terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Ministra da Igualdade Racial realiza aula inaugural da Ensp/Fiocruz

A Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (Ensp/Fiocruz) realizará, no dia 16 de março, a aula inaugural de 2023, que tem como tema O legado das mulheres negras. Este ano, a aula será ministrada por Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, uma das fundadoras do Instituto Marielle Franco. Pesquisadora do Departamento de Endemias Samuel Pessoa da Ensp/Fiocruz, Marly Marques da Cruz será a moderadora do evento. A aula será no auditório da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz), no campus Manguinhos da Fiocruz, no Rio de Janeiro, às 14h. Haverá transmissão ao vivo pelo canal da Ensp/Fiocruz no YouTube e tradução para a Língua Brasileira de Sinais (Libras).



Vice-diretora de Ensino da Ensp/Fiocruz, Enirtes Caetano afirma que a presença da ministra Anielle Franco na aula inaugural marca valores de uma agenda institucional que deverá avançar na luta antirracista, pela equidade de gênero, por acessibilidade e diversidade. Como exemplo, a Escola adotou a Política de Cotas Raciais em todos os seus cursos e destacou em seus objetivos estratégicos ações de acompanhamento e apoio aos discentes cotistas como forma de lhes garantir a conclusão do estudos com êxito.

"Anielle Franco tem sua trajetória alinhada às questões de raça e gênero no Brasil e seus desdobramentos. Nossa ministra destaca a necessidade de um trabalho colaborativo entre todos os ministérios a fim de que políticas públicas sejam capazes de impulsionar a construção das bases da igualdade racial. Nossa instituição está comprometida com a construção do Brasil do futuro e com a necessidade de estabelecermos pontes que aproximem realidades que expõem e superem as profundas iniquidades sociais brasileiras. Anielle está comprometida com a ampliação e aprofundamento do debate sobre desigualdade e a diversidade étnico-racial e de gênero. E este é um dos nossos compromissos institucionais", explica.

Novo ano letivo, novos desafios

Enirtes Caetano diz ainda que este novo ano letivo começa com uma série de desafios de reconstrução. “A Educação na Ensp conforma extensa rede colaborativa e mantém seu compromisso com um saber e pensar éticos, com qualidade e aliados aos princípios do [Sistema Único de Saúde] SUS”, destaca a vice-diretora. Além disso, ela lembra das adaptações das atividades nos momentos mais agudos da crise sanitária da Covid-19 e reafirma a missão da Escola: “No auge da pandemia, todos os cursos e programas da Escola se adaptaram e flexibilizaram a modalidade de oferta para preservar vidas. A adoção do ensino remoto emergencial foi necessária e sua reversão na Ensp tem se dado de forma gradativa e planejada desde o segundo semestre de 2021”.

Ainda de acordo com a vice-diretora de Ensino, os bons resultados obtidos pelos cursos Lato sensu e de Qualificação Profissional da Escola, assim como os da avaliação quadrienal do Stricto sensu, refletem a excelência do corpo docente e discente. “Mantemos e respeitamos a unidade na diversidade de temas e abordagens que configuram o campo da Saúde Pública e da Saúde Coletiva, combinando tradição, inserção e ousadia”, conclui Enirtes Caetano.






Autor: Informe Ensp
Fonte: fiocruz
Sítio Online da Publicação: fiocruz
Data: 24/02/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/ministra-da-igualdade-racial-realiza-aula-inaugural-da-ensp/fiocruz

Prazo Prorrogado - Especial 30 anos: originais podem ser enviados até 31 de março

Atendendo a pedidos, o prazo da chamada comemorativa dos 30 anos da Editora Fiocruz foi prorrogado para 31 de março.


Serão selecionados pelo comitê editorial até cinco manuscritos a serem publicados no decorrer de 2023, com selo indicativo do aniversário da Editora.


Os critérios para seleção pautam-se na qualidade, originalidade e inovações temáticas, didáticas, teóricas ou metodológicas dos textos.

Serão considerados manuscritos de um a três autores, brasileiros ou estrangeiros, que abordem temas em saúde pública/saúde coletiva, ciências biológicas e biomédicas, pesquisa clínica em saúde, e ciências sociais e humanas em saúde. Para o selo, não serão analisadas coletâneas de textos e/ou livros organizados.

Veja mais informações aqui.





Autor: Luiza Trindade/Editora Fiocruz
Fonte: fiocruz
Sítio Online da Publicação: fiocruz
Data: 27/02/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/prazo-prorrogado-especial-30-anos-originais-podem-ser-enviados-ate-31-de-marco

Estudo analisa evolução da monkeypox em pessoas com HIV

O Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas (INI/Fiocruz) participou de um estudo que avaliou casos de monkeypox em pessoas com infecção avançada por HIV. Apresentada na 30th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (Croi 2023) e publicada (21/2) na revista científica The Lancet, a pesquisa reuniu investigadores de 19 países como Estados Unidos, Espanha, México, Reino Unido e Brasil, que forneceram dados de casos confirmados de monkeypox (entre 11 de maio de 2022 e 18 de janeiro de 2023). O INI/Fiocruz é referência para o atendimento de casos de monkeypox no Rio de Janeiro e desenvolve diferentes pesquisas que contribuem para o enfrentamento desta doença.



Com a colaboração de Mayara Secco Torres Silva, infectologista do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids do INI/Fiocruz, o estudo Mpox in people with advanced HIV infection: a global case series reuniu 382 casos, sendo 349 (91%) casos em indivíduos que viviam com HIV. No geral, 107 pacientes (28%) foram hospitalizados e ocorreram 27 mortes (25%), todas em pessoas que apresentavam imunodepressão avançada pelo HIV. Um dos destaques do trabalho foi a descrição de uma forma grave de monkeypox, caracterizada por lesões cutâneas e mucosas necrotizantes, com alta prevalência de manifestações dermatológicas e sistêmicas fulminantes e morte, em pacientes com doença avançada pelo HIV, caracterizada por contagens de linfócitos TCD4+ abaixo de 200 células/mm3.

Segundo os pesquisadores, é importante que se avalie a inclusão dessas formas graves de monkeypox com uma nova condição definidora de Aids nas classificações das doenças do HIV nos Centers for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos e na Organização Mundial da Saúde (OMS). Outro achado importante do estudo foi a evolução fatal de pacientes com suspeita de deterioração clínica em decorrência da síndrome de reconstituição imune (Iris). De um total de 85 pacientes que iniciaram ou reiniciaram o uso de antirretrovirais, em 25% dos casos se suspeitou que a deterioração clínica pode ter ocorrido em decorrência da Iris, 57% dos quais morreram.

Este dado trouxe grande preocupação aos pesquisadores. "No que diz respeito à prevenção, as pessoas com HIV e alto risco de infecção por monkeypox devem ser priorizadas para uma vacina preventiva. Além disso, dois terços das mortes registradas ocorreram na América Latina. Os achados são particularmente pertinentes para países com baixos níveis de diagnóstico de HIV ou sem acesso gratuito universal a uma terapia antirretroviral ou a unidades de terapia intensiva, onde a interação da infecção descontrolada por HIV e monkeypox é mais prevalente. Nestes países, um esforço conjunto para fornecer acesso urgente a antivirais e vacinas contra monkeypox é de importância crítica”, relataram os autores do estudo.

Combate a monkeypox

O trabalho do INI/Fiocruz na luta contra a monkeypox vai para além da assistência. Entre as pesquisas, destacam-se dois estudos multicêntricos coordenados pelo INI/Fiocruz, com início previsto para março de 2023. O primeiro é avalia a vacina MVA-BN Jynneos, produzida pela empresa Bavarian Nordic, como profilaxia pós-exposição, ou seja, a administração da vacina é realizada após a pessoa ter um contato com alto grau de exposição potencial ao vírus pelo contato íntimo com uma pessoa que seja um caso confirmado de monkeypox ou que tenha se acidentado ao manipular material contaminado pelo vírus na coleta de material clínico ou no processamento de material em laboratório.

“Estas pessoas vão comparecer aos centros de pesquisa e se serão vacinadas com duas doses da vacina, com um intervalo de 28 dias entre as doses, se a exposição tiver ocorrido no intervalo de até 14 dias. As pessoas cuja exposição tiver ocorrido após 14 dias, poderão participar do estudo e serão acompanhadas, mas não serão vacinadas. O estudo prevê a participação de, pelo menos, 746 indivíduos. Nossa expectativa é que este imunizante, aplicado dentro deste intervalo de tempo, possa bloquear o processo de infecção pelo vírus ou atenuar o desenvolvimento da doença", explicou Valdiléa Veloso, coordenadora do estudo e diretora do INI/Fiocruz.

O segundo estudo é o Unity, ensaio clínico randomizado duplo cego multicêntrico, internacional, que irá avaliar a segurança e a eficácia do antiviral Tecovirimat no tratamento de pacientes com monkeypox. Coordenado pela pesquisadora Beatriz Grinsztejn, pesquisadora e chefe do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids do INI/Fiocruz, em parceria com Alexandra Calmy, do Hospital da Universidade de Genebra-Suíça e com a Agência Francesa de Pesquisa em Aids, Hepatites Virais e Doenças Emergentes (ANRS). No Brasil, os centros participantes serão coordenados pelo INI/Fiocruz.

O Tecovirimat foi desenvolvido para o tratamento da varíola, sendo licenciado pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para a monkeypox em 2022, a partir de dados de estudos limitados em animais e em humanos. No entanto, até o momento não houve ensaios clínicos para confirmar se o medicamento pode ajudar os pacientes com monkeypox a se recuperarem da doença. Os resultados do ensaio clínico Unity serão fundamentais para preencher essa lacuna no conhecimento.

Monkeypox no Croi 2023

Monkeypox foi um dos temas em destaque da 30th Conference on Retroviruses and Opportunistic Infections (CROI 2023), evento organizado pela Croi Foundation em parceria com o International Antiviral Society (IAS-USA), que ocorreu entre os dias 19 e 22 de fevereiro, em Seattle (EUA). Três pesquisadores do Laboratório de Pesquisa Clínica em IST e Aids do INI/Fiocruz, presentes ao evento, apresentaram estudos inéditos relacionando monkeypox e HIV. Conheça os estudos.






Autor: Antonio Fuchs e Bárbara Clara (INI/Fiocruz)
Fonte: fiocruz
Sítio Online da Publicação: fiocruz
Data: 27/02/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/estudo-analisa-evolucao-da-monkeypox-em-pessoas-com-hiv

Saude Indigena

Em 20 de janeiro de 2023 o Ministério da Saúde (MS) decretou estado de emergência para combater a falta de assistência sanitária que vem atingindo os yanomamis, em Roraima. Pouco antes, a revelação da tragédia chocou o Brasil e o mundo. Fotos de indígenas subnutridos, esquálidos e enfermos causaram indignação e expuseram a total negligência e o descaso com que esse povo originário – mas não somente os yanomamis – foi tratado nos últimos anos, por parte das autoridades que deveriam protegê-los, apesar das numerosas denúncias de desassistência e abandono feitas aos órgãos estatais e aos veículos de imprensa. Vítimas da extração de madeira e do garimpo ilegais em seu território, os yanomamis sofrem com os efeitos do solo e da água contaminados, da floresta devastada e da disseminação desenfreada de doenças levadas pelos forasteiros.


Foto: Iago Barreto (Fiocruz Ceará).

