quinta-feira, 31 de março de 2022

Herman Daly e o mundo antropicamente cheio, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Conhecer o trabalho de Heman Daly é fundamental para entender a situação econômica e ecológica atual

“O impacto ambiental é o produto do número de pessoas vezes o uso de recursos per capita. Em outras palavras, você tem dois números multiplicados um pelo outro – qual é o mais importante? Se você mantiver uma constante e deixar a outra variar, você ainda está multiplicando. Não faz sentido para mim dizer que apenas um número é importante”
Herman Daly (2018)

O crescimento econômico e demográfico do mundo iniciou um processo de aumento exponencial depois do ano de 1769, quando James Watt patenteou a máquina a vapor, dando início ao uso em larga escala dos combustíveis fósseis (começando pelo carvão mineral, depois petróleo e gás). Em 250 anos, a economia global cresceu 135 vezes, a população mundial cresceu 9,2 vezes e a renda per capita cresceu 15 vezes. Este crescimento demoeconômico foi muito maior do que em todo o período dos 200 mil anos anteriores, desde o surgimento do Homo sapiens.

No início da Revolução Industrial e energética havia menos de 1 bilhão de humanos no Planeta e, em 2023, deve chegar a 8 bilhões. Este alto crescimento demográfico alimentou a economia internacional com trabalhadores e consumidores que foram se enriquecendo (de maneira desigual) e empobrecendo (de maneira geral) a natureza. Patões, empregados e políticos costumam entoar o mantra do crescimento, mesmo sabendo que vivemos em um mundo entrópico e que as leis da física mostram que é impossível manter um crescimento econômico infinito em um Planeta finito.

O crescimento das atividades antrópicas fez a humanidade ultrapassar a capacidade de carga da Terra e está provocando um “crescimento deseconômico”, quando os “males” crescem mais rapidamente do que os “bens”, tornando-nos mais pobres, e não mais ricos, como mostrou o economista ecológico Herman Daly. Mas, infelizmente, as mensagens dos economistas ecológicos não são muito apreciadas pelo establishment econômico.

Conhecer o trabalho de Heman Daly é fundamental para entender a situação econômica e ecológica atual. Neste sentido, é muito bem-vindo o livro Herman “Daly’s Economics for a Full World: His Life and Ideas”, do professor Emérito e Acadêmico Sênior da Universidade de York, Peter A. Victor. O autor, nos convida a refletir sobre três questões que fomentaram a rejeição de Daly à economia neoclássica: “Qual é o tamanho da economia; quão grande pode ser sem desmoronar sua base ecológica, e quão grande deve ser?”

Herman Daly nos exorta a melhorar nossas contas nacionais de fluxos de materiais e buscar a eficiência – produzindo bens e serviços mais úteis para cada unidade de recursos e serviços ecossistêmicos que consumimos. Lamenta o desconhecimento proposital do conceito de economia de estado estacionário.

Porém, uma economia de estado estacionário se assemelharia à natureza. Isso nos permitiria buscar o desenvolvimento (artístico, espiritual, científico, etc.) em vez do crescimento. O nível atual de consumo da humanidade já excedeu a capacidade da Terra de sustentá-lo. Na atual economia linear “pegar-fazer-usar-resíduos”, as matérias-primas são extraídas para produzir bens que são usados ??e depois descartados como resíduos. Para quem quer conhecer mais sobre a economia ecológica o novo livro de

 Peter Victor.


Herman Daly’s Economics for a Full World, His Life and Ideas. Imagem: Amazon

Herman Daly (2014), no diagrama abaixo, mostra que a economia é um subsistema aberto que está dentro de uma ecosfera que é finita, não cresce e é materialmente fechada (embora receba energia vinda do sol). Quando a economia cresce, em termos físicos, incorpora matérias e energia da ecosfera para dentro de si própria. Pela 1ª Lei da Termodinâmica, há um desvio do uso natural dos materiais e energia para o uso antrópico. Assim, cria-se um óbvio dilema físico entre o crescimento da economia e a preservação do meio ambiente.



Não dá para o subsistema crescer mais do que todo o sistema. Para conciliar a economia com a ecologia é preciso caminhar para um Estado Estacionário (como definiu John Stuart Mill, em 1848). Na primeira figura a economia cresce de maneira desregrada e tende a destruir o meio ambiente, o que leva à destruição da própria economia. Na segunda figura a economia diminui rapidamente e, no limite, pode zerar sua presença na biosfera. Na terceira figura existe um equilíbrio entre a economia e a ecologia, com uma taxa de transferência equilibrada, com o uso de recursos materiais e energia sendo capazes de serem reciclados de forma a diminuir a entropia.

O crescimento das atividades antrópicas nos últimos 250 anos mudou a correlação de forças no Planeta, aumentando a proporção da presença humana (planeta cheio) e diminuindo a proporção das demais espécies e da biocapacidade (planeta vazio). Herman Daly mostra que o crescimento econômico está ficando deseconômico e a natureza degradada já não fornece tantos serviços ecossistêmicos.

A solução atual passa pelo decrescimento das atividades humanas até o ponto que haja um equilíbrio sustentável entre a pegada ecológica e a biocapacidade. Portanto, é preciso reduzir a dimensão do modelo “extrai-produz-descarta”, para que as atividades antrópicas caibam dentro das Fronteiras Planetárias e para estabelecer um “espaço seguro e justo para a humanidade”, respeitando os ecossistemas e o equilíbrio entre as áreas ecúmenas e anecúmenas.

Tudo na natureza tem valor de existência intrínseco. O Planeta não pode ser banalizado pela racionalidade instrumental da sociedade anônima que precifica todos os “bens” ecossistêmicos. O mundo cheio precisa decrescer até atingir o Estado Estacionário, para alcançar convivência respeitosa entre os humanos, as espécies não-humanas e tudo que é inumano, mas tem direito à existência.
José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

DALY. Ecologies of Scale, Interview by Benjamin Kunkel. New Left Review 109, Jan-Feb 2018
https://newleftreview.org/II/109/herman-daly-benjamin-kunkel-ecologies-of-scale

Herman Daly, Economics for a full world, Great Transition, June 2015
https://greattransition.org/publication/economics-for-a-full-world

PETER A. VICTOR. Herman Daly’s Economics for a Full World, His Life and Ideas, Routledge, 2022
https://www.routledge.com/Herman-Dalys-Economics-for-a-Full-World-His-Life-and-Ideas/Victor/p/book/9780367556952

ALVES, JED. Economia Ecológica e dinâmica demográfica global e nacional: cenários para o século XXI, ECOECO, 24/06/2021
https://www.youtube.com/watch?v=baxzJkmgazE

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/03/2022







Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 31/03/2022
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2022/03/30/herman-daly-e-o-mundo-antropicamente-cheio/

Produtos naturais não são inócuos e podem causar danos ao organismo


Os produtos naturais, mesmo na forma de chá, de cápsula, contendo um extrato fabricado a partir de uma matéria vegetal, devem ter registro na Anvisa – Foto: Reprodução/PxHere
Produtos naturais não são inócuos e podem causar danos ao organismo
A frase “porque é natural não faz mal” não corresponde à realidade

Daniel Demarque lembra que produtos naturais não são inócuos e podem causar danos ao organismo, principalmente quando interagem com outros medicamentos

Por Simone Lemos / Jornal da USP no Ar / Rádio USP

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O uso de produtos ditos “naturais” sem indicação médica é um risco à saúde, podendo levar a óbito. As pessoas costumam entrar em uma loja de produtos naturais, manipulados ou até mesmo em farmácias para procurar o que pode ajudar a emagrecer, melhorar a pele, crescer cabelo ou minimizar sua queda sem conhecer ou saber exatamente o que está sendo consumido.

A compra também é facilitada com a venda pela internet. Daniel Demarque, professor do Departamento de Farmácia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP, lembra que aquela frase “porque é natural não faz mal” não existe. Os venenos e as plantas tóxicas também são naturais. “Quando nós consumimos os produtos ditos naturais, nós precisamos ter em mente que esses produtos não são inócuos, ou seja, ainda que naturais são produtos químicos que vão ter efeito no nosso organismo, que o nosso fígado precisa metabolizar para excretar. Não é porque ele é natural que não vai ter nenhum risco ou não vai ter nenhum efeito no nosso organismo.”

Muita gente tem o hábito de tomar um chazinho e acaba aproveitando para tomar um remédio, mas essa é uma combinação perigosa e que deve ser evitada. “Os chás muitas vezes têm substâncias chamadas de taninos, muito comuns nos vinhos, e essas substâncias podem se complexar com os medicamentos e evitar sua absorção.”

Registro na Anvisa

Os produtos naturais, mesmo na forma de chá, de cápsula, contendo um extrato fabricado a partir de uma matéria vegetal, devem ter registro na Anvisa, não podem e não devem ser comercializados sem controle. Seu consumo só deve ser realizado com a orientação de um profissional de saúde. O professor Demarque conta que “existem fitoterápicos, medicamentos feitos a partir de plantas, que podem interagir, por exemplo, com contraceptivos.

A erva de São João, ou Hypericum perforatum, é uma erva utilizada no tratamento de ansiedade e depressão que, quando utilizada com contraceptivos, diminui sua ação, permitindo que a pessoa engravide; Ginkgo biloba fitoterápico, muito utilizado para circulação venosa, auxilia também em distúrbios cognitivos, quando utilizado com anticoagulantes pode levar a quadros hemorrágicos. Esses produtos vão ter um efeito no nosso organismo, vão interagir com outros medicamentos que vamos tomar, por esse motivo é importante buscar informações com profissionais de saúde”.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 31/03/2022





Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 31/03/2022
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2022/03/31/produtos-naturais-nao-sao-inocuos-e-podem-causar-danos-ao-organismo/

Microplástico presente em 16 praias estuarinas do litoral paranaense

Microplástico presente em 16 praias estuarinas do litoral paranaense 

Estudo que investigou 19 praias alerta para os impactos que os microplásticos podem causar a diversas espécies marinhas, pondendo também ser consumido indiretamente pelo ser humano

Formados por microesferas, os microplásticos – partículas de plástico com tamanho entre 0,001 e 5 mm – estão presentes em fios de roupas sintéticas, cosméticos e até nas pastas dentais. Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente apontam que pelo menos 51 trilhões de partículas de microplásticos estão espalhadas pelos oceanos.

