sexta-feira, 30 de setembro de 2022
No Dia Mundial do Coração, Ministério da Saúde promove simpósio sobre inovação, tratamento e prevenção de doenças cardiovasculares
- Foto: Walterson Rosa/MS
No Dia Mundial do Coração, nesta quinta-feira (29), o Ministério da Saúde promoveu um seminário para debater as doenças que são as maiores causas de morte no Brasil. Especialistas de várias áreas debateram diversos temas sobre o assunto, desde prevenção, até tratamento e inovações na cardiologia.
O ministro da saúde, Marcelo Queiroga, ressaltou que as doenças cardiovasculares merecem uma atenção especial por parte dos gestores públicos. “Sempre houve essa necessidade e agora que vivemos o período pós pandêmico onde, muitas vezes, os cuidados, desde a atenção primaria a atenção especializada da saúde, foram relativizados é necessário que políticas públicas sejam ampliadas para que possamos reduzir óbitos por doenças cardiovasculares”, pontuou.
Entre os temas abordados estavam o Programa Previne e os Indicadores de hipertensão e de diabetes, o QualiSUS Cardio, a Linha de Cuidado do Infarto Agudo do Miocárdio e o Projeto de Implantação e Implementação de Rede Nacional de Saúde Cardiovascular Especializada – Renasce.
As doenças cardiovasculares apresentam causas múltiplas, se desenvolvem lentamente ao longo da vida e, na maioria das vezes, de forma silenciosa e assintomática. São considerados fatores de risco: hipertensão arterial sistêmica, diabetes mellitus, sobrepeso/obesidade, dislipidemia, tabagismo, alimentação inadequada, inatividade física, elevado tempo em comportamento sedentário e consumo de álcool.
Portanto, a prevenção é fundamental para o controle de doenças cardíacas. Nesse sentido, especialistas recomendam a adoção de hábitos de vida saudáveis, entre eles atividade física regular de pelo menos 150 minutos por semana, alimentação balanceada, priorizando alimentos frescos, como frutas, legumes, hortaliças e cereais, evitando os ultraprocessados e a cessação do tabagismo.
Para o presidente da World Heart Federation, Fausto Pinto, o Dia Mundial do Coração tem o objetivo de desenvolver um conjunto de iniciativas no que diz respeito às doenças cardiovasculares. “A data serve exatamente para se discutir as estratégias, de uma forma global, para a melhora da saúde cardiovascular e para combater a principal causa de mortalidade do mundo. Esta é uma excelente iniciativa do Ministério da saúde do Brasil”, disse.
Tratamento no SUS
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece atendimento integral e gratuito para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças cardiovasculares. No primeiro atendimento, nas Unidades Básicas de Saúde, estão disponíveis ações de prevenção, como acompanhamento e monitoramento de fatores de risco como hipertensão e diabetes. Se houver necessidade, como diagnóstico de doença cardiovascular, o paciente é encaminhado para a Atenção Especializada, onde terá toda assistência para o acompanhamento com especialista, exames, tratamento e os procedimentos necessários, ambulatoriais ou cirúrgicos. O Brasil tem mais de 300 centros especializados de alta complexidade cardiovascular.
Ministério da Saúde
Categoria
Saúde e Vigilância Sanitária
Autor: gov
Fonte: gov
Sítio Online da Publicação: Ministério da Saúde
Data: 29/09/2022
Publicação Original: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/no-dia-mundial-do-coracao-ministerio-da-saude-promove-simposio-sobre-inovacao-tratamento-e-prevencao-de-doencas-cardiovasculares
Ministério da Saúde lança Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos e Tecidos de 2022
- Foto: Julia Prado/MS
Com o tema “Amor para superar, amor para recomeçar”, o Ministério da Saúde lançou, nesta terça-feira (27), a Campanha Nacional de Incentivo à Doação de Órgãos e Tecidos de 2022. O objetivo é incentivar a população sobre a importância da doação de órgãos e os profissionais de saúde que lidam com essa situação delicada para as famílias e são agentes importantes para essa conscientização. O Brasil tem o maior programa público de transplantes do mundo através do Sistema Único de Saúde (SUS).
Durante o evento, Elaiza Machado, de 46 anos, conta que há 8 anos perdeu o seu filho em um trágico acidente. William Machado teve morte cerebral aos 19 anos. A partir daí o seu irmão mais novo, Wellington Machado, pediu para que sua mãe autorizasse a doação de órgãos de William. “Conto esse resumo da história mais dolorosa da minha vida, mas, hoje, me orgulho dessa atitude. Meu filho é um herói, mesmo após a sua morte, ajudou seis pessoas a viverem”, relata Elaiza, que também diz que esse ato trouxe ajuda para a superação da tragédia e deseja que outras pessoas tenham essa mesma consciência.
Para o ministro da Saúde Substituto, Bruno Dalcolmo, essa data é um dia de celebração de renovação da vida. “Não dá para dimensionar o quanto as pessoas podem ser abençoadas após receberem uma ligação sabendo que terão uma nova oportunidade de viver”, pontua. O ministro substituto também reforça que o país tem o título de maior programa público de transplantes do mundo, algo que foi construído ao longo de décadas com muito esforço.
O lançamento marca o Dia Nacional da Doação de Órgãos. A campanha será veiculada em TV, rádio, mídia exterior em lugares de grande circulação de pessoas, em portais online, além de redes sociais. A campanha também mostra a importância de conversar e manifestar o desejo da doação para os familiares, que serão os responsáveis por essa decisão. Atualmente, mais de 59 mil pessoas estão na fila esperando por um órgão - esse dado contabiliza também as pessoas que esperam por uma córnea. Só em 2022, em média, mais de 45% das famílias não concordaram com a doação.
Transparência
Nesta terça (27), o Ministério da Saúde também apresentou uma ferramenta de avaliação e visualização de dados referente ao cenário atual da lista de espera e dos transplantes de órgãos realizados em 2022, com objetivo de promover maior conscientização e também apoio a decisões sobre a doação de órgãos e medula óssea pelos gestores do Sistema Nacional de Transplantes (SNT).
Os painéis contêm informações de lista de espera e de transplantes de órgãos e medula óssea realizados durante o ano, até o momento, com atualização semanal. Com as informações da lista de espera, o público poderá visualizar a quantidade de pessoas que aguardam por um órgão para realização do transplante na última data de compilação dos dados. No painel, é possível visualizar a quantidade de pacientes aguardando pelo tipo de órgão e modalidade de transplante.
De acordo com a secretária de Atenção Especializada à Saúde (SAES), Maíra Botelho, as informações podem contribuir muito para analisar o cenário da doação de órgãos no Brasil. “Quando esses dados são analisados em conjunto podem revelar a importância de se discutir em família sobre a vontade de cada um em se tornar doador de órgãos”. A secretária explica que isso se dá pela diferença entre a quantidade de pessoas que aguardam por algum órgão para transplante e o número de procedimentos realizados. “Havendo mais pessoas dispostas a doar, a chance daqueles que aguardam por um órgão serem contemplados também aumenta”, destaca Maíra.
Doação e transplantes de órgãos no Brasil
O Brasil é o segundo país do mundo que mais realiza transplantes, que é garantido a toda a população por meio do SUS. Em 2021, foram feitos cerca de 23,5 mil procedimentos, desse total, cerca de 4,8 mil foram transplantes de rim, 2 mil de fígado, 334 de coração e 84 de pulmão, entre outros. O país tem mais de 600 hospitais de transplantes autorizados.
Através do QualiDOT, o Programa de Qualificação do Sistema Nacional de Transplantes, o Ministério da Saúde implantou a avaliação de critérios e indicadores dos centros transplantadores do país. O programa consiste no monitoramento e avaliação dos serviços de transplantes de órgãos e de medula óssea, mediante acompanhamento de indicadores quali-quantitativos e a concessão de incentivo financeiro adicional para serviços de alta performance.
Karol Ribeiro
Ministério da Saúde
Categoria
Saúde e Vigilância Sanitária
Autor: gov
Fonte: gov
Sítio Online da Publicação: Ministério da Saúde
Data: 27/09/2022
Publicação Original: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/ministerio-da-saude-lanca-campanha-nacional-de-incentivo-a-doacao-de-orgaos-e-tecidos-de-2022
Sítio Online da Publicação: Ministério da Saúde
Data: 27/09/2022
Publicação Original: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/setembro/ministerio-da-saude-lanca-campanha-nacional-de-incentivo-a-doacao-de-orgaos-e-tecidos-de-2022
Diabetes é a variável que mais impacta número de mortes por infarto
Já são conhecidos vários fatores que aumentam o risco de infarto, como glicose elevada (hiperglicemia), obesidade, colesterol alto, hipertensão e tabagismo. E agora um estudo publicado na revista PLOS ONE mensurou o impacto de cada um deles nas estatísticas de morte por doença cardiovascular. A hiperglicemia mostrou uma associação com esse desfecho de cinco a dez vezes maior do que outros fatores.
Pesquisadores da USP analisaram o peso de diferentes fatores de risco nas estatísticas de morte por doenças cardiovasculares. Resultados publicados na PLOS ONE mostram que a hiperglicemia representa um risco ainda maior para mulheres (foto: F. Richter/Pixabay)
Foram usados dados de fontes governamentais, como os ministérios do Desenvolvimento Social e da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrados entre 2005 e 2017. Os números foram confrontados com informações de outros bancos, como o Global Health Data Exchange (GHDx) e o repositório do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington (Estados Unidos).
Por meio de métodos estatísticos, os pesquisadores determinaram o número de óbitos atribuídos a cada fator de risco. O objetivo da pesquisa, apoiada pela FAPESP, foi ajudar a encontrar estratégias mais eficazes para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares – que ainda são as maiores causas de morte no país.
“Independentemente do controle que usávamos – e testamos diferentes tipos de variável, modelos estatísticos e métodos – o diabetes sempre se associava à mortalidade por doenças cardiovasculares. Mais do que isso: é uma associação que não se restringia ao ano analisado, mas perdurava por até uma década”, explica Renato Gaspar, pós-doutorando no Laboratório de Biologia Vascular do Instituto do Coração (InCor), viculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).
Estudos anteriores estabeleceram uma equação para calcular o número de mortes prevenidas ou adiadas devido a mudanças em fatores de risco. Assim, foi possível analisar também as taxas de mortes “prematuras”, calculadas em relação à expectativa de vida padrão. Os autores concluíram que cerca de 5 mil pessoas não teriam morrido por doença cardiovascular no período analisado caso os índices de diabetes fossem menores na população. Por outro lado, a pesquisa também permitiu concluir que pelo menos 17 mil mortes foram evitadas somente pela diminuição do consumo de cigarros durante esses 12 anos.
“Nossos achados fornecem evidências de que as estratégias para reduzir o tabagismo foram fundamentais para a redução da mortalidade por doença cardiovascular”, apontam os autores.
Outro ponto que chamou a atenção dos cientistas foram as diferenças de gênero. “As disparidades sexuais reiteram outros estudos que apontam o diabetes e a hiperglicemia como fatores de risco mais fortes para doença cardiovascular em mulheres do que em homens”, advertem.
Impacto socioeconômico
A mortalidade e a incidência de doenças cardiovasculares diminuíram 21% e 8%, respectivamente, entre 2005 e 2017 no Brasil. Além da redução do tabagismo, o maior acesso à saúde básica é listado como um dos responsáveis pela melhora nos índices. Essa observação levou em conta a questão da hipertensão, frequentemente associada a problemas cardíacos. No entanto, ela representou sete vezes menos mortes por doenças cardiovasculares do que a hiperglicemia. Uma das possibilidades é que o acesso ao sistema de saúde universal, com aumento na cobertura de atenção primária, tornou alta na população a taxa de controle da hipertensão.
Corrobora esse achado o fato de que a associação entre hiperglicemia e mortalidade por doença cardiovascular foi independente do nível socioeconômico e do acesso aos cuidados de saúde. Os pesquisadores inseriram covariáveis nos modelos analisados para contabilizar dados como renda familiar, benefício do Bolsa Família, produto interno bruto (PIB) per capita, número de médicos por habitantes e cobertura de atenção primária.
“Além de aumentar a renda, diminuir a desigualdade e a pobreza e ampliar a qualidade e o acesso à saúde, precisamos olhar para o diabetes e para a hiperglicemia de maneira específica”, aponta Gaspar, ressaltando que o país tem discutido pouco questões como o alto consumo de açúcar.
“Precisamos de uma política de educação nutricional. Debater se vale a pena colocar uma tarja nos produtos açucarados com um alerta, como nas embalagens de cigarro, ou taxar produtos com açúcar adicionado de forma a incentivar as indústrias a reduzir esse ingrediente. São questões bastante debatidas em outros países e que precisam ser pautadas aqui.”
Para mitigar os índices de doença cardiovascular no Brasil, as políticas de saúde devem ter como objetivo reduzir diretamente a prevalência de hiperglicemia, seja pela educação nutricional, pela restrição a alimentos com açúcar adicionado ou pelo mais amplo acesso às novas classes de medicamentos capazes de diminuir a chance de o paciente diabético morrer por infarto.
O artigo Analysing the impact of modifiable risk factors on cardiovascular disease mortality in Brazil está disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0269549.
Autor: Ricardo Muniz | Agência FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 28/09/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/diabetes-e-a-variavel-que-mais-impacta-numero-de-mortes-por-infarto/39684/
Pesquisadores da USP analisaram o peso de diferentes fatores de risco nas estatísticas de morte por doenças cardiovasculares. Resultados publicados na PLOS ONE mostram que a hiperglicemia representa um risco ainda maior para mulheres (foto: F. Richter/Pixabay)
Foram usados dados de fontes governamentais, como os ministérios do Desenvolvimento Social e da Saúde e o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), registrados entre 2005 e 2017. Os números foram confrontados com informações de outros bancos, como o Global Health Data Exchange (GHDx) e o repositório do Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME), da Universidade de Washington (Estados Unidos).
Por meio de métodos estatísticos, os pesquisadores determinaram o número de óbitos atribuídos a cada fator de risco. O objetivo da pesquisa, apoiada pela FAPESP, foi ajudar a encontrar estratégias mais eficazes para reduzir a incidência de doenças cardiovasculares – que ainda são as maiores causas de morte no país.
“Independentemente do controle que usávamos – e testamos diferentes tipos de variável, modelos estatísticos e métodos – o diabetes sempre se associava à mortalidade por doenças cardiovasculares. Mais do que isso: é uma associação que não se restringia ao ano analisado, mas perdurava por até uma década”, explica Renato Gaspar, pós-doutorando no Laboratório de Biologia Vascular do Instituto do Coração (InCor), viculado à Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP).