Este especial da Agência Fiocruz de Notícias sobre Saúde Indígena apresenta algumas das ações e pesquisas de diversas unidades da Fiocruz em relação aos yanomamis e outros povos originários, faz um balanço do contexto histórico da crise e aborda a importância da decretação da emergência sanitária. Estudos focam o estado nutricional de crianças yanomamis e analisam como está a saúde dos pequenos indígenas.

Outros estudos mostram que a população indígena tem uma proporção menor de pessoas com esquema vacinal completo (48,7%) do que não-indígenas (74,8%) e ainda que crianças indígenas têm 14 vezes mais chances de morrer por diarreia. Esse risco é 72% maior para crianças pretas em comparação com brancas. Em função desse quadro grave, um projeto vai examinar a qualidade de amostras de água para consumo humano nas aldeias, com o objetivo de reduzir a incidência de doenças e a mortalidade infantil.

Um artigo descreve o contexto de criação e a atuação do Serviço de Proteção ao Ìndio (SPI), primeiro órgão criado pelo governo brasileiro dedicado às causas indígenas, em 1910. De acordo com o texto, “negligente, Estado foi, por vezes, conivente com práticas que aniquilaram indígenas". Também ganha destaque um projeto da Fiocruz que amplia o conhecimento sobre os efeitos das plantas medicinais utilizadas para o tratamento da tuberculose pelas etnias guarani e kaiowá.

Na área da educação, o Especial aborda um curso para profissionais de saúde de regiões indígenas, que também produz materiais educativos, e outro que prepara para o Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Condições de Vida e Situações de Saúde na Amazônia. O curso será oferecido pela primeira vez a indígenas da região de fronteira do Alto Solimões, no segundo semestre de 2023.


Foto: Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

O Especial apresenta um projeto que busca fortalecer ações de reflorestamento, agricultura e cuidado em saúde em territórios indígenas do Nordeste e gera criação de uma plataforma de conteúdos audiovisuais. O material conta ainda com links para publicações que podem ser baixadas gratuitamente e recursos como vídeos e galeria de imagens, que trazem um pouco mais d0 cotidiano dos povos originários, historicamente relegados ao desemparo, à exploração e ao preconceito.

Consta deste especial a ação institucional da Fiocruz até aqui e as novas perspectivas de colaboração da Fundação na resposta a essa grave crise sanitária. Um glossário destaca alguns dos tópicos mais importantes em relação à vida dos povos indígenas.

A Terra Indígena Yanomami foi oficialmente demarcada em 1991 e homologada e registrada em 1992, garantindo assim aos indígenas o direito constitucional ao uso exclusivo de 96.650 quilômetros quadrados localizados em Roraima e no Amazonas. Os yanomamis são um grupo de aproximadamente 30 mil indígenas – destes, cerca de 5 mil são crianças – que vivem em cerca de 250 aldeias na Floresta Amazônica, na fronteira entre Venezuela e Brasil. Compõem-se de quatro subgrupos: yanomae, yanõmami, sanima e ninam. Cada subgrupo fala uma língua própria e juntas formam a família linguística yanomami.


Foto: Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB).

O etnônimo “yanomami” foi produzido pelos antropólogos a partir da palavra “yanõmami”, que na expressão “yanõmami thëpë” significa “seres humanos”. Essa expressão se opõe às categorias “yaro” (animais de caça) e “yai” (seres invisíveis ou sem nome), mas também “napë” (inimigo, estranho, não-índio).

Até o fim do século 19 os yanomamis mantinham contato apenas com outros grupos indígenas vizinhos. No Brasil, os primeiros encontros diretos de grupos yanomamis com representantes da fronteira extrativista local (balateiros, piaçabeiros e caçadores), bem como com soldados da Comissão de Limites e funcionários do Serviço de Proteção ao Índio (SPI) ou viajantes estrangeiros, ocorreram nas décadas de 1910 a 1940.


Foto: ONU.

Entre os anos 1940 e meados dos anos 1960, a abertura de alguns postos do SPI e, sobretudo, de várias missões religiosas, estabeleceu os primeiros pontos de contato permanente. Estes postos constituíram uma rede de polos de sedentarização, fonte regular de objetos manufaturados e de alguma assistência sanitária, mas também, muitas vezes, origem de graves surtos epidêmicos (sarampo, gripe e coqueluche). Uma das muitas tragédias que se abateram sobre os povos indígenas desde o início da colonização e que, agora, mais uma vez se repete. Não foi por falta de aviso.

Texto: Ricardo Valverde (Agência Fiocruz de Notícias)
07/02/2023.





Autor: fiocruz
Fonte: fiocruz
Sítio Online da Publicação: fiocruz
Data: 07/02/2023
Publicação Original: https://agencia.fiocruz.br/saude-indigena

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

O mundo corre o risco de ficar preso em um intenso ciclo de catástrofes

O mundo corre o risco de ficar preso em um intenso ciclo de catástrofes, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

Os governos não fazem o suficiente para melhorar o gerenciamento de risco de desastres, o que deixa a humanidade amplamente despreparada para o que está por vir

O aumento do nível do mar ameaça provocar êxodo de proporções bíblicas

António Guterres, Secretário-geral da ONU, fevereiro de 2023

Está cada vez mais difícil alcançar a meta de um mundo sustentável, inclusivo e resiliente. Ao invés do sonho de um próspero desenvolvimento humano e ecológico, os indicadores ambientais indicam a iminência de um ciclo de catástrofes (“loop doom”). Os danos causados pelo aquecimento global são, cada vez mais, claros e a recuperação de desastres climáticos e ambientais estão cada vez mais caros.


Os custos ultrapassam dezenas de bilhões de dólares. Além disso, esses desastres costumam causar problemas em cascata, incluindo crises de água, elevação do preço da energia e dos alimentos, inundações, furacões, queimadas, bem como aumento da migração e dos conflitos sociais. Tudo isto drenando os recursos que poderiam ser utilizados para o combate à pobreza, para a restauração ecológica e o aumento da biocapacidade do Planeta.

O relatório “1,5°C – vivo ou morto? Os riscos para a mudança transformacional de atingir e violar a meta do Acordo de Paris”, do Institute for Public Policy Research (IPPR) e da Chatham House, aponta que o mundo corre o risco de cair em um ciclo de catástrofes (“loop doom”) e que os custos para lidar com os impactos crescentes da crise climática e ambiental pode substituir o combate à própria raiz do problema. Evitar um ciclo catastrófico exigiria uma aceitação mais honesta por parte dos políticos dos grandes riscos representados pela crise climática e da perspectiva iminente de ultrapassagem dos pontos de inflexão e da escalada da transformação econômica e social necessária para acabar com o aquecimento global.

O gráfico a seguir mostra uma média móvel de dez anos da temperatura da superfície da Terra, plotada em relação à temperatura média de 1850-1900. Embora seja interessante entender as características dos anos individuais, o aquecimento global é, em última análise, sobre a evolução de longo prazo do clima da Terra. O mundo pode ultrapassar a meta de 1,5º C anual já em 2024, mas a média decenal deve ser atingida em 2034, assim com o patamar decenal de 2º C deve ser ultrapassada em 2060.



O gráfico abaixo apresenta o processo de aumento da concentração de CO2 na atmosfera (curva de Keeling) e os diversos eventos da governança global que foram incapazes de interromper as emissões de gases de efeito estufa. Há 50 anos, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (ou Conferência de Estocolmo), realizada na capital da Suécia, entre 5 e 16 de junho de 1972. Naquela ocasião, a concentração de CO2 na atmosfera estava em 330 partes por milhão (ppm) e a população mundial era de 3,85 bilhões de habitantes. Em 1987, quando o mundo chegou a 5 bilhões de habitantes, foi publicado o Relatório Brundtland (Nosso futuro comum), com a definição clássica do conceito de desenvolvimento sustentável, mas nada foi feito para reduzir de fato as emissões.

Em 1988, o climatologista James Hansen fez um depoimento no Congresso Americano mostrando como o aquecimento global estava se acelerando. Naquele ano a concentração de CO2 estava em 351 ppm. Em 1992, foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, também conhecida como Eco-92 ou Cúpula da Terra, que aconteceu na cidade do Rio de Janeiro de 3 a 14 de junho de 1992, com o objetivo foi debater os problemas ambientais globais. Naquela ocasião a concentração de CO2 tinha passado para 357 ppm.

A 1ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (a COP1) aconteceu na cidade de Berlim em 1995. Dois anos depois, em 1997, aconteceu a COP3, quando foi assinado o Protocolo de Kyoto, no Japão. Naquele ano a concentração de CO2 estava em 367 ppm e a população mundial tinha passado para quase 6 bilhões de habitantes. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, conhecida também como Rio+20, foi realizada entre os dias 13 e 22 de junho de 2012, na cidade do Rio de Janeiro. Naquele ano a concentração de CO2 estava em 396 ppm e a população mundial tinha ultrapassado 7 bilhões de habitantes.



Nos 70 anos da ONU, foi realizado a COP21, quando foi assinado o Acordo de Paris que é um tratado ocorrido no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (CQNUMC). O acordo foi negociado na capital da França e aprovado em 12 de dezembro de 2015. Entre as principais medidas estão a redução das emissões de gases-estufa, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2º C e, preferencialmente, abaixo de 1,5º C, e garantir a perspectiva do desenvolvimento sustentável. Naquele ano a concentração de CO2 já tinham ultrapassado o limiar de 400 ppm.

No final de 2021 foi realizada a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, na cidade de Glasgow, na Escócia. A tarefa mais urgente da COP26 foi traçar metas mais ambiciosas de redução de gases de efeito estufa para evitar um aquecimento global acima de 1,5º C. A concentração de CO2 estava em 419 ppm. Os mesmos desafios permanecem na COP27 do Egito, em 2022, quando concentração de CO2 atingiu 421 ppm no mês de maio e a população mundial alcançou 8 bilhões em novembro. Em 2023, a Índia vai ultrapassar a China como o país mais populoso e o mundo deve ultrapassar 423 ppm em maio.

Assim, a curva de Keeling continua aumentando a despeito de todo o blá-blá-blá da governança global. De fato, as emissões globais de CO2 estavam em 2 bilhões de toneladas em 1900, passaram para 6 bilhões de toneladas em 1950, chegaram a 25 bilhões de toneladas no ano 2000 e atingiram 36 bilhões de toneladas entre 2019. No passado foram os países desenvolvidos que mais emitiram CO2 em função da queima de combustíveis fósseis. Mas no século XXI os países fora da OCDE emitem mais do que os países da OCDE e a soma da China + Índia emite muito mais do que a Europa + EUA. Em consequência do efeito estufa, as temperaturas do Planeta estão subindo e acelerando as mudanças climáticas e seus efeitos danosos sobre a vida na Terra.

O período de 2014 a 2023 deve apresentar os 10 anos mais quente do Holoceno, ou seja, estamos experimentando as temperaturas mais quentes desde a última era glacial. Por conseguinte, o aquecimento global é uma realidade inexorável e as pessoas já começam a perceber a dimensão do problema quando sofrem os efeitos dos furacões, inundações, secas prolongadas, ondas letais de calor, etc. Além disto, há os ciclos de feedback climático e a possibilidade de que eles que possam levar o clima a estágios além dos pontos de inflexão planetários.

Se os feedbacks amplificadores (como a degradação do permafrost e o degelo da Antártida) forem fortes, o resultado provavelmente será uma mudança climática trágica, indo além de qualquer coisa que os humanos possam controlar por meio da redução das emissões de gases de efeito estufa e do cumprimento dos compromissos assumidos pelos governos no Acordo de Paris de 2015.

