quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Vacina contra Herpes Zoster é segura em pacientes tratados com antagonista de TNF alfa

O herpes zoster é uma infecção secundária à reativação do vírus Varicella zoster latente, a qual frequentemente ocorre em indivíduos imunossuprimidos e idosos. A vacina de vírus vivo atenuado é capaz de reduzir em até 70% o risco de herpes zoster. No entanto, vacinas com agentes atenuados são, geralmente contraindicadas em pacientes que utilizam imunossupressores e biológicos, devido ao risco teórico de causar uma infecção Varicella-like pela cepa vacinal.

Recentemente, o estudo VaricElla zosteR VaccinE (VERVE) avaliou a segurança e eficácia da vacina de vírus vivo atenuado contra herpes zoster em pacientes com mais de 50 anos de idade em uso de terapia antagonista de TNF alfa e que não haviam previamente recebido a vacina. Foi realizado estudo duplo cego controlado, nos quais os pacientes foram randomizados para receber a vacina Zostavax ou placebo, seguidos até 12 meses. A resposta imune específica foi avaliada por gpELISA (imunidade humoral) e ELISpot (imunidade celular) no soro e células mononucleadas do sangue periférico no basal e 6 semanas após a vacinação. Infecção suspeita por Varicella zoster foi avaliada clinicamente por fotografias digitais e PCR do fluido vesicular.

Vacina contra Herpes Zoster é segura em pacientes tratados com antagonista de TNF alfa

Autor(a):

Referências bibliográficas:

  • Curtis JR, Cofield SS, Bridges SL Jr, Bassler J, Deodhar A, Ford TL, Huffstutter J, Jankeel A, Kivitz A, Kamal S, Lindsey S, Messaoudi I, Mendoza N, Michaud K, Mikuls TR, Ridley D, Shergy W, Siegel SAR, Winthrop KL. The Safety and Immunologic Effectiveness of the Live Varicella-Zoster Vaccine in Patients Receiving Tumor Necrosis Factor Inhibitor Therapy: A Randomized Controlled Trial. Ann Intern Med. 2021 Sep 28.  doi10.7326/M20-6928Ahead of print.



Autor: Filipe Amado
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 30/09/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/vacina-contra-herpes-zoster-e-segura-em-pacientes-tratados-com-antagonista-de-tnf-alfa/

Caso clínico: Cherchez la femme

Há mais de 10 anos, nos ambulatórios de Doenças do Colágeno na UFRJ, recebi um encaminhamento referente a um paciente com diagnóstico de polimiosite. O documento apontava para um homem de 40 anos com creatinofosfoquinase > 2000 U/L, já em uso de Prednisona 1mg/kg, porém sem melhora do quadro.

Fiquei curioso porque uma das características desta doença é a resposta ao uso de corticoide com ação sistêmica. Por que ele não estaria melhorando?

caso clínico

Autor:




Autor: Filipe Amado
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 30/09/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/caso-clinico-cherchez-la-femme/

O que aconteceu com os pacientes graves não Covid-19 durante a pandemia?

Em fevereiro de 2020, o primeiro caso de Covid-19 no Brasil foi diagnosticado. Desde então, vivenciamos ondas relacionadas ao aumento do número de casos, com períodos de redução dos mesmos. Novos leitos de unidades de terapia intensiva (UTI) foram abertos, equipes não habituadas com o paciente grave necessitaram compor equipes de UTIs, assim como lidamos com a sobrecarga relacionada ao momento de elevado número de casos graves.

No entanto, as doenças crônicas e outras patologias agudas que não Covid-19 não deixaram de existir durante a pandemia. A grande dúvida é se esse grupo de pacientes que internou nas UTIs por conta de outras causas que não a Covid-19, durante a pandemia, foram afetados por todo cenário descrito acima.

Buscando elucidar essa dúvida, um grupo brasileiro publicou, na Intensive Care Medicine, no dia 13 de setembro, o estudo “The association of the COVID-19 pandemic and short-term outcomes of non-COVID-19 critically ill patients: an observational cohort study in Brazilian ICUs”. A publicação trouxe uma análise retrospectiva de um grande big data, com dados coletados prospectivamente de pacientes admitidos entre 2011 e 2020 em 165 UTIs de uma rede hospitalar brasileira.

Vale ressaltar que o mesmo grupo contribuiu com estudo sobre fatores relacionados à mortalidade de cerca de 13.000 pacientes com Covid-19 em UTIs brasileiras nos 8 primeiros meses de pandemia. Achados muito interessantes que podem ser acessados aqui.

O que aconteceu com os pacientes graves não Covid-19 durante a pandemia?

Autor(a):

Referências bibliográficas:

  • Zampieri FG, Bastos LSL, Soares M, Salluh JI, Bozza FA. The association of the COVID-19 pandemic and short-term outcomes of non-COVID-19 critically ill patients: an observational cohort study in Brazilian ICUs [published online ahead of print, 2021 Sep 13]. Intensive Care Med. 2021;1-10. doi: 10.1007/s00134-021-06528-6.




Autor: Filipe Amado
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 30/09/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/o-que-aconteceu-com-os-pacientes-graves-nao-covid-19-durante-a-pandemia/

Câncer colorretal: estudo analisa os principais fatores de risco

O câncer colorretal tem apresentado elevação da sua taxa de incidência ao longo dos últimos anos, que acabou culminando com a recomendação de algumas sociedades em diminuir a idade inicial do screening com colonoscopia para 45 anos.

A fisiopatologia do câncer colorretal é multifatorial, e além do componente familiar, fatores externos influenciam no desenvolvimento da neoplasia. Porém não se conhece exatamente a influência de cada fator, nem se a combinações deles podem influenciar no manejo individual.

O trabalho publicado analisou dois bancos de dados envolvendo profissionais de saúde saudáveis em duas coortes, uma com início em 1976 e a outra em 1986. Os dados foram coletados até 2014, e envolviam informações sobre hábitos alimentares e pessoais, além de acesso a informações sobre colonoscopias prévias. Foram retirados da análise pacientes com doença inflamatória intestinal.

Os fatores abaixo foram considerados como risco para o desenvolvimento do câncer colorretal:

 
  • Parente de primeiro grau com câncer colorretal;
  • Tabagismo;
  • IMC >25;
  • Consumo de álcool (maior que 1 dose diária para mulheres ou duas doses para homem);
  • Atividade física;
  • Uso de AAS;
  • Altura;
  • Dieta.

O escore de risco poderia variar de 0-8, e era atribuído um ponto para cada ponto da lista. 

câncer colorretal

Autor:

Referências bibliográficas:

  • Wang K, Ma W, Wu K, et al. Long-Term Colorectal Cancer Incidence and Mortality After Colonoscopy Screening According to Individuals’ Risk Profiles. J Natl Cancer Inst. 2021;113(9):1177-1185. doi:10.1093/jnci/djab041



Autor: Felipe Victer
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 30/09/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/cancer-colorretal-estudo-analisa-os-principais-fatores-de-risco/

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Quais são os fatores de risco para hemorragia digestiva (HD) em pacientes críticos?

