quinta-feira, 29 de outubro de 2020
Bloqueio da inflamação induzida por peçonha de escorpião precisa ser imediato, diz estudo
Em artigo publicado na Nature Communications, pesquisadores da USP demonstram, pela primeira vez, que em casos severos de escorpionismo é a reação neuroimune provocada pela peçonha que leva à morte (foto: Wikimedia Commons)
O escorpião (Tityus serrulatus) é o animal peçonhento que mais mata no Brasil. Uma ferroada pode ser fatal e provocar ataque cardíaco e edema pulmonar, sobretudo em idosos e crianças. De acordo com o Ministério da Saúde, só em 2019, foram mais de 156 mil casos de envenenamento por escorpião registrados no país, levando 169 pessoas à morte.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo demonstraram, pela primeira vez, que nos casos severos de escorpionismo ocorre uma reação neuroimune sistêmica com produção de mediadores inflamatórios que levam à liberação de neurotransmissores. O estudo publicado na revista Nature Communication sugere ainda que o bloqueio do processo inflamatório pode ser realizado por meio do medicamento corticoide, o qual deve ser administrado quase que imediatamente após a picada.
Já é sabido que, além da reação inflamatória local que causa fortes dores, mas não leva à morte, a peçonha do escorpião pode ainda desencadear reação inflamatória sistêmica, que tem como resultado edema pulmonar (acúmulo de líquido no pulmão), alterações no coração e consequente dificuldade para respirar.
“Apesar de o mesmo grupo ter desvendado em artigo prévio o mecanismo inflamatório que leva ao edema pulmonar e à morte nos casos graves, o impacto do envenenamento no coração e a relação entre os neurotransmissores e mediadores inflamatórios ainda não eram claros. Havia uma discussão sobre quem seriam os vilões, os neurotransmissores ou os mediadores inflamatórios. Também havia a discussão sobre o que ocorre primeiro, o edema pulmonar que leva às alterações no coração, ou o contrário. Nosso estudo sugere que mediadores inflamatórios produzidos nos pulmões, além de induzirem o edema pulmonar, também afetam o coração, via os neurotransmissores. É o processo inflamatório que causa uma série de danos e que, se não for bloqueado o quanto antes, pode levar à morte”, diz Lúcia Helena Faccioli , professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), que liderou o estudo.
O trabalho foi desenvolvido com o apoio da FAPESP durante o doutorado de Mourzallem Barros dos Reis , no âmbito de um Projeto Temático coordenado por Faccioli na USP.
No estudo realizado em camundongos, os pesquisadores analisaram o processo inflamatório desencadeado pelo envenenamento e a relação com os neurotransmissores. Após a ferroada, a peçonha do escorpião se alastra rapidamente até atingir a circulação sanguínea do animal. Nos casos severos, o reconhecimento da peçonha por células de defesa (macrófagos) resulta na liberação de mediadores de inflamação, sobretudo interleucina 1 beta (IL-1β), que leva à produção de prostaglandina-2 (PGE2), que, por sua vez, induz a produção do neurotransmissor acetilcolina. Produzidos no pulmão, esses mediadores promovem tanto o edema pulmonar quanto as alterações cardíacas.
“São esses mediadores, produzidos no pulmão em resposta à peçonha, que vão ativar a produção do neurotransmissor acetilcolina, que tem impacto muito grande no coração por estar relacionado ao controle do tônus (batimento) cardíaco. É esse neurotransmissor que vai fazer com que o coração bata descompassado. Em um mesmo processo, temos edema pulmonar e distúrbios do coração”, explica Faccioli.
Em estudo anterior, publicado em 2016, o grupo de pesquisadores já havia demonstrado que o edema no pulmão é resultado da ativação de um complexo proteico existente no interior das células de defesa – o inflamassoma que induz a produção de IL-1β. Mostraram ainda que esse processo é regulado por mediadores lipídicos, sendo ativado pela PGE2 e inibido pelo leucotrieno B4 (LTB4). No entanto, ainda não tinham demonstrado a interação neuroimune e o papel determinante da acetilcolina.
Bloquear o processo o quanto antes
Outro achado do estudo foi a demonstração da necessidade de inibir o processo neuroimune desencadeado pelos mediadores inflamatórios o quanto antes para que o paciente não atinja o que os cientistas estão chamando de "ponto de não retorno", quando os efeitos dos mediadores já estão tão críticos que já não há mais como promover melhora.
“Demonstramos que a utilização do anti-inflamatório corticoide (dexametasona) até 30 minutos após o camundongo receber a peçonha ainda evita a morte do animal. O intuito foi bloquear o processo inflamatório antes que fosse impossível revertê-lo. É importante ressaltar que o estudo foi realizado em camundongos, portanto, não é possível extrapolar o tempo de não retorno para humanos”, diz Faccioli.
A pesquisadora informa que a administração quase imediata de corticoide não anula a necessidade do uso do soro (anticorpos que bloqueiam a atuação da peçonha). “A dexametasona vai bloquear o processo que gera o neurotransmissor acetilcolina e, com isso, inibir os danos pulmonar e cardíaco. Já o soro é importante para inibir outros possíveis efeitos das toxinas da peçonha que também podem gerar dano ao indivíduo, como o tecidual.
“Em estudos anteriores mostramos que a indometacina e o celecoxibe podem evitar, ou pelo menos minimizar a reação inflamatória induzida pela peçonha e evitar a morte. No entanto, esses medicamentos podem não ser efetivos em 100% da população. A dexametasona, embora possa induzir efeitos colaterais em uma pequena parcela da população, é muito mais eficiente”, diz (leia mais em: agencia.fapesp.br/22732/). O uso inadequado de corticoides pode trazer riscos relevantes para o organismo. É importante buscar orientação médica no que diz respeito à dose e à duração do tratamento.
Serpentes
Outro estudo realizado pelo grupo de Faccioli, e publicado na revista Archives of Toxicology, mostrou que além de toxinas, que são proteínas, as peçonhas de jararacas (Bothrops moojeni) e de cascavéis (Crotalus durissus terrificus) também possuem lipídios – o que pode vir a explicar uma série de efeitos biológicos do envenenamento.
“E se tem lipídio é sinal de que existe uma função biológica. A análise bioquímica da peçonha de jararacas e cascavéis mostrou que entre os lipídios presentes existe um semelhante ao fator agregador de plaquetas. Isso significa que a formação de trombo após picadas de serpentes pode ser resultado da presença destes lipídios. E é o que se tem normalmente após as picadas de serpente: coágulo e trombose”, diz Faccioli.
A descoberta, portanto, acrescenta um maior entendimento sobre os mecanismos que levam a complicações por causa da peçonha. “Sem contar que esse lipídio também é importante para induzir inflamação”, diz.
A descoberta e a análise lipídica da peçonha das serpentes tiveram abordagem com base em cromatografia líquida e espectrometria de massa de alta resolução – equipamento financiado pela FAPESP – que permitiu identificar, pela primeira vez, vários dos lipídios que constituem a peçonha de jararacas e cascavéis.
O trabalho foi desenvolvido com o apoio da FAPESP durante o pós-doutorado de Tanize dos Santos Acunha , também no âmbito do Projeto Temático coordenado por Faccioli na USP.
A pesquisadora explica que a peçonha é uma substância complexa, composta por moléculas com uma ampla gama de funções biológicas que causam manifestações locais e sistêmicas. A despeito da variedade de estudos focados na composição da peçonha e seus efeitos, a maioria é focada na fração proteica (toxinas), sem haver maior atenção na fração lipídica.
O artigo Interleukin-1 receptor-induced PGE2 production controls acetylcholine-mediated cardiac dysfunction and mortality during scorpion envenomation/i> (doi: 10.1038/s41467-020-19232-8), de Mouzarllem B. Reis, Fernanda L. Rodrigues, Natalia Lautherbach, Alexandre Kanashiro, Carlos A. Sorgi, Alyne F. G. Meirelles, Carlos A. A. Silva, Karina F. Zoccal, Camila O. S. Souza, Simone G. Ramos, Alessandra K. Matsuno, Lenaldo B. Rocha, Helio C. Salgado, Luiz C. C. Navegantes, Ísis C. Kettelhut, Palmira Cupo, Luiz G. Gardinassi & Lúcia H. Faccioli , pode ser lido em www.nature.com/articles/s41467-020-19232-8.
O artigo A lipidomics approach reveals new insights into Crotalus durissus terrifcus and Bothrops moojeni snake venoms (doi: 10.1093/nar/gkaa609), de Tanize Acunha, Viviani Nardini e Lúcia Helena Faccioli, pode ser lido em https://link.springer.com/article/10.1007/s00204-020-02896-y
Autor: Maria Fernanda Ziegler
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 29/10/20
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/bloqueio-da-inflamacao-induzida-por-peconha-de-escorpiao-precisa-ser-imediato-diz-estudo/34485/
Eficácia de cada país no combate à Covid-19 reflete senso de coletividade
A diferença entre usar máscara apenas para se proteger ou para proteger também os outros pode ser decisiva para deter a transmissão do novo coronavírus
Centro da cidade de São Paulo: estudo internacional mostrou que a adesão das pessoas às medidas de combate à pandemia depende do incentivo dos líderes políticos
Um estudo internacional envolvendo 233 pesquisadores com 46.540 entrevistados em 67 países, incluindo o Brasil, indicou que a adesão às medidas de controle da pandemia depende, em boa medida, do quanto as pessoas se sentem parte de um país e têm consciência de que as ações individuais influenciam as dos outros.
Nesse estudo, países como Nova Zelândia, Dinamarca e Alemanha, cuja população apresentou uma elevada identidade nacional e senso de coletividade, as medidas de higiene pessoal e distanciamento social ganharam ampla adesão, ajudando a evitar que a pandemia saísse de controle. Nesses lugares, os líderes políticos incentivaram o uso de máscaras faciais não só para as pessoas se protegerem, mas também para proteger as outras pessoas.
Inversamente, de acordo com esse trabalho, a adesão às medidas de controle da pandemia foi menor e o número de pessoas infectadas ou mortas pelo novo coronavírus cresceu mais facilmente nos Estados Unidos, na Rússia, no Brasil e em outros países que incentivam o individualismo, e as máscaras, quando adotadas, visam principalmente a proteção de quem as usa.
“A identidade nacional se mostrou como o mais forte indicador da adesão às medidas de políticas públicas de enfrentamento à Covid-19”, disse o psicólogo Paulo Sérgio Boggio, coordenador do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e um dos coordenadores do estudo, publicado em outubro como preprint no repositório PsyArXiv, ao lado do também psicólogo Jay Van Bavel, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos. Os dois pesquisadores falarão sobre esse estudo em um webinário promovido pela FAPESP no dia 4 de novembro.
“Identidade nacional”, explica Boggio, “é o senso de pertencimento ao país e o significado de ser parte de uma nação para cada pessoa”. Segundo ele, quanto maior a identidade nacional, maior é o engajamento em ações que exigem sacrifício pessoal em benefícios do grupo. “Identidade nacional”, acrescenta, “é diferente da exaltação do próprio grupo, que é o narcisismo nacional”.
“Se quiserem ter respostas mais efetivas contra a pandemia, os gestores e as políticas públicas precisam promover o senso de coletividade da população com práticas pró-sociais, mostrando, por exemplo, que mesmo quem não está na faixa de risco deveria pensar que suas ações podem proteger ou prejudicar outras pessoas”, comentou a psicóloga Chrissie Ferreira de Carvalho, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma das autoras desse trabalho.
“Estudos como esse são importantes para promover mudanças de comportamento e influenciar a adesão às medidas sanitárias, como tem feito o Behavioural Insights Team, um comitê de aconselhamento do governo britânico, que trabalha diretamente com o gabinete do primeiro-ministro”, reforça o psicólogo Ronaldo Pilati, da Universidade de Brasília (UnB), que não participou do levantamento internacional.
Com sua equipe da UnB, Pilati chegou a resultados semelhantes em outra pesquisa sobre essa temática. “Quanto mais o indivíduo avalia que a adesão às medidas de distanciamento social é importante para os amigos e para a família, maior tende a ser a sua adesão”, diz ele, com base em um estudo com 2.056 entrevistados no Brasil, publicado em 30 de setembro também como preprint no PsyArXiv.
No estudo internacional, os pesquisadores distribuíram questionários on-line, respondidos entre o final de março e meados de maio, e os entrevistados pontuavam a maior ou menor concordância com uma série de afirmações ou perguntas, em uma escala de 0 a 10 – do Brasil, participaram 1.807 pessoas. A maior ou menor concordância com afirmações como “Eu me identifico como brasileiro” e “Ser um brasileiro é um importante aspecto de quem eu sou” dimensionavam a identidade nacional.
Cada participante avaliava também de 0 a 10 sua adesão às medidas de higiene pessoal (usar máscaras e lavar as mãos com frequência), distanciamento social e apoio às políticas públicas, como a restrição a viagens e o fechamento de bares, restaurantes e escolas, por meio de afirmações sobre cada item. Os pesquisadores liberaram os dados para os interessados, mediante cadastro, no site https://icsmp-covid19.netlify.app.
As análises estatísticas das respostas dos entrevistados associaram a identidade nacional com três outras variáveis: distanciamento social, higiene pessoal e apoio a políticas públicas, com valores variando de 0, o mais baixo, a 0,5, o mais alto. “Os índices são os coeficientes da relação entre a identidade nacional e as medidas de proteção dos indivíduos, mas não das nações”, adverte Boggio. “Um país pode até ter um índice alto, mas seu efeito na adesão só ficará aparente se o líder fomentar a identidade nacional.”
A Dinamarca foi o país que apresentou os maiores índices de identidade nacional refletidos no distanciamento social (0,48), na higiene pessoal (0,29) e no apoio a políticas públicas (0,34). Em segundo lugar está a China, respectivamente com 0,38, 0,27 e 0,27.
Os Estados Unidos apresentaram índices de 0,34, 0,28 e 0,27, respectivamente. No Brasil, os valores de identidade nacional foram 0,11 para distanciamento social, 0,15 para higiene pessoal e 0,12 para apoio a políticas públicas.
A Colômbia ocupou o penúltimo lugar, com 0,008 de distanciamento físico, 0,07 de higiene pessoal e 0,05 de apoio a políticas públicas. Em último está a Espanha, com 0,0009, 0,05 e -0,003, respectivamente.
Esse trabalho reforçou o papel das lideranças políticas para promover a adesão da população às medidas de contenção da epidemia, já evidenciado em um artigo do mesmo grupo publicado em abril na Nature Human Behavior.
“Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, recém-reeleita, tem sido uma líder exemplar ao evocar o sentimento coletivo da população e ressaltar que cada um se protegendo ajudará também a comunidade”, observou Boggio, que contou com apoio da FAPESP, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Os países que apresentaram boas respostas contra a pandemia, Nova Zelândia, Noruega, Finlândia, Dinamarca e Alemanha, são conduzidos por mulheres.”
Em Detmold, noroeste da Alemanha: menor adesão ao uso de máscaras e ao distanciamento social durante o verão facilitaram o recrudescimento da pandemiaThorsten Krienke/FLICKR
O levantamento registrou “um pequeno efeito” da ideologia política dos entrevistados, que eles próprios avaliavam por uma escala de 0 a 10 entre esquerda e direita, na adesão às medidas contra a pandemia. Quanto mais à esquerda, maior a adesão às medidas de combate à pandemia. Inversamente, quando mais à direita, maior o individualismo e menor o suporte às políticas públicas.
Pesquisadores das universidades de Yale e de Nova York, nos Estados Unidos, viram essa relação em outro estudo publicado em maio no repositório PsyArXiv. Com base em registros de 17 milhões de usuários de smartphones, eles verificaram que as pessoas que votaram em Donald Trump em 2016 exibiram 16% menos distanciamento físico durante a pandemia do que os que votaram em Hillary Clinton. Além disso, o menor distanciamento físico nos condados pró-Trump foi associado a uma taxa de crescimento 27% maior nas infecções por Covid-19 do que os do outro grupo.
No Brasil, de modo similar, “o partidarismo ajuda a predizer a adesão às medidas de saúde pública contra a pandemia”, observou Pilati, com base em um estudo com 700 entrevistados, publicado também em setembro como preprint no PsyArXiv. “Os entrevistados que se classificavam como mais de direita seguiam menos as normas sanitárias e endossavam mais as teorias conspiratórias, segundo as quais a epidemia é uma grande mentira ou o vírus teria sido espalhado de propósito pelos chineses.”
Projeto
A influência de fatores sociais no julgamento de fundamentos morais (no 19/26665-5); Modalidade Bolsas no Brasil – Pós-doutorado; Pesquisador responsável Paulo Sérgio Boggio (UPM); Bolsista Gabriel Gaudêncio do Rêgo; Investimento R$ 203.497,56.
Artigos científicos
BAVEL, J. J. V. et al. National identity predicts public health support during a global pandemic. PsyArXiv. Preprint. 11 out. 2020.
FARIAS, J. E. M. e PILATI, R. Violating social distancing amid Covid-19 pandemic: Psychological factors to improve compliance. PsyArXiv. Preprint. 30 set. 2020.
BAVEL, J. J. V. et al. Using social and behavioural science to support Covid-19 pandemic response. Nature Human Behavior. v. 4, p. 460-71. 30 abr. 2020.
GOLLWITZER, A. et al. Partisan differences in physical distancing predict infections and mortality. PsyArXiv. Preprint. 24 mar. 2020.