Estudos anteriores estabeleceram uma equação para calcular o número de mortes prevenidas ou adiadas devido a mudanças em fatores de risco. Assim, foi possível analisar também as taxas de mortes “prematuras”, calculadas em relação à expectativa de vida padrão. Os autores concluíram que cerca de 5 mil pessoas não teriam morrido por doença cardiovascular no período analisado caso os índices de diabetes fossem menores na população. Por outro lado, a pesquisa também permitiu concluir que pelo menos 17 mil mortes foram evitadas somente pela diminuição do consumo de cigarros durante esses 12 anos.
“Nossos achados fornecem evidências de que as estratégias para reduzir o tabagismo foram fundamentais para a redução da mortalidade por doença cardiovascular”, apontam os autores.
Outro ponto que chamou a atenção dos cientistas foram as diferenças de gênero. “As disparidades sexuais reiteram outros estudos que apontam o diabetes e a hiperglicemia como fatores de risco mais fortes para doença cardiovascular em mulheres do que em homens”, advertem.
Impacto socioeconômico
A mortalidade e a incidência de doenças cardiovasculares diminuíram 21% e 8%, respectivamente, entre 2005 e 2017 no Brasil. Além da redução do tabagismo, o maior acesso à saúde básica é listado como um dos responsáveis pela melhora nos índices. Essa observação levou em conta a questão da hipertensão, frequentemente associada a problemas cardíacos. No entanto, ela representou sete vezes menos mortes por doenças cardiovasculares do que a hiperglicemia. Uma das possibilidades é que o acesso ao sistema de saúde universal, com aumento na cobertura de atenção primária, tornou alta na população a taxa de controle da hipertensão.
Corrobora esse achado o fato de que a associação entre hiperglicemia e mortalidade por doença cardiovascular foi independente do nível socioeconômico e do acesso aos cuidados de saúde. Os pesquisadores inseriram covariáveis nos modelos analisados para contabilizar dados como renda familiar, benefício do Bolsa Família, produto interno bruto (PIB) per capita, número de médicos por habitantes e cobertura de atenção primária.
“Além de aumentar a renda, diminuir a desigualdade e a pobreza e ampliar a qualidade e o acesso à saúde, precisamos olhar para o diabetes e para a hiperglicemia de maneira específica”, aponta Gaspar, ressaltando que o país tem discutido pouco questões como o alto consumo de açúcar.
“Precisamos de uma política de educação nutricional. Debater se vale a pena colocar uma tarja nos produtos açucarados com um alerta, como nas embalagens de cigarro, ou taxar produtos com açúcar adicionado de forma a incentivar as indústrias a reduzir esse ingrediente. São questões bastante debatidas em outros países e que precisam ser pautadas aqui.”
Para mitigar os índices de doença cardiovascular no Brasil, as políticas de saúde devem ter como objetivo reduzir diretamente a prevalência de hiperglicemia, seja pela educação nutricional, pela restrição a alimentos com açúcar adicionado ou pelo mais amplo acesso às novas classes de medicamentos capazes de diminuir a chance de o paciente diabético morrer por infarto.
O artigo Analysing the impact of modifiable risk factors on cardiovascular disease mortality in Brazil está disponível em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0269549.
Autor: Ricardo Muniz | Agência FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 28/09/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/diabetes-e-a-variavel-que-mais-impacta-numero-de-mortes-por-infarto/39684/
quinta-feira, 29 de setembro de 2022
Furacão Ian: entenda fenômeno que tornou tempestade na Flórida ainda mais perigosa
CRÉDITO,FOTO DE SATÉLITE
A única coisa 100% previsível em relação aos furacões são suas constantes mudanças.
Esses fenômenos atmosféricos — formados com a energia das águas quentes e dos ventos, e comuns em regiões como o Oceano Atlântico — representam um desafio para os cidadãos e para os meteorologistas devido à sua instabilidade.
É necessário acompanhar sua trajetória minuto a minuto por meio de radares e satélites para antecipar seu comportamento e, assim, se preparar para qualquer eventualidade que represente um risco à vida e ao patrimônio.
E uma das mudanças que mais surpreende meteorologistas e especialistas em clima, porque o motivo ainda não está totalmente claro, é a chamada substituição da parede do olho do furacão.
Este evento, que geralmente ocorre em grandes furacões de categoria 3, 4 e 5, pode mudar o efeito de um ciclone quando atinge terra firme.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Na terça-feira (27/09), o furacão Ian, um poderoso ciclone de categoria 4 com ventos sustentados de mais de 240 km/h, passou pelo processo de substituição da parede do olho.
Ele fez isso logo após atingir a província de Pinar del Río, em Cuba, e antes de chegar ao Estado da Flórida, nos EUA, onde está causando grandes danos devido aos fortes ventos e uma enorme tempestade.
É necessário acompanhar sua trajetória minuto a minuto por meio de radares e satélites para antecipar seu comportamento e, assim, se preparar para qualquer eventualidade que represente um risco à vida e ao patrimônio.
E uma das mudanças que mais surpreende meteorologistas e especialistas em clima, porque o motivo ainda não está totalmente claro, é a chamada substituição da parede do olho do furacão.
Este evento, que geralmente ocorre em grandes furacões de categoria 3, 4 e 5, pode mudar o efeito de um ciclone quando atinge terra firme.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Na terça-feira (27/09), o furacão Ian, um poderoso ciclone de categoria 4 com ventos sustentados de mais de 240 km/h, passou pelo processo de substituição da parede do olho.
Ele fez isso logo após atingir a província de Pinar del Río, em Cuba, e antes de chegar ao Estado da Flórida, nos EUA, onde está causando grandes danos devido aos fortes ventos e uma enorme tempestade.
A parede do olho
A primeira coisa que você precisa saber é que, de acordo com o Centro Nacional de Furacões (NHC, na sigla em inglês) dos EUA, estes fenômenos atmosféricos têm uma estrutura que é dividida em três partes: o olho, a parede do olho e as faixas de chuva.
Nas faixas de chuva, há nuvens e fortes trovoadas que se movem em espiral, produzindo ventos e, às vezes, tornados. Já o olho é uma área de relativa calma, um centro em torno do qual giram as faixas de precipitação.
E a parede é justamente a área mais próxima do olho.
"A parede do olho consiste em um anel de altas tempestades elétricas que produzem fortes chuvas e, geralmente, os ventos mais fortes", diz o NHC sobre essa zona dos furacões.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
A circulação dos ventos do furacão Ian fez parte da água da Baía de Tampa recuar, ao se aproximar da costa da Flórida
As mudanças na estrutura do olho ou de sua parede podem tornar os ventos de um ciclone mais fortes ou mais fracos.
"O olho pode crescer ou diminuir de tamanho, e paredes duplas podem se formar", acrescenta o NHC.
A substituição da parede e seus efeitos
A substituição da parede do olho costuma ocorrer em furacões de maior intensidade, explicou à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, o meteorologista Ernesto Rodríguez, que trabalha no Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos.
Estes ciclones, que vão da categoria 3 a 5 na escala Saffir-Simpson, têm ventos sustentados de mais de 178 km/h.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
O furacão Ian deixou um rastro de destruição em Cuba
"O que acontece é que uma parede maior de tempestades elétricas começa a rodear e sufocar o núcleo interno que havia se formado originalmente. O novo anel de tempestades rodeia a parede do olho mais antiga, e esta acaba desaparecendo", explica o especialista.
Quando passam por esse processo, que geralmente acontece enquanto o furacão está em vias de se fortalecer, as tempestades deixam de ganhar força.
"É que passam por ciclos em que o olho vai mudando de diâmetro. A substituição do olho os mantém [os furacões] estáveis, e depois eles se intensificam novamente", acrescenta Rodríguez.
O especialista deu como exemplo o furacão Maria, que atingiu Porto Rico em 2017. A tempestade era de categoria 5, com ventos sustentados de 257 km/h, mas durante a substituição da parede do olho, pouco antes de atingir o território, sua força foi reduzida para categoria 4, com ventos de 249 km/h.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Ao passar por Cuba, o furacão Ian deixou pelo menos dois mortos
Mas quando a substituição da parede do olho termina, essa parte do furacão, que é a mais poderosa e perigosa, acaba com um diâmetro maior.
"Ao expandir o diâmetro do olho, haverá mais áreas que serão impactadas pelos ventos mais fortes", diz Rodríguez.
Isso significa que as áreas mais destrutivas vão atingir mais terras.
O processo de substituição da parede do olho pode ocorrer mais de uma vez.
No caso do furacão Ian, seu olho original tinha 20 milhas náuticas de diâmetro — e após a substituição da parede do olho, ficou 75% maior, com 35 milhas náuticas.
Autor: Ronald Ávila-Claudio - @ronaldavilapr
Fonte: BBC News Mundo
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 29/09/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63072320
A primeira coisa que você precisa saber é que, de acordo com o Centro Nacional de Furacões (NHC, na sigla em inglês) dos EUA, estes fenômenos atmosféricos têm uma estrutura que é dividida em três partes: o olho, a parede do olho e as faixas de chuva.
Nas faixas de chuva, há nuvens e fortes trovoadas que se movem em espiral, produzindo ventos e, às vezes, tornados. Já o olho é uma área de relativa calma, um centro em torno do qual giram as faixas de precipitação.
E a parede é justamente a área mais próxima do olho.
"A parede do olho consiste em um anel de altas tempestades elétricas que produzem fortes chuvas e, geralmente, os ventos mais fortes", diz o NHC sobre essa zona dos furacões.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
A circulação dos ventos do furacão Ian fez parte da água da Baía de Tampa recuar, ao se aproximar da costa da Flórida
As mudanças na estrutura do olho ou de sua parede podem tornar os ventos de um ciclone mais fortes ou mais fracos.
"O olho pode crescer ou diminuir de tamanho, e paredes duplas podem se formar", acrescenta o NHC.
A substituição da parede e seus efeitos
A substituição da parede do olho costuma ocorrer em furacões de maior intensidade, explicou à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC, o meteorologista Ernesto Rodríguez, que trabalha no Serviço Nacional de Meteorologia dos Estados Unidos.
Estes ciclones, que vão da categoria 3 a 5 na escala Saffir-Simpson, têm ventos sustentados de mais de 178 km/h.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
O furacão Ian deixou um rastro de destruição em Cuba
"O que acontece é que uma parede maior de tempestades elétricas começa a rodear e sufocar o núcleo interno que havia se formado originalmente. O novo anel de tempestades rodeia a parede do olho mais antiga, e esta acaba desaparecendo", explica o especialista.
Quando passam por esse processo, que geralmente acontece enquanto o furacão está em vias de se fortalecer, as tempestades deixam de ganhar força.
"É que passam por ciclos em que o olho vai mudando de diâmetro. A substituição do olho os mantém [os furacões] estáveis, e depois eles se intensificam novamente", acrescenta Rodríguez.
O especialista deu como exemplo o furacão Maria, que atingiu Porto Rico em 2017. A tempestade era de categoria 5, com ventos sustentados de 257 km/h, mas durante a substituição da parede do olho, pouco antes de atingir o território, sua força foi reduzida para categoria 4, com ventos de 249 km/h.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Ao passar por Cuba, o furacão Ian deixou pelo menos dois mortos
Mas quando a substituição da parede do olho termina, essa parte do furacão, que é a mais poderosa e perigosa, acaba com um diâmetro maior.
"Ao expandir o diâmetro do olho, haverá mais áreas que serão impactadas pelos ventos mais fortes", diz Rodríguez.
Isso significa que as áreas mais destrutivas vão atingir mais terras.
O processo de substituição da parede do olho pode ocorrer mais de uma vez.
No caso do furacão Ian, seu olho original tinha 20 milhas náuticas de diâmetro — e após a substituição da parede do olho, ficou 75% maior, com 35 milhas náuticas.
Autor: Ronald Ávila-Claudio - @ronaldavilapr
Fonte: BBC News Mundo
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 29/09/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/internacional-63072320
Soluções em transporte sustentável serão apoiadas
FAPESP lança chamada do BIOEN para estimular a pesquisa em bioenergia que contribua com soluções eficientes para o transporte de longa distância
O Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) anuncia uma chamada de propostas para estimular a pesquisa em bioenergia que contribua com soluções eficientes para o transporte sustentável de longa distância.
As abordagens devem considerar o contexto local brasileiro e contribuir para a redução de emissões por quilômetro rodado e para o aumento da fração renovável da matriz de transporte usando biomassa.
Serão selecionadas pesquisas que contribuam para: viabilizar a implementação de tecnologias em desenvolvimento; reforçar a capacidade instalada; estimular a formação de novos grupos; e ampliar estudos de soluções aplicáveis em contextos internacionais similares ao brasileiro.
Os projetos deverão contribuir com resultados que possam auxiliar nos objetivos do BIOEN em sua parceria com o Programa de Colaboração em Tecnologia de Bioenergia da Agência Internacional de Energia (IEA).
As áreas prioritárias da chamada são: Tecnologias em desenvolvimento; Tecnologias inovadoras; Tecnologias indiretas; e Aspectos transversais.
As modalidades de apoio da chamada são os auxílios à pesquisa Temático, Regular, Jovem Pesquisador e PITE.
O apoio financeiro da FAPESP para o total das propostas selecionadas na chamada é de R$ 20 milhões.
As propostas deverão ser submetidas pelo SAGe até 24 de fevereiro de 2023.
A chamada está publicada em: https://fapesp.br/15675.
Autor: FAPESP
O Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) anuncia uma chamada de propostas para estimular a pesquisa em bioenergia que contribua com soluções eficientes para o transporte sustentável de longa distância.
As abordagens devem considerar o contexto local brasileiro e contribuir para a redução de emissões por quilômetro rodado e para o aumento da fração renovável da matriz de transporte usando biomassa.
Serão selecionadas pesquisas que contribuam para: viabilizar a implementação de tecnologias em desenvolvimento; reforçar a capacidade instalada; estimular a formação de novos grupos; e ampliar estudos de soluções aplicáveis em contextos internacionais similares ao brasileiro.
Os projetos deverão contribuir com resultados que possam auxiliar nos objetivos do BIOEN em sua parceria com o Programa de Colaboração em Tecnologia de Bioenergia da Agência Internacional de Energia (IEA).
As áreas prioritárias da chamada são: Tecnologias em desenvolvimento; Tecnologias inovadoras; Tecnologias indiretas; e Aspectos transversais.
As modalidades de apoio da chamada são os auxílios à pesquisa Temático, Regular, Jovem Pesquisador e PITE.
O apoio financeiro da FAPESP para o total das propostas selecionadas na chamada é de R$ 20 milhões.
As propostas deverão ser submetidas pelo SAGe até 24 de fevereiro de 2023.
