Às vezes, chorar faz você se sentir melhor?
Nós produzimos três tipos de lágrimas.
1) O lacrimejamento reflexo ajuda a expulsar substâncias que tenham irritado nossos olhos;
2) O lacrimejamento basal mantém a córnea úmida;
3) E o que conhecemos como “choro”, o lacrimejamento de emoção com hormônios para aliviar a dor
Todas as lágrimas contêm enzimas e proteínas. Lágrimas de emoção, no entanto, diminuem o nível de estresse do corpo.
Autor: BBC Brasil News
Fonte: BBC Brasil News
Sítio Online da Publicação: BBC Brasil News
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-48759701
quinta-feira, 27 de junho de 2019
quarta-feira, 26 de junho de 2019
Uso da cannabis como medicamento é tema de seminário internacional
“Só quem vive a dor e o sofrimento de uma doença sabe da necessidade e urgência de um medicamento e sente o real sentido de que a vida não espera”. A afirmação é da advogada Margarete Santos de Brito, diretora da Associação de Apoio à Pesquisa e Pacientes de Cannabis Medicinal (Apepi) e mãe de Sofia, de 10 anos, diagnosticada ainda bebê com uma doença rara, que causa crises convulsivas constantes. A família de Margarete foi a primeira no Brasil a conseguir liminar na justiça para plantar cannabis e fazer o óleo utilizado por sua filha.
Para debater questões como os benefícios do uso terapêutico da maconha, a regulamentação da produção nacional e o apoio à pesquisa, a Fiocruz e a Apepi realizam, nos dias 29 e 30 de junho, a partir das 9h, a segunda edição do Seminário Internacional Cannabis Medicinal - um olhar para o futuro, com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento acontecerá no Instituto Europeu de Design (IED), na Urca, no Rio de Janeiro. Confira a programação.
Estudos mostram que há evidências científicas sobre os benefícios do uso da cannabis na medicina, que pode ajudar no controle de doenças como autismo, epilepsia, Alzheimer e dor crônica, entre outras. Em relação ao Alzheimer, por exemplo, estima-se que cerca de 10% das pessoas com mais de 65 anos e 25% com mais de 85 anos podem apresentar algum sintoma dessa enfermidade e são inúmeros os casos que evoluem para demência. Existem, no país, mais de oito mil pacientes autorizados a importar remédio à base de cannabis para diversos tipos de doenças.
Atualmente, há cerca de trezentos estudos clínicos realizados no mundo sobre cannabis medicinal. Especialistas em diversas áreas participarão do encontro. Entre eles estão Sidarta Ribeiro (professor titular de neurociências, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e secretário da SBPC); Ricardo Reis (mestre e doutor em Biofísica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com ênfase em neuroquímica); Sergio Sanchez Bustos (médico-cirurgião da Universidade do Chile, com especialidade em Saúde Pública, especialista em políticas de drogas e medicina cannábica); Ismael Galve-Roperh (doutor em Bioquímica e Biologia Molecular e professor da Universidade Complutense de Madri, onde lidera o grupo de pesquisa 'Canabinóides e neurogênese'); Emílio Figueiredo (advogado e diretor da rede jurídica pela reforma da política de drogas); Leandro Ramires (cirurgião oncológico, Universidade Federal de Minas Gerais); e Eduardo Faveret (neuropediatra e diretor médico do Centro de Epilepsia do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer). O evento também contará com um representante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
“É importante que a Fiocruz, como uma instituição voltada para a saúde pública, esteja envolvida neste debate. Atualmente, já se tem um entendimento mais claro sobre os diferentes caminhos possíveis para chegar ao objetivo final de distribuir pelo Sistema Único de Saúde [SUS] medicamentos produzidos a partir de componentes da cannabis”, afirma o pesquisador da Fiocruz Hayne Felipe, coordenador do Grupo de Trabalho Cannabis Medicinal da instituição.
Entre os temas que serão debatidos estão Geopolítica e indústria da Cannabis Medicinal; Cannabis e Autismo; e Cannabis e Psiquiatria: Experiência Clínica.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu levar à consulta pública a proposta para liberação do cultivo e da produção de maconha no país para fins medicinais e científicos. A nova regra prevê o plantio restrito a lugares fechados por empresas credenciadas. As associações e familiares de pacientes têm hoje autorização na Justiça para a produção do extrato de canabidiol.
"Para a Apepi, é motivo de muito orgulho ter a Fiocruz, uma instituição tão importante e relevante para o Brasil, como parceira fundamental na realização da segunda edição do Seminário Internacional Cannabis Medicinal - um olhar para o futuro. Em 2016, levamos a pauta da cannabis medicinal para a Fiocruz, onde fomos acolhidos e apoiados com toda a seriedade, comprometimento científico e mais uma demonstração de compromisso verdadeiro com a sociedade brasileira”, afirma a diretora da Apepi.
Serviço:
2° Seminário Internacional Cannabis Medicinal
Local: Instituto Europeu de Design (IED)
Endereço: Av. João Luiz Alves, 13 - Urca (RJ)
Data: 29 e 30 de junho (sábado e domingo)
Horário: de 9 às 17h
Informações para imprensa:
Regina Castro, Aline Câmera e Matheus Cruz
(21) 3885-1706 / (21) 3885-1073 / (21) 3885-1711
ccs@fiocruz.br
Autor: Regina Castro (Agência Fiocruz de Notícias)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 26/06/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/uso-da-cannabis-como-medicamento-e-tema-de-seminario-internacional
Para debater questões como os benefícios do uso terapêutico da maconha, a regulamentação da produção nacional e o apoio à pesquisa, a Fiocruz e a Apepi realizam, nos dias 29 e 30 de junho, a partir das 9h, a segunda edição do Seminário Internacional Cannabis Medicinal - um olhar para o futuro, com o apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). O evento acontecerá no Instituto Europeu de Design (IED), na Urca, no Rio de Janeiro. Confira a programação.
Estudos mostram que há evidências científicas sobre os benefícios do uso da cannabis na medicina, que pode ajudar no controle de doenças como autismo, epilepsia, Alzheimer e dor crônica, entre outras. Em relação ao Alzheimer, por exemplo, estima-se que cerca de 10% das pessoas com mais de 65 anos e 25% com mais de 85 anos podem apresentar algum sintoma dessa enfermidade e são inúmeros os casos que evoluem para demência. Existem, no país, mais de oito mil pacientes autorizados a importar remédio à base de cannabis para diversos tipos de doenças.
Atualmente, há cerca de trezentos estudos clínicos realizados no mundo sobre cannabis medicinal. Especialistas em diversas áreas participarão do encontro. Entre eles estão Sidarta Ribeiro (professor titular de neurociências, diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e secretário da SBPC); Ricardo Reis (mestre e doutor em Biofísica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, com ênfase em neuroquímica); Sergio Sanchez Bustos (médico-cirurgião da Universidade do Chile, com especialidade em Saúde Pública, especialista em políticas de drogas e medicina cannábica); Ismael Galve-Roperh (doutor em Bioquímica e Biologia Molecular e professor da Universidade Complutense de Madri, onde lidera o grupo de pesquisa 'Canabinóides e neurogênese'); Emílio Figueiredo (advogado e diretor da rede jurídica pela reforma da política de drogas); Leandro Ramires (cirurgião oncológico, Universidade Federal de Minas Gerais); e Eduardo Faveret (neuropediatra e diretor médico do Centro de Epilepsia do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer). O evento também contará com um representante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
“É importante que a Fiocruz, como uma instituição voltada para a saúde pública, esteja envolvida neste debate. Atualmente, já se tem um entendimento mais claro sobre os diferentes caminhos possíveis para chegar ao objetivo final de distribuir pelo Sistema Único de Saúde [SUS] medicamentos produzidos a partir de componentes da cannabis”, afirma o pesquisador da Fiocruz Hayne Felipe, coordenador do Grupo de Trabalho Cannabis Medicinal da instituição.
Entre os temas que serão debatidos estão Geopolítica e indústria da Cannabis Medicinal; Cannabis e Autismo; e Cannabis e Psiquiatria: Experiência Clínica.
Recentemente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu levar à consulta pública a proposta para liberação do cultivo e da produção de maconha no país para fins medicinais e científicos. A nova regra prevê o plantio restrito a lugares fechados por empresas credenciadas. As associações e familiares de pacientes têm hoje autorização na Justiça para a produção do extrato de canabidiol.
"Para a Apepi, é motivo de muito orgulho ter a Fiocruz, uma instituição tão importante e relevante para o Brasil, como parceira fundamental na realização da segunda edição do Seminário Internacional Cannabis Medicinal - um olhar para o futuro. Em 2016, levamos a pauta da cannabis medicinal para a Fiocruz, onde fomos acolhidos e apoiados com toda a seriedade, comprometimento científico e mais uma demonstração de compromisso verdadeiro com a sociedade brasileira”, afirma a diretora da Apepi.
Serviço:
2° Seminário Internacional Cannabis Medicinal
Local: Instituto Europeu de Design (IED)
Endereço: Av. João Luiz Alves, 13 - Urca (RJ)
Data: 29 e 30 de junho (sábado e domingo)
Horário: de 9 às 17h
Informações para imprensa:
Regina Castro, Aline Câmera e Matheus Cruz
(21) 3885-1706 / (21) 3885-1073 / (21) 3885-1711
ccs@fiocruz.br
Autor: Regina Castro (Agência Fiocruz de Notícias)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 26/06/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/uso-da-cannabis-como-medicamento-e-tema-de-seminario-internacional
Mobilização pelo uso de remédios à base de canabidiol provoca mudanças na legislação
Mães e pais choram desesperados por não conseguirem dar conta das inúmeras convulsões diárias de seus filhos. Diante das câmeras, eles contam como quebraram seus preconceitos e passaram a utilizar um remédio obtido a partir de um princípio ativo da Cannabis sp, nome científico da maconha, importado e às vezes contrabandeado, para aliviar o sofrimento das crianças. O documentário Ilegal – A vida não espera e a reportagem veiculada no programa Fantástico, em 2014, com trechos do documentário são parte importante para uma virada da relação da sociedade brasileira com a planta, de acordo com as pesquisas de Frederico Policarpo de Mendonça Filho, financiadas, desde 2018, pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. Policarpo é pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (INCT-InEAC) e atualmente é coordenador do Programa de Pós-Graduação em Justiça e Segurança (PPGJS), ambos sediados na Universidade Federal Fluminense (UFF).
O antropólogo estuda a relação de sociedade e Estado com Cannabis desde o mestrado e atribui a essas veiculações o crescimento de associações em prol da legalização do cultivo e do consumo de maconha com fins medicinais ou não. “Essas associações inverteram a percepção do uso de drogas relacionado à doença e a crimes para direito e saúde. A Justiça, que antes era algoz, passou a ser muitas vezes aliada”, avalia o antropólogo.
Em 2013, a advogada Margarete Brito foi uma das primeiras mães a conseguir autorização judicial para importar um medicamento à base de Cannabis para diminuir as convulsões de uma de suas filhas, portadora da síndrome CDKL5 (também conhecida como síndrome de Dravet). Na busca por alternativas de tratamento, Margarete e o marido conheceram em um grupo de uma rede social, a experiência de uma família do Colorado, nos Estados Unidos, que administrava com sucesso um remédio à base de maconha para diminuir as convulsões da filha com a mesma síndrome. E aí começou o trabalho que continua até hoje pela legalização do plantio e produção do óleo para facilitar o acesso das famílias que utilizam como tratamento e incentivar as pesquisas na área. Brito é uma das fundadoras da Apepi (Apoio à Pesquisa e a Pacientes da Maconha Medicinal).
No ano seguinte ao pedido da família Brito, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma regulamentação em que retirava medicamentos à base de canabidiol da lista de substâncias proibidas para a importação. Mesmo fora da lista, obter a autorização para a importação do remédio não é simples. “Hoje é preciso achar um médico que prescreva o canabidiol e que ateste em laudo que você já tentou de tudo, inclusive cirurgia. O laudo também tem que informar que a administração e a utilização do remédio são de responsabilidade total do médico e do paciente. E aí pede para a Anvisa autorizar. Não tem como esperar toda essa burocracia”, conta Margarete. A dificuldade de encontrar médicos que prescrevam a maconha medicinal é justificada pela resolução 2.112/2014 do Conselho Federal de Medicina (CFM) que regula a prescrição da maconha no País e permite apenas o “uso compassivo”, ou seja, como relatou Margarete, é preciso comprovar que todas as alternativas legais já foram testadas.
No mesmo ano em que a Anvisa liberou a importação do canabidiol, 2014, o documentário Ilegal foi lançado, e foi ao ar a matéria mais longa sobre o tema da maconha medicinal. E foi a partir daí, que as “associações canábicas”, como Policarpo as chama, se espalharam pelo País e tiveram um boom no número de participantes. Agora, mais do que a importação, as famílias pedem a liberação do cultivo, realizado por muitos, como Margarete, com liberação da Justiça por habeas corpus. A justificativa para realizar o plantio é a autonomia para administração da droga e a diminuição do custo. A importação do remédio mais utilizado chega a R$ 10 mil por mês, e nem sempre a dose é suficiente ou os procedimentos burocráticos são liberados pelas autoridades sanitárias no prazo necessário pela família.
Perfil e rede de apoio
Cultivo doméstico da planta, protegido por habeas corpus, para produção de óleo medicinal caseiro
Entre os integrantes das famílias que compõe a principal associação pesquisada por Policarpo, a ABRACannabis, a maioria deles não era usuária de maconha ou usou de forma esporádica quando era mais jovem e chegou até a associação em busca do potencial medicinal da planta. Eles também são majoritariamente de classe média, brancos, bem sucedidos em sua profissão ou estudos. Um perfil já relatado pelos pesquisadores da área de Antropologia como menos suscetíveis à repressão do Estado e que Policarpo relaciona ao acesso à Medicina, uma vez que a maioria das famílias cuida de filhos com doenças graves e síndromes muito específicas. “Entrevistei uma avó que cuidava da neta e que demorou muitos anos para chegar ao diagnóstico porque muitas vezes estes são feitos no exterior. Eu fico pensando que se isso fosse mais fácil, haveria famílias mais pobres nesse processo”, avalia.
A rede de articulação que essas famílias formaram é bastante diversificada. São médicos, advogados, ativistas pela legalização da maconha e pesquisadores. Os primeiros são necessários para a prescrição médica, nem sempre fácil de obter; os advogados, para estarem protegidos legalmente; os ativistas, pela legalização com experiência no plantio; e pesquisadores, ainda em pequeno número, que tentam explicar os efeitos da planta no organismo e auxiliam no controle de qualidade.
Pesquisas emperradas
Diferente de buscar respostas em consultórios ou farmácias, foram essas famílias, com as mães na linha de frente, que impulsionaram a mobilização de todos esses agentes. “Foram as famílias que apresentaram essa demanda para os médicos e cientistas. Quando as mães pedem autorização ao Faveret [Eduardo Faveret, médico neurologista do Instituto Estadual do Cérebro], ele ficava relutante. Porque ele não tinha muito conhecimento em relação aos efeitos sobre o uso terapêutico da maconha. São elas que provocam a ciência. A partir daí se iniciou um processo de mudança na regulamentação sobre os usos da maconha no Brasil. Dois canabinóides da planta passaram a ter a importação permitida, e grupos de pacientes, pesquisadores e ativistas começaram a se organizar”, relata Policarpo. Ele acrescenta que apesar da grande visibilidade estar com as mães de crianças com epilepsia infantil, os pais estão presentes e também há um número expressivo de pedidos para tratamento da dor feito por adultos. Atualmente, Eduardo Faveret foi convidado pelo estado do Rio de Janeiro para prescrever essas receitas.
A luta dessas famílias é similar ao que ocorreu no início da epidemia de Aids, no começo da década de 1980. Assim como no passado, o movimento pela liberação de remédios e substâncias que ainda não passaram por todas as fases de testes em laboratório e em humanos está relacionado a doenças com as quais a Medicina não consegue lidar de início. No caso da maconha, há um agravante. Como é uma planta conhecida por sua capacidade de alteração de consciência e que teve seu uso bastante criminalizado, os pesquisadores têm bastante dificuldade de conseguir a liberação para estudar suas propriedades.
A preocupação dos cientistas foi levada à última reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho de 2018, quando foi anunciada moção pela liberação das pesquisas com drogas ilegais. “O proibicionismo atrapalha o desenvolvimento científico não apenas ao sustentar uma estrutura jurídico-normativa que, quando não veta a pesquisa, amarra os pesquisadores a custosos trâmites burocráticos, mas também ao criar um ambiente de estigma e preconceito, como se essas substâncias não devessem ser estudadas”, diz a nota. Sem que os cientistas possam pesquisar as doses adequadas e suas consequências, quem alimenta a pesquisa com relatos clínicos são as famílias.
Marília Guimarães, pesquisadora em síndrome de Dravet do Instituto D’or de Pesquisa e Ensino (Idor), conta que passou por grandes dificuldades para conseguir importar uma pequena quantidade de Cannabis sativa para pesquisa. Marília já realizava pesquisa com canabinoides, mas o encontro com as mães de crianças com essa síndrome mudou o rumo das pesquisas. “Está mais do que provado que há efeitos benéficos. Mas como funciona? Por quê? E por que não funciona para todos?”, questiona a pesquisadora. Uma das pistas veio das conversas com as mães. “Elas sabem detalhes das manifestações das doenças que é impossível de nós sabermos. Uma mãe de São Paulo contou que ‘antes do canabidiol minha filha não suava’. E comecei a pensar se existe uma relação com a regulação da temperatura. Com isso, redirecionamos a pesquisa para entender a função da canabidiol e temperatura”, relata.
Novo ciclo
Para Policarpo, mobilizações sociais inverteram a percepção do uso de drogas para o Direito e a Saúde
Para o antropólogo, o crescimento exponencial dessas associações está ligado a um novo ciclo de relação da sociedade com a maconha. Agora a planta deixa de ser droga e volta a ser remédio, um problema público. “A maconha se tornou um ‘problema público’, mobilizando não só o aparato estatal, mas também diferentes setores da sociedade”, escreveu Policarpo em artigo publicado em março na revista Ingesta. Em seguida, ele cita os ciclos de atenção anteriores relacionados à planta no Brasil com base na classificação do pesquisador Marcílio Brandão. O primeiro foi no século XVIII, quando os portugueses utilizavam a fibra da planta, o cânhamo, na indústria têxtil para construção de velas para embarcações. No século XIX, médicos passaram a relacionar a planta a maus hábitos de pessoas escravizadas recém-libertas. Com o fim do Regime Militar no Brasil, o uso deixa de ser tabu entre artistas, cientistas que passaram a pesquisar o viés hedonista do uso.