A dramaticidade da nova realidade já tem sido documentada em relatórios do Escritório da ONU para Redução de Riscos de Desastres (UNDRR), que mostram que os impactos das mudanças climáticas e do mau gerenciamento de riscos levaram a um aumento das catástrofes “naturais”. O último relatório, lançado no dia 26 de abril de 2022, confirma que, em um curto período de tempo, o mundo assistiu a um aumento sem precedentes do número de catástrofes “naturais”, e a ação humana pode piorar ainda mais o cenário no futuro.

Nas primeiras duas décadas do século XXI, foram registrados, por ano, entre 350 e 500 desastres médios a grandes. Os eventos, variam de queimadas, secas e enchentes a pandemias e acidentes químicos. A crise climática, que gera eventos atmosféricos extremos, são a principal causa do aumento das ocorrências. As catástrofes geraram ao mundo custos de 170 bilhões de dólares em média por ano na última década. A Nova Zelândia, por exemplo, foi atingida, em fevereiro de 2023, pelo furacão Gabrielle, considerado o maior desastre natural do país nesse século.

Segundo o relatório da UNDRR, os governos não fazem o suficiente para melhorar o gerenciamento de risco de desastres, o que deixa a humanidade amplamente despreparada para o que está por vir. Como afirmou Amina J. Mohammed, secretária-geral adjunta da ONU, o rumo que seguimos atualmente está colocando a humanidade numa “espiral de autodestruição”. Nas projeções do relatório, os desastres podem aumentar para 560 por ano até 2030, ou seja, cerca de 1,5 por dia. Adicionalmente, o aumento do nível do mar deve afetar cerca de 1 bilhão de pessoas que vivem em áreas costeiras e ameaça provocar um êxodo de proporções bíblicas, como afirmou o Secretário-geral da ONU, António Guterres, em fevereiro passado.

No Brasil, em 2022, pelo menos 457 pessoas morreram em desastres causados pelas chuvas no Sul da Bahia, em Minas Gerais, no interior de São Paulo e na Região Serrana do Rio de Janeiro. Os danos da destruição passada ainda não foram totalmente remediados e outros desastres colocam novos desafios. Um ano depois da calamidade de Petrópolis, o litoral norte de São Paulo foi atingido por chuvas torrenciais e inundações, que afetaram, principalmente, a cidade de São Sebastião, em pleno carnaval, com grande fluxo de turistas. Em 15h choveu mais que o dobro da média de fevereiro, em São Sebastião e Bertioga. O choque de umidade e calor vindos da região amazônica com uma frente fria na serra do Mar provocou a tempestade, que pode ser classificado como um “evento climático extremo”, potencializado pelo aquecimento global.

Os parcos recursos financeiros não têm sido suficientes sequer para a redução dos danos imediatos. Assim, a solução adequada e definitiva dos problemas ecossociais é deixada para as calendas gregas. As palavras que resumem o quadro geral do ciclo de catástrofes são: policrise e permacrise. Permacrise significa “um estado de crise permanente” ou “um período prolongado de instabilidade e insegurança”. Policrise significa “uma multiplicidade de crises simultâneas”. Essas crises convergentes tendem a se alimentar umas das outras e provocar situações de colapso ambiental e social.

Por isso, o relatório, “1,5°C – vivo ou morto?”, diz: “Este é um ciclo de destruição: as consequências da crise climática e ambiental atraem o foco e os recursos para combater suas causas, levando a temperaturas mais altas e perdas ecológicas, que então criam consequências mais graves, desviando ainda mais atenção e recursos, e assim por diante, dando continuidade à inação que alimenta o ciclo de catástrofes”.

José Eustáquio Diniz Alves
Doutor em demografia, link do CV Lattes:
http://lattes.cnpq.br/2003298427606382

Referências:

Laurie Laybourn, Henry Throp, Suzannah Sherman. 1,5°C – vivo ou morto? Os riscos para a mudança transformacional de atingir e violar a meta do Acordo de Paris, IPPR, Chatham House; February 2023

https://www.ippr.org/research/publications/1-5c-dead-or-alive

ALVES, JED. Crescimento demoeconômico no Antropoceno e negacionismo demográfico, Liinc em Revista, RJ, v. 18, n. 1, e5942, maio 2022 https://revista.ibict.br/liinc/article/view/5942/5595

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394





Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/02/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/02/27/o-mundo-corre-o-risco-de-ficar-preso-em-um-intenso-ciclo-de-catastrofes/

Roteiros Culturais, Ecológicos e Históricos em Ibirité – MG: possibilidade de experiências educacionais para estudantes de licenciaturas

Roteiros Culturais, Ecológicos e Históricos em Ibirité – MG: possibilidade de experiências educacionais para estudantes de licenciaturas

Gilmara de Souza Gomes Menez1

Vagner Luciano Coelho de Lima Andrade2


A cidade de Ibirité, integrante oficialmente da Grande BH, desde meados da década de 1970, é muito mais que uma cidade dormitório. Residência de 182.153 habitantes, a urbe agrega paisagens urbano-rurais únicas, com múltiplos receptáculos citadinos e camponeses. A cidade foi residência de Helena Antipoff, uma soviética que está sepultada num cemitério da municipalidade, desde agosto de 1974. Foi ela quem fundou a FEER – Fundação Estadual de Educação Rural, numa área rural que foi rapidamente transformada em bairros e vilas, entre a Fundação e a Represa Ibirité (Lagoa da Petrobrás). Eram vários bairros que demandavam por múltiplas políticas públicas. Uma delas foi a criação da Escola Estadual Anexo FEER, transformada em Professora Yolanda Martins, hoje localizada no Lago Azul.

A FEER foi transformada posteriormente em FHA – Fundação Helena Antipoff. Esta fundação, por sua vez criou o ISEAT – Instituto Superior de Ensino Anísio Teixeira, com a oferta inicial de cinco licenciaturas: Ciências Biológicas, Educação Física, Letras/Espanhol, Matemática e Pedagogia. A expectativa era que viessem novos cursos na área da educação, tanto especializações, quanto novas graduações. O ISEAT se localizava na Avenida São Paulo, 3996, Vila Nunes. Posteriormente o ISEAT foi absorvido pela UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais, sendo criado o Campus Ibirité desta IES, e os cinco curso pioneiros continuam a serem regularmente ofertados.

A oferta dos cursos de Artes, Ciências da Religião, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras/Inglês, Letras/Português, Química e Sociologia prossegue sem previsão de oferta. Mas o que se pretende aqui é mesclar a realidade desse campus da UEMG, com a realidade do município que historicamente o acolhe. Assim, por ser referência, há décadas na área de formação de professores, é preciso trazer a cidade como problematização para a prática dos alunos em formação docente, promovendo desde de leituras e discussões até visitas e projetos correlacionados. Uma quantidade significativa de moradores, já cursou ou cursa uma das cinco licenciaturas.

Defende-se aqui a inserção de disciplinas nos currículos vigentes, para versar sobre patrimônios históricos e naturais com a oferta, em caráter obrigatório das disciplinas de Educação Cultural, Educação Ecológica e Educação Histórica. A ideia é criar três roteiros de estudo e visitação na cidade: Roteiro Rola Moça – Roteiro Educacional Ecológico, Roteiro Vargem Pantana – Roteiro Educacional Cultural e Roteiro Helena Antipoff – Roteiro Educacional Histórico. Como mencionado, seria relevante que as três disciplinas sejam de caráter obrigatório nos currículos vigentes das licenciaturas já ofertadas ou novos cursos de formação docente. O projeto pode ser estendido à Escola de Ensino Técnico e Profissionalizante Sandoval Soares de Azevedo, existente dentro do campus.

Rola Moça é a paisagem da água. Situado dentro da região metropolitana, o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça proporciona ao visitante, gostosas oportunidades de desfrutar a natureza junto a uma vegetação muito especial, com paisagens características de Mata Atlântica, Cerrado, Campos de Altitude e Campos Ferruginosos. Em alguns pontos, a topografia possibilita vistas panorâmicas de excelente apelo visual. Os atrativos do parque são mirantes e trilhas para caminhadas. Dos mirantes, têm-se ótimas vistas, uma mais bonita que a outra. Existem ângulos de onde se pode observar a área preservada do Parque e a malha urbana, bom momento para reflexão sobre preservação do patrimônio natural e sobre o crescimento de Belo Horizonte. Os mirantes são: Jatobá, Morro dos Veados, Planeta, Três Pedras. Há Cachoeiras, sendo a principal a das Pitangueiras.

O Parque foi criado para proteger a biodiversidade e seis importantes mananciais de água ali existentes: Bálsamo, Barreiro, Catarina, Rola-Moça, Mutuca e Taboões. Declarados pelo governo estadual como Áreas de Proteção Especial, essas áreas garantem a qualidade dos recursos hídricos e abastecem parte da população da região metropolitana. Para assegurar a proteção desses mananciais, a área correspondente deste espaços não está aberta à visitação pública, somente em alguns casos, com autorização expressa. Estas áreas de mananciais públicos, somente é possível em decorrência de uma formação geológica, o Campo Ferruginoso, composto de canga hematítica, é extremamente raro, sendo encontrado apenas aqui em Minas Gerais, no Quadrilátero Ferrífero, e em Carajás, no estado do Pará. Um grande atrativo do parque, a visita aos Campos Ferruginosos só é permitida com acompanhamento dos monitores do Parque.

Questões de Educação Ecológica, podem ser colocadas pelos participantes, enquanto discentes das licenciatura, e posteriormente como educadores das redes estadual, municipal ou particular: Qual a importância do Parque para Grande BH? Quantos mananciais existem no mesmo, e qual sua importância? O parque abrange quantos municípios? Qual a área do Parque e em quais biomas está inserido? Há uma rodovia asfaltada dentro do parque. Isso está certo? Quais problemas pode trazer? Porque o nome Rola Moça? É uma lenda, poema ou canção? Pelos mirantes é possível ver a cidade vindo na direção da serra? Qual é a área territorial do parque e em que data ele foi criado?

Vargem Pantana é a paisagem da fé. Ibirité, em tupi-guarani significa terra firme/chão duro, bem diferente de seu nome quando era distrito de Capela Nova do Betim, Vargem do Pantana. Visitar os atrativos do Centro, todos de matrizes católicas é perceber a riqueza cultural dos diferentes patrimônios religiosos. É um ensino de respeito, empatia e compaixão pela crença religiosa do outro, mesmo não sendo a mesma religiosidade. Além da Capela de São Judas Tadeu (antiga igreja matriz) entre os Bairros Afonso de Morais e Antônio Amabile destaca-se a Praça da Gruta de Nossa Senhora Aparecida, na confluência das Ruas Alcina Campos Taitson e Afonso de Matos, no Central Park.



Outro lugar simplesmente ímpar é a Estação Ferroviária, que traz a grafia antiga da urbe “Ibiraete”, situada na Rua Arthur Campos, sem número, Bairro Giácommo Aluotto, na Região Central da cidade, inaugurada em 1917, pertencendo ao Ramal Paraopeba da EFCB – Estrada de Ferro Central do Brasil e tombada em 2004, através do decreto municipal n° 1971. O Altar Nossa Senhora das Dores localiza-se na Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças, situada na Rua Vereador Orlando Costa Campos, nº 36, no Bairro Parque Estrela do Sul.

