas
- Psoríase em gotas (?gutata?): pápulas eritemato-escamosas disseminadas
- Psoríase eritrodérmica: eritema e descamação generalizados
- Psoríase pustulosa: presença de eritema e pústulas, pode ser localizada ou generalizada
- Psoríase palmo-plantar: intensa ceratose e escamação restrita a localizaão palmo-plantar
- Psoríase ungueal: alterações ungueais características, como depressões cupuliformes (?pittings?), onicólise, ceratose.
Marcadores de gravidade:
- Cálculo do índice de gravidade e área da psoríase
(PASI).
- Pacientes com PASI >10 devem ser considerados para terapia sistêmica.
Curetagem metódica de Brocq: ao curetar uma parte da lesão observamos 2 sinais típicos, o sinal da vela (estratificação e soltura das escamas) e o sinal do orvalho sangrante (Sinal de Auspitz, que evidencia pequenos pontos hemorrágicos logo após a soltura das escamas).Biópsia da lesão: a análise histopatológica é bastante sugestiva com achados clássicos de hiperceratose, paraceratose, hipogranulosa e papilomatose.
Diagnóstico Diferencial
- Dermatite seborreica;
- Líquen plano hipertrófico;
- Dermatofitoses;
- Pênfigo foliáceo;
- Entre outros.
Autor: Roberto Caligari
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/whitebook-saiba-o-que-e-psoriase-e-como-identificar/
Saiba o que é o fenômeno de Raynaud em mamilos
Imaginem as seguintes situações (relatos de caso publicados por Abrantes et al., 2016).
Paciente do sexo feminino, 39 anos, G2P1, com antecedentes pessoais de lúpus eritematoso sistêmico, iniciou episódios de dor mamilar bilateral intensa desde a segunda semana pós-parto, associada a alteração trifásica da coloração do mamilo durante e após a amamentação. Foi estabelecido o diagnóstico de fenômeno de Raynaud baseado na história clínica e após a realização de teste de provocação com reprodução imediata de sintomas e sinais. Esta paciente foi medicada com nifedipina, tornando-se assintomática após quatro semanas de tratamento;
Paciente do sexo feminino, 30 anos, G1P1, com antecedentes pessoais irrelevantes, apresentou episódio doloroso em seio direito provocado pela amamentação e caracterizado por palidez mamilar, cianose e hiperemia subsequentes. Esta paciente recusou tratamento farmacológico. O uso de bombas de esvaziamento mamário resultou em resolução de sintomatologia.
Estas duas situações clínicas referem-se a dois casos de fenômeno de Raynaud (FR) em mamilos, causa tratável de dor durante o aleitamento materno e motivo de abandono da amamentação, devendo, portanto, ser identificado e tratado o mais rápido possível.
O FR foi descrito pela primeira vez em 1862 pelo médico francês Maurice Raynaud. Caracteriza-se pela ocorrência de vasoespasmo intermitente em pequenas artérias, causando isquemia intermitente e subsequente vasodilatação reflexa. A isquemia se manifesta como palidez seguida de desoxigenação que resulta em cianose, com consequente vasodilatação reflexa e reperfusão, ocasionando eritema. As alterações episódicas de cor ocorrem de forma sequencial (palidez, cianose, rubor) em extremidades, com duração de alguns minutos a horas, geralmente desencadeadas pelo frio e/ou estresse vascular. O FR primário ocorre sozinho, sem doenças concomitantes, geralmente é benigno e tem prognóstico favorável. O FR secundário ocorre em uma variedade de doenças com progressão e prognóstico muito variáveis, a maioria desfavorável devido ao desenvolvimento de necrose e gangrena. Causas mais comuns de FR secundário podem ser resumidas no quadro.
O FR é comumente visto em mãos, pés e orelhas. Embora menos comum, há relatos de FR envolvendo a língua. O FR de mamilos foi descrito pela primeira vez em 1977, por Lawlor-Smith e Lawlor-Smith, que relataram cinco mulheres com o FR associado à amamentação.