Hemorragia digestiva (HD) em decorrência de úlcera de estresse é uma intercorrência com incidência aumentada em pacientes críticos de centros de terapia intensiva (CTIs). Sabendo que eventos de HD nesse perfil de pacientes elevam morbimortalidade, tem-se implementado profilaxia farmacológica para úlcera de estresse, realizada normalmente com inibidores de bomba de prótons (IBPs). Essa medida, embora tenha se mostrado efetiva em reduzir sangramentos do trato gastrointestinal, pode estar relacionada a potenciais riscos como aumento de infecções por clostridium difficile, pneumonia e isquemia miocárdica, sendo sua adoção sistemática em doentes críticos questionada.

Partindo desse pressuposto, tem-se buscado estratificar o perfil de paciente crítico com maior risco de HD e que, consequentemente, seria mais beneficiado com o uso profilático de IBP. Para elucidar essa questão, foi realizada recentemente uma revisão sistemática de literatura seguida de metanálise de estudos cohort e trials clínicos randomizados, objetivando-se definir os preditores de HD em pacientes adultos de CTI.


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Autor(a):

Nathália Ribeiro Pinho de Sousa


Residente em Cirurgia Geral pelo Hospital de Clínicas da Universidade Federal da Fronteira Sul ⦁ Especialização Multiprofissional em Atenção Básica em Saúde pela Universidade Federal de Santa Catarina ⦁ Médica pela Universidade Federal do Ceará ⦁ Exerceu cargo de Presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular ⦁ Foi editora Júnior do Blog do Brazilian Journal of Cardiovascular Surgery ⦁ Desempenhou função de vice-presidente do Departamento Brasileiro das Ligas Acadêmicas de Cirurgia Cardiovascular e de presidente da Liga de Cirurgia Cardiovascular da Universidade Federal do Ceará ⦁ Realizou estágio em Cirurgia Cardíaca na Cleveland Clinic (EUA), Mount Sinai Hospital (EUA), The Heart Hospital at Baylor Plano (EUA), Hôpital Européen Georges Pompidou (França), Herzzentrum Leipzig (Alemanha), Papworth Hospital (Inglaterra), Harefield Hospital (Inglaterra), St. Thomas Hospital (Inglaterra), Manchester Royal Infirmary (Inglaterra), Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (Brasil) e Hospital São Raimundo (Brasil) ⦁ Realizou estágio de pesquisa no William Harvey Heart Centre (Inglaterra) ⦁ Foi bolsista de Graduação Sanduíche pelo Programa Ciência sem Fronteiras na University of Roehampton, Londres ⦁ Foi bolsista de iniciação científica CNPq, UFC e da FUNCAP do Laboratório de Fisiologia da Inflamação e do Câncer (LAFICA).

Referências bibliográficas:
Granholm A, Zeng L, Dionne J, Perner A, Marker S, Krag M, MacLaren R, Ye Z, Møller M, Alhazzani W. Predictors of gastrointestinal bleeding in adult ICU patients: a systematic review and meta-analysis. Intensive Care Medicine. 2019;45(10):1347-1359. doi: 10.1007/s00134-019-05751-6






Autor: Nathália Ribeiro Pinho de Sousa
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/09/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/quais-sao-os-fatores-de-risco-para-hemorragia-digestiva-em-pacientes-criticos/

Terceira dose: Estudo traz informações sobre sua eficácia em Israel

À medida que a pandemia avança no tempo, estudos em relação à necessidade de uma terceira dose de vacina e ao melhor esquema vacinal vão tendo seus resultados publicados.

Apesar de estudos iniciais demonstrarem aumento nos níveis de anticorpos neutralizantes, o benefício de uma dose extra de imunizante na vida real não é ainda conhecido. Um dos países pioneiros em conseguir ampla cobertura vacinal de sua população, Israel iniciou a vacinação com a terceira dose em julho de 2021, inicialmente para indivíduos considerados de alto risco e posteriormente para todos os com 60 anos de idade ou mais. Recentemente, dados que procuraram avaliar o impacto dessa dose adicional nos casos de Covid-19 no país foram publicados na The New England Journal of Medicine.



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Autora:



Isabel Cristina Melo Mendes

Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro


Referências bibliográficas:
Bar-On, YM, Goldberg, Y, Mandel, M, Bodenheimer, O, Freedman, L, Kalkstein, N, Mizrahi, B, Alroy-Preis, S, Ash, N, Milo, R, Huppert, A. Protection of BNT162b2 Vaccine Booster against Covid-19 in Israel. September 15, 2021. doi: 10.1056/NEJMoa2114255







Autor: Isabel Cristina Melo Mendes
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/09/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/pucpr-inteligencia-artificial-reduz-sobrecarga-do-sistema-de-saude-por-conta-da-pandemia/

PUCPR: Inteligência artificial reduz sobrecarga do sistema de saúde por conta da pandemia

Atendimentos realizados em plataformas de telessaúde alimentadas por inteligência artificial estão auxiliando a aliviar a sobrecarga do sistema de saúde durante a pandemia do novo coronavírus no país, aponta um estudo brasileiro publicado em junho deste ano.

Um grupo de pesquisadores da Escola de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e do Instituto Laura Fressatto analisou dados de mais de 20 mil atendimentos realizados entre julho a outubro do ano passado, nas cidades de Curitiba, São Bernardo do Campo e Catanduva, as duas últimas em São Paulo.



Úrsula Neves


Jornalista formada pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), pós-graduada em Comunicação com o Mercado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) e em Gestão Estratégica da Comunicação pelo Instituto de Gestão e Comunicação (IGEC/FACHA)

Referências bibliográficas:
Covid-19: Inteligência artificial reduz sobrecarga do sistema de saúde, aponta pesquisa da PUCPR. 10 de agosto de 2021. Disponível em: https://www.pucpr.br/noticias/covid-19-inteligencia-artificial-reduz-sobrecarga-do-sistema-de-saude-aponta-pesquisa-da-pucpr/
Morales Hugo M. P. et al. COVID-19 in Brazil—Preliminary Analysis of Response Supported by Artificial Intelligence in Municipalities. Frontiers in Digital Health. VOLUME 3. doi: 10.3389/fdgth.2021.648585





Autor: Úrsula Neves
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/09/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/pucpr-inteligencia-artificial-reduz-sobrecarga-do-sistema-de-saude-por-conta-da-pandemia/

Origens e Fundamentos da MBE – Parte 2: Entendendo a real importância de aprender a analisar criticamente a validade de uma evidência científica

Como vimos anteriormente, o movimento da medicina baseada em evidências (MBE) nasceu como uma iniciativa educacional na McMaster, onde os jovens médicos residentes eram ensinados a analisar criticamente um estudo científico. Assim, seria possível estarem mais aptos a tomar decisões cientificamente informadas e não somente fundamentadas na opinião individual. Dessa forma, o segundo princípio fundamental da MBE afirma que a mesma fornece orientação para decidir se a evidência é mais ou menos confiável. Quando se refere a essa confiança que se pode ter em relação a uma evidência, tal princípio enfatiza a existência de critérios explícitos e objetivos que avaliam a validade metodológica dos produtos advindos da pesquisa clínica, notadamente os estudos clínicos individuais, as revisões sistemáticas e os guidelines.