FARIAS, J. E. M. e PILATI, R. Covid-19 as an undesirable political issue: Conspiracy beliefs and political partisanship predict adhesion to sanitary measures. PsyArXiv. Pré-print. 22 set. 2020.
Autor: Carlos Fioravanti
Fonte: Pesquisa Fapesp
Sítio Online da Publicação: Pesquisa FAPESP (www.revistapesquisa.fapesp.br)
Data: 28/10/20
Publicação Original: https://revistapesquisa.fapesp.br/eficacia-de-cada-pais-no-combate-a-covid-19-reflete-senso-de-coletividade/
Centro da cidade de São Paulo: estudo internacional mostrou que a adesão das pessoas às medidas de combate à pandemia depende do incentivo dos líderes políticos
Um estudo internacional envolvendo 233 pesquisadores com 46.540 entrevistados em 67 países, incluindo o Brasil, indicou que a adesão às medidas de controle da pandemia depende, em boa medida, do quanto as pessoas se sentem parte de um país e têm consciência de que as ações individuais influenciam as dos outros.
Nesse estudo, países como Nova Zelândia, Dinamarca e Alemanha, cuja população apresentou uma elevada identidade nacional e senso de coletividade, as medidas de higiene pessoal e distanciamento social ganharam ampla adesão, ajudando a evitar que a pandemia saísse de controle. Nesses lugares, os líderes políticos incentivaram o uso de máscaras faciais não só para as pessoas se protegerem, mas também para proteger as outras pessoas.
Inversamente, de acordo com esse trabalho, a adesão às medidas de controle da pandemia foi menor e o número de pessoas infectadas ou mortas pelo novo coronavírus cresceu mais facilmente nos Estados Unidos, na Rússia, no Brasil e em outros países que incentivam o individualismo, e as máscaras, quando adotadas, visam principalmente a proteção de quem as usa.
“A identidade nacional se mostrou como o mais forte indicador da adesão às medidas de políticas públicas de enfrentamento à Covid-19”, disse o psicólogo Paulo Sérgio Boggio, coordenador do Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) e um dos coordenadores do estudo, publicado em outubro como preprint no repositório PsyArXiv, ao lado do também psicólogo Jay Van Bavel, da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos. Os dois pesquisadores falarão sobre esse estudo em um webinário promovido pela FAPESP no dia 4 de novembro.
“Identidade nacional”, explica Boggio, “é o senso de pertencimento ao país e o significado de ser parte de uma nação para cada pessoa”. Segundo ele, quanto maior a identidade nacional, maior é o engajamento em ações que exigem sacrifício pessoal em benefícios do grupo. “Identidade nacional”, acrescenta, “é diferente da exaltação do próprio grupo, que é o narcisismo nacional”.
“Se quiserem ter respostas mais efetivas contra a pandemia, os gestores e as políticas públicas precisam promover o senso de coletividade da população com práticas pró-sociais, mostrando, por exemplo, que mesmo quem não está na faixa de risco deveria pensar que suas ações podem proteger ou prejudicar outras pessoas”, comentou a psicóloga Chrissie Ferreira de Carvalho, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), uma das autoras desse trabalho.
“Estudos como esse são importantes para promover mudanças de comportamento e influenciar a adesão às medidas sanitárias, como tem feito o Behavioural Insights Team, um comitê de aconselhamento do governo britânico, que trabalha diretamente com o gabinete do primeiro-ministro”, reforça o psicólogo Ronaldo Pilati, da Universidade de Brasília (UnB), que não participou do levantamento internacional.
Com sua equipe da UnB, Pilati chegou a resultados semelhantes em outra pesquisa sobre essa temática. “Quanto mais o indivíduo avalia que a adesão às medidas de distanciamento social é importante para os amigos e para a família, maior tende a ser a sua adesão”, diz ele, com base em um estudo com 2.056 entrevistados no Brasil, publicado em 30 de setembro também como preprint no PsyArXiv.
No estudo internacional, os pesquisadores distribuíram questionários on-line, respondidos entre o final de março e meados de maio, e os entrevistados pontuavam a maior ou menor concordância com uma série de afirmações ou perguntas, em uma escala de 0 a 10 – do Brasil, participaram 1.807 pessoas. A maior ou menor concordância com afirmações como “Eu me identifico como brasileiro” e “Ser um brasileiro é um importante aspecto de quem eu sou” dimensionavam a identidade nacional.
Cada participante avaliava também de 0 a 10 sua adesão às medidas de higiene pessoal (usar máscaras e lavar as mãos com frequência), distanciamento social e apoio às políticas públicas, como a restrição a viagens e o fechamento de bares, restaurantes e escolas, por meio de afirmações sobre cada item. Os pesquisadores liberaram os dados para os interessados, mediante cadastro, no site https://icsmp-covid19.netlify.app.
As análises estatísticas das respostas dos entrevistados associaram a identidade nacional com três outras variáveis: distanciamento social, higiene pessoal e apoio a políticas públicas, com valores variando de 0, o mais baixo, a 0,5, o mais alto. “Os índices são os coeficientes da relação entre a identidade nacional e as medidas de proteção dos indivíduos, mas não das nações”, adverte Boggio. “Um país pode até ter um índice alto, mas seu efeito na adesão só ficará aparente se o líder fomentar a identidade nacional.”
A Dinamarca foi o país que apresentou os maiores índices de identidade nacional refletidos no distanciamento social (0,48), na higiene pessoal (0,29) e no apoio a políticas públicas (0,34). Em segundo lugar está a China, respectivamente com 0,38, 0,27 e 0,27.
Os Estados Unidos apresentaram índices de 0,34, 0,28 e 0,27, respectivamente. No Brasil, os valores de identidade nacional foram 0,11 para distanciamento social, 0,15 para higiene pessoal e 0,12 para apoio a políticas públicas.
A Colômbia ocupou o penúltimo lugar, com 0,008 de distanciamento físico, 0,07 de higiene pessoal e 0,05 de apoio a políticas públicas. Em último está a Espanha, com 0,0009, 0,05 e -0,003, respectivamente.
Esse trabalho reforçou o papel das lideranças políticas para promover a adesão da população às medidas de contenção da epidemia, já evidenciado em um artigo do mesmo grupo publicado em abril na Nature Human Behavior.
“Jacinda Ardern, primeira-ministra da Nova Zelândia, recém-reeleita, tem sido uma líder exemplar ao evocar o sentimento coletivo da população e ressaltar que cada um se protegendo ajudará também a comunidade”, observou Boggio, que contou com apoio da FAPESP, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). “Os países que apresentaram boas respostas contra a pandemia, Nova Zelândia, Noruega, Finlândia, Dinamarca e Alemanha, são conduzidos por mulheres.”
Em Detmold, noroeste da Alemanha: menor adesão ao uso de máscaras e ao distanciamento social durante o verão facilitaram o recrudescimento da pandemiaThorsten Krienke/FLICKR
O levantamento registrou “um pequeno efeito” da ideologia política dos entrevistados, que eles próprios avaliavam por uma escala de 0 a 10 entre esquerda e direita, na adesão às medidas contra a pandemia. Quanto mais à esquerda, maior a adesão às medidas de combate à pandemia. Inversamente, quando mais à direita, maior o individualismo e menor o suporte às políticas públicas.
Pesquisadores das universidades de Yale e de Nova York, nos Estados Unidos, viram essa relação em outro estudo publicado em maio no repositório PsyArXiv. Com base em registros de 17 milhões de usuários de smartphones, eles verificaram que as pessoas que votaram em Donald Trump em 2016 exibiram 16% menos distanciamento físico durante a pandemia do que os que votaram em Hillary Clinton. Além disso, o menor distanciamento físico nos condados pró-Trump foi associado a uma taxa de crescimento 27% maior nas infecções por Covid-19 do que os do outro grupo.
No Brasil, de modo similar, “o partidarismo ajuda a predizer a adesão às medidas de saúde pública contra a pandemia”, observou Pilati, com base em um estudo com 700 entrevistados, publicado também em setembro como preprint no PsyArXiv. “Os entrevistados que se classificavam como mais de direita seguiam menos as normas sanitárias e endossavam mais as teorias conspiratórias, segundo as quais a epidemia é uma grande mentira ou o vírus teria sido espalhado de propósito pelos chineses.”
Projeto
A influência de fatores sociais no julgamento de fundamentos morais (no 19/26665-5); Modalidade Bolsas no Brasil – Pós-doutorado; Pesquisador responsável Paulo Sérgio Boggio (UPM); Bolsista Gabriel Gaudêncio do Rêgo; Investimento R$ 203.497,56.
Artigos científicos
BAVEL, J. J. V. et al. National identity predicts public health support during a global pandemic. PsyArXiv. Preprint. 11 out. 2020.
FARIAS, J. E. M. e PILATI, R. Violating social distancing amid Covid-19 pandemic: Psychological factors to improve compliance. PsyArXiv. Preprint. 30 set. 2020.
BAVEL, J. J. V. et al. Using social and behavioural science to support Covid-19 pandemic response. Nature Human Behavior. v. 4, p. 460-71. 30 abr. 2020.
GOLLWITZER, A. et al. Partisan differences in physical distancing predict infections and mortality. PsyArXiv. Preprint. 24 mar. 2020.
FARIAS, J. E. M. e PILATI, R. Covid-19 as an undesirable political issue: Conspiracy beliefs and political partisanship predict adhesion to sanitary measures. PsyArXiv. Pré-print. 22 set. 2020.
Autor: Carlos Fioravanti
Fonte: Pesquisa Fapesp
Sítio Online da Publicação: Pesquisa FAPESP (www.revistapesquisa.fapesp.br)
Data: 28/10/20
Publicação Original: https://revistapesquisa.fapesp.br/eficacia-de-cada-pais-no-combate-a-covid-19-reflete-senso-de-coletividade/
FAPESP e GSK anunciam chamada para constituição do Centro de Novos Alvos Terapêuticos em Oncologia
Novo centro realizará pesquisas fundamentais e aplicadas buscando descobrir novos alvos terapêuticos para o tratamento do câncer
A FAPESP e a GSK anunciam o lançamento de uma chamada de propostas para a constituição do Centro de Novos Alvos Terapêuticos em Oncologia (CONTD).
O novo centro terá a missão de realizar pesquisas fundamentais e aplicadas buscando descobrir novos alvos terapêuticos para o tratamento do câncer. A proposta deve se especializar em uma das seguintes áreas: Imuno-oncologia; Letalidade sintética; Terapia celular e genética; Epigenética.
O centro integra o programa Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) / Centro de Pesquisa Aplicada (CPA) da FAPESP.
Espera-se que o CONTD – por meio do desenvolvimento de ciência e pesquisa de nível mundial realizada em parceria com a GSK – apresente e avance a validação biológica pré-clínica completa de pelo menos três novas oportunidades-alvo.
Outros objetivos colocados como fundamentais para o novo centro são o alcance do desempenho de pesquisa internacionalmente competitiva; a implementação de atividades com grande potencial para transferência de conhecimento aos setores produtivos e governamentais; e a interação com o sistema educacional, especialmente nos níveis primários e secundários.
FAPESP e GSK esperam selecionar até uma proposta, com duração de cinco anos, e reservarão cada um até R$ 1,8 milhão anualmente para implementar o programa, com a possibilidade de renová-lo por mais cinco anos.
A existência de outras fontes de financiamento além de FAPESP, GSK e instituição sede não só é permitida como também agrega valor à proposta – desde que o aporte esteja alinhado com a missão do centro e for aprovado pelo Comitê Gestor Conjunto FAPESP-GSK.
O CONTD deverá ser hospedado por uma instituição no estado de São Paulo, que será responsável pelo custeio das despesas administrativas e de pessoal. Além de endossar explicitamente o projeto, a instituição sede deverá ser a alma mater do diretor ou pesquisador responsável do centro.
Para garantir um alto nível de interação entre o centro e a GSK, a multinacional britânica apontará o vice-diretor do novo CPE, que se fará presente no centro assegurando sua contribuição científica e operacional. Cientistas e engenheiros da GSK também podem fazer parte do CONTD para colaborar em projetos específicos.
Desde 2012 partilhando um acordo de cooperação científica e tecnológica, FAPESP e GSK são parceiras na implantação e administração do Centro de Excelência para Descoberta de Alvos Moleculares (com sede no Instituto Butantan) e o Centro de Excelência para Pesquisa em Química Sustentável (sediado na UFSCar).
O prazo máximo de envio das propostas é 26 de janeiro de 2021 por meio do sistema SAGe (fapesp.br/sage).
A chamada está disponível em: fapesp.br/14566.
Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 28/10/20
Publicação Original: https://fapesp.br/14600/fapesp-e-gsk-anunciam-chamada-para-constituicao-do-centro-de-novos-alvos-terapeuticos-em-oncologia
FAPESP atualiza normas do PIPE
A FAPESP atualizou as normas do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), que apoia a execução de pesquisa científica e tecnológica em pequenas empresas.
As normas foram totalmente revisadas, com a organização das seções do texto, atualização de modelos de documentos disponíveis para download, bem como dos roteiros para elaboração do projeto de pesquisa e dos Relatórios Científicos.
Entre as novidades das novas normas está a criação do PIPE Invest, que objetiva oferecer fundos suplementares para projetos PIPE Fase 2 de comprovado sucesso, de forma a acelerar o processo de comercialização da inovação desenvolvida por meio do projeto, quando houver terceira parte interessada.
Para a solicitação do apoio no PIPE Invest, a pequena empresa deverá demonstrar investimento financeiro privado de uma terceira parte independente, acima de R$ 100 mil. Se aprovado, o apoio para o PIPE Invest poderá ser concedido para uma vigência de até 24 meses e orçamento limitado a R$ 1 milhão, de acordo com as restrições indicadas nas normas.
Outra novidade nas normas é a alteração na forma de submissão da Fase 2 Indireta. Anteriormente, o pesquisador submetia a proposta de apoio para a Fase 2 Indireta juntamente com um relatório científico de progresso da Fase 1. Agora, será necessário primeiramente submeter uma solicitação de mudança do tipo “Outra” no processo da Fase 1, anexando a documentação exigida conforme normas. Após aprovação desta solicitação, o pesquisador será autorizado a submeter a proposta completa no SAGe.
Foram também realizadas alterações em questões relativas à propriedade intelectual. Os modelos anteriores de acordos foram substituídos pelo novo documento “Termo sobre Propriedade Intelectual e Compromisso de compartilhamento de resultados”.
Considerando as cláusulas do novo termo, a pequena empresa será titular dos direitos de propriedade intelectual resultantes do projeto e a participação da FAPESP nos resultados econômicos da exploração da inovação desenvolvida no projeto pela empresa se dará, a partir do 1º ciclo de análise de 2021, pelo pagamento pela pequena empresa à FAPESP de 100% do valor efetivamente desembolsado pela Fundação, em prazo de até 5 anos.
A partir do 1º ciclo de análise de 2021, o pesquisador responsável apoiado na Fases 2 e no PIPE Invest deverá apresentar Relatórios de Desenvolvimento Empresarial, elaborados conforme instruções disponíveis nas normas.
As novas normas do PIPE estão disponíveis em: fapesp.br/pipe/normas.
PIPE recebe propostas para primeiro ciclo de 2021
A FAPESP lançou a primeira chamada de propostas de 2021 do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). O 1º ciclo de análise do ano recebe pedidos de novos projetos até 1º de fevereiro de 2020.
As propostas de financiamento devem conter projetos de pesquisa que possam ser desenvolvidos em duas etapas:
1) demonstração da viabilidade tecnológica de produto ou processo, com duração máxima de nove meses e recursos de até R$ 200 mil.
2) desenvolvimento do produto ou processo inovador, com duração máxima de 24 meses e recursos de até R$ 1 milhão.
Quando os proponentes já tiverem realizado atividades tecnológicas que demonstrem a viabilidade do projeto podem submeter propostas diretamente à Fase 2.
Estão reservados até R$ 15 milhões para atendimento às propostas selecionadas. A submissão de projetos deve ser feita pelo sistema SAGe da FAPESP.
Podem apresentar propostas pesquisadores vinculados a empresas de pequeno porte (com até 250 empregados) com unidade de pesquisa e desenvolvimento no Estado de São Paulo. Quem não tiver empresa formalizada também pode submeter propostas. A formalização deverá acontecer após a aprovação do projeto e antes da assinatura do auxílio PIPE.
A FAPESP divulgará o resultado enviando a cada proponente os pareceres técnicos dos avaliadores. Os pareceres podem ser úteis para o aperfeiçoamento da proposta, se aprovada ou não. Em caso de não aprovação, o proponente poderá aperfeiçoar a proposta, corrigindo as falhas apontadas, e submeter nova solicitação no edital subsequente.
A chamada para o 1º ciclo de 2021 está publicada em: www.fapesp.br/pipe/chamada-1-2021.
Para atender aos interessados em participar da chamada, a FAPESP realizará no dia 16 de dezembro de 2020, o evento on-line Diálogo sobre Apoio à Pesquisa para Inovação na Pequena Empresa.
O evento é aberto a empresários ou futuros empreendedores que já apresentaram ou têm interesse em propor um projeto ao Programa FAPESP de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 20/10/20
Publicação Original: https://fapesp.br/14551/fapesp-atualiza-normas-do-pipe
As normas foram totalmente revisadas, com a organização das seções do texto, atualização de modelos de documentos disponíveis para download, bem como dos roteiros para elaboração do projeto de pesquisa e dos Relatórios Científicos.