Problematizações pedagógicas de Educação Cultural, a serem empreendidas na área central da urbe: Porque se deve respeitar as outras religiões? Porque espaços religiosos são considerados patrimônios da coletividade? É possível aprender sobre artes, filosofia, história e outras disciplinas visistando um atrativo religioso? Qual seria o impacto da ferrovia na cidade no século XX? Será que houve trem de passageiros transitando por aqui, ou apenas carga? Porque preservar a estação é relevante para a memória municipal?







Helena Antipoff é a paisagem da transformação. Essa grande educadora e psicóloga nasceu em 25 de março de 1892, em Grondho, Bielorússia, e possuía um grande objetivo de revolucionar o processo educacional, focando os seus esforços para trabalhar com alunos portadores de necessidades especiais e com a formação de professoras para lecionarem junto à população rural e não mediu esforços para concretizar seus projetos pedagógicos. Personalidade que marcou de forma determinante à Educação no Estado de Minas Gerais. Em 1955, realizou mais uma etapa de seus sonhos, inaugurando o Instituto Superior de Educação Rural – ISER, com objetivo de formação de professores para as Escolas Normais Rurais. Em 1970, o ISER se transformou em Fundação Estadual de Educação Rural. Em 1972 criou a ADAV – Associação Milton Campos para Desenvolvimento e Assistência a Vocação de Bem Dotados, no Jaçanã, preocupada com a necessidade de introduzir algo para os talentosos do meio rural e suburbano. Helena Antipoff faleceu em Ibirité, aos 09 de agosto de 1974. Está sepultada no Cemitério Municipal do Canal, ao lado da Instiuição que criou. Teve um único filho, Daniel Antipoff (1919-2005), que foi agrônomo, educador e psicólogo.

Na Região do Campus Ibirité vale a pena visitar a Fazenda do Rosário da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Problematizações em Educação Histórica a serem discutidas: Porque Helena Antipoff deixou seu país de origem? Qual foi sua trajetória antes de chegar ao Brasil? Com tantas opções de estados, como ela veio parar aqui em Minas Gerais? Qual foi sua contribuição para a educação inclusiva? Como ela foi pioneira na educação rural, hoje chamada de educação do campo? Qual a dimensão de sua afeição por Ibirité?


1 Guia de Turismo, Graduada em Turismo pela PUC Minas, Mestre em Turismo e Meio Ambiente pelo Centro Universitário UNA. E-mail gilsgm@gmail.com


2 Pesquisador em Patrimônio Cultural, com formação inicial em Geografia, especializações em Políticas Públicas Municipais e Arte Educação; História, especializações em Museografia e Patrimônio Cultural e Metodologia de Ensino de História. Formação Complementar em Artes Visuais, Filosofia, Sociologia e Turismo. Pesquisador em Patrimônio Natural, com formação inicial em Ciências Biológicas, especializações em Ecologia e Monitoramento Ambiental e Metodologia de Ensino de Ciências Biológicas; Gestão Ambiental, especializações em Gestão e Educação Ambiental e Administração Escolar, Orientação Educacional e Supervisão Pedagógica. Formação Complementar em Agroecologia, Ecologia, Educação do Campo e Pedagogia. E-mail: reacao@yahoo.com

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394






Autor: EcoDebate 
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Sítio Online da Publicação: EcoDebate 

Por que o Brasil tem a população mais ansiosa do mundo


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Aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica, segundo OMS


Coração acelerado antes de uma prova, nervosismo em uma reunião importante ou mãos suando no primeiro dia de trabalho. Provavelmente, você já sentiu algum desses sintomas.


Agora, se você está com dificuldades recorrentes para dormir, fica sem ar em uma reunião importante e não consegue se concentrar no trabalho por somente pensar no pior deve ficar atento. O que acredita ser normal pode ser um distúrbio psiquiátrico e exige avaliação médica.


Quando não tratada corretamente, a ansiedade pode virar uma adversidade e desencadear outros transtornos mentais, como a depressão, que acomete aproximadamente 300 milhões de pessoas no mundo, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas).


Aos 19 anos, a estudante Julia de Mello Precioso representa um dos 18,6 milhões de brasileiros que possuem transtorno de ansiedade.


"No começo, me sentia desmotivada, meu coração ficava extremamente acelerado, tinha falta de ar, mudanças drásticas de humor. Mas ao passar do tempo esses sintomas foram aumentando e chegou no ponto deu somente chorar e não ter vontade de socializar."


Histórias como a dela estão sendo cada vez mais comuns no mundo, principalmente, após a pandemia do coronavírus. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que no primeiro ano da pandemia de Covid-19, a prevalência global de ansiedade e depressão aumentou em 25%.


"Uma das principais explicações para esse aumento é o estresse sem precedentes causado pelo isolamento social decorrente da pandemia, além das restrições à capacidade das pessoas de trabalhar, busca de apoio de familiares e vida social ativa. A solidão, medo de se infectar, sofrimento e morte de pessoas próximas foram fatores estressores que levaram à ansiedade e depressão", disse Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).


De acordo com o último grande mapeamento global de transtornos mentais, realizado pela OMS, o Brasil possui a população com a maior prevalência de transtornos de ansiedade do mundo.


Para se ter uma ideia, aproximadamente 9,3% dos brasileiros sofrem de ansiedade patológica. Em seguida, aparece o Paraguai (7,6%), Noruega (7,4%), Nova Zelândia (7,3%) e Austrália (7%). 


Índice elevado de desemprego, recorrentes mudanças no rumo da economia e falta de segurança pública são apontados por especialistas ouvidos pela BBC Brasil como principais fatores para a alta prevalência de transtornos de ansiedade na população.


"O Brasil tem uma alta taxa de violência, que faz muitas pessoas saírem de casa com o receio de serem assaltadas. Receio que gera ansiedade", apontou Rafael Boechat, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB).


Especializada em acolher pacientes com transtornos mentais, a psicóloga Adriana Botarelli conta que as próprias dificuldades econômicas contribuem para o alto número de pessoas ansiosas.


"A maior parte da população do Brasil tem pouco acesso a serviços de saúde mental, muitas horas de trabalho por dia, inseguranças quanto ao futuro e pouca qualidade de vida. Todos esses fatores trazem sentimentos de medo, preocupação e angústia."


Já Gerardo Maria de Araújo Filho, professor do departamento de ciências neurológicas, psiquiatria e psicologia médica da Faculdade de Medicina de Rio Preto (Famerp), acredita que o uso excessivo de computadores e smartphones também explica a alta prevalência de ansiedade no Brasil.


"A rede social gera uma série de cobranças nas pessoas. Você praticamente começa a querer ser magro e esportista como o influenciador."


Um estudo realizado pela Canadian Journal of Psychiatry comprovou que, quanto maior o uso de telas, maior o nível de ansiedade.


Ao mesmo tempo, um relatório lançado pela empresa de análise de mercado digital App Annie apontou que o Brasil lidera o pódio dos países com pessoas que mais passam tempo conectadas.


Para se ter uma ideia, o brasileiro passa, em média, quase cinco horas e meia por dia diante de seus aparelhos.


Trata-se, ao lado da Indonésia, do maior volume de uso de celulares entre os 17 países analisados no relatório (que também engloba Coreia do Sul, México, Índia, Japão, Turquia, Singapura, Canadá, EUA, Rússia, Reino Unido, Austrália, Argentina, França, Alemanha e China), com base em dados coletados das lojas online iOS App Store, Google Play e outras.

Crianças são mais vulneráveis


Entre as faixas etárias mais vulneráveis a ter o diagnóstico de transtorno de ansiedade, crianças e adolescentes aparecem na liderança.


Contudo, especialistas ouvidos pela BBC News Brasil ressaltam que todas as pessoas ao decorrer da vida são suscetíveis a ter o diagnóstico de algum transtorno de ansiedade.



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Crianças e adolescentes estão mais vulneráveis


João*, por exemplo, adorava brincar com os amigos, ir para a escola e passear com a família. Com a pandemia, tudo mudou e o menino de 13 anos precisou ficar mais tempo recluso em casa.


Foi quando a mãe percebeu o adolescente mais irritado, medroso e com preocupações excessivas. Era os primeiros sintomas da ansiedade patológica.


"Minha mãe percebeu que realmente precisava de ajuda quando comecei a me isolar e não sentir mais vontade de fazer atividades que gostava. Passei a ter um receio enorme que algo ruim iria acontecer, como alguém da minha família adoecer", relata o adolescente.


Assim como João* diversos outros jovens foram diagnosticados, em 2022, com ansiedade no Brasil.


Um mapeamento feito pela Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, em parceria com o Instituto Ayrton Senna, mostrou que 69% dos estudantes da rede estadual paulista relataram ter sintomas de ansiedade ou depressão durante as atividades remotas impostas pela pandemia.


"A ansiedade é mais comum na infância e adolescência, porque a pessoa ainda não conhece o mundo. É uma fase que o ser humano ainda está em desenvolvimento e a criança está extremamente vulnerável ao que acontece. Assim, uma briga dos pais em casa, por exemplo, pode despertar um quadro de ansiedade no filho", afirma Gerardo Maria de Araújo Filho, professor da Famerp.


Ênio Roberto de Andrade, diretor do Serviço de Psiquiatria da Infância e Adolescência do Hospital das Clínicas de São Paulo diz que, geralmente, o sinal de alerta indicando não ser uma ansiedade normal, mas um transtorno de ansiedade é a influência dos sintomas na vida da pessoa.


"O tratamento mais indicado para a ansiedade na infância e adolescência é a terapia cognitiva comportamental (TCC), caso ela não funcione associa-se tratamento farmacológico. Em adulto, também vale iniciar com TCC, entretanto, geralmente o início com farmacoterapia é muito frequente", pontuou.

Como evitar um transtorno de ansiedade



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Um dos grandes desafios no combate as altas taxas de ansiedade é o forte estereótipo existente sobre os transtornos mentais


Pesquisas apontam que a ansiedade patológica está diretamente relacionada ao processo de aprendizado, ambiente que o indivíduo está inserido ou fatores genéticos do paciente.


Em alguns casos, como no processo de aprendizado, ela pode ser evitada a partir da orientação de pais e educadores.


"Um exemplo são mães que não deixam o filho fazer um inúmeras coisas por medo de que ele se machuque", explicou Ênio.


Na parte ambiental, a recomendação para diminuir as chances de crianças terem ansiedade patológica é o de preparar um ambiente menos ansiogênico, ou seja, sem "gatilhos".


Em contrapartida, quando a ansiedade é oriunda de fatores genéticos não há o que fazer para evitar, mas apenas procurar orientação médica.


"Sempre que os sintomas começam a atrapalhar a vida da pessoa, é a hora de buscar um psiquiatra para uma avaliação do quadro. Ansiedade e tristeza são características normais do ser humano, mas a partir do momento em que nos impedem de sair de casa, trabalhar, levar uma vida social ativa, nos relacionar com outras pessoas, devemos procurar auxílio", afirmou Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).

Psicofobia atrapalha


Um dos grandes desafios no combate as altas taxas de ansiedade é o forte estereótipo existente sobre os transtornos mentais. No Brasil, o preconceito em relação a pessoas que sofrem com distúrbios psiquiátrico é conhecido como psicofobia.


Jorge* lembra bem de quando teve sintomas do transtorno de ansiedade na adolescência e encontrou resistência dentro de casa para procurar ajuda especializada.


"De início, minha mãe me levou em um centro espírita. Meio que relutou em me levar no médico, mas como os sintomas persistiram marcamos uma consulta com um psiquiatra. Foi quando descobri que estava com transtorno de ansiedade."