A chamada está publicada em: https://fapesp.br/15675.
Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 29/09/2022
Publicação Original: https://fapesp.br/15689/solucoes-em-transporte-sustentavel-serao-apoiadas
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 29/09/2022
Publicação Original: https://fapesp.br/15689/solucoes-em-transporte-sustentavel-serao-apoiadas
Grupo usa celulose para retardar a liberação de fertilizantes no solo e criar vasos autofertilizantes
Uma equipe do Laboratório de Materiais Poliméricos e Biossorventes da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) produziu e está testando materiais à base de celulose com o objetivo de melhorar a disponibilidade de nutrientes para o cultivo agrícola, evitando a produção de resíduos não biodegradáveis no campo.
A primeira e a terceira foto mostram o papel feito com a celulose de cana fosforilada; a segunda foto ilustra a estrutura 3D do material composto por celulose e nutriente; e, na quarta imagem, vemos as micropartículas em pó e os tabletes de nanocelulose já moldados (fotos: acervo dos pesquisadores)
A primeira e a terceira foto mostram o papel feito com a celulose de cana fosforilada; a segunda foto ilustra a estrutura 3D do material composto por celulose e nutriente; e, na quarta imagem, vemos as micropartículas em pó e os tabletes de nanocelulose já moldados (fotos: acervo dos pesquisadores)
Os resultados dos estudos, orientados pela professora Roselena Faez e financiados pela FAPESP, foram publicados recentemente em dois artigos.
O trabalho publicado na revista Carbohydrate Polymers tem como primeira autora a química Débora França. Nele, o grupo usou nanocelulose modificada para tentar desacelerar a liberação, no solo, dos nutrientes contidos nos fertilizantes. Isso porque os sais que contêm os principais macronutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) são muito solúveis e têm muita mobilidade.
“O potássio é um íon rapidamente lixiviado pela chuva. Ele tem muita mobilidade iônica, é o pior deles no sentido de se tentar uma liberação controlada. Já o nitrogênio pode ser obtido de várias fontes: nitratos, amônia, ureia. Mas o nitrato é a fonte de onde a planta obtém mais facilmente o nitrogênio de que precisa. E, a exemplo do potássio, também pode ser carregado facilmente pela água, não permanecendo muito tempo no solo. Já o fósforo [uma forma de fosfato] é um íon muito grande, que não tem tanta mobilidade como os outros macronutrientes”, explica Faez, que coordena o Grupo de Pesquisa em Materiais Poliméricos e Biossorventes no campus da UFSCar sediado em Araras.
Segundo a pesquisadora, existem no mercado produtos com a função de desacelerar a liberação desses nutrientes, mas são, em sua maioria, compostos por polímeros sintéticos, não biodegradáveis. “O grão do fertilizante é do tamanho de uma pedrinha de sal grosso. Para que os nutrientes sejam liberados mais lentamente, ele é recoberto por camadas de polímeros. Uma camada, dependendo do tipo de material, dura mais ou menos dois meses. Então, recobre-se com duas, três ou quatro camadas, conforme o tempo em que se quer liberar o nutriente”, explica Faez, ressaltando que os plásticos usados para envolver as partículas ficam no solo e representam um problema a médio e longo prazo, como geração de microplásticos.
A equipe da UFSCar desenvolveu um produto bem diferente, com base na interação química entre a nanocelulose modificada e os sais, para mantê-los no solo. “Neste trabalho, focamos nos problemas piores: o nitrato e o potássio. E desenvolvemos um material totalmente biodegradável com uma taxa de liberação desses nutrientes muito próxima dos materiais sintéticos disponíveis.”
França usou nanocelulose obtida a partir de celulose pura doada por uma indústria de papel e modificou sua superfície de modo a ter cargas positivas e negativas. “Sendo os sais também compostos de partículas carregadas positiva ou negativamente e muito solúveis, a hipótese foi de que a nanocelulose com carga negativa reagiria com os íons positivos dos sais e a nanocelulose positiva interagiria com os íons de carga negativa, o que reduziria a solubilidade desses sais. Ela foi confirmada e o grupo conseguiu modular a liberação dos nutrientes, dependendo do tipo de partícula que havia no material.”
Avaliação em solo
Além de confeccionar o produto, em forma de tabletes, o grupo avaliou sua performance na liberação dos nutrientes em solo (geralmente, determina-se a taxa de liberação do material colocando-o em água, um sistema bem diferente do solo). O trabalho foi feito em parceria com Claudinei Fonseca Souza, professor do Departamento de Recursos Naturais e Proteção Ambiental da UFSCar-Araras.
“Avaliamos a liberação dos nutrientes no solo e a biodegradação do material no local durante cem dias. Mas estamos, propositalmente, usando um solo muito pobre, com baixa matéria orgânica, pois assim conseguimos ver os efeitos físicos da liberação com mais facilidade”, conta Faez.
Os cientistas utilizaram duas técnicas para obter os tabletes. Primeiro, secagem e atomização por spraydryer (equipamento que remove a umidade e transforma o material em pó), por meio da qual a nanocelulose encapsulou os nutrientes. Depois, o pó obtido foi submetido a processamento térmico e prensado em um molde. O trabalho foi realizado com auxílio de colegas do Laboratório de Materiais de Celulose e Madeira da Empa (Laboratórios Federais Suíços para Ciência e Tecnologia de Materiais) e do Grupo de Pesquisa em Engenharia de Água, Solo e Ambiente, liderado por Souza. França realizou as modificações na celulose no laboratório na Suíça, durante estágio realizado com bolsa da FAPESP. A pesquisadora também foi apoiada por Bolsa de Doutorado no Brasil.
Autofertilização
O segundo artigo recente do grupo foi publicado no periódico Industrial Crops and Products e tem como primeiro autor o químico Lucas Luiz Messa. O objetivo do estudo foi retirar a celulose do bagaço da cana-de-açúcar e modificá-la com uma carga negativa na superfície por meio da incorporação de porções de fósforo (fosforilação), o que permitiria a entrega controlada de nutrição vegetal. A ideia era que cátions de macro e micronutrientes se ligassem aos ânions de fósforo da superfície celulósica modificada, o que retardaria o processo de entrega dos nutrientes.
O grupo preparou três tipos de estruturas com a celulose fosforilada: filmes semelhantes a papel; um pó, com o uso de spraydryer; e uma estrutura muito leve, parecida com um pedacinho de isopor, por meio de freezdryer (técnica em que o material é congelado com água e, quando esta é retirada, sobram buraquinhos em seu lugar; neste caso, os cientistas observaram que, ao retirar a água, por liofilização, os nutrientes ficaram nesses buracos).
“Mas, tecnologicamente, a estrutura semelhante a um papel foi o melhor material que produzimos para entregar nutrientes de maneira controlada. Com esse papel pode-se criar vários produtos”, comenta Faez.
Os resultados obtidos no trabalho de Messa permitiram desenvolver vasos (potes de propagação) pequeninos para o cultivo de mudas. Esse material, quando se degrada, já libera o fósforo que está em sua composição. De acordo com Faez, o processo de obtenção da celulose fosforilada é barato, o que faz com que o produto final seja obtido sem muito custo. “São mais ou menos R$ 0,27 por grama de papel produzido. O vasinho deve ter mais ou menos 1 grama. Sai, portanto, cerca de R$ 0,30 a unidade, pensando no preço de laboratório.”
A professora da UFSCar lembra que já existem potes de propagação biodegradáveis no mercado. “Mas nosso produto já tem o fertilizante no próprio material, o que é um grande diferencial. Tanto que fizemos um pedido de propriedade intelectual.”
O vaso está prestes a ser testado por um produtor de flores de Holambra, para quem já foram enviadas algumas remessas, feitas em laboratório. Na bancada, o teste de liberação de nutrientes foi feito somente na água. “Chamamos esse método de avaliação acelerada da liberação dos íons, porque na água ela é mais rápida. Mas, mesmo na água, comparando o comportamento do íon no material e sem o material, tivemos uma redução da liberação entre 40% e 50%. Então, mesmo em água, conseguimos reter esses íons. Imaginamos que em substrato seja ainda mais lenta a entrega.”
O trabalho também foi apoiado pela FAPESP por meio de uma Bolsa de Doutorado no Brasil e uma Bolsa no Exterior – Estágio de Pesquisa concedidas a Messa – além de um Auxílio à Pesquisa Regular concedido a Faez.
Messa contou com a ajuda de um colega da Universidade da Califórnia (Estados Unidos), onde realizou estágio de pesquisa.
O artigo Sugarcane bagasse derived phosphorylated cellulose as substrates for potassium release induced by phosphates surface and drying methods pode ser acessado em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0926669022008330?via%3Dihub#!.
Já o trabalho Charged-cellulose nanofibrils as a nutrient carrier in biodegradable polymers for enhanced efficiency fertilizers, conduzido por França, pode ser consultado em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0144861722008396?via%3Dihub.
Autor: Karina Ninni
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 29/09/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/grupo-usa-celulose-para-retardar-a-liberacao-de-fertilizantes-no-solo-e-criar-vasos-autofertilizantes/39699/
O trabalho publicado na revista Carbohydrate Polymers tem como primeira autora a química Débora França. Nele, o grupo usou nanocelulose modificada para tentar desacelerar a liberação, no solo, dos nutrientes contidos nos fertilizantes. Isso porque os sais que contêm os principais macronutrientes (nitrogênio, fósforo e potássio) são muito solúveis e têm muita mobilidade.
“O potássio é um íon rapidamente lixiviado pela chuva. Ele tem muita mobilidade iônica, é o pior deles no sentido de se tentar uma liberação controlada. Já o nitrogênio pode ser obtido de várias fontes: nitratos, amônia, ureia. Mas o nitrato é a fonte de onde a planta obtém mais facilmente o nitrogênio de que precisa. E, a exemplo do potássio, também pode ser carregado facilmente pela água, não permanecendo muito tempo no solo. Já o fósforo [uma forma de fosfato] é um íon muito grande, que não tem tanta mobilidade como os outros macronutrientes”, explica Faez, que coordena o Grupo de Pesquisa em Materiais Poliméricos e Biossorventes no campus da UFSCar sediado em Araras.
Segundo a pesquisadora, existem no mercado produtos com a função de desacelerar a liberação desses nutrientes, mas são, em sua maioria, compostos por polímeros sintéticos, não biodegradáveis. “O grão do fertilizante é do tamanho de uma pedrinha de sal grosso. Para que os nutrientes sejam liberados mais lentamente, ele é recoberto por camadas de polímeros. Uma camada, dependendo do tipo de material, dura mais ou menos dois meses. Então, recobre-se com duas, três ou quatro camadas, conforme o tempo em que se quer liberar o nutriente”, explica Faez, ressaltando que os plásticos usados para envolver as partículas ficam no solo e representam um problema a médio e longo prazo, como geração de microplásticos.
A equipe da UFSCar desenvolveu um produto bem diferente, com base na interação química entre a nanocelulose modificada e os sais, para mantê-los no solo. “Neste trabalho, focamos nos problemas piores: o nitrato e o potássio. E desenvolvemos um material totalmente biodegradável com uma taxa de liberação desses nutrientes muito próxima dos materiais sintéticos disponíveis.”
França usou nanocelulose obtida a partir de celulose pura doada por uma indústria de papel e modificou sua superfície de modo a ter cargas positivas e negativas. “Sendo os sais também compostos de partículas carregadas positiva ou negativamente e muito solúveis, a hipótese foi de que a nanocelulose com carga negativa reagiria com os íons positivos dos sais e a nanocelulose positiva interagiria com os íons de carga negativa, o que reduziria a solubilidade desses sais. Ela foi confirmada e o grupo conseguiu modular a liberação dos nutrientes, dependendo do tipo de partícula que havia no material.”
Avaliação em solo
Além de confeccionar o produto, em forma de tabletes, o grupo avaliou sua performance na liberação dos nutrientes em solo (geralmente, determina-se a taxa de liberação do material colocando-o em água, um sistema bem diferente do solo). O trabalho foi feito em parceria com Claudinei Fonseca Souza, professor do Departamento de Recursos Naturais e Proteção Ambiental da UFSCar-Araras.
“Avaliamos a liberação dos nutrientes no solo e a biodegradação do material no local durante cem dias. Mas estamos, propositalmente, usando um solo muito pobre, com baixa matéria orgânica, pois assim conseguimos ver os efeitos físicos da liberação com mais facilidade”, conta Faez.
Os cientistas utilizaram duas técnicas para obter os tabletes. Primeiro, secagem e atomização por spraydryer (equipamento que remove a umidade e transforma o material em pó), por meio da qual a nanocelulose encapsulou os nutrientes. Depois, o pó obtido foi submetido a processamento térmico e prensado em um molde. O trabalho foi realizado com auxílio de colegas do Laboratório de Materiais de Celulose e Madeira da Empa (Laboratórios Federais Suíços para Ciência e Tecnologia de Materiais) e do Grupo de Pesquisa em Engenharia de Água, Solo e Ambiente, liderado por Souza. França realizou as modificações na celulose no laboratório na Suíça, durante estágio realizado com bolsa da FAPESP. A pesquisadora também foi apoiada por Bolsa de Doutorado no Brasil.
Autofertilização
O segundo artigo recente do grupo foi publicado no periódico Industrial Crops and Products e tem como primeiro autor o químico Lucas Luiz Messa. O objetivo do estudo foi retirar a celulose do bagaço da cana-de-açúcar e modificá-la com uma carga negativa na superfície por meio da incorporação de porções de fósforo (fosforilação), o que permitiria a entrega controlada de nutrição vegetal. A ideia era que cátions de macro e micronutrientes se ligassem aos ânions de fósforo da superfície celulósica modificada, o que retardaria o processo de entrega dos nutrientes.
O grupo preparou três tipos de estruturas com a celulose fosforilada: filmes semelhantes a papel; um pó, com o uso de spraydryer; e uma estrutura muito leve, parecida com um pedacinho de isopor, por meio de freezdryer (técnica em que o material é congelado com água e, quando esta é retirada, sobram buraquinhos em seu lugar; neste caso, os cientistas observaram que, ao retirar a água, por liofilização, os nutrientes ficaram nesses buracos).
“Mas, tecnologicamente, a estrutura semelhante a um papel foi o melhor material que produzimos para entregar nutrientes de maneira controlada. Com esse papel pode-se criar vários produtos”, comenta Faez.
Os resultados obtidos no trabalho de Messa permitiram desenvolver vasos (potes de propagação) pequeninos para o cultivo de mudas. Esse material, quando se degrada, já libera o fósforo que está em sua composição. De acordo com Faez, o processo de obtenção da celulose fosforilada é barato, o que faz com que o produto final seja obtido sem muito custo. “São mais ou menos R$ 0,27 por grama de papel produzido. O vasinho deve ter mais ou menos 1 grama. Sai, portanto, cerca de R$ 0,30 a unidade, pensando no preço de laboratório.”