Embora atualmente haja vários modelos de estudos clínicos, na grande maioria das vezes nos deparamos com os seguintes: estudos randomizados, estudos seccionais (ou transversais), estudos caso-controle e estudos observacionais de coorte. Quanto à análise crítica da validade metodológica devemos fazer uma checagem no início, no meio e no fim de cada estudo.



Fabio Tuche


Especialista em Cardiologia-Socied. Brasileira de Cardiologia/AMB (2003) ⦁
Tutor do Workshop Brasileiro de Prática Clínica Baseada em Evidências desde 2006 ⦁
Doutor em Ciências-UERJ / Univ. de Saarland/Alemanha(2006-2010) ⦁
MBA em Gestão Empresarial: Ênfase em Saúde – FGV (2014-2016)


Referências bibliográficas:
Guyatt, G., Rennie, D., Meade, M.O. & Cook, D.J. (2014). Users’ Guides to the Medical Literature: A Manual for Evidence Based Clinical Practice. 3rd edn. New York: McGraw-Hill. https://jamaevidence.mhmedical.com/Book.aspx?bookId=847
Murad MH, Montori VM, Ioannidis JP, et al. How to read a systematic review and meta-analysis and apply the results to patient care: users’ guides to the medical literature. JAMA. 2014;312(2):171-179. doi: 10.1001/jama.2014.5559
Tikkinen KAO, Guyatt GH. Understanding of research results, evidence summaries and their applicability-not critical appraisal-are core skills of medical curriculum. BMJ Evid Based Med. 2021;26(5):231-233. doi: 10.1136/bmjebm-2020-111542
Bassler D, Briel M, Montori VM, et al. Stopping randomized trials early for benefit and estimation of treatment effects: systematic review and meta-regression analysis. JAMA. 2010;303(12):1180-1187. doi: 10.1001/jama.2010.310




Autor: Fabio Tuche
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/09/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/origens-e-fundamentos-da-mbe-parte-2-entendendo-a-real-importancia-de-aprender-a-analisar-criticamente-a-validade-de-uma-evidencia-cientifica/

segunda-feira, 27 de setembro de 2021

Crise hídrica deve se manter até 2022



Crise hídrica deve se manter até 2022

Com o cenário de crise hídrica pelo qual o País vem passando, as chuvas de primavera são aguardadas com ansiedade. No entanto, mesmo com a chegada delas, a previsão é que os reservatórios continuem abaixo dos níveis indicados

Pedro Luiz Côrtes prevê que a crise de abastecimento se estenda durante o primeiro semestre do próximo ano, mesmo com a ocorrência de chuvas dentro dos padrões normais

Jornal da USP no Ar / Jornal da USP no Ar 1ª edição / Rádio USP

Com o cenário de crise hídrica pelo qual o País vem passando, as chuvas de primavera são aguardadas com ansiedade. No entanto, mesmo com a chegada delas, a previsão é que os reservatórios continuem abaixo dos níveis indicados. O prognóstico é que a recuperação dos sistemas de abastecimento levará cerca de dois anos, sendo que o cenário de estiagem deve se estender pelo menos até o primeiro semestre de 2022.

“Com o início da primavera, nós teremos a volta das chuvas e isso dará a falsa impressão de retorno à normalidade”, contou ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP. Segundo ele, as chuvas ficaram dentro das médias anuais durante a estação e, com a chegada do verão, se tornaram irregulares, com chances de períodos de estiagem. Dessa forma, os reservatórios não irão restabelecer seus níveis ideais para acabar com a crise.

A previsão é que a crise de abastecimento se estenda durante o primeiro semestre de 2022, mesmo com a ocorrência de chuvas dentro dos padrões normais. Côrtes explica, no entanto, que nos últimos anos vêm acontecendo uma redução no volume anual de chuvas, uma das consequências do desmatamento da Amazônia: “A tendência é que essa situação de redução se mantenha”, afirma o professor.

Na região metropolitana de São Paulo, o prognóstico é o mesmo das demais regiões do País. A estiagem prevista no verão irá afetar principalmente o sistema Cantareira e parte do sistema do Alto Tiete. Côrtes explica que, nos últimos dez anos, esses sistemas tiveram um índice de chuvas dentro das médias anuais e a tendência é que o cenário se mantenha. “Diante desse prognóstico climático desfavorável, permanece o alerta de uma crise de abastecimento em 2022, infelizmente”, conclui Côrtes.


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in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/09/2021



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/09/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/09/27/crise-hidrica-deve-se-manter-ate-2022/

Comportamento humano sabota estratégias de redução de dióxido de carbono



Comportamento humano sabota estratégias de redução de dióxido de carbono

“Precisamos pensar nessas soluções de forma mais holística, é preciso pensar em reestruturar a sociedade de forma a torná-la mais eficiente em geral”

Nos últimos 150 anos, os humanos bombearam quantidades extraordinárias de gases do efeito estufa, como o CO 2 , na atmosfera e aqueceram o planeta a uma taxa alarmante. Para desacelerar as mudanças climáticas, as sociedades tendem a se concentrar em duas soluções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa: melhorar a eficiência energética e desenvolver e usar fontes de energia renováveis.

A agenda climática do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, inclui um grande esforço para melhorar os edifícios para serem mais eficientes e propõe o investimento de bilhões de dólares em pesquisas de energia limpa. Mas essas estratégias estão funcionando como esperamos?

Por Lisa Potter*, Universidade de Utah

Um novo estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Utah comparou as emissões de CO 2 de cada estado dos EUA com seus investimentos nas duas soluções de 2009 a 2016. Os autores não encontraram nenhuma diferença estatisticamente significativa entre a melhoria da eficiência energética e o desenvolvimento de energia renovável – ambos resultaram em algumas reduções de CO 2 emissões ao considerar todos os setores da sociedade, embora o investimento em energia renovável tenha sido um pouco mais impactante.

Os resultados revelaram duas surpresas. Em primeiro lugar, as políticas dos governos estaduais destinadas a ajudar os consumidores a melhorar a eficiência energética não tiveram efeito sobre a emissão de CO 2 . Em vez disso, os estados com menor consumo de energia em toda a economia por cada unidade de produção econômica (produto interno bruto per capita, PIB) emitiram níveis mais baixos de gases de efeito estufa.

Em segundo lugar, o investimento em fontes de energia renováveis levou ao aumento dos níveis de emissões de CO 2 no setor residencial. Esses resultados são evidências de um fenômeno bem conhecido chamado efeito rebote, que descreve quando as pessoas respondem à economia de energia consumindo mais, negando o benefício da redução de CO 2 .