Ao mencionar esses ciclos de atenção, Policarpo pretende contribuir para uma “farmacopeia política” para “observar como são instaurados os vínculos morais, biológicos, comerciais etc. entre os seres humanos e a planta”, escreve o autor no mesmo artigo. A comparação se refere às farmacopeias consultadas por um dos pioneiros em pesquisa no Brasil sobre a espécie Cannabis sativa, o professor Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ainda na década de 1960. Carlini encontrou respaldo para as pesquisas no tema em livros de cinco mil anos atrás, que descreviam o potencial terapêutico da maconha.
Ao refletir sobre as mudanças da recomendação médica ao longo do tempo, Policarpo entende que mais do que clínico, a proibição ou liberação de determinada substância alteradora de consciência irá depender da moral e da política. “O julgamento irá depender da tríade: o tipo da droga, o grupo que utiliza e em qual contexto. Como exemplo, podemos citar o Carnaval. É consenso de que ninguém fará uma média de consumo de álcool nesse período”, argumenta.
Autor: Juliana Passos
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 19/06/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3779.2.9
O antropólogo estuda a relação de sociedade e Estado com Cannabis desde o mestrado e atribui a essas veiculações o crescimento de associações em prol da legalização do cultivo e do consumo de maconha com fins medicinais ou não. “Essas associações inverteram a percepção do uso de drogas relacionado à doença e a crimes para direito e saúde. A Justiça, que antes era algoz, passou a ser muitas vezes aliada”, avalia o antropólogo.
Em 2013, a advogada Margarete Brito foi uma das primeiras mães a conseguir autorização judicial para importar um medicamento à base de Cannabis para diminuir as convulsões de uma de suas filhas, portadora da síndrome CDKL5 (também conhecida como síndrome de Dravet). Na busca por alternativas de tratamento, Margarete e o marido conheceram em um grupo de uma rede social, a experiência de uma família do Colorado, nos Estados Unidos, que administrava com sucesso um remédio à base de maconha para diminuir as convulsões da filha com a mesma síndrome. E aí começou o trabalho que continua até hoje pela legalização do plantio e produção do óleo para facilitar o acesso das famílias que utilizam como tratamento e incentivar as pesquisas na área. Brito é uma das fundadoras da Apepi (Apoio à Pesquisa e a Pacientes da Maconha Medicinal).
No ano seguinte ao pedido da família Brito, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou uma regulamentação em que retirava medicamentos à base de canabidiol da lista de substâncias proibidas para a importação. Mesmo fora da lista, obter a autorização para a importação do remédio não é simples. “Hoje é preciso achar um médico que prescreva o canabidiol e que ateste em laudo que você já tentou de tudo, inclusive cirurgia. O laudo também tem que informar que a administração e a utilização do remédio são de responsabilidade total do médico e do paciente. E aí pede para a Anvisa autorizar. Não tem como esperar toda essa burocracia”, conta Margarete. A dificuldade de encontrar médicos que prescrevam a maconha medicinal é justificada pela resolução 2.112/2014 do Conselho Federal de Medicina (CFM) que regula a prescrição da maconha no País e permite apenas o “uso compassivo”, ou seja, como relatou Margarete, é preciso comprovar que todas as alternativas legais já foram testadas.
No mesmo ano em que a Anvisa liberou a importação do canabidiol, 2014, o documentário Ilegal foi lançado, e foi ao ar a matéria mais longa sobre o tema da maconha medicinal. E foi a partir daí, que as “associações canábicas”, como Policarpo as chama, se espalharam pelo País e tiveram um boom no número de participantes. Agora, mais do que a importação, as famílias pedem a liberação do cultivo, realizado por muitos, como Margarete, com liberação da Justiça por habeas corpus. A justificativa para realizar o plantio é a autonomia para administração da droga e a diminuição do custo. A importação do remédio mais utilizado chega a R$ 10 mil por mês, e nem sempre a dose é suficiente ou os procedimentos burocráticos são liberados pelas autoridades sanitárias no prazo necessário pela família.
Perfil e rede de apoio
Cultivo doméstico da planta, protegido por habeas corpus, para produção de óleo medicinal caseiro
Entre os integrantes das famílias que compõe a principal associação pesquisada por Policarpo, a ABRACannabis, a maioria deles não era usuária de maconha ou usou de forma esporádica quando era mais jovem e chegou até a associação em busca do potencial medicinal da planta. Eles também são majoritariamente de classe média, brancos, bem sucedidos em sua profissão ou estudos. Um perfil já relatado pelos pesquisadores da área de Antropologia como menos suscetíveis à repressão do Estado e que Policarpo relaciona ao acesso à Medicina, uma vez que a maioria das famílias cuida de filhos com doenças graves e síndromes muito específicas. “Entrevistei uma avó que cuidava da neta e que demorou muitos anos para chegar ao diagnóstico porque muitas vezes estes são feitos no exterior. Eu fico pensando que se isso fosse mais fácil, haveria famílias mais pobres nesse processo”, avalia.
A rede de articulação que essas famílias formaram é bastante diversificada. São médicos, advogados, ativistas pela legalização da maconha e pesquisadores. Os primeiros são necessários para a prescrição médica, nem sempre fácil de obter; os advogados, para estarem protegidos legalmente; os ativistas, pela legalização com experiência no plantio; e pesquisadores, ainda em pequeno número, que tentam explicar os efeitos da planta no organismo e auxiliam no controle de qualidade.
Pesquisas emperradas
Diferente de buscar respostas em consultórios ou farmácias, foram essas famílias, com as mães na linha de frente, que impulsionaram a mobilização de todos esses agentes. “Foram as famílias que apresentaram essa demanda para os médicos e cientistas. Quando as mães pedem autorização ao Faveret [Eduardo Faveret, médico neurologista do Instituto Estadual do Cérebro], ele ficava relutante. Porque ele não tinha muito conhecimento em relação aos efeitos sobre o uso terapêutico da maconha. São elas que provocam a ciência. A partir daí se iniciou um processo de mudança na regulamentação sobre os usos da maconha no Brasil. Dois canabinóides da planta passaram a ter a importação permitida, e grupos de pacientes, pesquisadores e ativistas começaram a se organizar”, relata Policarpo. Ele acrescenta que apesar da grande visibilidade estar com as mães de crianças com epilepsia infantil, os pais estão presentes e também há um número expressivo de pedidos para tratamento da dor feito por adultos. Atualmente, Eduardo Faveret foi convidado pelo estado do Rio de Janeiro para prescrever essas receitas.
A luta dessas famílias é similar ao que ocorreu no início da epidemia de Aids, no começo da década de 1980. Assim como no passado, o movimento pela liberação de remédios e substâncias que ainda não passaram por todas as fases de testes em laboratório e em humanos está relacionado a doenças com as quais a Medicina não consegue lidar de início. No caso da maconha, há um agravante. Como é uma planta conhecida por sua capacidade de alteração de consciência e que teve seu uso bastante criminalizado, os pesquisadores têm bastante dificuldade de conseguir a liberação para estudar suas propriedades.
A preocupação dos cientistas foi levada à última reunião da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em julho de 2018, quando foi anunciada moção pela liberação das pesquisas com drogas ilegais. “O proibicionismo atrapalha o desenvolvimento científico não apenas ao sustentar uma estrutura jurídico-normativa que, quando não veta a pesquisa, amarra os pesquisadores a custosos trâmites burocráticos, mas também ao criar um ambiente de estigma e preconceito, como se essas substâncias não devessem ser estudadas”, diz a nota. Sem que os cientistas possam pesquisar as doses adequadas e suas consequências, quem alimenta a pesquisa com relatos clínicos são as famílias.
Marília Guimarães, pesquisadora em síndrome de Dravet do Instituto D’or de Pesquisa e Ensino (Idor), conta que passou por grandes dificuldades para conseguir importar uma pequena quantidade de Cannabis sativa para pesquisa. Marília já realizava pesquisa com canabinoides, mas o encontro com as mães de crianças com essa síndrome mudou o rumo das pesquisas. “Está mais do que provado que há efeitos benéficos. Mas como funciona? Por quê? E por que não funciona para todos?”, questiona a pesquisadora. Uma das pistas veio das conversas com as mães. “Elas sabem detalhes das manifestações das doenças que é impossível de nós sabermos. Uma mãe de São Paulo contou que ‘antes do canabidiol minha filha não suava’. E comecei a pensar se existe uma relação com a regulação da temperatura. Com isso, redirecionamos a pesquisa para entender a função da canabidiol e temperatura”, relata.
Novo ciclo
Para Policarpo, mobilizações sociais inverteram a percepção do uso de drogas para o Direito e a Saúde
Para o antropólogo, o crescimento exponencial dessas associações está ligado a um novo ciclo de relação da sociedade com a maconha. Agora a planta deixa de ser droga e volta a ser remédio, um problema público. “A maconha se tornou um ‘problema público’, mobilizando não só o aparato estatal, mas também diferentes setores da sociedade”, escreveu Policarpo em artigo publicado em março na revista Ingesta. Em seguida, ele cita os ciclos de atenção anteriores relacionados à planta no Brasil com base na classificação do pesquisador Marcílio Brandão. O primeiro foi no século XVIII, quando os portugueses utilizavam a fibra da planta, o cânhamo, na indústria têxtil para construção de velas para embarcações. No século XIX, médicos passaram a relacionar a planta a maus hábitos de pessoas escravizadas recém-libertas. Com o fim do Regime Militar no Brasil, o uso deixa de ser tabu entre artistas, cientistas que passaram a pesquisar o viés hedonista do uso.
Ao mencionar esses ciclos de atenção, Policarpo pretende contribuir para uma “farmacopeia política” para “observar como são instaurados os vínculos morais, biológicos, comerciais etc. entre os seres humanos e a planta”, escreve o autor no mesmo artigo. A comparação se refere às farmacopeias consultadas por um dos pioneiros em pesquisa no Brasil sobre a espécie Cannabis sativa, o professor Elisaldo Carlini, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), ainda na década de 1960. Carlini encontrou respaldo para as pesquisas no tema em livros de cinco mil anos atrás, que descreviam o potencial terapêutico da maconha.
Ao refletir sobre as mudanças da recomendação médica ao longo do tempo, Policarpo entende que mais do que clínico, a proibição ou liberação de determinada substância alteradora de consciência irá depender da moral e da política. “O julgamento irá depender da tríade: o tipo da droga, o grupo que utiliza e em qual contexto. Como exemplo, podemos citar o Carnaval. É consenso de que ninguém fará uma média de consumo de álcool nesse período”, argumenta.
Autor: Juliana Passos
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 19/06/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3779.2.9
Pesquisa investiga o processo decisório dos juízes na Corte Interamericana de Direitos Humanos
Considerados um dos temas mais significativos no debate jurídico contemporâneo, os Direitos Humanos ganharam destaque na pauta internacional após a II Guerra Mundial, marcada pelos horrores do Holocausto. A partir desse episódio, em 1948, foi promulgada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, pelas Nações Unidas (ONU). Na América Latina, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (conhecida como Pacto de São José), de 1969, estabeleceu a criação da Corte Interamericana de Direitos Humanos, órgão responsável por emitir pareceres jurídicos – as "Opiniões Consultivas" – dirigidas aos seus Estados-Partes, além de sentenças internacionais de cumprimento obrigatório para os Estados condenados por violações aos Direitos Humanos. O Brasil, por exemplo, já foi condenado em oito ocasiões, desde quando aceitou a jurisdição contenciosa da Corte, em 1998. Nesse sentido, um estudo que vem sendo realizado na Faculdade Nacional de Direito da Universidade Federal do Rio Janeiro (FND/UFRJ) pelo doutorando Ranieri Lima Resende, sob a orientação do professor titular José Ribas Vieira, investiga como ocorrem a deliberação e o processo decisório da Corte, considerando de que forma as justificativas individuais de cada voto, emitidas por escrito pelos juízes, influenciam nos julgados.
O projeto sobre precedentes da Corte Interamericana, que conta com o apoio da FAPERJ, por meio do programa Doutorado Nota 10, teve como desdobramento a publicação recente, em dois periódicos internacionais, do artigo Deliberation and Decision-Making Process in the Inter-American Court of Human Rights: Do Individual Opinions Matter? (em livre tradução, Deliberação e Processo Decisório na Corte Interamericana de Direitos Humanos: Os Votos Individuais Importam?). O primeiro periódico foi a revista Northwestern Journal of Human Rights, da Faculdade de Direito da Northwestern University (veja a íntegra: https://scholarlycommons.law.northwestern.edu/njihr/vol17/iss1/2/). O artigo também foi publicado na New York University Public Law & Legal Theory Research Paper Series, o repositório acadêmico da Faculdade de Direito da New York University – onde Resende cursou parte do doutorado, em um programa “sanduíche” para pesquisador visitante. O repositório é dedicado à publicação de artigos de autoria dos professores da instituição, e raramente inclui papers de pesquisadores externos. Nessa série foram publicados também recentes artigos de autoria dos professores Jeremy Waldron, John Ferejohn, Deborah N. Archer e Richard H. Pildes, todos docentes da NYU Law (veja em: https://www.ssrn.com/link/nyu-public-law.html).
Formada por sete juízes permanentes, naturais dos Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) e indicados para cumprir um mandato de seis anos (prorrogáveis por mais seis), e com sede em São José da Costa Rica, a Corte produz precedentes que influenciam na jurisprudência dos Poderes Judiciários dos Estados-membros, isto é, que inspiram a forma dos juízes de diversos países interpretarem as suas Constituições e as leis nacionais para "dizerem o Direito", de acordo com as orientações consultivas e sentenças do órgão para assegurar a adequada aplicação da Convenção Americana de Direitos Humanos e de outros tratados internacionais na área.
“Na pesquisa, que é parte da minha tese de doutorado orientada pelo professor Ribas, partimos de um levantamento de dados quantitativo. Verificamos como se deu o processo deliberativo e decisório dos juízes da Corte durante um período de 30 anos, de 1987 a 2017, em 338 julgamentos. Investigamos quantos julgamentos foram realizados e de que maneira cada um dos juízes divergiu ou acompanhou a respectiva decisão do colegiado. Então, estudamos o valor dos votos individuais dos juízes dentro da Corte”, resumiu Resende.
O professor José Ribas (à esq.), orientador do projeto, e o doutorando Ranieri Resende, no Salão Nobre da FND/UFRJ (Foto: Divulgação)
O pesquisador observou que no anexo de cada decisão julgada pelo colegiado, que é apresentada em um documento único, alguns juízes decidem detalhar por escrito a justificativa do seu voto separadamente. Ele frisou que não há um padrão único para esse fato. “Há uma votação e, por maioria ou por unanimidade de votos, os juízes podem agregar fundamentos, na justificativa do quanto divergiram ou não. Temos a posição da Corte em uma espécie de documento unificado, mas, nos anexos, são inseridos os votos individuais dos juízes – concordantes ou divergentes. Portanto, alguns magistrados juntam à decisão colegiada, de forma facultativa, as suas justificativas individuais. De 338 julgamentos, foram localizados votos separados em 185 deles, o que representou mais da metade, cerca de 55%”, disse.
O que despertou a atenção de Resende durante o processo de pesquisa foi a influência dessas justificativas individuais no processo decisório da Corte, especialmente a constatação de que o colegiado raramente adota de forma explícita as razões de votos individuais nos fundamentos de seus julgamentos futuros. "De outro lado, existe o risco de que o uso extensivo dessas justificativas individuais possa ser um tanto contraditório e enfraquecer a posição da Corte. Alguns juristas internacionais alertam que a produção intensa de votos separados pode debilitar a posição institucional do tribunal internacional, pois podem transmitir a ideia de um consenso pouco consistente, o que por sua vez pode afetar a autoridade pública da instituição diante dos Estados-Partes signatários da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, além de gerar maiores resistências ao cumprimento imediato das sentenças interamericanas”, concluiu.
A Corte integra, ao lado da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o chamado sistema regional interamericano de proteção aos Direitos Humanos. O Brasil, além de ser Estado-Parte da ONU, também participa da OEA. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, apesar de aprovada em 1969, só entrou em vigor em 1978, tendo sido ratificada por 25 países até setembro de 1992 – Argentina, Barbados, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Granada, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Trindade e Tobago, Uruguai e Venezuela. Desses, apenas Venezuela e Trindade e Tobago não são mais partes do Pacto de San José. Atualmente, 20 Estados latino-americanos se submetem à jurisdição contenciosa da Corte Interamericana (cláusula facultativa), para os quais as sentenças do Tribunal geram obrigações internacionais diretas.
Autor: Débora Motta
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 19/06/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3778.2.3
O projeto sobre precedentes da Corte Interamericana, que conta com o apoio da FAPERJ, por meio do programa Doutorado Nota 10, teve como desdobramento a publicação recente, em dois periódicos internacionais, do artigo Deliberation and Decision-Making Process in the Inter-American Court of Human Rights: Do Individual Opinions Matter? (em livre tradução, Deliberação e Processo Decisório na Corte Interamericana de Direitos Humanos: Os Votos Individuais Importam?). O primeiro periódico foi a revista Northwestern Journal of Human Rights, da Faculdade de Direito da Northwestern University (veja a íntegra: https://scholarlycommons.law.northwestern.edu/njihr/vol17/iss1/2/). O artigo também foi publicado na New York University Public Law & Legal Theory Research Paper Series, o repositório acadêmico da Faculdade de Direito da New York University – onde Resende cursou parte do doutorado, em um programa “sanduíche” para pesquisador visitante. O repositório é dedicado à publicação de artigos de autoria dos professores da instituição, e raramente inclui papers de pesquisadores externos. Nessa série foram publicados também recentes artigos de autoria dos professores Jeremy Waldron, John Ferejohn, Deborah N. Archer e Richard H. Pildes, todos docentes da NYU Law (veja em: https://www.ssrn.com/link/nyu-public-law.html).
