quinta-feira, 28 de outubro de 2021

Anemia Falciforme: você pode ser um portador deste traço

Hoje dia 27/10 comemora-se o Dia Nacional de Luta Pelos Direitos das Pessoas com Doenças Falciformes. A doença falciforme atinge um grande número de brasileiros, por isto o conhecimento dos diretos destes pacientes deve ser de domínio de todos os profissionais de saúde, principalmente aqueles que atuam na área hematológica.

A Conscientização sobre a Doença Falciforme, foi instituído pela Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) em 2008. A intenção era dar visibilidade, além de contribuir para a queda da morbimortalidade desta patologia que está presente em todo o mundo e que no Brasil é considerada como a doença genética que mais acomete os brasileiros.



A doença

A anemia falciforme é causada pela mutação da hemoglobina (HbS) que, por sua vez, altera os glóbulos vermelhos presentes no sangue em sua forma e elasticidade no momento em que passam oxigênio para os tecidos do corpo.

Estes glóbulos assumem um formato de “foice” ou “meia lua” e suas sobrevidas são menores. Ela pode acometer qualquer população que tenha o gene mutante, mas é mais frequente na população negra.
Direitos dos portadores de doença falciforme
Direito ao tratamento para a cura da anemia falciforme: Cura alcançada através do transplante de medula óssea. Os pacientes com indicação de transplante devem apresentar o pedido médico e a justificativa para conseguirem o procedimento em instituições públicas.
Direito ao tratamento de saúde: Segundo a constituição de 1988 é direito de todos e dever do Estado garantir o tratamento de saúde, portanto se faltar medicação para os portadores da doença falciforme a justiça pode obrigar o Estado a promover a compra deste insumo. Quando a doença é descoberta logo após o nascimento o bebê deve receber acompanhamento médico integral formado por uma equipe multidisciplinar com médicos, enfermeiros, assistentes sociais, nutricionistas, psicólogos, dentistas entre outros.
Direito ao passe livre: Este direito depende da regulamentação do município ficando como opcional do poder público (prefeito e vereadores).
Direito à aposentadoria: O portador de doença falciforme que sofre com problemas capazes de impossibilitar o trabalho, normalmente se aposenta por invalidez. Este tipo de aposentadoria acontece após a pessoa gozar do auxílio-doença e não apresentar condições para retornar à sua atividade laborativa (nem com mudança de função).
Direito ao auxílio-doença: Para garantir este direito o portador de doença falciforme deve ter trabalhado com carteira assinada ou contribuído como autônomo por pelo menos 12 a 36 meses antes de dar entrada a solicitação no INSS. O estágio de evolução da patologia é levado em consideração para que o mesmo consiga obter o benefício.
Detecção da doença

O teste do pezinho é hoje a maneira mais precoce que temos para diagnosticar através do exame de eletroforese de hemoglobina se o bebê é ou não portador da doença ou do traço falcêmico. A população adulta, por sua vez, também pode realizar o teste laboratorial através da coleta de sangue para a pesquisa da mutação genética.
Você pode ser um portador da anemia falciforme

E você que está lendo este texto pode estar pensando: “O fato de eu ser um adulto que até agora não desenvolveu a doença falciforme significa que eu não a tenho e estou livre dessa doença.” E é aí que chego até você com a seguinte informação: você pode descobrir que é um portador do traço falcêmico sem desenvolver a doença, o que o classifica como um paciente assintomático. Porém, por ter o traço genético, você pode transmitir esta anormalidade para seus filhos e, caso o seu parceiro (a) também tenha o mesmo traço, um filho oriundo desta relação desenvolverá a doença falciforme.

Todo tratamento que um portador de doença falciforme necessita é disponibilizado pelo SUS. A vacinação adequada deste público tem o poder de reduzir significativamente as taxas de mortalidade infantil relacionadas a quadros infecciosos.

O risco que uma criança falcêmica apresenta de desenvolver quadros infecciosos é 400 vezes maior do que uma criança não acometida pela doença.

Quer saber mais sobre anemia falciforme ou outras doenças hematológicas benignas ou malignas?

Então baixe já o nosso app Nursebook que lá você conta com um bloco hematológico adulto e pediátrico cheio de novidades para você.

Acesse logo e fique por dentro de tudo que os enfermeiros conteudistas do Nursebook tem para te oferecer.






Autor: Liziane Barros
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/anemia-falciforme-voce-pode-ser-um-portador-deste-traco-2/

Pandemia impactou no aumento de peso e controle da glicemia dos portadores de diabetes tipo 2

A pandemia de Covid-19 teve um impacto bastante negativo no aumento de peso e controle da glicemia dos portadores de diabetes tipo 2, segundo dados de uma pesquisa internacional realizada por pesquisadores da Universidade Fulda de Ciências Aplicadas, na Alemanha e publicada pela revista científica BMC Public Health. Curiosamente, entre os pacientes com diabetes tipo 1 avaliados pela pesquisa, o efeito foi o oposto.

Trata-se de uma revisão e meta-análise de 33 trabalhos que cobrem dez países e 4.700 pessoas e que foi apresentada no encontro anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes (EASD em inglês), no final de setembro. De acordo com o estudo, os valores glicêmicos em indivíduos com diabetes tipo 1 melhoraram significativamente durante o isolamento social imposto pela pandemia de Covid-19, o que pode estar associado a mudanças positivas no autocuidado e no controle digital do diabetes.


No entanto, esse isolamento social corroborou para a piora em curto prazo nos parâmetros glicêmicos em pacientes com diabetes tipo 2.

Para os autores do estudo, o período de quarentena pode ter levado pacientes com o tipo 1, a maioria convivendo com o diabetes desde a infância, a aprofundar a consciência sobre sua condição. Em compensação, os do tipo 2, que em grande parte desenvolveram o quadro já adultos, podem ter sido afetados mais fortemente pelo estresse, alimentando-se mal e deixando de lado a atividade física.

No entanto, mais pesquisas serão necessárias, particularmente sobre as causas e o gerenciamento eficaz desse tipo da doença durante a pandemia.



Mudança foi sentida nos consultórios médicos

Esse cenário preocupante já vinha sendo percebido pelos médicos em seus consultórios com o avanço da vacinação e a gradual retomada das consultas presenciais, como foi o caso do endocrinologista Fadlo Fraige Filho, especialista em diabetes, tireoide, obesidade, crescimento e doenças hormonais, e professor titular da Faculdade de Medicina da Fundação do ABC e Presidente da Associação Nacional de Atenção ao Diabetes (ANAD).

“Na verdade, há uma diferença cultural entre os dois tipos de diabetes. A do tipo 1 já vem de uma forma impositiva, fazendo com que a pessoa tenha que fazer seus controles diários. Já em relação ao tipo 2, o que ocorre é que ainda existe uma falta de conscientização da necessidade do tratamento adequado. A grande maioria das pessoas, por não sentir nenhum sintoma, negligencia o tratamento. E ainda há um ponto importante: enquanto o tipo 1 atinge mais crianças e adolescentes, que costumam ter uma prática de atividade física razoável — mesmo durante a pandemia — os adultos e mais idosos com diabetes tipo 2 restringiram muito suas atividades físicas durante o isolamento social e, claro, ganharam mais peso. É fato que o descontrole alimentar aliado com o sedentarismo descontrola o diabetes”, esclareceu o presidente da ANAD em entrevista ao Portal de Notícias da PEBMED.
Mulheres com diabetes têm menos probabilidade de receber prevenção cardiovascular abrangente do que os homens?

Vale ainda registrar um segundo estudo, também divulgado no encontro anual da Associação Europeia para o Estudo do Diabetes, que mostra que mulheres com diabetes não recebem o mesmo cuidado de prevenção de doenças cardiovasculares (DC) que os homens.

A pesquisa contou com quase 10 mil adultos portadores do tipo 2, com ou sem DC preexistente. Os pesquisadores descobriram que a prescrição de estatinas, aspirinas ou medicamentos para pressão arterial era menor no caso delas. No entanto, pacientes do sexo feminino são menos propensas a experimentar resultados adversos de DC, além de acidente vascular cerebral (AVC).

Os autores afirmam que uma melhor compreensão das disparidades de gênero é necessária para melhorar a implementação dos cuidados recomendados para a prevenção de DC em mulheres com diabetes tipo 2.

“Apesar das evidências sobre os benefícios de controlar fatores de risco, baixando os níveis de pressão e colesterol, uma proporção inaceitável de mulheres não recebe o tratamento recomendado, e a DC é a principal causa de mortes femininas”, enfatizou Giulia Ferrannini, médica do Karolinska Institutet, na Suécia, e uma das autoras do estudo.







Autor: Úrsula Neves
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/pandemia-impactou-no-aumento-de-peso-e-controle-da-glicemia-dos-portadores-de-diabetes-tipo-2/

Relembrando o que é o hipoparatireoidismo

O hipoparatireoidismo (HP) é uma condição relativamente rara, causada na maioria das vezes (cerca de 75%) pelo dano cirúrgico às paratireoides após uma cirurgia da região cervical, sobretudo após tireoidectomias. Como o PTH é o hormônio responsável pela homeostase do cálcio e por sua manutenção em níveis séricos adequados, o que caracteriza o hipoparatireoidismo é a hipocalcemia, que é acompanhada por hiperfosfatemia (uma vez que o PTH tem ação fosfatúrica).

As consequências do hipoparatireoidismo estão intimamente relacionadas aos níveis de cálcio, ao produto cálcio x fósforo sérico, à deposição tecidual de fósforo e à hipercalciúria, uma vez que o PTH aumenta a reabsorção renal de cálcio e em sua ausência existe uma tendência à perda renal de cálcio. As repercussões clínicas a curto prazo incluem a crise hipocalcêmica e sintomas associados a hipocalcemias mais leves, como parestesias, cansaço e fraqueza. Já a longo prazo, há maior risco de catarata subcapsular, nefrocalcinose e perda de função renal, cálculos renais e calcificação de núcleos da base.