“Muitos analistas de energia tendem a ver as emissões como um problema técnico que requer uma solução técnica; construir veículos mais eficientes, construir casas para usar menos energia. O que eles não consideram é o comportamento humano. Se você tem um carro híbrido , o dinheiro que você economiza com gasolina pode permitir que você dirija mais “, disse o principal autor do estudo, Lazarus Adua, professor assistente de sociologia nos EUA.” Meu objetivo aqui é informar aos formuladores de políticas que esse efeito rebote é um problema, e eles precisa resolver isso. Se você está prestando atenção apenas em melhorar a eficiência e investir em energias renováveis, não vai resolver o problema. ”

O estudo foi publicado em 25 de agosto de 2021 na revista Global Environmental Change .
Melhoria da eficiência energética e produção de energia renovável

Para avaliar o investimento em melhoria da eficiência energética de cada estado, os autores usaram duas medidas. A primeira é a avaliação do Conselho Americano de Economia com Eficiência Energética dos estados dos EUA em iniciativas de políticas destinadas a melhorar a eficiência energética em residências ou outros edifícios. O segundo é a produção econômica do estado por cada Unidade Térmica Britânica (BTU) de energia consumida. Isso revela a eficiência com que a economia usa a energia para produzir cada dólar do PIB. Para avaliar a produção de energia renovável, Adua e sua equipe calcularam a proporção do consumo total de energia de um estado a partir de fontes renováveis, como eólica, solar, geotérmica ou hidrelétrica.

Eles analisaram o impacto de cada solução nas emissões de CO 2 em quatro setores individualmente – residencial, comercial, industrial, transporte – e o impacto em todos os setores combinados.

Os resultados mostram que uma melhoria de 1% na produção econômica por BTU resulta na redução das emissões de CO 2 nos setores residencial, industrial e de transporte, confirmando que a melhoria geral na eficiência da produção em toda a sociedade é benéfica. Não há efeito rebote porque um indivíduo provavelmente não perceberá se economizará dinheiro devido a uma economia mais eficiente. Em contraste, as pontuações das políticas de eficiência energética de um estado não tiveram efeito estatístico nas emissões de CO 2 em nenhum dos setores. Isso provavelmente se deve ao fato de que funcionaram muito bem para economizar o dinheiro dos moradores e podem tê-los incentivado a consumir mais em outros lugares, disse Adua.

A energia renovável tem uma história mais complicada. O estudo descobriu que aumentar a energia renovável em 1% resultou em uma redução de 0,69% no CO 2 quando todos os setores foram combinados. No entanto, o setor residencial sozinho teve o resultado oposto – um aumento de 1% na quantidade de energia renovável levou a um aumento de 0,36% nas emissões de CO 2 . Superficialmente, o resultado parece contraintuitivo. Mas para o sociólogo Adua, isso faz todo o sentido.

“É inesperado, mas não é muito surpreendente dado o que eu sei sobre as atitudes humanas em relação ao consumo e ao uso de recursos. Quando as pessoas pensam que já estão fazendo o certo pelo meio ambiente, elas começam a perder de vista outras formas de prejudicar o meio ambiente. . Eles também podem se sentir justificados para consumir um pouco mais. E antes que você perceba, o benefício do painel solar é basicamente anulado pelo aumento do consumo em outras áreas “, disse Adua.

O próximo passo para Adua e os autores é aprofundar algumas das descobertas, com foco no setor residencial. Com mais financiamento, ele gostaria de conduzir estudos do tipo pesquisa com entrevistados que têm energia renovável em casa versus aqueles sem ela, e avaliar suas atitudes em relação à proteção ambiental geral. Além disso, Adua está desenvolvendo um livro que analisa os pontos positivos e negativos dos métodos propostos para mitigar as mudanças climáticas , incluindo táticas para remover fisicamente o CO 2 da atmosfera.

“Cada solução para a mudança climática tem consequências. Investimentos em energias renováveis significam que devemos expandir a mineração para obter os metais necessários para as baterias. Algumas minas propostas estão em terras sagradas para os nativos americanos e podem causar poluição ambiental”, disse Adua. “Meu objetivo é fornecer aos formuladores de políticas o máximo de informações possível para tomar decisões sobre como enfrentar a crise climática.”

Adua reiterou que focar apenas em soluções técnicas não resolverá a crise climática.

“Precisamos pensar nessas soluções de forma mais holística, é preciso pensar em reestruturar a sociedade de forma a torná-la mais eficiente em geral”, disse Adua. “Mas quando você fala sobre mudança estrutural, as pessoas estão apenas pensando, ‘isso vai destruir nosso estilo de vida.’ Mas se não resolvermos esse problema hoje, o meio ambiente mudará nosso modo de vida para nós. Talvez não nossa geração, mas nossos descendentes, o meio ambiente mudará seu modo de vida. ”

Referência:

Lazarus Adua, Karen Xuan Zhang, Brett Clark,
Seeking a handle on climate change: Examining the comparative effectiveness of energy efficiency improvement and renewable energy production in the United States,
Global Environmental Change, Volume 70, 2021, 102351, ISSN 0959-3780,
https://doi.org/10.1016/j.gloenvcha.2021.102351


Henrique Cortez *, tradução e edição.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/09/2021






Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/09/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/09/27/comportamento-humano-sabota-estrategias-de-reducao-de-dioxido-de-carbono/

Atitudes e Ações Resilientes no VII CNEA & IX ENBio



Atitudes e Ações Resilientes no VII CNEA & IX ENBio
O tema geral desde ano “Atitudes e Ações Resilientes para o (re)Equilíbrio dos Sistemas Socioambientais”

Atitudes e Ações Resiulientes no VII CNEA & IX ENBio

Profa. Dra. Thaís de Oliveira Guimarães

Geógrafa. UPE – Campus Petrolina

thais.guimaraes@upe.br

Entre os dias 15 e 18 de setembro ocorreu o VII Congresso Nacional de Educação Ambiental e IX Encontro Nordestino de Biogeografia. Os eventos ocorrem simultaneamente a cada dois anos e, neste ano, excepcionalmente, de forma remota, reunindo palestrantes do Brasil e também da América do Sul.

O tema geral desde ano “Atitudes e Ações Resilientes para o (re)Equilíbrio dos Sistemas Socioambientais”, foi apresentado na Conferência Master, na manhã do primeiro dia, pelo idealizador do evento, o Prof. Dr. Giovanni Seabra. Como convidada externa, a ativista ambiental e escritora chilena Hema”ny Molina ministrou uma concorrida palestra na Mesa Redonda “Saber Tradicional, Patrimônio Natural e Etnocultural”. .

A solenidade de abertura do CNEA foi conduzida pelo Prof. Dr. Paulo Sérgio, da Universidade de Uberlândia, palestrante e cerimonialista do evento. Na ocasião, o ator e radialista Osvaldo Travassos narrou o texto “Outras Palavras”, de autoria do Professor Giovanni Seabra, discorrendo sobre os fenômenos socioambientais recorrentes desde a realização do I Congresso Nacional de Educação Ambiental, em 2009. Na primeira conferencista do dia, o Prof. Dr. Genebaldo Freire Dias da UCB suscitou questões e promoveu diálogos e debates sobre a Percepção Ambiental e Estesia, conduzindo os participantes a uma profunda reflexão sobre o “existir”.