O FR de mamilos afeta 20% das mulheres em idade fértil7. Mulheres em idade fértil possuem maior risco de desenvolver o FR, pelo menos parcialmente, por resposta vasomotora excessiva relativa ao aumento dos níveis de estrogênios. A elevação dos níveis de estrogênios aumenta a resposta do músculo liso à ativação de α2c-adrenoreceptores. Esta hiperresponsividade, aliada à exposição ao frio, promove vasoconstrição intensa de artérias e arteríolas da pele. O estresse emocional (o próprio aleitamento materno é tido como situação de grande estresse emocional por um número considerável de mulheres no puerpério) induz à liberação de noradrenalina pelo sistema nervoso simpático. A noradrenalina, por sua vez, se liga a receptores adrenérgicos vasculares regulados por estrogênios, o que pode culminar em FR.
Os critérios para diagnóstico de FR mamilar, propostos por Barrett et al. em 2013 incluem:
A. Dor mamilar moderada a intensa, com duração prolongada (em geral, em período igual ou superior a quatro semanas);
Autor: Roberta Esteves Vieira de Castro
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/saiba-o-que-e-o-fenomeno-de-raynaud-em-mamilos/
Paciente do sexo feminino, 39 anos, G2P1, com antecedentes pessoais de lúpus eritematoso sistêmico, iniciou episódios de dor mamilar bilateral intensa desde a segunda semana pós-parto, associada a alteração trifásica da coloração do mamilo durante e após a amamentação. Foi estabelecido o diagnóstico de fenômeno de Raynaud baseado na história clínica e após a realização de teste de provocação com reprodução imediata de sintomas e sinais. Esta paciente foi medicada com nifedipina, tornando-se assintomática após quatro semanas de tratamento;
Paciente do sexo feminino, 30 anos, G1P1, com antecedentes pessoais irrelevantes, apresentou episódio doloroso em seio direito provocado pela amamentação e caracterizado por palidez mamilar, cianose e hiperemia subsequentes. Esta paciente recusou tratamento farmacológico. O uso de bombas de esvaziamento mamário resultou em resolução de sintomatologia.
Estas duas situações clínicas referem-se a dois casos de fenômeno de Raynaud (FR) em mamilos, causa tratável de dor durante o aleitamento materno e motivo de abandono da amamentação, devendo, portanto, ser identificado e tratado o mais rápido possível.
O FR foi descrito pela primeira vez em 1862 pelo médico francês Maurice Raynaud. Caracteriza-se pela ocorrência de vasoespasmo intermitente em pequenas artérias, causando isquemia intermitente e subsequente vasodilatação reflexa. A isquemia se manifesta como palidez seguida de desoxigenação que resulta em cianose, com consequente vasodilatação reflexa e reperfusão, ocasionando eritema. As alterações episódicas de cor ocorrem de forma sequencial (palidez, cianose, rubor) em extremidades, com duração de alguns minutos a horas, geralmente desencadeadas pelo frio e/ou estresse vascular. O FR primário ocorre sozinho, sem doenças concomitantes, geralmente é benigno e tem prognóstico favorável. O FR secundário ocorre em uma variedade de doenças com progressão e prognóstico muito variáveis, a maioria desfavorável devido ao desenvolvimento de necrose e gangrena. Causas mais comuns de FR secundário podem ser resumidas no quadro.
O FR é comumente visto em mãos, pés e orelhas. Embora menos comum, há relatos de FR envolvendo a língua. O FR de mamilos foi descrito pela primeira vez em 1977, por Lawlor-Smith e Lawlor-Smith, que relataram cinco mulheres com o FR associado à amamentação.
O FR de mamilos afeta 20% das mulheres em idade fértil7. Mulheres em idade fértil possuem maior risco de desenvolver o FR, pelo menos parcialmente, por resposta vasomotora excessiva relativa ao aumento dos níveis de estrogênios. A elevação dos níveis de estrogênios aumenta a resposta do músculo liso à ativação de α2c-adrenoreceptores. Esta hiperresponsividade, aliada à exposição ao frio, promove vasoconstrição intensa de artérias e arteríolas da pele. O estresse emocional (o próprio aleitamento materno é tido como situação de grande estresse emocional por um número considerável de mulheres no puerpério) induz à liberação de noradrenalina pelo sistema nervoso simpático. A noradrenalina, por sua vez, se liga a receptores adrenérgicos vasculares regulados por estrogênios, o que pode culminar em FR.