E a gestação?

Durante a gestação é sabido que existe naturalmente um aumento na produção renal de calcitriol e também do PTHrp, sobretudo no terceiro trimestre, produzido pela placenta e pelos seios. Porém, por se tratar de uma doença menos prevalente, o maior nível de evidência até hoje sobre o assunto se baseava em séries de casos, considerando o manejo de acordo com as bases fisiológicas, porém as consequências e riscos associados ao hipoparatireoidismo durante a gestação eram desconhecidos.

Pensando justamente em conhecer os riscos do hipoparatireodismo na gestação, foi publicado na edição deste mês do Journal of Clinical Endocrinology and Metabolism (JCEM) um estudo retrospectivo que avaliou o assunto em uma coorte pareada na Suécia (onde os dados de prontuários e registros são excepcionais).
O estudo

O estudo foi retrospectivo, com o objetivo de avaliar o impacto do HP em diversos desfechos gestacionais, maternos e fetais. Foram incluídas ao final 139 gestações de participantes com hipoparatireoidismo já diagnosticado havia pelo menos um ano e 1.577 controles (gestações sem hipoparatireoidismo). O período selecionado foi entre 1997 e 2017 (antes de 1997 não havia um CID definido para o diagnóstico de hipopara). Foram excluídos gemelares pelo risco de maior complicações e também participantes que tinham diagnóstico de doença renal crônica (DRC) mais de um ano antes do diagnóstico de hipoparatireoidismo.
Desfechos

A média de idade ao diagnóstico do hipoparatireoidismo das participantes foi de 26,9 anos. 76,4% tinham HP pós cirúrgico. A média de idade durante a gestação era de 31,7 anos em ambos os grupos. Como o banco de dados da Suécia permite avaliar quantas mulheres tinham diagnóstico de HP na população geral, foi possível observar que no período do estudo 6,4% delas tiveram gestações com filhos nascidos vivos comparado a 6,8% nas mulheres em geral, sugerindo que provavelmente o HP não interfere em fertilidade (esta análise não foi submetida a estatística por não ser o objetivo do trabalho). Houve uma maior incidência de alterações glicêmicas no grupo HP (DM1, DM2 e DMG – 2,9% no grupo HP vs 0,8% no grupo geral, p = 0,043) e de DRC (3,6% vs 0,5%, p < 0,001). Portanto, os desfechos gestacionais foram controlados para estas variáveis e também para o uso de levotiroxina.

Quanto aos desfechos gestacionais, boa notícia para as gestantes com hipoparatireoidismo: não houve diferença quanto ao número de nascidos vivos (p = 0,518) ou chance de prematuridade (p = 0,119).

Houve foi maior chance de necessidade de indução do parto (OR 1,82; 1,13 – 2,94, IC95%), que deixou de ser significativo quando controlado para o uso de levotiroxina. Não houve maior necessidade de cesáreas ou hemorragia pós-parto.

A única diferença foi que os filhos de mães com hipoparatireoidismo nasceram com um peso menor (média 3329 g vs 3506 g – OR, – 188g; IC 95%, – 312,2 a – 63,8), com uma redução média de apenas 89 g. Apesar de alcançar significância estatística, é um dado pouco relevante na prática, uma vez que não houve diferença em fetos PIG.
Primeiro estudo populacional no assunto, mas…

A crítica que os próprios autores levantam neste estudo é que a base de dados não contemplava dados laboratoriais ou dose utilizada das medicações. Portanto, é difícil concluir sobre o controle do HP. Ainda, as informações obtidas dizem respeito à gestação em si mas não se sabe sobre as repercussões a longo prazo. É sabido também por séries de casos anteriores que o hipoparatireoidismo mal controlado durante a gestação pode se associar a desfechos fetais. Quando existe hipocalcemia sustentada, os principais riscos ao desenvolvimento fetal são o hiperparatireoidismo secundário, problemas na mineralização óssea e fraturas intraútero. Já o sobretratamento (hipercalcemia materna) pode levar a um hipoparatireoidismo transitório no recém nascido e risco de hipocalcemia neonatal. Felizmente nesse estudo nenhum desses desfechos foram observados, o que pode indicar um bom controle da doença no grupo analisado.
Conclusões

Esse estudo traz luz sobre os desfechos do hipoparatireoidismo na gestação, sobretudo numa população provavelmente bem controlada. Bom lembrar que os desfechos a longo prazo do hipoparatireoidismo na gestação ainda não são conhecidos.

Portanto, devemos pensar nesta condição em mulheres submetidas a cirurgias cervicais prévias e manter a calcemia dentro dos valores de referência recomendados no tratamento do hipoparatireoidismo.




Autor: Luiz Fernando Fonseca Vieira
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/relembrando-o-que-e-o-hipoparatireoidismo/

Caso clínico: Paciente de 70 anos com dor lancinante na perna

Paciente hipertenso mal controlado dá entrada no setor de pronto atendimento com dor lancinante em membro inferior direito. Refere já ter dor na perna de longa data, mas que piorou muito nas últimas horas. Refere ser hipertenso, mas não sabe os remédios que faz uso. Refere ainda que fez cateterismo há três anos atrás, não sabendo o resultado.

Ao exame paciente encontra-se lúcido, com dor EVA 10 em membro inferior direito já comprometendo também o membro inferior esquerdo.

Apresenta taquipneia sem dessaturação, com ausculta pulmonar normal, o ritmo cardíaco é irregular e o paciente apresenta-se taquicárdico e hipertenso.

É atendido e medicado com analgésicos, melhorando a dor apenas após opioides. Foi reavaliado por outro médico horas após, ainda apresentando dor, cessando apenas com morfina.

Ao monitor apresenta ritmo de fibrilação atrial com frequência cardíaca de 132 bpm e pressão arterial de 240×112 mmHg. A saturação é de 93% em ar ambiente, as custas de uma taquineia (27 irpm). A ausculta pulmonar permanece normal.

Após morfina venosa, o paciente refere melhora da dor, porém relata não mais conseguir movimentar os membros inferiores. Não há resposta aos estímulos táteis e apresenta arreflexia crural bilateral. Os membros não são cianóticos, porém não se palpam pulsos, nem mesmo o femoral.

O ECG mostra ritmo de fibrilação atrial com sinais de sobrecarga ventricular esquerda:



dor na perna

Quiz

  1. Diante destes achados é possível formular uma hipótese diagnóstica, qual seria o diagnóstico mais provável?


Autor: Gabriel Quintino Lopes
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/caso-clinico-paciente-de-70-anos-com-dor-lancinante-na-perna/

quarta-feira, 27 de outubro de 2021

Poluição do ar reduz a contagem de espermatozoides


Poluição do ar reduz a contagem de espermatozoides
Os pesquisadores sabem há muito tempo que a poluição do ar pode aumentar o risco de doenças como obesidade, diabetes e fertilidade, mas não sabiam o mecanismo exato de como isso pode levar a esses problemas de saúde.

Agora, pesquisadores da Escola de Medicina da Universidade de Maryland (UMSOM) mostraram como a poluição do ar reduz a contagem de espermatozoides em camundongos, causando inflamação no cérebro.

Por Vanessa McMains*
University of Maryland School of Medicine

Os cientistas já sabem que o cérebro tem uma linha direta com os órgãos reprodutivos, afetando a fertilidade e a contagem de espermatozoides em condições estressantes. Por exemplo, o estresse emocional pode levar a períodos menstruais omitidos nas mulheres. No entanto, este último estudo, publicado em 8 de setembro na Environmental Health Perspectives , conecta os pontos sobre como respirar ar poluído pode reduzir a fertilidade.

“Nossas descobertas mostraram que os danos causados pela poluição do ar – pelo menos na contagem de espermatozoides – poderiam ser remediados com a remoção de um único marcador de inflamação no cérebro de camundongos, sugerindo que podemos desenvolver terapias que podem prevenir ou reverter os danos efeitos da poluição do ar na fertilidade ”, disse o principal autor do estudo, Zhekang Ying, PhD , professor assistente de medicina na UMSOM.

Charles Hong, MD, PhD , o Melvin Sharoky, MD Professor de Medicina e Diretor de Pesquisa em Cardiologia da UMSOM disse: “Essas descobertas têm implicações mais amplas do que apenas a fertilidade, pois existem muitas condições, como hipertensão, diabetes e coração doença que pode resultar de inflamação do cérebro devido à poluição do ar. ”

Cerca de 92 por cento da população mundial vive em áreas onde o nível de partículas finas no ar menores que 2,5 micrômetros de diâmetro excede os padrões mínimos de segurança estabelecidos pela Organização Mundial da Saúde. Essas partículas podem vir de fontes como escapamento de carros, emissões de fábricas, incêndios florestais e fogões a lenha.

Em estudos anteriores, alguns resultados mostraram que os ratos expostos à poluição do ar nem sempre tinham inflamação dos testículos – os órgãos sexuais masculinos que produzem os espermatozoides – o que significa que algum outro mecanismo era potencialmente responsável pela redução da contagem de espermatozoides. Conhecendo a ligação direta entre o cérebro e os órgãos sexuais, os pesquisadores testaram se a poluição do ar aumentava a inflamação no cérebro.

Para este novo estudo, os pesquisadores testaram ratos saudáveis e ratos criados para não ter um marcador de inflamação no cérebro, chamado Inibidor Kappa B Kinase 2, ou IKK2 para breve, localizado especificamente nos neurônios do cérebro. Eles expuseram camundongos saudáveis e mutantes IKK2 ao ar filtrado ou à poluição do ar e, em seguida, testaram suas contagens de esperma. Os camundongos criados sem o marcador de inflamação IKK2 em seus neurônios não tiveram reduções na contagem de espermatozoides quando expostos ao ar poluído, ao contrário dos camundongos saudáveis.