Um estudo publicado na revista científica Marine Pollution Bulletin identificou microplásticos em praias estuarinas do litoral paranaense. Os pesquisadores do Centro de Estudos do Mar da Universidade Federal do Paraná investigaram praias localizadas às margens das Baias de Antonina, Paranaguá e Laranjeiras, incluindo as localizadas dentro da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba (APA de Guaraqueçaba).


Os microplásticos foram encontrados em 16 das 19 praias estudadas. No total foram registrados 389 itens – 63% eram espumas, como o isopor por exemplo, e 14% fragmentos de produtos feitos de plástico.

As coletas foram realizadas ao longo de duas semanas no final de 2020 e todas as análises laboratoriais ocorreram no primeiro semestre de 2021. De acordo com o grupo, a presença e caracterização de microplásticos é inédita nas praias do Complexo Estuarino de Paranaguá (PR), uma das mais importantes baías do Brasil.

“Nós selecionamos as praias visando a obtenção de um panorama espacial da presença dos microplásticos ao longo do sistema estuarino”, explica Mateus Farias Mengatto, Mestre em Sistemas Costeiros e Oceânicos pela UFPR e primeiro autor do trabalho. As partículas foram observadas em todas as praias da área de proteção de Guaraqueçaba. Mengatto também destaca que o grupo ainda encontrou pellets – plásticos primários utilizados como matéria prima por indústrias que fabricam produtos de plástico.


Mapa de localização do Complexo Estuarino de Paranaguá; Pontos vermelhos – praias onde foram encontrados microplásticos; pontos verdes – praias onde não foram encontrados; polígono com textura de linha (brancas) área da APA de Guaraqueçaba. Imagens: Mateus Farias Mengatto.

O trabalho faz parte do projeto de pesquisa “Panorama Histórico e Perspectivas Futuras Frente a Ocorrência de Estressores Químicos Presentes no Complexo Estuarino de Paranaguá (EQCEP)”, um de oito selecionados pela Chamada Pública do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações/Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – Nº 21/2017 – Pesquisa e Desenvolvimento em Ações Integradas e Sustentáveis nas Baías do Brasil.

Renata Hanae Nagai, orientadora e coautora do trabalho, ressalta que o projeto busca ampliar o conhecimento sobre os impactos das ações humanas no litoral do Paraná.

“Nós queremos fornecer informações sobre a qualidade ambiental da região para a sociedade e tomadores de decisão, visando a conservação e uso sustentável do ambiente costeiro”, afirma Nagai.

No âmbito de regiões que abrigam unidades de conservação, como o litoral do Paraná, entender a presença, quantidade e características de poluentes como microplásticos é fundamental. “Apesar deste trabalho ter considerado apenas as praias do Complexo Estuarino de Paranaguá, destacamos que o nosso litoral possui ecossistemas essenciais para a manutenção da biodiversidade marinha e para manutenção de recursos naturais consumidos pela sociedade, como por exemplo os manguezais. É importante que esses ambientes sejam investigados em trabalhos futuros.”, comenta Mateus.

Por que isso importa?

O plástico tornou-se popular no Brasil na década de 1950, mas a produção em larga escala trouxe graves impactos ambientais. O Brasil é um dos maiores produtores de lixo plástico do mundo, com aproximadamente 11,3 milhões de toneladas descartadas por ano, de acordo com a World Wildlife Fund (WWF). O destino incorreto gera poluição em oceanos, rios e solos, com impacto direto para a fauna e a flora.

Os grandes vilões são os produtos plásticos de uso único, como embalagens descartáveis e sacolinhas plásticas, que podem permanecer no ambiente por séculos. “Uma vez no oceano esses plásticos podem ser ingeridos por organismos marinhos maiores, como peixes, tartarugas, aves e mamíferos marinhos, e podem sofrer degradação, fragmentando-se em pedaços menores, gerando o que chamamos de microplásticos”, explica a docente Renata.


Microplásticos observados a partir de um estereomicroscópio. Escala de tamanho em vermelho.

O pequeno tamanho dos microplásticos – varia entre 0,001 e 5 mm – traz preocupações para a comunidade científica. “Isso dificulta a retirada do meio ambiente e também favorece sua interação com uma gama muito maior de organismos marinhos, o que tem um efeito cascata na fauna marinha, via processos de bioacumulação e biomagnificação. Por isso, a investigação de microplásticos cresceu exponencialmente na última década”, aponta Mateus.

“Hoje, a poluição por microplásticos é tema de diferentes pesquisas conduzidas por nossos discentes de pós-graduação do Centro de Estudos do Mar. A expectativa é que em um futuro próximo nosso entendimento do status da poluição por microplásticos no litoral do Paraná seja ampliado. Assim, será possível vislumbramos caminhos e soluções para os riscos e problemas gerados por este poluente emergente”, complementa Nagai

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2022







Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/03/2022
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2022/03/30/microplastico-presente-em-16-praias-estuarinas-do-litoral-paranaense/

terça-feira, 29 de março de 2022

Covid-19: Ministério da Saúde anuncia aplicação da quarta dose em pessoas a partir dos 80 anos

O Ministério da Saúde anunciou a recomendação da aplicação da quarta dose da vacina contra a Covid-19 (segunda dose de reforço) em pessoas a partir dos 80 anos.

De preferência, a 4ª dose deve ser aplicada com o imunizante da Pfizer e de maneira alternativa com as vacinas da Janssen e Astrazeneca, independentemente da dose utilizada anteriormente. O intervalo deve ser de quatro meses após a primeira dose de reforço.


A aplicação da segunda dose de reforço em outras faixas etárias ainda não foi definida pela pasta.

Na nota técnica, o Ministério da Saúde destacou que reconhece que há poucos dados sobre a efetividade e a duração de uma quarta dose de reforço da vacina contra a Covid-19, mas que diferentes estratégias de vacinação devem ser utilizadas com base na situação epidemiológica de cada país e diante do surgimento de novas variantes de preocupação, sobretudo nos grupos mais vulneráveis.

Nesta quinta-feira (24/3), a Prefeitura do Rio de Janeiro iniciou a aplicação da quarta dose da vacina contra a Covid-19 nesta faixa etária. “A recomendação é que todos os idosos acima de 80 anos procurem uma unidade de saúde para tomar a segunda dose de reforço”, disse o secretário de saúde, Daniel Soranz.

Lançado aplicativo para ajudar no registro das imunizações

Outra novidade na área da saúde é que o Ministério lançou o aplicativo e-SUS Vacinação para ajudar os profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) no registro das doses aplicadas durante as campanhas de imunização e nos atendimentos habituais das Unidades Básicas de Saúde (UBS).

Segundo dados do e-SUS APS, existem 49,5 mil salas de vacinação (2,2 mil na região Norte + 19,1 mil no Nordeste + 3,5 mil no Centro-Oeste + 9,2 mil no Sudeste + 7,5 mil no Sul). O aplicativo poderá ser utilizado nos estabelecimentos que utilizam o sistema e-SUS APS com Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC).

O e-SUS Vacinação pode ser usado em tablets e smartphones, facilitando o planejamento das atividades por parte do profissional de saúde e a realização do registro offline de dados.

“O Brasil gasta 10% do seu Produto Interno Bruto (PIB) em saúde. A Atenção Primária, com mais de 48 mil salas de atendimento e mais de 53 mil equipes de saúde, é que tem feito a diferença”, disse o ministro da saúde, Marcelo Queiroga no lançamento do aplicativo, que aconteceu na Oficina Previne Brasil, em Belo Horizonte, no dia 17 de março. O ministro acrescentou que o orçamento para a área aumentou de R$ 17 bilhões para mais de R$ 25 bilhões desde o início da sua gestão.





Autor: Úrsula Neves
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 29/03/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/covid-19-ministerio-da-saude-anuncia-aplicacao-da-quarta-dose-em-pessoas-a-partir-dos-80-anos/

Rastreabilidade em CME: o que é e por que devemos fazer?

O conceito de rastreabilidade tem adquirido grande importância nos últimos anos por permitir traçar a história, aplicação, uso e localização de um artigo para a saúde. Isso garante a qualidade do processo como um todo e fortalece a relação de confiança entre o paciente e as instituições de saúde.

Martins e Ribeiro (2017) definem a rastreabilidade como a capacidade de esquematizar a linha histórica de todo o processamento dos produtos para saúde (PPS) e de sua utilização através de informações antecipadamente registradas, por meio de um sistema de informação que pode ser manual ou automatizado, de todas as etapas de limpeza, desinfecção e/ou esterilização.


A rastreabilidade nos proporciona a segurança de que apenas artigos processados adequadamente e de origem conhecida terão contato com o paciente, além de auxiliar na identificação de artigos como danificados com grande segurança e agilidade.

Segundo Possari (2010) a rastreabilidade pode ser dividida em logística e qualitativa, sendo a primeira relacionada à identificação da localização do material, sua origem, destino e necessidade de recall. Já a segunda está pautada em descobrir desvios e falhas qualitativas e onde é possível intervir.