Formada por sete juízes permanentes, naturais dos Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA) e indicados para cumprir um mandato de seis anos (prorrogáveis por mais seis), e com sede em São José da Costa Rica, a Corte produz precedentes que influenciam na jurisprudência dos Poderes Judiciários dos Estados-membros, isto é, que inspiram a forma dos juízes de diversos países interpretarem as suas Constituições e as leis nacionais para "dizerem o Direito", de acordo com as orientações consultivas e sentenças do órgão para assegurar a adequada aplicação da Convenção Americana de Direitos Humanos e de outros tratados internacionais na área.
“Na pesquisa, que é parte da minha tese de doutorado orientada pelo professor Ribas, partimos de um levantamento de dados quantitativo. Verificamos como se deu o processo deliberativo e decisório dos juízes da Corte durante um período de 30 anos, de 1987 a 2017, em 338 julgamentos. Investigamos quantos julgamentos foram realizados e de que maneira cada um dos juízes divergiu ou acompanhou a respectiva decisão do colegiado. Então, estudamos o valor dos votos individuais dos juízes dentro da Corte”, resumiu Resende.
O professor José Ribas (à esq.), orientador do projeto, e o doutorando Ranieri Resende, no Salão Nobre da FND/UFRJ (Foto: Divulgação)
O pesquisador observou que no anexo de cada decisão julgada pelo colegiado, que é apresentada em um documento único, alguns juízes decidem detalhar por escrito a justificativa do seu voto separadamente. Ele frisou que não há um padrão único para esse fato. “Há uma votação e, por maioria ou por unanimidade de votos, os juízes podem agregar fundamentos, na justificativa do quanto divergiram ou não. Temos a posição da Corte em uma espécie de documento unificado, mas, nos anexos, são inseridos os votos individuais dos juízes – concordantes ou divergentes. Portanto, alguns magistrados juntam à decisão colegiada, de forma facultativa, as suas justificativas individuais. De 338 julgamentos, foram localizados votos separados em 185 deles, o que representou mais da metade, cerca de 55%”, disse.
O que despertou a atenção de Resende durante o processo de pesquisa foi a influência dessas justificativas individuais no processo decisório da Corte, especialmente a constatação de que o colegiado raramente adota de forma explícita as razões de votos individuais nos fundamentos de seus julgamentos futuros. "De outro lado, existe o risco de que o uso extensivo dessas justificativas individuais possa ser um tanto contraditório e enfraquecer a posição da Corte. Alguns juristas internacionais alertam que a produção intensa de votos separados pode debilitar a posição institucional do tribunal internacional, pois podem transmitir a ideia de um consenso pouco consistente, o que por sua vez pode afetar a autoridade pública da instituição diante dos Estados-Partes signatários da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, além de gerar maiores resistências ao cumprimento imediato das sentenças interamericanas”, concluiu.
A Corte integra, ao lado da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, o chamado sistema regional interamericano de proteção aos Direitos Humanos. O Brasil, além de ser Estado-Parte da ONU, também participa da OEA. A Convenção Americana sobre Direitos Humanos, apesar de aprovada em 1969, só entrou em vigor em 1978, tendo sido ratificada por 25 países até setembro de 1992 – Argentina, Barbados, Brasil, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, Dominica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Granada, Guatemala, Haiti, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname, Trindade e Tobago, Uruguai e Venezuela. Desses, apenas Venezuela e Trindade e Tobago não são mais partes do Pacto de San José. Atualmente, 20 Estados latino-americanos se submetem à jurisdição contenciosa da Corte Interamericana (cláusula facultativa), para os quais as sentenças do Tribunal geram obrigações internacionais diretas.
Autor: Débora Motta
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 19/06/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3778.2.3
terça-feira, 25 de junho de 2019
Rede antivacina no Brasil importa teorias da conspiração dos EUA e cresce com sistema de recomendação do YouTube
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionBBC News Brasil encontrou 15 vídeos antivacina no YouTube e 'bolha' de recomendação na plataforma, que diz que vai implementar mudanças até fim do ano
"Não sou eu que estou falando, são os fatos", diz um rapaz brasileiro para a câmera.
Os "fatos", segundo ele: "o vírus da zika foi criado pela família americana Rockefeller, enquanto Bill Gates usou sua fortuna para investir em vacinas. Ambos com o mesmo objetivo: reduzir a população mundial".
O vídeo está disponível no YouTube, tem cerca de 825 mil visualizações e pode ser encontrado pela ferramenta de buscas.
Uma propaganda interrompe o vídeo, o que significa que ele é monetizado - ou seja, rende lucro ao autor -, embora o YouTube tenha anunciado que vídeos com desinformação seriam impedidos de explorar esse recurso.
Um vídeo igual, mas publicado em outra conta, tem quase 244 mil visualizações.
Sem estar logada em qualquer conta no YouTube, a BBC News Brasil fez buscas na plataforma com os termos "vacina", "devo vacinar minha filha" e "devo vacinar meu filho".
A maior parte dos resultados são vídeos com informações verídicas sobre a vacinação. Alguns, contudo, são vídeos contrários à vacinação.
E, ao clicar nestes, a recomendação dos vídeos seguintes leva o usuário a outros vídeos antivacina, levando a uma espécie de "bolha" no YouTube.
Em outras tentativas, os vídeos reproduzidos automaticamente eram sobre outros assuntos - às vezes outras teorias conspiratórias, às vezes reportagens verídicas sobre vacinação.
"Não sou eu que estou falando, são os fatos", diz um rapaz brasileiro para a câmera.
Os "fatos", segundo ele: "o vírus da zika foi criado pela família americana Rockefeller, enquanto Bill Gates usou sua fortuna para investir em vacinas. Ambos com o mesmo objetivo: reduzir a população mundial".
O vídeo está disponível no YouTube, tem cerca de 825 mil visualizações e pode ser encontrado pela ferramenta de buscas.
Uma propaganda interrompe o vídeo, o que significa que ele é monetizado - ou seja, rende lucro ao autor -, embora o YouTube tenha anunciado que vídeos com desinformação seriam impedidos de explorar esse recurso.
Um vídeo igual, mas publicado em outra conta, tem quase 244 mil visualizações.
Sem estar logada em qualquer conta no YouTube, a BBC News Brasil fez buscas na plataforma com os termos "vacina", "devo vacinar minha filha" e "devo vacinar meu filho".
A maior parte dos resultados são vídeos com informações verídicas sobre a vacinação. Alguns, contudo, são vídeos contrários à vacinação.
E, ao clicar nestes, a recomendação dos vídeos seguintes leva o usuário a outros vídeos antivacina, levando a uma espécie de "bolha" no YouTube.
Em outras tentativas, os vídeos reproduzidos automaticamente eram sobre outros assuntos - às vezes outras teorias conspiratórias, às vezes reportagens verídicas sobre vacinação.
Image captionAlguns vídeos contra vacinas encontrados pela BBC News Brasil exibiam anúncios, ou seja, estavam monetizados no YouTube
Esses vídeos são criados por pessoas adeptas do movimento antivacina, um fenômeno mundial com reverberação menor no Brasil.
Há alguns grupos fechados no Facebook sobre o assunto e, no YouTube, a BBC News Brasil encontrou 15 vídeos de brasileiros sobre o tema, sendo o mais visto aquele com 825 mil visualizações.
Depois que a BBC News Brasil enviou os vídeos ao YouTube, aqueles que eram monetizados foram desmonetizados pela plataforma. Segundo a empresa, vídeos que digam diretamente "você não deve se vacinar" violam diretrizes e serão retirados do ar; aqueles só com teorias da conspiração - mesmo que contrárias a vacinas - se enquadram apenas como desinformação e não podem ser monetizados, mas permanecerão no ar.
Todos os vídeos encontrados pela reportagem foram publicados em 2018 ou 2019, e a maioria reproduz teorias da conspiração importadas dos Estados Unidos, onde o movimento é forte.
O conteúdo dos vídeos brasileiros muitas vezes é copiado ou traduzido de vídeos antivacina americanos. Dois dos vídeos são de supostos médicos que contraindicam especificamente vacinas contra gripe e contra a febre amarela.
Os comentários na maioria dos vídeos são de pessoas que hesitam em vacinar seus filhos e felicitam os youtubers pelas "informações".
Cobertura vacinal
A Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a "hesitação em se vacinar" entre as dez maiores ameaças globais à saúde em 2019.
Desde a década de 1990, o Brasil tem boa cobertura vacinal. Mas dados do Ministério da Saúde mostram que todas as vacinas destinadas a crianças menores de dois anos de idade no Brasil vêm registrando queda desde 2011.
Por exemplo, a cobertura vacinal contra poliomielite no país era de 96,5% em 2012; dados preliminares de 2018 mostram que a cobertura dessa mesma vacina foi reduzida para 86,3%.
Segundo o ministério, a redução pode ter diferentes causas: o sucesso do programa nacional de imunizações no país - já que a eliminação de algumas doenças no país pode ter levado a "uma falsa sensação de que não há mais necessidade de se vacinar porque a população mais jovem não conhece o risco" e o acesso dos pais aos serviços de saúde.
"A vacina está disponível, mas os horários dos locais não são compatíveis com os dos pais. Estamos começando a discutir um programa para melhorar esses horários de funcionamento", diz Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.
E, por fim, uma terceira possível causa é justamente a resistência à vacinação, embora não se saiba exatamente qual é o peso do movimento na cobertura vacinal do Brasil, de acordo com Domingues.
Esses vídeos são criados por pessoas adeptas do movimento antivacina, um fenômeno mundial com reverberação menor no Brasil.
Há alguns grupos fechados no Facebook sobre o assunto e, no YouTube, a BBC News Brasil encontrou 15 vídeos de brasileiros sobre o tema, sendo o mais visto aquele com 825 mil visualizações.
Depois que a BBC News Brasil enviou os vídeos ao YouTube, aqueles que eram monetizados foram desmonetizados pela plataforma. Segundo a empresa, vídeos que digam diretamente "você não deve se vacinar" violam diretrizes e serão retirados do ar; aqueles só com teorias da conspiração - mesmo que contrárias a vacinas - se enquadram apenas como desinformação e não podem ser monetizados, mas permanecerão no ar.
Todos os vídeos encontrados pela reportagem foram publicados em 2018 ou 2019, e a maioria reproduz teorias da conspiração importadas dos Estados Unidos, onde o movimento é forte.
O conteúdo dos vídeos brasileiros muitas vezes é copiado ou traduzido de vídeos antivacina americanos. Dois dos vídeos são de supostos médicos que contraindicam especificamente vacinas contra gripe e contra a febre amarela.
Os comentários na maioria dos vídeos são de pessoas que hesitam em vacinar seus filhos e felicitam os youtubers pelas "informações".
Cobertura vacinal
A Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu a "hesitação em se vacinar" entre as dez maiores ameaças globais à saúde em 2019.
Desde a década de 1990, o Brasil tem boa cobertura vacinal. Mas dados do Ministério da Saúde mostram que todas as vacinas destinadas a crianças menores de dois anos de idade no Brasil vêm registrando queda desde 2011.
Por exemplo, a cobertura vacinal contra poliomielite no país era de 96,5% em 2012; dados preliminares de 2018 mostram que a cobertura dessa mesma vacina foi reduzida para 86,3%.
Segundo o ministério, a redução pode ter diferentes causas: o sucesso do programa nacional de imunizações no país - já que a eliminação de algumas doenças no país pode ter levado a "uma falsa sensação de que não há mais necessidade de se vacinar porque a população mais jovem não conhece o risco" e o acesso dos pais aos serviços de saúde.
"A vacina está disponível, mas os horários dos locais não são compatíveis com os dos pais. Estamos começando a discutir um programa para melhorar esses horários de funcionamento", diz Carla Domingues, coordenadora do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde.
E, por fim, uma terceira possível causa é justamente a resistência à vacinação, embora não se saiba exatamente qual é o peso do movimento na cobertura vacinal do Brasil, de acordo com Domingues.
Image captionCobertura vacinal no Brasil vem registrando queda desde 2011; uma das causas pode ser o que a OMS chama de 'hesitação vacinal'
Domingues diz que o movimento é muito diferente do fenômeno nos Estados Unidos. "Lá tem um forte movimento antivacina, de pessoas que realmente não acreditam na vacina. Aqui temos mais uma hesitação em tomar a vacina, um pensamento como 'não tem mais casos da doença, então acho que não tenho que tomar'", afirma.
É por isso, diz ela, que o Ministério da Saúde está fazendo ações para demonstrar para a população a importância da vacinação. Também vai conduzir estudos para entender como o movimento impacta nas coberturas vacinais do Brasil.
Sistema de recomendação no YouTube
Para esta reportagem, a BBC News Brasil entrou no YouTube sem estar logada em alguma conta. Em seguida, procurou no buscador da plataforma: "Devo vacinar minha filha?".
Os primeiros vídeos que aparecem como resultado são reportagens de veículos de imprensa, alguns caseiros, um do Ministério da Saúde.
O nono vídeo que aparece na lista é um chamado "Você deve tomar a vacina da febre amarela?", de Lair Ribeiro. Na primeira página, aparece também um vídeo de nome "Bill não vacina os filhos dele! Vacina é só pro gado", um vídeo com mais teorias da conspiração sobre Bill Gates e vacinas. Esse vídeo está monetizado.
O vídeo de Lair Ribeiro critica especificamente a vacina da febre amarela. "Não precisa ser nenhum engenheiro brilhante da Nasa. Há discrepância entre dar a mesma carga virótica para uma criança de 9 meses e para um indivíduo de 18 anos de idade com saúde, cheio de força", diz.
Procurado pela BBC News Brasil, ele afirma que "as vacinas têm o seu valor e como qualquer outra medicação podem trazer efeitos colaterais indesejáveis". Diz continuar "achando que uma criança de 1 ano de idade não deveria receber a mesma dose da vacina de febre amarela (ele sublinha 'febre amarela') do que um adulto de 30 anos".
Segundo José Cássio de Moraes, especialista em imunização e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, não há problema em crianças e adultos receberem a mesma quantidade de partículas virais em uma vacina de febre amarela porque eles têm respostas imunológicas iguais.
No Brasil, procurou-se recomendar vacina de febre amarela aos 9 meses porque aos 12, quando aplicada com a vacina de sarampo, acabava tendo uma menor resposta à imunização do sarampo, diz. A vacina de febre amarela é recomendada a pessoas que estejam em áreas de risco.
No YouTube, o vídeo de Lair Ribeiro, publicado em fevereiro de 2018, tem 41,6 mil visualizações. Muitos usuários comentam contra vacinas como um todo.
Outros vídeos vistos pela BBC News Brasil aparecem ligados entre si pelas recomendações.
Depois de terminar de assistir ao vídeo "Vacinas: Redução Populacional", do canal "Verdade Mundial", o YouTube recomenda ao usuário o vídeo "Vacinas Esterlizantes de Bill Gates! GRIPE, Vírus para para Reduzir População! [COMPARTILHEM URGENTE]", de 243 mil visualizações.
Domingues diz que o movimento é muito diferente do fenômeno nos Estados Unidos. "Lá tem um forte movimento antivacina, de pessoas que realmente não acreditam na vacina. Aqui temos mais uma hesitação em tomar a vacina, um pensamento como 'não tem mais casos da doença, então acho que não tenho que tomar'", afirma.
É por isso, diz ela, que o Ministério da Saúde está fazendo ações para demonstrar para a população a importância da vacinação. Também vai conduzir estudos para entender como o movimento impacta nas coberturas vacinais do Brasil.
Sistema de recomendação no YouTube
Para esta reportagem, a BBC News Brasil entrou no YouTube sem estar logada em alguma conta. Em seguida, procurou no buscador da plataforma: "Devo vacinar minha filha?".
Os primeiros vídeos que aparecem como resultado são reportagens de veículos de imprensa, alguns caseiros, um do Ministério da Saúde.
O nono vídeo que aparece na lista é um chamado "Você deve tomar a vacina da febre amarela?", de Lair Ribeiro. Na primeira página, aparece também um vídeo de nome "Bill não vacina os filhos dele! Vacina é só pro gado", um vídeo com mais teorias da conspiração sobre Bill Gates e vacinas. Esse vídeo está monetizado.
O vídeo de Lair Ribeiro critica especificamente a vacina da febre amarela. "Não precisa ser nenhum engenheiro brilhante da Nasa. Há discrepância entre dar a mesma carga virótica para uma criança de 9 meses e para um indivíduo de 18 anos de idade com saúde, cheio de força", diz.
Procurado pela BBC News Brasil, ele afirma que "as vacinas têm o seu valor e como qualquer outra medicação podem trazer efeitos colaterais indesejáveis". Diz continuar "achando que uma criança de 1 ano de idade não deveria receber a mesma dose da vacina de febre amarela (ele sublinha 'febre amarela') do que um adulto de 30 anos".
Segundo José Cássio de Moraes, especialista em imunização e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, não há problema em crianças e adultos receberem a mesma quantidade de partículas virais em uma vacina de febre amarela porque eles têm respostas imunológicas iguais.
No Brasil, procurou-se recomendar vacina de febre amarela aos 9 meses porque aos 12, quando aplicada com a vacina de sarampo, acabava tendo uma menor resposta à imunização do sarampo, diz. A vacina de febre amarela é recomendada a pessoas que estejam em áreas de risco.
No YouTube, o vídeo de Lair Ribeiro, publicado em fevereiro de 2018, tem 41,6 mil visualizações. Muitos usuários comentam contra vacinas como um todo.
Outros vídeos vistos pela BBC News Brasil aparecem ligados entre si pelas recomendações.
Depois de terminar de assistir ao vídeo "Vacinas: Redução Populacional", do canal "Verdade Mundial", o YouTube recomenda ao usuário o vídeo "Vacinas Esterlizantes de Bill Gates! GRIPE, Vírus para para Reduzir População! [COMPARTILHEM URGENTE]", de 243 mil visualizações.
Image captionQuem assiste a um vídeo antivacina é levado a outro vídeo antivacina e com teoria da conspiração
No primeiro vídeo, o fotógrafo Ton Müller diz que a vacinação provoca uma "eugenia controlada, uma eugenia pacífica". Por e-mail, ele diz que seu canal é um "hobby de pesquisa relacionada a conspirações". "Em nenhum momento empregamos como total verdade tudo o que é mostrado, mas sim uma forma de instigar as pessoas a pesquisar sobre cada assunto."
O vídeo seguinte tem um rapaz apresentando mais teorias da conspiração ligadas a Bill Gates. Em determinado momento, usa o vídeo de Lair Ribeiro como fonte. Os vídeos desse youtuber, autor de várias teorias de conspiração e três especificamente antivacina, também são reproduzidos automaticamente depois do término de outro.