Entre as novidades das novas normas está a criação do PIPE Invest, que objetiva oferecer fundos suplementares para projetos PIPE Fase 2 de comprovado sucesso, de forma a acelerar o processo de comercialização da inovação desenvolvida por meio do projeto, quando houver terceira parte interessada.
Para a solicitação do apoio no PIPE Invest, a pequena empresa deverá demonstrar investimento financeiro privado de uma terceira parte independente, acima de R$ 100 mil. Se aprovado, o apoio para o PIPE Invest poderá ser concedido para uma vigência de até 24 meses e orçamento limitado a R$ 1 milhão, de acordo com as restrições indicadas nas normas.
Outra novidade nas normas é a alteração na forma de submissão da Fase 2 Indireta. Anteriormente, o pesquisador submetia a proposta de apoio para a Fase 2 Indireta juntamente com um relatório científico de progresso da Fase 1. Agora, será necessário primeiramente submeter uma solicitação de mudança do tipo “Outra” no processo da Fase 1, anexando a documentação exigida conforme normas. Após aprovação desta solicitação, o pesquisador será autorizado a submeter a proposta completa no SAGe.
Foram também realizadas alterações em questões relativas à propriedade intelectual. Os modelos anteriores de acordos foram substituídos pelo novo documento “Termo sobre Propriedade Intelectual e Compromisso de compartilhamento de resultados”.
Considerando as cláusulas do novo termo, a pequena empresa será titular dos direitos de propriedade intelectual resultantes do projeto e a participação da FAPESP nos resultados econômicos da exploração da inovação desenvolvida no projeto pela empresa se dará, a partir do 1º ciclo de análise de 2021, pelo pagamento pela pequena empresa à FAPESP de 100% do valor efetivamente desembolsado pela Fundação, em prazo de até 5 anos.
A partir do 1º ciclo de análise de 2021, o pesquisador responsável apoiado na Fases 2 e no PIPE Invest deverá apresentar Relatórios de Desenvolvimento Empresarial, elaborados conforme instruções disponíveis nas normas.
As novas normas do PIPE estão disponíveis em: fapesp.br/pipe/normas.
PIPE recebe propostas para primeiro ciclo de 2021
A FAPESP lançou a primeira chamada de propostas de 2021 do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE). O 1º ciclo de análise do ano recebe pedidos de novos projetos até 1º de fevereiro de 2020.
As propostas de financiamento devem conter projetos de pesquisa que possam ser desenvolvidos em duas etapas:
1) demonstração da viabilidade tecnológica de produto ou processo, com duração máxima de nove meses e recursos de até R$ 200 mil.
2) desenvolvimento do produto ou processo inovador, com duração máxima de 24 meses e recursos de até R$ 1 milhão.
Quando os proponentes já tiverem realizado atividades tecnológicas que demonstrem a viabilidade do projeto podem submeter propostas diretamente à Fase 2.
Estão reservados até R$ 15 milhões para atendimento às propostas selecionadas. A submissão de projetos deve ser feita pelo sistema SAGe da FAPESP.
Podem apresentar propostas pesquisadores vinculados a empresas de pequeno porte (com até 250 empregados) com unidade de pesquisa e desenvolvimento no Estado de São Paulo. Quem não tiver empresa formalizada também pode submeter propostas. A formalização deverá acontecer após a aprovação do projeto e antes da assinatura do auxílio PIPE.
A FAPESP divulgará o resultado enviando a cada proponente os pareceres técnicos dos avaliadores. Os pareceres podem ser úteis para o aperfeiçoamento da proposta, se aprovada ou não. Em caso de não aprovação, o proponente poderá aperfeiçoar a proposta, corrigindo as falhas apontadas, e submeter nova solicitação no edital subsequente.
A chamada para o 1º ciclo de 2021 está publicada em: www.fapesp.br/pipe/chamada-1-2021.
Para atender aos interessados em participar da chamada, a FAPESP realizará no dia 16 de dezembro de 2020, o evento on-line Diálogo sobre Apoio à Pesquisa para Inovação na Pequena Empresa.
O evento é aberto a empresários ou futuros empreendedores que já apresentaram ou têm interesse em propor um projeto ao Programa FAPESP de Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).
Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 20/10/20
Publicação Original: https://fapesp.br/14551/fapesp-atualiza-normas-do-pipe
terça-feira, 27 de outubro de 2020
Pesquisadores da UFRJ redescobrem espécie de sapo descrita há 100 anos
Uma espécie de sapo, integrante de um grupo popularmente conhecido como pingo-de-ouro, foi redescoberta após 100 anos do primeiro registro da espécie por pesquisadores do Museu Nacional e do Instituto de Biologia, ambos da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). A espécie Brachycephalus bufonoides foi encontrada em Nova Friburgo, Região Serrana fluminense, em pesquisa de campo realizada em 2015, e o artigo que relata a redescoberta foi publicado em julho deste ano no periódico Zootaxa.
"Em princípio pensávamos que seria uma nova espécie, mas após comparar com exemplares no Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (MZ/USP) que foram obtidos em 1909, percebemos que se tratava de uma redescoberta", conta o curador das coleções de Anfíbios do Museu Nacional, José Pombal Jr.. Como a descrição do começo do século passado era bastante sucinta, a comprovação veio após a análise osteológica de um exemplar testemunho da espécie armazenada em São Paulo.
O pesquisador trabalha com esse grupo de anfíbios desde a década de 1990, quando ingressou no mestrado. Naquela época, ele realizava as buscas por sapos dourados na região de Campinas (SP), mas o desmatamento da região levou ao desaparecimento da espécie que ocorreria naquela região. "A coloração laranja indica toxidade, o que é de interesse para pesquisas farmacológicas. No entanto, meu interesse no estudo desses animais é principalmente quem são as espécies do grupo, onde e como vivem", explica Pombal, que tem parte de seus estudos financiados pelo programa de fomento à pesquisa Cientista do Nosso Estado (CNE), da FAPERJ.
Ao contrário da maioria dos anfíbios, as espécies do gênero Brachycephalus têm hábitos diurnos. "Geralmente faço minhas pesquisas de campo no período noturno e sou avisado, muitas vezes, por pesquisadores que estudam aves, que saem a campo durante o dia, sobre a ocorrência dessas espécies", diz. Devido a sua coloração chamativa, os animais da espécie geralmente são notados por quem mora na região por eles habitada e foi por conta de um registro por do guarda florestal Leon Veiga, que trabalha naquela Área de Proteção Ambiental, que a equipe coordenada por Manuella Folly, encontrou a espécie. Também são autores do artigo os pesquisadores Lucas Coutinho Amaral e Sérgio Potsch de Carvalho e Silva.
Pesquisadores em saída de campo. Da esquerda para direita: Lucas Coutinho Amaral, Sérgio Potsch de Carvalho e Silva, Manuella Folly e José P. Pombal Jr. (Foto: Arquivo pessoal)
Manuella realizava doutorado na UFRJ com bolsa da FAPERJ e viajou a Nova Friburgo em busca de outra espécie de pingo-de-ouro. Os pesquisadores relatam que essas viagens a campo costumam durar de três a quatro dias quando são realizadas na serra e reduzidas a um dia quando feitas na Floresta da Tijuca, por exemplo. No reencontro com a espécie Brachycephalus bufonoides, foi possível gravar o coaxar dos animais pela primeira vez. A identificação do ineditismo do canto foi realizada com software específico. “Com o programa conseguimos medir estruturas temporais e espectrais do canto, como, por exemplo, duração do canto, da nota, do pulso. Nós comparamos essas estruturas entre as espécies do gênero e o B. bufonoides apresenta: maior número de pulsos, maior taxa de repetição de pulsos, maior frequência dominante, entre outros”, explica a bióloga.
Finalizado o processo de identificação, caracterização e publicação do artigo da espécie redescoberta, um processo que levou cinco anos, a equipe se prepara para submeter outro artigo que descreve uma nova espécie deste carismático gênero de anfíbio. “Com os laboratórios funcionando em esquema de rodízio e a obrigação do isolamento social, ironicamente temos mais tempo para escrever sobre os achados recentes”, conta José Pombal.
Autor: Juliana Passos
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 22/10/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4092.2.0
Sexagem molecular do mamoeiro reduz custos de produção e aumenta rendimento
Segundo dados do Banco de Dados Estatísticos Corporativos da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (Faostat), o Brasil é o segundo maior produtor de mamão do mundo, superado apenas pela Índia, e responsável pela produção de cerca de 1,7 milhão de toneladas por ano, o equivalente a 38% da produção mundial. O País é também o segundo maior exportador da fruta, depois do México. A espécie Carica papaya – popularmente conhecido como Papaya – é a mais apreciada no mercado externo, especialmente o europeu. Espírito Santo e Bahia são os estados responsáveis por 70% da área cultivada e da produção de mamão em território brasileiro. Além de liderar a produção, o Espírito Santo é o estado que obtém a maior produtividade na cultura, colhendo uma média de 54,5 toneladas por hectare.
Para auxiliar essa cultura a ser ainda mais competitiva e rentável, a empresa MF Papaya planeja oferecer o serviço de sexagem precoce em mamoeiro, utilizando ferramentas de Biologia Molecular. Para levar adiante essa iniciativa, a empresa elaborou o projeto “Sexagem Molecular Precoce em Mamoeiro: inovação tecnológica visando incremento de rendimento”, tendo sido um dos sete contemplados na Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), em Campos dos Goytacazes, do total de 21 projetos aprovados no edital Doutor Empreendedor: Transformando Conhecimento em Inovação, lançado pela FAPERJ no final de 2019. O programa de fomento à pesquisa tem o objetivo de transformar os estudos realizados nas bancadas de laboratórios das instituições do Estado do Rio de Janeiro em produtos disponíveis para a sociedade, estimulando doutores a entrarem no mundo empresarial. Para tanto, a Fundação concede bolsa no valor de R$ 4,1 mil por 24 meses, auxílio de até R$ 50 mil para a execução do projeto e bolsa de Iniciação Tecnológica para um integrante da equipe.
A doutora em Genética e Melhoramento de Plantas, Fernanda Abreu Santana Arêdes, sócia da MF Papaya, explica que a proposta inovadora de sua equipe é substituir a sexagem tradicional do mamoeiro pela sexagem molecular, assim como fazem as grávidas quando querem saber antecipadamente o sexo do feto. O mamoeiro produz plantas femininas e hermafroditas. Para atender a preferência dos consumidores, os produtores de papaya cultivam apenas as plantas hermafroditas, que produzem um mamão de formato oval, que além de favorecer seu acondicionamento nas caixas, possuem mais polpa. No entanto, segundo Fernanda, para saber qual mamoeiro é hermafrodita, o produtor planta de três a quatro mudas por cova e espera de cinco a seis meses, até a planta florescer, pois só pela flor é possível saber quais são hermafroditas. Isso porque morfologicamente as plantas são idênticas e só se diferenciam quando emitem os botões florais.
No método tradicional de sexagem é preciso esperar até seis meses após a
semeadura para fazer a seleção das plantas e o descarte das flores
não hermafroditas, desperdiçando tempo, insumos, água e mão de obra.
A geneticista explica que além do desperdício de tempo, na sexagem tradicional o produtor desperdiça insumos, água e mão de obra, e ainda precisa descartar pelo menos 67% das plantas para ter uma lavoura comercial com apenas plantas hermafroditas. Pela sexagem molecular, a MF Papaya irá analisar as plantas na fase de viveiro, a partir de um pequeno pedaço da primeira folha da muda do mamoeiro, que nasce antes do primeiro mês após a semeadura. O resultado é conhecido em apenas três horas, bem diferente do método tradicional, no qual é preciso esperar até o quinto ou sexto mês. A equipe, composta ainda por Marcela Santana Bastos Boechat e Filipe Brum Machado, sob orientação do professor da Uenf Messias Gonzaga Pereira, avaliou a eficácia da metodologia em 400 plantas e obteve sucesso de 100%. Segundo Fernanda, todas as plantas selecionadas precocemente foram plantadas e tiveram o sexo hermafrodita confirmado posteriormente, por meio do botão floral.
A empresa emergente espera conquistar tanto os produtores quanto as empresas que comercializam mudas, os chamados viveiristas. “Durante a fase de formação final do pomar, todos os produtores de mamão descartam pelo menos 67% das plantas por desconhecerem a de valor comercial. Caso os produtores e os viveiristas souberem o sexo da planta precocemente, o número de sementes usadas pode ser reduzido e haverá economia de insumos, fertilizantes, água e mão de obra, além de um aumento na produção devido à não competição entre as plantas”, explica Fernanda.
Um experimento realizado na Costa Rica verificou que este sistema de sexagem molecular no mamoeiro foi capaz de aumentar em 27% a produção por hectare. Já na Europa, esse aumento chega a 40%. Os testes para confirmar as vantagens desse método em ambiente nacional serão realizados na empresa Caliman, localizada em Linhares, município ao norte do Espírito Santo. Os testes são extremamente importantes para que a empresa possa mostrar o aumento da produção em ambiente nacional, já que essa técnica só é utilizada na Espanha, Costa Rica e México.
Fernanda espera ampliar o serviço de sexagem para outras
culturas como o coco, cuja origem também precisa confirmação.
Para realizarem a sexagem molecular na MF Papaya, os produtores recebem um cartão de coleta especialmente desenvolvido para o acondicionamento e envio das amostras de folhas. A empresa tem capacidade de analisar de 500 a 1.000 amostras por dia e um convênio com a Uenf poderá aumentar essa capacidade. O único concorrente da MF Papaya está localizado na Europa, numa província espanhola, e utiliza uma tecnologia mais cara. Os sócios esperam conquistar 2% do mercado mamoeiro no estado do Espírito Santo no primeiro ano de funcionamento da empresa, e, no segundo ano de existência, pretendem atingir 5% desse mercado.
A geneticista também planeja expandir o serviço de análise molecular para outras culturas, como por exemplo para o coqueiro, cultura na qual muitas vezes é necessário verificar a paternidade das mudas híbridas que o produtor adquiriu. As mudas híbridas são oriundas do cruzamento entre o coqueiro anão e o coqueiro gigante, o que resultaria em plantas de porte médio capazes de produzir tanto água quanto óleo de coco. No entanto, devido a problemas de cruzamentos genéticos, ocorre uma significativa proporção de plantas com estatura não desejada, prejudicando as lavouras de coqueiro. Por meio das análises moleculares, a MF Papaya também é capaz de realizar esse serviço permitindo ao produtor ter uniformidade na sua lavoura.
Autor: Paula Guatimosim
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data: 22/10/20
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4090.2.0
Fator catastrófico que levou à maior extinção em massa da Terra é revelado em fósseis
Créditos: PaleoFactory / Hana Jurikova.
Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
Os cientistas acreditam que finalmente chegaram mais perto de identificar a causa da pior extinção em massa da Terra, rastreando o fator geoquímico que pode ter iniciado tudo.
Conhecido como a Grande Morte, o evento de extinção Permiano-Triássico aconteceu há cerca de 252 milhões de anos. A nova pesquisa é baseada em um estudo de conchas fósseis deixadas por braquiópodes semelhantes a moluscos onde hoje são os Alpes do Sul.
As conchas registram os níveis de pH da água do mar que são afetados pelas concentrações atmosféricas de CO2, e parece que há cerca de 252 milhões de anos houve uma introdução repentina e intensa de dióxido de carbono na atmosfera.
Provavelmente foi devido a uma série gigantesca de erupções vulcânicas na Sibéria, dizem os pesquisadores. O aumento do aquecimento e a acidificação dos oceanos teriam matado certas espécies muito rapidamente, enquanto as águas cada vez mais ricas em nutrientes teriam, então, esgotado os níveis de oxigênio no oceano por um longo período de tempo, causando mais extinções.
“Este colapso semelhante a um dominó dos ciclos e processos de sustentação da vida interconectados levou, enfim, à extensão catastrófica de uma extinção em massa na fronteira do Permiano-Triássico”, disse a biogeoquímica marinha Hana Jurikova, que agora está na Universidade de St Andrews em o Reino Unido.
A equipe mediu diferentes isótopos de boro e carbono nas conchas para obter uma leitura da acidez da água do mar usando instrumentos de alta precisão como a Espectrometria de Massa de Íons Secundários (SIMS). Combinados com modelos computacionais detalhados, os dados poderiam ser usados para reconstituir a Grande Morte.
Os cientistas há muito tempo aceitaram que uma série de erupções vulcânicas onde hoje é a Sibéria foram as principais causas da Grande Morte, mas esta é a primeira vez que uma reconstrução das circunstâncias atmosféricas é feita com tantos detalhes. Isso nos fornece mais informações sobre os mecanismos subjacentes do que aconteceu na Terra na época e quais foram as consequências ao longo dos próximos milhares de anos.
Este estudo responde a algumas perguntas sobre a combinação de eventos e suas sequências, relacionando claramente o aumento de CO2 com a atividade vulcânica. A análise e modelagem também sugerem que outro fator – a liberação de grandes quantidades de metano por micróbios no fundo do mar – não foi tão importante.
“Com esta técnica, podemos não apenas reconstruir a evolução das concentrações atmosféricas de CO2, mas também rastreá-la claramente de volta à atividade vulcânica”, disse o bioquímico marinho Marcus Gutjahr do Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica de Kiel da GEOMAR, na Alemanha.
“A dissolução de hidratos de metano, que foi sugerida como uma causa potencial adicional, é altamente improvável com base em nossos dados”.