Rastreabilidade em CME

Quando falamos de CME e rastreabilidade, estamos falando de qualidade atrelada ao processo, estabelecendo padrões, avaliando as conformidades e podendo agir quando necessário para buscar melhorias. Além disto, o usuário já politizado deseja transparência e quer compreender a origem dos artigos para saúde utilizados em seu tratamento.

Perroni (2010) também afirma que realizar a rastreabilidade no CME de maneira eficaz, integrada e em tempo real garante respaldo legal as instituições de saúde, que por sua vez devem cumprir as exigências contidas na resolução especial (RE) nª 2606, de 11/08/2006 artigo 2ª.

Gaziano, Silva e Psaltikidis (2011) afirmam que a informatização da rastreabilidade é a forma mais prática e segura de realizar este processo, sendo o uso de código de barras aplicado tanto aos instrumentos quanto as caixas, uma maneira de realizar o monitoramento dos itens e sua circulação, obter relatórios de consumo e poder correlacionar às informações em casos de notificação de infecção associada ao sitio cirúrgico.

Segundo Fernandes e Et al (2022), a implementação da rastreabilidade também é um processo de educação continuada interna já que conta com o fator humano para sua execução e interpretação dos dados obtidos.

Mensagem final

O engajamento e o treinamento contínuo na CME são de extrema importância para um processo de rastreabilidade bem sucedido e seguro, trazendo ainda mais qualidade para o suporte e assistência de enfermagem. Para Cividini (2019) a educação do colaborador na instituição deve ser um método que o torne apto a realizar adequadamente suas atividades e também o deixe preparado para possíveis oportunidades de plano de carreira, através de novos conhecimentos....






Autor: Bárbara Petillo Hayashi
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 29/03/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/rastreabilidade-em-cme-o-que-e-e-por-que-devemos-fazer/

Soluções climáticas baseadas na natureza podem mitigar o aquecimento global

Soluções climáticas baseadas na natureza podem mitigar o aquecimento global

Investir na proteção e restauração da natureza oferece benefícios sociais e ambientais para comunidades locais e indígenas, além de armazenar carbono para mitigar as mudanças climáticas
Um novo estudo descobriu que a remoção temporária de carbono baseada na natureza pode diminuir os níveis de aquecimento global, mas somente se complementada por ambiciosas reduções de emissões de combustíveis fósseis.

Simon Fraser University*

As soluções climáticas baseadas na natureza visam preservar e melhorar o armazenamento de carbono em ecossistemas terrestres ou aquáticos e podem ser um potencial contribuinte para a estratégia de mitigação das mudanças climáticas. “No entanto, o risco é que o carbono armazenado nos ecossistemas possa ser perdido de volta para a atmosfera como resultado de incêndios florestais, surtos de insetos, desmatamento ou outras atividades humanas”, diz Kirsten Zickfeld, professor de ciência climática no Departamento de Ciências da Universidade Simon Fraser.

Os pesquisadores usaram um modelo climático global para simular a mudança de temperatura por meio de dois cenários que variam de reduções de emissões de gases de efeito estufa fracas a ambiciosas. No cenário de redução de emissões relativamente fraco, as emissões de carbono continuam até 2100. No cenário ambicioso, as emissões de carbono atingem zero líquido até 2050.

Para cumprir as metas climáticas do Acordo de Paris, o mundo precisará atingir emissões líquidas zero de CO2 por volta ou antes de meados do século, de acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas.

Em ambos os cenários, assume-se que o armazenamento de carbono por meio de soluções climáticas baseadas na natureza é temporário, pois as florestas são vulneráveis a distúrbios naturais e humanos. Portanto, espera-se que as soluções climáticas baseadas na natureza retirem carbono da atmosfera nos próximos 30 anos e depois liberem lentamente o carbono durante a segunda metade do século.

A equipe descobriu que, em um cenário com emissões de carbono diminuindo rapidamente para zero líquido, o armazenamento temporário de carbono baseado na natureza pode diminuir o nível de pico de aquecimento. No entanto, em um cenário com emissões contínuas de carbono, o armazenamento temporário de carbono baseado na natureza serviria apenas para retardar o aumento da temperatura.

“Nosso estudo mostra que o armazenamento de carbono baseado na natureza, mesmo que temporário, pode ter benefícios climáticos tangíveis, mas somente se implementado juntamente com uma rápida transição para zero emissões de combustíveis fósseis”, diz Zickfeld.

Os resultados foram publicados na Communications Earth & Environment .

Zickfeld também é o principal autor da recente contribuição do Grupo de Trabalho I do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) das Nações Unidas para o Sexto Relatório de Avaliação lançado no verão de 2021 e do relatório especial de 2018 do IPCC sobre o aquecimento global de 1,5 graus.

Os pesquisadores também observam que investir na proteção e restauração da natureza oferece benefícios sociais e ambientais para comunidades locais e indígenas, além de armazenar carbono para mitigar as mudanças climáticas.

Eles acrescentam que a biodiversidade, a qualidade da água e do ar são inerentemente valiosas e que os esforços para melhorá-las também podem ajudar a aumentar a resiliência da comunidade às mudanças climáticas.

Padrão espacial da resposta climática ao sequestro de carbono e mudanças no albedo da superfície resultantes de cenários de reflorestamento temporário

Padrão espacial da resposta climática ao sequestro de carbono e mudanças no albedo da superfície resultantes de cenários de reflorestamento temporário. In ‘Temporary nature-based carbon removal can lower peak warming in a well-below 2 °C scenario’

Referência:


Matthews, H.D., Zickfeld, K., Dickau, M. et al. Temporary nature-based carbon removal can lower peak warming in a well-below 2 °C scenario. Commun Earth Environ 3, 65 (2022). https://doi.org/10.1038/s43247-022-00391-z

Henrique Cortez *, tradução e edição.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2022






Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/03/2022
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2022/03/29/solucoes-climaticas-baseadas-na-natureza-podem-mitigar-o-aquecimento-global/

segunda-feira, 28 de março de 2022

ISICEM 22: uso precoce de vasopressores no choque hemorrágico traumático

Seguiremos agora falando da sessão “Otimizando o uso de vasopressores” do 41st International Symposium on Intensive Care and Emergency Medicine (ISICEM 2022). A mesa reuniu experts na área de hemodinâmica, como Michael Pinsky, Jean-Louis Vincent e Jacques Duranteau.

Vasopressores no choque hemorrágico

Jacques Duranteau discutiu sobre o uso precoce de vasopressores no choque hemorrágico traumático. Sabemos que o principal tipo de choque no trauma é o hipovolêmico, por causa hemorrágica. A máxima proveniente dos principais tratados de trauma “todo paciente traumatizado frio e taquicárdico até que se prove o contrário está em choque” nos remete a pensar que fluidos e hemoderivados serão os principais itens na ressuscitação desses pacientes. E são! No entanto, alguns conceitos precisam ser levados em consideração:


Ressuscitação com poucos volumes de fluidos ou “reanimação balanceada” é diferente não realizar ressuscitação com fluidos;

Ressuscitação com fluidos deve ser limitada ao que é estritamente necessário para alcançar níveis de pressão arterial alvo;

Ressuscitação fluida isolada é diferente em termos de manejo da ressuscitação de fluidos combinada com droga vasoativa.

Vale ressaltar ainda que hipotensão (PAS < 100 mmHg) não deve ser esperada para considerarmos a presença de choque no paciente traumatizado. Conforme a classificação (didática) do grau de choque hemorrágico, só teremos modificação nos níveis de pressão arterial a partir do grau III (estima-se perda acima de 1000 mL). Antes disso, fique atento à taquicardia, queda de perfusão periférica e da pressão de pulso (tende a ficar mais convergente no choque hemorrágico).

Por que um vasopressor deve ser utilizado de forma precoce no choque hemorrágico traumático?

Para manter a pressão arterial alvo, limitando a ressuscitação volêmica e a diluição de fatores da coagulação (um dos problemas que implicam a longo prazo em coagulopatia e perpetuação da fonte hemorrágica);

Melhorar o retorno venoso;

Para compensar a diminuição da atividade simpática induzida pela sedação.

Qual vasopressor deve ser usado?

A noradrenalina é o vasopressor de primeira escolha. No entanto, a vasopressina pode ser uma alternativa à noradrenalina. Vejamos os motivos de considerarmos a utilização de vasopressina também nesses casos:

Existe deficiência relativa de vasopressina no choque hemorrágico;

Dose baixa de vasopressina, em monoterapia ou associada à noradrenalina, pode ser interessante visando redução das demandas de hemoderivados em pacientes vítimas de choque hemorrágico traumático;

A vasopressina pode melhorar a agregação plaquetária, o que pode ter impacto potencial positivo em um cenário hemorrágico.

Mais do ISICEM 2022:

Como abordar o paciente com choque?

Experiências vividas com covid-19

Novos estudos são lançados – antiplaquetários na covid e ventilação em imunocomprometidos

Hemorragia subaracnoidea – manejo precoce

Hemorragia subaracnoidea – vasoespasmo e isquemia cerebral tardia

Como aferir a resposta à posição prona

Posição prona em pacientes tratados com ECMO – novo estudo em andamento

A importância da hipofosfatemia e hipocalcemia na UTI

Há benefício na terapia antiplaquetária em pacientes críticos com covid-19?

CNAF isolado ou associado à VNI na insuficiência respiratória em imunodeprimidos

Infecção grave por vírus sincicial respiratório em adultos x influenza.





Autor: Filipe Amado
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 28/03/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/isicem-22-uso-precoce-de-vasopressores-no-choque-hemorragico-traumatico/

Médicos americanos fazem transplante duplo inédito com técnica para evitar rejeição

Os médicos da Universidade de Duke, nos Estados Unidos, anunciaram a realização de um transplante duplo inédito em um bebê utilizando uma técnica de tolerância imunológica para ajudar a evitar a rejeição dos órgãos.