A psicóloga Adriana Botarelli acredita que desmitificar a saúde mental e popularizar a ideia de procurar ajuda especializada é o caminho para o Brasil conseguir superar a alta incidência de ansiedade.


"Muitas pessoas ainda consideram tabu falar sobre transtornos mentais e acabam não cuidando de transtornos, seja por medo de serem chamados de 'loucos' por fazer tratamento psicológico e psiquiátrico, ou ainda por medo de medicação, acreditando que ficarão viciados ou sedados."



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Já Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), afirma que o ideal é que desde cedo crianças e adolescentes possam falar abertamente sobre saúde mental nas escolas e em casa, para que cresçam sem o estigma recorrente entre pessoas idosas.


"Precisamos de políticas públicas que estimulem os cuidados e a quebra desse estigma. Somente desta forma o portador de doença mental poderá viver de forma independente e autônoma, tendo oportunidades de trabalho, perseguindo suas metas e usufruindo de oportunidades com dignidade e plena inserção social", falou Silva.


Para quem convive com a ansiedade, atualmente, de forma harmônica, o segredo é não negar os seus sentimentos.


"Hoje, voltei a praticar exercícios físicos, consigo controlar mais meus pensamentos e identificar quando estou ansiosa. A ajuda de um profissional e força de vontade são cruciais", afirmou Julia.


Já Gerardo afirma que mais importante do que frequentar a terapia é o paciente reconhecer como usar a ansiedade ao seu favor.


"A grande questão não é ter ou não a ansiedade, mas a intensidade dela. Eu sempre falo que de 0 a 10, uma ansiedade 3 a 3,5 é uma ansiedade 'do bem'. Que é aquela dose de ansiedade que precisamos para realizar nossas atividades. Quando passa disso já é um sinal de alerta."

Tipos de transtornos ansiosos


Transtorno de ansiedade generalizada: tem como principal característica a preocupação excessiva e generalizada sem motivos óbvios em situações do dia a dia. Ou seja, o paciente fica sempre antecipando que algo de ruim vai acontecer, permanecendo em um estado de constante preocupação.


Transtorno de pânico: tem como principal característica uma sensação de medo intensa e repentina seguida por sintomas físicos (aceleração dos batimentos cardíacos e da respiração, suor frio, falta de ar, tontura, tremores, entre outros). Esses episódios podem acontecer a partir de qualquer momento, durando até 30 minutos.


Transtorno de ansiedade social: quem tem transtorno de ansiedade social, ou fobia social, tem intensa dificuldade em interagir com outras pessoas. Isso pode se referir desde a uma conversa com um grupo ou até mesmo a apresentação de um trabalho para a turma em ambiente de ensino. Dessa forma, o gatilho para o surgimento dos sintomas típicos da ansiedade costuma transitar na área da socialização. Dessa forma, a fobia social contribui pra que o paciente busque se isolar cada vez mais, evitando as suas fontes de angústia.


Agorafobia: é o transtorno de ansiedade relacionado a estar em situações ou locais sem uma maneira fácil de escapar. Em geral, trata-se de casos sem um perigo iminente óbvio, mas, mesmo assim, a pessoa se sente angustiada em busca de uma saída. Um dos casos mais comuns de agorafobia costuma ser o de não suportar ficar em locais lotados ou muito fechados, como dentro de um ônibus ou avião. Quem sofre com esse transtorno também costuma não se sentir bem em elevadores e demais espaços pequenos.



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Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT): tem como principal característica as lembranças recorrentes e intrusivas de um acontecimento que foi altamente angustiante para o paciente. Esse episódio traumático pode ser desde um acidente até a morte de um ente querido. O que diferencia o TEPT de um quadro de choque ou tristeza convencional é a prevalência dos seus sintomas, que vão de dificuldades para dormir até hipervigilância.


Transtorno de estresse agudo: a principal diferença do transtorno de estresse agudo para os demais tipos de ansiedade é que ele geralmente ocorre a partir da vivência ou testemunho de um evento traumático específico. Assim, o paciente fica revivendo aquele acontecimento e se angustiando com ele de maneira constante. Por ser um quadro agudo, ele não costuma durar muito tempo. Em até um mês, os sintomas geralmente se amenizam. No entanto, ainda assim é válido obter o diagnóstico de um especialista para avaliar o caso e contar com o tratamento adequado.


Mutismo seletivo: se caracteriza principalmente pela incapacidade de se comunicar verbalmente em situações sociais. O caso é diferente da fobia social, ou transtorno de ansiedade social, porque geralmente costuma cessar antes da adolescência ou vida adulta.


Transtorno de ansiedade de separação: aquela sensação de ter saudades de casa pode se manifestar de maneira muito mais grave na forma do transtorno de ansiedade de separação. Nesse caso, o paciente passa por sensações de angústia e desespero ao se separar de um ambiente que considera familiar e agradável.


Transtorno de ansiedade induzido por substância: o uso de substâncias específicas também pode ocasionar quadros de transtorno de ansiedade. Isso vale desde o caso de medicamentos convencionais até drogas perigosas, como é o caso de cocaína, heroína, maconha, entre outras.


*A reportagem resguardou os nomes verdadeiros de João e Jorge.

- Este texto foi publicado em

https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4ne681q64lo





Autor: Rone Carvalho
Fonte: São José do Rio Preto (SP) para a BBC Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 27/02/2023
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/c4ne681q64lo

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

Editora Fiocruz comemora 30 anos com abertura de submissão de originais

Dando início às comemorações de seus 30 anos, a Editora Fiocruz recebe até 1º de março manuscritos acadêmicos e autorais em seus variados temas de atuação.



Os originais podem ser apresentados por pesquisadores e professores brasileiros ou estrangeiros. Serão selecionados pelo comitê indicado pelo Conselho Editorial até cinco manuscritos, a serem publicados no decorrer de 2023, com o selo indicativo desta chamada.

Os critérios para seleção pautam-se na qualidade e originalidade e nas inovações temáticas, didáticas, teóricas ou metodológicas dos textos.

Para efeito desta chamada, serão considerados manuscritos de um a três autores que abordem temas em saúde pública/saúde coletiva, ciências biológicas e biomédicas, pesquisa clínica em saúde, e ciências sociais e humanas em saúde. Coletâneas de textos ou livros organizados não serão analisados.

Veja mais informações sobre esta chamada na página da Editora Fiocruz.





Autor: Luiza Trindade (Editora Fiocruz)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 23/02/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/editora-fiocruz-comemora-30-anos-com-abertura-de-submissao-de-originais-0

Comitê do Mercosul discute na Fiocruz aumento da produção de medicamentos

Mais de um ano após a última reunião presencial, representantes de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai no Comitê Ad Hoc Para Promover a Expansão da Capacidade Produtiva Regional de Medicamentos, Imunizações e Tecnologias em Saúde (CAHECPR) se encontraram na Fiocruz, no dia 16 de fevereiro, em busca de ações estratégicas para problemas comuns. O evento não se limitou a discutir as deficiências que ficaram claras durante a pandemia de Covid-19: ele mostrou que uma atuação conjunta poderá fortalecer os países e dar frutos além de suas fronteiras; a necessidade de incorporar a questão de medicamentos, soros e vacinas para doenças negligenciadas às iniciativas do grupo; e a importância da produção em escala.


Representantes de Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai no Comitê Ad Hoc Para Promover a Expansão da Capacidade Produtiva Regional de Medicamentos, Imunizações e Tecnologias em Saúde se encontraram, na última quinta-feira (16/2), na Fiocruz (foto: Peter Ilicciev)

Criado em 2021, o CAHECPR busca analisar e mapear as capacidades produtivas, de pesquisa e desenvolvimento dos quatro países, além de propor iniciativas para melhorar o acesso a medicamentos, vacinas e tecnologias. A realização da 6ª Conferência Global de Ciência, Tecnologia e Inovação (G-Stic Rio), deu a oportunidade de organizar uma reunião satélite e elaborar “uma rota” de atuação. Representante do Brasil no comitê, o vice-presidente da Produção e Inovação em Saúde (VPPIS/Fiocruz), Marco Krieger, destacou o momento favorável para debater o assunto: unindo o aprendizado da pandemia e uma retomada da força do próprio Mercosul.

“Devemos sair deste encontro com uma listagem de produtos importantes para os nossos países, para organizarmos nosso trabalho com base numa visão estratégica dessa demanda”, disse Krieger, que estava ainda como presidente em exercício na ausência de Mario Moreira. “E estamos ampliando a discussão que começamos com medicamentos sintéticos para outros insumos, vacinas e kits diagnósticos”, acrescentou no auditório do CDHS.

Doenças sem fronteiras

Representando a Argentina, que ocupa a presidência pró-tempore do Mercosul, Pascual Fidelio reforçou que no bloco “não há pequenos ou grandes” e que “os problemas não têm fronteiras”. Ele destacou que a produção de medicamentos e insumos não é nova na região, lembrando os 122 anos da Fiocruz e o trabalho que na Argentina remonta às décadas de 40 e 50 do século passado. Assim como outros membros, ele destacou a necessidade de desenvolver trabalhos a médio e longo prazos que resistam às mudanças políticas. “Podem passar governos e políticos, investimentos podem cair, mas creio que teremos resultados a mostrar. Como disse Krieger na G-Stic, muitos falam de problemas. Estamos aqui para falar de soluções”, disse Fidelio, que dirige a Administração Nacional de Laboratórios e Institutos de Saúde Dr. Carlos G. Malbrán (Anlis).

Daniel Perez, da Divisão de Vigilância Sanitária do Paraguai, destacou a necessidade de seu país participar da comissão, embora ainda não tenha laboratórios públicos de produção. “Nossa participação é importante tanto do ponto de vista regulatório, como de fortalecimento de capital humano. Esperamos ter laboratórios públicos de produção no futuro. Estar aqui e trocar experiências com países produtores de vacinas e IFAs é enriquecedor”, disse.

Isabel Slepak - que falou em nome da representante do Uruguai, Leticia Perdomo, que não pôde comparecer - ressaltou a necessidade de promover o fortalecimento regional da produção de vacinas. “Por tudo o que vivemos na pandemia, é importante a atuação deste grupo, é importante compartilhar experiências. Espero que essa reunião dê frutos”, disse a diretora do Departamento de Medicamentos do Ministério de Saúde Pública uruguaio.

Modelo sustentável

O evento foi dividido em painéis, seguido por uma reunião dos membros do comitê no fim do dia. Kleber Barros trouxe a perspectiva do Ministério da Saúde brasileiro. Ele enfatizou que existe uma janela de oportunidades, mas que ela transita num campo complexo, que envolve questões regulatórias, necessidade de capacitação de alto nível e desenvolvimento de tecnologias. “Uma estratégia industrial demanda tempo. Precisamos ver os avanços que tivemos e o que podemos melhorar para torná-las efetivas.” Barros apontou desafios como a dependência da produção estrangeira, identificar os melhores modelos de cooperação, discutir a propriedade intelectual e a redistribuição geográfica das capacidades produtivas. “Precisamos preparar a região para fornecer aos nossos países respostas rápidas e efetivas a pandemias e emergências”, disse. “Um projeto que seja sustentável mesmo em momentos não pandêmicos.”