A BBC News Brasil entrou em contato com 11 dos 13 youtubers contra vacina encontrados na plataforma. A reportagem não conseguiu o contato dos outros dois. As respostas variam: alguns argumentaram contra as vacinas, um negou que tivesse subido o vídeo no YouTube e retirou o vídeo do ar, e um autor disse não ter "compromisso com a verdade".
No primeiro vídeo, o fotógrafo Ton Müller diz que a vacinação provoca uma "eugenia controlada, uma eugenia pacífica". Por e-mail, ele diz que seu canal é um "hobby de pesquisa relacionada a conspirações". "Em nenhum momento empregamos como total verdade tudo o que é mostrado, mas sim uma forma de instigar as pessoas a pesquisar sobre cada assunto."
O vídeo seguinte tem um rapaz apresentando mais teorias da conspiração ligadas a Bill Gates. Em determinado momento, usa o vídeo de Lair Ribeiro como fonte. Os vídeos desse youtuber, autor de várias teorias de conspiração e três especificamente antivacina, também são reproduzidos automaticamente depois do término de outro.
A BBC News Brasil entrou em contato com 11 dos 13 youtubers contra vacina encontrados na plataforma. A reportagem não conseguiu o contato dos outros dois. As respostas variam: alguns argumentaram contra as vacinas, um negou que tivesse subido o vídeo no YouTube e retirou o vídeo do ar, e um autor disse não ter "compromisso com a verdade".
Image captionBrasileiros usam teorias da conspiração, como algumas que dizem que Bill Gates usa vacinas para reduzir a população mundial, para alimentar rede no YouTube
Muitos brasileiros usam um vídeo que mostra uma fala de Bill Gates em que ele menciona redução populacional e vacinas. A teoria da conspiração de que ele investe em vacinação para reduzir a população mundial já foi notoriamente desmentida.
De fato, sua fundação investe em vacinas, mas, segundo ele, com o objetivo de salvar a vida de mais crianças, não de matá-las por meio da vacinação. O empresário já declarou que acredita que salvar a vida de crianças, ou seja, reduzir a mortalidade infantil, pode ajudar a reduzir o crescimento da população mundial, que ele apoia.
"Primeiro, mais crianças sobrevivem, depois, famílias decidem ter menos crianças", escreveu numa carta em 2018.
Posicionamento do YouTube
Em janeiro, o YouTube anunciou que a plataforma iria reduzir a recomendação vídeos "no limite" de violação de seus termos de uso nos Estados Unidos, citando, em nota e como exemplo, vídeos com "falsas curas milagrosas para doenças graves", vídeos "alegando que a terra é plana" ou vídeos "com alegações falsas sobre eventos históricos como o 11 de Setembro".
Isso inclui alguns tipos de vídeos antivacina. Mas essa mudança ainda não chegou ao Brasil - deve ser aplicada no país no fim de 2019.
"Graças a essas mudanças, o número de visualizações resultantes de recomendações desse tipo de conteúdo caiu mais de 50% nos EUA. Nosso sistema está ficando cada vez mais bem treinado para reconhecer vídeos que mereçam esse tratamento, e com o tempo poderemos tomar essas medidas com mais e mais conteúdo duvidoso", afirmou a empresa, em nota.
Além disso, vídeos com conteúdo mais confiável serão favorecidos nos sistema de recomendação do YouTube. Vídeos de conteúdo duvidoso passarão a mostrar "painéis informativos" fornecendo mais contexto e outras fontes, como a Enciclopédia Britânica e a Wikipedia.
Muitos brasileiros usam um vídeo que mostra uma fala de Bill Gates em que ele menciona redução populacional e vacinas. A teoria da conspiração de que ele investe em vacinação para reduzir a população mundial já foi notoriamente desmentida.
De fato, sua fundação investe em vacinas, mas, segundo ele, com o objetivo de salvar a vida de mais crianças, não de matá-las por meio da vacinação. O empresário já declarou que acredita que salvar a vida de crianças, ou seja, reduzir a mortalidade infantil, pode ajudar a reduzir o crescimento da população mundial, que ele apoia.
"Primeiro, mais crianças sobrevivem, depois, famílias decidem ter menos crianças", escreveu numa carta em 2018.
Posicionamento do YouTube
Em janeiro, o YouTube anunciou que a plataforma iria reduzir a recomendação vídeos "no limite" de violação de seus termos de uso nos Estados Unidos, citando, em nota e como exemplo, vídeos com "falsas curas milagrosas para doenças graves", vídeos "alegando que a terra é plana" ou vídeos "com alegações falsas sobre eventos históricos como o 11 de Setembro".
Isso inclui alguns tipos de vídeos antivacina. Mas essa mudança ainda não chegou ao Brasil - deve ser aplicada no país no fim de 2019.
"Graças a essas mudanças, o número de visualizações resultantes de recomendações desse tipo de conteúdo caiu mais de 50% nos EUA. Nosso sistema está ficando cada vez mais bem treinado para reconhecer vídeos que mereçam esse tratamento, e com o tempo poderemos tomar essas medidas com mais e mais conteúdo duvidoso", afirmou a empresa, em nota.
Além disso, vídeos com conteúdo mais confiável serão favorecidos nos sistema de recomendação do YouTube. Vídeos de conteúdo duvidoso passarão a mostrar "painéis informativos" fornecendo mais contexto e outras fontes, como a Enciclopédia Britânica e a Wikipedia.
Image captionAlguns dos vídeos encontrados pela BBC News Brasil tinham anúncios e estavam monetizados; YouTube desmonetizou os vídeos
Conteúdo importado
No grupo de Facebook "VACINAS: O maior CRIME da história!", um dos administradores publica instruções sobre como traduzir "um artigo" pelo Google tradutor.
O recurso precisa ser utilizado porque a maior parte do conteúdo antivacina no Brasil é uma adaptação de material em inglês.
No YouTube, o procedimento é parecido. Youtubers contrários a vacinação colam trechos de vídeos em inglês em seus próprios vídeos.
Conteúdo importado
No grupo de Facebook "VACINAS: O maior CRIME da história!", um dos administradores publica instruções sobre como traduzir "um artigo" pelo Google tradutor.
O recurso precisa ser utilizado porque a maior parte do conteúdo antivacina no Brasil é uma adaptação de material em inglês.
No YouTube, o procedimento é parecido. Youtubers contrários a vacinação colam trechos de vídeos em inglês em seus próprios vídeos.
Image captionVídeo brasileiro antivacina coloca trecho de vídeo de britânico; no detalhe superior à direita, outro vídeo contra vacina como próxima recomendação
"Vou encerrar com as palavras do David Icke, com esse vídeo sobre as vacinas. Prestem atenção no que ele diz", diz um dos youtubers antivacina, antes de filmar um vídeo de Icke, um britânico conhecido por suas teorias da conspiração.
Outro vídeo, este com 195 mil visualizações, tem parte dos textos explicativos em inglês - uma cópia de algum filme em inglês contra vacinas.
Yasodara Córdova, pesquisadora-sênior sobre desinformação e dados na Digital Harvard Kennedy School, diz observar uma influência muito grande de conteúdo em inglês e de teorias da conspiração em vídeos brasileiros.
Córdova foi coautora de um trabalho que identificou como o sistema de recomendação automatizado do YouTube estava sugerindo vídeos domésticos de crianças brasileiras aparentemente inofensivos para quem assistia conteúdo sexual - ou seja, o próprio algoritmo sexualizava as crianças. O achado foi divulgado em uma reportagem do jornal New York Times no mês passado.
"Desde o começo da internet, o conteúdo é majoritariamente em inglês. E quando essas teorias da conspiração, que são muito interessantes e bizarras e chamam a atenção, começam a ser expostas e monetizadas, elas prendem a atenção das pessoas", afirma Córdova.
Na opinião da pesquisadora sobre comunicação científica Marina Joubert, da Universidade Stellenbosch, na África do Sul, as pessoas que se opõem à vacinação são conectadas dentro de suas comunidades, "mas também globalmente, via redes online". "Eles compartilham ideias por meio de redes sociais e reutilizam conteúdo e argumentos", diz ela, que conduz pesquisas sobre comunidades antivacina sul-africanas.
Para Córdova, há pouco conteúdo que contradiga essas teorias da conspiração na internet. Uma das soluções, sugere ela, é que o próprio YouTube convide pessoas locais para produzir conteúdo que desminta a desinformação.
Autor: Juliana Gragnani
Fonte: BBC News Brasil em Londres
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48695113
"Vou encerrar com as palavras do David Icke, com esse vídeo sobre as vacinas. Prestem atenção no que ele diz", diz um dos youtubers antivacina, antes de filmar um vídeo de Icke, um britânico conhecido por suas teorias da conspiração.
Outro vídeo, este com 195 mil visualizações, tem parte dos textos explicativos em inglês - uma cópia de algum filme em inglês contra vacinas.
Yasodara Córdova, pesquisadora-sênior sobre desinformação e dados na Digital Harvard Kennedy School, diz observar uma influência muito grande de conteúdo em inglês e de teorias da conspiração em vídeos brasileiros.
Córdova foi coautora de um trabalho que identificou como o sistema de recomendação automatizado do YouTube estava sugerindo vídeos domésticos de crianças brasileiras aparentemente inofensivos para quem assistia conteúdo sexual - ou seja, o próprio algoritmo sexualizava as crianças. O achado foi divulgado em uma reportagem do jornal New York Times no mês passado.
"Desde o começo da internet, o conteúdo é majoritariamente em inglês. E quando essas teorias da conspiração, que são muito interessantes e bizarras e chamam a atenção, começam a ser expostas e monetizadas, elas prendem a atenção das pessoas", afirma Córdova.
Na opinião da pesquisadora sobre comunicação científica Marina Joubert, da Universidade Stellenbosch, na África do Sul, as pessoas que se opõem à vacinação são conectadas dentro de suas comunidades, "mas também globalmente, via redes online". "Eles compartilham ideias por meio de redes sociais e reutilizam conteúdo e argumentos", diz ela, que conduz pesquisas sobre comunidades antivacina sul-africanas.
Para Córdova, há pouco conteúdo que contradiga essas teorias da conspiração na internet. Uma das soluções, sugere ela, é que o próprio YouTube convide pessoas locais para produzir conteúdo que desminta a desinformação.
Autor: Juliana Gragnani
Fonte: BBC News Brasil em Londres
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48695113
Como identificar os alimentos que parecem saudáveis, mas não são
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionCereais matinais com 'cara de nutritivos' entram na categoria alimentar dos ultraprocesados, considerada perigosa
Nem tudo é o que parece ser. Essa máxima vale para muitas coisas, inclusive para a alimentação, já que diversos produtos que parecem ser saudáveis nem sempre o são. Alguns exemplos clássicos são barras de cereal, cereais matinais, sucos prontos, pães de forma, mesmo os integrais, iogurtes (com exceção dos naturais), gelatina e peito de peru.
Presentes em vários cardápios, esses e tantos outros itens com "cara de nutritivos", na verdade, entram em uma categoria alimentar um tanto perigosa, a dos ultraprocesados, que, inclusive, nem existia até pouco tempo.
Ela só passou a ser efetivamente considerada em 2014, com a publicação da segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, e a adoção do sistema de classificação alimentar NOVA, elaborado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Universidade de São Paulo (USP).
Este sistema agrupa os alimentos em quatro categorias, definidas de acordo com a extensão e o propósito do processamento industrial utilizado na sua produção. São elas: in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários, processados e ultraprocessados.
Nem tudo é o que parece ser. Essa máxima vale para muitas coisas, inclusive para a alimentação, já que diversos produtos que parecem ser saudáveis nem sempre o são. Alguns exemplos clássicos são barras de cereal, cereais matinais, sucos prontos, pães de forma, mesmo os integrais, iogurtes (com exceção dos naturais), gelatina e peito de peru.
Presentes em vários cardápios, esses e tantos outros itens com "cara de nutritivos", na verdade, entram em uma categoria alimentar um tanto perigosa, a dos ultraprocesados, que, inclusive, nem existia até pouco tempo.
Ela só passou a ser efetivamente considerada em 2014, com a publicação da segunda edição do Guia Alimentar para a População Brasileira, do Ministério da Saúde, e a adoção do sistema de classificação alimentar NOVA, elaborado pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens), da Universidade de São Paulo (USP).
Este sistema agrupa os alimentos em quatro categorias, definidas de acordo com a extensão e o propósito do processamento industrial utilizado na sua produção. São elas: in natura ou minimamente processados, ingredientes culinários, processados e ultraprocessados.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionBarras de cereais nem sempre são tão nutritivas e saudáveis quanto aparentam ser
Antes disso, explica Maria Laura Louzada, pesquisadora do Nupens e professora do Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os alimentos eram divididos segundo seu perfil de nutrientes (proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais).
A especialista conta que foi em 2009 que surgiu a proposta do agrupamento conforme o processamento industrial. "Isso se deu após analisarmos os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde a década de 1970, para avaliar o consumo domiciliar da população", diz.
O que a entidade observou foi que a cada ano, as famílias brasileiras estavam comprando menos açúcar refinado, sal e óleo, mas, que, apesar disso, a composição nutricional do que era colocado no prato apontava aumento na quantidade destes elementos, considerados, até então, os grandes vilões da saúde e os responsáveis pelo aumento da obesidade e das doenças crônico-degenerativas, como infarto agudo do miocárdio e hipertensão arterial.
"Foi a partir disso que percebemos que o problema não era exatamente o açúcar, o sal e a gordura, mas sim o que estava sendo ingerido", pontua Maria Laura. "Constatamos que as pessoas estavam parando de preparar alimentos in natura e minimante processados e comprando mais os prontos para consumo", acrescenta.
Antes disso, explica Maria Laura Louzada, pesquisadora do Nupens e professora do Departamento de Políticas Públicas e Saúde Coletiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os alimentos eram divididos segundo seu perfil de nutrientes (proteínas, carboidratos, gorduras, vitaminas e minerais).
A especialista conta que foi em 2009 que surgiu a proposta do agrupamento conforme o processamento industrial. "Isso se deu após analisarmos os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), desde a década de 1970, para avaliar o consumo domiciliar da população", diz.
O que a entidade observou foi que a cada ano, as famílias brasileiras estavam comprando menos açúcar refinado, sal e óleo, mas, que, apesar disso, a composição nutricional do que era colocado no prato apontava aumento na quantidade destes elementos, considerados, até então, os grandes vilões da saúde e os responsáveis pelo aumento da obesidade e das doenças crônico-degenerativas, como infarto agudo do miocárdio e hipertensão arterial.
"Foi a partir disso que percebemos que o problema não era exatamente o açúcar, o sal e a gordura, mas sim o que estava sendo ingerido", pontua Maria Laura. "Constatamos que as pessoas estavam parando de preparar alimentos in natura e minimante processados e comprando mais os prontos para consumo", acrescenta.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionPão de forma e peito de peru fazem parte da categoria de alimentos ultraprocesados
A grande questão, ela pontua, é que esses produtos, em especial os ultraprocessados, contêm mais calorias e mais sal, açúcar e gordura, além de uma série de aditivos alimentares (reguladores de acidez, estabilizantes, espessantes, antioxidantes, realçadores de sabor, aromatizantes, corantes, conservantes, emulsificantes e fermentos químicos são alguns deles), que favorecem o consumo exagerado e provocam efeitos negativos no corpo e na saúde.
Paula Johns, diretora executiva da organização ACT Promoção da Saúde, comenta que, no caso exclusivo dos ultraprocessados, o conjunto de evidências em relação aos seus malefícios já é bem robusto.
"Esses alimentos, que, aliás, nem deveriam ser chamados de alimentos, mas sim de produtos comestíveis ultraprocessados, não contém nenhum nutriente, não saciam e ainda nos fazem querer comer cada vez mais", afirma.
Classificação dos alimentos
Os alimentos considerados in natura são aqueles obtidos diretamente de plantas (frutas, legumes, verduras, raízes e tubérculos) ou animais (ovos) e adquiridos para o consumo sem que tenham sofrido alterações após deixarem a natureza.
Já os minimamente processados são os in natura submetidos a pequenos processos, como limpeza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, refrigeração, secagem, embalagem, pasteurização, congelamento, moagem e fermentação, mas sem que sejam adicionados sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias.
A grande questão, ela pontua, é que esses produtos, em especial os ultraprocessados, contêm mais calorias e mais sal, açúcar e gordura, além de uma série de aditivos alimentares (reguladores de acidez, estabilizantes, espessantes, antioxidantes, realçadores de sabor, aromatizantes, corantes, conservantes, emulsificantes e fermentos químicos são alguns deles), que favorecem o consumo exagerado e provocam efeitos negativos no corpo e na saúde.
Paula Johns, diretora executiva da organização ACT Promoção da Saúde, comenta que, no caso exclusivo dos ultraprocessados, o conjunto de evidências em relação aos seus malefícios já é bem robusto.
"Esses alimentos, que, aliás, nem deveriam ser chamados de alimentos, mas sim de produtos comestíveis ultraprocessados, não contém nenhum nutriente, não saciam e ainda nos fazem querer comer cada vez mais", afirma.
Classificação dos alimentos
Os alimentos considerados in natura são aqueles obtidos diretamente de plantas (frutas, legumes, verduras, raízes e tubérculos) ou animais (ovos) e adquiridos para o consumo sem que tenham sofrido alterações após deixarem a natureza.
Já os minimamente processados são os in natura submetidos a pequenos processos, como limpeza, remoção de partes não comestíveis ou indesejáveis, refrigeração, secagem, embalagem, pasteurização, congelamento, moagem e fermentação, mas sem que sejam adicionados sal, açúcar, óleos, gorduras ou outras substâncias.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionA alimento in natura ou minimamente processado que recebe adição de sal, açúcar ou outra substância de uso culinário passa a ser considerado processado
Entram na lista grãos e cereais (arroz, feijão, milho, grão de bico, lentilha, trigo e aveia são alguns), oleoginosas (castanhas e nozes, por exemplo), leite, massas, farinhas, carne, ervas, chá e café.
De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, esses alimentos "são a base para uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável".
Ingredientes culinários
Nesta categoria estão inclusos óleos vegetais, gorduras, sal e açúcar, extraídos de alimentos in natura ou da natureza por processos como prensagem, moagem, trituração, pulverização e refino, e responsáveis por diversificar e tornar a alimentação mais saborosa, sem que fique nutricionalmente desbalanceada.