O bebê Easton Sinnamon, de Asheboro, Carolina do Norte, tinha apenas seis meses quando recebeu um transplante de coração e timo. Seis meses após a cirurgia, os exames mostram que o tecido do timo está construindo novas células T, que funcionam bem. Recentemente, o pequeno paciente comemorou seu primeiro aniversário de vida.



Cirurgia inédita

Esse pequeno e achatado órgão, em forma de borboleta, localizado entre os pulmões, atrás do osso esterno e na frente do coração, desempenha um papel fundamental na construção do sistema imunológico, sendo responsável pela maturação dos linfócitos T.

O pequeno Easton foi o candidato ideal ao transplante experimental porque nasceu com dois problemas cardíacos que, mesmo com cirurgias logo após o nascimento, não puderam ser corrigidos. Além disso, ele teve infecções recorrentes e precisou passar os primeiros sete meses de vida no hospital da universidade.

Os médicos solicitaram ao FDA para realizar um tipo experimental de transplante que não havia sido feito em combinação antes, até onde eles sabiam.

Como Easton precisava de um novo coração e, de forma independente, de uma nova glândula timo, o FDA concedeu aprovação para os procedimentos que aconteceram em agosto de 2021, quando o bebê tinha seis meses.

Potencial revolucionário

Segundo os médicos da instituição, o transplante duplo realizado tem potencial de revolucionar os transplantes de órgãos sólidos, vindos do mesmo doador.

A expectativa é que o timo estabeleça o sistema imunológico do doador como se fosse o do receptor, evitando a rejeição do órgão.

A pesquisa com o método de tolerância imunológica em transplantes ainda está em estágio inicial. A abordagem se mostrou promissora em experimentos com animais, mas não havia sido testada ainda em um receptor humano de órgão vivo.

No futuro, a equipe médica pretende fazer com que o pequeno paciente não precise mais receber as drogas imunossupressoras.

“Se essa abordagem se tornar eficaz, significa que os receptores de transplante não rejeitam o órgão doado e também que o paciente não precisaria se submeter a tratamento com medicamentos de imunossupressão de longo prazo, que podem ser altamente tóxicos, principalmente para os rins. Esse conceito de tolerância sempre foi o Santo Graal no transplante, e agora estamos prestes a entendê-lo”, explicou o médico.

Caso funcione, o procedimento pode ser tentado com transplantes de outros órgãos. No caso do coração, por exemplo, os que são transplantados costumam ter uma vida útil média de 10 a 15 anos, com a durabilidade limitada pela toxicidade dos medicamentos imunossupressores.

“Se isso puder ser extrapolado para pacientes que já têm um timo funcional, poderia permitir que eles reestruturassem seus sistemas imunológicos para aceitar órgãos transplantados com substancialmente menos dependência de medicamentos para evitar a rejeição. O método de processamento utilizado para o tecido do timo parece ser crítico e de grande interesse”, declarou Allan Kirk, presidente do Departamento de Cirurgia de Duke.

“Estamos trabalhando com urgência para avançar na pesquisa e desenvolvimento para todas as crianças que precisam de transplantes cardíacos”, destacou a diretora-executiva da Enzyvant, Rachelle Jacques, uma empresa aceleradora de medicina regenerativa....

 





Autor: Úrsula Neves
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 28/03/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/medicos-americanos-fazem-transplante-duplo-inedito-com-tecnica-para-evitar-rejeicao/

ISICEM 22: otimizando o uso de vasopressores no choque séptico

 A conferência apresentada pelo intensivista Vasilios Papaioannou trouxe insights atualizados a respeito da medicina personalizada no choque séptico.

Sabemos que o choque séptico é classificado como choque distributivo, com vasoplegia marcada. A hipotensão envolvida nesse cenário está ligada à perda do tônus vascular, disfunção miocárdica e até mesmo volume intravascular insuficiente. Um destaque especial nessa fisiopatologia é dado à produção aumentada de óxido nítrico, um potente vasodilatador endógeno, assim como pela redução na produção dos vasopressores endógenos (catecolaminas e vasopressina).


Noradrenalina: o vasopressor da primeira linha

Diante da fisiopatologia descrita acima, é de se imaginar que as drogas vasopressoras terão papel especial caso ocorra hipotensão sustentada. Além disso, restaurar precocemente a perfusão periférica desse perfil de pacientes é fundamental, interrompendo o ciclo de progressão das disfunções orgânicas. A noradrenalina, droga vasoativa bastante utilizada na prática clínica, sendo uma catecolamina, atua aumentando o tônus vascular pela ativação de receptores alfa e beta adrenérgicos.

Portanto, desde abril de 2018, quando da publicação do “1-hour Bundle” pela Surviving Sepsis Campaign, além do reforço da noradrenalina como vasopressor de primeira escolha, foi enfatizada a indicação do vasopressor precoce no cenário de hipotensão mantida ainda durante a ressuscitação volêmica inicial e dentro da primeira hora, visando PAM > 65 mmHg.

“Descatecolaminização” personalizada à beira do leito

Vamos ao mundo real. Seu paciente com choque séptico está em uso de altas doses de noradrenalina. Podemos imaginar que o efeito das catecolaminas não são dose-dependente, chegando a um ponto onde receptores (atuam de forma sigmoidal, não linear) são saturados e o platô da ação é encontrado. Portanto, o caso exposto vivencia um cenário de intensa catecolaminização, agregando efeitos adversos, sem necessariamente obter o efeito hemodinâmico desejado. Você já viu um caso assim? O que podemos fazer para promover a descatecolaminização? Vamos pedir ajuda então da vasopressina.

Qual é a dose ideal de vasopressina no choque séptico?

A vasopressina, conhecida também como hormônio antidiurético, é um vasopressor não catecolaminérgico. Produz vasoconstrição pela ativação dos receptores V1a, promovendo aumento da pressão arterial por esse mecanismo. Ao contrário de outros análogos sintéticos da vasopressina (meia-vida de 8 horas), a arginina vasopressina possui meia-vida de 5 a 20 minutos. Tal fato permite um maior controle e rápida descontinuação, caso ocorram efeitos indesejáveis.

A associação precoce da vasopressina esteve relacionada à redução da necessidade de terapia de substituição renal, assim como a progressão para falência renal (Gordon et al. 2010). Em revisão sistemática publicada em 2018, o uso combinado de vasopressina e catecolaminas, comparado ao uso isolado das catecolaminas, esteve associado a um menor risco de fibrilação atrial (McIntyre et al. 2018).

Para levar para casa sobre Vasopressina e Descatecolaminização

A vasopressina (0,03-0,06 U/min) não é inferior à noradrenalina e também não está associada a maiores taxas de efeitos adversos, como eventos isquêmicos.

Além disso, a vasopressina permitiu uma redução nas taxas de infusão de norepinefrina e facilitou o desmame da norepinefrina.

A medicina personalizada à beira do leito pode ser alcançada através da implementação de novos índices para avaliar os efeitos da vasopressina na carga arterial, como a elastância arterial dinâmica.

A vasopressina pode ser administrada precocemente em pacientes com sepse e hipotensão com baixos níveis de lactato (os pacientes com choque séptico pelo SEPSIS-3 não seriam incluídos?).

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Autor: Filipe Amado
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 28/03/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/isicem-22-otimizando-o-uso-de-vasopressores-no-choque-septico/

sexta-feira, 25 de março de 2022

Cientistas estão mais perto de transformar CO2 em produtos como combustíveis ou plásticos

Um catalisador desenvolvido na Universidade de São Paulo (USP) mostrou-se capaz de transformar dióxido de carbono (CO2) em monóxido de carbono (CO) mesmo em condições de alta pressão. O CO2 é considerado um dos principais gases de efeito estufa e diversos esforços de pesquisa têm sido empreendidos para mitigar sua emissão para a atmosfera. Já o CO é um importante intermediário na geração de produtos com alto valor agregado, como combustíveis e plásticos. O êxito na transformação do gás em alta pressão é importante para fazer a integração com etapas subsequentes do processo, que vão empregar o monóxido de carbono com outros catalisadores para então gerar produtos líquidos.





O novo dispositivo, composto por níquel, zinco e carbono, é fruto de pesquisa coordenada pela professora do Instituto de Química (IQ-USP) Liane Rossi no âmbito do Centro de Pesquisa para Inovação em Gases de Efeito Estufa (RCGI), um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) constituído por FAPESP e Shell na Escola Politécnica (Poli-USP).

“O resultado da nossa pesquisa mostra que estamos cada vez mais próximos de produzir, por meio da catálise, derivados de petróleo, como plásticos e combustíveis”, afirma Rossi.

O trabalho foi destaque na capa do European Journal of Inorganic Chemistry. Trata-se de desdobramento de um estudo anterior, também coordenado por Rossi. Na oportunidade, os pesquisadores descobriram que um catalisador de níquel teve melhor desempenho após ser submetido a alta temperatura (800 °C), em atmosfera de CO2 e hidrogênio (H2) ou então de metano ou propano.

“Esse processo possibilitava um excelente catalisador para a redução de CO2: ele gerava exclusivamente CO, sem sinal do produto menos desejável, que é o metano (CH4)”, conta a professora.

Entretanto, os pesquisadores não obtiveram êxito ao testar esse mesmo catalisador em condições de alta pressão (entre 20 e 100 bar) para tentar adequar as condições de reação àquelas exigidas para a posterior transformação de CO em produtos líquidos.