Os cientistas continuam a juntar as peças da história do que aconteceu na extinção do Permiano-Triássico com base em registros geológicos que têm centenas de milhões de anos – não é a parte mais fácil do trabalho de detetive.
Ainda há muito mais para descobrir sobre quais foram os fatores contribuintes, quanto tempo eles duraram e como algumas espécies sobreviveram. Cerca de 96% das espécies marinhas e 70% das espécies de vertebrados terrestres se foram para sempre.
O que torna este novo estudo interessante é que ele mostra como nossa compreensão pode ser aprofundada por meio de técnicas de análise aprimoradas que estão surgindo online, incluindo o uso de espectrometria e o estudo de fósseis de braquiópodes.
“Sem essas novas técnicas, seria difícil reconstruir os processos ambientais de mais de 250 milhões de anos no mesmo nível de detalhes que temos agora”, disse o geoquímico marinho Anton Eisenhauer, da GEOMAR. “Além disso, os novos métodos podem ser aplicados para outras áreas científicas”.
A pesquisa foi publicada na Nature Geoscience.
Autor: David Nield
Fonte: Nature Geoscience
Sítio Online da Publicação: universoracionalista
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://universoracionalista.org/fator-catastrofico-que-levou-a-maior-extincao-em-massa-da-terra-e-revelado-em-fosseis/
Por David Nield
Publicado na ScienceAlert
Os cientistas acreditam que finalmente chegaram mais perto de identificar a causa da pior extinção em massa da Terra, rastreando o fator geoquímico que pode ter iniciado tudo.
Conhecido como a Grande Morte, o evento de extinção Permiano-Triássico aconteceu há cerca de 252 milhões de anos. A nova pesquisa é baseada em um estudo de conchas fósseis deixadas por braquiópodes semelhantes a moluscos onde hoje são os Alpes do Sul.
As conchas registram os níveis de pH da água do mar que são afetados pelas concentrações atmosféricas de CO2, e parece que há cerca de 252 milhões de anos houve uma introdução repentina e intensa de dióxido de carbono na atmosfera.
Provavelmente foi devido a uma série gigantesca de erupções vulcânicas na Sibéria, dizem os pesquisadores. O aumento do aquecimento e a acidificação dos oceanos teriam matado certas espécies muito rapidamente, enquanto as águas cada vez mais ricas em nutrientes teriam, então, esgotado os níveis de oxigênio no oceano por um longo período de tempo, causando mais extinções.
“Este colapso semelhante a um dominó dos ciclos e processos de sustentação da vida interconectados levou, enfim, à extensão catastrófica de uma extinção em massa na fronteira do Permiano-Triássico”, disse a biogeoquímica marinha Hana Jurikova, que agora está na Universidade de St Andrews em o Reino Unido.
A equipe mediu diferentes isótopos de boro e carbono nas conchas para obter uma leitura da acidez da água do mar usando instrumentos de alta precisão como a Espectrometria de Massa de Íons Secundários (SIMS). Combinados com modelos computacionais detalhados, os dados poderiam ser usados para reconstituir a Grande Morte.
Os cientistas há muito tempo aceitaram que uma série de erupções vulcânicas onde hoje é a Sibéria foram as principais causas da Grande Morte, mas esta é a primeira vez que uma reconstrução das circunstâncias atmosféricas é feita com tantos detalhes. Isso nos fornece mais informações sobre os mecanismos subjacentes do que aconteceu na Terra na época e quais foram as consequências ao longo dos próximos milhares de anos.
Este estudo responde a algumas perguntas sobre a combinação de eventos e suas sequências, relacionando claramente o aumento de CO2 com a atividade vulcânica. A análise e modelagem também sugerem que outro fator – a liberação de grandes quantidades de metano por micróbios no fundo do mar – não foi tão importante.
“Com esta técnica, podemos não apenas reconstruir a evolução das concentrações atmosféricas de CO2, mas também rastreá-la claramente de volta à atividade vulcânica”, disse o bioquímico marinho Marcus Gutjahr do Centro Helmholtz de Pesquisa Oceânica de Kiel da GEOMAR, na Alemanha.
“A dissolução de hidratos de metano, que foi sugerida como uma causa potencial adicional, é altamente improvável com base em nossos dados”.
Os cientistas continuam a juntar as peças da história do que aconteceu na extinção do Permiano-Triássico com base em registros geológicos que têm centenas de milhões de anos – não é a parte mais fácil do trabalho de detetive.
Ainda há muito mais para descobrir sobre quais foram os fatores contribuintes, quanto tempo eles duraram e como algumas espécies sobreviveram. Cerca de 96% das espécies marinhas e 70% das espécies de vertebrados terrestres se foram para sempre.
O que torna este novo estudo interessante é que ele mostra como nossa compreensão pode ser aprofundada por meio de técnicas de análise aprimoradas que estão surgindo online, incluindo o uso de espectrometria e o estudo de fósseis de braquiópodes.
“Sem essas novas técnicas, seria difícil reconstruir os processos ambientais de mais de 250 milhões de anos no mesmo nível de detalhes que temos agora”, disse o geoquímico marinho Anton Eisenhauer, da GEOMAR. “Além disso, os novos métodos podem ser aplicados para outras áreas científicas”.
A pesquisa foi publicada na Nature Geoscience.
Autor: David Nield
Fonte: Nature Geoscience
Sítio Online da Publicação: universoracionalista
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://universoracionalista.org/fator-catastrofico-que-levou-a-maior-extincao-em-massa-da-terra-e-revelado-em-fosseis/
segunda-feira, 26 de outubro de 2020
Hospital Regional do Câncer - Santa Casa de Passos MG
A história do Hospital Regional do Câncer é cheia de idas e vindas, de diálogos, de luta e união de toda uma gente. As primeiras ideias para a construção do hospital surgiram lá atrás, no início de 2002, conforme conta o provedor da Santa Casa, Vivaldo Soares Neto. “Nessa época, já estávamos preocupados com o grande número de pacientes que dia a dia saiam de Passos para buscar em outros centros o tratamento da doença. E sabíamos que na região de Passos era a mesma coisa. Começamos, então, a conversar e a pensar na ideia de um hospital. Sabíamos que seria um grande desafio, mas a diretoria logo aceitou o projeto da construção. Ter um centro oncológico passou a ser um grande sonho”, recorda o provedor.
Da ideia para a execução do projeto foi um passo. E o mais importante: a comunidade já estava também envolvida. Assim, unidos, diretoria da Santa Casa, membros do corpo clínico, funcionários e o povo de Passos fizeram várias viagens a Belo Horizonte e Brasília para reivindicar, juntos das instâncias dos governos estadual e federal o credenciamento do serviço de quimioterapia na Santa Casa de Passos. Era só o começo. Uma vez com o credenciamento autorizado, a Santa Casa começaria o atendimento para consultas e sessões de quimioterapia num anexo ao lado dela. Depois, iniciaria o projeto da construção do hospital e em seguida a implantação do serviço de radioterapia. A Santa Casa sabia que isso seria difícil, já que o aparelho para o serviço radioterápico é caro, mas em nenhum momento desanimou e seguiu em frente.
Em julho de 2002 o credenciamento para a quimioterapia fora aprovado e assim a Santa Casa começou o seu atendimento na área oncológica, aliviando, desde já, a vida de centenas de pacientes.
JUNHO de 2006: A Santa Casa de Passos lança a pedra fundamental do Hospital Regional do Câncer. Com esse ato, a instituição dá início a uma série de ações, para viabilizar o prédio. A primeira parte do evento aconteceu no auditório do hospital, com a apresentação do projeto arquitetônico. Em seguida, autoridades e convidados dirigiram-se ao futuro pátio de obras do HRC, para o ato de lançamento da pedra fundamental. Houve o descerramento de uma placa em honra daqueles que se colocaram ao lado da Santa Casa de Passos nessa luta, como voluntários, como profissionais, como homens públicos.
DEZEMBRO de 2006: Foi criada a Comissão Regional Pró-HRC. Inicialmente formada por um grupo de 12 pessoas, a comissão passou a unir e envolver a comunidade de Passos e região para arrecadar donativos e recursos para o HRC.
Em 21 de dezembro de 2006, a Santa Casa realiza um "Abraço Simbólico" ao HRC: um momento que emocionou o grande número de participantes. Em seguida, através de um mutirão foi feita a demolição dos imóveis onde seria construído o hospital. A ação marca o início da campanha de mobilização regional para arrecadação de fundos para a obra.
Com a participação de médicos, funcionários da Santa Casa e pessoas da comunidade, foi dado o "Abraço Simbólico" ao HRC.
Início de 2007: A Comissão Regional Pró-HRC começa a visitar cidades da região divulgando o projeto de construção a fim de arrecadar fundos para a construção do Hospital Regional do Câncer.
23 de setembro de 2007: É realizado o 1º Encontrão das Comissões Municipais Pró-HRC.
Vinte e um municípios compareceram a este I Encontro que na avaliação do coordenador da Comissão Regional e diretor executivo da Santa Casa, Daniel Porto Soares, alcançou os objetivos propostos.
O evento, realizado no dia 23 de setembro de 2007, serviu para um balanço das ações realizadas em cada cidade, e de vitrine para os municípios que estavam se integrando à campanha. Além disso, foi feito o ajuste das programações dessas comissões ao plano de metas proposto pela administração da Santa Casa.
Março de 2008: Seu troco constrói este hospital. Com este apelo foi deflagrada a campanha “Moeda da Solidariedade”, com a distribuição dos cofrinhos em algumas empresas de Passos e toda a região. Um sucesso, sobretudo pelo envolvimento que se cria entre os municípios.
31 de agosto de 2008: É realizado o 2º Encontrão das Comissões Municipais Pró-Construção do Hospital Regional do Câncer. Representantes e voluntários de cerca de 28 municípios da região estiveram presentes. O evento foi realizado na Câmara Municipal de Passos. Entre outras atividades, houve uma visita ao local das obras do Hospital do Câncer, onde aconteceu uma bênção especial de padres e pastores.
15 de março de 2009: É realizado com sucesso o 3º Encontrão das Comissões Municipais Pró-HRC, de Passos, reunindo cerca de 300 pessoas. Este encontro foi de suma importância, uma vez que foi durante ele que saíram a decisão e o comprometimento das comissões para finalizar e inaugurar a obra em dezembro de 2009.
A construção do HRC seguiu em frente com uma mobilização jamais vista em Passos e certamente em toda a região. Lideranças políticas, empresas, sindicatos, associações, escolas e o povo em geral participavam de alguma forma. Doações eram feitas, muitas espontâneas ou anônimas, o certo é que pessoas de todas as idades queriam participar. Uma série de eventos como leilões de gado, shows, festas, ações entre amigos e demais atividades para arrecadação de recursos contavam com a grande participação das pessoas.
Na trajetória da construção o HRC tem histórias fantásticas que mostram solidariedade e gestos de humanidade, inclusive de crianças, que fizeram a sua parte. A classe artística também participou da corrente que buscava a viabilização da obra. Vários deles deram o seu sim, vestindo a camisa, dando depoimentos para estimular a comunidade a se unir pela causa. Foi o caso dos cantores César Menotti e Fabiano, Zezé de Camargo e Luciano, Juliano Cézqr, Moacir Franco, Regis Danese, Gian e Giovane, Ratinho, Jota Quest, Rio Negro e Solimões, Edson e Hudson, Pe. Fábio de Melo e o ator passense Selton Mello, que realizou em Passos a Mostra de Cinema que levou o seu nome, cuja renda fora revertida ao HRC.
Dezembro de 2009: Finalmente o Hospital Regional do Câncer é inaugurado. Sem dúvida, a festa de inauguração foi uma dos maiores acontecimentos em Passos nos últimos tempos.
Construído com a força da comunidade de Passos e região, o HRC mobilizou trinta e duas comissões formadas por voluntários de nossos municípios vizinhos, que trabalharam com dedicação e afinco, realizando quermesses, shows, leilões e outros eventos para arrecadar recursos para a obra. Foi um sucesso.
17 de dezembro de 2009: Realizada uma missa na paróquia Nossa Senhora da Penha, com a participação da diretoria da Santa Casa, Irmandade, funcionários, voluntários e o povo da comunidade.
18 de dezembro de 2009: Inauguração da obra. Às 15h00 os sinos de todas as igrejas de Passos e região foram badalados durante 10 minutos para celebrar a alegria da inauguração. Às 18h00 houve queima de fogos e, finalmente às 21h00 teve início a grande festa. Uma hora antes, a multidão que prestigiou a inauguração já estava presente na rua José Merchioratto, nas imediações do hospital, onde foram colocadas as cadeiras e o palco que seria ocupado pela Frente de Honra. Várias lideranças políticas de diversos lugares do Estado ocuparam esta Frente.
A comunidade participou também com apresentações artísticas que enriqueceram a inauguração. No encerramento, houve a bênção das instalações e, em seguida, o descerramento de placas com diversos agradecimentos a autoridades, pessoas de diversas comunidades e aos anônimos que contribuíram com a construção do hospital. Foi uma noite de emoção.
Frente de honra: presença de diretores da Santa Casa de Passos e de lideranças políticas, civis, militares e eclesiásticas.
A comunidade participou com diversos números artísticos.
19 de dezembro de 2009: Realizado o 4º Encontrão, quando se reuniram as 32 comissões que trabalharam pelo HRC. Foi um momento para o balanço das atividades realizadas no período, para as metas de trabalho e sobretudo para a confraternização entre todos.
11 de janeiro de 2010: O Hospital Regional do Câncer passa a funcionar, com os serviços de oncologia que antes eram realizados provisoriamente na Policlínica da Santa Casa.
A partir dali, as comissões começaram a se organizar para continuar as campanhas de arrecadação. Porque todos sabiam da importância de se trabalhar para a manutenção do hospital.
09 de setembro de 2010: Inicia-se o serviço de radioterapia no HRC. A notícia trouxe tranquilidade aos pacientes e familiares que não precisariam mais percorrer4 grandes distâncias em busca deste tratamento.
04 de novembro de 2010: A unidade de internação para adultos do HRC entrou em funcionamento. Este serviço, que fica no 3º andar do hospital, tem 17 leitos disponibilizados, sendo que de imediato foram ocupados 10 leitos. A bênção das instalações foram dadas pelo Padre Clóvis Nery da paróquia de Nossa Senhora da Penha.
08 de agosto de 2011: O Diário Oficial divulgou em suas páginas a liberação do credenciamento do SUS para o serviço de radioterapia do HRC. A Santa Casa por 11 meses arcou com os custos do tratamento radioterápico dos pacientes, que resultou numa cifra grandiosa: deixou de receber o valor de R$ 2 milhões de reais a que teria direito. Com o credenciamento, o HRC passa a ser um CACON – Centro de Alta Complexidade em Oncologia, ou seja, aqueles que oferecem assistência especializada e integral aos pacientes do câncer atuando na área de prevenção, detecção precoce, diagnóstico e tratamento do paciente.
27 de setembro de 2011: É realizada a primeira sessão de braquiterapia, que faz parte do serviço de radioterapia do hospital.
Autor: abf
Fonte: abf
Sítio Online da Publicação: abf
Data: 22/10/20
Publicação Original: http://www.hrcpassos.com.br/o-hrc
Fonte: abf
Sítio Online da Publicação: abf
Data: 22/10/20
Publicação Original: http://www.hrcpassos.com.br/o-hrc
DST
DST - Uso de preservativo ainda é o melhor método para evitar as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)
Uso de preservativo ainda é o melhor método para evitar as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)
Dicas de Saúde A.C. Camargo Câncer Center
As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) podem levar a diferentes consequências, que vão desde incômodas inflamações até complicações mais sérias. As principais são: AIDs, clamídia, gonorreia, herpes genital, HPV e sífilis. De acordo com Dr. Levon Badiglian Filho, do Departamento de Ginecologia Oncológica do A.C.Camargo, todas essas doenças podem ser evitadas com o simples uso de preservativo.
AIDS e os jovens
A AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida), causada pelo vírus HIV, ainda é uma doença incurável, mas houve evolução nos medicamentos de controle. Porém, isso tem contribuído para que os jovens, principalmente, relaxem em relação à prevenção. Assim, o número de casos entre pessoas na faixa dos 18 aos 25 anos de idade vem aumentando.
Sífilis, clamídia e gonorreia
O sexo sem proteção pode transmitir não só a AIDS como também a sífilis, provocada por bactéria. Os primeiros sintomas são feridas nos órgãos sexuais e caroços nas virilhas, que chegam a desaparecer, mas a doença continua se desenvolvendo, levando a cegueira, paralisia e até a morte. Há ainda, entre as DSTs causadas por bactérias, a clamídia e a gonorreia. Nos dois casos aparecem infecções e o tratamento é feito com antibiótico.
HPV e herpes
Já entre as doenças virais está o HPV, que se manifesta em forma de lesões na vagina, no colo do útero, no pênis e no ânus. “Existem cerca 70 de tipos de vírus HPV associados ao câncer de colo de útero”, explica Dr. Levon, lembrando que há vacinas contra quatro vírus de HPV e que devem ser tomadas antes do início da vida sexual.
Outra DST viral é a herpes genital, que aparece em forma de bolhas na vagina ou no pênis e se manifesta sempre que a imunidade da pessoa baixar e o tratamento é realizado com antivirais. Mas atenção: diante de qualquer sintoma possível de DST, deve-se primeiramente consultar o médico.