A professora da UFSCar lembra que já existem potes de propagação biodegradáveis no mercado. “Mas nosso produto já tem o fertilizante no próprio material, o que é um grande diferencial. Tanto que fizemos um pedido de propriedade intelectual.”
O vaso está prestes a ser testado por um produtor de flores de Holambra, para quem já foram enviadas algumas remessas, feitas em laboratório. Na bancada, o teste de liberação de nutrientes foi feito somente na água. “Chamamos esse método de avaliação acelerada da liberação dos íons, porque na água ela é mais rápida. Mas, mesmo na água, comparando o comportamento do íon no material e sem o material, tivemos uma redução da liberação entre 40% e 50%. Então, mesmo em água, conseguimos reter esses íons. Imaginamos que em substrato seja ainda mais lenta a entrega.”
O trabalho também foi apoiado pela FAPESP por meio de uma Bolsa de Doutorado no Brasil e uma Bolsa no Exterior – Estágio de Pesquisa concedidas a Messa – além de um Auxílio à Pesquisa Regular concedido a Faez.
Messa contou com a ajuda de um colega da Universidade da Califórnia (Estados Unidos), onde realizou estágio de pesquisa.
O artigo Sugarcane bagasse derived phosphorylated cellulose as substrates for potassium release induced by phosphates surface and drying methods pode ser acessado em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0926669022008330?via%3Dihub#!.
Já o trabalho Charged-cellulose nanofibrils as a nutrient carrier in biodegradable polymers for enhanced efficiency fertilizers, conduzido por França, pode ser consultado em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0144861722008396?via%3Dihub.
Autor: Karina Ninni
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 29/09/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/grupo-usa-celulose-para-retardar-a-liberacao-de-fertilizantes-no-solo-e-criar-vasos-autofertilizantes/39699/
terça-feira, 27 de setembro de 2022
"Pequeno peregrino das árvores" é o mais novo dinossauro brasileiro identificado
O time dos dinossauros brasileiros acaba de ganhar um novo reforço, o Ibirania parva, espécie que acaba de ser descrita e identificada em pesquisa com participação da USP. O dinossauro, de quatro patas, pescoço longo, cabeça pequena e herbívoro, pertence a um grupo famoso pelos animais gigantescos, o dos titanossauros. No entanto, ele possui cerca de 5 a 6 metros de comprimento, o que o torna pequeno diante de outros dinossauros do mesmo grupo, que podiam atingir incríveis 30 metros, sendo considerada a primeira espécie de titanossauro anã encontrada nas Américas. O animal teria vivido há 80 milhões de anos, na região onde hoje se encontra a cidade de Ibirá, no noroeste do Estado de São Paulo, e por essa razão, além do tamanho reduzido, ganhou um nome científico que pode ser traduzido como “o pequeno peregrino das árvores”.
Os resultados da pesquisa são detalhados em artigo publicado na revista científica Ameghiniana, publicado em 15 de setembro. Os primeiros vestígios da nova espécie começaram a ser localizados a partir de 1999 numa localidade conhecida como Sítio dos Irmãos Garcia, distrito de Vila Ventura, município de Ibirá, em escavações realizadas pelo Museu de Paleontologia Professor Antônio Celso de Arruda Campos, sediado na cidade de Monte Alto, no interior de São Paulo. “As rochas presentes nessa localidade são do período Cretáceo Superior, da Formação São José do Rio Preto, com idade de 80 milhões de anos”, relata ao Jornal da USP o pesquisador Bruno Albert Navarro, do Museu de Zoologia (MZ) da USP, que liderou o trabalho. “Muitos fósseis de dinossauros herbívoros já eram conhecidos desde os anos 1960 na região, mas até o momento nenhuma espécie havia sido identificada e nomeada.”
Os fragmentos do animal usado para dar o nome à espécie (holótipo) foram descobertos em 2005 pelo professor Marcelo Adorna Fernandes, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Dentre os materiais recuperados, estão diversos elementos vertebrais e dos membros de, pelo menos, quatro indivíduos diferentes”, diz Navarro, que estuda os fósseis da espécie desde a graduação, em parceria com a pesquisadora Aline Ghilardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Desde então já sabíamos que se tratava de uma nova espécie, por conta de apresentar uma série de características anatômicas únicas, restando apenas formalizar sua descrição e batizá-la. Mas ainda restavam dúvidas se esta nova espécie estava representada por um animal juvenil, dado o tamanho modesto dos restos recuperados.”
Durante o mestrado, o pesquisador localizou e identificou em museus do interior paulista outros vestígios de animais dessa mesma espécie, que compartilhavam as mesmas características anatômicas e foram encontrados muito próximos de onde saíra o holótipo. “Com isso pudemos constatar que não se tratava de um animal jovem, mas sim que todos aqueles indivíduos representavam uma nova espécie de titanossauro com proporções corporais bastante reduzidas”, descreve. “A partir daí realizamos uma série de análises de tomografia computadorizada e histologia óssea e constatamos que, de fato, os animais desta espécie já haviam atingido sua maturidade esquelética antes do momento em que morreram.”
“Adicionalmente, percebemos que estes animais apresentavam resquícios de sacos aéreos em suas vértebras e um estudo conduzido pelo pesquisador Tito Aureliano, da UFRN, identificou que um dos animais sofria de infecção parasitária”, destaca Navarro. Sacos aéreos são estruturas que auxiliavam na respiração dos animais. Durante o ano de 2020 foi concluída a descrição da nova espécie, que foi batizada como Ibirania parva. “Ibirania é a junção das palavras Ibirá, em homenagem à cidade onde a espécie foi encontrada, e ania, que em grego significa ‘caminhante, peregrino’, já parva é o termo em latim para ‘pequeno’, devido ao tamanho reduzido da espécie. Como a palavra Ibirá vem do tupi, significando ‘árvore’, podemos traduzir o nome desse novo dinossauro como ‘o pequeno peregrino das árvores’”.
Pequeno peregrino das árvores
“Já sabíamos que o Ibirania parva era bastante pequeno quando comparado a outros titanossauros, mas ao estimar seu tamanho aproximado nos surpreendemos ainda mais: os espécimes identificados teriam entre 5 e 6 metros de comprimento, configurando-o como um dos menores dinossauros saurópodes até então conhecidos”, relata Navarro. Os saurópodes são dinossauros com cabeça pequena, pescoço longo, quadrúpedes e herbívoros, geralmente de grandes dimensões, podendo alcançar até 30 metros de comprimento. “Analisando e comparando estes fósseis com outros animais do mesmo grupo, encontrados no Brasil e em outros lugares do mundo, foi possível concluir que o pequeno titanossauro de Ibirá pertencia a uma família até então não registrada no Brasil, e que também são conhecidos por terem tamanhos corporais menores em relação aos seus contemporâneos: os saltassaurídeos.”
De acordo com o pesquisador do MZ, alguns saltassaurídeos sul-americanos e formas associadas, como os lirainossauríneos, possuíam uma tendência contrária ao gigantismo exibido por outros titanossauros e, em alguns casos, até algumas espécies foram identificadas como “anãs”. “O que todas essas formas têm em comum é que viveram em ambientes com forte influência marinha, como as antigas ilhas onde hoje é a Europa, ou a Argentina e o Equador. A nossa grande surpresa foi encontrar fósseis de uma espécie de titanossauro anão no interior do Brasil”, aponta. “Sabemos agora que a redução de tamanho em alguns dinossauros não ocorria apenas por fatores oriundos do isolamento em ilhas. Ibirania é a primeira espécie de titanossauro comprovadamente anã das Américas. Ela viveu em um contexto muito diferente dos outros dinossauros anões já encontrados e acrescenta novas informações sobre a evolução e ocorrência de nanismo em dinossauros.”
Durante o final do período Cretáceo, há 80 milhões de anos, o interior paulista era bem diferente dos dias atuais, nele habitavam muitos crocodilos terrestres e titanossauros, incluindo alguns gigantes como o Austroposeidon magnificus, em um ambiente que lembraria mais as savanas africanas de hoje. “Mas havia algo de especial na região de Ibirá que favoreceu a existência destes titanossauros menores. Diferente de outros anões que viviam em ilhas tropicais do passado, o Ibirania vivia no interior do Brasil, em um ambiente semiárido a árido e com pouco alimento”, observa Navarro. “Uma configuração específica do habitat, como refúgios de vegetação temporários, e a limitação de alimento imposta em estações secas prolongadas podem ter favorecido positivamente animais menores, dado que estes requerem menos recursos que animais de grande porte”.
Os pesquisadores fizeram uma reconstrução de como seria o esqueleto do Ibirania com base nos materiais recuperados e em seus parentes mais próximos. A ilustração foi feita por Sérgio Lages, e a reconstituição do animal em vida e em seu habitat foi feita pelos paleoartistas Hugo Cafasso e Matheus Fernandes Gadelha. Paleoartistas são especialistas que usam diversas técnicas, como escultura e pintura, para reconstituir a possível aparência de animais pré-históricos.
Imagem: Hugo Cafasso e Matheus Fernandes Gadelha
Imagem: Sérgio Lages
Além de Navarro, participaram do trabalho Alberto Carvalho, André Cattaruzzi e Hussam Zaher, do MZ, Luiz Eduardo Anelli, do Instituto de Geociências (IGc) da USP, Aline Ghilardi e Tito Aureliano, do Dinosaur Ichnology and Osteohistology Laboratory (DINO lab), da UFRN, Kamila Bandeira, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ariel Martine, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Marcelo Adorna Fernandes, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Verónica Díez Díaz, do Museum für Naturkunde, na Alemanha, e Fabiano Iori, do Museu de Paleontologia Pedro Candolo, em Uchoa.
Autor: jornal.usp
Fonte: jornal.usp
Sítio Online da Publicação: jornal.usp
Data: 26/09/2022
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/pequeno-peregrino-das-arvores-e-o-mais-novo-dinossauro-brasileiro-identificado/
Os resultados da pesquisa são detalhados em artigo publicado na revista científica Ameghiniana, publicado em 15 de setembro. Os primeiros vestígios da nova espécie começaram a ser localizados a partir de 1999 numa localidade conhecida como Sítio dos Irmãos Garcia, distrito de Vila Ventura, município de Ibirá, em escavações realizadas pelo Museu de Paleontologia Professor Antônio Celso de Arruda Campos, sediado na cidade de Monte Alto, no interior de São Paulo. “As rochas presentes nessa localidade são do período Cretáceo Superior, da Formação São José do Rio Preto, com idade de 80 milhões de anos”, relata ao Jornal da USP o pesquisador Bruno Albert Navarro, do Museu de Zoologia (MZ) da USP, que liderou o trabalho. “Muitos fósseis de dinossauros herbívoros já eram conhecidos desde os anos 1960 na região, mas até o momento nenhuma espécie havia sido identificada e nomeada.”
Os fragmentos do animal usado para dar o nome à espécie (holótipo) foram descobertos em 2005 pelo professor Marcelo Adorna Fernandes, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). “Dentre os materiais recuperados, estão diversos elementos vertebrais e dos membros de, pelo menos, quatro indivíduos diferentes”, diz Navarro, que estuda os fósseis da espécie desde a graduação, em parceria com a pesquisadora Aline Ghilardi, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). “Desde então já sabíamos que se tratava de uma nova espécie, por conta de apresentar uma série de características anatômicas únicas, restando apenas formalizar sua descrição e batizá-la. Mas ainda restavam dúvidas se esta nova espécie estava representada por um animal juvenil, dado o tamanho modesto dos restos recuperados.”
Durante o mestrado, o pesquisador localizou e identificou em museus do interior paulista outros vestígios de animais dessa mesma espécie, que compartilhavam as mesmas características anatômicas e foram encontrados muito próximos de onde saíra o holótipo. “Com isso pudemos constatar que não se tratava de um animal jovem, mas sim que todos aqueles indivíduos representavam uma nova espécie de titanossauro com proporções corporais bastante reduzidas”, descreve. “A partir daí realizamos uma série de análises de tomografia computadorizada e histologia óssea e constatamos que, de fato, os animais desta espécie já haviam atingido sua maturidade esquelética antes do momento em que morreram.”
Bruno Albert Navarro - Foto: Reprodução/ Twitter
“Adicionalmente, percebemos que estes animais apresentavam resquícios de sacos aéreos em suas vértebras e um estudo conduzido pelo pesquisador Tito Aureliano, da UFRN, identificou que um dos animais sofria de infecção parasitária”, destaca Navarro. Sacos aéreos são estruturas que auxiliavam na respiração dos animais. Durante o ano de 2020 foi concluída a descrição da nova espécie, que foi batizada como Ibirania parva. “Ibirania é a junção das palavras Ibirá, em homenagem à cidade onde a espécie foi encontrada, e ania, que em grego significa ‘caminhante, peregrino’, já parva é o termo em latim para ‘pequeno’, devido ao tamanho reduzido da espécie. Como a palavra Ibirá vem do tupi, significando ‘árvore’, podemos traduzir o nome desse novo dinossauro como ‘o pequeno peregrino das árvores’”.
Pequeno peregrino das árvores
“Já sabíamos que o Ibirania parva era bastante pequeno quando comparado a outros titanossauros, mas ao estimar seu tamanho aproximado nos surpreendemos ainda mais: os espécimes identificados teriam entre 5 e 6 metros de comprimento, configurando-o como um dos menores dinossauros saurópodes até então conhecidos”, relata Navarro. Os saurópodes são dinossauros com cabeça pequena, pescoço longo, quadrúpedes e herbívoros, geralmente de grandes dimensões, podendo alcançar até 30 metros de comprimento. “Analisando e comparando estes fósseis com outros animais do mesmo grupo, encontrados no Brasil e em outros lugares do mundo, foi possível concluir que o pequeno titanossauro de Ibirá pertencia a uma família até então não registrada no Brasil, e que também são conhecidos por terem tamanhos corporais menores em relação aos seus contemporâneos: os saltassaurídeos.”
De acordo com o pesquisador do MZ, alguns saltassaurídeos sul-americanos e formas associadas, como os lirainossauríneos, possuíam uma tendência contrária ao gigantismo exibido por outros titanossauros e, em alguns casos, até algumas espécies foram identificadas como “anãs”. “O que todas essas formas têm em comum é que viveram em ambientes com forte influência marinha, como as antigas ilhas onde hoje é a Europa, ou a Argentina e o Equador. A nossa grande surpresa foi encontrar fósseis de uma espécie de titanossauro anão no interior do Brasil”, aponta. “Sabemos agora que a redução de tamanho em alguns dinossauros não ocorria apenas por fatores oriundos do isolamento em ilhas. Ibirania é a primeira espécie de titanossauro comprovadamente anã das Américas. Ela viveu em um contexto muito diferente dos outros dinossauros anões já encontrados e acrescenta novas informações sobre a evolução e ocorrência de nanismo em dinossauros.”