A solução surgiu por meio de um catalisador à base de níquel, zinco e carbono desenvolvido por Nágila Maluf, doutoranda no IQ-USP e integrante da equipe coordenada por Rossi. “Essa combinação muda a forma como as moléculas interagem na superfície do catalisador, se comparado ao níquel puro”, explica a professora.

De acordo com Rossi, os catalisadores têm amplo emprego na indústria, mas também são usados no dia a dia para purificar a exaustão dos automóveis. “Os catalisadores são substâncias que promovem reações químicas entre duas ou mais moléculas. Eles podem ser, por exemplo, enzimas ou superfícies metálicas, como é o caso desse estudo. Os catalisadores em geral têm a função de acelerar a reação entre moléculas que não iriam reagir naturalmente, ou que reagiriam muito lentamente”, explica Rossi. Além disso, os catalisadores também têm a função de selecionar um caminho de reação, de modo a gerar o produto desejado.

A equipe se prepara agora para dar prosseguimento ao estudo. “O próximo passo é utilizar no mesmo reator dois catalisadores diferentes. Um deles é esse à base de níquel, zinco e carbono; o outro, à base de ferro ou cobre”, conta Rossi.

O artigo Zeolitic-Imidazolate Framework Derived Intermetallic Nickel Zinc Carbide Material as a Selective Catalyst for CO2 to CO Reduction at High Pressure pode ser lido em: https://chemistry-europe.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/ejic.202100530.

* Com informações da Assessoria de Comunicação do RCGI.




Autor: Agência FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 25/03/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/cientistas-estao-mais-perto-de-transformar-co2-em-produtos-como-combustiveis-ou-plasticos/38223/

O legado da pandemia é tema do 9º fascículo do livro comemorativo dos 60 anos da FAPESP

Os primeiros despachos das agências internacionais de notícias – Reuters e Associated Press – alertando para a gravidade dos casos de pneumonia viral identificados em Wuhan, na China, foram distribuídos no dia 31 de dezembro de 2019, às 18 horas, horário de Brasíia. “Quase ninguém leu”, lembra o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP). A “tradição gregoriana de calendário", como ele diz, atrasou o reconhecimento do risco de contágio global representado pelo SARS-CoV-2. “Quem conhece a história das pandemias imediatamente ficou em alerta esperando o grande desastre. E infelizmente foi o que aconteceu”, afirmou Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.



As instituições de pesquisa se mobilizaram rapidamente. “A velocidade com que os pesquisadores se comunicam é muito maior do que a que políticos e gestores de diferentes lugares se conectam. Conseguimos estabelecer vários canais, debates, troca de informação e ideias que ajudaram a reagir”, relata o médico Esper Kallás, professor do Departamento de Moléstias Infecciosas e Parasitárias da FM-USP.

A cronologia das ações de combate ao vírus implementadas pela comunidade cientí­fica paulista com apoio da FAPESP – as iniciativas de tratamento da COVID-19 e o desenvolvimento de vacinas – é descrita no capítulo Reação em velocidade recorde, que abre o 9º fascí­culo dos dez que vão compor o livro FAPESP 60 anos – Ciência, Cultura e Desenvolvimento.

Enquanto o Hospital das Clínicas da FM-USP, por exemplo, ativava o Comitê de Crise para ofertar leitos de terapia intensiva e de enfermarias, a FAPESP lançava chamada de propostas no valor de R$ 30 milhões para apoiar projetos que oferecessem resposta aos desafios impostos pelo coronaví­rus. Em apenas quatro dias, a Fundação abriu o edital, recebeu, avaliou e aprovou o primeiro dos 60 projetos selecionados, lembrou Luiz Eugênio Mello, diretor cientí­fico da Fundação.

O capítulo 2 – A Ciência de prontidão – dá detalhes do clima de urgência que tomou conta dos laboratórios de pesquisas que isolaram e estabeleceram linhagens de cultivo in vitro do vírus a serem enviadas a outros laboratórios, ou que sequenciaram o SARS-CoV-2 apenas 48 horas depois de o vírus ter sido identificado no primeiro paciente brasileiro.

Relata os testes clí­nicos das vacinas CoronaVac e Oxford-AstraZeneca, bem como o desenvolvimento, pelo Instituto Butantan, de um soro anticoronavírus e de vacinas multigênicas. O presidente da entidade, Dimas Covas, assina um dos artigos que integram o fascí­culo, intitulado Ciência deve vir antes de política.

O segundo capítulo menciona, ainda, o apoio da FAPESP a oito projetos de pesquisa sobre novas vacinas, além das investigações que têm como objetivo entender os efeitos da COVID-19 em populações e grupos específicos, como as desenvolvidas pela geneticista Mayana Zatz no Centro de Estudos do Genoma Humano e de Células-Tronco (CEGH-CEL) da USP. A pesquisadora assina um artigo intitulado Ciência Básica com resultados práticos.

Com o título Conhecimento para orientar políticas e reduzir desigualdades, o terceiro capítulo relata iniciativas da Rede de Pesquisa Solidária em Políticas Públicas, formada por mais de cem pesquisadores de 15 instituições, que produziu dados e conhecimento técnico-cientí­fico para subsidiar setores de governos; e do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), que analisou o impacto da vacinação e de ações sanitárias na capital paulista.

O fascículo conclui que a forte capacidade de resposta de São Paulo à pandemia deve ser creditada à solidez das instituições, ao legado de apoios e aos investimentos de pesquisa ao longo das últimas décadas, notadamente pela FAPESP. Jean Pierre Schatzmann Peron, da USP, menciona, como exemplo, o arcabouço de conhecimento, a organização de redes de cooperação e os investimentos realizados pela Fundação durante a epidemia de zika, que ajudaram na pronta reação novo coronavírus.

A pandemia deixou uma série de lições para o futuro que se materializarão, por exemplo, numa chamada para um grande programa de infraestrutura de pesquisa, a ser lançada em breve pela FAPESP. Mas não só, de acordo com Zago, a pandemia foi “uma experiência científica, com testes, hipóteses e métodos. Uma construção coletiva da qual participaram ativamente governantes, universidades, técnicos de secretarias, dirigentes de hospitais, médicos, enfermeiros, toda a comunidade científica. Todos escreveram juntos uma história de conhecimento que é coletivo, e que agora nos deixa muito mais preparados para a próxima epidemia – que um dia virá”.

O fascículo "Lições da pandemia" está disponí­vel em: 60anos.fapesp.br/livro/#/fasciculo09

Os oito primeiros fascículos do livro – Seis décadas de realizações, DNA da Ciência Paulista, Pioneirismo Digital, Grandes projetos, grandes resultados, Políticas públicas baseadas em evidências e Contribuição social, cultural e artística , Inovação e Empreendedorismo e Diversidade e Inclusão – estão disponíveis em: 60anos.fapesp.br/livro/.





Autor: Agência FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 25/03/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/o-legado-da-pandemia-e-tema-do-9-fasciculo-do-livro-comemorativo-dos-60-anos-da-fapesp/38222/

Inovação na indústria é essencial para o crescimento econômico do Brasil

A inovação na indústria brasileira precisa ser urgentemente recuperada para que o Brasil possa se desenvolver, dinamizar sua economia e tornar-se competitivo. Nesse sentido, o Estado deve ampliar e tornar mais estáveis e previsíveis os recursos para pesquisa e desenvolvimento (P&D) nas empresas, além de criar mecanismos para estimular a formação de um ecossistema mais favorável à inovação no país.




A avaliação foi feita pelos participantes da 9ª Conferência FAPESP 60 anos: Indústria e Inovação, que aconteceu ontem (23/03).

O evento integra o ciclo de conferências comemorativas dos 60 anos da criação da FAPESP e reuniu especialistas para discutir a relevância da inovação tecnológica e sua centralidade nas agendas de muitas instituições e da própria FAPESP.

“Todos reconhecem que a origem da inovação está na ciência. O mais recente relatório da OCDE [Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico], sobre as perspectivas da ciência, tecnologia e indústria, ressalta que, à medida que os setores dependentes do conhecimento continuam a se expandir e a pressão competitiva aumenta, o financiamento da pesquisa básica por parte dos governos torna-se um elemento mais central para apoiar a pesquisa e o desenvolvimento empresarial”, disse Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP.

Na contramão de outros países, os recursos públicos para essa finalidade no Brasil nos últimos anos, contudo, vêm caindo acentuadamente, apontou Pedro Wongtschowski, presidente do Conselho de Administração do grupo Ultra, líder da Mobilização Empresarial pela Inovação (MEI) e membro do Conselho Superior da FAPESP.

“O investimento público em P&D no Brasil é decrescente. Há uma série de países que têm aumentado o volume de seus investimentos para essa finalidade nos últimos dez anos em relação ao tamanho de suas economias e ao seu Produto Interno Bruto [PIB]. A exceção é o Brasil”, comparou.

O Brasil investe atualmente entre 1% e 1,2% de seu PIB em P&D, somando os dispêndios públicos e privados em inovação, apontou Wongtschowski.

“Isso é muito pouco para o tamanho e a relevância do Brasil e para as ambições que devemos ter em relação à ciência e tecnologia no país”, avaliou.

A intensidade dos gastos no setor industrial brasileiro também vem caindo nos últimos anos. Os dados da última Pesquisa de Inovação (Pintec), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostraram que os dispêndios das indústrias no Brasil em P&D em termos de percentagem do faturamento caíram de 2,37% em 2011 para 1,65% em 2017.

A indústria de transformação, que representa 12% do PIB do Brasil, é responsável por metade das exportações brasileiras e responde por dois terços do investimento empresarial em P&D no país, apontou o executivo.

“A indústria é importante para a economia do país e só sobreviverá a longo prazo se inovar, ou seja, se for modernizada e atender às demandas de sustentabilidade impostas pelo mercado hoje”, sublinhou Wongtschowski.

