terça-feira, 26 de dezembro de 2017
7 acontecimentos e descobertas que fizeram de 2017 um ano incrível para a ciência
Pesquisadores da Nasa já imaginam a paisagem que podem ter os novos planetas descobertos em zonas habitáveis de uma estrela | (Foto: NASA/JPL-Caltech)
Foi um ano de términos, como o da missão de 13 anos da sonda Cassini, mas também de novas descobertas, como a histórica detecção das ondas gravitacionais que Einstein previu há 100 anos.
Além disso, cientistas desenvolveram uma técnica revolucionária de edição genética para evitar doenças hereditárias fatais.
E, no momento em que os Estados Unidos anunciavam sua saída do acordo climático de Paris - o maior esforço coordenado contra o aquecimento global em andamento -, um pedaço de uma plataforma de gelo na Antártida se desprendeu formando um iceberg gigantesco, de uma área um pouco maior que o Distrito Federal.
Relembre os principais destaques da ciência em 2017, alguns dos quais prometem muitas novidades em 2018.
1. Colisão de estrelas confirma previsão de Einstein
A colisão aconteceu há 130 milhões de anos, mas só agora pode demonstrar a teoria formulada por Einstein há mais de um século (Foto: PA.)
Para a comunidade científica, 2017 entrará para a história como o ano das ondas gravitacionais.
Em agosto, astrônomos dos observatórios Ligo, nos Estados Unidos, e Virgo, na Itália, conseguiram observar pela primeira vez a colisão entre duas estrelas mortas, ou estrelas de nêutrons, graças à detecção de ondas gravitacionais - flutuações no espaço-tempo previstas por Einstein há mais de um século.
A primeira detecção das ondas gravitacionais fora anunciada em 2016, quando o observatório Ligo descreveu o fenômeno após analisar a fusão de dois buracos negros distantes. Na época, o evento foi considerado o início de um novo ramo da astronomia, que usa as ondas gravitacionais para coletar dados sobre fenômenos que ocorrem a grandes distâncias.
A de agosto de 2017 foi a quarta vez na história em que eram detectadas ondas gravitacionais, e a primeira observação, por observatórios do mundo todo, de uma colisão de estrelas de nêutrons, o que levou a revista Sience a escolher o evento como a descoberta do ano.
"A explosão confirmou vários modelos-chave da astrofísica, revelou como surgiram vários elementos pesados e testou a Teoria da Relatividade (de Einstein) como nunca antes", justifica a Science.
A colisão ocorreu em uma galáxia na constelação de Hidra.
Alguns dos fatos ligados ao evento são impressionantes. Por exemplo, as estrelas de nêutron são tão densas que uma colher de chá de uma delas pesaria um bilhão de toneladas.
Os pesquisadores também confirmaram que este tipo de colisão estelar é a origem do ouro e da platina no universo. "Essas estrelas são um laboratório de física extrema: é um material exótico, rico em nêutrons; e, quando são desmembradas, gera-se radiação exótica (...) que produz elementos como o ouro. É algo muito empolgante", explicou o astrônomo inglês Martin Rees na ocasião da descoberta.
2. O mergulho final da Cassini
Durante seu último mergulho em Saturno, a Cassini ainda conseguiu enviar imagens para a Terra (Foto: NASA/JPL-CALTECH)
A sonda Cassini chegou às proximidades de Saturno em 2004. Nos 13 anos em que esteve ativa, os dados coletados por ela transformaram nossa compreensão do planeta e de suas luas.
O veículo descobriu gêiseres espirrando água de um oceano subterrâneo no satélite gelado Encélado, observou de perto os mares e lagos de metano na maior lua de Saturno, Titã, e testemunhou uma tempestade gigantesca que circundou o planeta dos anéis.
Mas a Cassini começou a ficar sem combustível, e a Nasa decidiu que era melhor destruir o satélite na atmosfera de Saturno, para que ele não colidisse com uma das luas, por exemplo, e a contaminasse com micróbios terrestres.
No dia 15 de setembro, a Cassini mergulhou nas nuvens do planeta e se rompeu por completo - e ainda conseguiu mandar dados durante seus últimos momentos.
Enquanto isso, cientistas da Nasa acompanhavam, emocionados, o fim da missão de mais de uma década.
3. EUA deixam acordo de Paris
Trump em comício em Pasacolo, na Flórida (Foto: AP Photo/Susan Walsh)
Enquanto ainda estava na campanha para presidente dos Estados Unidos, Donald Trump chegou a dizer que "cancelaria" o acordo de Paris. A assinatura do acordo, em 2015, foi histórica por unir, pela primeira vez, quase todos os países do mundo em um pacto para conter as mudanças climáticas.
Mas depois de ganhar a eleição, em novembro de 2016, ele falou pouco sobre o tema. A imprensa americana chegou a divulgar relatos de que os assessores do presidente estavam divididos em relação ao acordo.
No entanto, no dia 1º de junho, em uma coletiva na Casa Branca, Trump anunciou a saída dos Estados Unidos do acordo.
"Para cumprir meu juramento solene de proteger a América e seus cidadãos, os Estados Unidos vão se retirar do acordo climático de Paris... e dar início a negociações para entrar novamente nele ou em uma transação completamente nova em termos que sejam justos com o país", disse.
Como esperado, ele recebeu duras críticas de democratas e de líderes mundiais. O ex-presidente Barack Obama acusou o governo Trump de "rejeitar o futuro", enquanto que o ex-secretário de Estado John Kerry chamou a decisão de "abdicação terrível de liderança".