Os pesquisadores então removeram o IKK2 de neurônios específicos para determinar mais precisamente como a poluição do ar estava levando a contagens de espermatozoides mais baixas. Eles descobriram que um tipo específico de neurônio tipicamente associado ao ciclo do sono e obesidade foi responsável pela contagem reduzida de espermatozoides devido à poluição do ar. Esses neurônios são normalmente encontrados no hipotálamo, uma parte do cérebro que controla a fome, a sede e o desejo sexual. O hipotálamo também atua com a glândula pituitária do cérebro, que produz hormônios que se comunicam diretamente com os órgãos reprodutivos.

“Olhando para trás, faz todo o sentido que os neurônios no hipotálamo sejam os culpados por perpetuar essa resposta inflamatória que resulta em baixa contagem de espermatozoides, pois sabemos que o hipotálamo é uma importante via de ligação entre o cérebro e o sistema reprodutivo”, disse o Dr. Ying.

Albert Reece, MD, PhD, MBA , Vice-Presidente Executivo de Assuntos Médicos, UM Baltimore, comentou: “A poluição ambiental é um problema de equidade em que algumas pessoas são pobres ou de cor tendem a enfrentar condições de saúde mais graves devido à maior exposição. É importante explorar os mecanismos pelos quais a poluição afeta o corpo, para que possamos conceber maneiras de prevenir ou tratar essas condições para eliminar essas disparidades de saúde. ”

O estudo foi financiado pelo Instituto Nacional de Ciências da Saúde Ambiental (R01ES024516, R01ES032290), a American Heart Association (13SDG17070131), Fundação Nacional de Ciências Naturais da China (81302452), Projetos Principais de Ciências Naturais da Universidade na Província de Jiangsu da China (18KJB330004 ), um fundo de projeto do programa de Pesquisa Científica Básica da cidade de Nantong (JC2019021) e da Universidade de Nantong.

Referência:

Lianglin Qiu, Minjie Chen, Xiaoke Wang, Sufang Chen, and Zhekang Ying
2021
PM2.5 Exposure of Mice during Spermatogenesis: A Role of Inhibitor kB Kinase 2 in Pro-Opiomelanocortin Neurons
Environmental Health Perspectives 129:9 CID: 097006 https://doi.org/10.1289/EHP8868

Henrique Cortez *, tradução e edição.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/10/2021






Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/10/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/10/26/poluicao-do-ar-reduz-a-contagem-de-espermatozoides/

Degelo do permafrost pode liberar bactérias e vírus

Degelo do permafrost pode liberar bactérias e vírus
O degelo rápido do permafrost no Ártico tem o potencial de liberar bactérias resistentes a antibióticos, vírus não descobertos e até mesmo resíduos radioativos de reatores nucleares e submarinos

Pela Agência Espacial Europeia*

Ao considerar as implicações do degelo do permafrost, nossas preocupações iniciais provavelmente se voltarão para a grande questão do metano sendo liberado na atmosfera e exacerbando o aquecimento global ou problemas para as comunidades locais conforme o solo e a infraestrutura se tornam instáveis. Embora isso seja ruim o suficiente, uma nova pesquisa revela que os efeitos potenciais do degelo do permafrost também podem representar sérias ameaças à saúde.

Como parte do Arctic Methane and Permafrost Challenge da ESA – NASA , uma nova pesquisa revelou que o degelo rápido do permafrost no Ártico tem o potencial de liberar bactérias resistentes a antibióticos, vírus não descobertos e até mesmo resíduos radioativos de reatores nucleares e submarinos da Guerra Fria.

O permafrost, ou terra permanentemente congelada, cobre cerca de 23 milhões de quilômetros quadrados no hemisfério norte. A maior parte do permafrost no Ártico tem até um milhão de anos – normalmente, quanto mais profundo, mais antigo.

Além de micróbios, ele abrigou uma ampla gama de compostos químicos ao longo de milênios, seja por meio de processos naturais, acidentes ou armazenamento deliberado. No entanto, com a mudança climática fazendo com que o Ártico aqueça muito mais rápido do que o resto do mundo, estima-se que até dois terços do permafrost próximo à superfície pode ser perdido até 2100.

O degelo do permafrost libera gases de efeito estufa – dióxido de carbono e metano – para a atmosfera, além de causar mudanças abruptas na paisagem.

No entanto, uma pesquisa , publicada recentemente na Nature Climate Change , descobriu que as implicações do declínio do permafrost poderiam ser muito mais difundidas – com potencial para a liberação de bactérias, vírus desconhecidos, lixo nuclear e radiação e outros produtos químicos preocupantes.


Armazenamento de riscos no permafrost ártico

O artigo descreve como o permafrost profundo, a uma profundidade de mais de três metros, é um dos poucos ambientes na Terra que não foi exposto aos antibióticos modernos. Mais de 100 microrganismos diversos no permafrost profundo da Sibéria foram considerados resistentes a antibióticos. Conforme o permafrost descongela, há potencial para que essas bactérias se misturem com a água do degelo e criem novas cepas resistentes a antibióticos.

Outro risco diz respeito aos subprodutos de combustíveis fósseis, que foram introduzidos em ambientes permafrost desde o início da revolução industrial. O Ártico também contém depósitos de metais naturais, incluindo arsênio, mercúrio e níquel, que foram extraídos por décadas e causaram grande contaminação de resíduos em dezenas de milhões de hectares.

Poluentes e produtos químicos agora banidos, como o inseticida dicloro-difenil-tricloroetano, DDT, que foram transportados para o Ártico atmosférico e com o tempo ficaram presos no permafrost, correm o risco de permear novamente a atmosfera.

Além disso, o aumento do fluxo de água significa que os poluentes podem se dispersar amplamente, danificando espécies de animais e pássaros, bem como entrando na cadeia alimentar humana.

Há também maior possibilidade de transporte de poluentes, bactérias e vírus. Mais de 1000 assentamentos, sejam de extração de recursos, projetos militares e científicos, foram criados em permafrost durante os últimos 70 anos. Isso, junto com a população local, aumenta a probabilidade de contato ou liberação acidental. Apesar das descobertas da pesquisa, ele diz que os riscos de microrganismos emergentes e produtos químicos dentro do permafrost são mal compreendidos e em grande parte não quantificados. Afirma que uma investigação mais aprofundada na área é vital para obter uma melhor compreensão dos riscos e para desenvolver estratégias de mitigação.

O autor principal da revisão, Kimberley Miner, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, disse: “Temos uma compreensão muito pequena de que tipo de extremófilos – micróbios que vivem em muitas condições diferentes por um longo tempo – têm o potencial de ressurgir. Esses são micróbios que co-evoluíram com coisas como preguiças gigantes ou mamutes, e não temos ideia do que eles poderiam fazer quando liberados em nossos ecossistemas.

“É importante entender os impactos secundários e terciários dessas mudanças em grande escala da Terra, como o degelo do permafrost. Embora alguns dos riscos associados ao degelo de até um milhão de anos de material tenham sido capturados, estamos muito longe de sermos capazes de modelar e prever exatamente quando e onde eles acontecerão. Esta pesquisa é crítica. ”

Diego Fernandez, da ESA, acrescentou: “A pesquisa conduzida como parte do Desafio de Metano Ártico e Permafrost da ESA – NASA no âmbito do nosso programa Ciência para a Sociedade é vital para compreender a ciência do Ártico em mutação. O descongelamento do permafrost claramente apresenta enormes desafios, mas são necessárias mais pesquisas. A NASA e a ESA estão unindo forças para promover a colaboração científica em todo o Atlântico para garantir o desenvolvimento de ciência e conhecimento sólidos para que os tomadores de decisão estejam armados com as informações corretas para ajudar a resolver esses problemas. ”

Referência:

Miner, K.R., D’Andrilli, J., Mackelprang, R. et al. Emergent biogeochemical risks from Arctic permafrost degradation. Nat. Clim. Chang. 11, 809–819 (2021). https://doi.org/10.1038/s41558-021-01162-y

Henrique Cortez *, tradução e edição.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/10/2021







Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/10/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/10/26/degelo-do-permafrost-pode-liberar-bacterias-e-virus/

A energia solar aqui em casa, artigo de Roberto Malvezzi (Gogó)

Um bom programa de energia solar descentralizada, com incentivos fiscais, beneficiaria a maioria da população brasileira e ajudaria – e muito – na geração de energia para abastecer o sistema total.

A energia solar no Brasil representa apenas 2% de nossa matriz energética. A eólica avançou mais e ocupa 10%. No geral, as chamadas energias limpas correspondem a 46% de nosso repertório e as ditas sujas 54%. Se as limpas não são totalmente limpas – e não são – ao menos são muito melhores que hidrelétricas – consideradas limpas – que devastam o ambiente e comunidades, melhor ainda que as atômicas que deixam lixo radiativo para as gerações futuras.

Entretanto, o potencial das limpas é quase infinito. Vou dar um exemplo caseiro, como o Fórum de Mudanças Climáticas sonha para todo território brasileiro.

Aqui em casa colocamos 18 placas de energia solar. Nossa conta girava em torno de R$ 700,00 ao mês. Hoje deveríamos estar pagando mais de mil reais mensalmente.

Entretanto, a relação mudou totalmente. Hoje nossa conta de luz é de R$ 33,00 (trinta e três reais). O investimento que julgávamos levar quatro anos para pagar, será pago em dois anos. E aqui em casa tudo é elétrico: chuveiros, ar condicionado, máquina de lavar roupa, máquina de lavar louça, forno elétrico, microondas, air fryer, tv, computadores, lâmpada e sei lá mais o que.

Um bom programa de energia solar descentralizada, com incentivos fiscais, beneficiaria a maioria da população brasileira e ajudaria – e muito – na geração de energia para abastecer o sistema total.

E se o governo comprasse o excedente ajudaria na renda das famílias mais pobres, substituindo os programas de distribuição de renda.

Mas, é claro, isso não pode ser. O modelo capitalista que gerencia nossas energias exige que ela seja centralizada e lucrativa para as empresas. O objetivo é gerar mercado, não abastecer a população e as demandas produtivas.