O setor industrial também dá sustentação a outros dois importantes setores da economia brasileira: o agronegócio e o setor de serviços, destacou o executivo.

O agronegócio brasileiro não conseguiria ser competitivo sem ativos industriais como tratores, colheitadeiras, sistemas de irrigação, sensores para agricultura de precisão e fertilizantes. Já no setor de serviços, as novas soluções desenvolvidas no sistema financeiro hoje, por exemplo, dependem de computadores e redes de transmissão de dados desenvolvidos por indústrias, apontou Wongtschowski.

“O dinamismo do agronegócio e do setor de serviços brasileiros está diretamente vinculado à existência de uma indústria competitiva. E a indústria só será competitiva por meio da inovação”, avaliou.

Falta de Estado empreendedor

De acordo com Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente do Conselho Técnico-Administrativo da FAPESP, a inovação, tema relativamente recente na agenda pública e privada do Brasil, hoje é central para os ministérios de Ciência e Tecnologia, Economia e para as agências de fomento à pesquisa em todo o mundo, como a FAPESP.

“A inovação tornou-se agenda permanente no Brasil, mas é preciso reconhecer que o país não tem se saído bem nesse aspecto”, avaliou.

“Por mais que tenhamos feito um esforço significativo nos últimos 20 anos, o desempenho do Brasil nesse quesito não tem sido satisfatório”, avaliou Pacheco.

Uma das razões para isso pode ser a falta de um Estado empreendedor, apontou Jorge Guimarães, diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii).

“Embora o Brasil tenha reunido, desde o final da Segunda Guerra Mundial, pilares fundamentais [para estimular a inovação], como a disponibilidade de talentos, instituições acadêmicas fortes e empresas transnacionais, que já existiam desde os anos 1950 no país, não tivemos e ainda não temos um Estado empreendedor”, afirmou Guimarães.

“Continuamos escapando da necessidade de o Estado participar pesadamente na subvenção e no recurso reembolsável para inovação que exige risco. E a empresa não vai pegar dinheiro emprestado e correr o risco de criar a inovação”, avaliou.

As principais agências de fomento à pesquisa do país, como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a FAPESP, foram criadas no período pós-guerra, quando países como os Estados Unidos estabeleceram a meta de aumentar os investimentos em P&D, ressaltou Guimarães.

“Essas agências de fomento à pesquisa básica e à formação de recursos humanos enfrentaram esses desafios com muita eficiência e hoje estabeleceu-se um grupo forte de entidades no país com muita capacidade de enfrentar esse desafio”, disse.

Na avaliação de Fernando Galembeck, coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Materiais Complexos Funcionais (Inomat) – um dos INCTs financiados pela FAPESP e pelo CNPq no Estado de São Paulo –, é preciso que todo o ecossistema brasileiro de inovação seja forte.

“O elemento mais importante nesse ecossistema é o talento, ou seja, pessoas capazes de trabalhar em equipes diversificadas. Para ter inovação precisamos reunir muitas competências”, afirmou.

O evento pode ser assistido na íntegra em: fapesp.br/15350/9a-conferencia-fapesp-60-anos-industria-e-inovacao.








Autor: Elton Alisson
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 24/03/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/inovacao-na-industria-e-essencial-para-o-crescimento-economico-do-brasil/38214/


Iniciativa Pesquisadores em Risco

 Análise de Solicitações de Suplementação Rápida

Iniciativa Pesquisadores em Risco

1 Escopo

A presente Chamada de Propostas tem como objetivo auxiliar ações que possibilitem as instituições de pesquisa de São Paulo a receberem pesquisadores em risco dos países envolvidos na guerra da Ucrânia e demais países afetados similarmente. O auxílio deve permitir acolher pesquisadores interessados em realizar pesquisa em instituições de pesquisa no estado de São Paulo. Esta Chamada é lançada visando a colaboração entre pesquisadores no desenvolvimento de projetos de pesquisa em andamento ou a serem iniciados.

2 Financiamento oferecido e duração dos projetos

O valor oferecido nessa Chamada é de R$ 20 milhõesO orçamento das propostas pode incluir duas modalidades FAPESP:

Cada proposta poderá solicitar até um Auxílio Pesquisador Visitante e até uma Bolsa de Pós-Doutorado.

Propostas submetidas por Pesquisador Responsável e/ou Pesquisador Principal de Auxílio à Pesquisa vigente nas modalidades Temático, CEPID, CPE, CPA, PDIP, NPOP, CCD, JP2 poderão ser vinculadas a estes Auxílios, sendo tratadas como Solicitações Complementares destes projetos (www.fapesp.br/1413).

3 Submissão de propostas

1) A data limite para apresentação de propostas de pesquisa nesta Chamada é 30/08/2022.

2) Sendo uma iniciativa de Rápida Implementação, as propostas serão analisadas à medida que forem recebidas até que se esgotem os recursos oferecidos ou até a data limite anunciada acima.

3) As propostas devem ser submetidas exclusivamente através do Sistema SAGe (www.fapesp.br/sage), anexando a documentação indicada nas normas de cada modalidade de apoio.

4 Contrapartida Institucional

Durante a vigência do Auxílio Pesquisador Visitante e/ou da Bolsa de Pós-Doutorado, a Instituição Sede deverá garantir aos pesquisadores participantes do projeto todo o apoio institucional necessário para sua realização, bem como para início das atividades na Instituição, conforme previamente acordado com o Pesquisador Responsável/Supervisor. Espera-se também que a Instituição Sede apoie o pesquisador visitante e/ou o bolsista nas tratativas para sua instalação na cidade onde será desenvolvido o projeto.

5 Informações

Para dúvidas sobre esta Chamada contatar: paisesconflagrados @fapesp.br




Publicação Original: https://fapesp.br/15400/iniciativa-pesquisadores-em-risco

quinta-feira, 24 de março de 2022

Duração do sulfato de magnésio pós-parto para a prevenção da eclâmpsia

A pré-eclâmpsia acomete em média 2 a 8% de todas as gestações, podendo significar altas taxas de morbimortalidade materna e complicações neonatais. Eclâmpsia, definida como a complicação com convulsões em associação com pré-eclâmpsia, ocorre em torno de 2 a 3% das mulheres com pré-eclâmpsia. O uso de sulfato de magnésio revolucionou a obstetrícia reduzindo os eventos eclâmpticos e a mortalidade geral.


Estudo

O trial MAGPIE (MAGnesium sulphate for Prevention of Eclampsia) publicado no Lancet em 2002 randomizou mulheres para estudar as vias EV e IM no tratamento e prevenção das convulsões eclâmpticas. Após a dose de ataque mantém-se o esquema escolhido por 24 horas após o parto. Os resultados foram extrapolados internacionalmente e mantidos sem discussão de possíveis alternativas de duração menores na tentativa de mitigar efeitos colaterais do sulfato de magnésio. Vários estudos menores e de pouco impacto têm sugerido durações menores de administração pós parto e prevenção de desfechos ruins.

Um novo capítulo se apresentou no último 10 de março de 2022 publicado na Obstetics & Gynecology, onde uma revisão sistemática e metanálise guiada por dois pesquisadores independentemente revisaram 3.629 artigos selecionando dez estudos para revisão final para obter as conclusões mais robustas. Alguns dados interessantes que foram comparados:

Tempo de uso de sulfato de magnésio pós-parto:


Seis trials comparando 12 x 24 horas.

Três trials comparando 6 x 24 horas.

Um trial comparando 8 x 24 horas.

Via de administração:


Sete estudos usaram via EV exclusiva.

Um estudo usou via IM exclusiva.

Dois estudos usaram as vias combinadas.

Novas crises eclâmpticas

Todos os estudos mostraram novas convulsões em todos os horários.

Considerações

Poucos estudos avaliaram desfechos secundários de interesse como tempo de sondagem vesical (menor duração do sulfato exige menos tempo de sondagem – quatro estudos). Tempo livre para deambulação (dois estudos – menor tempo de sulfato permite ao paciente deambular precocemente). E ainda somente em um estudo houve pesquisa do desfecho morte materna (uma única morte materna ocorrendo em cada grupo). Eventos como AVC ocorrendo um episódio no grupo de 24 horas e dois episódios nos grupos de menor tempo e amaurose cortical um evento no grupo de 24 horas também.

Nesta revisão sistemática com metanálises a comparação do regime tradicional com um de duração menor que 24 horas de administração de sulfato magnésio pós-parto não mostrou aumento do risco de convulsões no pós-parto. O risco foi semelhante em ambos os grupos de 1,2% e 3,0% , respectivamente, de apresentarem crise convulsiva nos grupos menos de 24 horas e no grupo de 24 horas de medicação.






Autor: João Marcelo Martins Coluna
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 24/03/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/duracao-do-sulfato-de-magnesio-pos-parto-para-a-prevencao-da-eclampsia/

PEBMED e Saúde Global: gestão de carreira na área médica [vídeo]

Você sabia que as atividades médicas podem ser divididas em tradicionais e não-tradicionais? No episódio de hoje da série sobre gestão de saúde, uma parceria entre a PEBMED e a Saúde Global, Dr. Vitor Sforni, Head de Governança Clínica da Saúde Global, comenta sobre as diversas possibilidades de carreira na área médica.

Atualmente existem mais de 100 especialidades médicas e área de atuação disponíveis para graduados em Medicina e reconhecidos pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).


Tópicos abordados no episódio

Contextualização de carreira na área médica

Atividades médicas tradicionais

Atividades médicas não-tradicionais

Opções de carreira no Sistema Único de Saúde (SUS)








Autor: Saude Global
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 24/03/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/pebmed-e-saude-global-gestao-de-carreira-na-area-medica-video/

Investigação de dor torácica estável: angiotomografia ou cateterismo?