Presente na reunião, a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) ofereceu apoio. Tomas Pippo, assessor regional para Políticas Farmacêuticas e Inovação, destacou as desigualdades na Covid-19. “A pandemia mostrou a alta dependência da América Latina numa questão em que a tecnologia está nas mãos de poucos. No mercado de vacinas, três empresas detêm mais de 50% de mercado, e a primeira tem acima de 10%.” Pippo destacou que é importante sanar o desabastecimento de medicamentos, como aqueles para terapias intensivas, e resgatar a confiança no sistema de saúde. “É particularmente grave quando se tem imunizantes e a população não aceita se vacinar.” Sobre a vacina de mRNA para Covid-19, que terá na Fiocruz e na empresa argentina Sinergium Biotech hubs para a região, ele destacou o modelo colaborativo adotado, de transferência de tecnologia diferente do tradicional, sem ter o lucro como objetivo.

Sonia damasceno, da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais do Ministério da Saúde (Aisa), falou sobre a importância do comitê e dessa segunda reunião presencial como espaço de cooperação, sugerindo ir além do Mercosul. Mediando aquela mesa, Jorge Costa, assessor da VPPIS, ressaltou que a primeira porta que se abriu para essa estratégia de fortalecimento da base produtiva e desenvolvimento tecnológico foi a do Mercosul, mas que ela não se restringe ao bloco, podendo ser expandida para América Latina e Caribe.

O painel sobre as capacidades tecnológicas e produtivas de Brasil e Argentina reuniu não só Fidelio, como trouxe Mauricio Zuma, diretor do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz), e Ricardo Neves Oliveira, gerente de produção do Instituto Butantan. Zuma ressaltou que a pandemia mostrou a importância da produção local para não ficar nas mãos de multinacionais. Ele destacou que a produção de biológicos é complexa, que envolve capacitações e um ecossistema de educação, ciência e tecnologia para o qual parcerias são importantes. “A gente encontra profissionais muito qualificados, mas nem sempre prontos para as nossas competências. Por isso temos um mestrado em tecnologia de imunobiológicos, com resultados excelentes. São projetos fundamentais, mas com resultados a longo prazo.”

Zuma lembrou ainda que a indústria de biológicos precisa de escala de produção devido aos altos custos. Além de atender a 41% das necessidades do Programa Nacional de Vacinações (PNI), Bio-Manguinhos exporta vacinas, como a de febre amarela através das Nações Unidas para América Latina, África e alguns países da África. “Nem sempre a escala é garantida só pelo Ministério da Saúde. Temos que buscar atender outros mercados, principalmente em nossa região.”

Bio-Manguinhos produz 13 vacinas, sendo que somente de Covid-19 foram entregues 210 milhões de doses ao Ministério da Saúde, além de testes e reagentes. A capacidade da Fiocruz deverá aumentar quando estiver pronto o Complexo Industrial de Biotecnologia em Saúde, no Campus Santa Cruz, com capacidade para produzir 120 milhões de frascos de vacinas e biofármacos por ano.

O Butantan trouxe a experiência em soros, vacinas e educação. Oliveira mostrou interesse em contribuir não só nas ações no bloco, como também com América Latina e África. O instituto produziu 124 milhões de vacinas em 2022, além de mais de 600 mil frascos de soro. Ele está também desenvolvendo vacinas para dengue e chicungunya, com a expectativa de alcançar o registro em dois anos. No que classificou como “as dores da pandemia”, Oliveira lembrou da dependência do Brasil em relação aos países desenvolvidos para a obtenção de equipamentos como filtros, bolsas, mangueiras. Outro problema é a retenção de mão de obra altamente qualificada que, depois de treinada, muitas vezes vai para a iniciativa privada ou para o exterior. Oliveira sugeriu ainda um alinhamento regulatório entre os países para facilitar a colaboração regional.

Já Fidelio pontuou que a Argentina tem quatro candidatas a vacina de Covid sendo desenvolvidas por laboratórios públicos e privados, e que somente 10% dos laboratórios locais produzem IFA. Ele destacou ainda a necessidade de trabalhar em medicamentos estratégicos para câncer, doenças degenerativas e negligenciadas, como leishmaniose. Ana Lia Allemand, diretora da Agência Nacional de Laboratórios Públicos (Anlap) da Argentina, contou que o país tem também investido em bolsas de estudos em doutorado e pós-doutorado em linhas estratégicas em saúde, como doenças negligenciadas e canabis.

Susto e oportunidade

No último painel, representantes da Associação Brasileira da Indústria de Insumos Farmacêuticos (Abiquife) e da Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina) falaram da capacidade do setor. Norberto Prestes, presidente executivo da Abiquife, disse que o mercado de IFA movimenta US$ 200 bilhões e tende a crescer 60% até 2028. “Quando se olha o cenário, parece não ter saída para nós. Sete por cento do consumo global de IFA estão na região, enquanto somente 1,6% da indústria farmoquímica está aqui. São 13 no Brasil, 16 na Argentina, 834 na China e 107 nos EUA. Na década de 90, tínhamos oito empresas produzindo antibióticos. Hoje é zero. Os números assustam, mas estudando o mapa mais a fundo, vemos a possibilidade de produzir na América Latina com números mais baixos. Está na hora de discutir em bloco e buscar soluções”. Como vantagem, ele indicou que os atritos entre EUA/China e a guerra entre Ucrânia e Rússia poderiam fazer a Europa voltar seu olhar para a região.

Soalheiro, da Abifina, destacou a necessidade de construir políticas de Estado, e não de governos, que resistam às mudanças políticas. Um estudo da Fiocruz com a Abifina mostrou que 77% dos produtos estratégicos para o Brasil não possuem fabricantes de insumos nacionais. A partir do estudo foi criada uma cesta de moléculas, levando em conta patentes prestes a expirar, os IFAs mais vendidos, medicamentos essenciais, a portaria de insumos estratégicos e a viabilidade de produção.

Para Krieger, a reunião do CAHECPR deixa encaminhamentos a serem tomados. No campo dos imunobiológicos, os projetos do Hub de mRNA e a transferência da vacina de febre amarela para o Anlis serão priorizados. Já na produção de IFAs, algumas oportunidades de trabalho complementar foram priorizadas a partir dos levantamentos liderados por Fiocruz, Abifina e Abiquifi, e a listagem dos medicamentos estratégicos também está sendo revisada. A ideia é apresentar o plano de trabalho conjunto já em junho deste ano na reunião dos ministros de Saúde do Mercosul.

O esforço da região começa a ser notado no exterior. “Fomos procurados na G-Stic para conversar sobre a possibilidade de parceria com a Europa, num possível apoio às nossas iniciativas. É importante mostrar ao mundo que o nosso trabalho é sério”, disse Krieger.







Autor: Cristina Azevedo (Agência Fiocruz de Notícias)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 17/02/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/comite-do-mercosul-discute-na-fiocruz-aumento-da-producao-de-medicamentos

Projeto busca relatos de experiências no SUS

A equipe do projeto VideoSaúde e IdeiaSUS está convocando projetos de todas as regiões do Brasil para relatar suas experiências na Plataforma IdeiaSUS, no intuito de que os relatos fiquem disponíveis e preservados no acervo, criando pontes entre serviços e trabalhadores do SUS para seu fortalecimento e memória. Para saber como incluir as práticas no site do IdeiaSUS, é necessário se cadastrar como usuário e criar uma conta. Há um tutorial disponível, que explica detalhadamente todo o procedimento.



A produção da série Clínicas da família e SUS, segundo a equipe do projeto, tem servido para capilarizar e divulgar distintas ações do SUS e seus profissionais. Como mostra a mensagem contando sobre projeto realizado na Paraíba:

“Sou Cristiane Cosmo Silva Luis, nutricionista e doutoranda em Ciências da Nutrição, na Universidade Federal da Paraíba-UFPB. Meu orientador é o nutricionista pesquisador Prof. Dr. José Luiz de Brito Alves. O meu projeto de pesquisa está sendo desenvolvido com crianças obesas em escolas municipais de João Pessoa-PB. Realizo a intervenção com as crianças de Educação Alimentar e Nutricional e exercícios físicos, avalio antes e após da intervenção a microbiota intestinal, perfil inflamatórios, consumo alimentar Rec24h, frequência de consumo de alimentos açucarados, gorduras e industrializados e outras variáveis envolvendo a gestação e infância das crianças.

O meu projeto faz parte de grande projeto aprovado no Programa Pesquisa para o SUS (PPSUS). Vi um dos curta metragens da Fiocruz, gostaríamos de fazer algo assim com a nossa pesquisa/ projeto. Vocês poderiam nos fornecer subsídios para realizarmos a filmagem?”.

Sobre a série Clínicas da família e SUS

A série Clínicas da família e SUS, produzida pela VideoSaúde em parceria com o IdeiaSUS, terá vários episódios exibidos pelo canal Futura em 2023. Os curta-metragens retratam diferentes ações e ofícios desenvolvidos em clínicas da família no chamado Subúrbio da Leopoldina, no Rio de Janeiro. Em TerritórioRua, uma unidade básica de saúde mostra um caminho de mudança no acolhimento de pessoas em situação de rua. Em Construtoras de caminhos, a câmera acompanha o cotidiano do Núcleo de Atenção Interdisciplinar do Desenvolvimento Infantil (Naidi), que atende crianças com diferentes deficiências. Já CorpoAlma revela como o grupo interdisciplinar de reeducação alimentar e obesidade funciona como um espaço de acolhimento, orientação qualificada, valorização e empoderamento de mulheres.

IdeiaSUS: acervo conta com mais de 2 mil práticas do SUS

O IdeiaSUS é uma iniciativa da cooperação técnica entre a Fiocruz, o Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems), no âmbito da Rede de Apoio à Gestão Estratégica do SUS. Conta, atualmente, com mais de 2.300 práticas e inovações. Tem como objetivo identificar, reunir e disponibilizar um banco de “práticas e soluções” em Saúde e Ambiente. Parte do princípio que a troca de experiências, “exitosas ou não”, são essenciais ao processo de consolidação e fortalecimento do SUS. Mais de 800 municípios brasileiros têm práticas descritas no IdeiaSUS.

Repositório Audiovisual de Práticas do IdeiaSUS

O projeto também faz parte do Repositório Audiovisual de Práticas do IdeiaSUS, no canal da VideoSaúde no YouTube, onde também se encontram os vídeos sobre o Ambulatório de Atenção à Saúde da População Travesti e Transexual João Walter Nery, em Niterói (RJ); as estratégias de integração e qualificação do cuidado em saúde da Rede de Saúde do município de Quissamã, no Rio de Janeiro; e as oficinas terapêuticas de cuidado em saúde mental, promovidas em Lajeado (RS).

Unidades básicas de saúde visitadas - Os curtas da série Clínicas da família e SUS foram desenvolvidos no âmbito de uma série de visitas da equipe do IdeiaSUS a unidades básicas de saúde da região de Atenção Primária 3.1 no Rio de Janeiro. Foram visitadas mais de 30 unidades, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022, para mapeamento de suas atividades e apresentação da Plataforma IdeiaSUS. O projeto segue incorporando práticas da região no IdeiaSUS. Agora, dos centros de atenção psicossocial da região.

A AP 3.1 localiza-se no entorno do eixo da Estrada de Ferro da Leopoldina e congrega seis regiões administrativas: Ramos, Penha, Vigário Geral, Ilha do Governador, Complexo do Alemão e Complexo da Maré. O conjunto de bairros da AP 3.1 abriga, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE, mais de 1 milhão de mil habitantes. Trata-se de uma população composta majoritariamente por jovens adultos – um terço do total está na faixa etária de 20 a 39 anos – e com 13% acima dos 60 anos. A AP 3.1 possui 186 equipes de Saúde da Família, 58 equipes de Saúde Bucal e sete Núcleos de Apoio à Saúde da Família.