Durante o final do período Cretáceo, há 80 milhões de anos, o interior paulista era bem diferente dos dias atuais, nele habitavam muitos crocodilos terrestres e titanossauros, incluindo alguns gigantes como o Austroposeidon magnificus, em um ambiente que lembraria mais as savanas africanas de hoje. “Mas havia algo de especial na região de Ibirá que favoreceu a existência destes titanossauros menores. Diferente de outros anões que viviam em ilhas tropicais do passado, o Ibirania vivia no interior do Brasil, em um ambiente semiárido a árido e com pouco alimento”, observa Navarro. “Uma configuração específica do habitat, como refúgios de vegetação temporários, e a limitação de alimento imposta em estações secas prolongadas podem ter favorecido positivamente animais menores, dado que estes requerem menos recursos que animais de grande porte”.
Os pesquisadores fizeram uma reconstrução de como seria o esqueleto do Ibirania com base nos materiais recuperados e em seus parentes mais próximos. A ilustração foi feita por Sérgio Lages, e a reconstituição do animal em vida e em seu habitat foi feita pelos paleoartistas Hugo Cafasso e Matheus Fernandes Gadelha. Paleoartistas são especialistas que usam diversas técnicas, como escultura e pintura, para reconstituir a possível aparência de animais pré-históricos.
Imagem: Hugo Cafasso e Matheus Fernandes Gadelha
Imagem: Sérgio Lages
Além de Navarro, participaram do trabalho Alberto Carvalho, André Cattaruzzi e Hussam Zaher, do MZ, Luiz Eduardo Anelli, do Instituto de Geociências (IGc) da USP, Aline Ghilardi e Tito Aureliano, do Dinosaur Ichnology and Osteohistology Laboratory (DINO lab), da UFRN, Kamila Bandeira, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Ariel Martine, da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), Marcelo Adorna Fernandes, Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), Verónica Díez Díaz, do Museum für Naturkunde, na Alemanha, e Fabiano Iori, do Museu de Paleontologia Pedro Candolo, em Uchoa.
Autor: jornal.usp
Fonte: jornal.usp
Sítio Online da Publicação: jornal.usp
Data: 26/09/2022
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/pequeno-peregrino-das-arvores-e-o-mais-novo-dinossauro-brasileiro-identificado/
Astrônomos detectam sinais de pontos quentes na órbita de buraco negro da Via Láctea
Uma equipe de astrônomos do Observatório Europeu do Sul (ESO) detectou uma bolha de gás quente em torno do buraco negro supermassivo Sagitário A*, localizado no centro da nossa galáxia, a Via Láctea. Com o auxílio do radiotelescópio Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (Alma), instalado no Chile, os astrônomos descobriram sinais da bolha, conhecida como ponto quente, orbitando em torno de Sagitário A* após uma explosão de energia de raios-X emitida a partir do centro da Via Láctea. A descoberta ajuda a entender melhor o ambiente enigmático e dinâmico do buraco negro supermassivo.
A pesquisa é apresentada no artigo Orbital motion near Sagittarius A* – Constraints from polarimetric ALMA observations, publicado no site da revista científica Astronomy & Astrophysics em 22 de setembro.
Um dos coautores do trabalho é o astrofísico Ciriaco Goddi, da Università degli Studi di Cagliari, na Itália, e que, atualmente, está no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. “Em 11 de abril de 2017 houve uma explosão de energia de raios-X, e nossa curva de luz revelou um sinal compatível com um ponto quente”, lembra Goddi, que, na época, estava no Chile observando com o Alma. “Assim, conseguimos ligar os dois fenômenos pela primeira vez a um mecanismo conhecido como reconexão magnética, ou seja, uma interação magnética ocorrendo no gás quente em órbita próximo ao buraco negro.”
Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (Alma), os astrônomos descobriram sinais de um ponto quente em órbita de Sagitário A*, o buraco negro no centro da nossa galáxia. Pontos quentes são bolhas de gás que se deslocam a altas velocidades em órbitas muito próximas do buraco negro
As observações foram obtidas com o Alma nos Andes chilenos — um radiotelescópio que pertence parcialmente ao Observatório Europeu do Sul (ESO) — durante uma campanha da Colaboração EHT (Event Horizon Telescope) destinada a obter imagens de buracos negros. Em abril de 2017, o EHT conectou oito radiotelescópios existentes em todo o mundo, incluindo o Alma, para obter dados que resultaram na primeira imagem de Sagitário A*, recentemente divulgada.
Para calibrar os dados do EHT, os astrônomos usaram dados do Alma registrados simultaneamente com as observações de Sagitário A*. Algumas das observações tinham sido realizadas pouco depois de uma explosão de energia de raios-X emitida a partir do centro da nossa galáxia, que foi detectada pelo Telescópio Espacial Chandra da Nasa. Acredita-se que esses tipos de explosões, observadas anteriormente por telescópios infravermelhos e de raios-X, estejam associadas aos chamados “pontos quentes”, bolhas de gás quente que se deslocam a altas velocidades em órbitas muito próximas do buraco negro.
“O que é mesmo novo e interessante é o fato destas explosões estarem, até agora, apenas claramente presentes em observações infravermelhas e de raios-X de Sagitário A*”, aponta Maciek Wielgus, do Instituto Max Planck de Radioastronomia em Bonn, na Alemanha, que liderou o estudo. “Estamos, pela primeira vez, observando fortes indicações de que pontos quentes orbitando o buraco negro também estão presentes em observações de rádio”, completa o pesquisador, também afiliado ao Centro Astronômico Nicolau Copérnico, da Polônia, e à Iniciativa Buraco Negro da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Ciriaco Goddi - Foto: Currículo Lattes
“Talvez estes pontos quentes detectados nos comprimentos de onda do infravermelho sejam uma manifestação do mesmo fenômeno físico: à medida que esfriam, os pontos quentes que emitem no infravermelho tornam-se visíveis em comprimentos de onda mais longos, como os observados pelo Alma e pelo EHT”, acrescenta Jesse Vos, estudante de doutorado na Universidade Radboud, Holanda, que também participou da pesquisa. Durante muito tempo, os cientistas especulavam que as explosões teriam origem nas interações magnéticas do gás muito quente que orbita muito próximo de Sagitário A*. “Agora descobrimos fortes evidências para uma origem magnética destas explosões e as nossas observações dão pistas sobre a geometria do processo. Os novos dados são extremamente úteis na construção de uma interpretação teórica destes eventos”, diz a coautora Monika Mościbrodzka, da Universidade Radboud.
Sinal compatível
O Alma permite aos astrônomos estudar emissão de ondas de rádio polarizada de Sagitário A*, a qual pode ser usada para investigar o campo magnético do buraco negro. A equipe utilizou estas observações juntamente com modelos teóricos para aprender mais sobre a formação do ponto quente e o ambiente em que se encontra, incluindo o campo magnético que rodeia Sagitário A*. Assim, foi possível estabelecer os limites do campo magnético com mais clareza, ajudando os astrônomos a descobrir a natureza do buraco negro e seus arredores. As observações confirmam algumas das descobertas anteriores feitas com o auxílio do instrumento Gravity montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, que observa no infravermelho. Tanto os dados do Gravity como os do Alma sugerem que a explosão tem origem em um aglomerado de gás que orbita em torno do buraco negro a cerca de 30% da velocidade da luz, no sentido horário no céu.
A pesquisa é apresentada no artigo Orbital motion near Sagittarius A* – Constraints from polarimetric ALMA observations, publicado no site da revista científica Astronomy & Astrophysics em 22 de setembro.
Um dos coautores do trabalho é o astrofísico Ciriaco Goddi, da Università degli Studi di Cagliari, na Itália, e que, atualmente, está no Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP. “Em 11 de abril de 2017 houve uma explosão de energia de raios-X, e nossa curva de luz revelou um sinal compatível com um ponto quente”, lembra Goddi, que, na época, estava no Chile observando com o Alma. “Assim, conseguimos ligar os dois fenômenos pela primeira vez a um mecanismo conhecido como reconexão magnética, ou seja, uma interação magnética ocorrendo no gás quente em órbita próximo ao buraco negro.”
Com o auxílio do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (Alma), os astrônomos descobriram sinais de um ponto quente em órbita de Sagitário A*, o buraco negro no centro da nossa galáxia. Pontos quentes são bolhas de gás que se deslocam a altas velocidades em órbitas muito próximas do buraco negro
As observações foram obtidas com o Alma nos Andes chilenos — um radiotelescópio que pertence parcialmente ao Observatório Europeu do Sul (ESO) — durante uma campanha da Colaboração EHT (Event Horizon Telescope) destinada a obter imagens de buracos negros. Em abril de 2017, o EHT conectou oito radiotelescópios existentes em todo o mundo, incluindo o Alma, para obter dados que resultaram na primeira imagem de Sagitário A*, recentemente divulgada.
Para calibrar os dados do EHT, os astrônomos usaram dados do Alma registrados simultaneamente com as observações de Sagitário A*. Algumas das observações tinham sido realizadas pouco depois de uma explosão de energia de raios-X emitida a partir do centro da nossa galáxia, que foi detectada pelo Telescópio Espacial Chandra da Nasa. Acredita-se que esses tipos de explosões, observadas anteriormente por telescópios infravermelhos e de raios-X, estejam associadas aos chamados “pontos quentes”, bolhas de gás quente que se deslocam a altas velocidades em órbitas muito próximas do buraco negro.
“O que é mesmo novo e interessante é o fato destas explosões estarem, até agora, apenas claramente presentes em observações infravermelhas e de raios-X de Sagitário A*”, aponta Maciek Wielgus, do Instituto Max Planck de Radioastronomia em Bonn, na Alemanha, que liderou o estudo. “Estamos, pela primeira vez, observando fortes indicações de que pontos quentes orbitando o buraco negro também estão presentes em observações de rádio”, completa o pesquisador, também afiliado ao Centro Astronômico Nicolau Copérnico, da Polônia, e à Iniciativa Buraco Negro da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Ciriaco Goddi - Foto: Currículo Lattes
“Talvez estes pontos quentes detectados nos comprimentos de onda do infravermelho sejam uma manifestação do mesmo fenômeno físico: à medida que esfriam, os pontos quentes que emitem no infravermelho tornam-se visíveis em comprimentos de onda mais longos, como os observados pelo Alma e pelo EHT”, acrescenta Jesse Vos, estudante de doutorado na Universidade Radboud, Holanda, que também participou da pesquisa. Durante muito tempo, os cientistas especulavam que as explosões teriam origem nas interações magnéticas do gás muito quente que orbita muito próximo de Sagitário A*. “Agora descobrimos fortes evidências para uma origem magnética destas explosões e as nossas observações dão pistas sobre a geometria do processo. Os novos dados são extremamente úteis na construção de uma interpretação teórica destes eventos”, diz a coautora Monika Mościbrodzka, da Universidade Radboud.
Sinal compatível
O Alma permite aos astrônomos estudar emissão de ondas de rádio polarizada de Sagitário A*, a qual pode ser usada para investigar o campo magnético do buraco negro. A equipe utilizou estas observações juntamente com modelos teóricos para aprender mais sobre a formação do ponto quente e o ambiente em que se encontra, incluindo o campo magnético que rodeia Sagitário A*. Assim, foi possível estabelecer os limites do campo magnético com mais clareza, ajudando os astrônomos a descobrir a natureza do buraco negro e seus arredores. As observações confirmam algumas das descobertas anteriores feitas com o auxílio do instrumento Gravity montado no Very Large Telescope (VLT) do ESO, que observa no infravermelho. Tanto os dados do Gravity como os do Alma sugerem que a explosão tem origem em um aglomerado de gás que orbita em torno do buraco negro a cerca de 30% da velocidade da luz, no sentido horário no céu.
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal
Foto: Arquivo pessoal
“No futuro devemos ser capazes de seguir pontos quentes ao longo de várias frequências, usando observações coordenadas em vários comprimentos de onda, obtidas tanto com o Gravity como com o Alma , e o sucesso de tal esforço seria um verdadeiro marco na nossa compreensão da física das explosões no centro galáctico”, diz Ivan Marti-Vidal, da Universidade de Valência, Espanha, coautor do estudo.
Para Goddi, do IAG, a pesquisa também reafirma a importância das observações feitas por instrumentos como o Alma. “A radiação polarizada traz consigo informações que nos permitem identificar e modelar regiões de emissão consideravelmente menores que a resolução efetiva do telescópio”, conclui.
A equipe espera também conseguir observar diretamente com o EHT os aglomerados de gás, para sondar cada vez mais perto do buraco negro e aprender mais sobre ele. “Talvez um dia estejamos confortáveis o suficiente para dizer que ‘sabemos’ o que se passa em Sagitário A*”, conclui Wielgus.
Também fizeram parte do trabalho Z. Gelles, do Center for Astrophysics da Universidade de Harvard e Instituto Smithsoniano (Estados Unidos), J. Farah, do Las Cumbres Observatory e University of California, Santa Barbara (Estados Unidos), N. Marchili, do Centro Regional Alma italiano, Instituto di Radioastronomia (Inaf) e MPIfR (Itália), e H. Messias, do Joint Alma Observatory (Chile).
Criado em 1962 e apoiado por 16 países-membros, o ESO projeta, constrói e opera observatórios de classe mundial no solo, que os astrônomos usam em pesquisas e para promover a colaboração internacional em astronomia.
Com informações do European Southern Observatory (ESO) e da assessoria do IAG/USP
“No futuro devemos ser capazes de seguir pontos quentes ao longo de várias frequências, usando observações coordenadas em vários comprimentos de onda, obtidas tanto com o Gravity como com o Alma , e o sucesso de tal esforço seria um verdadeiro marco na nossa compreensão da física das explosões no centro galáctico”, diz Ivan Marti-Vidal, da Universidade de Valência, Espanha, coautor do estudo.
Para Goddi, do IAG, a pesquisa também reafirma a importância das observações feitas por instrumentos como o Alma. “A radiação polarizada traz consigo informações que nos permitem identificar e modelar regiões de emissão consideravelmente menores que a resolução efetiva do telescópio”, conclui.
A equipe espera também conseguir observar diretamente com o EHT os aglomerados de gás, para sondar cada vez mais perto do buraco negro e aprender mais sobre ele. “Talvez um dia estejamos confortáveis o suficiente para dizer que ‘sabemos’ o que se passa em Sagitário A*”, conclui Wielgus.