O primeiro dia do evento foi marcado por temas complexos e importantes para o cenário ambiental brasileiro. Tratou-se das questões relacionadas ao desenvolvimento sustentável na economia do consumo, educação ambiental no mundo atual, água – saneamento e qualidade de vida. O encerramento do dia foi marcado por duas conferências, a primeira com o título: “Monitoramento da Amazônia e seu Desenvolvimento Sustentável”, que teve como conferencista o Prof. Dr. Ricardo Galvão da USP e ex-diretor do INPE/Brasil.

O professor Galvão destacou a importância da Floresta Amazônica e dos benefícios econômicos e socioambientais a partir da manutenção da floresta e das comunidades tradicionais. Demonstrou grande preocupação com os avanços das queimadas e do desmatamento na região e destacou a credibilidade dos dados de satélites coletados e disponibilizados pelo INPE. Questionando a eficiência no trato com o meio ambiente deste governo federal e dos anteriores, enfatizou a importância dos investimentos em pesquisas e na ciência, principalmente em um cenário negacionista como o atual.

Os trabalhos do primeiro dia foram finalizados com a conferência: agroecologia crítica e transformadora apresentada pelo Prof. Dr. Afonso Peche Filho (IAC).

A partir do segundo dia de evento teve início os Grupos de Trabalho, divididos em eixos temáticos e envolvendo desde alunos de ensino técnico, de graduação, pós-graduandos e professores, compartilhando seus trabalhos e experiências no âmbito do ensino, da pesquisa e da extensão. Durante todo o evento foram apresentados dezenas de trabalhos, distribuídos em 22 eixos temáticos. Destes, aproximadamente 200 artigos comporão os livros em fase de editoração, a ser publicado em breve, pela Editora Barlavento, no início de 2022.

Além das apresentações de trabalhos, as mesas redondas e conferências aconteceram em todos os dias de eventos. No dia 16, ocorreram exposições e debates acerca da “Saúde Ambiental e Humana na Sociedade Desigual”, “Soberania e Segurança Alimentar”, “Dinâmica da Paisagem na Caatinga – algumas reflexões”, e, para encerrar as atividades do segundo dia, a conferência “Vulnerabilidades e Desafios na APA Aldeia-Beberibe e a armação do Arco Viário Metropolitano do Recife”, proferida pelo Engenheiro Eletricista Herbert Tejo.

O terceiro dia de evento foi marcado por discussões em torno da “Reciclagem e Reutilização de Produtos na Economia Circular”, assunto atual e de extrema preocupação, principalmente nos grandes centros urbanos, uma vez que o descarte de resíduos tem crescido cada vez mais, acompanhando uma lógica de consumo capitalista. Além da reciclagem e reutilização de produtos, ainda foram discutidos a questões envolvendo o Mundo Animal, com ênfase na educação, esporte e segurança, um tema inédito no CNEA & ENBio e que trouxe grandes contribuições ao evento.

Com um olhar voltado mais para a biodiversidade, os debates da sexta-feira se encerraram com duas grandes conferências: o “Cultivo de Rosas do Deserto em Tempos de Pandemia”, ministrada pelo Prof. Dr. Hermeson Cassiano de Oliveira (UESPI), que destacou o reflexo da pandemia em nosso cotidiano e o debate sobre a “Ecologia Aplicada à Restauração de Ecossistemas Aquáticos”, proferida pela Profª. Dra. Maria Cristina Basílio Crispim da Silva (UFPB).

O último dia de evento foi destacado pelas apresentações de trabalhos pela manhã e à tarde uma mesa redonda e a conferência de encerramento. A mesa redonda abordou as questões indígenas, ambientais e territoriais. Teve como título “Saber Tradicional, Patrimônio Natural e Etnocultural”, e os debatedores trouxeram suas experiências e vivências na Floresta e nos territórios indígenas. Participaram do debate o jornalista e pesquisador Éder Rodrigues dos Santos (UFRR), a Prof.ª Dra. Márcia Teixeira Falcão (UERR), a geógrafa Neidinha Suruí (Associação Kanindé) e a ativista ambiental Hema’ny Molina Vargas, explanando a luto dos povos Siky’nan da Terra do Fogo.

O encerramento do evento teve como atividade a conferência apresentada pelo Prof. Dr. Marcos Sorrentino da UFBA, que apresentou o tema “Políticas Públicas na Educação Ambiental”, trazendo ao debate acadêmico uma realidade desafiadora do “fazer a Educação Ambiental”, de como e por quem. O conferencista nos fez refletir sobre questões cotidianas e o desafio de transformá-las em políticas públicas.

O CNEA VII teve como ponto alto do encerramento a exposição do Prof. Dr. Giovanni Seabra sobre as questões ambientais, sociais, econômicas e políticas relacionadas ao governo federal e as contribuições dos monitores e organizadores que conseguiram reunir 350 participantes nos dois eventos virtuais.

Diante do cenário ambiental apresentado durante os quatro dias de atividades do VII CNEA & IX ENBio, fica a esperança em dias melhores e a certeza de que estamos trabalhando no caminho certo, que mesmo com todas as dificuldades somos um número expressivo de professores, pesquisadores, alunos e acima de tudo, cidadãos, caminhando com um objetivo em comum, a manutenção da nossa saúde e acima e a saúde do planeta, nossa grande e dinâmica casa.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/09/2021





Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/09/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/09/27/atitudes-e-acoes-resilientes-no-vii-cnea-ix-enbio/

Corte das despesas militares e descarbonização da economia

Corte das despesas militares e descarbonização da economia, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“Poucos estão dispostos a admitir que a maioria dos problemas modernos são insolúveis”
John N. Gray
O mundo chegou a quase US$ 2 trilhões de gastos militares no ano de 2020, em plena pandemia.

Mesmo a economia internacional estando em recessão em 2020 – com aumento do desemprego, da pobreza e da fome – não faltaram recursos para os gastos de guerra, de morte e segurança. O ano de 2020 também registrou as temperaturas mais altas desde a o início dos registros em 1880 e a concentração de CO2 bateu todos os recordes do Holoceno (últimos 12 mil anos). Portanto, em vez de investir na descarbonização da economia, os grandes países estão fazendo investimentos social e ambientalmente improdutivos em despesas militares.

O relatório de 2020 do Instituto Internacional para a Investigação da Paz de Estocolmo (SIPRI – Stockholm International Peace Research Institute), publicado em 21/04/2021, mostra que os gastos militares no mundo, no ano passado, chegaram à impressionante cifra de US$ 1.981.000.000.000,00 (um trilhão e novecentos e oitenta e um bilhão de dólares). Os cinco maiores gastadores em 2020, que juntos responderam por 62% dos gastos militares globais, foram os Estados Unidos, China, Índia, Rússia e Reino Unido, como mostra o gráfico abaixo.