Ainda mais, nesses dez meses de uso da energia solar, o aplicativo do sistema informa que geramos em casa 7406.3 KWH, que reduzimos a emissão de 7384.1 kg de CO2 na atmosfera, que evitamos queimar 2962.5Kg de carvão e poupamos a derrubada de 407 árvores.

Pela poupança de custos e pela contribuição ao ambiente, parece de bom tamanho.

Roberto Malvezzi (Gogó)*, possui formação em Filosofia, Teologia e Estudos Sociais. Atua na Equipe CPP/CPT do São Francisco. www.robertomalvezzi.com.br

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/10/2021






Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/10/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/10/26/a-energia-solar-aqui-em-casa/

Covid- 19 e a Sustentabilidade, por Andreia de Bem Machado e Marc Francois Richter

As questões econômicas, sociais e ambientais são interligadas, o que envolve cuidar da saúde humano como um todo em nível global

Sustentabilidade é um conceito usado para trazer equilíbrio e criar responsabilidade pela atividade econômica e pelo desenvolvimento. A definição atual desse termo adotada pela Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Social de 2005, aborda três pilares para o desenvolvimento sustentável: desenvolvimento econômico, desenvolvimento social e proteção ambiental – que têm servido como base para vários padrões e certificações em sustentabilidade. O conceito é bem adotado por todas as partes interessadas em várias áreas dos setores público e privado.

À medida que a discussão e a conscientização sobre sustentabilidade avançavam, a ONU, em 2015, desenvolveu 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que visam garantir que todos as pessoas sejam incluídas e a extrema pobreza seja abolida do planeta, ou seja: ninguém seja abandonado em prol de uma sociedade melhor.

Os ODS incluem os seguintes assuntos: 1. Sem pobreza; 2. Fome zero; 3. Boa saúde e bem-estar; 4. Educação de qualidade; 5. Igualdade de gênero; 6. Água limpa e saneamento; 7. Energia limpa e acessível; 8. Trabalhos decentes e crescimento econômico; 9. Indústria, inovação e infraestrutura; 10. Desigualdades reduzidas; 11. Cidades e comunidades sustentáveis; 12. Consumo e produção responsáveis; 13. Ação climática; 14. Vida abaixo da água; 15. Vida na terra; 16. Paz, justiça e instituições fortes; e 17. Parcerias para as metas.

A definição geral e mais usada de sustentabilidade é “atender às necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de atender às suas necessidades” (RELATÓRIO BRUNDTLAND, 1987).

No momento pandêmico, conforme explicitaram MACHADO e RICHTER (2020) em seu artigo intitulado “Sustentabilidade em Tempos de Pandemia (COVID-19)” explicitaram que nas organizações as relações entre a pandemia e sustentabilidade, diz respeito ao conceito que precisa estar atrelado não apenas ao ser humano em parar de cometer danos e impactar o meio ambiente, mas também a estratégias para recuperação dos ecossistemas. Além disso o artigo aborda vários aspectos que fazem com que seja feita uma reflexão sobre um repensar sobre a sustentabilidade como a interseção da economia, meio ambiente, sociedade e também da saúde humana.

É praticamente impossível que a vida continue como de costume quando a saúde da sociedade desmorona dramaticamente devido a um evento como uma pandemia global gerando um imenso risco para a saúde humana de magnitude global. Anteriormente, os pilares da sustentabilidade tratavam de questões que afetam a todos nós e nos conectam globalmente.

As questões econômicas, sociais e ambientais são interligadas, o que envolve cuidar da saúde humano como um todo em nível global. Nota-se que com a pandemia do COVID-19, um Novo Normal pode ser associado ao desenvolvimento sustentável que é a saúde física e mental devido a sua importância na sobrevivência humana e na sustentabilidade da civilização.

Andreia de Bem Machado – Pedagoga. Pós-Doutoranda em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Avaliadora do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (BASis). Professora da Faculdade ANASPS SCS Quadra 03 Bloco A – Ed. Anasps – Térreo – Asa Sul, Brasilia/DF. E-mail: andreiadebem@gmail.com

Marc Francois Richter – Bioquímico. Professor no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sustentabilidade (PPGAS) da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), São Francisco de Paula/RS. Editor Chefe do Blog Repense. E-mail: marc-richter@uergs.edu.br

Referências:

RELATÓRIO BRUNDTLAND (1987). Report of the World Commission on Environment and Development: Our Common Future. Nações Unidas (em inglês). Acesso em: 24 out. 2021

MACHADO, A. de bem; RICHTER, M. F. (2020). SUSTENTABILIDADE EM TEMPOS DE PANDEMIA (COVID-19): (Covid-19). RECIMA21 – Revista Científica Multidisciplinar – ISSN 2675-6218, [S. l.], v. 1, n. 2, p. 264–279. DOI: https://doi.org/0.47820/recima21.v1i2.25. Disponível em: https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/25. Acesso em: 24 out. 2021.

Links de acesso ao artigo:

https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/25/77 (versão em português)

https://recima21.com.br/index.php/recima21/article/view/25/115 (versão em inglês)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/10/2021






Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/10/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/10/26/covid-19-e-a-sustentabilidade/

terça-feira, 26 de outubro de 2021

Estudo mostra como as secas recorrentes afetam a capacidade de recuperação das florestas

Os efeitos das secas - cada vez mais frequentes e severas - na produtividade da Floresta Amazônica, são tema de artigo de acaba de ser publicado na edição especial acerca dos impactos dos extremos climáticos sobre o ciclo do carbono da prestigiosa revista Global Biogeochemical Cycles (https://doi.org/10.1029/2021GB007004), que alcançou o fator de impacto de 5.7. Primeiro autor do trabalho, intitulado “Débitos de resiliência à seca apontam para o declínio da produtividade da Floresta Amazônica”, o biólogo Fausto Machado-Silva, pesquisador no Laboratório de Aplicações de Satélites Ambientais (Lasa) do Instituto de Geociências da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e no Laboratório de Ecossistemas e Mudanças Globais (LEMG), associado ao programa de Geociências – Geoquímica Ambiental da Universidade Federal Fluminense (UFF), explica que o interesse pelo tema é grande porque embora os distúrbios da seca sejam amplamente quantificados, poucos estudos abordam os impactos dos efeitos pós-seca.



“Neste trabalho mostramos que as florestas em recuperação pós-seca apresentam níveis de produtividade mais baixos do que os sistemas não perturbados. As dívidas de recuperação variam não só com o grau de intensidade da seca, mas também com o tempo de recuperação da floresta após cada evento”, afirma o pesquisador, que contou com bolsa de pós-doutorado da FAPERJ em colaboração com a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Outras fontes de financiamento do artigo vêm do Instituto Serrapilheira, Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Portugal) e o Instituto Dom Luiz da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (Portugal).

Diante das projeções que indicam como consequência do aquecimento global o aumento da intensidade e da frequência das secas em todo o mundo, a recuperação dos danos pode promover uma redução na absorção de carbono pelas florestas. Segundo Machado-Silva, a produtividade de uma floresta é diretamente proporcional à sua capacidade de crescimento e de regeneração. Como as secas mais intensas demandam um período de recuperação mais longo, a absorção de gás carbônico (CO2) da atmosfera pelas plantas para transformá-lo em oxigênio também será mais lenta e dependerá da capacidade de resiliência das diversas áreas da floresta.

Fausto Machado-Silva explica: se a produtividade da floresta diminui, ela perde capacidade de captar o CO2 da atmosfera

O trabalho, orientado pela professora do Departamento de Meteorologia da UFRJ, Renata Libonati, que conta com bolsa de Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, para o desenvolvimento de suas pesquisas, analisou as três maiores secas que incidiram na Amazônia nas últimas duas décadas, ocorridas nos anos de 2005, 2010 e 2015. A proximidade das datas evidencia que esse evento climático extremo, que antes ocorria de forma mais espaçada, agora vem se repetindo a cada cinco anos. O modelo de experimento natural mostrou que o prazo de recuperação da floresta variou de 12 meses para três anos, devido à intensidade maior das secas e do efeito acumulado das secas recorrentes. “Se houver uma sobreposição entre distúrbios de seca e débitos de resiliência, há grande possibilidade de perda de produtividade da Floresta Amazônica, que passará a absorver menos CO2”, afirma o pesquisador.

Segundo o biólogo, o artigo reforça o termo resiliência, pois como a floresta vem sendo impactada cada vez mais por vários fatores, o processo de débito de recuperação fica cada vez maior. “Se a produtividade da floresta diminui, ela perde capacidade de captar o CO2 da atmosfera. Por isso, as projeções futuras indicam que, neste ritmo, a floresta pode deixar realmente de ser um sumidouro de CO2 e passar a ser produtora”, esclarece Machado-Silva. Os resultados do estudo revelam que os ecossistemas em recuperação mostram o sequestro de carbono 13% abaixo dos valores de referência, com base no estado anterior à seca ou em áreas não perturbadas pela seca.

A publicação do resultado da pesquisa, iniciada em 2018, foi mais demorada que o esperado. Casado com a também biogeoquímica Roberta Peixoto, coautora e colega de laboratório no Lasa/UFRJ e no LEMG/UFF, Fausto compartilha os cuidados parentais das filhas Manuela, de quatro anos, e Betina, que completará dois anos em novembro próximo e nasceu, portanto, durante a pesquisa e ficaram sem aulas presenciais devido à pandemia de Covid-19. “Enquanto as mulheres após o parto têm uma pequena extensão de mais quatro meses da bolsa, a Ciência não considera as necessidades dos pais e não concede licença paternidade”, queixa-se o pesquisador.






Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 14/10/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4334.2.5

Modelo biológico com pele humana pode facilitar testes dermatológicos

Pesquisadoras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) desenvolveram um modelo biológico para testes dermatológicos em pele humana a partir de uma parceria que permite que o tecido que iria para descarte seja destinado à pesquisa. "Os modelos existentes trabalham com animais, pele artificial ou diretamente com as células. Com esse modelo conseguimos chegar a resultados mais próximos do que ocorre na pele dos pacientes", conta a coordenadora do projeto, Bruna Romana de Souza, que é professora no Instituto de Biologia da universidade. A invenção já foi submetida a um pedido de patente.