Para mais informações, acesse o site www.accamargo.org.br
Acompanhe o A.C.Camargo nas mídias sociais:
Facebook: https://www.facebook.com/accamargocancercenter
Twitter: https://twitter.com/haccamargo
Google+: https://plus.google.com/116795949778584833222/about
YouTube: http://www.youtube.com/user/accamargovideos
Linkedin: http://www.linkedin.com/company/accamargo
Fonte: Dr. Levon Badiglian Filho, do Departamento de Ginecologia Oncológica do A.C.Camargo, CRM 94536.
Uso de preservativo ainda é o melhor método para evitar as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs)
Dicas de Saúde A.C. Camargo Câncer Center
As doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) podem levar a diferentes consequências, que vão desde incômodas inflamações até complicações mais sérias. As principais são: AIDs, clamídia, gonorreia, herpes genital, HPV e sífilis. De acordo com Dr. Levon Badiglian Filho, do Departamento de Ginecologia Oncológica do A.C.Camargo, todas essas doenças podem ser evitadas com o simples uso de preservativo.
AIDS e os jovens
A AIDS (síndrome da imunodeficiência adquirida), causada pelo vírus HIV, ainda é uma doença incurável, mas houve evolução nos medicamentos de controle. Porém, isso tem contribuído para que os jovens, principalmente, relaxem em relação à prevenção. Assim, o número de casos entre pessoas na faixa dos 18 aos 25 anos de idade vem aumentando.
Sífilis, clamídia e gonorreia
O sexo sem proteção pode transmitir não só a AIDS como também a sífilis, provocada por bactéria. Os primeiros sintomas são feridas nos órgãos sexuais e caroços nas virilhas, que chegam a desaparecer, mas a doença continua se desenvolvendo, levando a cegueira, paralisia e até a morte. Há ainda, entre as DSTs causadas por bactérias, a clamídia e a gonorreia. Nos dois casos aparecem infecções e o tratamento é feito com antibiótico.
HPV e herpes
Já entre as doenças virais está o HPV, que se manifesta em forma de lesões na vagina, no colo do útero, no pênis e no ânus. “Existem cerca 70 de tipos de vírus HPV associados ao câncer de colo de útero”, explica Dr. Levon, lembrando que há vacinas contra quatro vírus de HPV e que devem ser tomadas antes do início da vida sexual.
Outra DST viral é a herpes genital, que aparece em forma de bolhas na vagina ou no pênis e se manifesta sempre que a imunidade da pessoa baixar e o tratamento é realizado com antivirais. Mas atenção: diante de qualquer sintoma possível de DST, deve-se primeiramente consultar o médico.
Para mais informações, acesse o site www.accamargo.org.br
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Fonte: Dr. Levon Badiglian Filho, do Departamento de Ginecologia Oncológica do A.C.Camargo, CRM 94536.
Publicado em 01/10/201524
Autor: abf
Fonte: abf
Sítio Online da Publicação: abf
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://www.abf.com.br/dst/?gclid=Cj0KCQjw59n8BRD2ARIsAAmgPmIGXaz0VE9EyIqCiBgw4E0clzlHSpIsMfnL3Do-0iKSu3dPb3nbwA4aAioXEALw_wcB
Autor: abf
Fonte: abf
Sítio Online da Publicação: abf
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://www.abf.com.br/dst/?gclid=Cj0KCQjw59n8BRD2ARIsAAmgPmIGXaz0VE9EyIqCiBgw4E0clzlHSpIsMfnL3Do-0iKSu3dPb3nbwA4aAioXEALw_wcB
Os mangues estão entre os sistemas naturais mais ameaçados do planeta
Os mangues estão entre os sistemas naturais mais ameaçados do planeta
Os mangues estão entre os ambientes mais ameaçados do planeta. Entrevista especial com João Meirelles
Os manguezais são fundamentais para combater as mudanças climáticas e contribuem para os serviços ambientais planetários, diz o diretor do Instituto Peabiru
Os mangues estão entre os ambientes mais ameaçados do planeta. Entrevista especial com João Meirelles
Os manguezais são fundamentais para combater as mudanças climáticas e contribuem para os serviços ambientais planetários, diz o diretor do Instituto Peabiru
Rio de Janeiro – Manguezais da Área de Proteção Ambianetal(APA) de Guapi-Mirim e Estação Ecológica da Guanabara, região hidrográfica da Baía de Guanabara, Guapimirim, região metropolitana do Rio de Janeiro. (Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)
Por: Patricia Fachin, IHU
A revogação de algumas resoluções ambientais pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama, entre elas a 303/2002, que trata da proteção dos manguezais e faixas de restinga do litoral brasileiro, gerou descontentamento entre os ambientalistas. Isso porque “os mangues estão entre os ambientes mais ameaçados do planeta”, diz João Meirelles à IHU On-Line. Segundo ele, há exemplos de desaparecimentos de mangues em todo o litoral brasileiro. “É casa de praia em cima de mangue, são as cidades crescendo, bois e búfalos destruindo mangues, como no Marajó (PA), a agricultura, as fazendas de camarão no Nordeste… E, com as mudanças climáticas, isto tende a piorar, pois o mar, mesmo que suba alguns centímetros, muda a paisagem rapidamente e o mangue não consegue acompanhar”, diz.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o diretor do Instituto Peabiru, organização sem fins lucrativos cuja missão é valorizar a diversidade cultural e ambiental e apoiar processos de transformação social na Amazônia, explica os serviços ambientais prestados pelos manguezais para a fauna e flora. “Do ponto de vista físico, os mangues criam solo, pois abaixo daquela lama – matéria orgânica em decomposição – em geral, há areia, pobre em qualquer matéria orgânica. Os seres em decomposição se transformam nesta sopa de nutrientes, que será reabsorvida pelos seres vivos, a começar pelas próprias árvores, altamente interessadas nestes minerais trazidos, literalmente, a seus pés”, afirma.
Meirelles também destaca que os mangues alterados têm baixa resiliência para voltarem ao que eram, quando destruídos e, por isso, é fundamental que sejam protegidos por unidades de conservação. “Mas proteger apenas os mangues não é suficiente, pois com o desmatamento dos ambientes no entorno dos manguezais, haverá menos água doce disponível, e, além disso, a areia entupirá as áreas onde era água e mangue, e estes acabam morrendo”, adverte.
João Meirelles é graduado em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo – Eaesp-FGV, é empreendedor social e escritor. Residente em Belém, Pará, trabalha na facilitação e fortalecimento de capacidades humanas de associações de agricultura familiar, pescadores, ribeirinhos, quilombolas e grupos e povos tradicionais da Amazônia Oriental. É autor de, entre outros, Grandes Expedições à Amazônia Brasileira, Vol. I – 1500 a 1930, Vol. II – século XX (São Paulo: Editora Metalivros, 2010) e Ouro da Amazônia (Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 2006). Também integra o Fórum Amazônia Sustentável.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Os ambientalistas argumentam que a revogação das Resoluções 302 e 303 do Conama colocará em risco os manguezais da Amazônia. O que são, qual sua importância ambiental e as principais características das áreas de manguezais?
João Meirelles – Em primeiro lugar, os mangues são florestas, tanto é que, antigamente, chamava-se este tipo de paisagem de “floresta de mangue”. Do ponto de vista físico, os mangues criam solo, pois abaixo daquela lama – matéria orgânica em decomposição – em geral, há areia, pobre em qualquer matéria orgânica. Os seres em decomposição se transformam nesta sopa de nutrientes, que será reabsorvida pelos seres vivos, a começar pelas próprias árvores, altamente interessadas nestes minerais trazidos, literalmente, a seus pés.
IHU On-Line – Qual é o impacto ambiental de construir empreendimentos ou permitir o desenvolvimento da agricultura nestas áreas?
João Meirelles – Se os mangues são alterados, aterrando-se para fazer casas, abrir ruas e estradas, derrubando árvores para lenha, jogando lixo, para criação de camarão, empreendimentos turísticos etc… haverá forte impacto local e regional. O mangue, como os demais sistemas naturais, tem limitada capacidade de resistir a mudanças. Na verdade, o mangue tem baixa resiliência, ou seja, sua habilidade de voltar ao que era exige bastante tempo. Assim, se a velocidade da destruição for maior que a capacidade natural de recuperação, teremos um ambiente degradado.
Por isto é fundamental que todos os manguezais sejam protegidos por unidades de conservação. Mas proteger apenas os mangues não é suficiente, pois com o desmatamento dos ambientes no entorno dos manguezais, haverá menos água doce disponível, e, além disso, a areia entupirá as áreas onde era água e mangue, e estes acabam morrendo.
O mangue, como os demais sistemas naturais, tem limitada capacidade de resistir a mudanças – João Meirelles
IHU On-Line – Qual é a situação ambiental dos mangues hoje?
João Meirelles – Os mangues estão entre os ambientes mais ameaçados do planeta. Temos exemplos de desaparecimento de mangues em todo o litoral brasileiro: é casa de praia em cima de mangue, são as cidades crescendo, bois e búfalos destruindo mangues, como no Marajó, a agricultura, as fazendas de camarão no Nordeste… E, com as mudanças climáticas, isto tende a piorar, pois o mar, mesmo que suba alguns centímetros, muda a paisagem rapidamente e o mangue não consegue acompanhar.
Isto já está ocorrendo, não se trata de um fenômeno a ocorrer, é um fato medido cientificamente. E, entre as regiões mais impactadas, estão os manguezais do Norte do Brasil. Importante considerar que a maior parte das espécies de peixes marinhos depende, de alguma forma, dos manguezais para a sua procriação ou alimentação. Esses prestam-se como local de vida, reprodução e refúgio para centenas de espécies de moluscos, crustáceos e aves, entre outros animais. E sem falar que os mangues são um anteparo para as fortes marés e protegem o continente da erosão. Nos mangues do Norte do Brasil, estão alguns dos manguezais mais ricos do mundo em termos de diversidade de espécies animais.
A maior parte das espécies de peixes marinhos depende, de alguma forma, dos manguezais para a sua procriação ou alimentação – João Meirelles
Associado ao mangue estão as praias, os campos gramados, que se chamam de campos apicum, e outras paisagens de transição. O Museu Goeldi, como parte do projeto Casa da Virada, em parceria com o Instituto Peabiru identificou um novo tipo de paisagem associado ao ecossistema – a “Mata Amazônica Atlântica”. É uma “mata amazônica” que fica na beira do Oceano Atlântico, daí seu nome. O que caracteriza esta paisagem é a presença de determinadas espécies de árvores, como o bacurizeiro e o umirizeiro. Tanto estas como outras paisagens estão desprotegidas, ameaçadas.
Nos mangues do Norte do Brasil, estão alguns dos manguezais mais ricos do mundo em termos de diversidade de espécies animais – João Meirelles
IHU On-Line – Como estão os mangues da faixa contínua na Amazônia?
João Meirelles – Para as organizações científicas e ambientalistas, os manguezais do Pará e Amapá estão entre os mais bem preservados do planeta. Estariam, também, entre os mais biodiversos em termos da vida marinha, abrigando grande diversidade de moluscos, peixes, camarões, caranguejos, além de avifauna e mamíferos marinhos.
As autoridades ambientais deveriam propor como conservar os manguezais, expandindo unidades de conservação, criando corredores ecológicos e protegendo os ambientes que precisam ser urgentemente restaurados. Cada metro quadrado de manguezal é fundamental para combater mudanças climáticas, manter a vida marinha e costeira e contribuir para os serviços ambientais planetários.
(EcoDebate, 26/10/2020) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/10/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/10/26/os-mangues-estao-entre-os-sistemas-naturais-mais-ameacados-do-planeta/
Por: Patricia Fachin, IHU
A revogação de algumas resoluções ambientais pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente – Conama, entre elas a 303/2002, que trata da proteção dos manguezais e faixas de restinga do litoral brasileiro, gerou descontentamento entre os ambientalistas. Isso porque “os mangues estão entre os ambientes mais ameaçados do planeta”, diz João Meirelles à IHU On-Line. Segundo ele, há exemplos de desaparecimentos de mangues em todo o litoral brasileiro. “É casa de praia em cima de mangue, são as cidades crescendo, bois e búfalos destruindo mangues, como no Marajó (PA), a agricultura, as fazendas de camarão no Nordeste… E, com as mudanças climáticas, isto tende a piorar, pois o mar, mesmo que suba alguns centímetros, muda a paisagem rapidamente e o mangue não consegue acompanhar”, diz.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, o diretor do Instituto Peabiru, organização sem fins lucrativos cuja missão é valorizar a diversidade cultural e ambiental e apoiar processos de transformação social na Amazônia, explica os serviços ambientais prestados pelos manguezais para a fauna e flora. “Do ponto de vista físico, os mangues criam solo, pois abaixo daquela lama – matéria orgânica em decomposição – em geral, há areia, pobre em qualquer matéria orgânica. Os seres em decomposição se transformam nesta sopa de nutrientes, que será reabsorvida pelos seres vivos, a começar pelas próprias árvores, altamente interessadas nestes minerais trazidos, literalmente, a seus pés”, afirma.
Meirelles também destaca que os mangues alterados têm baixa resiliência para voltarem ao que eram, quando destruídos e, por isso, é fundamental que sejam protegidos por unidades de conservação. “Mas proteger apenas os mangues não é suficiente, pois com o desmatamento dos ambientes no entorno dos manguezais, haverá menos água doce disponível, e, além disso, a areia entupirá as áreas onde era água e mangue, e estes acabam morrendo”, adverte.
João Meirelles é graduado em Administração de Empresas pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getulio Vargas de São Paulo – Eaesp-FGV, é empreendedor social e escritor. Residente em Belém, Pará, trabalha na facilitação e fortalecimento de capacidades humanas de associações de agricultura familiar, pescadores, ribeirinhos, quilombolas e grupos e povos tradicionais da Amazônia Oriental. É autor de, entre outros, Grandes Expedições à Amazônia Brasileira, Vol. I – 1500 a 1930, Vol. II – século XX (São Paulo: Editora Metalivros, 2010) e Ouro da Amazônia (Rio de Janeiro: Editora Ediouro, 2006). Também integra o Fórum Amazônia Sustentável.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Os ambientalistas argumentam que a revogação das Resoluções 302 e 303 do Conama colocará em risco os manguezais da Amazônia. O que são, qual sua importância ambiental e as principais características das áreas de manguezais?
João Meirelles – Em primeiro lugar, os mangues são florestas, tanto é que, antigamente, chamava-se este tipo de paisagem de “floresta de mangue”. Do ponto de vista físico, os mangues criam solo, pois abaixo daquela lama – matéria orgânica em decomposição – em geral, há areia, pobre em qualquer matéria orgânica. Os seres em decomposição se transformam nesta sopa de nutrientes, que será reabsorvida pelos seres vivos, a começar pelas próprias árvores, altamente interessadas nestes minerais trazidos, literalmente, a seus pés.
IHU On-Line – Qual é o impacto ambiental de construir empreendimentos ou permitir o desenvolvimento da agricultura nestas áreas?
João Meirelles – Se os mangues são alterados, aterrando-se para fazer casas, abrir ruas e estradas, derrubando árvores para lenha, jogando lixo, para criação de camarão, empreendimentos turísticos etc… haverá forte impacto local e regional. O mangue, como os demais sistemas naturais, tem limitada capacidade de resistir a mudanças. Na verdade, o mangue tem baixa resiliência, ou seja, sua habilidade de voltar ao que era exige bastante tempo. Assim, se a velocidade da destruição for maior que a capacidade natural de recuperação, teremos um ambiente degradado.
Por isto é fundamental que todos os manguezais sejam protegidos por unidades de conservação. Mas proteger apenas os mangues não é suficiente, pois com o desmatamento dos ambientes no entorno dos manguezais, haverá menos água doce disponível, e, além disso, a areia entupirá as áreas onde era água e mangue, e estes acabam morrendo.
O mangue, como os demais sistemas naturais, tem limitada capacidade de resistir a mudanças – João Meirelles
IHU On-Line – Qual é a situação ambiental dos mangues hoje?
João Meirelles – Os mangues estão entre os ambientes mais ameaçados do planeta. Temos exemplos de desaparecimento de mangues em todo o litoral brasileiro: é casa de praia em cima de mangue, são as cidades crescendo, bois e búfalos destruindo mangues, como no Marajó, a agricultura, as fazendas de camarão no Nordeste… E, com as mudanças climáticas, isto tende a piorar, pois o mar, mesmo que suba alguns centímetros, muda a paisagem rapidamente e o mangue não consegue acompanhar.
Isto já está ocorrendo, não se trata de um fenômeno a ocorrer, é um fato medido cientificamente. E, entre as regiões mais impactadas, estão os manguezais do Norte do Brasil. Importante considerar que a maior parte das espécies de peixes marinhos depende, de alguma forma, dos manguezais para a sua procriação ou alimentação. Esses prestam-se como local de vida, reprodução e refúgio para centenas de espécies de moluscos, crustáceos e aves, entre outros animais. E sem falar que os mangues são um anteparo para as fortes marés e protegem o continente da erosão. Nos mangues do Norte do Brasil, estão alguns dos manguezais mais ricos do mundo em termos de diversidade de espécies animais.