Também fizeram parte do trabalho Z. Gelles, do Center for Astrophysics da Universidade de Harvard e Instituto Smithsoniano (Estados Unidos), J. Farah, do Las Cumbres Observatory e University of California, Santa Barbara (Estados Unidos), N. Marchili, do Centro Regional Alma italiano, Instituto di Radioastronomia (Inaf) e MPIfR (Itália), e H. Messias, do Joint Alma Observatory (Chile).
Criado em 1962 e apoiado por 16 países-membros, o ESO projeta, constrói e opera observatórios de classe mundial no solo, que os astrônomos usam em pesquisas e para promover a colaboração internacional em astronomia.
Com informações do European Southern Observatory (ESO) e da assessoria do IAG/USP
Autor: jornal.usp
Fonte: jornal.usp
Sítio Online da Publicação: jornal.usp
Data: 22/09/2022
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/astronomos-detectam-sinais-de-pontos-quentes-na-orbita-de-buraco-negro-da-via-lactea/
Fonte: jornal.usp
Sítio Online da Publicação: jornal.usp
Data: 22/09/2022
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/astronomos-detectam-sinais-de-pontos-quentes-na-orbita-de-buraco-negro-da-via-lactea/
Seca em uma região da floresta amazônica pode impactar áreas vizinhas e comprometer os rios voadores
Seca em uma região da floresta amazônica pode impactar áreas vizinhas e comprometer os rios voadores
Mesmo que a seca atinja somente uma região da floresta, suas consequências são sentidas em outras áreas e colocam em risco os rios voadores, grande quantidade de água que circula pela floresta, suspensa no ar, vital para o equilíbrio do ecossistema
Por: da redação
Arte: Guilherme Castro
A seca pode atingir somente uma região da floresta amazônica, mas suas consequências se estendem para outras áreas, multiplicando os impactos, mostra estudo desenvolvido por pesquisadores internacionais, com participação da USP. De acordo com a pesquisa, para cada três árvores que morrerão devido às futuras secas na floresta, uma quarta árvore – embora não diretamente afetada – também morrerá. Segundo os cientistas, o aumento das secas atinge de formas diferentes cada trecho da floresta. Como a falta de chuva diminui fortemente o volume de reciclagem de água, também haverá menos chuvas em regiões vizinhas, colocando ainda mais partes da floresta sob estresse significativo.
Isso traz um alerta quanto aos rios voadores. Uma das características da região amazônica é a presença de uma grande quantidade de água que circula pela floresta, suspensa no ar, vinda da evaporação e da transpiração das plantas, dando origem à evapotranspiração: um processo fundamental para o bom funcionamento do ecossistema amazônico.
O trabalho teve co-orientação de Henrique Barbosa, professor do Instituto de Física da USP e da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. O artigo descrevendo o estudo, Recurrent droughts increase risk of cascading tipping events by outpacing adaptive capacities in the Amazon rainforest, foi publicado na revista PNAS e faz parte de uma série de publicações do grupo que analisa as interações atmosfera e floresta a partir de modelos teóricos da física.
Com essa abordagem foi possível obter avaliações mais precisas sobre o funcionamento do clima. Segundo o professor Barbosa, um dos resultados relevantes foi calcular como a umidade amazônica se desloca para outras regiões e se transforma em chuvas no Sudeste e no Sul. “O nosso modelo mostrou, de forma inédita, que o transporte direto junto com o transporte secundário da umidade é responsável por 27% das chuvas nas regiões Sudeste e Sul. Se diminuir a umidade amazônica pela perda de cobertura vegetal, diminuirão as chuvas em outras regiões do País”, alerta. O transporte direto é a umidade que se desloca para essas regiões e se transforma em chuva. Já o transporte secundário da umidade é a contribuição de precipitação que ocorre ao longo de todo o percurso, evapora e volta a chover.
Henrique Barbosa - Foto: IF/USP
“Utilizamos um conjunto de dados acumulados em vinte anos, composto de informações pontuais da evapotranspiração em diversos pontos da floresta, os ventos que deslocam a umidade, os dados de precipitação e imagens de satélites. Esses dados foram analisados a partir da teoria de redes complexas e considera as conexões do sistema junto com as informações pontuais de cada local”, explica Barbosa ao Jornal da USP.
“Secas mais intensas colocam partes da floresta amazônica em risco de secar e morrer. Subsequentemente, devido ao efeito de rede, menos cobertura florestal leva a menos água no sistema geral e, portanto, a mais danos”, explica o primeiro autor do estudo, o pesquisador Nico Wunderling, do Instituto Potsdam para Pesquisa de Impacto Climático da Alemanha. “Embora tenhamos investigado o impacto da seca, essa regra também vale para o desmatamento. Isso significa essencialmente que, quando você derruba um acre de floresta, o que você está realmente destruindo é 1,3 acre”, diz Wunderling.
Um dos resultados relevantes foi calcular como a umidade amazônica se desloca para outras regiões e se transforma em chuvas no Sudeste e no Sul – Foto: Bruno Kelly/Amazônia Real – Flickr
Rios voadores
Boa parte da água dos rios voadores retorna aos cursos d´água e solos por meio das abundantes chuvas e preserva o sistema floresta-atmosfera em equilíbrio. Com as alterações no clima, a quantidade de água em circulação diminui e começa acontecer um desequilíbrio.
Esse fenômeno atinge a floresta de maneira desigual devido à sua extensão. Existem regiões onde ocorrem secas periódicas enquanto outros locais têm abundância de chuvas todo o ano.
Diferenciar o que poderia ser um fenômeno natural e o que eram consequências do aquecimento global foi um dos resultados relevantes obtidos pela pesquisa, graças ao modelo matemático proposto, que permitiu diferenciar e quantificar as perturbações.
“No caso da região Sudeste da Amazônia, cerca de um terço de qualquer mudança potencial de floresta para não floresta é devido ao efeito cascata, ou seja, oriundo de outros locais, por exemplo, de regiões mais desmatadas a leste”, explica a coautora Marina Hirota, professora da Universidade Federal de Santa Catarina, que contou com o apoio do Instituto Serrapilheira para este trabalho. “Já para outras regiões da Amazônia, em torno de 50% dessa mudança está associada à intensificação da estação seca, e não diretamente ligada àquele efeito cascata. Isso é muito importante para nosso entendimento de como o sistema funciona”, finaliza.
Mais informações: e-mails hbarbosa@umbc.edu, com Henrique Barbosa; marinahirota@gmail.com, com Marina Hirota; e nico.wunderling@pik-potsdam.de, com Nico Wunderling.
Colaboração para o Jornal da USP de Ana Fukui, pós-doutoranda da FMUSP e bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
Autor: usp
Fonte: usp
Sítio Online da Publicação: usp
Data: 26/09/2022
Publicação Original: https://jornal.usp.br/ciencias/seca-em-uma-regiao-da-floresta-amazonica-pode-impactar-areas-vizinhas-e-comprometer-os-rios-voadores/
segunda-feira, 26 de setembro de 2022
Furacão Ian obriga Nasa a 'guardar' foguete de missão à Lua
CRÉDITO,REUTERS
Legenda da foto,
A Artemis-1 será a primeira de uma série de missões que levarão humanos de volta à Lua
A agência espacial americana, a Nasa, deve retirar seu foguete da missão Artemis-1 da plataforma de lançamento na Flórida para protegê-lo de um furacão que se aproxima.
A Nasa diz que o Sistema de Lançamento Espacial (SLE) será recolhido para sua oficina de engenharia por precaução.
O furacão Ian está se movendo pelo Golfo do México e deve atingir a Flórida na quinta-feira (29/9). A previsão é de que o Centro Espacial Kennedy sofra com ventos e chuvas fortes.
Embora o local provavelmente escape dos piores impactos da tempestade, a Nasa não quer arriscar que seu foguete multibilionário seja danificado.
Isso provavelmente alterará os planos para o voo inaugural para novembro.
A Nasa esperava que a passagem da tempestade pelo Golfo a levasse suficientemente para oeste para que o foguete pudesse permanecer na plataforma.
Mas as previsões das últimas horas apontaram que a trajetória deve mudar, colocando a costa oeste da Flórida diretamente no caminho.
O governador da Flórida, Ron DeSantis, já declarou estado de emergência.
A Nasa tem um de seus transportadores gigantes de prontidão na plataforma para iniciar a operação.
A baixa velocidade com que o transportador se move significa que a jornada de 6,7 km demorará meio dia. Os engenheiros, portanto, devem querer colocar isso em andamento o mais rápido possível.
O recolhimento deve começar à meia-noite no horário de Brasília.
A Artemis-1 é a primeira de uma série de missões que pretendem levar humanos de volta à superfície lunar após 50 anos.
O voo inicial do SLE não será tripulado: foi anunciado como uma demonstração de segurança do equipamento e enviará a cápsula Orion para e além da Lua antes de voltar para casa com um mergulho no Oceano Pacífico.
Supondo que tudo funcione como planejado, os astronautas cumprirão a missão em 2024 com uma volta simples ao redor da Lua.
Só na missão Artemis-3, possivelmente no final de 2025, os astronautas tocarão a superfície lunar.
Autor: Jonathan Amos
Fonte: BBC News
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 26/09/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63040279
Soluções em transporte sustentável serão apoiadas
FAPESP lança chamada do BIOEN para estimular a pesquisa em bioenergia que contribua com soluções eficientes para o transporte de longa distância
O Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) anuncia uma chamada de propostas para estimular a pesquisa em bioenergia que contribua com soluções eficientes para o transporte sustentável de longa distância.
As abordagens devem considerar o contexto local brasileiro e contribuir para a redução de emissões por quilômetro rodado e para o aumento da fração renovável da matriz de transporte usando biomassa.
Serão selecionadas pesquisas que contribuam para: viabilizar a implementação de tecnologias em desenvolvimento; reforçar a capacidade instalada; estimular a formação de novos grupos; e ampliar estudos de soluções aplicáveis em contextos internacionais similares ao brasileiro.
Os projetos deverão contribuir com resultados que possam auxiliar nos objetivos do BIOEN em sua parceria com o Programa de Colaboração em Tecnologia de Bioenergia da Agência Internacional de Energia (IEA).
As áreas prioritárias da chamada são: Tecnologias em desenvolvimento; Tecnologias inovadoras; Tecnologias indiretas; e Aspectos transversais.
As modalidades de apoio da chamada são os auxílios à pesquisa Temático, Regular, Jovem Pesquisador e PITE.
O apoio financeiro da FAPESP para o total das propostas selecionadas na chamada é de R$ 20 milhões.
As propostas deverão ser submetidas pelo SAGe até 24 de fevereiro de 2023.
A chamada está publicada em: https://fapesp.br/15675.
Autor: fapesp
Fonte: fapesp
Sítio Online da Publicação: fapesp
Data: 23/09/2022
Publicação Original: https://fapesp.br/15689/solucoes-em-transporte-sustentavel-serao-apoiadas
O Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN) anuncia uma chamada de propostas para estimular a pesquisa em bioenergia que contribua com soluções eficientes para o transporte sustentável de longa distância.
As abordagens devem considerar o contexto local brasileiro e contribuir para a redução de emissões por quilômetro rodado e para o aumento da fração renovável da matriz de transporte usando biomassa.
Serão selecionadas pesquisas que contribuam para: viabilizar a implementação de tecnologias em desenvolvimento; reforçar a capacidade instalada; estimular a formação de novos grupos; e ampliar estudos de soluções aplicáveis em contextos internacionais similares ao brasileiro.
Os projetos deverão contribuir com resultados que possam auxiliar nos objetivos do BIOEN em sua parceria com o Programa de Colaboração em Tecnologia de Bioenergia da Agência Internacional de Energia (IEA).
As áreas prioritárias da chamada são: Tecnologias em desenvolvimento; Tecnologias inovadoras; Tecnologias indiretas; e Aspectos transversais.
As modalidades de apoio da chamada são os auxílios à pesquisa Temático, Regular, Jovem Pesquisador e PITE.
O apoio financeiro da FAPESP para o total das propostas selecionadas na chamada é de R$ 20 milhões.
As propostas deverão ser submetidas pelo SAGe até 24 de fevereiro de 2023.
A chamada está publicada em: https://fapesp.br/15675.
Autor: fapesp
Fonte: fapesp
Sítio Online da Publicação: fapesp
Data: 23/09/2022
Publicação Original: https://fapesp.br/15689/solucoes-em-transporte-sustentavel-serao-apoiadas
Flexitarianismo: o que é tendência que pode ser 'degrau' para quem quer virar vegetariano
CRÉDITO,GETTY IMAGES
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O flexitarianismo permite o consumo de carnes, mas prioriza os legumes, verduras e leguminosas de uma forma geral
Tendência que vem ganhando popularidade entre jovens nos EUA, o flexitarianismo é visto como alternativa de consumo alimentar para quem deseja diminuir o consumo de carne motivado por questões ambientais, animais e/ou de saúde. Normalmente, seus adeptos deixam de ingerir alimentos de origem animal pelo menos uma vez por semana.
A proposta central do flexitarianismo é ter uma alimentação flexível e reduzir — em vez de excluir — o consumo de alimentos de origem animal, priorizando a ingestão de vegetais, como verduras e legumes.
Mais fácil de ser seguida do que o vegetarianismo, o flexitarianismo é considerado um caminho de transição para quem cogita virar vegetariano no futuro.
"Essa dieta gera menos incômodo para o corpo e para a mente", explica a nutricionista Roberta Brito, residente do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade Federal da Paraíba (HULW-UFPB), vinculado à rede Ebserh.
De acordo com a especialista, muitas pessoas tentam se tornar vegetarianas, mas desistem no meio do caminho. "E o flexitarianismo garante a transição de um jeito menos radical, porque o vegetarianismo às vezes assusta", diz Brito.
"Nós podemos ter grupos que reduzem só a carne vermelha, outros que comem menos peixe e outros que têm uma preocupação geral para todos os tipos de carnes. A frequência com que as pessoas reduzem a carne também varia. Pode ser uma vez por semana ou até várias. Mas não existe uma definição clara e universal", explica Michelle Jacob, pesquisadora, doutora em ciências sociais e professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
'Não é só preço'
A jornalista gastronômica e empresária Ailin Aleixo se define como flexitariana. Ela diminuiu muito o consumo de alimentos de origem animal há cerca de 10 anos, quando começou a pesquisar e a visitar a produção de ovos, leite, carnes e afins.
"Visitar essas produções e entender o impacto gigante que existe na cadeia de produção desses alimentos me fez diminuir o consumo naturalmente e muito rápido", diz Ailin, que também é fundadora do site e podcast Vai Se Food e jurada do reality show Top Chef Brasil.