O desenvolvimento do modelo foi feito em articulação com uma pesquisa para identificar formas de tratamento para a psoríase, doença cutânea não transmissível que tem diversas origens, como efeito colateral de determinados medicamentos, coceira excessiva em determinada região da pele e estresse. "Quando entrevistamos pacientes com psoríase, geralmente a pessoa passou por um estresse muito grave", conta a pesquisadora.



O início da psoríase pode ser incômodo, principalmente como questão estética, já que as escamações começam em partes bastante visíveis como a ponta dos dedos e nas pernas. Já no longo prazo, a doença se torna mais grave e pode se tornar bastante debilitante, pois está relacionada à artrite e também pode afetar o coração. De acordo a doutora em Biologia Humana e Experimental, estima-se que de 0,09% a 11,4% da população brasileira tenha a doença.


Bruna Souza: 'A psoríase não é uma doença comum, mas pode se tornar bastante debilitante
com o passar do tempo' (Foto: Arquivo pessoal)


Para trazer mais evidências sobre a relação entre estresse crônico e a psoríase, Bruna coordenou uma pesquisa em que avaliaram a taxa de produção de hormônios relacionados ao estresse, chamados de catecolaminas, como a adrenalina, com o tamanho da infecção. A explicação encontrada é que esses hormônios têm bastante receptividade nas células, especialmente pelo receptor beta-adrenérgicos. E quando as catecolaminas se ligam a esses receptores há um excesso na produção de outra substância, a interleucina-17. Essa substância é acionada pela inflamação e, quando em excesso, agrava a lesão da psoríase.

Como diversos estudos indicam a dieta mediterrânea como uma das mais saudáveis, em especial pelo uso de azeite de oliva, rico em antioxidantes para contenção de inflamações, essa foi a aposta para o tratamento das lesões. "Foi um desastre. Tivemos o efeito exatamente contrário", revela Bruna. A solução veio de uma substância existente em um medicamento para regular a pressão.

Tanto o uso do azeite de oliva quanto o medicamento foram testados no modelo com pele humana desenvolvido no Laboratório de Reparo Tecidual. "Usamos a pele que seria descartada após cirurgia e estimulamos a inflamação que aconteceria na pele do paciente. E com esse mesmo modelo podemos testar novas drogas para diferentes doenças de pele", diz. Tanto o novo modelo biológico quanto as pesquisas que relacionam estresse crônico e psoríase contaram com financiamento do programa Jovem Cientista do Nosso Estado da FAPERJ.





Autor: Juliana Passos
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 21/10/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4324.2.9

Bloqueio dos nervos ilioinguinal e iliohipogástrico no parto cesariano

O parto cesariano é a intervenção cirúrgica mais comum no mundo. O alívio inadequado da dor após o parto pode afetar negativamente a amamentação, os cuidados com o bebê e a satisfação materna, além de aumentar morbidade e tempo de internação hospitalar. A analgesia multimodal, incluindo opioides neuroaxiais de longa ação (morfina) fazem parte da estratégia padrão para combater a dor. Entretanto, sabemos dos efeitos adversos do uso da morfina no neuroeixo: prurido, náuseas e vômitos, retenção urinária, constipação intestinal e depressão respiratória.

Nos últimos anos, assistimos a expansão de vários bloqueios de nervos abdominais na tentativa de reduzir o consumo de opioides no período pós-operatório, como o bloqueio do plano transverso do abdome (TAP block), bloqueio do músculo quadrado lombar (QL block), bloqueio ilioinguinal-iliohipogástrico (II-IH block) e infiltração da ferida operatória.

O suprimento nervoso da parede abdominal anterior é derivado dos nervos originados de T6 a L1, que passam pelo plano entre o transverso do abdomen e o músculo oblíquo interno. Os ramos cutâneos dos nervos subcostais T11 e T12, o nervo ílio-hipogástrico e o nervo ilioinguinal irrigam a pele abaixo do umbigo. A cesariana é comumente realizada com uma incisão de Pfannenstiel, e o componente somático da dor gerada neste local é conduzido pelos nervos II-IH, que inervam a distribuição dos dermátomos L1-L2. Portanto, o bloqueio desses nervos resulta em um alívio eficaz da dor.




Revisão sobre o parto cesariano

Foi realizada uma revisão sistemática e metanálise com o objetivo de avaliar a eficácia do bloqueio II-IH na redução dos escores de dor e consumo de opioides após parto cesariano. Um total de 13 ensaios com 858 pacientes foram incluídos. Os pacientes receberam anestesia geral em quatro ensaios, raquianestesia em oito ensaios e anestesia raquidiana e peridural em um ensaio. O grupo bloqueio II-IH foi comparado com o grupo controle – composto de pacientes que receberam analgesia sistêmica com ou sem bloqueio placebo (com solução salina 0,9%).

O desfecho primário foi a dose cumulativa de equivalentes de morfina nas primeiras 24h de cirurgia. O desfecho secundário foram os escores de dor em 4 a 6h e 24h de pós-operatório, tempo para a primeira solicitação de analgesia de resgate e efeitos adversos.
Resultados e discussão

O grupo II-IH mostrou propriedade poupadora de opioide com uma redução geral do consumo de equivalentes de morfina intravenosa nas primeiras 24h de 15,57mg. A diferença no consumo de morfina foi mais pronunciada nos pacientes que receberam anestesia geral em comparação com a anestesia neuroaxial, com reduções de 18,04mg e 9,08mg de equivalentes de morfina respectivamente.

Além disso, o grupo bloqueio II-IH mostrou redução significativa dos escores de dor de 4 a 6h e prolongou o tempo de solicitação da analgesia de resgate.

Houve também uma redução significativa da incidência de náuseas e vômitos pós-operatórios (NVPO) no grupo bloqueio II-IH.

A escolha do II-IH block em detrimento do TAP block e do QL block se deve à sua facilidade de realização, cobertura precisa dos dermátomos L1-L2 e posicionamento em decúbito dorsal. O TAP block apresenta falha de bloqueio do dermátomo de L1 em > 50% dos pacientes, já o QL block necessita mudança de decúbito e técnica mais difícil.

Conclusão

Esta revisão sistemática analisou os dados agrupados de 13 ensaios clínicos randomizados e descobriu que o uso do bloqueio II-IH foi associado a uma redução significativa no consumo de opioides nas primeiras 24h e uma diminuição na incidência de NVPO em comparação com os grupos controle. No grupo II-IH, também houve uma redução notável nos escores médios de dor em repouso em todos os intervalos de tempo medidos e um tempo maior para a primeira solicitação de analgésico de resgate pós-operatório.







Autor: Bruno Vilaça
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 26/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/bloqueio-dos-nervos-ilioinguinal-e-iliohipogastrico-no-parto-cesariano/

Tromboembolismo pulmonar: métodos diagnósticos e tratamento [podcast]

Neste episódio, o Dr. Gabriel Quintino, especialista em cardiologia e conteudista do Whitebook, vai falar sobre tromboembolismo pulmonar (TEP). Entenda mais sobre os métodos diagnósticos – diagnósticos diferenciais – e tratamento – há ainda espaço para o uso da Heparina não fracionada?

A doença pode ser classificada de duas formas.

Pela duração do quadro em:
Aguda (quadro inicia imediatamente a obstrução);
Subaguda (surgem sintomas após dias ou semanas);
Crônica (apresentação após anos de doença).

Pela localização do trombo em:
Sela;
Na bifurcação das duas artérias pulmonares (casos mais graves);
Lobar;
Segmentar e subsegmentar.

O quadro clássico engloba dor torácica aguda em pontada, ventilatório-dependente (pleurítica), dispneia, tosse e hemoptise (pouco usual). E os sintomas atípicos são: síncope, crise convulsiva, dor abdominal, febre, diminuição do nível de consciência, dor em flanco, nova fibrilação atrial, delirium (em idosos), chiado no peito.

Para esmiuçar as questões do enunciado, tenha em mente o caso clínico de um paciente que dá entrada na emergência com dor torácica e dispneia. Esses são sintomas clássicos do tromboembolismo pulmonar e que pode ser pensado como diagnóstico diferencial, mas não se tem a certeza absoluta, uma vez que a gravidade dos sintomas varia bastante.



Qual o passo a passo para excluir os diagnósticos diferenciais?

O diagnóstico vai envolver alguns escores, como o de Wells. Entenda os próximos passos para exclusão de outros diagnósticos diferenciais no podcast completo:

 


Autor: Bruna Lupp
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 26/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/tromboembolismo-pulmonar-diagnostico-tratamento/

Poliomielite no século 21: onde estamos?

O dia 24 de outubro é marcado como o Dia Mundial de Combate à Poliomielite. Apesar de controlada no Brasil, a ocorrência de casos em outros países mantém a possibilidade de reintrodução da doença.

A erradicação da poliomielite é um projeto mundial, com programas coordenados pelo Centers for Disease Control and Prevention (CDC), Organização Mundial da Saúde (OMS) e United Nations Children’s Fund (UNICEF), focando especialmente na imunização.

A comemoração do Dia Mundial de Combate à Pólio é uma boa oportunidade para rever alguns pontos em relação a essa doença.



Características clínicas da poliomielite

Causada por um vírus de RNA fita-simples, os poliovirus são enterovírus capazes de causar doença neurológica em humanos. A transmissão é pessoa a pessoa pelas vias oral ou fecal-oral e mesmo pessoas assintomáticas podem transmitir o vírus.

Três sorotipos foram identificados até o momento, sendo que atualmente somente o tipo 1 está relacionado aos casos de doença selvagem. O tipo 2 está associado ao desenvolvimento de doença vacinal, sendo considerado erradicado em sua forma selvagem.