A maior parte das espécies de peixes marinhos depende, de alguma forma, dos manguezais para a sua procriação ou alimentação – João Meirelles
Associado ao mangue estão as praias, os campos gramados, que se chamam de campos apicum, e outras paisagens de transição. O Museu Goeldi, como parte do projeto Casa da Virada, em parceria com o Instituto Peabiru identificou um novo tipo de paisagem associado ao ecossistema – a “Mata Amazônica Atlântica”. É uma “mata amazônica” que fica na beira do Oceano Atlântico, daí seu nome. O que caracteriza esta paisagem é a presença de determinadas espécies de árvores, como o bacurizeiro e o umirizeiro. Tanto estas como outras paisagens estão desprotegidas, ameaçadas.
Nos mangues do Norte do Brasil, estão alguns dos manguezais mais ricos do mundo em termos de diversidade de espécies animais – João Meirelles
IHU On-Line – Como estão os mangues da faixa contínua na Amazônia?
João Meirelles – Para as organizações científicas e ambientalistas, os manguezais do Pará e Amapá estão entre os mais bem preservados do planeta. Estariam, também, entre os mais biodiversos em termos da vida marinha, abrigando grande diversidade de moluscos, peixes, camarões, caranguejos, além de avifauna e mamíferos marinhos.
As autoridades ambientais deveriam propor como conservar os manguezais, expandindo unidades de conservação, criando corredores ecológicos e protegendo os ambientes que precisam ser urgentemente restaurados. Cada metro quadrado de manguezal é fundamental para combater mudanças climáticas, manter a vida marinha e costeira e contribuir para os serviços ambientais planetários.
(EcoDebate, 26/10/2020) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.
[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/10/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/10/26/os-mangues-estao-entre-os-sistemas-naturais-mais-ameacados-do-planeta/
quinta-feira, 22 de outubro de 2020
Pesquisa confirma transmissão sexual do vírus zika em Pernambuco
Outras investigações anteriores já haviam comprovado a existência desta forma de transmissão em localidades sem a presença do mosquito vetor, o Aedes aegypti e sem indicar qual a sua relevância na epidemia. O estudo pernambucano aponta que essa contribuição é significativa. "A via sexual não parece ser unicamente responsável pelo contágio sustentado do zika, mas associada à transmissão pelo mosquito pode contribuir significativamente para a disseminação eficiente do vírus", explica a pesquisadora Tereza Magalhães (CSU e Fiocruz PE), que coordenou o projeto, ao lado dos pesquisadores Ernesto Marques (Fiocruz PE e Universidade de Pittsburgh, EUA) e Brian Foy (CSU). A pesquisa contou com financiamento do National Institutes of Health (NIH).
Além do cuidado metodológico para tentar enxergar a transmissão sexual de forma separada da vetorial, a equipe do projeto precisou superar um grande desafio no início da pesquisa: a redução drástica dos casos de zika, a partir de 2017 (em Pernambuco e em todo o país), que acabou inviabilizando a identificação de novos casos para se somarem à coorte do estudo. Assim, os investigadores precisaram buscar uma estratégia alternativa para o projeto, envolvendo participantes de uma pesquisa anterior, sobre diagnóstico de dengue, e moradores de suas residências. Realizado por Tereza e Ernesto entre maio de 2015 e maio de 2016, esse estudo recrutou pacientes atendidos na UPA de Paulista (PE) com sintomas sugestivos de dengue. O trabalho foi realizado em colaboração com o pesquisador da Universidade de Heidelberg (Alemanha) e CSU, Thomas Jaenisch.
O resultado foi surpreendente, pois, ao final das análises, 60% dentre os mais de duzentos e cinquenta pacientes estudados foram casos confirmados de infecções com os vírus zika e chikungunya, sendo pouquíssimos casos de dengue. Portanto, esse estudo se revelou um importante registro do período final da epidemia de zika e do posterior crescimento dos casos de chikungunya em Pernambuco, doenças que haviam se instalado silenciosamente na população.
A partir desse conhecimento acumulado, foram convidados os participantes dessa pesquisa anterior (denominados index), seus parceiros sexuais e até mais dois moradores da mesma residência, formando uma coorte de 425 pessoas. O objetivo foi comparar, através de sorologia, a exposição prévia dos participantes aos vírus zika e chikungunya. A hipótese era que a exposição ao zika seria maior entre os parceiros sexuais, já que esse vírus é transmitido por sexo e pela picada do mosquito. A comparação com o chikungunya foi muito importante no estudo já que não é transmitido sexualmente (somente pela picada do mosquito).
Foram coletadas amostras de sangue, realizados testes sorológicos e aplicados questionários, para responder a dois tipos de análise. Primeiro foi avaliado o risco da pessoa ser positiva para zika ou chikungunya quando morando com paciente index soropositivo para o respectivo vírus, sendo ela parceira sexual ou não. Depois, esse mesmo risco foi observado em todos os pares de uma mesma residência, independente de serem formados pelo paciente index.
Os resultados apontaram que, no caso do zika, o risco de ter sido exposto ao vírus foi significativamente maior (risco relativo de 3.9) para o parceiro sexual do que para o morador no mesmo espaço que não era parceiro sexual (risco relativo de 1.2). Para chikungunya, utilizado nessa pesquisa como "controle", o resultado foi bem diferente e o risco se mostrou igual para todos os moradores (parceiros sexuais ou não; risco relativo de 2-2.5). Na segunda parte das análises, os pares sexuais das residências tiveram uma maior probabilidade de terem sorologia concordante para o zika do que os pares sem relação sexual, fato que não foi observado com o grupo chikungunya.
Foram coletados também dados clínicos retrospectivos dos participantes. Uma das informações obtidas, em relação aos participantes soropositivos para zika, é que uma menor porcentagem de pares sexuais disse que teve sintomas típicos de arboviroses, comparando com os pares não sexuais. "Isso pode indicar que, se essas pessoas dos pares sexuais foram infectadas com o zika através de relação sexual e não da picada de mosquitos, talvez a sintomatologia seja diferente de acordo com a forma de transmissão", declara Tereza, ressaltando a importância de que esse fator seja levado em conta na fase aguda da doença. "É muito importante até para o manejo clínico, pois pode ser que o médico não consiga fazer um diagnóstico correto se avaliar somente sintomas típicos", complementa.
O estudo mostrou que a transmissão sexual do zika em áreas endêmicas, associada à transmissão vetorial, pode ter sido um dos fatores responsáveis pela rápida disseminação do vírus nas Américas e em outras regiões afetadas pela pandemia em 2015/2016.
Mais detalhes sobre a pesquisa - que contou ainda com a participação das pesquisadoras da Fiocruz PE Ana Brito, Clarice Morais e Marli Tenório, além de vários estudantes e técnicos da instituição – podem ser obtidos no artigo Follow-up household serosurvey in Northeast Brazil for Zika virus: sexual contacts of index patients have the highest risk for seropositivity.
Autor: Fiocruz Pernambuco
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-confirma-transmissao-sexual-do-virus-zika-em-pernambuco
Pantanal pode ter temperaturas elevadas em 7ºC até 2100
Pantanal pode ter temperaturas elevadas em 7ºC até 2100
Por Peter Moon, da Agência FAPESP
Por Peter Moon, da Agência FAPESP
Modelos também sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, a região poderá ter redução na quantidade de chuva de 30% a 40% (foto: Wikimedia Commons)
O Pantanal, a maior planície alagada do mundo, corre o risco de, em 2100, ver as suas temperaturas médias anuais elevadas em até 7 °C.
Tamanho aumento de temperatura implicaria uma redução sensível no regime de chuvas da região, principalmente no inverno. Tais mudanças climáticas teriam impacto sobre a evaporação da região e a própria existência do Pantanal como o conhecemos.
Essas projeções foram estimadas a partir da aplicação ao Pantanal dos modelos climáticos globais do 5º Relatório de Avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2014.
O trabalho “Climate Change Scenarios in the Pantanal”, publicado no livro Dynamics of the Pantanal Wetland in South America, é de autoria da equipe do hidrologista e meteorologista José Antonio Marengo Orsini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em Cachoeira Paulista, e tem apoio da FAPESP e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas – que, por sua vez, é apoiado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O Pantanal tem uma área de 140 mil km², 80% da qual fica no Brasil, nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. É uma região semiárida. Não fosse o enorme fluxo anual de água para a região, o bioma seria tão seco quanto a caatinga nordestina. Isso não ocorre porque o Pantanal é um grande reservatório que armazena as águas que escoam dos planaltos circundantes.
Nos meses de novembro a março, na estação chuvosa, os rios transbordam, inundando até 70% da planície. É quando se formam os banhados, os lagos rasos e quando os pântanos incham. Tudo isso faz com que, nas áreas mais elevadas, surjam ilhas de vegetação, um refúgio para os animais. Grandes áreas permanecem inundadas por quatro a oito meses no ano, com uma cobertura de água que varia de uns poucos centímetros até 2 metros.
Durante a estação seca, de abril a setembro, as águas refluem para a calha dos rios e os banhados são parcialmente drenados. As águas antes represadas seguem seu curso através das bacias dos rios Paraguai e Paraná, em direção ao rio da Prata e ao Atlântico Sul. Deixam em seu lugar uma camada de sedimentos férteis que impulsionam o crescimento da vegetação e das pastagens.
Esse é o retrato do Pantanal hoje. Nele caem anualmente entre 1.000 e 1.250 milímetros de chuva. A temperatura média anual é 24 °C – sendo que a temperatura máxima, alguns dias no ano, atinge os 41 graus. O que as projeções climáticas de Marengo indicam para o futuro?
O 5º Relatório de Avaliação do IPCC projeta um aumento na temperatura média global em 2100 de 3,7º C a 4,8°C. Quando seus parâmetros são usados para analisar as variáveis climáticas específicas do Pantanal, o resultado impressiona. Até 2040, as temperaturas médias devem subir de 2º C a 3 °C. Em 2070, o aumento poderá ser de 4ºC a 5°C, atingindo em 2100 uma temperatura média 6 °C mais elevada do que a atual.
Embora haja muita incerteza com relação às projeções pluviométricas, os modelos sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, o Pantanal poderá experimentar uma redução na quantidade de chuva de 30% a 40%.
A associação entre temperaturas mais elevadas e menos chuva implicará um aumento da evaporação no Pantanal. Dependendo da temperatura, volumes consideráveis de água represada poderão desaparecer, o que reduzirá a área total alagada e a quantidade de água nas porções de terra que permanecerão alagadas. “Um aumento da temperatura média de 5º C a 6 °C implicaria em deficiência hídrica, o que afetaria a biodiversidade e a população”, observa Marengo.
As consequências para a fauna e a flora poderão ser severas. Espécies vegetais pouco adaptáveis a um grau de umidade inferior ao atual poderão desaparecer ou migrar para outras regiões. Em seu lugar, germinariam outras espécies, que preferem climas mais secos.
A alteração na vegetação implicaria diretamente as populações de invertebrados e de vertebrados herbívoros – capivaras, antas que delas dependem (mas também o gado das fazendas) – , numa reação em cadeia que afetaria todos os nichos da cadeia alimentar, até atingir os predadores de topo, como os felinos, os jacarés e as aves de rapina.
Muito embora Marengo faça questão de salientar que as incertezas com relação às mudanças climáticas ainda são elevadas, especialmente no quesito do regime pluviométrico, um coisa é certa: as temperaturas globais estão aumentando e o mesmo acontecerá no Pantanal.
Como aquela planície alagada fica no centro da América do Sul, portanto longe da influência marítima que poderia ajudar a amenizar o clima, o aumento das temperaturas no Pantanal tende a ser mais dramático. “O dia mais quente do ano pode vir a ser até 10 °C mais quente do que hoje”, diz Marengo.
Se atualmente, nos dias mais quentes do verão, a temperatura no Pantanal passa fácil dos 40 °C, estamos falando em temperaturas máximas em torno ou superiores aos 50 °C. É temperatura de deserto. A maioria das plantas suporta pontualmente um calorão desses. Pontualmente.
O artigo Climate Change Scenarios in the Pantanal, de Jose A. Marengo e outros, publicado no Dynamics of the Pantanal Wetland in South America, Springer International Publishing Switzerland, (doi: 10.1007/698_2015_357), pode ser lido em http://link.springer.com/chapter/10.1007/698_2015_357.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/10/2020
Autor: Ecodebate
Fonte: Ecodebate
Sítio Online da Publicação: Ecodebate
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/10/22/pantanal-pode-ter-temperaturas-elevadas-em-7c-ate-2100/
O Pantanal, a maior planície alagada do mundo, corre o risco de, em 2100, ver as suas temperaturas médias anuais elevadas em até 7 °C.
Tamanho aumento de temperatura implicaria uma redução sensível no regime de chuvas da região, principalmente no inverno. Tais mudanças climáticas teriam impacto sobre a evaporação da região e a própria existência do Pantanal como o conhecemos.
Essas projeções foram estimadas a partir da aplicação ao Pantanal dos modelos climáticos globais do 5º Relatório de Avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2014.
O trabalho “Climate Change Scenarios in the Pantanal”, publicado no livro Dynamics of the Pantanal Wetland in South America, é de autoria da equipe do hidrologista e meteorologista José Antonio Marengo Orsini, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), em Cachoeira Paulista, e tem apoio da FAPESP e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) para Mudanças Climáticas – que, por sua vez, é apoiado pela FAPESP e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O Pantanal tem uma área de 140 mil km², 80% da qual fica no Brasil, nos estados de Mato Grosso do Sul e Mato Grosso. É uma região semiárida. Não fosse o enorme fluxo anual de água para a região, o bioma seria tão seco quanto a caatinga nordestina. Isso não ocorre porque o Pantanal é um grande reservatório que armazena as águas que escoam dos planaltos circundantes.
Nos meses de novembro a março, na estação chuvosa, os rios transbordam, inundando até 70% da planície. É quando se formam os banhados, os lagos rasos e quando os pântanos incham. Tudo isso faz com que, nas áreas mais elevadas, surjam ilhas de vegetação, um refúgio para os animais. Grandes áreas permanecem inundadas por quatro a oito meses no ano, com uma cobertura de água que varia de uns poucos centímetros até 2 metros.
Durante a estação seca, de abril a setembro, as águas refluem para a calha dos rios e os banhados são parcialmente drenados. As águas antes represadas seguem seu curso através das bacias dos rios Paraguai e Paraná, em direção ao rio da Prata e ao Atlântico Sul. Deixam em seu lugar uma camada de sedimentos férteis que impulsionam o crescimento da vegetação e das pastagens.
Esse é o retrato do Pantanal hoje. Nele caem anualmente entre 1.000 e 1.250 milímetros de chuva. A temperatura média anual é 24 °C – sendo que a temperatura máxima, alguns dias no ano, atinge os 41 graus. O que as projeções climáticas de Marengo indicam para o futuro?
O 5º Relatório de Avaliação do IPCC projeta um aumento na temperatura média global em 2100 de 3,7º C a 4,8°C. Quando seus parâmetros são usados para analisar as variáveis climáticas específicas do Pantanal, o resultado impressiona. Até 2040, as temperaturas médias devem subir de 2º C a 3 °C. Em 2070, o aumento poderá ser de 4ºC a 5°C, atingindo em 2100 uma temperatura média 6 °C mais elevada do que a atual.
Embora haja muita incerteza com relação às projeções pluviométricas, os modelos sugerem que, durante o inverno no hemisfério Sul, o Pantanal poderá experimentar uma redução na quantidade de chuva de 30% a 40%.
A associação entre temperaturas mais elevadas e menos chuva implicará um aumento da evaporação no Pantanal. Dependendo da temperatura, volumes consideráveis de água represada poderão desaparecer, o que reduzirá a área total alagada e a quantidade de água nas porções de terra que permanecerão alagadas. “Um aumento da temperatura média de 5º C a 6 °C implicaria em deficiência hídrica, o que afetaria a biodiversidade e a população”, observa Marengo.
As consequências para a fauna e a flora poderão ser severas. Espécies vegetais pouco adaptáveis a um grau de umidade inferior ao atual poderão desaparecer ou migrar para outras regiões. Em seu lugar, germinariam outras espécies, que preferem climas mais secos.
A alteração na vegetação implicaria diretamente as populações de invertebrados e de vertebrados herbívoros – capivaras, antas que delas dependem (mas também o gado das fazendas) – , numa reação em cadeia que afetaria todos os nichos da cadeia alimentar, até atingir os predadores de topo, como os felinos, os jacarés e as aves de rapina.
Muito embora Marengo faça questão de salientar que as incertezas com relação às mudanças climáticas ainda são elevadas, especialmente no quesito do regime pluviométrico, um coisa é certa: as temperaturas globais estão aumentando e o mesmo acontecerá no Pantanal.
Como aquela planície alagada fica no centro da América do Sul, portanto longe da influência marítima que poderia ajudar a amenizar o clima, o aumento das temperaturas no Pantanal tende a ser mais dramático. “O dia mais quente do ano pode vir a ser até 10 °C mais quente do que hoje”, diz Marengo.
Se atualmente, nos dias mais quentes do verão, a temperatura no Pantanal passa fácil dos 40 °C, estamos falando em temperaturas máximas em torno ou superiores aos 50 °C. É temperatura de deserto. A maioria das plantas suporta pontualmente um calorão desses. Pontualmente.