Ela acredita que grande parte da população não sabe como realmente se dá a produção desses alimentos. E, se soubesse, pensaria de forma diferente.
Ailin argumenta que antibióticos nos animais de abate, uso de gaiolas para produção de ovos, tratamento de animais e o impacto na saúde pública ajudaram a "diminuir o consumo ou quase parar".
CRÉDITO,GETTY IMAGES
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Segundo os especialistas, o que se espera ao reduzir o consumo de alimentos de origem animal é que a pessoa coma mais vegetais e com variedade
Jornalista especializada em gastronomia, ela afirma que há inúmeras possibilidades de cardápios no mundo vegetal. "Eu acho muito mais interessante quando usamos alimentos do universo animal como um detalhe, porque não é normal ou sustentável a gente consumir bicho como consumimos hoje", diz.
Uma comissão da ONG EAT-Lancet desenvolveu um relatório chamado A Dieta da Saúde Planetária que contou com a participação de 37 cientistas líderes de 16 países em diversas áreas, incluindo saúde humana, agricultura, ciência política e sustentabilidade ambiental.
O trabalho, que pode ser lido em português, concluiu que a migração para dietas saudáveis até 2050 vai exigir mudanças substanciais. O consumo geral de frutas, vegetais e nozes terá que duplicar, enquanto o consumo de alimentos como a carne vermelha terá que ser reduzido em mais de 50%. Para os especialistas, a adoção global de dietas saudáveis, a partir de sistemas alimentares sustentáveis, protegeria o planeta e melhoraria muito a saúde de bilhões de pessoas.
"E depois de entender tudo isso, eu não consegui não mudar a minha alimentação. Hoje, para mim, é inviável eu pensar em me alimentar de outra forma", esclarece Ailin.
Especialistas veem com bons olhos
O movimento do flexitarianismo começou a ter notoriedade a partir dos anos 2000. Segundo Jacob, pesquisadora e professora do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ainda não há pesquisas que definam os flexitarianos brasileiros, no entanto, assim como em demais países, essa população visa, sobretudo, diminuir o impacto ambiental causado pelas cadeias de produção alimentícias derivadas de animais.
"Esse é um grupo que está mais preocupado com questões relacionadas ao impacto ambiental direto. E para produzir carne nós gastamos muitos recursos naturais, como terra e água. Também emitimos muitos gases de efeito estufa por causa do desmatamento, já que o boi precisa de área de pastagem e, além disso, emite gases de efeito estufa durante a sua digestão", comenta Jacob.
CRÉDITO,DIVULGAÇÃO
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Ailin Aleixo diz que passou a priorizar o consumo de alimentos do reino vegetal depois de ver de perto como é a produção de carnes no país
A pesquisadora avalia também que alguns flexitarianos levam em conta o sofrimento animal, isto é, a forma como são criados até o momento do abate ou o simples fato de eles "precisarem" morrer para que as pessoas se alimentem.
"No início da década de 1960 já existia um movimento de evitar comer carne, principalmente, pelo sofrimento animal. E essas pessoas que exibiam essa preocupação passaram a ser chamadas de vegetarianos", pontua Jacob, destacando que, com o passar do tempo, os impactos ambientais mais amplos ganharam força na discussão.
"O flexitarianismo é um modelo alimentar muito interessante tanto do ponto de vista da saúde humana como ambiental. Sabemos que algumas pessoas no mundo precisam da carne para viver, como é o caso de certas populações indígenas que encontram nos animais silvestres uma importante fonte de nutrição. Mas, para aquelas que possuem um leque amplo de escolhas, reduzir [o consumo de carne] é fundamental", conclui Jacob, pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Outros flexitarianos, por sua vez, alegam questões relacionadas à saúde..
"Pensando em saúde, a grosso modo, o flexitarianismo tem muitos benefícios para quem adota, porque espera-se que a prática seja pautada na redução da frequência de produtos de origem animal e no aumento e variedade dos produtos de origem vegetal, que é onde temos fibra dietética, vitaminas e minerais, além de compostos bioativos. Então, você teria a ganhar por aumentar a oferta desses componentes todos", acredita Ana Luisa Kremer Faller, professora adjunta e pesquisadora do Instituto de Nutrição Josué de Castro da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Alguns estudos têm mostrado que a tendência do flexitarianismo pode ter benefícios emergentes para a saúde em relação à perda de peso, doenças cardiovasculares, problemas intestinais, prevenção de diabetes, entre outros.
Em contrapartida, a substituição da carne por produtos alternativos ultraprocessados como hambúrgueres de origem vegetal, por exemplo, não é benéfica. Ao contrário, porque esses produtos podem conter aditivos alimentares — ingredientes adicionados ao alimento com o objetivo de alterar ou modificar suas características, como os conservantes, corantes, antioxidante e aromatizante.
"Para fazer essa dieta que, do ponto de vista nutricional é mais simples, a pessoa vai ter que estar preparada também psicologicamente, porque depois da motivação inicial pode vir a desistência, tristeza e o sentimento de fracasso. Algumas pessoas até têm quadros depressivos", alerta a nutricionista do Hospital Universitário Lauro Wanderley da Universidade.
Escolha, não necessidade
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Legenda da foto,
O flexitarianismo aborda questões ambientais e defende a redução do consumo de carne em prol da vida e do bem-estar dos animais
A pandemia de covid-19 provocou mudanças na mesa dos brasileiros, que reduziram o consumo de carne bovina para o menor nível em 25 anos.
"Em 2018, cada brasileiro comeu, em média, 34 quilos de carne. Em 2021, foram 27 quilos. Para este ano, a projeção é de uma queda de 10,6% em relação ao ano passado. A carne bovina teve uma inflação média de 78% desde 2018 até agora", analisa o pesquisador Guilherme Malafaia, especialista em cadeias produtivas e coordenador do Centro de Inteligência da Carne da Embrapa (CiCarne).
Para Gabriel Delgado, coordenador da região Sul do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (ICCA) e representante no Brasil, mudanças de hábitos alimentares envolve a economia e a própria cultura brasileira. "Por isso, tudo o que está acontecendo em termos de novos hábitos de consumo de carne, sobretudo entre as novas gerações, precisa ser acompanhado, já que se trata de uma mudança cultural muito profunda", avalia.
No Brasil, ainda não existe um recorte mais bem definido sobre o perfil dos consumidores que se declaram flexitarianos, além de avaliação sobre quem são os principais substitutos da carne.
"O que se espera ao reduzir o consumo de alimentos de origem animal é que a pessoa coma mais alimentos vegetais com variedade: cereais, leguminosas, sementes, frutas, e não apenas alface. O que não pode acontecer é a pessoa apenas tirar a carne e não a substituir adequadamente", diz Faller, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Ns EUA, há mais dados sobre o flexitarianismo. De acordo com uma pesquisa recente encomendada pelo Sprouts Farmers Market e conduzida pela One Poll, mais da metade dos jovens adultos americanos (com idades entre 24 e 39 anos) se identificam como flexitarianos.
Além disso, 63% dos entrevistados em geral disseram que estariam "dispostos a trocar a carne por uma alternativa à base de plantas se atendesse a certos critérios".
Autor: Bruna Alves
Fonte: São Paulo para BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 24/09/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-62695317
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 24/09/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-62695317
Como apagão de dados sobre vacinação no Brasil traz de volta ameaça de doenças já controladas
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Números da vacinação em cidades brasileiras menores esbarra na burocraria e na falta de estrutura
Não há dúvidas entre os profissionais de saúde e pesquisadores que as taxas de vacinação vêm caindo de forma consistente no Brasil durante os últimos anos. Na avaliação deles, porém, há um problema pouco discutido nesse setor que complica ainda mais as coisas: a falta de dados confiáveis e atualizados sobre quantos brasileiros realmente tomaram as doses dos imunizantes disponíveis na rede pública de cada município.
Na base de dados do Sistema Único de Saúde, o DataSUS, é possível encontrar mais de uma dezena de cidades cuja cobertura vacinal nem chega aos 10% — em mais de 900 delas, o indíce não alcança os 50%.
Os gestores de saúde desses locais, porém, argumentam que as estatísticas oficiais não correspondem à realidade e que essa taxa, na prática, é bem maior.
O problema, dizem eles, está no excesso de burocracia, na falta de equipes e nas falhas de conexão com a internet ou acesso aos sistemas de informática mais modernos e conectados.
"É pouco provável que um município brasileiro tenha apenas 3 ou 5% de cobertura vacinal. O registro de dados simplesmente não funciona nesse país", atesta a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).
Os especialistas apontam que esse descompasso entre os números oficiais e a realidade prejudica a tomada de decisões e a criação de políticas públicas mais certeiras na área de saúde — o que aumenta a ameaça de surtos de doenças erradicadas, controladas ou com poucos casos, como poliomielite, sarampo e febre amarela.
"Sem esses dados consolidados, não conhecemos a realidade do país e não é possível fazer o planejamento ou elaborar o orçamento", pontua Wilames Freire, presidente do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems).
Ou seja: se os dados sobre a cobertura vacinal das cidades não batem, fica mais difícil para os governos municipais, estaduais e federal reforçarem as campanhas de comunicação, enviarem mais doses para um lugar específico, conversarem com os profissionais daquele local…
"Sem informações fidedignas, não temos condições de tomar decisões em tempo hábil", ele chama a atenção.
E um apagão de dados, por sua vez, abre a possibilidade de doenças que estão erradicadas, como a poliomielite, ou relativamente controladas, como o sarampo, voltem a representar uma ameaça.
O processo
O presidente do Conasems explica os detalhes do processo de vacinação no país.
"A pessoa chega no posto, é acolhida e conferimos se ela possui o Cartão Nacional de Saúde. Se tem, segue em frente. Se não, esse documento precisa ser produzido ali na hora."
"Após a vacinação, os dados daquele indivíduo e das vacinas que ele tomou devem ser inseridos no sistema", continua Freire.
E é justamente aí que começa o problema. "Às vezes, pelo acúmulo de trabalho, a equipe deixa para atualizar todos os dados só no final do dia", relata.
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Equipes dos postos de saúde são responsáveis por preencher e digitalizar as fichas de indivíduos vacinados
Segundo o presidente do Conasems, muitos postos de saúde também têm dificuldades nessa etapa por falta de internet ou conexão lenta.
"Daí todas aquelas fichas de papel são encaminhadas para a sede da secretaria de saúde, e um técnico fica responsável por inserir os dados, paciente por paciente, no sistema", diz.
"E isso quando ele consegue fazer esse trabalho. Não raro, o sistema trava, não abre no tempo adequado, não se comunica com outras bases…", lista.
Willames diz que, "como a prioridade das equipes é vacinar", muitas vezes essa tarefa burocrática de compilar os dados fica em segundo plano e não é feita a tempo.
"Nas primeiras fases da vacinação contra a covid-19, vi alguns municípios com mais de 100 mil fichas paradas que precisavam ser digitalizadas", lembra.
A realidade
A BBC News Brasil fez uma consulta ao sistema do DataSUS, disponível online, para conferir a cobertura vacinal dos mais de 5.500 municípios do país em 2021.
Foram considerados todos os imunizantes disponíveis na rede pública, que protegem contra doenças como poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola e pneumonia, por exemplo.
No dia 7 de setembro de 2022, os dez municípios que apareciam com as piores taxas de imunização no ano passado eram:
Trajano de Moraes (RJ) - 3,1% de cobertura vacinal
Jucuruçu (BA) - 5,2%
Murici dos Portelas (PI) - 5,6%
Belford Roxo (RJ) - 6,3%
Santiago (RS) - 6,9%
Taquara (RS) - 7,2%
Bom Jardim (RJ) - 7,3%
Crisólita (MG) - 7,6%
Curuá (PA) - 8,5%
A BBC News Brasil entrou em contato com os gabinetes de prefeitos, as secretarias de saúde ou as assessorias de comunicação dos dez municípios listados acima para checar essas porcentagens e saber se, na visão dessas autoridades públicas, elas representam a realidade.
Desses, quatro prefeituras enviaram respostas até a publicação desta reportagem.
A enfermeira Sofia Marinho, que é coordenadora de imunização em Trajano de Moraes desde maio deste ano, informou que "o município não inseria as doses aplicadas no sistema, o que influenciou nesses dados baixos das coberturas vacinais".
Ela também apontou que há uma diferença entre os sistemas de informática de acordo com cada local de vacinação — na sede da prefeitura, por exemplo, se usa um programa de computador, nos distritos mais afastados, outro.
"Estamos com alguns problemas na migração dos dados dos sistemas, o que também pode ser um dos motivos por trás desses números, embora a nossa realidade seja totalmente diferente", completa.
A Secretaria de Saúde de Taquara informou que "houve um problema técnico no envio de dados de vacinação do município ao Ministério da Saúde e isso já está sendo corrigido".
A enfermeira Carolline Azevedo Caetano, diretora de Vigilância em Saúde de Bom Jardim, admitiu que o município encontra-se com uma cobertura insatisfatória, "mas por causa dos sistemas de informação, e não da vacinação propriamente dita".
"Tivemos alguns problemas com os recursos humanos responsáveis pela digitação dos dados, situação que já está sendo resolvida", respondeu.
Por fim, a enfermeira Glaucimeire Moura, coordenadora de Atenção Primária na cidade de Murici dos Portelas, declarou que as porcentagens que aparecem no DataSUS "não condizem com a realidade".
"Passamos um tempo com problemas no sistema e as vacinas não puderam ser registradas", relatou.
Ela também disse que boa parte das informações de cobertura vacinal do município está registrada em livros de papel.
Moura entende que colocar as informações no sistema é relativamente fácil, mas há barreiras na implantação dessa tecnologia e falhas na internet, especialmente nas zonas rurais.
Questionado pela reportagem, o Ministério da Saúde informou que "não foram identificadas divergências nas informações dos dados sobre as coberturas vacinais referentes ao ano de 2021 e os registros nos sistemas do DataSUS".
"De todo modo, a pasta orienta aos municípios que identificarem inconsistência nos dados que reportem [essas falhas] ao Programa Nacional de Imunizações (PNI)."
CRÉDITO,MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL
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Ministério da Saúde diz não ver inconsistências das taxas de cobertura vacinal reportadas até agora
A solução
Freire, do Conasems, avalia que o PNI "trouxe grandes benefícios à população brasileira", mas apresenta "problemas históricos".
"E eles estão principalmente nas bases de dados e na integração entre elas. O Ministério da Saúde possui mais de 300 sistemas de informação", calcula.
Na avaliação dele, o descompasso entre os dados dos municípios e do Governo Federal "não é surpresa".