Em sua maioria, indivíduos infectados são assintomáticos, mas cerca de 25% desenvolvem sintomas. Entre esses, a maior parte apresenta doença leve, com recuperação total posterior. Entretanto, 0,5% podem desenvolver quadros de paralisia flácida aguda que, em casos graves, pode resultar em quadriplegia, insuficiência respiratória ou morte. Nos que se recuperam, alguns podem apresentar uma síndrome pós-pólio, com piora de paresia ou paralisia 20 a 30 após a infecção.
Epidemiologia atual

Antes da disponibilidade de vacinas, a poliomielite tinha distribuição mundial, mas sua incidência vem diminuindo ao longo das décadas, com redução de mais de 99% nos casos estimados.

No Brasil, os últimos casos de pólio ocorreram em 1989, quando 25 casos foram notificados. Em 1994, o país recebeu o certificado de eliminação da pólio, permanecendo sem casos notificados de doença selvagem desde então.

Desde 2016, os casos de vírus selvagem têm sido identificados somente no Afeganistão e no Paquistão. Dos 179 casos notificados em 2019, 29 foram no Afeganistão e 174 no Paquistão, o que representa 16% e 84%, respectivamente. No ano de 2020, foi identificado um aumento dos casos no Afeganistão e uma diminuição no Paquistão, porém a pandemia de Covid-19 interferiu com as redes de vigilância de paralisia flácida aguda, o que, por sua vez, pode ter comprometido a rede de vigilância epidemiológica de pólio.

Surtos causados pelo vírus vacinal também aumentaram nos últimos anos, incluindo outros países que não os que já foram citados. Somente em 2021, 195 casos foram identificados, sendo 144, fora do Afeganistão ou Paquistão.
Epidemiologia atual

Antes da disponibilidade de vacinas, a poliomielite tinha distribuição mundial, mas sua incidência vem diminuindo ao longo das décadas, com redução de mais de 99% nos casos estimados.

No Brasil, os últimos casos de pólio ocorreram em 1989, quando 25 casos foram notificados. Em 1994, o país recebeu o certificado de eliminação da poliomielite, permanecendo sem casos notificados de doença selvagem desde então.

Desde 2016, os casos de vírus selvagem têm sido identificados somente no Afeganistão e no Paquistão. Dos 179 casos notificados em 2019, 29 foram no Afeganistão e 174 no Paquistão, o que representa 16% e 84%, respectivamente. No ano de 2020, foi identificado um aumento dos casos no Afeganistão e uma diminuição no Paquistão, porém a pandemia de Covid-19 interferiu com as redes de vigilância de paralisia flácida aguda, o que, por sua vez, pode ter comprometido a rede de vigilância epidemiológica de pólio.

Surtos causados pelo vírus vacinal também aumentaram nos últimos anos, incluindo outros países que não os que já foram citados. Somente em 2021, 195 casos foram identificados, sendo 144, fora do Afeganistão ou Paquistão.
Tratamento, prevenção e vigilância

Não existe tratamento específico para a poliomielite. Por esse motivo, a melhor estratégia para o controle da doença é a vacinação como forma de prevenção.

Atualmente no Brasil, a vacinação contra pólio está incluída no calendário de imunização infantil, nas formas de vacinas inativada e ativada. Pela associação com doença vacinal, a vacina ativada não contém o tipo 2 do vírus.

A recomendação é a administração da vacina inativada (VIP), por via IM, aos dois, quatro e seis meses de idade e reforço com a vacina ativada (VOP), por via oral, aos 15 meses e aos quatro anos.

Manter uma cobertura vacinal adequada é essencial para a erradicação da doença no mundo, controle dos casos de doença vacinal e manutenção do status de eliminação nos países em que casos não são registrados.

Casos de paralisia flácida aguda são considerados como agravos de notificação compulsória, devendo ser notificados ao Serviço de Vigilância responsável para que a investigação ocorra em tempo oportuno.

Para efeitos de notificação, consideram-se como casos suspeitos de paralisia flácida aguda:
Todo caso de deficiência motora flácida, de início súbito em pessoas menores de 15 anos, independente da hipótese diagnóstica de
poliomielite.
Caso de deficiência motora flácida, de início súbito, em indivíduo de qualquer idade, com história de viagem a países com circulação do poliovírus nos últimos 30 dias, que antecederam o início do déficit motor, ou contato no mesmo período com pessoas que viajaram para esses países que
apresentem suspeita diagnóstica de poliomielite.






Autor: Isabel Cristina Melo Mendes
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 26/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/poliomielite-no-seculo-21-onde-estamos/

segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Jejum intermitente: Evidências a favor dessa prática para melhora do perfil metabólico

O jejum intermitente, uma estratégia alimentar muito utilizada nos dias atuais, consiste na alternância de períodos de jejum, ou seja, estado não alimentado, com janelas de alimentação. Nessa estratégia, o período ao qual o paciente se alimenta restringe-se a menos de 12 horas durante o dia, podendo chegar a intervalos de até 24 a 48 horas de jejum em alguns casos específicos. Muitos estudos tem sido realizados nessa área e muitos profissionais tem utilizado rotineiramente essa estratégia para tratamento da obesidade e melhora do perfil metabólico dos pacientes.

Satchidananda Panda, PhD, do Panda Lab no Salk Institute for Biological Studies, La Jolla, California relata: “A prática do jejum intermitente tem demonstrado um grande benefício na prevenção e melhora de doenças metabólicas causadas pela obesidade. O jejum é uma prática fácil de seguir e que exige muito menos matemática do que a contagem de calorias, além disso tem a capacidade de melhorar o sono e diminuir o risco de desenvolver diabetes, obesidade e doenças cardíacas”.

“Pessoas que estão tentando perder peso e viver uma vida mais saudável, devem prestar mais atenção em que momento comem e o que comem” aconselha Dr Panda.

O jejum intermitente, além de ser uma técnica sem contraindicações é capaz de ser realizada por qualquer pessoa, em qualquer lugar.

Um artigo publicado em setembro no Endocrine Reviews pelo DR Emily N. Manoogian, sugere que os profissionais da área de saúde devam encorajar seus pacientes, principalmente aqueles de risco a obesidade, a monitorizar a qualidade da sua alimentação e o horário do sono, além de estimular as mudanças de hábitos como a diminuição do consumo de lanches no final da noite e sempre dormir no mesmo horário todos os dias.



Estudos sobre o jejum intermitente

Estudos em animais e alguns estudos pilotos em humanos evidenciaram que a prática do jejum intermitente sem déficit calórico durante a janela alimentar foi suficiente para reduzir o peso corporal, diminuir a hipertensão, a dislipdemia e a intolerância a glicose. Apesar desses estudos não estimularem o déficit calórico, os pacientes que participaram tiveram uma redução de 7% a 22% do seu consumo calórico diário.

Foram revisados 39 estudos que abrangeram a prática do jejum intermitente, sendo a maioria realizados por curto período de tempo, com uma janela alimentar de 8-10 horas. Em 24 dos 39 estudos houve uma significativa perda de peso entre os participantes e em todos, a prática foi considerada aceitável e segura.


Enquanto outros estudos estão sendo realizados com amostragem populacional maior e por tempo mais prolongado, o autor sugere algumas dicas como por exemplo:
Ser consistente;
Parar de se alimentar três horas antes de ir dormir;
Escolher uma janela alimentar que seja pelo menos uma hora após se levantar e três horas antes de dormir, para que os picos diários de melatonina (durante a parte da manhã e da noite) não interfiram na absorção do alimento;
Sempre tentar se alimentar durante o mesmo horário todos os dias;
Comer sempre o mais cedo possível, assim quando abrir a janela.






Autor: Gabriela Queiroz
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 25/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/jejum-intermitente-evidencias-a-favor-dessa-pratica-para-melhora-do-perfil-metabolico/

Metformina versus insulina ou gliburida no controle do diabetes mellitus gestacional e desfechos neonatais

O diabetes mellitus gestacional (DMG) é uma condição de extrema importância para os desfechos neonatais. Com prevalência estimada em cerca de 18% no Brasil, atualmente é recomendado que todas gestantes tenham a glicemia de jejum (GJ) dosada no primeiro trimestre como parte do pré-natal. O diagnóstico do DMG, seguindo os critérios da IADPSG, validados e aceitos pela American Diabetes Association (ADA) e pela Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD), requerem alteração em apenas um parâmetro no teste oral de tolerância à glicose 75 g (TOTG, ou GTT) entre a 24ª e 28ª semana de gestação (Jejum ≥ 92 mg/dL, 1ª hora ≥ 180 mg/dL e 2ª hora ≥ 153 mg/dL). Considerando tais valores, extrapola-se a glicemia de jejum para o primeiro trimestre, considerando DMG caso a GJ ≥ 92 mg/dL, uma vez que a tendência nessas pacientes é de haver um incremento glicêmico sobretudo na segunda metade da gestação, onde há um aumento dos hormônios contrarreguladores.

Desde o HAPO trial, publicado no New England Journal of Medicine (NEJM) em 2008, é bem estabelecido que quanto maior a média glicêmica, piores são os desfechos neonatais, sobretudo quanto ao risco de feto GIG (maior que P90), hipoglicemia neonatal e maior risco de cesárea. É bem estabelecido que a hiperglicemia materna não controlada também se associa a maior risco de hiperbilirrubinemia neonatal, prematuridade, insuficiência respiratória e morte perinatal.


Já com relação ao tratamento, a principal medida eficaz na grande maioria das pacientes é a mudança do estilo de vida, com dietas equilibradas. Porém devido ao fato de vários antidiabéticos orais atravessarem a placenta e não apresentarem um perfil de segurança bem estabelecido, o tratamento padrão medicamentoso acaba sendo a insulinoterapia.

É sabido que a metformina atravessa a barreira hematoplacentária, mas os riscos associados ao uso durante a gestação e sobretudo a longo prazo são discutíveis. Considerando esses fatores, recentemente foi publicada uma metanálise de ensaios clínicos randomizados que buscou avaliar a eficiência e segurança no uso de insulina, metformina e gliburida (uma sulfonilureia) no diabetes mellitus gestacional, seus desfechos glicêmicos e perinatais.