Os critérios para diagnóstico de FR mamilar, propostos por Barrett et al. em 2013 incluem:
A. Dor mamilar moderada a intensa, com duração prolongada (em geral, em período igual ou superior a quatro semanas);
B. Dois ou mais dos seguintes critérios:
1) Modificações bi ou trifásicas da coloração do mamilo, principalmente por exposição ao frio;
2) Sensibilidade ou modificações da cor das mãos e/ou dos pés por exposição ao frio;
3) Sem resposta ao tratamento com medicamentos antifúngicos por via oral (informação valiosa, aumentando a possibilidade do diagnóstico de FR mamilar).
C. Confirmação: Resposta positiva ao tratamento direcionado para o FR.
As lactantes com FR mamilar devem ser aconselhadas a manter as mamas e mamilos aquecidos e a evitar temperaturas frias e substâncias vasoconstritoras, como nicotina e cafeína. O uso de bombas de esvaziamento mamário pode resultar em franca redução e, subsequentemente, em desaparecimento da sintomatologia. Em relação à abordagem farmacológica, o medicamento de primeira linha para o tratamento do FR mamilar é o antagonista dos canais de cálcio nifedipina, aprovado pela Academia Americana de Pediatria para o uso materno durante a amamentação, atuando como vasodilatador. É recomendada a prescrição de nifedipina de liberação lenta, na dose de 30 a 60 mg/dia, de duas semanas até ao fim do período de amamentação. Alguns efeitos colaterais decorrentes do uso da nifedipina incluem: náuseas, tonturas, cefaleia, taquicardia e hipotensão.
1) Modificações bi ou trifásicas da coloração do mamilo, principalmente por exposição ao frio;
2) Sensibilidade ou modificações da cor das mãos e/ou dos pés por exposição ao frio;
3) Sem resposta ao tratamento com medicamentos antifúngicos por via oral (informação valiosa, aumentando a possibilidade do diagnóstico de FR mamilar).
C. Confirmação: Resposta positiva ao tratamento direcionado para o FR.
As lactantes com FR mamilar devem ser aconselhadas a manter as mamas e mamilos aquecidos e a evitar temperaturas frias e substâncias vasoconstritoras, como nicotina e cafeína. O uso de bombas de esvaziamento mamário pode resultar em franca redução e, subsequentemente, em desaparecimento da sintomatologia. Em relação à abordagem farmacológica, o medicamento de primeira linha para o tratamento do FR mamilar é o antagonista dos canais de cálcio nifedipina, aprovado pela Academia Americana de Pediatria para o uso materno durante a amamentação, atuando como vasodilatador. É recomendada a prescrição de nifedipina de liberação lenta, na dose de 30 a 60 mg/dia, de duas semanas até ao fim do período de amamentação. Alguns efeitos colaterais decorrentes do uso da nifedipina incluem: náuseas, tonturas, cefaleia, taquicardia e hipotensão.
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 28/01/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/saiba-o-que-e-o-fenomeno-de-raynaud-em-mamilos/
sexta-feira, 25 de janeiro de 2019
Barragens da Vale se rompem em Brumadinho, Grande BH; bombeiros confirmam 200 desaparecidos
RESUMO
A Vale informou que o rompimento ocorreu no início da tarde de hoje, na Mina Córrego do Feijão; uma barragem rompeu e levou outras 2.
Um mar de lama destruiu casas da região. Rejeitos atingiram a área administrativa da companhia e parte da comunidade da Vila Ferteco.
Governo montou gabinete de crise, e 3 ministros estão a caminho; Bolsonaro irá sobrevoar o local no sábado.
Autor: G1 Globo
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data: 25/01/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/mg/minas-gerais/ao-vivo/barragem-da-vale-se-rompe-em-brumadinho-na-grande-bh.ghtml
A FAO reuniu cinco ações que podemos adotar para combater o aquecimento global
5 atitudes que você pode tomar para combater o aquecimento global
ONU
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) reuniu cinco ações que você pode adotar para combater o aquecimento global. Entre as recomendações, está a redução do consumo de carne e a compra de alimentos de produtores locais.