“Há muitas inovações e boas iniciativas concluídas e em andamento nas unidades básicas. Essas práticas precisam ser compartilhadas e capilarizadas. Indicam um SUS vivo e presente na vida das pessoas”, cometa Wagner de Oliveira, da equipe do projeto VideoSaúde e IdeiaSUS.

Outros documentários da série disponíveis na Plataforma de filmes da VideoSaúde

TerritórioRua

Eles não têm CEP. Vivem onde as pessoas estão apenas de passagem. Ruas, calçadas, jardins, bancos de praças, abaixo de marquises e viadutos. Em escadas e vãos ao relento que levam a portas fechadas. São, muitas vezes, invisíveis. Uma unidade básica de saúde mostra um caminho de mudança neste estado de coisas.

Construtora de Caminhos

O cotidiano do Núcleo de Atenção Interdisciplinar do Desenvolvimento Infantil (Naidi) que atende crianças com diferentes deficiências. O serviço atravessa a vida dos pacientes e seus familiares e revela a importância do SUS e de seus profissionais e ofícios para a vida de milhares de famílias que necessitam do mesmo tipo de cuidado e acolhimento. A câmera entra na rotina do Naidi, ouve quem participa e atende e mostra os elos entre uma unidade básica de saúde e as pessoas.

CorpoAlma

O grupo interdisciplinar de reeducação alimentar e obesidade da Clínica da Família Augusto Boal, no Rio de Janeiro, é muito mais do que um espaço de controle da obesidade e de reeducação alimentar. É um lugar de acolhimento, reconhecimento e pertencimento. Do corpo e da alma. Ao mesmo tempo que se perde peso, amplia-se a autoestima. Os cuidados com si mesma. De atenção ao espaço-tempo da mulher. Um retrato sem retoques do conceito ampliado de saúde.






Autor: Icict/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 23/02/2023
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/projeto-busca-relatos-de-experiencias-no-sus

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2023

Qual clube de futebol é o mais sustentável e ecológico do mundo?



Qual clube de futebol é o mais sustentável e ecológico do mundo?
Um cardápio vegano, camisetas feitas de bambu, um campo orgânico, um estádio 100% movido a energia renovável… em menos de uma década, o Forest Green Rovers se tornou o primeiro clube de futebol neutro em carbono do mundo.

Já em uma liga própria quando se trata de sustentabilidade no esporte, o inovador clube de futebol inglês Forest Green Rovers agora está testando um uniforme feito de resíduos de grãos de café.

“Temos trabalhado com a PlayerLayer em busca de materiais mais sustentáveis ​​para camisas depois que descobrimos que o padrão para uniformes esportivos modernos se tornou 100% plástico, o que não fazia muito sentido para mim do ponto de vista ambiental ou de desempenho”, disse Dale Vince, presidente do clube.


“Nós viemos com a opção de utilizar o bambu e desde então eles estão procurando por versões mais sustentáveis ​​e então vieram com a ideia do café há alguns meses.”

Os Rovers são hoje reconhecidos pela FIFA como o “clube de futebol mais verde do mundo” com Vince, campeão da iniciativa Sports for Climate Action das Nações Unidas, esperando que mais clubes de futebol avancem em direção a uma maior sustentabilidade. Enquanto alguns times de futebol e campeonatos estão focados em patrocínios e publicidade com os melhores sites de apostas, os Rovers focam 100% na ecologia.

Desde que se tornou presidente em 2011, Vince colocou a sustentabilidade no centro da vida do clube. Toda a comida do dia do jogo é vegana, o campo do Innocent New Lawn é orgânico e cortado por cortadores de grama elétricos e irrigado com água reciclada, e o clube é alimentado 100% por energias renováveis.

Um ônibus elétrico da equipe também está em andamento, enquanto o “projeto monstro” de Vince é um estádio de madeira ecológico.

Jogar com camisetas compostas por três xícaras de resíduos de feijão e cinco garrafas plásticas, diz Vince, pode dar aos jogadores do Forest Green uma vantagem competitiva, já que testes de laboratório mostraram que elas são mais leves e respiráveis.

E diz que também vai aumentar a conscientização sobre o desperdício na indústria do vestuário.

“Essas camisetas são mais sustentáveis ​​porque, embora o bambu seja renovável e você possa cultivar mais, o café é um resíduo e as camisetas serão totalmente recicladas”, disse Vince.

“Temos que melhorar a ética da fabricação de roupas e a sustentabilidade dos materiais, e temos que usar menos, por isso estamos trocando apenas um dos nossos três kits a cada ano.”

Embora a indústria do futebol não seja conhecida por seu foco na sustentabilidade, as coisas estão mudando com o Arsenal e o Southampton elogiados por seus esforços para combater as mudanças climáticas.

Alguns jogadores, como o ex-zagueiro do Manchester United, Chris Smalling, que investiu em alternativas éticas ao couro, e o zagueiro do Arsenal, Hector Bellerin, que está envolvido em um projeto de plantio de árvores, também adotaram a mensagem verde e a bandeira da ecologia.

“Acho que no futebol estamos vendo ótimos exemplos de jogadores intensificando e usando sua plataforma”, disse Vince. “Os jogadores têm uma grande capacidade de influenciar as pessoas.

“Há uma enorme oportunidade para o esporte e uma responsabilidade maior, porque as pessoas olham para os ícones do esporte e se inspiram neles.”

E você, sabia que existia um time de futebol tão focado na questão do meio ambiente e da sustentabilidade?

in EcoDebate




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 23/02/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/02/22/qual-clube-de-futebol-e-o-mais-sustentavel-e-ecologico-do-mundo/

Mudança climática reduz a capacidade das florestas de armazenar carbono


Mudança climática reduz a capacidade das florestas de armazenar carbono
As florestas do mundo estão perdendo sua capacidade de absorver carbono devido a condições cada vez mais “instáveis” causadas pelos humanos, descobriu um novo estudo.

University of Reading*

Mudanças dramáticas nas florestas e em outros habitats que armazenam carbono em plantas e solos estão se tornando mais prováveis em algumas regiões da Terra, com menos carbono consistentemente absorvido pelo “sumidouro de carbono da terra” fornecido por árvores, solo e plantas, de acordo com cientistas que escrevem na Nature .

Os impactos de curto prazo do aumento das temperaturas, do desmatamento e da agricultura em muitas paisagens vulneráveis significam que os estoques de carbono na terra têm menos probabilidade de se recuperar no longo prazo, dizem os cientistas. Isso reduz a capacidade geral da terra para absorver carbono e prejudica os esforços globais para conter ou reduzir os níveis de gases de efeito estufa na atmosfera.

O Dr. Patrick McGuire, um cientista do clima que trabalha em conjunto no Departamento de Meteorologia e no Centro Nacional de Ciências Atmosféricas, ambos na Universidade de Reading, Reino Unido, foi coautor do novo estudo, liderado por colegas do CREAF , Barcelona e Universidade de Antuérpia.

O Dr. McGuire disse: “Descobrimos que grandes regiões do mundo são vulneráveis a mudanças repentinas e dramáticas em suas paisagens, porque a capacidade de seus ecossistemas de absorver carbono começa a se desestabilizar”.

“Por exemplo, os incêndios florestais na Califórnia são mais prováveis devido às condições extremamente secas e quentes causadas por uma atmosfera mais quente. Mais incêndios significam que a floresta se transforma em matagal, às vezes permanentemente. Isso reduz a capacidade geral da terra de sugar carbono da atmosfera à medida que fez antes.”

“Isso cria um ciclo vicioso , pois áreas como essas se tornam mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas no futuro”.

Armazenamento de carbono instável

Os pesquisadores descobriram que, de 1981 a 2018, os ecossistemas em todo o mundo passaram por diferentes fases, variando de alta produtividade , quando as plantas conseguiam absorver mais carbono, a baixa produtividade, quando as plantas eram menos capazes de absorver carbono.

A escala dessas flutuações cria um risco maior de desestabilização, aumentando o risco de mudanças abruptas na paisagem, pois os ecossistemas não podem se aclimatar às mudanças climáticas, desmatamento e mudanças na biodiversidade, entre outros fatores.

O estudo, publicado na Nature , descobriu que as regiões de maior risco geralmente têm menos cobertura florestal e mais terras cultiváveis, são mais quentes e experimentaram maiores aumentos de temperatura, o que pode estar relacionado a um aumento de eventos climáticos extremos, como ondas de calor e frio. As áreas identificadas como de maior risco incluem a Bacia do Mediterrâneo, o Sudeste Asiático e as costas ocidentais da América do Norte e Central.

Os pesquisadores disseram que essas áreas vulneráveis desenvolveram uma “memória” – descrita como uma “autocorrelação temporal” – o que significa que os anos em que a absorção de carbono é menor têm maior probabilidade de serem seguidos por anos em que a absorção de carbono diminui ainda mais. Os pesquisadores dizem que, à medida que menos carbono é absorvido em áreas onde a floresta domina, a probabilidade de o cerrado se tornar uma paisagem permanente aumenta e as florestas podem ser perdidas para sempre.

Variação global

Embora várias regiões corram o risco de mudanças abruptas em suas paisagens, há partes do mundo onde os níveis de absorção de carbono são consistentes e o colapso do ecossistema é menos provável como resultado das flutuações de carbono. Isso inclui as florestas tropicais da Amazônia e partes do centro e norte da Europa, onde a capacidade de absorção de carbono aumentou. No entanto, os pesquisadores alertam que regiões como a Amazônia enfrentam outras ameaças climáticas, como mudanças futuras nos padrões regulares de chuva.

Os cientistas dizem que essas variações globais podem tornar mais difícil prever o impacto global de esquemas para absorver carbono, como o plantio de árvores, ajudando o mundo a atingir o carbono líquido zero.

O Dr. McGuire disse: “Os ecossistemas terrestres atualmente absorvem quase um terço das emissões de carbono criadas pelos seres humanos. Se eles começarem a absorver menos carbono, a capacidade natural da Terra de conter as mudanças climáticas diminui. tornou as emissões de carbono ainda mais rápidas do que pensávamos anteriormente.”

Referência:

Marcos Fernández-Martínez, Diagnosing destabilization risk in global land carbon sinks, Nature (2023). DOI: 10.1038/s41586-023-05725-1.

Henrique Cortez *, tradução e edição.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394






Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 23/02/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/02/23/mudanca-climatica-reduz-a-capacidade-das-florestas-de-armazenar-carbono/

Soluções baseadas na natureza (SbN) e a qualidade de vida nas cidades


Soluções baseadas na natureza (SbN) e a qualidade de vida nas cidades

Soluções baseadas na natureza são soluções inspiradas na natureza. Elas buscam imitar ou usar processos naturais para melhorar o desempenho dos sistemas urbanos.

As cidades são cada vez mais densas e urbanizadas, o que resulta em um impacto significativo no meio ambiente. A urbanização e o crescimento populacional afetam os ecossistemas naturais, resultando em uma série de problemas ambientais, como poluição do ar, poluição sonora, perda de biodiversidade, aumento da temperatura e riscos de enchentes.

Para enfrentar esses desafios, as soluções baseadas na natureza (SbN) se tornaram uma alternativa importante para melhorar a qualidade de vida nas cidades.