O aumento de 2,6% nos gastos militares mundiais ocorreu em um ano em que o produto interno bruto (PIB) global encolheu 4,4% (segundo o Fundo Monetário Internacional). Como resultado, os gastos militares como parcela do PIB – o fardo militar – alcançaram uma média global de 2,4 por cento em 2020, ante 2,2 por cento em 2019. Este foi o maior aumento ano a ano no fardo militar desde a crise financeira e econômica global em 2009.

Embora os gastos militares tenham aumentado globalmente, alguns países realocaram explicitamente parte de seus gastos militares planejados para a resposta à pandemia, como o Chile e a Coreia do Sul. As despesas militares dos EUA chegaram a cerca de US$ 778 bilhões no ano passado, representando um aumento de 4,4% em relação a 2019. Como o maior gastador militar do mundo, os EUA responderam por 39 por cento do total das despesas militares em 2020. Este foi o terceiro ano consecutivo de crescimento nos gastos militares dos EUA, após sete anos de reduções contínuas.

Os recentes aumentos nos gastos militares dos EUA podem ser atribuídos principalmente a pesados investimentos em pesquisa e desenvolvimento e a vários projetos de longo prazo, como a modernização do arsenal nuclear dos EUA e a aquisição de armas em grande escala. Nos últimos 20 anos os EUA aplicaram trilhões de dólares em guerras fracassadas como no Iraque e no Afeganistão.

As despesas militares da China aumentam pelo 26º ano consecutivo. O Instituto SIPRI estima que os gastos militares da China, o segundo maior do mundo, totalizaram US$ 252 bilhões em 2020. Isso representa um aumento de 1,9% em relação a 2019 e 76% na década de 2011-2020. Os gastos da China aumentaram por 26 anos consecutivos, a mais longa série de aumentos ininterruptos de qualquer país no Banco de Dados de Despesas Militares do SIPRI. O crescimento contínuo dos gastos chineses se deve em parte aos planos de modernização e expansão militar de longo prazo do país, em linha com o desejo declarado de alcançar outras potências militares importantes.

Quase todos os membros da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) viram o seu fardo militar aumentar em 2020. Como resultado, 12 membros da OTAN gastaram 2% ou mais do seu PIB com os seus militares, a meta de gastos da diretriz da Aliança, em comparação com 9 membros em 2019. A França, por exemplo, o oitavo maior gastador globalmente, ultrapassou o limite de 2% pela primeira vez desde 2009.

Os gastos militares da Rússia aumentaram 2,5% em 2020, chegando a US$ 61,7 bilhões. Este foi o segundo ano consecutivo de crescimento. No entanto, os gastos militares reais da Rússia em 2020 foram 6,6% menores do que seu orçamento militar inicial, um déficit maior do que nos anos anteriores. Com um total de US$ 59,2 bilhões, o Reino Unido se tornou o quinto maior gastador em 2020. Os gastos militares do Reino Unido foram 2,9% maiores do que em 2019, mas 4,2% menores do que em 2011. A Alemanha aumentou seus gastos em 5,2%, para US$ 52,8 bilhões , tornando-se o sétimo maior gastador em 2020. Os gastos militares da Alemanha foram 28% maiores do que em 2011. Os gastos militares em toda a Europa aumentaram 4% em 2020.

Além da China, Índia ($ 72,9 bilhões), Japão ($ 49,1 bilhões), Coreia do Sul ($ 45,7 bilhões) e Austrália ($ 27,5 bilhões) foram os maiores gastadores militares na região da Ásia e Oceania. Todos os quatro países aumentaram seus gastos militares entre 2019 e 2020 e ao longo da década de 2011-2020. Os gastos militares na África Subsaariana aumentaram 3,4% em 2020, chegando a US$ 18,5 bilhões. Os maiores aumentos nos gastos foram feitos pelo Chade (+31 por cento), Mali (+22 por cento), Mauritânia (+23 por cento) e Nigéria (+29 por cento), todos na região do Sahel, bem como Uganda (+46%).

Os gastos militares na América do Sul caíram 2,1 por cento, para US$ 43,5 bilhões em 2020. A redução foi em grande parte devido a uma queda de 3,1% nos gastos do Brasil, o maior gastador militar da sub-região. Os gastos militares combinados dos 11 países do Oriente Médio para os quais o SIPRI tem gastos diminuíram 6,5% em 2020, para US$ 143 bilhões. Oito dos nove membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) cortaram seus gastos militares em 2020. Os gastos de Angola caíram 12%, os da Arábia Saudita em 10% e os do Kuwait em 5,9%. O exportador de petróleo não pertencente à OPEP, Bahrein, também cortou seus gastos em 9,8%. Os países com os maiores aumentos na carga militar entre os 15 maiores gastadores em 2020 foram Arábia Saudita (+0,6 ponto percentuais), Rússia (+0,5 ponto percentuais), Israel (+0,4 ponto percentuais) e os EUA (+0,3 ponto percentuais) .

Todos estes dados do Stockholm International Peace Research Institute (SIPRI) mostram que as prioridades do mundo não são a geração de emprego, a redução da pobreza e da fome e a resolução dos problemas ambientais.

Mas, paralelamente, novo relatório pela Agência Internacional de Energia mostra que o futuro da energia e do clima mundial depende cada vez mais de as economias emergentes e em desenvolvimento serem capazes de fazer uma transição bem-sucedida para sistemas de energia mais limpos, exigindo uma mudança radical nos esforços globais para mobilizar e canalizar o enorme aumento de investimento necessário. O relatório especial – realizado em colaboração com o Banco Mundial e o Fórum Econômico Mundial – estabelece uma série de ações para permitir que esses países superem os principais obstáculos que enfrentam para atrair financiamento para construir sistemas de energia limpos, modernos e resilientes que podem impulsionar suas economias em crescimento nas próximas décadas.

O investimento anual em energia limpa em economias emergentes e em desenvolvimento precisa aumentar em mais de sete vezes – de menos de US$ 150 bilhões em 2020 para mais de US$ 1 trilhão até 2030 para colocar o mundo no caminho certo para alcançar emissões líquidas zero até 2050, de acordo com o relatório, Financing Clean Energy Transitions in Emerging and Developing Economies.

Ou seja, se os diversos governos do mundo cortarem pela metade os gastos militares e investirem este dinheiro na descarbonização da economia seria possível evitar um colapso ambiental global. Reduzir os gastos de guerra de US$ 2 trilhões para US$ 1 trilhão e investir estes recursos na mudança da matriz energética poderia contribuir substancialmente para um mundo mais pacífico e com mais sustentabilidade ambiental.