O artigo Climate Change Scenarios in the Pantanal, de Jose A. Marengo e outros, publicado no Dynamics of the Pantanal Wetland in South America, Springer International Publishing Switzerland, (doi: 10.1007/698_2015_357), pode ser lido em http://link.springer.com/chapter/10.1007/698_2015_357.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/10/2020
Autor: Ecodebate
Fonte: Ecodebate
Sítio Online da Publicação: Ecodebate
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/10/22/pantanal-pode-ter-temperaturas-elevadas-em-7c-ate-2100/
Conheça 4 alimentos que podem retardar o aparecimento da osteoporose
Conheça 4 alimentos que podem retardar o aparecimento da osteoporose
Fraturas recorrentes? Cuidado! Esse pode ser um sinal de osteoporose, doença que de acordo com a Fundação Internacional de Osteoporose (IOF) acomete mais de 10 milhões de brasileiros. Projeções da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) revelam que o número anual de fraturas relacionadas à osteoporose no quadril, um dos locais onde as complicações costumam ser mais graves, devem atingir 140 mil pessoas até o fim de 2020.
Por Fabiano de Abreu
Mais comum em mulheres que em homens, a osteoporose tem influência genética, mas também se desenvolve a partir de fatores de risco como tabagismo, sedentarismo, insuficiência de cálcio e vitamina D e uso de medicamentos tais quais glicocorticoides, anticonvulsivantes, quimioterápicos e doses excessivas de hormônio tireoidiano.
Caracterizado pela perda progressiva e acelerada de massa óssea, o problema é mais comum após os 40 anos e torna as fraturas mais frequentes na vida do portador, exemplifica o médico nutrólogo Dr. Sandro Ferraz.
Apesar de ter causas multifatoriais, o nutrólogo aponta que é possível prevenir a doença analisando fatores de risco, em especial má alimentação — rica em proteínas e sal e pobre em leite, derivados e vegetais verde escuros. “Fontes de Cálcio e Vitamina D são essenciais à saúde dos ossos. Apesar disso, não existe um alimento milagroso que irá combater o problema sozinho. Trata-se de um equilíbrio na dieta, que vai frear processos inflamatórios e impedir que o sistema imunológico seja alterado e a doença se desenvolva”, aponta.
Sendo assim, incluir alguns alimentos ricos em Cálcio, Magnésio e Vitamina D pode ser essencial para retardar o aparecimento da doença. Entre ele estão:
Leite: Rico em cálcio, substância que atua na formação dos ossos, o leite ajuda a retardar o processo de degeneração. Em indivíduos com mais de 50 anos, o consumo de cálcio deve ser de, em média, 1200 mg. Estima-se que um copo de leite de 250 ml de leite tenha 300 miligramas de cálcio.
Nozes e castanhas: Nestas oleaginosas, o grande aliado é o ômega-3 de origem vegetal. De acordo com pesquisa realizada na Pensilvânia, a substância pode ter efeitos protetores sobre a saúde dos ossos, assim como também contém cálcio em sua composição.
Linhaça: Sendo o alto consumo de sal um fator que pode desencadear a doença, alimentos que auxiliam na excreção dessa substância podem ser grandes aliados na prevenção. No caso da linhaça, por exemplo, o consumo regular auxilia os rins a excretar água e sódio, e assim pode proteger os ossos da perda de cálcio.
Tomate: De fácil consumo — vai bem em molhos e saladas — o tomate é uma boa fonte de minerais como magnésio, ferro, fósforo, manganês e potássio, substâncias que ajudam no processo de formação dos ossos.
Fraturas recorrentes? Cuidado! Esse pode ser um sinal de osteoporose, doença que de acordo com a Fundação Internacional de Osteoporose (IOF) acomete mais de 10 milhões de brasileiros. Projeções da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) revelam que o número anual de fraturas relacionadas à osteoporose no quadril, um dos locais onde as complicações costumam ser mais graves, devem atingir 140 mil pessoas até o fim de 2020.
Por Fabiano de Abreu
Mais comum em mulheres que em homens, a osteoporose tem influência genética, mas também se desenvolve a partir de fatores de risco como tabagismo, sedentarismo, insuficiência de cálcio e vitamina D e uso de medicamentos tais quais glicocorticoides, anticonvulsivantes, quimioterápicos e doses excessivas de hormônio tireoidiano.
Caracterizado pela perda progressiva e acelerada de massa óssea, o problema é mais comum após os 40 anos e torna as fraturas mais frequentes na vida do portador, exemplifica o médico nutrólogo Dr. Sandro Ferraz.
Apesar de ter causas multifatoriais, o nutrólogo aponta que é possível prevenir a doença analisando fatores de risco, em especial má alimentação — rica em proteínas e sal e pobre em leite, derivados e vegetais verde escuros. “Fontes de Cálcio e Vitamina D são essenciais à saúde dos ossos. Apesar disso, não existe um alimento milagroso que irá combater o problema sozinho. Trata-se de um equilíbrio na dieta, que vai frear processos inflamatórios e impedir que o sistema imunológico seja alterado e a doença se desenvolva”, aponta.
Sendo assim, incluir alguns alimentos ricos em Cálcio, Magnésio e Vitamina D pode ser essencial para retardar o aparecimento da doença. Entre ele estão:
Leite: Rico em cálcio, substância que atua na formação dos ossos, o leite ajuda a retardar o processo de degeneração. Em indivíduos com mais de 50 anos, o consumo de cálcio deve ser de, em média, 1200 mg. Estima-se que um copo de leite de 250 ml de leite tenha 300 miligramas de cálcio.
Nozes e castanhas: Nestas oleaginosas, o grande aliado é o ômega-3 de origem vegetal. De acordo com pesquisa realizada na Pensilvânia, a substância pode ter efeitos protetores sobre a saúde dos ossos, assim como também contém cálcio em sua composição.
Linhaça: Sendo o alto consumo de sal um fator que pode desencadear a doença, alimentos que auxiliam na excreção dessa substância podem ser grandes aliados na prevenção. No caso da linhaça, por exemplo, o consumo regular auxilia os rins a excretar água e sódio, e assim pode proteger os ossos da perda de cálcio.
Tomate: De fácil consumo — vai bem em molhos e saladas — o tomate é uma boa fonte de minerais como magnésio, ferro, fósforo, manganês e potássio, substâncias que ajudam no processo de formação dos ossos.
Foto: EBC
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/10/2020
Autor: Ecodebate
Fonte: Ecodebate
Sítio Online da Publicação: Ecodebate
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/10/22/conheca-4-alimentos-que-podem-retardar-o-aparecimento-da-osteoporose/
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 22/10/2020
Autor: Ecodebate
Fonte: Ecodebate
Sítio Online da Publicação: Ecodebate
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/10/22/conheca-4-alimentos-que-podem-retardar-o-aparecimento-da-osteoporose/
A agricultura convencional mata o solo e afeta as mudanças climáticas
A agricultura convencional mata o solo. Entrevista com Antonio Donato Nobre
“Mais importante do que ser multidisciplinar é ser não-disciplinar, isto é, integrar e dissolver as “disciplinas” em um saber amplo e articulado, sem fronteiras artificiais e domínios de egos”, afirma o cientista do CCST/Inpe.
O conhecimento científico não pode cegar a complexa relação entre os inúmeros ecossistemas presentes no planeta. “Tal abordagem gera soluções autistas que não se comunicam, tumores exuberantes cuja expansão danifica tudo que está em volta. Assim, a tecnociência olha o mundo com um microscópio grudado em seus olhos, vê pixel, mas ignora a paisagem”, afirma Antonio Donato Nobre, cientista do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – CCST/Inpe.
“A maior parte da agricultura tecnificada adotada pelo agronegócio é pobre em relação à complexidade natural. Ela elimina de saída a capacidade dos organismos manejados de interferir beneficamente no ambiente, introduzindo desequilíbrios e produzindo danos em muitos níveis”, analisa, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Para Nobre, a saída não é abandonar a ciência e a tecnologia produtiva de alimentos, mas sim associá-las e integrá-las a sistemas complexos de vidas em ecossistemas do Planeta. É entender, por exemplo, que a criação de áreas de plantio e produção agropecuária impactarão na chamada “equação do clima”. “É preciso remover os microscópios dos olhos, olhar o conjunto, perceber as conexões e, assim, aplicar o conhecimento de forma sábia e benéfica”, aponta.
Antonio Donato Nobre é cientista do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – CCST/Inpe, autor do relatório O Futuro Climático da Amazônia, lançado no final de 2014.
Tem atuado na divulgação e popularização da ciência, em temas como a Bomba biótica de umidade e sua importância para a valorização das grandes florestas, e os Rios Aéreos de vapor, que transferem umidade da Amazônia para as regiões produtivas do Brasil.
Foi relator nos estudos sobre o Código Florestal promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC e Academia Brasileira de Ciências. Possui graduação em Agronomia pela Universidade de São Paulo, mestrado em Biologia Tropical (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e é PhD em Earth System Sciences (Biogeochemistry) pela University of New Hampshire.
Atualmente é pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e pesquisador Visitante no Centro de Ciência do Sistema Terrestre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais os impactos da produção agrícola nas mudanças climáticas? Quais os riscos que o modelo do agronegócio (baseado nas grandes propriedades e produção em larga escala de uma só cultura por vez) representa?
Antonio Donato Nobre – A ocupação desordenada das paisagens produz pesados impactos no funcionamento do sistema de suporte à vida na Terra. A expansão das atividades agrícolas — quase sempre associada à devastação das florestas que têm maior importância na regulação climática — tem consequências que se fazem sentir cada vez mais, e serão devastadoras se não mudarmos a prática da agricultura.
A natureza, ao longo de bilhões de anos, evoluiu um sofisticadíssimo sistema vivo de condicionamento do conforto ambiental. Biodiversidade é o outro nome para competência tecnológica na regulação climática. A maior parte da agricultura tecnificada adotada pelo agronegócio é pobre em relação à complexidade natural. Ela elimina de saída a capacidade dos organismos manejados de interferir beneficamente no ambiente, introduzindo desequilíbrios e produzindo danos em muitos níveis.
IHU On-Line – Como aliar agricultura e pecuária à preservação de florestas e outros ecossistemas? Como o novo Código Florestal brasileiro se insere nesse contexto?
Antonio Donato Nobre – Extensa literatura científica mostra muitos caminhos para unir com vantagens agricultura, criação de animais e a preservação das florestas e de outros importantes ecossistemas. Esse conhecimento disponível assevera não haver conflito legítimo entre proteção dos ecossistemas e produção agrícola. Muito ao contrário, a melhor ciência demonstra a dependência umbilical da agricultura aos serviços ambientais providos pelos ecossistemas nativos.
Em 2012, contrariando a vontade da sociedade, o congresso revogou o código florestal de 1965. A introdução de uma nova lei florestal lasciva e juridicamente confusa já está produzindo efeitos danosos, como aumentos intoleráveis no desmatamento e a eliminação da exigência, ou o estímulo à procrastinação, no que se refere à recuperação de áreas degradadas. Mas a proteção e recuperação de florestas tem direto impacto sobre o regime de chuvas.
Incrível, portanto, que a agricultura, atividade que primeiro sofrerá com o clima inóspito que já bate às portas do Brasil, tenha sido justamente aquela que destruiu e continua destruindo os ecossistemas produtores de clima amigo. Enquanto estiver em vigor essa irresponsável e inconstitucional nova lei florestal, a degradação ambiental somente vai piorar.
IHU On-Line – De que forma o conhecimento mais detalhado sobre as formas de vida, e a relação entre elas, em florestas, como a amazônica, pode inspirar formas mais eficientes de produção de alimentos e, ao mesmo tempo, minimizar impactos ambientais?
Antonio Donato Nobre – A biomimética é uma nova área da tecnologia que copia e adapta soluções engenhosas encontradas pelos organismos para resolver desafios existenciais. Janine Benyus, a pioneira popularizadora desse saber, antes ignorado, costuma dizer que os designs encontrados na natureza são resultados de 3,8 bilhões de anos de evolução tecnológica. Durante esse tempo, somente subsistiram soluções efetivas e eficazes, que de saída determinaram a superioridade da tecnologia natural.
Ora, a agricultura precisa redescobrir a potência sustentável e produtiva que é o manejo inteligente de agroecossistemas inspirados nos ecossistemas naturais, ao invés de se divorciar deste vasto campo de conhecimento e soluções, como fez com seus agrossistemas empobrecidos, envenenados e que exploram organismos geneticamente aberrantes.
IHU On-Line – Qual o papel do solo na “composição da equação do clima” no planeta? Em que medida o desequilíbrio do solo pode influenciar nas mudanças climáticas?
Antonio Donato Nobre – Microrganismos e plantas têm incrível capacidade para adaptar-se ao substrato, seja solo, sedimento ou mesmo rocha. Essa adaptação gera simultaneamente uma formação e condicionamento do substrato, o que o torna fértil para a vida vicejar ali. O metabolismo dos ecossistemas, incluindo sua relação com o substrato, tem íntima relação com os ciclos globais de elementos químicos. A composição e funcionamento da atmosfera depende, para sua estabilidade dinâmica, portanto, para o conforto e favorecimento da própria vida, do funcionamento ótimo dos ecossistemas naturais.
Na equação do clima, os ecossistemas são os órgãos indispensáveis que geram a homeostase ou equilíbrio planetário. A agricultura convencional extermina aquela vida que tem capacidade regulatória, mata o solo, fator chave para sua própria sustentação, e introduz de forma reducionista e irresponsável nutrientes hipersolúveis, substâncias tóxicas desconhecidas da natureza e organismos que podem ser chamados de Frankensteins genéticos.
Todos estes insumos tornam as monoculturas do agronegócio sem qualquer função reguladora para o clima, e muito pior, devido à pesada emissão de gases-estufa e perturbações as mais variadas nos ciclos globais de nutrientes, a agricultura tecnificada é extremamente prejudicial para a estabilidade climática.
IHU On-Line – Desde a perspectiva do antropoceno , como avalia a relação do ser humano com as demais formas de vida do planeta hoje? Qual o papel da tecnologia e da ciência nessa relação?
Antonio Donato Nobre – Esta nova era foi batizada de antropoceno porque os seres humanos tornaram-se capazes de alterações massivas na delgada película esférica que nos permitiu a existência e nos dá abrigo. O maior drama da ocupação humana do ambiente superficial da Terra é que tal capacidade está destruindo o sistema de suporte à vida, sistema esse dependente 100% de todas demais espécies as quais o ser humano tem massacrado em sua expansão explosiva.
Infelizmente, na expansão do antropoceno, o conhecimento científico tem sido apropriado de forma gananciosa por mentes limitadas e arrogantes, e empregado no desenvolvimento sinistro de tecnologias e engenharias que por absoluta ignorância tornaram-se incapazes de valorizar o capital natural da Terra. Este comportamento autodestrutivo tem direta relação com a visão de ganho em curto prazo e a ilusão de poder auferida na aplicação autista de agulhas tecnológicas.
IHU On-Line – Em que medida a aproximação entre ciência e saberes indígenas pode contribuir para um novo caminho em termos de preservação do planeta e produção de alimentos?
Antonio Donato Nobre – Cada pesquisador sincero, inteligente e com mente aberta deve reconhecer a máxima milenar da sabedoria socrática: “somente sei que nada sei”. O conhecimento verdadeiro e sem limites internos impõe uma postura sóbria e humilde diante da enormidade da complexidade do mundo e da natureza. Hoje, a ciência mais avançada dá inteiro e detalhado suporte ao saber ancestral de sociedades tribais, que perduraram por milênios. Descer do salto alto da arrogância que fermentou graças ao individualismo permitirá reconhecer essa sabedoria básica de sustentabilidade, preservada no saber indígena.
Para a ciência, a aprender com o saber nativo está a veneração pela sabedoria da Mãe Terra; a intuição despretensiosa que capta o essencial da complexidade em princípios simples e elegantes; e sua capacidade holística e lúdica de articular a miríade de componentes do ambiente em uma constelação coerente e funcional de elos significativos.
IHU On-Line – De que forma a tecnociência e a tecnocracia impactam na forma de observar o planeta? O que isso significa para a humanidade?
Antonio Donato Nobre – A ciência é esta fascinante aventura humana na busca do conhecimento, evoluída aceleradamente a partir do renascimento na Europa. Muitas são suas virtudes e incríveis suas aplicações. No entanto, tais brilhos parecem infelizmente vir acompanhados quase sempre de alucinantes danos colaterais, nem sempre reconhecidos como tal. Na ciência, que gera o conhecimento básico; na tecnologia, que aplica criativamente esse conhecimento; e na engenharia, que transforma conhecimento em realidade, grassa uma anomalia reducionista que permite a hipertrofia de soluções pontuais, desconectadas entre si e do conjunto.
Tal abordagem gera soluções autistas que não se comunicam, tumores exuberantes cuja expansão danifica tudo que está em volta. Assim, a tecnociência olha o mundo com um microscópio grudado em seus olhos, vê pixel, mas ignora a paisagem. Abre caminhos para que ânimos restritos se apropriem de conhecimentos parciais e destruam o mundo. É preciso remover os microscópios dos olhos, olhar o conjunto, perceber as conexões e, assim, aplicar o conhecimento de forma sábia e benéfica.
IHU On-Line – De que forma conceitos como a Ecologia Integral, presentes na Encíclica Laudato Si’ , do papa Francisco, contribuem para o desenvolvimento de uma visão sistêmica do ser humano sobre o planeta? Qual a importância de uma perspectiva multidisciplinar acerca da temática ambiental?
Antonio Donato Nobre – Ecologia Integral deve significar o que o nome diz. Aliás, se não for integral não pode ser denominada ecologia.
Isso porque na natureza não existe isolamento, cada partícula, cada componente, cada organismo e cada sistema interage com os demais, sob o sábio comando das leis fundamentais. Por isso a ação humana pode gerar um acorde harmonioso na grande sinfonia universal, ou — se desrespeitar as leis — tornar-se fonte de perturbação e destruição.