Alguns exemplos de óleos vegetais são os de soja, milho, girassol e oliva; de gordura, manteiga, banha de porco e gordura de coco; açúcar, branco, demerara ou mascavo, e sal (refinado ou grosso).
Vale destacar que estes itens devem ser usados em pequenas quantidades para temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias com base nos alimentos in natura ou minimamente processados.
Entram na lista grãos e cereais (arroz, feijão, milho, grão de bico, lentilha, trigo e aveia são alguns), oleoginosas (castanhas e nozes, por exemplo), leite, massas, farinhas, carne, ervas, chá e café.
De acordo com o Guia Alimentar para a População Brasileira, esses alimentos "são a base para uma alimentação nutricionalmente balanceada, saborosa, culturalmente apropriada e promotora de um sistema alimentar socialmente e ambientalmente sustentável".
Ingredientes culinários
Nesta categoria estão inclusos óleos vegetais, gorduras, sal e açúcar, extraídos de alimentos in natura ou da natureza por processos como prensagem, moagem, trituração, pulverização e refino, e responsáveis por diversificar e tornar a alimentação mais saborosa, sem que fique nutricionalmente desbalanceada.
Alguns exemplos de óleos vegetais são os de soja, milho, girassol e oliva; de gordura, manteiga, banha de porco e gordura de coco; açúcar, branco, demerara ou mascavo, e sal (refinado ou grosso).
Vale destacar que estes itens devem ser usados em pequenas quantidades para temperar e cozinhar alimentos e criar preparações culinárias com base nos alimentos in natura ou minimamente processados.
Direito de imagemMINISTÉRIO DA SAÚDE
Alimentos processados
Quando um alimento in natura ou minimamente processado recebe adição de sal, açúcar ou outra substância de uso culinário, para torná-lo durável e mais agradável ao paladar, ele passa a ser considerado processado.
Segundo o Ministério da Saúde e o Nupens, este tipo de produto é derivado diretamente de alimentos, sendo reconhecido como versão modificada, e usualmente é consumido como parte ou acompanhamento de preparações culinárias feitas com base em alimentos minimamente processados - caso do queijo acrescentando ao macarrão e das carnes salgadas ao feijão.
Alimentos processados
Quando um alimento in natura ou minimamente processado recebe adição de sal, açúcar ou outra substância de uso culinário, para torná-lo durável e mais agradável ao paladar, ele passa a ser considerado processado.
Segundo o Ministério da Saúde e o Nupens, este tipo de produto é derivado diretamente de alimentos, sendo reconhecido como versão modificada, e usualmente é consumido como parte ou acompanhamento de preparações culinárias feitas com base em alimentos minimamente processados - caso do queijo acrescentando ao macarrão e das carnes salgadas ao feijão.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionProdutos que melhoram o paladar de alimentos podem fazê-los mudar de categoria
Alguns exemplos são cenoura, pepino, ervilhas, palmito, cebola, couve-flor preservados em salmoura ou em solução de sal e vinagre; extrato ou concentrado de tomate (com sal e ou açúcar); frutas em calda e frutas cristalizadas; carne seca e toucinho; sardinha e atum enlatados; queijos e pães feitos de farinha de trigo, leveduras, água e sal.
As entidades comentam que as técnicas de processamento se assemelham às culinárias, podendo incluir cozimento, secagem, fermentação, acondicionamento em latas ou vidros e uso de métodos de preservação, como salga, salmoura, cura e defumação. E elas recomendam que se limite a ingestão destes alimentos, pois os ingredientes e os métodos usados na fabricação alteram de modo desfavorável a composição nutricional.
Alimentos ultraprocessados
O termo ultraprocessado é usado para caracterizar formulações produzidas com muitos elementos, incluindo sal, açúcar, óleos, gorduras e substâncias de uso exclusivamente industrial, como proteínas de soja e do leite e extratos de carnes, e que passam por várias etapas de processamento.
Essas formulações também costumam utilizar substâncias sintetizadas em laboratório a partir de alimentos e de outras fontes orgânicas, como petróleo e carvão - muitas delas atuam como aditivos, cuja função é estender a duração ou dotar o produto de cor, sabor, aroma e textura para torná-lo mais atraente.
Alguns exemplos são cenoura, pepino, ervilhas, palmito, cebola, couve-flor preservados em salmoura ou em solução de sal e vinagre; extrato ou concentrado de tomate (com sal e ou açúcar); frutas em calda e frutas cristalizadas; carne seca e toucinho; sardinha e atum enlatados; queijos e pães feitos de farinha de trigo, leveduras, água e sal.
As entidades comentam que as técnicas de processamento se assemelham às culinárias, podendo incluir cozimento, secagem, fermentação, acondicionamento em latas ou vidros e uso de métodos de preservação, como salga, salmoura, cura e defumação. E elas recomendam que se limite a ingestão destes alimentos, pois os ingredientes e os métodos usados na fabricação alteram de modo desfavorável a composição nutricional.
Alimentos ultraprocessados
O termo ultraprocessado é usado para caracterizar formulações produzidas com muitos elementos, incluindo sal, açúcar, óleos, gorduras e substâncias de uso exclusivamente industrial, como proteínas de soja e do leite e extratos de carnes, e que passam por várias etapas de processamento.
Essas formulações também costumam utilizar substâncias sintetizadas em laboratório a partir de alimentos e de outras fontes orgânicas, como petróleo e carvão - muitas delas atuam como aditivos, cuja função é estender a duração ou dotar o produto de cor, sabor, aroma e textura para torná-lo mais atraente.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionO Guia Alimentar para a População Brasileira recomenda evitar alimentos como o hambúrger, por conta da composição nutricional desbalanceada
Uma dica para saber se o alimento faz parte deste grupo é consultar a lista de ingredientes no rótulo. Os principais indicativos são: número elevado de ingredientes (cinco ou mais), com nomes pouco familiares e que não são usados nas preparações culinárias, como gordura vegetal hidrogenada, óleos interesterificados e xarope de frutose.
Entram nessa categoria uma série de itens: biscoitos, sorvetes, balas e guloseimas em geral, cereais açucarados, bolos e misturas para bolo, barras de cereal, sopas, macarrão e temperos instantâneos, molhos, salgadinhos de pacote, refrescos e refrigerantes, bebidas lácteas e iogurte adoçados e aromatizados, energéticos, produtos congelados e prontos para aquecimento, extratos de carne de frango ou peixe empanados do tipo nuggets, salsichas e outros embutidos, pães de forma e pães para hambúrguer e cachorro quente.
Uma dica para saber se o alimento faz parte deste grupo é consultar a lista de ingredientes no rótulo. Os principais indicativos são: número elevado de ingredientes (cinco ou mais), com nomes pouco familiares e que não são usados nas preparações culinárias, como gordura vegetal hidrogenada, óleos interesterificados e xarope de frutose.
Entram nessa categoria uma série de itens: biscoitos, sorvetes, balas e guloseimas em geral, cereais açucarados, bolos e misturas para bolo, barras de cereal, sopas, macarrão e temperos instantâneos, molhos, salgadinhos de pacote, refrescos e refrigerantes, bebidas lácteas e iogurte adoçados e aromatizados, energéticos, produtos congelados e prontos para aquecimento, extratos de carne de frango ou peixe empanados do tipo nuggets, salsichas e outros embutidos, pães de forma e pães para hambúrguer e cachorro quente.
Direito de imagemMINISTÉRIO DA SAÚDE
O Guia Alimentar para a População Brasileira indica que se evite esses alimentos por conta da composição nutricional desbalanceada, características que os ligam a ingestão excessiva de calorias e o impacto que as formas de produção, distribuição, comercialização e consumo têm sobre a cultura, a vida social e o meio ambiente.
O documento ainda destaca que "o problema principal com alimentos ultraprocessados reformulados é o risco de serem vistos como produtos saudáveis, cujo consumo não precisaria mais ser limitado". Isso porque a publicidade explora suas alegadas vantagens diante dos alimentos regulares, como "menos calorias" e "adição de vitaminas e minerais".
Riscos dos alimentos ultraprocessados
Com o aumento no consumo dos alimentos ultraprocessados em todo mundo - só no Brasil, entre 1996 e 2009, segundo o Nupens, a participação na dieta da população subiu de 18,7% para 30% -, vários estudos têm sido realizados para identificar seus reais riscos para a saúde.
Dentre os mais recentes está um publicado em maio deste ano pela Universidade de Navarra, da Espanha. Realizado com 19.899 voluntários, acompanhados durante 15 anos (de 1999 a 2014), ele constatou que consumir mais de quatro porções diárias de alimentos ultraprocessados está associado a uma chance 62% maior de todas as causas de mortalidade, e que a cada porção adicional, esse índice sobe mais 18%.
O Guia Alimentar para a População Brasileira indica que se evite esses alimentos por conta da composição nutricional desbalanceada, características que os ligam a ingestão excessiva de calorias e o impacto que as formas de produção, distribuição, comercialização e consumo têm sobre a cultura, a vida social e o meio ambiente.
O documento ainda destaca que "o problema principal com alimentos ultraprocessados reformulados é o risco de serem vistos como produtos saudáveis, cujo consumo não precisaria mais ser limitado". Isso porque a publicidade explora suas alegadas vantagens diante dos alimentos regulares, como "menos calorias" e "adição de vitaminas e minerais".
Riscos dos alimentos ultraprocessados
Com o aumento no consumo dos alimentos ultraprocessados em todo mundo - só no Brasil, entre 1996 e 2009, segundo o Nupens, a participação na dieta da população subiu de 18,7% para 30% -, vários estudos têm sido realizados para identificar seus reais riscos para a saúde.
Dentre os mais recentes está um publicado em maio deste ano pela Universidade de Navarra, da Espanha. Realizado com 19.899 voluntários, acompanhados durante 15 anos (de 1999 a 2014), ele constatou que consumir mais de quatro porções diárias de alimentos ultraprocessados está associado a uma chance 62% maior de todas as causas de mortalidade, e que a cada porção adicional, esse índice sobe mais 18%.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionVários estudos avaliam o risco do consumo de certos alimentos para a saúde
Outra pesquisa divulgada no mesmo mês, esta pelo National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, mostrou a relação entre o consumo deste tipo de alimento e a maior ingestão calórica e ao ganho de peso.
Para isso, cientistas da entidade avaliaram 20 pessoas durante quatro semanas. No período, elas foram submetidas a dois tipos de dietas, ultraprocessada e não processada, ambas com quantidades iguais de nutrientes.
Ao final da experiência, a conclusão foi de que o grupo da dieta ultraprocessada consumiu 508 calorias a mais por dia em comparação com o da dieta não processada e ganhou quase 1 quilo em 15 dias.
Outra pesquisa divulgada no mesmo mês, esta pelo National Institutes of Health (NIH), dos Estados Unidos, mostrou a relação entre o consumo deste tipo de alimento e a maior ingestão calórica e ao ganho de peso.
Para isso, cientistas da entidade avaliaram 20 pessoas durante quatro semanas. No período, elas foram submetidas a dois tipos de dietas, ultraprocessada e não processada, ambas com quantidades iguais de nutrientes.
Ao final da experiência, a conclusão foi de que o grupo da dieta ultraprocessada consumiu 508 calorias a mais por dia em comparação com o da dieta não processada e ganhou quase 1 quilo em 15 dias.
Direito de imagemMINISTÉRIO DA SAÚDE
Por fim, um trabalho da Universidade de Paris, na França, reforçou a ligação entre a ingestão de ultraprocessados com o risco elevado de desenvolver doenças cardiovasculares.
Após acompanhar 105.159 indivíduos durante cinco anos, os pesquisadores verificaram que uma participação de apenas 10% desses alimentos na dieta aumenta em 12% a chance de infarto e em 11% a de acidente vascular cerebral (AVC).
Autor: Renata Turbiani
Fonte: São Paulo para a BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48696636
Por fim, um trabalho da Universidade de Paris, na França, reforçou a ligação entre a ingestão de ultraprocessados com o risco elevado de desenvolver doenças cardiovasculares.
Após acompanhar 105.159 indivíduos durante cinco anos, os pesquisadores verificaram que uma participação de apenas 10% desses alimentos na dieta aumenta em 12% a chance de infarto e em 11% a de acidente vascular cerebral (AVC).
Autor: Renata Turbiani
Fonte: São Paulo para a BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-48696636
Jean Purdy, a cientista pioneira que ajudou a desenvolver a fertilização in vitro e nunca foi reconhecida
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionJean Purdy trabalhou com Robert Edwards no desenvolvimento da fertilização in vitro
Os cientistas britânicos Robert Edwards e Patrick Steptoe (1913-1988) são conhecidos como os pais da fertilização in vitro, o procedimento que levou ao nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978.
Edwards foi premiado em 2010 com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, e Steptoe recebeu vários reconhecimentos por este trabalho.
Mas houve outra integrante essencial de sua equipe: Jean Purdy (1945-1985), uma enfermeira britânica e embriologista que também foi pioneira no tratamento de fertilidade.
A fertilização in vitro é um procedimento pelo qual a fecundação do óvulo pelo espermatozóide ocorre fora do corpo da mãe.
Em grande parte, o nascimento do primeiro bebê de proveta, Louise Brown, foi possível graças ao trabalho de Purdy, encarregada de transferir o embrião em um estado de blastômero (oito células) para o útero da mãe. Mas a contribuição de Purdy nunca foi devidamente reconhecida.
Edwards pediu que Purdy fosse incluída em homenagens
Os cientistas britânicos Robert Edwards e Patrick Steptoe (1913-1988) são conhecidos como os pais da fertilização in vitro, o procedimento que levou ao nascimento do primeiro bebê de proveta, em 1978.
Edwards foi premiado em 2010 com o Prêmio Nobel de Fisiologia ou Medicina, e Steptoe recebeu vários reconhecimentos por este trabalho.
Mas houve outra integrante essencial de sua equipe: Jean Purdy (1945-1985), uma enfermeira britânica e embriologista que também foi pioneira no tratamento de fertilidade.
A fertilização in vitro é um procedimento pelo qual a fecundação do óvulo pelo espermatozóide ocorre fora do corpo da mãe.
Em grande parte, o nascimento do primeiro bebê de proveta, Louise Brown, foi possível graças ao trabalho de Purdy, encarregada de transferir o embrião em um estado de blastômero (oito células) para o útero da mãe. Mas a contribuição de Purdy nunca foi devidamente reconhecida.
Edwards pediu que Purdy fosse incluída em homenagens
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionO nascimento do primeiro bebê de proveta, Louise Brown (ao centro), foi possível graças ao trabalho de Purdy
Cartas publicadas recentemente pela Universidade Cambridge, no Reino Unido, revelam que Edwards tentou em várias ocasiões que a contribuição da jovem pesquisadora se tornasse pública. Mas seus esforços nunca deram frutos.
Em uma das cartas, dirigida às autoridades municipais de saúde na cidade de Oldham, no noroeste da Inglaterra, que estavam prestes a inaugurar uma placa comemorativa no hospital onde Louise Brown nasceu, Edwards destacou que Purdy havia contribuído para o desenvolvimento da fertilização in vitro "assim como" ele e Steptoe.
Cartas publicadas recentemente pela Universidade Cambridge, no Reino Unido, revelam que Edwards tentou em várias ocasiões que a contribuição da jovem pesquisadora se tornasse pública. Mas seus esforços nunca deram frutos.
Em uma das cartas, dirigida às autoridades municipais de saúde na cidade de Oldham, no noroeste da Inglaterra, que estavam prestes a inaugurar uma placa comemorativa no hospital onde Louise Brown nasceu, Edwards destacou que Purdy havia contribuído para o desenvolvimento da fertilização in vitro "assim como" ele e Steptoe.
Direito de imagemPAImage captionRobert Edwards pediu diversas vezes que Purdy fosse incluída em placas comemorativas de hospitais, sem sucesso
Edwards queria que o nome de Purdy fosse incluído na placa ao lado dos dele e de Steptoe, e repetiu a tentativa em ocasiões semelhantes antes de homenagens em outros hospitais. Mas seus pedidos foram sempre negados.
Outras cartas mostram as diversas tentativas de Edwards de convencer o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido a apoiar pesquisas sobre fertilização in vitro.
Os documentos agora fazem parte de uma exposição aberta ao público no Churchill Archives Center, na Universidade Cambridge.
As contribuições de Jean Purdy
Edwards queria que o nome de Purdy fosse incluído na placa ao lado dos dele e de Steptoe, e repetiu a tentativa em ocasiões semelhantes antes de homenagens em outros hospitais. Mas seus pedidos foram sempre negados.
Outras cartas mostram as diversas tentativas de Edwards de convencer o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido a apoiar pesquisas sobre fertilização in vitro.
Os documentos agora fazem parte de uma exposição aberta ao público no Churchill Archives Center, na Universidade Cambridge.
As contribuições de Jean Purdy
Direito de imagemBRISTOL POST/PA WIREImage captionEstima-se que pelo menos 6 milhões de bebês, como Louise Brown (ao centro), já nasceram graças à fertilização in vitro
Purdy começou a trabalhar com Edwards em 1968, quando a enfermeira e pesquisadora tinha 23 anos. A jovem colaborou bastante com Edwards, e ambos viajaram juntos para a Califórnia, nos Estados Unidos, em 1969, para realizar pesquisas.
Ela participou ativamente dos testes do novo procedimento e foi cofundadora em 1980 da Bourn Hall, na Inglaterra, a primeira clínica de fertilização in vitro do mundo.
A jovem foi coautora de 26 artigos com Steptoe e Edwards e, durante sua carreira, mais de 30 crianças foram concebidas por fertilização in vitro. Estima-se que pelo menos 6 milhões de bebês já nasceram no mundo graças a essa técnica.
Purdy começou a trabalhar com Edwards em 1968, quando a enfermeira e pesquisadora tinha 23 anos. A jovem colaborou bastante com Edwards, e ambos viajaram juntos para a Califórnia, nos Estados Unidos, em 1969, para realizar pesquisas.
Ela participou ativamente dos testes do novo procedimento e foi cofundadora em 1980 da Bourn Hall, na Inglaterra, a primeira clínica de fertilização in vitro do mundo.
A jovem foi coautora de 26 artigos com Steptoe e Edwards e, durante sua carreira, mais de 30 crianças foram concebidas por fertilização in vitro. Estima-se que pelo menos 6 milhões de bebês já nasceram no mundo graças a essa técnica.