A metanálise

Foram incluídos 4.533 participantes de 23 trials. A análise quantitativa final considerou apenas estudos analisados na forma “intention to treat”. Foram excluídos trials que não estavam bem pareados quanto à glicemia inicial. Os desfechos analisados incluíram o controle do DMG (baseado na glicemia de jejum, 2 horas pós-prandial e HbA1c) e desfechos neonatais, destacando o risco de hipoglicemia neonatal, hiperbilirrubinemia, macrossomia, morte perinatal, feto GIG e prematuridade. Os resultados foram comparados como diferença média padronizada (SMD, ou “tamanho de efeito”).
Resultados

a) Comparada a gliburida:
A metformina reduziu a glicemia pós-prandial (2 horas após): – 0,18 (SMD 0,01 – 0,34, IC 95%). Não houve diferenças quanto aos desfechos perinatais.

b) Comparada a insulina:
A metformina reduziu risco de hipoglicemia neonatal (diferença de risco – 0,07 (-0,11 a – 0,02, IC 95%), porém houve grande heterogeneidade nos trabalhos que avaliaram tal desfecho (I² 56%);
O grupo metformina teve menor peso ao nascer: -0,17 (SMD -0,25 a – 0,08; IC 95%). Houve uma tendência a menor incidência de macrossomia, mas sem significância estatística;
Menor ganho de peso materno: – 0,61 (SMD – 0,86 a – 0,35, IC 95%).

A metformina foi tão efetiva quanto a insulina no controle glicêmico, com bom potencial para controle da glicemia pós-prandial e com baixa prevalência de hipoglicemia neonatal, macrossomia e internações em UTI, além de levar a menor ganho de peso materno e fetal.


Ainda, não foram encontradas diferenças em hiperbilirrubinemia neonatal, trauma obstétrico, morte perinatal, prematuridade, grandes ou pequenos para idade gestacional, o que sugere que a metformina parece ser segura a curto prazo.
Na prática

Esta metanálise traz informações favoráveis à metformina quanto aos desfechos fetais. Claro, devemos lembrar da metformina como uma medicação possível no tratamento do DMG. No entanto, o estudo analisou de forma exclusiva os efeitos gestacionais a curto prazo e há discussão sobre o papel da metformina ao longo da vida, se ela poderia aumentar por exemplo o risco de obesidade infantil. A ADA e a FEBRASGO ainda recomendam a insulina como tratamento inicial para o diabetes mellitus gestacional, sendo que a ANVISA libera para uso na gestação apenas caso a gestante assine um termo de consentimento livre e esclarecido (vale lembrar que a droga é categoria B na gestação).

Desta forma, considerando a segurança no tratamento com insulina, a metformina pode ser considerada como uma segunda opção naquelas pacientes com extrema resistência insulínica, com necessidade de doses muito elevadas para melhor controle do diabetes.







Autor: Luiz Fernando Fonseca Vieira
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 25/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/metformina-versus-insulina-ou-gliburida-no-controle-do-diabetes-gestacional-e-desfechos-neonatais/

Mortalidade de pacientes com problemas cardíacos pós-Covid é de 42%, aponta estudo do InCor

A taxa de mortalidade hospitalar em pacientes com problemas cardíacos em decorrência da Covid-19 é de 42%, de acordo com os pesquisadores do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HCFMUSP), que realizaram o primeiro estudo brasileiro para avaliar os impactos da Covid-19 no coração.

No entanto, os fatores que podem aumentar ainda mais o risco de óbitos nesses pacientes ainda são desconhecidos.

O estudo foi publicado neste mês na revista científica “IJC Heart & Vasculature”, com o professor e cardiologista Roberto Kalil Filho, presidente do InCor, como responsável.



Método realizado

Para chegar a essa conclusão foram avaliados os prontuários médicos de 2.546 pacientes, com idade média de 65 anos, com Covid-19 e características de alto risco de acordo com critérios clínicos e/ou laboratoriais em 21 centros no Brasil de 10 de junho a 23 de outubro de 2020, até que tivessem alta hospitalar ou viessem a óbito.

Kalil Filho ressaltou que a Covid-19 é uma doença predominantemente pulmonar, mas que afeta diversos órgãos, como o coração. “A síndrome pós-Covid pode trazer consequências para o coração após a alta hospitalar. Por conta desses fatores, é fundamental o acompanhamento clínico, mesmo que o paciente tenha se recuperado da doença”.
Resultados

No geral, 70,8% foram internados em unidades de terapia intensiva e 54,2% apresentavam níveis elevados de troponina. Com mortalidade hospitalar de 41,7%. Foi encontrada interação entre sexo, idade e mortalidade (p = 0,007). As mulheres mais jovens apresentaram taxas de mortalidade mais elevadas (30,0% vs 22,9%), enquanto os pacientes masculinos mais velhos apresentaram taxas de mortalidade mais elevadas (57,6% vs 49,2%).

Os fatores mais fortes associados à mortalidade hospitalar foram a necessidade de ventilação mecânica, proteína C reativa elevada, câncer e níveis elevados de troponina.

Segundo o estudo, a elevação nos níveis de troponina (proteína liberada quando ocorrem lesões no coração) é um dos principais fatores de alerta para a elevação do risco de mortalidade. No total, 70,8% dos participantes foram internados em unidades de terapia intensiva e 54,2% apresentavam níveis elevados de troponina.

Em menor percentual, outros fatores de risco também foram identificados, como a insuficiência cardíaca prévia (12,6%), alterações no ecocardiograma (6%), síndromes coronárias agudas (5,7%) e arritmias (4,5%).

Nesses casos, a mortalidade está associada à idade avançada, a necessidade de ventilação mecânica, aos altos índices de inflamação, alterações no músculo cardíaco e no sistema de coagulação do sangue.

Corona Heart Risk Score

A equipe do InCor desenvolveu um score de risco, o Corona Heart Risk Score, para auxiliar médicos na avaliação precoce e na orientação dos cuidados e dos potenciais tratamentos em pacientes infectados com Covid-19.

“Primeiro na América do Sul, esse estudo passa agora a compor o conjunto mundial de informações sobre intercorrências cardíacas em pacientes com Covid-19, ao lado de pesquisas da Itália, Estados Unidos e Inglaterra. Como cada população tem sua especificidade, é importante que tenhamos esse estudo como um recorte brasileiro”, reforçou o cardiologista Kalil Filho.

*Esse artigo foi revisado pela equipe médica do Portal PEBMED







Autor: Úrsula Neves
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 25/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/mortalidade-de-pacientes-com-problemas-cardiacos-pos-covid-e-de-42-aponta-estudo-do-incor/

Lesão miocárdica após cirurgia não cardíaca

A lesão miocárdica após cirurgia não cardíaca (MINS, do inglês myocardial injury after non-cardiac surgery) ocorre de forma relativamente frequente e tem relação com prognóstico, sendo que pacientes que apresentam MINS tem maior mortalidade. Recentemente, a AHA lançou um documento com orientações em relação ao diagnóstico e manejo de pacientes com lesão miocárdica após cirurgia não cardíaca. Abaixo estão os principais pontos abordados.



Definição

Pelo menos uma dosagem de troponina acima do percentil 99, decorrente de um mecanismo presumidamente isquêmico, na ausência de causas não isquêmicas e que ocorre em até 30 dias após a cirurgia. Não é necessária alteração clínica ou eletrocardiográfica para o diagnóstico. Importante ressaltar que o tipo de troponina tem influência, com maior detecção de MINS quando usadas as troponinas ultra-sensíveis (US). Além disso, estudos com troponina I ainda são escassos e a troponina T US é a mais utilizada.

Ao detectarmos uma troponina alterada no pós-operatório precisamos confirmar se realmente é uma alteração aguda ou se se trata de injúria miocárdica crônica. Para isso é necessário repeti-la de forma seriada e quando há aumento ou queda maior que 20% entre uma dosagem e outra, consideramos lesão aguda. Este valor foi definido a partir de opinião de especialistas e ainda não validado no cenário de pós-operatório.

O valor absoluto da troponina também pode nos auxiliar: o aumento da troponina T ultra-sensível (US) em mais de 5ng/L tem associação com aumento de mortalidade em 30 dias e pacientes com pico de troponina maior que 20ng/L tiveram mais de 3% de mortalidade em 30 dias. Já valores de pico maiores que 65ng/L tiveram relação com maior mortalidade independente da variação.

A obtenção de troponina pré procedimento pode servir como base e é recomendada para pacientes com idade ≥ 65 anos ou ≥ 45 anos com doença aterosclerótica coronária (DAC) ou doença aterosclerótica periférica (DAP) estabelecidas.

Para o diagnóstico de MINS, devemos excluir as causas não isquêmicas, que representam 11 a 14% dos casos. As principais são sepse, embolia pulmonar, elevação crônica de troponina, desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio por mecanismo não aterotrombótico (fibrilação atrial (FA) de alta resposta ventricular, anemia grave) e insuficiência cardíaca descompensada.
Epidemiologia

É alteração relativamente comum, porém bastante variável, já que 90% dos pacientes não tem sintomas isquêmicos identificáveis e o diagnóstico depende da coleta da troponina no pós-operatório. Uma metanálise com 53.0867 cirurgias mostrou incidência de 18% e uma análise restrita a grandes séries de casos com dosagem sistemática da troponina mostrou incidência de 20%. Um estudo mostrou que 78% dos casos ocorrem no dia da cirurgia ou no primeiro dia de pós-operatório e 94% até o segundo dia de pós-operatório.
Mecanismos da lesão miocárdica

MINS por definição tem origem isquêmica, com desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio ou aterotrombose. Muitos fatores podem contribuir para este desbalanço e consequente aumento da troponina no pós-operatório. A anestesia e o trauma cirúrgico geram aumento de catecolaminas, cortisol e citocinas inflamatórias com consequente alterações hemodinâmicas e do sistema coagulação
Taquicardia: diminui o tempo de diástole e aumenta o estresse da parede miocárdica com consequente aumento do consumo de oxigênio.
Hipertensão: aumenta a pós-carga e o consumo de oxigênio e gera aumento do estresse de cisalhamento na parede da coronária, que pode instabilizar uma placa.
Hipotensão e bradicardia: podem gerar hipoperfusão coronária e, na presença de placa, gerar desbalanço entre oferta e consumo de oxigênio.
Aumento da ativação plaquetária e hipercoagulabilidade: estado pró trombótico, inflamação vascular, disfunção endotelial e doença coronária microvascular.