"No momento, as prefeituras estão trabalhando com quatro campanhas de vacinação simultâneas: covid, sarampo, pólio e múltiplas doses", conta.
"E as equipes das Unidades Básicas de Saúde são pequenas para lidar com tantas demandas."
Ballalai concorda e vê a situação como "uma antiga pedra no sapato".
"Esses sistemas já mudaram uma porção de vezes e, mesmo assim, ainda apresentam muitos erros e atrasos", critica.
"Um processo burocrático desses pode ocupar profissionais que vacinavam as pessoas, mas ficam sentados na frente de um computador preenchendo fichas", lamenta.
E todo esse cenário, por sua vez, prejudica as políticas de saúde pública, avaliam os entrevistados.
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Compilar os dados de vacinação em locais afastados — e com pouco acesso à internet — é um desafio, segundo especialistas
Uma das faces do problema maior
Ainda que reconheçam esse grande descompasso nos dados, os especialistas entendem que a cobertura vacinal vem caindo de forma consistente no país como um todo.
O número de brasileiros imunizados contra a poliomielite, por exemplo, desabou de 99% em 2010 para 69% no ano passado.
A aplicação da primeira dose da tríplice viral (que protege contra sarampo, caxumba e rubéola) saiu de 100% há dez anos para 73% em 2021.
Em outras palavras, a queda nacional no número de vacinados é real e preocupante — mas não dá pra saber com exatidão como isso está acontecendo nas cidades, especialmente nas de pequeno porte ou com menos estrutura.
"Sabemos que existe tecnologia disponível para acompanhar a cobertura não apenas de Estados e cidades, mas de cada sala de vacinação do país", complementa Freire.
E, embora a inconsistência nos sistemas de informática ajude a entender parte dessa situação, ela é apenas uma das faces de um problema bem maior.
"Vemos um desabastecimento de doses dos imunizantes em alguns lugares, a falta de campanhas nacionais adequadas e o aumento de notícias falsas ou até de um movimento antivacina no país", acrescenta Freire.
E, para elevar novamente as coberturas vacinais no país, é preciso lidar adequadamente com todas essas questões, concluem os especialistas.
Autor: André Biernath - @andre_biernath
Fonte: BBC News Brasil em Londres
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 25/09/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62980100
sábado, 24 de setembro de 2022
Menopausa: o que é terapia de reposição hormonal e quais os riscos e benefícios
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Ondas de calor, dores nas articulações, insônia... Os sintomas que podem acompanhar a menopausa são muitos, e por isso algumas mulheres passando por essa transição na vida reprodutiva fazem a chamada terapia de reposição hormonal (TRH).
A maioria dos especialistas recomenda iniciar a terapia assim que aparecem os primeiros sintomas da menopausa. As evidências são mistas e limitadas quando se trata de iniciá-lo com mais de 60 anos, embora algumas mulheres experimentem alívio dos sintomas persistentes.
Como todo tratamento, a TRH pode trazer benefícios e riscos. A BBC News traz um pequeno guia com estas e outras informações sobre a terapia.
O que é a TRH e quais são os benefícios?
À medida que as mulheres se aproximam da menopausa, seus níveis do hormônio estrogênio variam e diminuem.
Esse hormônio tem muitas funções: faz parte da regulação dos ciclos menstruais, contribui para a resistência óssea e influencia na nossa temperatura, entre outros. Por isso, quando os níveis de estrogênio ficam alterados, as mulheres podem ter vários sintomas.
A TRH eleva os níveis de estrogênio e, assim, ajuda a aliviar esses sintomas. As mulheres geralmente não usam esse tratamento para sempre, apenas na transição para a menopausa.
A terapia pode ter alguns benefícios adicionais, como a prevenção à perda óssea, a fraturas e ao câncer colorretal. Para mulheres com menos de 60 anos, a TRH também pode oferecer alguma proteção contra doenças cardíacas.
Você pode já ter ouvido falar sobre outros possíveis benefícios, como a proteção à saúde do cérebro e melhoras na pele e no cabelo, mas até agora as evidências disso são limitadas.
Por outro lado, alguns tipos de TRH estão associados ao aumento no risco de alguns tipos de câncer (leia no tópico abaixo).
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Sintomas, estilo de vida, riscos e período de tratamento devem ser parte da conversa entre pacientes na menopausa e profissionais de saúde
Como é, na prática, a TRH?
Essa terapia vem em muitas formas e tamanhos — de pílulas e adesivos a géis e anéis.
O ingrediente principal é o estrogênio, mas uma das formas mais comuns é a TRH combinada, com o estrogênio administrado juntamente com uma versão sintética do hormônio progesterona. A adição de progesterona ajuda a proteger o revestimento do útero, pois tomando apenas o estrogênio pode aumentar a chance do câncer de endométrio. Por outro lado, há evidências de que esta combinação aumenta o risco de câncer de mama, em comparação com a terapia contendo apenas estrogênio.
O melhor tipo de TRH varia de pessoa para pessoa e depende dos sintomas e estilos de vida. Essas características, além dos riscos e período de tratamento, devem ser parte da conversa entre pacientes e profissionais de saúde.
A maioria das terapias funciona em todo o corpo, mas alguns são usados por via vaginal para aliviar os sintomas especificamente nessa área.
Quanto tempo leva para fazer efeito?
No início, normalmente as mulheres recebem a dose mais baixa possível de TRH.
Pode levar até três meses para que uma paciente tomando TRH sinta os efeitos completos. Nesse processo, algumas podem precisar também que sua dose e tipo de TRH sejam ajustados.
De acordo com o ginecologista Rogério Bonassi, presidente da Associação Brasileira de Climatério (Sobrac), a entidade e outras instituições internacionais, como a Sociedade Internacional da Menopausa e a Sociedade Norte-Americana de Menopausa, não definem um prazo para o fim do uso da TRH, como se fazia no passado — determinando por exemplo um limite de três ou cinco anos para interrupção do tratamento. Bonassi acrescenta que tampouco há uma norma sobre isso por órgãos de saúde brasileiros.
"Não existe nenhuma normatização para que se faça interrupção da TRH de acordo com o tempo de uso. Até quando você pode usar a terapia de reposição hormonal? Nós costumamos falar para as pacientes: até a próxima consulta: Então ano a ano, caso a caso, será avaliado o quanto os benefícios superam os riscos", explica o médico, que tem doutorado em medicina.
Entretanto, enquanto para muitos especialistas e sociedades, não há limite de tempo para a TRH, a Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos para a Saúde do Reino Unido recomenda o uso pelo menor tempo necessário e com a menor dose possível.
Quais são os riscos?
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Médico analisa mamografia; combinação de estrogênio e progesterona na TRH aumenta risco de câncer de mama, mas Sociedade Britânica da Menopausa diz que risco é menor do que estar acima do peso ou beber mais de duas unidades de álcool por dia
Parece haver algum consenso entre especialistas de que a terapia de reposição hormonal tem mais benefícios do que malefícios, mas estudos continuam a ser produzidos buscando elucidar a questão.
Alguns tipos de TRH têm sido associados a um risco ligeiramente aumentado de câncer, como já mencionado em relação ao endométrio e às mamas.
A Sociedade Britânica da Menopausa, porém, diz que no caso do câncer de mama, a terapia traz menos riscos do que estar acima do peso ou beber mais de duas unidades de álcool por dia. E o risco diminui gradualmente depois que o medicamento é interrompido.
Há também um pequeno risco de surgimento de coágulos ao se tomar a TRH. Mas isso depende de outras coisas também, como tabagismo, peso e idade. Os riscos diminuem se o tratamento for via adesivo ou gel, em vez de comprimidos. Ainda assim, o risco de surgimento de um coágulo após o uso da TRH é muito menor do que o de uma mulher grávida ou que toma anticoncepcional.
Quais são os efeitos colaterais?
Muitos efeitos colaterais passam dentro de três meses após o início da medicação. Eles podem incluir:
Dor mamária
Dor de cabeça
Náuseas
Indigestão
Dor no estômago
Sangramento vaginal
É comum ganhar peso à medida que se aproxima da menopausa, mas não há evidências de que a TRH esteja por trás disso.
Quem não deve fazer a TRH?
Pode não ser adequado seguir este tratamento se a paciente:
Teve câncer de mama, útero ou ovário
Tem pressão alta não tratada
Teve coágulos sanguíneos
Teve doença hepática
Estiver grávida
Existem alternativas ou complementações à TRH?
Exercícios físicos podem melhorar o sono, o humor e as sensações de calor. Uma dieta saudável, a interrupção do tabagismo e a redução do consumo de café, álcool, alimentos condimentados também podem ajudar.
Outros medicamentos como a tibolona — que funciona imitando a atividade do estrogênio e da progesterona — ou certos antidepressivos podem ajudar, mas também podem ter efeitos colaterais.
Autor: Smitha Mundasad
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 23/09/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-62976251
Bebês no útero 'sorriem' para cenouras e 'fazem careta' para couve, dizem cientistas
CRÉDITO,DIVULGAÇÃO
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As reações deste feto, que parece estar sorrindo, foram fotografadas 20 minutos após as mães consumirem as cápsulas de cenoura em pó
Se comer couve provoca uma careta em você, saiba que você não está sozinho.
Uma pesquisa científica descobriu que os fetos parecem sorrir dentro da barriga das mães depois que elas comem cenouras e fazer caretas depois que elas comem couve.
O Laboratório de Pesquisa Neonatal da Universidade de Durham, no Reino Unido, diz que o estudo é a primeira evidência direta mostrando fetos respondendo a diferentes sabores em tempo real.
Os pesquisadores fizeram um estudo com mais de 100 mulheres grávidas na Inglaterra.
Eles deram a 35 mulheres cápsulas contendo cenoura em pó. Outras 34 ingeriram couve em pó. As 30 mulheres restantes faziam parte de um grupo controle e não comeram essas substâncias.
Reações em tempo real
Segundo o estudo, publicado pela revista Psychological Science, 20 minutos depois que as mães engoliram as cápsulas, ultrassonografias 4D mostraram que a maioria dos fetos expostos à couve parecia fazer caretas. Enquanto isso, aqueles expostos a cenouras pareciam sorrir.
O grupo de controle das 30 gestantes que não comeram nada não teve as mesmas respostas.
Estudos anteriores indicaram que preferências alimentares podem começar antes mesmo do nascimento, pois o líquido amniótico que envolve o feto pode ter sabores diferentes, a depender da dieta da gestante.
Segundo a Universidade de Durham, esse é o primeiro estudo a analisar diretamente a resposta de bebês ainda não nascidos a diferentes sabores.
Mas quando um feto começa a sentir o gosto de novos alimentos?
CRÉDITO,FETAL AND NEONATAL RESEARCH LAB, DURHAM UNIVERSITY
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Esta imagem do estudo mostra um feto fazendo careta à direita, como uma reação ao sabor da couve
"Sabemos de pesquisas anteriores que a nutrição que os fetos recebem através da dieta da mãe é realmente importante para um desenvolvimento saudável posterior. Mas o que não sabemos é quando isso realmente começa", diz Nadja Reissland, coautora do estudo e chefe do Laboratório de Pesquisa Fetal e Neonatal da Universidade de Durham.
"Bebês ainda não nascidos mostram sua preferência por açúcar já com 14 semanas de gestação", disse ela à BBC.
"Para nosso experimento, demos aos bebês de 32 a 36 semanas de gestação as cápsulas em pó, pois suas expressões tendem a se tornar cada vez mais complexas", diz.
"Queremos continuar nossa pesquisa e continuar registrando dados desses bebês após o nascimento, e observar se eles reagem às cenouras e couve como fizeram no útero. Esperamos que eles se acostumem com verduras após o nascimento e, portanto, possam comê-las para uma dieta saudável", afirma Reissland.
Mas o que esse experimento nos mostra sobre o desenvolvimento do paladar em bebês?
Segundo Reissland, o estudo indica que o paladar se desenvolve muito cedo e também depende da enculturação do ambiente alimentar.
"Como o feto tem essa dieta da mãe, após o nascimento eles se acostumam e continuam a comer essa dieta", diz a pesquisadora.
Sabores amargos associados ao veneno
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Estudos anteriores mostraram que as preferências alimentares podem começar antes do nascimento
Reissland também aponta outra razão pela qual os fetos podem rejeitar sabores amargos.
"Também associamos o gosto amargo ao perigo de envenenamento e reagimos de acordo com isso. Mas, como nem todos os gostos amargos indicam veneno, temos que educar a nós mesmos e nossos filhos para superar essa reação. Certos alimentos com gosto amargo são saudáveis", diz Reissland.
No entanto, ela acrescenta que, embora as imagens indiquem uma reação semelhante à de um adulto ao gosto amargo, ainda não se sabe se os fetos realmente experimentam emoções ou desgostos.
As caretas e sorrisos vistos no ultrassom "podem ser apenas os movimentos musculares que estão reagindo a um sabor amargo", diz Reissland.
Ela acrescenta, no entanto, que é normal fetos terem expressões faciais.
O que outros cientistas pensam?
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Cenouras levaram bebês no útero a sorrir, enquanto couve os levou a fazer caretas
Daniel Robinson, professor associado de neonatologia da Northwestern University Feinberg School of Medicine, nos Estados Unidos, não está envolvido na pesquisa.
Ele disse à rede de televisão NBC que as pessoas não deveriam interpretar as imagens de ultrassom como evidências de que os fetos estavam exibindo felicidade ou desgosto.
Já Julie Mennella, do Monell Chemical Senses Center, com sede na Filadélfia, também não está envolvida no estudo, mas é especialista na área.
Em entrevista ao jornal britânico The Guardian, ela disse que o trabalho confirma descobertas anteriores de que os filhos aprendem sobre a dieta de sua mãe através dos sabores dos alimentos no líquido amniótico.
A publicação também cita a professora Catherine Forestell, do College of William & Mary, na Virgínia, que disse esperar pesquisas futuras sobre como um feto responde à alimentação da mãe.
Comida
"Vários estudos sugeriram que os bebês podem sentir gosto e cheiro no útero. Mas eles são baseados em resultados colhidos depois do parto, enquanto nosso estudo é o primeiro a ver essas reações antes do nascimento", disse Beyza Ustun, que liderou a pesquisa.
"Acreditamos que essa exposição repetida a sabores antes do nascimento pode ajudar a estabelecer preferências alimentares, o que pode ser importante quando se pensa em mensagens sobre alimentação saudável e o potencial de evitar 'compulsão alimentar'", diz Ustun.
Portanto, em termos práticos, a pesquisa pode fornecer pistas para novas mães e pais que desejam garantir uma alimentação saudável ao filho.
Autor: By Ahmen Khawaja
Fonte: BBC News
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 23/09/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63015458