Direito de imagemBRITISH FERTILITY SOCIETYImage captionPurdy foi coautora de 26 artigos científicos com Steptoe e Edwards
"O trabalho de Purdy como cientista passou praticamente despercebido em comparação com o reconhecimento a Edwards e Steptoe", disse uma porta-voz de Cambridge.
"As cartas que acabam de ser publicadas não são apenas valiosas para os historiadores da ciência, mas para estudiosos das implicações sociais da ciência."
Além do Prêmio Nobel, Edwards foi reconhecido em 2011 com honras concedidas pela rainha Elizabeth 2ª.
Purdy morreu de câncer em 1985, aos 39 anos.
Autor: BBC News Brasil
Fonte: BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-48727511
"O trabalho de Purdy como cientista passou praticamente despercebido em comparação com o reconhecimento a Edwards e Steptoe", disse uma porta-voz de Cambridge.
"As cartas que acabam de ser publicadas não são apenas valiosas para os historiadores da ciência, mas para estudiosos das implicações sociais da ciência."
Além do Prêmio Nobel, Edwards foi reconhecido em 2011 com honras concedidas pela rainha Elizabeth 2ª.
Purdy morreu de câncer em 1985, aos 39 anos.
Autor: BBC News Brasil
Fonte: BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-48727511
Como exercício em excesso pode afetar coração, fígado e músculos
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionExercícios intensos são altamente recomendados, mas precisam vir acompanhandos de recuperação adequada, alerta especialista
Já se sabe que treinar demais e descansar de menos causa problemas como insônia, enfraquecimento da imunidade e dores.
Um grupo de pesquisadores brasileiros tem sido pioneiro em ir além - na verdade, para dentro do corpo: eles buscam os efeitos do exercício físico excessivo em órgãos vitais como o coração e o fígado.
Os cientistas, das universidades estaduais de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto e de Campinas (Unicamp) em Limeira, já estudam há uma década o impacto deste excesso no organismo - e reuniram suas principais descobertas em um artigo recém-publicado no periódico internacional Cytokine. As pesquisas receberam apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Coração, fígado, músculos e sistema nervoso mostraram, em experimentos com camundongos conduzidos pelos pesquisadores, alterações - algumas prejudiciais - após treinos muito intensos. Os testes incluíram corridas no plano, na subida e na descida por oito semanas.
A prática é nociva para o organismo, alertam os autores, caso não haja um período adequado de descanso e recuperação.
Fígado entra em cena para ajudar o músculo
Nos músculos, as células demonstraram mais dificuldade em captar a glicose no sangue - substância que é fonte de energia para as células, como o combustível do nosso corpo. Na modalidade de descida, os animais apresentaram ainda sinais de atrofia e má formação de proteínas no interior das células.
Mas, se nas células musculares, houve maior dificuldade de captar glicose, como o organismo supriu esta falta? Novos testes mostraram que o fígado teve um papel nisso, já que o órgão é um dos mais importantes no controle do açúcar no organismo.
A importância do descanso
Já se sabe que treinar demais e descansar de menos causa problemas como insônia, enfraquecimento da imunidade e dores.
Um grupo de pesquisadores brasileiros tem sido pioneiro em ir além - na verdade, para dentro do corpo: eles buscam os efeitos do exercício físico excessivo em órgãos vitais como o coração e o fígado.
Os cientistas, das universidades estaduais de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto e de Campinas (Unicamp) em Limeira, já estudam há uma década o impacto deste excesso no organismo - e reuniram suas principais descobertas em um artigo recém-publicado no periódico internacional Cytokine. As pesquisas receberam apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Coração, fígado, músculos e sistema nervoso mostraram, em experimentos com camundongos conduzidos pelos pesquisadores, alterações - algumas prejudiciais - após treinos muito intensos. Os testes incluíram corridas no plano, na subida e na descida por oito semanas.
A prática é nociva para o organismo, alertam os autores, caso não haja um período adequado de descanso e recuperação.
Fígado entra em cena para ajudar o músculo
Nos músculos, as células demonstraram mais dificuldade em captar a glicose no sangue - substância que é fonte de energia para as células, como o combustível do nosso corpo. Na modalidade de descida, os animais apresentaram ainda sinais de atrofia e má formação de proteínas no interior das células.
Mas, se nas células musculares, houve maior dificuldade de captar glicose, como o organismo supriu esta falta? Novos testes mostraram que o fígado teve um papel nisso, já que o órgão é um dos mais importantes no controle do açúcar no organismo.
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionCientistas brasileiros propõem analisar o impacto do exercício intenso em diferentes órgãos
O órgão pode "estocar" glicose - para situações como a percebida pelos pesquisadores, em que o treino intenso levou a uma dificuldade dos músculos absorverem glicose. Cobaias, no experimento, mostraram aumento deste estoque.
Mas, como efeito negativo do excesso de esforço físico, os cientistas constataram também maior acúmulo de gordura no fígado e sinais de inflamação. Isto pode estar relacionado à atuação compensatória do fígado na administração do estoque de glicose, mas ainda não foi confirmado pelos estudiosos.
"O aumento da gordura no fígado é muito ruim, pois tem relação com uma série de doenças, como obesidade e diabetes. Mas é importante destacar que, nos experimentos, não constatamos estas doenças, apenas o acúmulo de gordura", destaca Adelino Sanchez Ramos da Silva, coordenador da pesquisa e professor da USP.
Até mesmo o coração incrementou sua participação na captação da glicose, com maior acúmulo da substância em seus tecidos.
Mas, como efeito negativo no coração, após as oito semanas de treino excessivo, foi observado também sinais de fibrose (endurecimento do tecido) no ventrículo esquerdo - alteração presente em condições patológicas como a insuficiência cardíaca.
Tanto neste órgão, quanto no fígado, sangue e músculos, foram detectados ainda substâncias que indicam ter ocorrido inflamações.
O órgão pode "estocar" glicose - para situações como a percebida pelos pesquisadores, em que o treino intenso levou a uma dificuldade dos músculos absorverem glicose. Cobaias, no experimento, mostraram aumento deste estoque.
Mas, como efeito negativo do excesso de esforço físico, os cientistas constataram também maior acúmulo de gordura no fígado e sinais de inflamação. Isto pode estar relacionado à atuação compensatória do fígado na administração do estoque de glicose, mas ainda não foi confirmado pelos estudiosos.
"O aumento da gordura no fígado é muito ruim, pois tem relação com uma série de doenças, como obesidade e diabetes. Mas é importante destacar que, nos experimentos, não constatamos estas doenças, apenas o acúmulo de gordura", destaca Adelino Sanchez Ramos da Silva, coordenador da pesquisa e professor da USP.
Até mesmo o coração incrementou sua participação na captação da glicose, com maior acúmulo da substância em seus tecidos.
Mas, como efeito negativo no coração, após as oito semanas de treino excessivo, foi observado também sinais de fibrose (endurecimento do tecido) no ventrículo esquerdo - alteração presente em condições patológicas como a insuficiência cardíaca.
Tanto neste órgão, quanto no fígado, sangue e músculos, foram detectados ainda substâncias que indicam ter ocorrido inflamações.
A importância do descanso
Direito de imagemGETTY IMAGESImage captionPesquisa mostrou alterações nos músculos, sangue e órgãos após exercícios intensos
O coodernador da pesquisa destaca ainda que o problema não está no exercício intenso em si - "ele é necessário, inclusive" -, mas quando ele não é combinado com um período de recuperação adequado.
Um repouso de duas semanas, por exemplo, foi suficiente nos experimentos para que camundongos recuperassem seu peso e apetite, duas alterações clássicas no estudo dos exercícios de intensidade.
Na rotina de exercícios de atletas ou amadores, diz Silva, o tempo de descanso recomendado varia. Para os primeiros, costuma-se indicar redução do tempo e da carga dos treinos e um possível aumento no período de recuperação; para os amadores, o intervalo recomendado depende da pessoa e dos exercícios realizados, mas tende a ir de 24 a 48 horas.
"A prática de exercício físico de maneira regular, moderada e supervisionada por um profissional de educação física é extremamente benéfica, uma vez que pode servir como estratégia não-farmacológica de prevenção e tratamento de uma série de doenças", aponta.
"No entanto, caso ocorra um desequilíbrio entre o excesso de exercício físico e os períodos de recuperação, o efeito do exercício pode se tornar prejudicial à saúde".
O papel das citocinas
Uma outra inovação proposta pelos pesquisadores diz respeito ao papel das citocinas, proteínas produzidas por células de defesa e que têm papel importante nas inflamações.
Uma explicação bem aceita na literatura científica até agora é a de que as citocinas seriam liberadas com o exercício excessivo, levando a várias mudanças no organismo e à queda na performance.
Mas a equipe liderada por Silva vem demonstrando que, mesmo quando as citocinas já estão em níveis normais após uma alta, a performance pode continuar prejudicada.
Assim, os cientistas brasileiros defendem que as citocinas não são a única explicação para a queda na performance - agora, a busca por outras justificativas continua.
Autor: Mariana Alvim
Fonte: BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-48713729
O coodernador da pesquisa destaca ainda que o problema não está no exercício intenso em si - "ele é necessário, inclusive" -, mas quando ele não é combinado com um período de recuperação adequado.
Um repouso de duas semanas, por exemplo, foi suficiente nos experimentos para que camundongos recuperassem seu peso e apetite, duas alterações clássicas no estudo dos exercícios de intensidade.
Na rotina de exercícios de atletas ou amadores, diz Silva, o tempo de descanso recomendado varia. Para os primeiros, costuma-se indicar redução do tempo e da carga dos treinos e um possível aumento no período de recuperação; para os amadores, o intervalo recomendado depende da pessoa e dos exercícios realizados, mas tende a ir de 24 a 48 horas.
"A prática de exercício físico de maneira regular, moderada e supervisionada por um profissional de educação física é extremamente benéfica, uma vez que pode servir como estratégia não-farmacológica de prevenção e tratamento de uma série de doenças", aponta.
"No entanto, caso ocorra um desequilíbrio entre o excesso de exercício físico e os períodos de recuperação, o efeito do exercício pode se tornar prejudicial à saúde".
O papel das citocinas
Uma outra inovação proposta pelos pesquisadores diz respeito ao papel das citocinas, proteínas produzidas por células de defesa e que têm papel importante nas inflamações.
Uma explicação bem aceita na literatura científica até agora é a de que as citocinas seriam liberadas com o exercício excessivo, levando a várias mudanças no organismo e à queda na performance.
Mas a equipe liderada por Silva vem demonstrando que, mesmo quando as citocinas já estão em níveis normais após uma alta, a performance pode continuar prejudicada.
Assim, os cientistas brasileiros defendem que as citocinas não são a única explicação para a queda na performance - agora, a busca por outras justificativas continua.
Autor: Mariana Alvim
Fonte: BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 25/06/2019
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-48713729
Estudo da Embrapa indica que o aquecimento global pode intensificar doença no cultivo do feijão em locais mais frios
Na faixa central, plantas com desenvolvimento comprometido causado pela podridão radicular seca
Com o aumento da temperatura do planeta, muitas doenças de plantas podem alterar sua distribuição nas regiões produtoras, aumentando as dificuldades de manejo e os riscos de perdas na produção. Entre os males que afetam as raízes, a podridão radicular seca, causada por fungos do gênero Fusarium, pode se intensificar em lavouras de feijão das regiões Sul e Sudeste do Brasil e dificultar o cultivo do grão no Centro-Oeste devido à restrição de condições ambientais favoráveis para o feijoeiro. Essa é a expectativa de um estudo da Embrapa e da Universidade Federal de Goiás (UFG) publicado na revista científica PLOS ONE.
O trabalho de tese de doutorado de Renan Macedo, com orientação do pesquisador Murillo Lobo Junior, da Embrapa Arroz e Feijão (GO), projetou a distribuição da podridão radicular seca para os anos 2050 e 2070 em diferentes regiões do País, face às estimativas de dois cenários de aumento de temperaturas (um otimista e outro pessimista), previstas no mais recente relatório de avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC-AR5), divulgado em 2014.
Para a pesquisa, os cientistas consideraram duas taxas de emissões de gases de efeito estufa, baseadas nas chamadas Rotas de Concentração Representativas, conhecidas pela sigla RCP. A primeira (RCP 2.6) prevê aumento do aquecimento global em 1oC, enquanto a segunda (RCP 8.5) prediz a elevação de 2oC.
Aliado a esses dois cenários, o estudo utilizou um grande volume de dados de estações climatológicas e de condições ambientais favoráveis à ocorrência da enfermidade. Por meio de modelagem, padrões favoráveis à doença foram reconhecidos por métodos estatísticos e por inteligência artificial (machine learning), gerando previsões da distribuição da podridão radicular seca.
Doença atingirá regiões hoje isentas
Os resultados do trabalho apontam regiões de alta favorabilidade climática para a doença. Atualmente, a podridão radicular seca está presente nas principais regiões produtoras de feijão no Brasil. As projeções do estudo de Macedo indicam o aumento do risco da doença em localidades do Brasil que hoje são mais frias, mas que apresentarão boas condições ambientais para a ocorrência da podridão radicular seca, especialmente devido à mudança no regime de chuvas e na temperatura.
Machine learning e método estatístico
O aprendizado de máquina (em inglês,machine learning) é um método de análise de dados que automatiza a construção de modelos analíticos. É um ramo da inteligência artificial baseado na ideia de que sistemas podem aprender com dados, identificar padrões e tomar decisões com o mínimo de intervenção humana.
O método estatístico é a forma tradicional e consagrada pela pesquisa na análise de dados com a construção de modelos analíticos capazes de identificar padrões.
Os mapas foram interpretados pelos especialistas que checaram a distribuição estimada com os registros observados da doença no campo. Eles verificaram que a distribuição pelo método estatístico representa melhor a dimensão desse problema. Ao contrário, o método de aprendizado de máquina subestimou as áreas de maior risco.
Mapas de risco foram gerados com a estimativa da distribuição espacial da doença. As estimativas foram classificadas de acordo com a cor do mapa, variando do azul escuro (pouco favorável ou menor risco) até o vermelho (muito favorável ou maior risco), em dois cenários (aumento de 1ºC e de 2ºC).
Maior risco
A doença deve ficar mais severa em Minas Gerais, São Paulo e Paraná, nas projeções para 2050 e 2070. Apesar disso, de acordo com os pesquisadores, essas estimativas só se consolidarão a partir do acompanhamento e da confirmação dos cenários de mudanças climáticas e do monitoramento local do comportamento da podridão radicular seca.
“Os mapas de risco indicam as tendências de distribuição da doença. Eles podem servir para o desenvolvimento de estratégias de manejo a médio e longo prazo e para a adoção de medidas de mitigação, a partir da orientação de políticas públicas, do direcionamento de esforços de programas de melhoramento genético do feijão e de geração de cultivares resistentes, além da execução de ações voltadas ao manejo integrado”, afirma o pesquisador Murillo Lobo Junior.
Ele destaca ainda que, se essas projeções se confirmarem, a podridão radicular seca se tornará mais intensa em áreas que hoje respondem por 40% da produção de feijão no Brasil, ou seja, mais de 1,2 milhão de toneladas do grão e onde a agricultura é mais praticada por pequenos agricultores.
Murillo explica ainda que os mapas de risco indicam um caminho por onde a doença provavelmente irá se distribuir, mas não servem para antecipar recomendações técnicas a agricultores e extensionistas. “O mérito do trabalho está em apontar regiões que requerem atenção, para que no futuro não haja surtos em grande escala ou ameaças à segurança alimentar”, pondera o especialista.
Outro aspecto evidenciado é que, apesar da possibilidade de intensificação da doença em locais mais frios do País, em Minas Gerais, São Paulo e Paraná, de modo geral, para todo o território brasileiro, espera-se uma redução da área infestada pela podridão radicular seca, levando em conta o RCP 2.6 e o RCP 8.5 em 2050 e em 2070. Entretanto, é possível que com esses cenários de aumento da temperatura possam ocorrer também outros problemas que dificultem o cultivo do feijão, como outras doenças e pragas.
Fusarium
Os fungos do gênero Fusarium estão largamente distribuídos pelo mundo. É um patógeno generalista, bem adaptado a uma ampla gama de condições ambientais e de hospedeiros e às variações climáticas nas regiões temperada e tropical. A espécie Fusarium solani, principal causa da podridão radicular seca, é um habitante natural dos solos, no qual coloniza a matéria orgânica morta e sobrevive por tempo indefinido por meio de estruturas de resistência. A doença é disseminada por sementes infestadas pelo patógeno, que também pode ser transportado pela água, implementos agrícolas, trabalhadores e animais.
Áreas tropicais serão mais afetadas
Além da projeção da doença no Brasil, uma estimativa semelhante foi feita pela mesma pesquisa, mas em escala global. Nesse caso, os dados utilizados para essa parte do estudo levaram em conta apenas as informações do clima presente, sem as projeções do IPCC-AR5.
O estudo apontou áreas tropicais altamente favoráveis para a intensificação da podridão radicular seca na América Central, América do Sul, continente africano e sudoeste da Ásia, onde o método estatístico foi mais fiel aos registros da doença, em comparação ao machine learning.
Os resultados alcançados com essa abordagem vão ao encontro de relatos recentes da manifestação da podridão radicular seca do feijão no Quênia, Ruanda, Burundi, Congo e México.
Segundo Murillo Lobo Junior, essa foi a primeira tentativa de modelar a favorabilidade e a distribuição geográfica mundial dessa doença, apesar de esse tipo de abordagem não ser inédito. Ele se alinha a novas frentes de estudo referentes à epidemiologia e à avaliação de risco de disseminação de agentes biológicos.
O pesquisador informa ainda que a região mesoamericana é uma das áreas de intensificação da doença, o que requer maior cuidado, pois se trata de um dos centros de origem do feijão, ou seja, é uma fonte de biodiversidade de espécies e de feijões selvagens que deve ser preservada.
Impacto na lavoura
A podridão radicular seca é uma doença causada por fungos do gênero Fusarium, que sobrevivem no solo por tempo indefinido. Ela ataca o feijão a partir da fase de germinação e pode destruir ou limitar o crescimento das raízes, formando plantas subdesenvolvidas. O resultado é uma lavoura irregular com falhas e com perda de produtividade. A doença está disseminada por praticamente todo o Brasil, mas é nas regiões Centro-Oeste e Sudeste, nos cultivos de terceira safra (abril a agosto), que, geralmente, há condições ótimas para infestação.