Estudo que avaliou anatomia coronária no pré operatório mostrou que 72% dos pacientes que tiveram infarto no pós-operatório tinham placa obstrutiva prévia e apenas 4% não tinham doença coronária estabelecida. Entre pacientes que realizaram avaliação da anatomia coronária no pós-operatório, em decorrência de IAM ou MINS, 77 a 94% tinham DAC obstrutiva e esse parece ser o fator mais importante para ocorrência deste evento.
Fatores de risco

Alguns fatores de risco foram identificados em estudos de coorte: sexo masculino, idade mais avançada, capacidade funcional avaliada pelo score Duke Activity Status Index (capacidade funcional estimada e capacidade máxima de exercício em testes de esforço não tiveram relação com ocorrência de MINS), hipertensão, diabetes, doença coronária, doença arterial periférica, doença cerebrovascular, insuficiência cardíaca, fibrilação atrial, doença renal crônica (clearence < 60ml/min/1,73m2), apneia do sono obstrutiva grave não tratada, alto risco no score de Lee e no STOP-BANG score.

Em relação a exames complementares, os que tiveram relação com MINS são: BNP ou NT-pró BNP aumentados, relação neutrófilo-linfócito > 4, glicemia aumentada, presença de plaquetas reticuladas, isquemia em prova funcional, recuperação da frequência cardíaca no teste ergométrico prejudicada.

O tipo de cirurgia também tem relação, sendo mais aumentado nas cirurgias de emergência, nas vasculares (principalmente cirurgias abertas de aorta e infra-inguinais) e intra-abdominais.
Tratamento medicamentoso

Até o momento não há nenhuma medicação segura e efetiva, já que não há nenhum grande estudo multicêntrico randomizado que teve MINS como desfecho primário. Três grandes estudos avaliaram uso de beta-bloqueadores, agonistas alfa-2, aspirina e oxido nitroso, com infarto compondo o desfecho primário e atualmente podem nos auxiliar, já que infarto é englobado pela definição de MINS.

O estudo POISE mostrou que os beta bloqueadores reduziram o risco de infarto não fatal em 30%, porém às custas da ocorrência de duas vezes mais AVCs e com aumento da mortalidade por todas as causas. Sendo assim, não é recomendado iniciá-los como forma de reduzir infarto perioperatório, porém pacientes que já fazem uso da medicação devem mantê-la.

Aspirina e clonidina foram estudadas no POISE-2 e não mostraram benefício em reduzir infarto ou mortalidade. Além disso, clonidina desencadeou bradicardia e hipotensão e aspirina sangramento. No subgrupo de pacientes que tinham stent (5%) houve menor ocorrência de infarto e mortalidade. aA recomendação atual é não iniciar nenhuma dessas medicações e manter aspirina caso o paciente tenha tido evento prévio, principalmente com angioplastia.

O estudo ENIGMA-2 avaliou o uso de oxido nitroso ou nitrogênio durante anestesia geral. Não houve benefício ou malefício do uso da medicação em relação a desfecho cardiovascular, incluindo infarto.

Em relação ao uso de estatina, inibidores de ECA e bloqueadores do receptor de angiotensina os dados são limitados e controversos na prevenção de MINS.
Hipotensão intraoperatória

Não há grandes trials que avaliaram a hemodinâmica intraoperatória e desfecho cardiovascular. Porém análises retrospectivas sugerem que mesmo pequenos períodos de hipotensão são associados a lesão miocárdica, insuficiência renal aguda e mortalidade. Um estudo mostrou que pressão arterial média menor que 65 mmHg ou queda de aproximadamente 30% do basal foi associado a injúria miocárdica e lesão renal aguda.

Os fatores de risco de base do paciente são preditores muito melhores de MINS, porém a hipotensão é algo muito mais facilmente controlado e um terço dos casos ocorre entre a indução anestésica e a incisão cirúrgica. O monitoramento intra-operatório contínuo reduz a frequência e gravidade dos episódios de hipotensão, já que permite a intervenção mais precoce quando ocorre, com redução de seu tempo total.

Não há estudos randomizados em relação a estratégias para controle da hipotensão e redução da ocorrência de MINS e infarto.
Taquicardia intraoperatória

Alguns estudos mostraram associação entre taquicardia pré operatória e ocorrência de MINS. Uma análise secundaria do estudo VISION também mostrou associação entre lesão miocárdica e taquicardia, principalmente quando frequência maior que 100bpm por períodos prolongados, porém outro estudo com quase 3000 pacientes não mostrou essa relação.
Vigilância pós-operatória

A analgesia e sedação do pós-operatório mascaram a ocorrência de sintomas isquêmicos, como a dor torácica, o que limita a obtenção de informações importantes em relação a ocorrência de eventos cardiovasculares. Em um estudo de 2018, apenas 6% dos pacientes com aumento de troponina tiveram dor torácica e 18% tiveram sintomas isquêmicos de qualquer tipo. No estudo VISION, dos pacientes com MINS, 7% tiveram sintomas isquêmicos e 25% tiveram alteração eletrocardiográfica, com alterações isquêmicas mais comuns sendo inversão de onda T (17%) e infra-desnivelamento de segmento ST (10%).

Por estas características, a identificação de lesão miocárdica deve ser baseada na dosagem da troponina. A coleta da troponina não deve ser realizada para todos os pacientes no pós-operatório, mas para aqueles com alto risco cardiovascular, sendo que o benefício parece ser maior para os pacientes em quem o diagnóstico levaria a mudança terapêutica. Este grupo ainda também não é bem definido. As recomendações das principais diretrizes são:
Diretriz canadense: recomenda a coleta de troponina seriada por 48 a 72 horas após cirurgia não cardíaca em pacientes de alto risco, definidos como os com BNP aumentado, score de Lee maior ou igual a 1, idade maior ou igual a 65 anos ou entre 45 e 64 anos com doença cardiovascular significativa.
Diretriz da ESC: coleta de troponina até 48 a 72 horas após cirurgias maiores pode ser considerada em pacientes de alto risco
Diretriz da Sociedade Europeia de Anestesiologia: sugere coleta de troponina antes do procedimento e até 48 a 72 horas após em pacientes de alto risco que serão submetidos a cirurgias maiores.
Diretriz da AHA: não recomenda coleta de troponina de rotina, apenas na presença de sinais ou sintomas isquêmicos.
Prognóstico

Pacientes com MINS tem prognóstico pior a curto e longo prazo. Um estudo mostrou mortalidade pós-operatória de 6,1% em 30 dias em pacientes com MINS, sendo 60% dós óbitos considerados de causa cardíaca. Houve também aumento da mortalidade em 1 ano e aumento da taxa de recorrência de eventos em 1 a 2 anos após a cirurgia. Pacientes com MINS devem ser seguidos por cardiologista com objetivo de otimizar a estratificação de risco e medidas de prevenção secundária.
Manejo pós-operatório

O manejo ideal de pacientes com MINS ainda não é bem definido. A maioria dos casos está relacionada a doença aterosclerótica e devemos excluir outras causas de lesão que tem tratamento específico (embolia pulmonar, doença valvar, insuficiência cardíaca descompensada). Quando há dúvida do mecanismo de lesão, exames complementares podem ser necessários.

A terapia antitrombótica parece ser benéfica e a prescrição de aspirina na alta é associada a redução de risco de mortalidade em 30 dias. Anticoagulação também foi investigada no estudo MANAGE, que testou rivaroxabana 110mg duas vezes ao dia comparado ao placebo. A ocorrência de eventos vasculares maiores foi menor no grupo anticoagulado, porém sem diferença em mortalidade e infarto não fatal e às custas de aumento de sangramento menor e de trato gastrointestinal. Porém esse estudo teve muitas limitações e alta taxa de suspensão da medicação. Em relação a estatinas, não há estudos randomizados com pacientes com MINS, porém é uma medicação que parece ser benéfica.

Atualmente, a prescrição de AAS e estatina ainda é baixa (um estudo mostrou que apenas 48% dos pacientes receberam AAS e estatina na alta), assim como o seguimento destes pacientes com cardiologista (outro estudo mostrou que apenas metade dos pacientes foi visto por cardiologista na alta e apenas 29% destes tiveram o tratamento otimizado). Um estudo pequeno mostrou que pacientes com MINS que tiveram tratamento otimizado, tiveram mortalidade semelhante a dos pacientes sem MINS. Já os que não tiveram o tratamento otimizado tiveram maior risco de mortalidade ou eventos cardiovasculares.

O ideal é encaminhar esses pacientes para consulta com cardiologista e a avaliação com exames complementares deve ser individualizada. A realização rotineira de coronariografia não parece ter benefício, mas pode ser necessária nos casos de pacientes de alto risco. O momento ideal para sua realização também não está bem definido e deve ser baseado no contexto clínico, valor do pico de troponina, presença de isquemia persistente e risco de sangramento relacionado ao procedimento.

Conclusão

O diagnóstico de MINS é relativamente novo, descrito inicialmente em 2014, sendo que ainda há dúvidas em relação ao diagnóstico e população em risco, mas principalmente em relação ao manejo desses pacientes. Há vários estudos controlados e randomizados em andamento que nos ajudarão a esclarecer esses questionamentos.





Autor: Isabela Abud Manta
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 25/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/lesao-miocardica-apos-cirurgia-nao-cardiaca/