Contudo, os bilionários do mundo estão brincando de viajar para o espaço e os maiores países estão gastando cada vez mais em despesas militares e na corrida espacial. Só ingênuos podem achar que todos estes gastos improdutivos e estes investimentos necrófilos vão reverter a favor do bem-estar humano e ambiental. Na verdade, a civilização humana – que comanda o Antropoceno – está caminhando aceleradamente para o colapso ecológico e civilizacional. A janela de oportunidade sair da rota do abismo está se fechando e o efeito dominó pode desencadear desastres em cascata.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

World military spending rises to almost $2 trillion in 2020, SIPRI for the media, 26 April 2021
https://www.sipri.org/media/press-release/2021/world-military-spending-rises-almost-2-trillion-2020

It’s time to make clean energy investment in emerging and developing economies a top global priority, IEA, 9 June 2021
https://www.iea.org/news/it-s-time-to-make-clean-energy-investment-in-emerging-and-developing-economies-a-top-global-priority

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/09/2021





Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/09/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/09/27/corte-das-despesas-militares-e-descarbonizacao-da-economia/

sexta-feira, 24 de setembro de 2021

Sul do Amazonas é a nova fronteira do desmatamento

Sul do Amazonas é a nova fronteira do desmatamento

Sul do Amazonas – Imagens captadas na semana passada entre Porto Velho (RO) e Lábrea (AM) mostram uma das regiões mais conservadas da floresta amazônica em franca devastação.

Por cinco dias, entre 13 a 17 de setembro, a Aliança Amazônia em Chamas comprovou o alerta e o temor de muitos pesquisadores: o sul do Amazonas, o maior e mais conservado estado em meio à floresta, é a nova fronteira do desmatamento. “Essa região tem se destacado pelo avanço veloz do desmatamento, que adentra cada vez mais em territórios bem conservados e vitais para mitigar a crise climática e evitar o colapso da biodiversidade no planeta”, explica Cristiane Mazzetti, do Greenpeace, organização que compõe a aliança ao lado de Amazon Watch e Observatório do Clima.

Participaram da expedição pesquisadores, jornalistas e três artistas brasileiros — Rafael Cardoso (ator), Giovanna Lancellotti (atriz) e Vitão (cantor e compositor). A rota partia de Porto Velho, segundo município em quantidade de queimadas — com 2.700 focos, de 1º de janeiro a 18 de setembro, de acordo com dados do Inpe — e seguia até Lábrea, recordista em queimadas no país, com 2.946 focos no mesmo período. Depois de passar pela Terra Indígena Jacareúba (AM) e pelo Parque Nacional Mapinguari (AM e RO), foi possível observar extensas áreas desmatadas, de 1.550 a 2.450 hectares, equivalentes a 2.012 e 3.181 campos de futebol respectivamente, e que estão entre os cinco maiores desmatamentos do Amazonas.

Sob o governo Bolsonaro, o Amazonas superou Rondônia como o terceiro estado com o maior desmatamento, segundo o sistema Prodes, do Inpe. “Presenciamos a destruição da floresta em larga escala, incluindo grandes polígonos de desmatamentos, focos ativos de calor e pistas de pouso clandestinas. Em Porto Velho, avistamos grandes áreas para o cultivo de grãos, atividade que está se consolidando cada vez mais no norte de Rondônia e adentrou recentemente o sul do Amazonas, com plantio de soja em Humaitá”, conta Mazzetti, que acompanhou as atividades.

Na parte terrestre, a expedição passou por Candeias do Jamari, segundo município mais desmatado em Rondônia, entre agosto de 2020 e julho de 2021, ficando atrás apenas de Porto Velho. Lá, o grupo encontrou serrarias e muitos caminhões carregados de toras de árvores gigantes, além de gado pastando junto a áreas recém queimadas. “Vimos lado a lado todas as etapas do processo de desmatamento: a extração da madeira mais valiosa, o desmatamento e posterior queima da vegetação que fica secando ao sol para o plantio de pasto e o gado ocupando áreas que até pouco tempo eram cobertas pela floresta. É uma incongruência derrubar e queimar a floresta com o maior biodiversidade do mundo, para dar lugar a duas espécies: o gado e a grama”, diz Rômulo Batista, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace Brasil.

Nessa região, ficam duas Unidades de Conservação (UCs), a Flona Jacundá e a Estação Ecológica de Samuel, que já apresentam registros de invasão. Para os especialistas, a aprovação pelo governador Marcos Rocha do projeto de lei que reduziu em 80% os limites da reserva extrativista (Resex) Jaci-Paraná para beneficiar invasores, pode ter impulsionado as invasões às UCs. A Resex foi a Unidade de Conservação que mais queimou em Rondônia neste ano e cuja situação deve se agravar ainda mais nos próximos meses.

Ane Alencar, diretora de ciência do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), integrava o grupo e se surpreendeu com a ocupação indiscriminada de terras públicas. “Desmatar grandes áreas requer muito investimento em maquinário e logística, o que mostra que os invasores estão indo com tudo para cima das terras públicas e ocupando de forma indiscriminada e altamente capitalizada”, afirma. Segundo a pesquisadora, uma das maiores conhecedoras da dinâmica do fogo em florestas do país, outro ponto de destaque é que algumas áreas desmatadas nos anos anteriores estão abandonadas, sem nenhuma atividade agropecuária implementada. “Ou seja, estão usando o desmatamento para especular com terra pública”.

Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima, também acompanhou a expedição e destacou o impacto da perda da floresta. “Enquanto as demais nações se desenvolvem com menos carbono, o Brasil corre na contramão, apostando em desmatamento, que é sua principal fonte de emissão de gases de efeito estufa. Desmatamento, queimadas, grilagem e garimpo acontecem na ilegalidade, não geram desenvolvimento para a região nem distribuem riqueza para os povos da floresta. Estamos literalmente queimando o futuro a troco de nada.”



Monitoramento de Queimadas na Amazônia em Setembro de 2021

Vista aérea de um desmatamento na Amazônia para expansão pecuária, em Lábrea, Amazonas. A Amazônia segue encoberta pela fumaça e marcada pela devastação criminosa e sem controle. Foi o que comprovaram sobrevoos realizados pela Aliança Amazônia em Chamas, formada pelas organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima. A expedição ocorreu entre os dias 13 e 17 de setembro, nos municípios de Porto Velho, Rondônia, e Lábrea, sul do Amazonas. Foto: Victor Moriyama/Amazônia em Chamas

Sobre a Aliança Amazônia em Chamas: parceria entre as organizações Amazon Watch, Greenpeace Brasil e Observatório do Clima para promover sobrevoos de monitoramento e divulgação de informações relativas a áreas de floresta desmatadas e/ou ameaçadas pelo desmatamento, fogo e garimpo.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2021






Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 24/09/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/09/24/sul-do-amazonas-e-a-nova-fronteira-do-desmatamento/

Declínio global dos polinizadores ameaça o rendimento de 85% das safras mais importantes


A restauração de paisagens agrícolas para serviços ecossistêmicos, como polinização e controle biológico de pragas, precisa de manejo direcionado para aumentar a complexidade e heterogeneidade estrutural. Campos pequenos, culturas diversas e pelo menos um quinto das áreas seminaturais estariam de acordo com a Década das Nações Unidas (2021-2030) sobre restauração de ecossistemas.
Declínio global dos polinizadores ameaça o rendimento de 85% das safras mais importantes


O declínio global dos polinizadores ameaça o sucesso reprodutivo de 90 por cento de todas as plantas selvagens em todo o mundo e o rendimento de 85 por cento das safras mais importantes do mundo.