Habitualmente, o manejo da doença é feito de maneira preventiva, principalmente com o tratamento de sementes com fungicidas, e com a adoção de técnicas de manejo, como a rotação de culturas e o uso de plantas de cobertura, que reduzem a infestação do solo e melhoram o crescimento das plantas. A maioria das cultivares disponíveis é suscetível à doença.
O agrônomo Olavo Carlos Ribeiro, que presta consultoria técnica para produtores rurais da cidade de Cristalina (GO), atua há mais de dez anos no município e diz que a podridão radicular é um dos principais problemas hoje para a leguminosa. “A gente deixa de plantar por causa disso. Tenho áreas que eu poderia plantar feijão, mas que eu não planto porque sei que vou ter produtividade mais baixa em razão da doença”, afirma. Ele calcula que a podridão radicular acarreta perdas entre oito a dez sacos de 60 quilos do grão por hectare e estima que o custo do controle da doença gire em torno de 10% do valor da produção.
Por Rodrigo Peixoto (MTb 1.077/GO)
Embrapa Arroz e Feijão
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/06/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 24/06/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/06/24/estudo-da-embrapa-indica-que-o-aquecimento-global-pode-intensificar-doenca-no-cultivo-do-feijao-em-locais-mais-frios/
segunda-feira, 24 de junho de 2019
O futuro da moda sustentável
Uma das indústrias que mais traz problemas para o meio ambiente é a da moda, já que para produzir roupas há um enorme gasto de água, como também eliminação de dióxido de carbono e ainda depois com as peças prontas, a indústria ainda ajuda a despejar toneladas de lixo todos os anos. Ou seja, algo precisava ser feito.
Nos últimos anos, constantemente, o mercado de moda está se abrindo para mudanças, se adaptando às novas realidades, principalmente devido às discussões em redes sociais, tanto no quesito de abrir-se para a moda plus size, por exemplo, como para a sustentabilidade. Dessa maneira, hoje é possível encontrar várias empresas com produtos e serviços no mundo da moda mais sustentável.
Dois conceitos são importantes quando se pensa em moda sustentável, slow e fast fashion, os quais são traduzidos para moda devagar e moda rápida, como o nome já diz, eles são contrários, enquanto o fast fashion visa rápida produção e mais consumismo, o slow fashion é o oposto, com produção demorada e menos incentivo a compras.
Existem 5 pontos principais dentro de um modo de vida mais sustentável, os quais podem ser aplicados dentro da indústria da moda também. E abaixo mostramos como a moda sustentável está se adaptando a cada um deles:
Recusar
O primeiro ponto é recusar o consumo exagerado dentro do modelo de fast fashion. Dessa maneira, além de comprar menos de grandes marcas que atuam dessa maneira, é preciso investir em empresas que são slow fashion, produzindo peças que duram mais de uma estação.
Reduzir
Além de recusar, é preciso diminuir a quantidade de roupas, dessa maneira, ao invés de comprar 5 camisetas, compra-se uma. O modelo de guarda-roupa cápsula, no qual com apenas algumas peças se criam vários modelos para utilizar em um mês por exemplo, é uma das soluções para reduzir a necessidade de tantas peças. Além disso, é preciso pensar em várias formas de usar uma mesma peça através da criatividade.
Reusar
Este é o conceito no qual é preciso doar o que não se usa para que outras pessoas possam passar a utilizar. Hoje em dia há uma grande quantidade de brechós e também organizações que vendem peças usadas. Há até mesmo empresas que oferecem aluguel de peças de roupas, sapatos e acessórios.
Reciclar
Há algumas marcas que já fazem toda a sua coleção apenas reciclando roupas já utilizadas de forma a evitar a compra de novos tecidos. Uma das marcas que mais se destaca neste segmento é a americana Reformation, a qual tem todo um modelo mais sustentável, no qual a sua principal preocupação é o meio ambiente.
Compostar
Por fim, a escolha de tecidos biodegradáveis, os quais podem ser compostados e não poluem o meio ambiente quando descartados. O algodão orgânico, os tecidos originários de garrafas pets e até mesmo a juta da Amazônia, são opções mais sustentáveis.
Por fim, é também importante comprar de marcas que estão associadas a projetos sustentáveis, tal como a Timberland. A marca de sapatos tem um projeto com foco em recuperar garrafas PET e também para plantar árvores. Várias grandes empresas estão criando novos modelos de negócio para ajudar o meio ambiente, é só uma questão de ter a informação e mais consciência em cada escolha.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/06/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 24/06/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/06/24/o-futuro-da-moda-sustentavel/
Nos últimos anos, constantemente, o mercado de moda está se abrindo para mudanças, se adaptando às novas realidades, principalmente devido às discussões em redes sociais, tanto no quesito de abrir-se para a moda plus size, por exemplo, como para a sustentabilidade. Dessa maneira, hoje é possível encontrar várias empresas com produtos e serviços no mundo da moda mais sustentável.
Dois conceitos são importantes quando se pensa em moda sustentável, slow e fast fashion, os quais são traduzidos para moda devagar e moda rápida, como o nome já diz, eles são contrários, enquanto o fast fashion visa rápida produção e mais consumismo, o slow fashion é o oposto, com produção demorada e menos incentivo a compras.
Existem 5 pontos principais dentro de um modo de vida mais sustentável, os quais podem ser aplicados dentro da indústria da moda também. E abaixo mostramos como a moda sustentável está se adaptando a cada um deles:
Recusar
O primeiro ponto é recusar o consumo exagerado dentro do modelo de fast fashion. Dessa maneira, além de comprar menos de grandes marcas que atuam dessa maneira, é preciso investir em empresas que são slow fashion, produzindo peças que duram mais de uma estação.
Reduzir
Além de recusar, é preciso diminuir a quantidade de roupas, dessa maneira, ao invés de comprar 5 camisetas, compra-se uma. O modelo de guarda-roupa cápsula, no qual com apenas algumas peças se criam vários modelos para utilizar em um mês por exemplo, é uma das soluções para reduzir a necessidade de tantas peças. Além disso, é preciso pensar em várias formas de usar uma mesma peça através da criatividade.
Reusar
Este é o conceito no qual é preciso doar o que não se usa para que outras pessoas possam passar a utilizar. Hoje em dia há uma grande quantidade de brechós e também organizações que vendem peças usadas. Há até mesmo empresas que oferecem aluguel de peças de roupas, sapatos e acessórios.
Reciclar
Há algumas marcas que já fazem toda a sua coleção apenas reciclando roupas já utilizadas de forma a evitar a compra de novos tecidos. Uma das marcas que mais se destaca neste segmento é a americana Reformation, a qual tem todo um modelo mais sustentável, no qual a sua principal preocupação é o meio ambiente.
Compostar
Por fim, a escolha de tecidos biodegradáveis, os quais podem ser compostados e não poluem o meio ambiente quando descartados. O algodão orgânico, os tecidos originários de garrafas pets e até mesmo a juta da Amazônia, são opções mais sustentáveis.
Por fim, é também importante comprar de marcas que estão associadas a projetos sustentáveis, tal como a Timberland. A marca de sapatos tem um projeto com foco em recuperar garrafas PET e também para plantar árvores. Várias grandes empresas estão criando novos modelos de negócio para ajudar o meio ambiente, é só uma questão de ter a informação e mais consciência em cada escolha.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/06/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 24/06/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/06/24/o-futuro-da-moda-sustentavel/
Dikembe Mutombo Ebola PSA
Dikembe Mutombo, que é congolês e estrela esportiva aposentada internacionalmente famosa e filantropo, trabalhou com o CDC para filmar um anúncio de serviço público (PSA) para o Ebola para ajudar a se comunicar com o povo congolês.
Autor: CDC
Fonte: CDC
Sítio Online da Publicação: CDC
Data: 20/06/2019
Publicação Original: https://www.cdc.gov/vhf/ebola/outbreaks/drc/Dikembe-Mutombo-Ebola-PSA.html
quinta-feira, 20 de junho de 2019
97% dos brasileiros aprovam vacinação infantil em meio a ameaça global de volta de doenças
Programa Mais Médicos para o Brasil divulgou resultados nesta quarta (19) — Foto: Reprodução/Pixabay
O resultado do processo de seleção de municípios do Programa Mais Médicos para o Brasil foi publicado nesta quarta-feira (19), no Diário Oficial da União. Os candidatos devem consultar a lista, disponível neste link, e verificar em qual cidade poderão trabalhar, caso aceitem a oferta.
São mais de 2 mil vagas, em cidades com altos índices de vulnerabilidade social e de população em extrema pobreza.
Para garantir a oportunidade, os aprovados têm até o dia 21 de junho para acessar o termo de adesão e incluir os arquivos solicitados pelo sistema. Depois, entre 24 e 28 de junho, esses médicos precisam comparecer pessoalmente ao município onde foram selecionados. Será necessário apresentar duas vias do termo e documentos pessoais, listados no site do programa, com cópias autenticadas.
Os aprovados começarão a trabalhar logo em seguida. O cumprimento desses prazos é essencial para não perder a vaga.
Desistências do Mais Médicos
O edital atualmente em andamento foi publicado em 13 de maio. Trata-se da terceira tentativa feita pelo governo federal para preencher as vagas deixadas pelos médicos cubanos quando o país deixou o programa, em novembro de 2018.
Após a saída de Cuba do programa, em novembro, um primeiro chamamento público foi aberto para preencher as 8.517 vagas que foram deixadas. No total, 7.120 vagas foram preenchidas em seguida por médicos formados no Brasil.
Em um novo edital, publicado em dezembro, as 1.397 vagas remanescentes foram oferecidas a médicos brasileiros formados no exterior.
Apesar desse esforço, cerca de 19% dos médicos brasileiros selecionados até o mês de maio desistiram do programa. Dados obtidos pelo G1 junto ao Ministério da Saúde mostram que 1.325 profissionais com registro profissional brasileiro se desligaram do programa até o final de maio.
O número de desistências cresceu 25% em relação ao balanço anterior, que indicava 1.052 médicos desistentes nos três primeiros meses do ano.
Quem pode participar
Nesta primeira fase, puderam participar: médicos formados em instituições de ensino brasileiras ou que possuem diploma revalidado no Brasil.
Caso haja vagas remanescentes, no período do dia 2 ao 4 de julho, as inscrições serão abertas para profissionais brasileiros formados em instituições estrangeiras, com habilitação para o exercício da medicina no exterior.
Regiões atendidas
As vagas foram abertas em municípios que se encaixem em alguma das seguintes categorias:
áreas com os maiores percentuais de população em extrema pobreza;
cidades que estejam entre as 100 com mais de 80 mil habitantes, que tenham baixos níveis de receita pública e alta vulnerabilidade social;
municípios que estejam nas regiões de Vale do Ribeira, Vale do Jequitinhonha, Vale do Mucuri ou Região do Semiárido, que tenham IDH-M (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) baixo ou muito baixo;
locais de atuação de Distrito Sanitário Especial Indígena.
Bolsa-formação
Os médicos selecionados poderão receber uma bolsa-formação, no valor de R$ 11.865,60, paga mensalmente por até 3 anos. Esse valor possibilita que eles se matriculem em cursos de especialização ofertados pelo Sistema Universidade Aberta do SUS (UnaSUS).
É obrigatório que cumpram, semanalmente, oito horas em atividades acadêmicas teóricas e 32 horas em atividades nas unidades básicas de saúde.
Calendário
1ª etapa
19/06 - Publicação do resultado final de médicos para cada município
19 a 21/06 - Confirmação da escolha de vaga
24 a 28/06, até 18h - Apresentação pessoal dos médicos nas cidades em que trabalharão e início das atividades
2ª etapa
02 a 04/07 - Inscrição de brasileiros formados fora do país, que tenham habilitação para exercer a medicina no exterior
05 a 26/07 - Validação dos documentos dos brasileiros descritos acima
29/07 - Publicação preliminar da validação desses médicos
07/08 - Publicação do resultado final
08 e 09/08 - Escolha das vagas
13/08 - Lista com alocação dos médicos
Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 19/06/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/06/19/programa-mais-medicos-divulga-lista-com-cidades-em-que-cada-aprovado-trabalhara.ghtml
Descoberta nova espécie de verme que tem olhos na cabeça e no traseiro
O verme foi encontrado durante uma pesquisa realizada em uma área protegida das Ilhas Shetland — Foto: National Museums Scotland
Uma nova espécie de verme que tem olhos na cabeça e também no traseiro foi descoberta no mar da Escócia.
Os cientistas encontraram o animal durante uma pesquisa na Área Marinha Protegida de West Shetland Shelf.
Com apenas 4 milímetros de comprimento, ele foi descoberto em uma parte inexplorada do fundo do mar da vasta área protegida.
O verme marinho recebeu o nome científico de Ampharete oculicirrata.
O verme descoberto tem apenas 4 milímetros de comprimento — Foto: R Barnich
A pesquisa foi conduzida pelo Joint Nature Conservation Committee (JNCC), a Marine Scotland Science, divisão científica da marinha escocesa, e a consultoria ambiental Thomson Environmental Consultants.
O verme coletado durante a exploração do fundo do mar faz parte agora do acervo do Museu Nacional da Escócia, em Edimburgo.
"O fato de ter sido encontrado em uma profundidade relativamente rasa, relativamente perto da costa escocesa, mostra que ainda há muito para se aprender sobre as criaturas que vivem em nossas águas", afirmou Jessica Taylor, do JNCC.
"Estou animada com as futuras pesquisas da JNCC e da Marinha da Escócia e o que elas podem revelar. É ótimo que espécimes da nova espécie tenham sido adquiridas pelo Museu Nacional da Escócia e estejam disponíveis para futuros estudos."
Autor: BBC
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 20/06/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/06/20/descoberta-nova-especie-de-verme-que-tem-olhos-na-cabeca-e-no-traseiro.ghtml
Por uma reserva legal justa, protetora e produtiva, artigo de Mercedes Bustamante
Foto: EBC
[UNB] O Projeto de Lei (PL) apresentado pelos senadores Marcio Bittar (MDB-AC) e Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) que prevê o fim da Reserva Legal (RL) nas propriedades rurais é extemporâneo e raso. Extemporâneo porque a nova Lei de Proteção da Vegetação Nativa foi exaustivamente debatida até sua aprovação em 2012 e revista pelo STF em 2018. Raso porque não tem nenhum fundamento válido para propor o fim de tão importante pilar da conservação e uso sustentável da vegetação nativa.
As justificativas desse retrocesso dramático da legislação ambiental, com profundas implicações para a sociedade e produtores rurais, não se sustentam.
Não é verdade que…
1) a demanda por conservação venha do “clamor ecológico fabricado” por estrangeiros.
A RL, já prevista desde 1934, é fruto de um olhar responsável do Estado brasileiro para assegurar a conservação e a sustentabilidade no uso econômico dos recursos naturais em uma fração do imóvel rural. Em sua evolução no ordenamento jurídico, incorporaram-se os valores da Constituição Federal de 1988, pela qual, além da função econômica, a propriedade ou posse deve obedecer a uma função social que inclui a utilização adequada dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente, bens coletivos de toda a sociedade. Ao contrário do exposto no PL, os dispositivos da RL não “ferem de morte o princípio constitucional do direito à propriedade privada”.
2) o Brasil conserva sua vegetação nativa mais do que o necessário.
As Unidades de Conservação (UCs) (públicas e privadas), e as áreas protegidas dentro de imóveis rurais têm papéis complementares e não são intercambiáveis como sugere o PL. As UCs protegem áreas com características especiais e porções significativas da biodiversidade brasileira. Cobrem 29% da Amazônia, mas apenas 10% da Mata Atlântica, e ainda menos nos demais biomas. Ainda, o PL usa dados de todas as áreas com algum nível de proteção no Brasil e os compara com áreas estritamente protegidas em outros países. De mesma forma, o PL cita que os EUA usam 74,3% de sua área para a agropecuária; mas descontando as pradarias naturais com uso pastoril compatível ao de nossas RLs, seriam 22% com lavouras e pastagens. As RLs garantem benefícios locais como a polinização de cultivos agrícolas, a proteção do solo e o suprimento de água, além de permitir a conectividade das paisagens naturais, essencial para a conservação da biodiversidade regional. Sem isso, a extinção de espécies aumentará significativamente.
3) a Reserva Legal trava a produção agrícola brasileira.
A RL não é “terra improdutiva”. O uso sustentável da RL sempre foi assegurado em Lei. Paisagens agrícolas com produção diversificada, incluindo o uso produtivo das RLs, trazem mais benefícios diretos aos produtores e à sociedade. Por exemplo, estima-se que no Brasil os serviços de polinização do café contribuam com 1,9 a 6,5 bilhões de reais/ano. Considerados todos os serviços ecossistêmicos, manter as RLs é melhor que desmatá-las. Ademais, há uma grande extensão de pastagens degradadas que podem ser recuperadas para produção agrícola sem precisar retroceder na conservação de vegetação nativa.
Reduzir a proteção ambiental resulta em prejuízos diretos para a agricultura. Isso já é aceito pela fração responsável do agronegócio mas, os autores do PL ecoam as vozes mais arcaicas do setor. Parlamentares devem defender os interesses da coletividade, buscando o bem comum de forma mais eficiente possível. Claramente não é o caso do PL 2362/2019.
*Este artigo foi escrito com apoio do grupo Coalizão Ciência e Sociedade, formado por aproximadamente 50 cientistas de diversas instituições de pesquisa do país.
Mercedes Bustamante – Professora titular da Universidade de Brasília. Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Ciências Agrárias pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Geobotânica – Universitat Trier.
Publicado originalmente no El País em 13/05/2019 e socializado pela UNB.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/06/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 19/06/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/06/19/por-uma-reserva-legal-justa-protetora-e-produtiva-artigo-de-mercedes-bustamante/
[UNB] O Projeto de Lei (PL) apresentado pelos senadores Marcio Bittar (MDB-AC) e Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) que prevê o fim da Reserva Legal (RL) nas propriedades rurais é extemporâneo e raso. Extemporâneo porque a nova Lei de Proteção da Vegetação Nativa foi exaustivamente debatida até sua aprovação em 2012 e revista pelo STF em 2018. Raso porque não tem nenhum fundamento válido para propor o fim de tão importante pilar da conservação e uso sustentável da vegetação nativa.