As variações e fenômenos climáticos extremos são umas das principais causas do aumento da fome no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Com o crescimento da população mundial, a produção de comida enfrenta o desafio de alimentar mais pessoas em meio a condições ambientais imprevisíveis.
Mas é possível combater as mudanças climáticas e garantir que todos tenham uma alimentação saudável, inclusive por meio de pequenas ações rotineiras. Confira as cinco dicas da FAO e participe da luta contra o aquecimento global:
1. Tenha uma dieta mais sustentável e diversificada
Cardápio com menos carne é mais sustentável, segundo a FAO. Foto: PEXELS (CC)/Ella Olsson
Uma vez por semana, tente comer uma refeição 100% vegetariana (contendo leguminosas como as lentilhas, os feijões, as ervilhas e grão de bico) no lugar de uma refeição à base de carne. São necessários mais recursos naturais para produzir carne, principalmente água. Milhões de acres de floresta tropical úmida também são derrubados e queimados para transformar as terras em pastos para o gado.
Diversificando a sua alimentação, você poderá descobrir cereais “ancestrais”, como a quinoa. Existem, por exemplo, mais de 200 variedades de quinoa, adaptadas a diferentes tipos de clima.
2. Reduza o desperdício de comida
Desperdício de alimentos preocupa a FAO e o governo brasileiro. Foto: EBC
Por ano, um terço dos alimentos produzidos é desperdiçado. Isso quer dizer também que são desperdiçados os recursos — como água, mão de obra, transportes — usados na produção. Quando for ao mercado, compre apenas o que precisar, fazendo uma lista e estabelecendo as receitas e cardápios com antecedência, a fim de evitar as compras impulsivas.
Lembre-se que também é possível aproveitar as sobras e restos, que podem ser facilmente jogados fora, mas também podem servir de ingredientes para outras receitas ou ser congelados para consumo futuro.
Compre frutas e legumes “feios”, que são frequentemente desperdiçados porque não têm uma aparência perfeita. Não se deixe enganar: eles têm o mesmo gosto.
3. Use menos água
Escovar os dentes com a torneira fechada evita o desperdício de água. Foto: PEXELS (CC)/Moose Photos
A água é o elemento fundamental da vida e, sem ela, não é possível produzir comida. Os agricultores precisam aprender a utilizar menos água para o crescimento das suas culturas. Mas você também pode proteger os recursos hídricos do planeta reduzindo o desperdício alimentar. Quando você joga fora a sua comida, você desperdiça a água necessária para a sua produção. Você sabia que são necessários 50 litros de água para produzir uma laranja?
Você também pode reduzir o desperdício de água tomando banhos mais curtos e fechando a torneira ao escovar os dentes.
4. Conserve os solos e a água
Aterro sanitário em Payson, no Arizona, Estados Unidos. Foto: Flickr (CC)/Alan Levine
Alguns resíduos domésticos são potencialmente perigosos e não devem nunca ser jogados fora numa lixeira comum. São itens como pilhas, tintas, celulares, remédios, produtos químicos, fertilizantes, cartuchos. Eles podem infiltrar o solo e acabar em reservas de água, contaminando recursos naturais que possibilitam a produção de comida.
Isso sem falar no plástico — estima-se que um terço do plástico produzido no mundo está no solo. Reduza a utilização de plástico para manter os solos limpos.
5. Apoie os produtores locais
A cambojana Thoeun faz a colheita do milho na sua propriedade rural, em Kampong Cham, Camboja. Foto: Banco Mundial/Chhor Sokunthea
Os agricultores são os mais duramente afetados pelas mudanças climáticas. Mais do que nunca, eles precisam de apoio. Comprando produtos locais, você ajuda os agricultores familiares e as pequenas empresas do lugar onde vive. Você também contribui para a luta contra a poluição, reduzindo as distâncias de frete percorridas por caminhões e outros veículos.
A segurança alimentar e as mudanças climáticas estão ligadas. As escolhas feitas hoje são vitais para um futuro alimentar mais seguro.
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/01/2019
Autor: ONU Brasil
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 25/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/25/a-fao-reuniu-cinco-acoes-que-podemos-adotar-para-combater-o-aquecimento-global/
ONU
A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) reuniu cinco ações que você pode adotar para combater o aquecimento global. Entre as recomendações, está a redução do consumo de carne e a compra de alimentos de produtores locais.