Mais importante do que ser multidisciplinar é ser não-disciplinar, isto é, integrar e dissolver as “disciplinas” em um saber amplo e articulado, sem fronteiras artificiais e domínios de egos. A ciência verdadeira é aquela oriunda do livre pensar, do profundo sentir e do intuir espontâneo. A busca da verdade está ao alcance de todas as pessoas, não é nem deveria ser território exclusivo dos iniciados na ciência. Todos somos dotados da capacidade de inquirir e temos como promessa de realização o dom da consciência. Cientistas são facilitadores, e como tal deveriam servir aos semelhantes com boa vontade, iluminando o caminho do conhecimento, guiando na direção do saber.
IHU On-Line – Como avalia a agroecologia no Brasil hoje? O que a ciência e a tecnologia oferecem em termos de avanços para esse campo?
Antonio Donato Nobre – Agroecologia, agrofloresta sintrópica, sistemas agroflorestais, agricultura biodinâmica, trofobiose, agricultura orgânica, agricultura sustentável etc. compõem um rico repertório de abordagens que convergem na aspiração de emular em agroecossistemas a riqueza e funcionamento dos ecossistemas naturais. Uma parte dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos autistas de até então pode ser aproveitada para essa nova era de agricultura produtiva, iluminada, respeitadora, harmônica e saudável.
É preciso, porém, que o isolamento acabe, que os conhecimentos sejam transparentes, integrados, articulados, simplificados e recolocados em perspectiva. Se as agulhas tecnológicas foram danosas, como os transgênicos, por exemplo, ainda assim serão úteis para sabermos o que “não” fazer. Na compreensão em detalhe das bases moleculares da vida, abrindo portais para consciência sobre a complexidade astronômica existente e atuante em todos os organismos, a humanidade terá finalmente a prova irrefutável para o acerto das abordagens holísticas e ecológicas.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Antonio Donato Nobre – É preciso iluminar e revelar a imensa teia de mentiras criada em torno da revolução verde com seus exuberantes tumores tecnológicos. As falsidades suportadas por corporações, governos, mídia e educação bitoladora desde a mais tenra idade, implantaram um sistema mundial de dominação que, literalmente, enfia goela abaixo da humanidade um menu infernal de alimentos portadores de doenças.
Esse triunfante modelo de negócio não se contenta em somente alimentar mal, o faz via quantidades crescentes de produtos animais, os quais requerem imensas áreas e grandes quantidades de água e outros insumos para serem produzidos.
Com isso a pegada humana no planeta torna-se destrutiva e insuportável, e a consequência já se faz sentir no clima como falência múltipla de órgãos. Apesar disso, creio que ainda temos uma pequena chance de evitar o pior se, como humanidade, dermos apoio irrestrito para a busca da verdade.
Precisamos de uma operação Lava Jato no campo, e a ciência tem todas as ferramentas para apoiar esse esforço de sobrevivência.
Autor: Ecodebate
Fonte: Ecodebate
Sítio Online da Publicação: Ecodebate
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/10/22/a-agricultura-convencional-mata-o-solo-e-afeta-as-mudancas-climaticas/
“Mais importante do que ser multidisciplinar é ser não-disciplinar, isto é, integrar e dissolver as “disciplinas” em um saber amplo e articulado, sem fronteiras artificiais e domínios de egos”, afirma o cientista do CCST/Inpe.
O conhecimento científico não pode cegar a complexa relação entre os inúmeros ecossistemas presentes no planeta. “Tal abordagem gera soluções autistas que não se comunicam, tumores exuberantes cuja expansão danifica tudo que está em volta. Assim, a tecnociência olha o mundo com um microscópio grudado em seus olhos, vê pixel, mas ignora a paisagem”, afirma Antonio Donato Nobre, cientista do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – CCST/Inpe.
“A maior parte da agricultura tecnificada adotada pelo agronegócio é pobre em relação à complexidade natural. Ela elimina de saída a capacidade dos organismos manejados de interferir beneficamente no ambiente, introduzindo desequilíbrios e produzindo danos em muitos níveis”, analisa, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Para Nobre, a saída não é abandonar a ciência e a tecnologia produtiva de alimentos, mas sim associá-las e integrá-las a sistemas complexos de vidas em ecossistemas do Planeta. É entender, por exemplo, que a criação de áreas de plantio e produção agropecuária impactarão na chamada “equação do clima”. “É preciso remover os microscópios dos olhos, olhar o conjunto, perceber as conexões e, assim, aplicar o conhecimento de forma sábia e benéfica”, aponta.
Antonio Donato Nobre é cientista do Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – CCST/Inpe, autor do relatório O Futuro Climático da Amazônia, lançado no final de 2014.
Tem atuado na divulgação e popularização da ciência, em temas como a Bomba biótica de umidade e sua importância para a valorização das grandes florestas, e os Rios Aéreos de vapor, que transferem umidade da Amazônia para as regiões produtivas do Brasil.
Foi relator nos estudos sobre o Código Florestal promovidos pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência – SBPC e Academia Brasileira de Ciências. Possui graduação em Agronomia pela Universidade de São Paulo, mestrado em Biologia Tropical (Ecologia) pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e é PhD em Earth System Sciences (Biogeochemistry) pela University of New Hampshire.
Atualmente é pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e pesquisador Visitante no Centro de Ciência do Sistema Terrestre, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais os impactos da produção agrícola nas mudanças climáticas? Quais os riscos que o modelo do agronegócio (baseado nas grandes propriedades e produção em larga escala de uma só cultura por vez) representa?
Antonio Donato Nobre – A ocupação desordenada das paisagens produz pesados impactos no funcionamento do sistema de suporte à vida na Terra. A expansão das atividades agrícolas — quase sempre associada à devastação das florestas que têm maior importância na regulação climática — tem consequências que se fazem sentir cada vez mais, e serão devastadoras se não mudarmos a prática da agricultura.
A natureza, ao longo de bilhões de anos, evoluiu um sofisticadíssimo sistema vivo de condicionamento do conforto ambiental. Biodiversidade é o outro nome para competência tecnológica na regulação climática. A maior parte da agricultura tecnificada adotada pelo agronegócio é pobre em relação à complexidade natural. Ela elimina de saída a capacidade dos organismos manejados de interferir beneficamente no ambiente, introduzindo desequilíbrios e produzindo danos em muitos níveis.
IHU On-Line – Como aliar agricultura e pecuária à preservação de florestas e outros ecossistemas? Como o novo Código Florestal brasileiro se insere nesse contexto?
Antonio Donato Nobre – Extensa literatura científica mostra muitos caminhos para unir com vantagens agricultura, criação de animais e a preservação das florestas e de outros importantes ecossistemas. Esse conhecimento disponível assevera não haver conflito legítimo entre proteção dos ecossistemas e produção agrícola. Muito ao contrário, a melhor ciência demonstra a dependência umbilical da agricultura aos serviços ambientais providos pelos ecossistemas nativos.
Em 2012, contrariando a vontade da sociedade, o congresso revogou o código florestal de 1965. A introdução de uma nova lei florestal lasciva e juridicamente confusa já está produzindo efeitos danosos, como aumentos intoleráveis no desmatamento e a eliminação da exigência, ou o estímulo à procrastinação, no que se refere à recuperação de áreas degradadas. Mas a proteção e recuperação de florestas tem direto impacto sobre o regime de chuvas.
Incrível, portanto, que a agricultura, atividade que primeiro sofrerá com o clima inóspito que já bate às portas do Brasil, tenha sido justamente aquela que destruiu e continua destruindo os ecossistemas produtores de clima amigo. Enquanto estiver em vigor essa irresponsável e inconstitucional nova lei florestal, a degradação ambiental somente vai piorar.
IHU On-Line – De que forma o conhecimento mais detalhado sobre as formas de vida, e a relação entre elas, em florestas, como a amazônica, pode inspirar formas mais eficientes de produção de alimentos e, ao mesmo tempo, minimizar impactos ambientais?
Antonio Donato Nobre – A biomimética é uma nova área da tecnologia que copia e adapta soluções engenhosas encontradas pelos organismos para resolver desafios existenciais. Janine Benyus, a pioneira popularizadora desse saber, antes ignorado, costuma dizer que os designs encontrados na natureza são resultados de 3,8 bilhões de anos de evolução tecnológica. Durante esse tempo, somente subsistiram soluções efetivas e eficazes, que de saída determinaram a superioridade da tecnologia natural.
Ora, a agricultura precisa redescobrir a potência sustentável e produtiva que é o manejo inteligente de agroecossistemas inspirados nos ecossistemas naturais, ao invés de se divorciar deste vasto campo de conhecimento e soluções, como fez com seus agrossistemas empobrecidos, envenenados e que exploram organismos geneticamente aberrantes.
IHU On-Line – Qual o papel do solo na “composição da equação do clima” no planeta? Em que medida o desequilíbrio do solo pode influenciar nas mudanças climáticas?
Antonio Donato Nobre – Microrganismos e plantas têm incrível capacidade para adaptar-se ao substrato, seja solo, sedimento ou mesmo rocha. Essa adaptação gera simultaneamente uma formação e condicionamento do substrato, o que o torna fértil para a vida vicejar ali. O metabolismo dos ecossistemas, incluindo sua relação com o substrato, tem íntima relação com os ciclos globais de elementos químicos. A composição e funcionamento da atmosfera depende, para sua estabilidade dinâmica, portanto, para o conforto e favorecimento da própria vida, do funcionamento ótimo dos ecossistemas naturais.
Na equação do clima, os ecossistemas são os órgãos indispensáveis que geram a homeostase ou equilíbrio planetário. A agricultura convencional extermina aquela vida que tem capacidade regulatória, mata o solo, fator chave para sua própria sustentação, e introduz de forma reducionista e irresponsável nutrientes hipersolúveis, substâncias tóxicas desconhecidas da natureza e organismos que podem ser chamados de Frankensteins genéticos.
Todos estes insumos tornam as monoculturas do agronegócio sem qualquer função reguladora para o clima, e muito pior, devido à pesada emissão de gases-estufa e perturbações as mais variadas nos ciclos globais de nutrientes, a agricultura tecnificada é extremamente prejudicial para a estabilidade climática.
IHU On-Line – Desde a perspectiva do antropoceno , como avalia a relação do ser humano com as demais formas de vida do planeta hoje? Qual o papel da tecnologia e da ciência nessa relação?
Antonio Donato Nobre – Esta nova era foi batizada de antropoceno porque os seres humanos tornaram-se capazes de alterações massivas na delgada película esférica que nos permitiu a existência e nos dá abrigo. O maior drama da ocupação humana do ambiente superficial da Terra é que tal capacidade está destruindo o sistema de suporte à vida, sistema esse dependente 100% de todas demais espécies as quais o ser humano tem massacrado em sua expansão explosiva.
Infelizmente, na expansão do antropoceno, o conhecimento científico tem sido apropriado de forma gananciosa por mentes limitadas e arrogantes, e empregado no desenvolvimento sinistro de tecnologias e engenharias que por absoluta ignorância tornaram-se incapazes de valorizar o capital natural da Terra. Este comportamento autodestrutivo tem direta relação com a visão de ganho em curto prazo e a ilusão de poder auferida na aplicação autista de agulhas tecnológicas.
IHU On-Line – Em que medida a aproximação entre ciência e saberes indígenas pode contribuir para um novo caminho em termos de preservação do planeta e produção de alimentos?
Antonio Donato Nobre – Cada pesquisador sincero, inteligente e com mente aberta deve reconhecer a máxima milenar da sabedoria socrática: “somente sei que nada sei”. O conhecimento verdadeiro e sem limites internos impõe uma postura sóbria e humilde diante da enormidade da complexidade do mundo e da natureza. Hoje, a ciência mais avançada dá inteiro e detalhado suporte ao saber ancestral de sociedades tribais, que perduraram por milênios. Descer do salto alto da arrogância que fermentou graças ao individualismo permitirá reconhecer essa sabedoria básica de sustentabilidade, preservada no saber indígena.
Para a ciência, a aprender com o saber nativo está a veneração pela sabedoria da Mãe Terra; a intuição despretensiosa que capta o essencial da complexidade em princípios simples e elegantes; e sua capacidade holística e lúdica de articular a miríade de componentes do ambiente em uma constelação coerente e funcional de elos significativos.
IHU On-Line – De que forma a tecnociência e a tecnocracia impactam na forma de observar o planeta? O que isso significa para a humanidade?
Antonio Donato Nobre – A ciência é esta fascinante aventura humana na busca do conhecimento, evoluída aceleradamente a partir do renascimento na Europa. Muitas são suas virtudes e incríveis suas aplicações. No entanto, tais brilhos parecem infelizmente vir acompanhados quase sempre de alucinantes danos colaterais, nem sempre reconhecidos como tal. Na ciência, que gera o conhecimento básico; na tecnologia, que aplica criativamente esse conhecimento; e na engenharia, que transforma conhecimento em realidade, grassa uma anomalia reducionista que permite a hipertrofia de soluções pontuais, desconectadas entre si e do conjunto.
Tal abordagem gera soluções autistas que não se comunicam, tumores exuberantes cuja expansão danifica tudo que está em volta. Assim, a tecnociência olha o mundo com um microscópio grudado em seus olhos, vê pixel, mas ignora a paisagem. Abre caminhos para que ânimos restritos se apropriem de conhecimentos parciais e destruam o mundo. É preciso remover os microscópios dos olhos, olhar o conjunto, perceber as conexões e, assim, aplicar o conhecimento de forma sábia e benéfica.
IHU On-Line – De que forma conceitos como a Ecologia Integral, presentes na Encíclica Laudato Si’ , do papa Francisco, contribuem para o desenvolvimento de uma visão sistêmica do ser humano sobre o planeta? Qual a importância de uma perspectiva multidisciplinar acerca da temática ambiental?
Antonio Donato Nobre – Ecologia Integral deve significar o que o nome diz. Aliás, se não for integral não pode ser denominada ecologia.
Isso porque na natureza não existe isolamento, cada partícula, cada componente, cada organismo e cada sistema interage com os demais, sob o sábio comando das leis fundamentais. Por isso a ação humana pode gerar um acorde harmonioso na grande sinfonia universal, ou — se desrespeitar as leis — tornar-se fonte de perturbação e destruição.
Mais importante do que ser multidisciplinar é ser não-disciplinar, isto é, integrar e dissolver as “disciplinas” em um saber amplo e articulado, sem fronteiras artificiais e domínios de egos. A ciência verdadeira é aquela oriunda do livre pensar, do profundo sentir e do intuir espontâneo. A busca da verdade está ao alcance de todas as pessoas, não é nem deveria ser território exclusivo dos iniciados na ciência. Todos somos dotados da capacidade de inquirir e temos como promessa de realização o dom da consciência. Cientistas são facilitadores, e como tal deveriam servir aos semelhantes com boa vontade, iluminando o caminho do conhecimento, guiando na direção do saber.
IHU On-Line – Como avalia a agroecologia no Brasil hoje? O que a ciência e a tecnologia oferecem em termos de avanços para esse campo?
Antonio Donato Nobre – Agroecologia, agrofloresta sintrópica, sistemas agroflorestais, agricultura biodinâmica, trofobiose, agricultura orgânica, agricultura sustentável etc. compõem um rico repertório de abordagens que convergem na aspiração de emular em agroecossistemas a riqueza e funcionamento dos ecossistemas naturais. Uma parte dos desenvolvimentos científicos e tecnológicos autistas de até então pode ser aproveitada para essa nova era de agricultura produtiva, iluminada, respeitadora, harmônica e saudável.
É preciso, porém, que o isolamento acabe, que os conhecimentos sejam transparentes, integrados, articulados, simplificados e recolocados em perspectiva. Se as agulhas tecnológicas foram danosas, como os transgênicos, por exemplo, ainda assim serão úteis para sabermos o que “não” fazer. Na compreensão em detalhe das bases moleculares da vida, abrindo portais para consciência sobre a complexidade astronômica existente e atuante em todos os organismos, a humanidade terá finalmente a prova irrefutável para o acerto das abordagens holísticas e ecológicas.
IHU On-Line – Deseja acrescentar algo?
Antonio Donato Nobre – É preciso iluminar e revelar a imensa teia de mentiras criada em torno da revolução verde com seus exuberantes tumores tecnológicos. As falsidades suportadas por corporações, governos, mídia e educação bitoladora desde a mais tenra idade, implantaram um sistema mundial de dominação que, literalmente, enfia goela abaixo da humanidade um menu infernal de alimentos portadores de doenças.
Esse triunfante modelo de negócio não se contenta em somente alimentar mal, o faz via quantidades crescentes de produtos animais, os quais requerem imensas áreas e grandes quantidades de água e outros insumos para serem produzidos.
Com isso a pegada humana no planeta torna-se destrutiva e insuportável, e a consequência já se faz sentir no clima como falência múltipla de órgãos. Apesar disso, creio que ainda temos uma pequena chance de evitar o pior se, como humanidade, dermos apoio irrestrito para a busca da verdade.
Precisamos de uma operação Lava Jato no campo, e a ciência tem todas as ferramentas para apoiar esse esforço de sobrevivência.
Autor: Ecodebate
Fonte: Ecodebate
Sítio Online da Publicação: Ecodebate
Data: 22/10/20
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/10/22/a-agricultura-convencional-mata-o-solo-e-afeta-as-mudancas-climaticas/