As justificativas desse retrocesso dramático da legislação ambiental, com profundas implicações para a sociedade e produtores rurais, não se sustentam.
Não é verdade que…
1) a demanda por conservação venha do “clamor ecológico fabricado” por estrangeiros.
A RL, já prevista desde 1934, é fruto de um olhar responsável do Estado brasileiro para assegurar a conservação e a sustentabilidade no uso econômico dos recursos naturais em uma fração do imóvel rural. Em sua evolução no ordenamento jurídico, incorporaram-se os valores da Constituição Federal de 1988, pela qual, além da função econômica, a propriedade ou posse deve obedecer a uma função social que inclui a utilização adequada dos recursos naturais e a preservação do meio ambiente, bens coletivos de toda a sociedade. Ao contrário do exposto no PL, os dispositivos da RL não “ferem de morte o princípio constitucional do direito à propriedade privada”.
2) o Brasil conserva sua vegetação nativa mais do que o necessário.
As Unidades de Conservação (UCs) (públicas e privadas), e as áreas protegidas dentro de imóveis rurais têm papéis complementares e não são intercambiáveis como sugere o PL. As UCs protegem áreas com características especiais e porções significativas da biodiversidade brasileira. Cobrem 29% da Amazônia, mas apenas 10% da Mata Atlântica, e ainda menos nos demais biomas. Ainda, o PL usa dados de todas as áreas com algum nível de proteção no Brasil e os compara com áreas estritamente protegidas em outros países. De mesma forma, o PL cita que os EUA usam 74,3% de sua área para a agropecuária; mas descontando as pradarias naturais com uso pastoril compatível ao de nossas RLs, seriam 22% com lavouras e pastagens. As RLs garantem benefícios locais como a polinização de cultivos agrícolas, a proteção do solo e o suprimento de água, além de permitir a conectividade das paisagens naturais, essencial para a conservação da biodiversidade regional. Sem isso, a extinção de espécies aumentará significativamente.
3) a Reserva Legal trava a produção agrícola brasileira.
A RL não é “terra improdutiva”. O uso sustentável da RL sempre foi assegurado em Lei. Paisagens agrícolas com produção diversificada, incluindo o uso produtivo das RLs, trazem mais benefícios diretos aos produtores e à sociedade. Por exemplo, estima-se que no Brasil os serviços de polinização do café contribuam com 1,9 a 6,5 bilhões de reais/ano. Considerados todos os serviços ecossistêmicos, manter as RLs é melhor que desmatá-las. Ademais, há uma grande extensão de pastagens degradadas que podem ser recuperadas para produção agrícola sem precisar retroceder na conservação de vegetação nativa.
Reduzir a proteção ambiental resulta em prejuízos diretos para a agricultura. Isso já é aceito pela fração responsável do agronegócio mas, os autores do PL ecoam as vozes mais arcaicas do setor. Parlamentares devem defender os interesses da coletividade, buscando o bem comum de forma mais eficiente possível. Claramente não é o caso do PL 2362/2019.
*Este artigo foi escrito com apoio do grupo Coalizão Ciência e Sociedade, formado por aproximadamente 50 cientistas de diversas instituições de pesquisa do país.
Mercedes Bustamante – Professora titular da Universidade de Brasília. Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, mestre em Ciências Agrárias pela Universidade Federal de Viçosa e doutora em Geobotânica – Universitat Trier.
Publicado originalmente no El País em 13/05/2019 e socializado pela UNB.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/06/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 19/06/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/06/19/por-uma-reserva-legal-justa-protetora-e-produtiva-artigo-de-mercedes-bustamante/
Microplástico para todos! artigo de Norbert Suchanek
Plástico: um grande responsável pela poluição marinha. Foto: EBC
Ninguém quer comer microplástico, porque estas invisíveis partículas de todos os tipos de plástico podem prejudicar a sua saúde silenciosamente e gravemente. E que pessoa quer se prejudicar sem ser louca? Mas, de qualquer maneira, cada dia comemos mais microplástico quando comemos peixes e mariscos dos nossos rios, lagos, da nossa costa e especialmente da nossa grandiosa Baía de Guanabara, uma das maiores baías do planeta.
Recentemente chegou uma notícia científica chocante para os cariocas: A Baía de Guanabara é um dos mares com mais acúmulo de microplástico do mundo!
Uma pesquisa, realizada pela PUC do Rio de Janeiro, mostra que a poluição na Baía vai muito além do esgoto fedorento e do lixo visível que flutua em suas águas. Os pesquisadores da PUC-Rio encontraram 7,1 partículas de plástico por metro cúbico, perto do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Pior: No outro lado da baia, os pesquisadores da Universidade Federal Fluminense registraram 16,4 itens de microplástico por metro cúbico, em frente de Niterói. “Isso é, pelo menos, sete vezes mais do que se vê em baías da Europa””, publicaram os jornais. Por exemplo: Na Baía de Brest, na França, o índice é de 0,24 itens por metro cúbico, e no Mar Mediterrâneo é na média de 1 microplástico por metro cúbico. Um outro estudo, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, realizado recentemente chegou a conclusão: todos os mexilhões da Baia de Guanabara estão contaminados com microplástico.
Microplástico são definidos como partículas de plástico de menos de 5 milímetros que entram facilmente na cadeia dos alimentos e se acumulam nos seres vivos como mariscos, peixes e finalmente em nós. O homem plastificado!
De onde vem estas minúsculas partículas de plástico?
A fote mais moderna é a indústria de cosméticos. Há alguns anos micropartículas do plástico tipo “polietileno” são utilizadas na formulação de sabonetes esfoliantes para fazer peeling. Milhares de cariocas hoje usam estes “esfoliantes” de peeling para ter uma pele mais suave e para agradar o seu namorado ou namorada sem noção das consequências.
Com as águas da chuveiro que se juntou nos canos de esgoto, este peeling de plástico vai junto com os seus pedacinhos de pele pelos rios ou diretamente para a Baia de Guanbara ou pelos canos do emissário submarino nas praias de Copacabana ou Barra da Tijuca. E tudo isso sem nenhuma necessidade. Os produtos de peeling antigos que serviram a beleza da pele por milhares de anos são, por exemplo, açúcar, pó de café ou simplesmente aveia.
Especialistas da beleza tradicional confirmam: “Aveia é o melhor esfoliante natural que clareia a pele e remove as células mortas da pele. Devido às suas propriedades antioxidantes, a farinha de aveia ajuda a reparar os danos causados por influências externas. E por causa de suas propriedades anti-inflamatórias, também ajuda a hidratar e acalmar a pele.” Além disso: no final, a aveia que depois do peeling entra no ralo junto com a sua pele velha raspada é realmente um alimento saudável para peixes e mariscos.
Claramente partículas de plástico microscópicas em cosméticos não são necessárias. Por isso, na Suécia elas foram banidas, desde julho de 2018. E a proibição em toda União Europeia está em fase de planejamento.
Microplástico também é criado por todos os produtos da indústria química jogados no meio ambiente, como garrafas PET, copos descartáveis, sacolas, bolsas e outros materiais de embalagem ou cadeiras e mesas de plástico boiando na Baia de Guanabara. Com o tempo, expostos à radiação UV da luz solar, estes plásticos se degradam e se fragmentam em partículas cada vez menores e acabam se tornando em microplástico.
Camisa PET vira microplástico
Mas uma outra fonte destas partículas minúsculas e um dos maiores viloes para a Baia de Guanabara e nossos rios e costas sao as roupas de tecidos sintéticos, especialmente quando são tratadas numa máquina de lavar. A máquina de lavar não só lava as roupas, ela também é uma grande criadora de microplásticos, quando a roupa é feita com fibras da indústria de petróleo e da química com acrílico, polietileno ou poliéster, incluindo as camisas “ecológicas” e caríssimas produzidas com garrafas PET. Durante o processo de lavagem, as peças se esfregam umas nas outras e nas partes móveis da máquina.
Com cada lavagem, nossas roupas perdem fibras que se acumulam como microfibras na água da lavagem. De acordo com um estudo britânico, até 700.000 fibras são liberadas por ciclo da máquina de lavar, com carga padrão de 6 quilos de roupas sintéticas. Pela saída da máquina de lavar, os micro-plásticos entram nos sistemas de água e esgoto. Não há filtro que retenha essas partículas sintéticas quase invisíveis. Pior, os micro-plásticos são tão pequenos que passam facilmente por todas as peneiras do tratamento de águas residuais e contaminam os rios, lagos, lagoas e nossas costas.
De acordo com o cálculo modelo da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), fibras desbotadas de roupas sintéticas são hoje responsáveis por 35 % de todos os microplásticos nos oceanos. Com o uso de máquinas de lavar e roupas plásticas – que são fabricadas em sua maioria na China – em todos os lugares do Brasil, as microfibras, com certeza, já estão também contaminando o Rio Amazonas e seus afluentes.
Por enquanto, a melhor solução é simplesmente não comprar estas roupas sintéticas, que é, na verdade, uma solução com muito mais vantagens. Primeiro, têxteis sintéticos não são necessários. Por milhares de anos, as roupas foram feitas pelas fibras naturais como algodão, linho, lã, seda, juta, sisal ou coco. A famosa Levis foi feita originalmente, no final do século 19, com a fibra de cânhamo, uma fibra altamente resistente. Por isso, a Levis virou em poucos anos a mais famosa calca para trabalhadores e trabalhadoras nos Estados Unidos e conquistou depois o mundo.
Mas o Brasil com sua riqueza de biodiversidade tem ainda mais alternativas naturais, por exemplo a fibra de tururi da Amazônia, usada originalmente pelos povos indígenas. Essa fibra é extraída da palmeira chamada de ubuçu (manicaria sacifera), abundante nas margens das várzeas e ilhas da Amazônia, principalmente nos estados do Amapá, Pará e Amazonas.
Sim, os tecidos naturais perdem também nas máquinas de lavar, mas estas fibras naturais, como o tururi, algodão ou cânhamo, desaparecem sem danos ao meio ambiente ou são digeridas naturalmente pelos animais e convertidas em nutrientes.
Imagine: Em vez de importar milhares de contêineres de roupas sintéticas da China – com o seu grande impacto negativo em nosso clima e meio ambiente – o Brasil voltasse a produzir os seus próprios tecidos e roupas. Milhares de empregos seriam criados tirando milhares de famílias da pobreza e da rua e salvando nossas águas e baias, peixes, mariscos e golfinhos.
Durante sua campanha para libertar a Índia do domínio colonial britânico, Mahatma Gandhi levantou a roda de fiar como um símbolo de independência. Nesta época de revolucao industrial, o Reino Unido obrigou os indianos comprar caro os tecidos da indústria inglesa, produzidos com algodão exportado barato da própria Índia: Somente quando a Índia produz suas próprias roupas, a Índia realmente estará livre, disse Gandhi. Por isso, ainda hoje, a bandeira indiana mostra uma roda de fiar.
Norbert Suchanek, Rio de Janeiro
Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/06/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 19/06/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/06/19/microplastico-para-todos-artigo-de-norbert-suchanek/
Ninguém quer comer microplástico, porque estas invisíveis partículas de todos os tipos de plástico podem prejudicar a sua saúde silenciosamente e gravemente. E que pessoa quer se prejudicar sem ser louca? Mas, de qualquer maneira, cada dia comemos mais microplástico quando comemos peixes e mariscos dos nossos rios, lagos, da nossa costa e especialmente da nossa grandiosa Baía de Guanabara, uma das maiores baías do planeta.
Recentemente chegou uma notícia científica chocante para os cariocas: A Baía de Guanabara é um dos mares com mais acúmulo de microplástico do mundo!
Uma pesquisa, realizada pela PUC do Rio de Janeiro, mostra que a poluição na Baía vai muito além do esgoto fedorento e do lixo visível que flutua em suas águas. Os pesquisadores da PUC-Rio encontraram 7,1 partículas de plástico por metro cúbico, perto do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro. Pior: No outro lado da baia, os pesquisadores da Universidade Federal Fluminense registraram 16,4 itens de microplástico por metro cúbico, em frente de Niterói. “Isso é, pelo menos, sete vezes mais do que se vê em baías da Europa””, publicaram os jornais. Por exemplo: Na Baía de Brest, na França, o índice é de 0,24 itens por metro cúbico, e no Mar Mediterrâneo é na média de 1 microplástico por metro cúbico. Um outro estudo, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, realizado recentemente chegou a conclusão: todos os mexilhões da Baia de Guanabara estão contaminados com microplástico.
Microplástico são definidos como partículas de plástico de menos de 5 milímetros que entram facilmente na cadeia dos alimentos e se acumulam nos seres vivos como mariscos, peixes e finalmente em nós. O homem plastificado!
De onde vem estas minúsculas partículas de plástico?
A fote mais moderna é a indústria de cosméticos. Há alguns anos micropartículas do plástico tipo “polietileno” são utilizadas na formulação de sabonetes esfoliantes para fazer peeling. Milhares de cariocas hoje usam estes “esfoliantes” de peeling para ter uma pele mais suave e para agradar o seu namorado ou namorada sem noção das consequências.
Com as águas da chuveiro que se juntou nos canos de esgoto, este peeling de plástico vai junto com os seus pedacinhos de pele pelos rios ou diretamente para a Baia de Guanbara ou pelos canos do emissário submarino nas praias de Copacabana ou Barra da Tijuca. E tudo isso sem nenhuma necessidade. Os produtos de peeling antigos que serviram a beleza da pele por milhares de anos são, por exemplo, açúcar, pó de café ou simplesmente aveia.
Especialistas da beleza tradicional confirmam: “Aveia é o melhor esfoliante natural que clareia a pele e remove as células mortas da pele. Devido às suas propriedades antioxidantes, a farinha de aveia ajuda a reparar os danos causados por influências externas. E por causa de suas propriedades anti-inflamatórias, também ajuda a hidratar e acalmar a pele.” Além disso: no final, a aveia que depois do peeling entra no ralo junto com a sua pele velha raspada é realmente um alimento saudável para peixes e mariscos.
Claramente partículas de plástico microscópicas em cosméticos não são necessárias. Por isso, na Suécia elas foram banidas, desde julho de 2018. E a proibição em toda União Europeia está em fase de planejamento.
Microplástico também é criado por todos os produtos da indústria química jogados no meio ambiente, como garrafas PET, copos descartáveis, sacolas, bolsas e outros materiais de embalagem ou cadeiras e mesas de plástico boiando na Baia de Guanabara. Com o tempo, expostos à radiação UV da luz solar, estes plásticos se degradam e se fragmentam em partículas cada vez menores e acabam se tornando em microplástico.
Camisa PET vira microplástico
Mas uma outra fonte destas partículas minúsculas e um dos maiores viloes para a Baia de Guanabara e nossos rios e costas sao as roupas de tecidos sintéticos, especialmente quando são tratadas numa máquina de lavar. A máquina de lavar não só lava as roupas, ela também é uma grande criadora de microplásticos, quando a roupa é feita com fibras da indústria de petróleo e da química com acrílico, polietileno ou poliéster, incluindo as camisas “ecológicas” e caríssimas produzidas com garrafas PET. Durante o processo de lavagem, as peças se esfregam umas nas outras e nas partes móveis da máquina.
Com cada lavagem, nossas roupas perdem fibras que se acumulam como microfibras na água da lavagem. De acordo com um estudo britânico, até 700.000 fibras são liberadas por ciclo da máquina de lavar, com carga padrão de 6 quilos de roupas sintéticas. Pela saída da máquina de lavar, os micro-plásticos entram nos sistemas de água e esgoto. Não há filtro que retenha essas partículas sintéticas quase invisíveis. Pior, os micro-plásticos são tão pequenos que passam facilmente por todas as peneiras do tratamento de águas residuais e contaminam os rios, lagos, lagoas e nossas costas.
De acordo com o cálculo modelo da IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), fibras desbotadas de roupas sintéticas são hoje responsáveis por 35 % de todos os microplásticos nos oceanos. Com o uso de máquinas de lavar e roupas plásticas – que são fabricadas em sua maioria na China – em todos os lugares do Brasil, as microfibras, com certeza, já estão também contaminando o Rio Amazonas e seus afluentes.
Por enquanto, a melhor solução é simplesmente não comprar estas roupas sintéticas, que é, na verdade, uma solução com muito mais vantagens. Primeiro, têxteis sintéticos não são necessários. Por milhares de anos, as roupas foram feitas pelas fibras naturais como algodão, linho, lã, seda, juta, sisal ou coco. A famosa Levis foi feita originalmente, no final do século 19, com a fibra de cânhamo, uma fibra altamente resistente. Por isso, a Levis virou em poucos anos a mais famosa calca para trabalhadores e trabalhadoras nos Estados Unidos e conquistou depois o mundo.
Mas o Brasil com sua riqueza de biodiversidade tem ainda mais alternativas naturais, por exemplo a fibra de tururi da Amazônia, usada originalmente pelos povos indígenas. Essa fibra é extraída da palmeira chamada de ubuçu (manicaria sacifera), abundante nas margens das várzeas e ilhas da Amazônia, principalmente nos estados do Amapá, Pará e Amazonas.
Sim, os tecidos naturais perdem também nas máquinas de lavar, mas estas fibras naturais, como o tururi, algodão ou cânhamo, desaparecem sem danos ao meio ambiente ou são digeridas naturalmente pelos animais e convertidas em nutrientes.
Imagine: Em vez de importar milhares de contêineres de roupas sintéticas da China – com o seu grande impacto negativo em nosso clima e meio ambiente – o Brasil voltasse a produzir os seus próprios tecidos e roupas. Milhares de empregos seriam criados tirando milhares de famílias da pobreza e da rua e salvando nossas águas e baias, peixes, mariscos e golfinhos.
Durante sua campanha para libertar a Índia do domínio colonial britânico, Mahatma Gandhi levantou a roda de fiar como um símbolo de independência. Nesta época de revolucao industrial, o Reino Unido obrigou os indianos comprar caro os tecidos da indústria inglesa, produzidos com algodão exportado barato da própria Índia: Somente quando a Índia produz suas próprias roupas, a Índia realmente estará livre, disse Gandhi. Por isso, ainda hoje, a bandeira indiana mostra uma roda de fiar.
Norbert Suchanek, Rio de Janeiro
Correspondente e Jornalista de Ciência e Ecologia
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 19/06/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 19/06/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/06/19/microplastico-para-todos-artigo-de-norbert-suchanek/