Polinizadores – principalmente abelhas e outros insetos – contribuem com 35 por cento da produção mundial de alimentos. O serviço prestado pelos polinizadores é particularmente importante para garantir alimentos produzidos por mais de dois bilhões de pequenos agricultores em todo o mundo. O artigo foi publicado na One Earth .

Georg-August-Universität Göttingen*

As estimativas atuais colocam o valor dos serviços de polinização em cerca de 200 a 400 bilhões de dólares americanos por ano. Os pequenos agricultores, cujos campos têm menos de dois hectares, representam cerca de 83 por cento de todos os agricultores. Eles se beneficiam dos serviços de polinização muito mais do que os agricultores com grandes campos.

Se os campos forem menores que dois hectares, qualquer queda na produção pode ser reduzida com muito mais eficiência por meio da polinização do que em grandes campos. Muitos pequenos agricultores vivem no Sul Global e sofrem de fome ou desnutrição. As safras que dependem de polinizadores, como frutas e nozes, contêm nutrientes que são particularmente importantes para a saúde.

“Os serviços de polinização na agricultura deveriam receber mais atenção, além da regulação de pragas e um bom suprimento de nutrientes”, afirma o autor, Professor Teja Tscharntke,Chefe do Grupo de Agroecologia da Universidade de Göttingen. Os benefícios não se limitam ao aumento da quantidade que pode ser produzida: sua qualidade também pode ser melhorada, por exemplo, em termos de conteúdo de nutrientes ou por quanto tempo pode ser armazenada.

Os sistemas agroflorestais de pequenos proprietários nos trópicos são particularmente adequados para isso e se destacam por suas comunidades de polinizadores comparativamente ricas em espécies.

“Mais precisa ser feito para conter o declínio dos polinizadores, que são principalmente abelhas e outros insetos. O estresse aos polinizadores causado por agroquímicos, grandes monoculturas e a perda de habitats seminaturais devem ser minimizados”, diz Tscharntke. “No entanto, esforços consideráveis de pesquisa ainda são necessários para tornar as paisagens agrícolas produtivas e, ao mesmo tempo, ricas em espécies – em particular para melhorar a situação nos trópicos.”

Referência:

Teja Tscharntke: Disrupting plant-pollinator systems endangers food security. One Earth (2021), https://doi.org/10.1016/j.oneear.2021.08.022

Henrique Cortez *, tradução e edição.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 24/09/2021






Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 24/09/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/09/24/declinio-global-dos-polinizadores-ameaca-o-rendimento-de-85-das-safras-mais-importantes/

Aumento da diversidade biológica melhora o funcionamento do ecossistema

Aumento da diversidade biológica melhora o funcionamento do ecossistema
Um ambiente heterogêneo promove ainda mais esse efeito positivo da biodiversidade nos ecossistemas. À medida que cada vez mais a área de terra global está sujeita a uso intensivo, tornando-se assim mais homogênea, esse impacto positivo da biodiversidade pode ser enfraquecido.

Os pesquisadores de Senckenberg e da Universidade de Würzburg relatam atualmente em “Nature Ecology & Evolution”.

No estudo em grande escala realizado no Monte Kilimanjaro, os pesquisadores conseguiram demonstrar que a riqueza de espécies, em particular, melhora o desempenho dos ecossistemas, enquanto a rotação de espécies ao longo do gradiente de elevação desempenha um papel menor.

University of Würzburg*


Ecossistema com vegetação de montanha no Monte Kilimanjaro. (Imagem: Andreas Hemp)


Micro-organismos, plantas e animais realizam grandes feitos todos os dias. Por exemplo, ao decompor o material, produzir biomassa vegetal ou polinizar flores, eles mantêm a natureza ‘ativa e funcionando’, garantindo assim o sustento dos humanos. Numerosos estudos têm mostrado que uma alta biodiversidade pode ter um impacto positivo sobre estes, bem como sobre outras funções do ecossistema.

“Mas há outro fator importante em jogo. Se as condições ambientais de um ecossistema são heterogêneas, por exemplo, em termos de propriedades do solo e clima, isso poderia dar um impulso adicional ao efeito positivo da biodiversidade nas funções do ecossistema ”, diz Dr. Jörg Albrecht da Senckenberg Biodiversity and Climate Research Center.

Dados de 13 ecossistemas naturais e artificiais

Em parceria com outros pesquisadores, Albrecht examinou se o grau de heterogeneidade ambiental influencia o efeito positivo da biodiversidade nas funções do ecossistema. Para este fim, os pesquisadores analisaram dados de 13 ecossistemas naturais e artificiais na montanha mais alta da África, o Monte Kilimanjaro. É um dos primeiros estudos a investigar tal questão em ecossistemas reais ao longo de um gradiente de elevação de mais de 3.500 metros.

“Os dados mostram que o efeito positivo da biodiversidade nas funções do ecossistema é cerca de 20 por cento maior em um ambiente heterogêneo”, explica Albrecht, e ele continua, “Isso significa que, se a tendência global de intensificação do uso da terra continuar, o efeito positivo da biodiversidade nas funções do ecossistema pode ser diminuída. ”

A riqueza de espécies desempenha um papel importante nas funções do ecossistema

Além disso, os pesquisadores examinaram qual aspecto da biodiversidade é mais benéfico para o fornecimento das funções do ecossistema: Mudanças na riqueza de espécies ou rotação de espécies, ou seja, mudanças na composição de espécies ao longo do gradiente de elevação. Tornou-se aparente que a riqueza de espécies desempenha um papel maior nas funções do ecossistema do que a rotação de espécies.

“Sinceramente, isso foi uma surpresa para nós, já que, em tese, o oposto havia sido assumido. Além disso, as comunidades de espécies na savana ao pé da montanha são completamente diferentes daquelas nas florestas nubladas ou no cume alpino. Assim, a rotatividade das espécies é muito alta. Em contraste, a riqueza de espécies, ou seja, o número de espécies que co-ocorrem em um ecossistema, muda em menor grau, mas é muito mais importante para o funcionamento do ecossistema ”, disse o Dr. Marcell Peters da Universidade de Würzburg.

Os pesquisadores consideram os resultados como evidências de que os esforços regionais de conservação devem se concentrar na preservação da riqueza de espécies. “Nossos resultados confirmam que a biodiversidade não é importante apenas em pequena escala, como foi demonstrado em experimentos, mas que esses efeitos se tornam ainda mais fortes em paisagens reais de grande escala. Pudemos assim mostrar que proteger a biodiversidade não é um luxo, mas essencial para a manutenção de ecossistemas funcionais ”, conclui Peters.


Referência:

Albrecht, J. et al (2021): Species richness is more important for ecosystem functioning than species turnover along an elevational gradient. Nature Ecology & Evolution, doi: https://doi.org/10.1038/s41559-021-01550-9

Henrique Cortez *, tradução e edição.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 23/09/2021



Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 23/09/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/09/24/aumento-da-diversidade-biologica-melhora-o-funcionamento-do-ecossistema/