A angiografia coronariana invasiva ou coronariografia, realizada pelo cateterismo, é o exame padrão para diagnóstico de doença arterial coronária (DAC) obstrutiva e tem a grande vantagem de permitir a realização de revascularização coronária no mesmo procedimento. Porém, quando este exame é realizado para elucidação diagnóstica em pacientes com dor torácica estável, mostra doença obstrutiva em apenas 38 a 50% dos casos.

A angiotomografia (angioTC) de coronárias é uma alternativa não invasiva para pacientes que apresentam dor torácica estável e que tem probabilidade pré-teste intermediária de DAC obstrutiva. A ocorrência de eventos adversos no exame é bastante baixa e ele consegue identificar candidatos a revascularização. Estudos prévios já mostraram que a angioTC é equivalente ou até melhor que exames funcionais, com redução de desfechos e melhor seleção de quem se beneficia de exame invasivo.


Baseado nisso, foi feito um novo estudo, o DISCHARGE, com objetivo de comparar a angioTC e a coronariografia invasiva como estratégia diagnóstica inicial para guiar o tratamento de pacientes com dor torácica estável.

Método do estudo e população envolvida

Foi um ensaio clínico de superioridade, multicêntrico, pragmático e randomizado que incluiu pacientes com pelo menos 30 anos que tinham dor torácica estável e probabilidade pré teste de DAC intermediária (10 a 60%), que tiveram indicação de coronariografia pelos seus médicos. Os critérios de exclusão eram realização de diálise, ausência de ritmo sinusal e gravidez.

Os pacientes foram randomizados em uma razão 1:1 para angioTC ou coronariografia. Quando o exame não mostrava DAC obstrutiva, o paciente retornava com seu médico para reavaliação e quando havia DAC obstrutiva, o paciente era tratado de acordo com os guidelines vigentes.

O desfecho primário de eventos cardiovasculares maiores era composto de morte cardiovascular, infarto agudo do miocárdio (IAM) não fatal e acidente vascular cerebral (AVC) não fatal. Não houve coleta de biomarcadores para detecção de infarto silencioso ou realização de imagem de rotina para detecção de AVC assintomático. Desfechos secundários foram as complicações maiores que ocorreram durante o procedimento ou nas primeiras 48 horas após o exame ou procedimento de revascularização.

Resultados

Os 3.667 pacientes foram incluídos de 2015 a 2019, sendo 1833 randomizados para angioTC e 1834 para coronariografia. Do total de pacientes, 56,2% eram mulheres, a idade média foi de 60,1 anos e um terço dos pacientes realizou exame funcional antes da randomização. A ocorrência de hipertensão, diabetes e dislipidemia foi semelhante entre os grupos. O diagnóstico de DAC obstrutiva foi feito em 27,5% dos pacientes de cada grupo e 22,3% dos pacientes do grupo angioTC foram submetidos a coronariografia. O tempo de seguimento médio foi 3,5 anos.

Não houve diferença no desfecho primário entre os grupos, sendo que ocorreu em 2,1% no grupo angioTC e em 3% no grupo coronariografia, com taxa anual de eventos cardiovasculares maiores de 0,61% no grupo angioTC e 0,86% no grupo coronariografia. A análise de subgrupos manteve resultados consistentes.

Em relação aos desfechos secundários, houve 42 complicações, sendo 33 associadas a coronariografia e nove a angioTC. As complicações foram quatro vezes mais frequentes em quem foi submetido a revascularização do que quem não foi revascularizado.

Em relação a desfechos clínicos, durante as últimas quatro semanas de seguimento, angina foi relatada em menos de 10% dos pacientes, sem diferença entre os grupos. Também foram semelhantes qualidade de vida e tratamento medicamentoso.

Comentários e conclusão

Neste estudo, não houve diferença nos desfechos entre pacientes que realizaram angioTC ou coronariografia como avaliação inicial de dor torácica e o grupo angioTC teve menor ocorrência de complicações maiores e procedimentos de revascularização. Apenas 22% dos pacientes que realizaram angioTC necessitaram de coronariografia posterior, com consequente redução das complicações em decorrência deste exame.

Esses achados complementam estudos prévios, como o PROMISE e o SCOT-HEART, que compararam angioTC com exames funcionais não invasivos, e confirmam a segurança da realização da angioTC como exame inicial em pacientes com dor torácica estável.

Algumas limitações importantes foram que não houve avaliação de ocorrência de eventos assintomáticos (IAM e AVC periprocedimento), o que pode ter favorecido o grupo submetido a coronariografia, e não houve avaliação de custo-efetividade em relação a cada exame. Além disso, a taxa de eventos foi menor que a esperada nos dois grupos, provavelmente em decorrência de melhorias tanto nos exames complementares quanto no tratamento médico do paciente como um todo.

Mensagem prática

A angioTC de coronárias vem ganhando cada vez mais espaço, sendo amplamente utilizada na prática clínica. Este estudo reforça sua utilidade no diagnóstico de pacientes com dor torácica estável e probabilidade intermediaria de DAC. É importante enfatizar que este é o grupo de pacientes que tem maior benefício deste exame e os que tem probabilidade baixa ou alta da doença devem ser avaliados de acordo.






Autor: Isabela Abud Manta
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 24/03/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/investigacao-de-dor-toracica-estavel-angiotomografia-ou-cateterismo/

quarta-feira, 23 de março de 2022

Vistas como refúgio a ser preservado, espécies brasileiras são capazes de se ajustar a novas condições causadas pelas mudanças climáticas

A capacidade de ajuste a novas condições ambientais faz os corais do litoral brasileiro serem mais tolerantes ao branqueamento, fenômeno desencadeado, principalmente, pelo aumento da temperatura dos oceanos. “Ao serem expostos a um cenário simulado de mudanças climáticas, em laboratório, com aumento de temperatura de 2,5ºC [aquecimento] e diminuição de 0,3 unidade de pH [acidificação], espécies de corais da costa brasileira responderam positivamente a essas condições, o que sugere uma evolução de respostas fisiológicas dirigidas pelas águas, ricas em nutrientes e matéria orgânica e com menor luminosidade devido ao escoamento de sedimentos da costa brasileira”, explica ao Jornal da USP o biólogo e coordenador da pesquisa Samuel Coelho de Faria, professor do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP e pesquisador associado do Projeto Coral Vivo. Segundo ele, a capacidade de plasticidade dos corais é um ‘jeitinho brasileiro’ da nossa fauna coralínea de serem tolerantes às mudanças climáticas. A região (o litoral brasileiro) está sendo vista como um grande refúgio de tolerância aos impactos das mudanças climáticas, merecendo prioridade em políticas públicas de conservação ambiental.

O estudo experimental comparativo incluiu dezoito espécies de corais (17 escleractínios e um hidrocoral) originárias da costa brasileira e do Mar dos Sargaços (Bermudas), localizado no Oceano Atlântico, próximo à costa leste dos Estados Unidos (EUA). “Ambas as regiões hospedam espécies de corais semelhantes em termos evolutivos, mas apresentam diferentes características físico-químicas em suas águas, especialmente no que diz respeito à quantidade de nutrientes e disponibilidade de luz”, diz o pesquisador.

Segundo o estudo, os ecossistemas que envolvem recifes de corais são fundamentais para a manutenção da biodiversidade aquática. São fontes de alimento, abrigo e proteção para muitas espécies e cerca de 25% de toda a biodiversidade oceânica é abrigada pelos recifes de coral. A degradação e o esgotamento desses recursos trarão repercussões negativas para toda a sociedade, relata. Inúmeras espécies dependentes dos recifes servem como fontes para medicamentos e agentes bioquímicos, além de movimentarem mais de 30 bilhões de dólares por ano em bens e serviços como a pesca, turismo, alimentação, desenvolvimento médico e tecnológico e proteção da costa. Os recifes proporcionam uma teia de interações complexa, com impactos diretos, portanto, no próprio ambiente terrestre do qual fazemos parte, diz o professor Faria.
 


Biólogo e coordenador da pesquisa Samuel Coelho de Faria, professor do Centro de Biologia Marinha (Cebimar) da USP - Foto: Arquivo pessoal

O branqueamento é uma resposta natural de defesa dos corais a situações de estresse térmico, relata Miguel Mies, pesquisador associado do Instituto Oceanográfico (IO) da USP e do Projeto Coral Vivo. O fenômeno, que é decorrente do aquecimento global, vem acontecendo em várias partes do mundo, mas alguns estudos vêm demonstrando que os corais brasileiros são menos afetados. Um artigo assinado por Mies com outros autores publicado na Frontiers traz dados que mostram que os recifes de coral do Atlântico Sul são os principais refúgios do aquecimento global e menos suscetíveis ao branqueamento. Para compreender as razões que fazem os corais do Brasil serem mais tolerantes ao aumento da temperatura marinha que pode levá-los à morte, o professor Faria explica aspectos fisiológicos dos corais.

Relação simbiótica dos corais com as zooxantelas

Os corais são animais marinhos, e muitas espécies realizam fotossíntese por possuírem uma relação simbiótica com microalgas intracelulares chamadas zooxantelas. Em águas rasas com acesso à luz, essas microalgas atendem até 98% das demandas energéticas do coral hospedeiro, também contribuindo, em parte, para sua coloração peculiar. Por sua vez, as zooxantelas sobrevivem e crescem graças também aos produtos gerados pelo metabolismo do coral, especialmente os compostos nitrogenados, além de receberem abrigo, proteção e uma posição estável na coluna d’água para acesso à luz. A energia provida pela fotossíntese e desempenhada pelas zooxantelas é também responsável por abastecer as maiores taxas de calcificação dos corais, na formação do esqueleto, cuja estrutura é composta de carbonato de cálcio. “É uma relação de dupla-troca em que ambos são mutuamente beneficiados”, diz o pesquisador.