As soluções baseadas na natureza são soluções inspiradas na natureza para problemas ambientais. Elas buscam imitar ou usar processos naturais para melhorar o desempenho dos sistemas urbanos, tornando-os mais resilientes e sustentáveis.

As SbN são geralmente menos dispendiosas do que as soluções convencionais, como as estruturas de concreto e as tecnologias de tratamento de água. Além disso, as soluções baseadas na natureza podem fornecer benefícios adicionais, como a melhoria da saúde e do bem-estar humano, o aumento da resiliência às mudanças climáticas e a proteção da biodiversidade.

Uma das soluções baseadas na natureza mais comuns nas cidades são as áreas verdes, como parques e jardins públicos. As áreas verdes oferecem benefícios significativos para as pessoas e para o meio ambiente. Elas ajudam a melhorar a qualidade do ar, reduzem a temperatura e melhoram a qualidade de vida dos habitantes da cidade. Além disso, as áreas verdes são importantes para a biodiversidade, pois fornecem habitat para animais e plantas.

Outra solução baseada na natureza comum é a infraestrutura verde, que inclui elementos naturais, como árvores, arbustos e gramíneas, que são integrados à infraestrutura urbana, como ruas, estradas e edifícios. A infraestrutura verde pode ajudar a reduzir o impacto das enchentes, melhorar a qualidade da água e do ar e reduzir a temperatura na cidade. Além disso, a infraestrutura verde pode fornecer benefícios adicionais, como a melhoria da saúde e do bem-estar humano.

As soluções baseadas na natureza também podem incluir a restauração de ecossistemas naturais, como mangues, pântanos e florestas. A restauração de ecossistemas naturais pode ajudar a melhorar a biodiversidade, reduzir a erosão do solo e proteger as cidades contra as mudanças climáticas. Além disso, a restauração de ecossistemas naturais pode fornecer benefícios adicionais, como a melhoria da saúde e do bem-estar humano e a promoção do turismo ecológico.

Neste artigo, vamos explorar por que as SbN são importantes para as cidades e quais são alguns dos benefícios que elas podem fornecer.

Redução do impacto ambiental

As cidades são conhecidas por serem grandes emissores de gases de efeito estufa e geradoras de poluição, incluindo a poluição do ar, da água e do solo. As soluções baseadas na natureza podem ajudar a reduzir o impacto ambiental das cidades, melhorando a qualidade do ar e da água, controlando a erosão e reduzindo a poluição sonora. Elas também podem ajudar a proteger a biodiversidade, criando habitats naturais para espécies locais e migratórias.

Melhoria da qualidade de vida

As SbN também podem melhorar a qualidade de vida nas cidades. Elas podem ajudar a reduzir o calor urbano, criando áreas verdes e sombreadas que ajudam a diminuir as temperaturas em dias quentes. Essas áreas também fornecem espaços verdes para recreação e atividades físicas, melhorando a saúde e o bem-estar dos residentes urbanos. Além disso, as SbN podem melhorar a resiliência das cidades a eventos climáticos extremos, como enchentes e secas, ajudando a proteger a população e a infraestrutura da cidade.

Benefícios econômicos

As soluções baseadas na natureza podem trazer benefícios econômicos para as cidades. Por exemplo, as áreas verdes podem aumentar o valor das propriedades próximas, melhorando a atratividade e o valor das áreas urbanas. As SbN também podem reduzir os custos de infraestrutura, substituindo soluções artificiais, como sistemas de drenagem, por soluções naturais, como áreas de infiltração de água da chuva e áreas de recarga de aquíferos. Isso pode reduzir os custos de manutenção a longo prazo e economizar recursos financeiros.

Em síntese, as soluções baseadas na natureza são importantes para as cidades, pois fornecem uma abordagem mais sustentável e resiliente para lidar com os desafios ambientais. Elas ajudam a melhorar a qualidade de vida dos habitantes da cidade, reduzir os custos de infraestrutura e fornecer benefícios adicionais, como a melhoria da saúde e do bem-estar humano e a proteção da biodiversidade.

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 23/02/2023
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2023/02/23/solucoes-baseadas-na-natureza-sbn-e-a-qualidade-de-vida-nas-cidades/

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

A história do marcante Carnaval de 1919, o primeiro após a pandemia da gripe espanhola



CRÉDITO,DIVULGAÇÃO
Legenda da foto,

Chá da meia noite durante desfile em 1919


*Este texto foi publicado originalmente em abril de 2022 e republicado com atualizações em fevereiro de 2023


Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), navios vindos da Europa trouxeram, junto aos passageiros, a gripe espanhola, causada por um subtipo do vírus influenza e que marcaria a história moderna como a pior pandemia antes da chegada da covid-19.


"No mundo, a gripe espanhola pode ter matado 50 milhões de pessoas, muito mais do que a Primeira Guerra Mundial", diz Maria Cecília Barreto Amorim Pilla, professora do curso de História da PUC-PR (Pontifícia Universidade Católica do Paraná).


Já no Brasil, estima-se que as mortes causadas pela pandemia possam ter chegado a 35 mil. O Estado que mais sofreu foi o Rio de Janeiro, capital do Brasil na época, onde morreram cerca de 15 mil pessoas.


Assim como vimos desde 2020, hospitais ficaram lotados e grandes eventos como campeonatos de futebol foram cancelados. Carnaval, então, nem pensar.


Mas quando o ano de 1918 terminou, aqueles que sobreviveram já haviam criado imunidade contra a doença, e aos poucos, os casos foram diminuindo.


Foi chegada a hora de "tirar o atraso" e celebrar tudo que não havia sido possível nos anos anteriores - pelas chuvas que marcaram o Carnaval de 1916 e 1917, pela crise econômica e clima de guerra em 1918, e principalmente pela doença que tirou tantas vidas.


Neste 2023, estamos diante de uma transição parecida: embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) ainda classifique que estamos em uma pandemia, com a queda brusca no número de mortes e casos da doença após a vacinação contra a covid-19, diversas cidades brasileiras estão tendo o primeiro carnaval oficial desde que o coronavírus apareceu.



CRÉDITO,REVISTA CARETA/ BIBLIOTECA NACIONAL
Legenda da foto,

Desfile dos Democráticos nas ruas do Rio em 1919


Se tomarmos 1919 como exemplo, é bom lembrar de como o escritor Ruy Castro definiu a festa que começou no primeiro dia de março: foi "a grande desforra contra a peste que dizimara a cidade".


Uma estimativa feita pelo jornal A Noite à época apontava que o Carnaval de 1919 levou cerca de 400 mil pessoas ao Centro do Rio de Janeiro.


"Hoje sabemos que a 'Espanhola' foi embora em fins de novembro daquele ano e não voltou. Mas eles, que a viveram, não sabiam se ela voltaria ou não - o Carnaval de 1919 podia ser o seu último. Era uma atmosfera de fim do mundo. O negócio então era aproveitar ao máximo", disse Ruy Castro em entrevista à BBC em julho de 2020.

Dias de festa com lembrança da peste


Em 1919, os blocos carnavalescos de rua como conhecemos hoje ainda não existiam. Mas grandes grupos chamados de sociedades, — que eram estabelecidos geralmente pela elite, mas com grande acompanhamento popular— levavam milhares de pessoas às ruas, principalmente na capital, o Rio de Janeiro.


Diferentes também das grandes escolas de samba atuais, as sociedades não adotavam um tema único para as apresentações, mas desfilavam diferentes histórias, não necessariamente conectadas umas as outras. Entre os temas dos desfiles, alguns dos grupos adotaram a memória dolorosa da peste como sátira.


"A maior sociedade da época, chamada de Democráticos, fez um carro alegórico com uma grande xícara, e nela estava escrito 'chá da meia-noite'", diz Pilla.



CRÉDITO,REVISTA CARETA/ BIBLIOTECA NACIONAL
Legenda da foto,

Desfile dos Democráticos nas ruas do Rio em 1919


A professora explica que o "chá da meia-noite" fazia referência a um boato popular que corria na época.


Dizia-se que na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro, que estava lotada por tantos pacientes infectados com o vírus, aqueles que estavam em estado grave, mas sem sinais de que morreriam em breve, recebiam o tal chá com veneno, em uma espécie de eutanásia forçada.


"Outras referências apareceram, como um carro alegórico com um tônico capilar, por causa da perda de cabelo causada pela gripe espanhola, alguns com alusões a supostos medicamentos milagrosos, à venda de galinhas para fazer canja, considerada também como um remédio. Uma sociedade de tamanho médio, a 'Zuavos', chegou a desfilar pela Avenida Rio Branco, uma carroça similar a que levava os corpos de mortos pelo vírus", diz o jornalista David Butter, que escreveu o livro De Sonho e de Desgraça: o Carnaval Carioca de 1919.

As marcas deixadas pelo Carnaval de 1919


Há, ainda, certa memória popular construída por cronistas sobre o Carnaval de 1919. A imagem passada por autores como Nelson Rodrigues e Mário Filho é da festa menos conservadora que já havia ocorrido até então, inclusive em termos de liberação sexual.


Para Butter, a visão é mais mítica do que factual. "No início do século, em 1910 muitas das práticas que são citadas sobre o Carnaval de 19, como assédios de grupos de homens direcionados a mulheres e funcionamento de prostíbulos já aconteciam. Uma mudança no código de vestimenta das mulheres também era algo que já estava em curso."


Mas isso não quer dizer que a festa não tenha deixado marcas. "Ele pode ter sido uma preview de toda a sensacional década de 20 no Rio. Na cidade, o Carnaval, que começou em 1603, quando saíram à rua os primeiros fantasiados, já era uma maravilha no século XIX --- há muita literatura a respeito. O que aconteceu é que o Carnaval de 1919 foi especial, assim como tinha sido em 1912, quando, por causa da morte do Barão do Rio Branco, o Rio teve dois Carnavais", diz Ruy Castro.


Uma diferença, aponta David com base na sua pesquisa para o livro, é que o Carnaval desse ano teve a presença de muitos mais grupos do que os anteriores.


"Grupos femininos, novas sociedades de diferentes tamanhos e inclusive o Cordão do Bola Preta, bloco mais antigo do Rio de Janeiro, começou ali."


"Também teve um lado sombrio que pouco se fala, com a ocorrência de estupros, muitas crianças desaparecidas e crimes violentos em consequência dessa loucura, do êxtase", diz Pilla.



CRÉDITO,REVISTA FON FON
Legenda da foto,

Time vencedor numa batalha de confetes, na Gávea, Rio de Janeiro


Apesar de mais de 100 anos terem se passado, é possível traçar alguns paralelos entre a pandemia do século passado e a atual.


As escolas de samba perderam importantes integrantes devido à covid-19, como Laíla, diretor de Carnaval da Beija-Flor, Maurina Feitosa de Carvalho, presidente da escola de samba 28 de Setembro, Marco Diniz, diretor de harmonia da Grande Rio, e os sambistas Carlinhos Sebá e Nelson Sargento.


Pela memória recente da covid-19, assim como foi feito com a gripe espanhola, em 2022 diversas escolas de samba desfilaram temáticas relacionadas à pandemia.


"Outro ponto é que para quem ficou em casa nos últimos dois anos e gosta do Carnaval, a mesma saudade da festa que estava presente em 1919 aparece agora", diz Butter.


*Com colaboração de Ligia Guimarães





Autor: Giulia Granchi
Fonte: BBC News Brasil em São Paulo
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 20/02/2023
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cje15888x4go