As variações e fenômenos climáticos extremos são umas das principais causas do aumento da fome no mundo, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Com o crescimento da população mundial, a produção de comida enfrenta o desafio de alimentar mais pessoas em meio a condições ambientais imprevisíveis.
Mas é possível combater as mudanças climáticas e garantir que todos tenham uma alimentação saudável, inclusive por meio de pequenas ações rotineiras. Confira as cinco dicas da FAO e participe da luta contra o aquecimento global:
1. Tenha uma dieta mais sustentável e diversificada
Cardápio com menos carne é mais sustentável, segundo a FAO. Foto: PEXELS (CC)/Ella Olsson
Uma vez por semana, tente comer uma refeição 100% vegetariana (contendo leguminosas como as lentilhas, os feijões, as ervilhas e grão de bico) no lugar de uma refeição à base de carne. São necessários mais recursos naturais para produzir carne, principalmente água. Milhões de acres de floresta tropical úmida também são derrubados e queimados para transformar as terras em pastos para o gado.
Diversificando a sua alimentação, você poderá descobrir cereais “ancestrais”, como a quinoa. Existem, por exemplo, mais de 200 variedades de quinoa, adaptadas a diferentes tipos de clima.
2. Reduza o desperdício de comida
Desperdício de alimentos preocupa a FAO e o governo brasileiro. Foto: EBC
Por ano, um terço dos alimentos produzidos é desperdiçado. Isso quer dizer também que são desperdiçados os recursos — como água, mão de obra, transportes — usados na produção. Quando for ao mercado, compre apenas o que precisar, fazendo uma lista e estabelecendo as receitas e cardápios com antecedência, a fim de evitar as compras impulsivas.
Lembre-se que também é possível aproveitar as sobras e restos, que podem ser facilmente jogados fora, mas também podem servir de ingredientes para outras receitas ou ser congelados para consumo futuro.
Compre frutas e legumes “feios”, que são frequentemente desperdiçados porque não têm uma aparência perfeita. Não se deixe enganar: eles têm o mesmo gosto.
3. Use menos água
Escovar os dentes com a torneira fechada evita o desperdício de água. Foto: PEXELS (CC)/Moose Photos
A água é o elemento fundamental da vida e, sem ela, não é possível produzir comida. Os agricultores precisam aprender a utilizar menos água para o crescimento das suas culturas. Mas você também pode proteger os recursos hídricos do planeta reduzindo o desperdício alimentar. Quando você joga fora a sua comida, você desperdiça a água necessária para a sua produção. Você sabia que são necessários 50 litros de água para produzir uma laranja?
Você também pode reduzir o desperdício de água tomando banhos mais curtos e fechando a torneira ao escovar os dentes.
4. Conserve os solos e a água
Aterro sanitário em Payson, no Arizona, Estados Unidos. Foto: Flickr (CC)/Alan Levine
Alguns resíduos domésticos são potencialmente perigosos e não devem nunca ser jogados fora numa lixeira comum. São itens como pilhas, tintas, celulares, remédios, produtos químicos, fertilizantes, cartuchos. Eles podem infiltrar o solo e acabar em reservas de água, contaminando recursos naturais que possibilitam a produção de comida.
Isso sem falar no plástico — estima-se que um terço do plástico produzido no mundo está no solo. Reduza a utilização de plástico para manter os solos limpos.
5. Apoie os produtores locais
A cambojana Thoeun faz a colheita do milho na sua propriedade rural, em Kampong Cham, Camboja. Foto: Banco Mundial/Chhor Sokunthea
Os agricultores são os mais duramente afetados pelas mudanças climáticas. Mais do que nunca, eles precisam de apoio. Comprando produtos locais, você ajuda os agricultores familiares e as pequenas empresas do lugar onde vive. Você também contribui para a luta contra a poluição, reduzindo as distâncias de frete percorridas por caminhões e outros veículos.
A segurança alimentar e as mudanças climáticas estão ligadas. As escolhas feitas hoje são vitais para um futuro alimentar mais seguro.
Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/01/2019
Autor: ONU Brasil
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 25/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/25/a-fao-reuniu-cinco-acoes-que-podemos-adotar-para-combater-o-aquecimento-global/