Em episódios de branqueamento ocasionado pelo aquecimento das águas, os corais, por uma ação de defesa, expulsam as zooxantelas de dentro de seus tecidos porque elas passam a ser fontes geradoras de grandes quantidades de espécies reativas de oxigênio que deflagram estresse oxidativo, substâncias essas que se difundem pelos tecidos do coral hospedeiro. Como consequência, esses animais perdem a capacidade de serem abastecidos pela fotossíntese e se tornam translúcidos pela perda dos simbiontes, deixando exposta a cor branca de seu esqueleto subjacente.

Águas brasileiras: turbidez rica em sedimentos e nutrientes

Mies explica que as águas oceânicas do litoral brasileiro possuem características bastante diferenciadas de outras regiões. São ricas em nutrientes e sedimentos oriundos da costa brasileira, que chegam ao mar por meio de seus afluentes. Segundo o pesquisador, a fauna coralínea que se desenvolveu por aqui tem baixa diversidade, tem alto grau de endemismo (típicos dessa região) e é bastante tolerante a essas condições adversas. O Mar dos Sargaços, diferentemente das águas brasileiras, possui águas cristalinas e baixo nível de nutrientes e matéria orgânica.

Simbiose zooxantelas e corais - Imagem: Wooldridge at al (2010)


O branqueamento caracteriza-se pela expulsão das zooxantelas pelo coral ou pela degradação dos pigmentos fotossintetizantes (clorofila). Dependendo da intensidade e duração do estresse térmico, o coral pode não mais retornar ao seu estado saudável.- Imagem: Marangoni et al (2016)

Simbiose zooxantelas e corais - Imagem: Wooldridge at al (2010)

O branqueamento caracteriza-se pela expulsão das zooxantelas pelo coral ou pela degradação dos pigmentos fotossintetizantes (clorofila). Dependendo da intensidade e duração do estresse térmico, o coral pode não mais retornar ao seu estado saudável.- Imagem: Marangoni et al (2016)



Ambas as fotos referem-se ao coral-de-fogo Millepora Alcicornis, no Recife de Fora, município de Porto Seguro/BA, durante o branqueamento de 2019. A foto (01) mostra uma colônia já branqueada com outras mortas ao redor, cobertas por algas filamentosas. A foto (02) mostra uma colônia saudável. No litoral brasileiro, o ambiente recifal possui maiores níveis de sedimentação e matéria orgânica e menores índices de luminosidade que os recifes de outras regiões do planeta. Foto: Miguel Mies


Ambas as fotos referem-se ao coral-de-fogo Millepora Alcicornis, no Recife de Fora, município de Porto Seguro/BA, durante o branqueamento de 2019. A foto (01) mostra uma colônia já branqueada com outras mortas ao redor, cobertas por algas filamentosas. A foto (02) mostra uma colônia saudável. No litoral brasileiro, o ambiente recifal possui maiores níveis de sedimentação e matéria orgânica e menores índices de luminosidade que os recifes de outras regiões do planeta. Foto: Miguel Mies


Ambas as fotos referem-se ao coral-de-fogo Millepora Alcicornis, no Recife de Fora, município de Porto Seguro/BA, durante o branqueamento de 2019. A foto (01) mostra uma colônia já branqueada com outras mortas ao redor, cobertas por algas filamentosas. A foto (02) mostra uma colônia saudável. No litoral brasileiro, o ambiente recifal possui maiores níveis de sedimentação e matéria orgânica e menores índices de luminosidade que os recifes de outras regiões do planeta. Foto: Miguel Mies


Ambas as fotos referem-se ao coral-de-fogo Millepora Alcicornis, no Recife de Fora, município de Porto Seguro/BA, durante o branqueamento de 2019. A foto (01) mostra uma colônia já branqueada com outras mortas ao redor, cobertas por algas filamentosas. A foto (02) mostra uma colônia saudável. No litoral brasileiro, o ambiente recifal possui maiores níveis de sedimentação e matéria orgânica e menores índices de luminosidade que os recifes de outras regiões do planeta. Foto: Miguel Mies

Voltando à pesquisa

Os corais foram transportados dentro de caixas com água do mar até as respectivas bases de pesquisa no Projeto Coral Vivo (Porto Seguro, Bahia, Brasil) e no Bermuda Institute of Ocean Sciences (St. George’s, Bermudas), onde foram aclimatados por 21 dias em aquários, em sistema aberto e fluxo contínuo com água do mar. A luminosidade, a temperatura e o pH foram mantidos constantes, com exceção das características físico-químicas da água, que eram típicas de cada região.

Após a aclimatação, os corais foram submetidos a um aumento simulado de temperatura de 2,5ºC e redução de 0,3 unidade de pH das águas por 14 dias. Nestas condições, as espécies de corais das Bermudas sofreram branqueamento (perda de zooxantelas e de clorofila) após serem expostas ao cenário de mudanças climáticas. Já as espécies brasileiras demonstraram um efeito compensatório quanto ao teor de clorofila e capacidade antioxidante.

Os pesquisadores observaram que tanto as espécies de Bermudas quanto as brasileiras demonstraram ter uma redução na densidade de simbiontes (zooxantelas) em torno de 30%. “Isso significa que, na média, espécies de ambas as localidades expulsaram as zooxantelas após o tratamento simulado de temperatura e pH”, diz o pesquisador. No entanto, os corais do Brasil apresentaram aumento médio de até 90% no teor de clorofila, o que significa que a concentração por célula de zooxantela chegou a aumentar em até sete vezes. Faria explica que as zooxantelas da costa do Brasil foram capazes de elevar o conteúdo de clorofila diante de estressores ambientais, uma resposta conceituada como plasticidade simbiótica.

Sistema antioxidante

Em relação ao sistema de defesa, em condições naturais, a capacidade antioxidante das espécies de Bermudas é cerca de dez vezes maior que a das espécies brasileiras. No entanto, quando expostas ao cenário simulado de aumento de temperatura e redução no pH, apenas as espécies do Brasil foram capazes de aumentar as defesas antioxidantes, um incremento médio de 40%, o que sugere que elas lidam melhor com o estresse oxidativo induzido, diz Faria. Esse efeito compensatório é uma capacidade de ajuste das espécies brasileiras diante de novas condições ambientais, conceito denominado de plasticidade antioxidante.

Quanto aos níveis de calcificação dos corais – índice que indica as condições de saúde e disponibilidade de energia para crescimento –, o estudo mostrou que houve também uma elevação média de 15% nas espécies brasileiras e redução média de aproximadamente 10% nas espécies de Bermudas, indicando que o crescimento dos corais brasileiros não foi afetado negativamente.



As plasticidades simbiótica e antioxidante parecem sustentar os níveis de calcificação mais elevados nas espécies da costa brasileira, relata Faria. “A pesquisa não apenas confirmou a hipótese de maior tolerância fisiológica das espécies brasileiras diante do câmbio climático, como também verificou uma coevolução das plasticidades simbiótica e antioxidante no Atlântico Sul. A capacidade de responder positivamente quanto ao conteúdo de clorofila e defesas antioxidantes diante do tratamento induzido evoluiu de forma integrada e convergente nas espécies brasileiras, uma relação dirigida pela emblemática natureza nutricional e luminosa das nossas águas brasileiras”, conclui.

As instituições envolvidas na pesquisa foram a USP (Cebimar, Instituto de Biociências e Instituto Oceanográfico), Bermuda Institute of Ocean Sciences, University of California, Riverside Smithsonian Tropical Research Institute, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal do Rio Grande (Furg) e Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Mudanças climáticas

Em fevereiro, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, em inglês) divulgou novo relatório sobre aquecimento global com alertas de impactos irreversíveis para a humanidade caso não sejam tomadas decisões nas próximas duas ou três décadas para diminuir a emissão de gases de efeito estufa (CO2,CH4, N2O, HFCs, PFCs e SF6) que impedem a perda de calor terrestre e mantêm o planeta aquecido.

Segundo o documento, que compila e sintetiza estudos de milhares de cientistas, o mundo aqueceu em média 0,85°C entre 1880 e 2012. As três últimas décadas foram as mais quentes desde 1850. O aumento da temperatura entre a média do período 1850-1900 e a média do período 2003–2012 foi de aproximadamente 0,78°C.

Os oceanos têm acumulado a maior parte desse calor, servindo como um amortecedor para o aquecimento da atmosfera, estocando mais de 90% da energia do sistema do clima e muito do gás carbônico. O mar está se tornando mais ácido (menos alcalino) pela continuada absorção de gás carbônico.

Segundo o relatório, se as emissões continuarem dentro das tendências atuais – o aquecimento vai aumentar, podendo chegar a 4,8°C até 2100 -, os efeitos negativos se multiplicarão e perturbarão todos os componentes do sistema climático, com graves repercussões sobre o bem-estar da humanidade e de todas as outras formas de vida.

Ao comentar o relatório do IPCC, Miguel Mies lamenta que a humanidade não esteja conseguindo frear o aquecimento global e que em consequência disso, em pouco tempo, talvez três décadas, se nada for feito, os recifes de corais serão perdidos. “Esquentar apenas 1,5ºC ou 2ºC não atende às necessidades de proteção dos recifes de corais. Eles vão perecer muito antes desse cenário”, diz.

Mais informações: e-mail sfaria@usp.br Samuel Coelho de Faria



Autor: Ivanir Ferreira
Fonte: usp
Sítio Online da Publicação: usp
Data: 15/03/2022
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/corais-brasileiros-recorrem-a-jeitinho-para-resistir-ao-aquecimento-dos-oceanos/