4. Um iceberg gigante se forma
Rachadura em plataforma de gelo foi detectada há anos, mas começou a se aprofundar em 2014 (Foto: Copernicus Sentinel 1 Data/Bas)
Em meados de julho, pouco depois do anúncio de Trump, um dos maiores icebergs já registrado pela ciência se desprendeu da plataforma de gelo Larsen C, na Antártida.
Os cientistas já vinham acompanhando o aumento de uma imensa rachadura na superfície do gelo há uma década.
O bloco imenso de gelo cobria uma área de cerca de 6 mil km² - e representava cerca de 12% da plataforma Larsen C.
A formação de icebergs das bordas de plataformas de gelo é comum. No entanto, os pesquisadores dizem que a Larsen C está, agora, em seu menor tamanho desde o fim da última Era do Gelo, há cerca de 11.700 anos.
Ainda será preciso estudá-la mais para entender como a plataforma está respondendo ao aquecimento global.
O futuro da plataforma também é incerto, mas, se ela entrar em colapso, poderia liberar geleiras com água suficiente para aumentar os níveis globais dos oceanos em um centímetro.
5. Edição genética contra doenças
Embriões humanos foram modificados pela primeira vez com uma nova técnica de edição genética, diferente da já conhecida CRISPR (usada nos da imagem acima) (Foto: OHSU)
Pela primeira vez na história, uma equipe de cientistas dos Estados Unidos e da Coreia do Sul conseguiu corrigir, em embriões humanos, um gene defeituoso responsável por uma doença cardíaca mortal hereditária que afeta uma a cada 500 pessoas. Eles usaram a técnica da edição genética.
A doença, chamada de miocardiopatia hipertrófica - pode fazer com que o coração pare de bater, provocando uma morte súbita.
Ela é causa por um erro em um só gene (uma instrução no DNA) e qualquer pessoa que o tenha tem 50% de chances de transmiti-lo a seus filhos.
A nova técnica de edição do gene, realizada durante a concepção do embrião na fertilização in vitro, foi desenvolvida no ano passado na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, e é descrita como uma "cirurgia química" de precisão.
O procedimento abre a porta para a prevenção de cerca de 10 mil distúrbios que são transmitidos de geração a geração, segundo os pesquisadores.
Em setembro, outra equipe - desta vez da China - disse ter conseguido corrigir embriões humanos que continham o gene recessivo de uma doença hereditária do sangue conhecida como talassemia. Neste caso, as duas cópias do gene (a que vem do pai e a que vem da mãe) contêm a mutação.
6. Sete planetas como o nosso
Planetas orbitam estrela fria e de pouca massa na constelação de Aquário (Foto: NASA/JPL-Caltech)
Em fevereiro, cientistas relataram a descoberta de um sistema planetário com sete planetas de tamanho similar ao da Terra. Todos orbitavam uma estrela chamada de TRAPPIST-1, que fica a 41 anos-luz do Sol.
A estrela - fria e com pouca massa - fica na constelação de Aquário. É a primeira vez que são descobertas estrelas de tamanho tão semelhante ao nosso orbitando a mesma estrela.
Isso poderia indicar que a Via Láctea está, na realidade, repleta de corpos celestes que se parecem, em tamanho e relevo, ao nosso mundo rochoso.
Três dos planetas da TRAPPIST-1 estão na chamada zona habitável, órbitas relativamente temperadas onde a água pode permanecer líquida na superfície.
Estes são alguns dos planetas mais interessantes para serem explorados nos próximos anos. Se pode haver água, pode haver alguma chance de vida.
7. Um novo membro da família
Homo Sapiens teria surgido cerca de 100 mil anos antes do que se pensava, segundo nova descoberta (Foto: Philipp Gunz/MPI EVA Leipzig)
Em julho, pesquisadores revelaram os fósseis de cinco humanos pré-históricos encontrados no norte da África que mostravam que a nossa espécie, o Homo sapiens, teria surgido ao menos 100 mil anos antes do que se acreditava.
A descoberta indica que nossa espécie não teria se desenvolvido em um único "berço" no leste da África. Na verdade, os humanos modernos poderiam estar evoluindo na mesma direção em todo o continente.
O ano de 2017 também teve outras grandes notícias no campo da evolução humana. Pesquisadores chamaram a atenção de todo o mundo quando, em 2015, mostraram os restos de 15 esqueletos parciais pertencentes a uma nova espécie de humano, o Homo naledi.
Na época, no entanto, eles não conseguiam determinar com certeza a idade dos ossos - alguns traços sugeriam que eles pudessem ter até 3 milhões de anos de idade.
Este ano, o líder da equipe, Lee Berger, anunciou que os fósseis tinham entre 200 mil e 300 mil anos. Longe de ser um ancestral do Homo sapiens, o Homo naledi pode, na verdade, ter convivido com membros da nossa espécie.
8. O visitante interestelar
O asteroide Oumuamua é um dos objetos mais longos que já foram observados pelos cientistas (Foto: ESO/M. Kornmesser)
Mesmo prevendo há anos que seríamos visitados em algum momento por um asteroide interestelar, 2017 foi a primeira vez em que vimos um.
Descoberto por uma equipe de cientistas usando o telescópio havaiano Pan-Starrs em outubro, o objeto foi batizado de "Oumuamua", que significa "mensageiro de longe que chega primeiro" na língua local.
Sua velocidade e trajetória foram os primeiros indicativos de que ele vinha de fora do nosso Sistema Solar.
Mas o Oumuamua não é só o primeiro visitante de fora, mas também um dos corpos celestes mais longos que já se viu. Seu formato, semelhante a um charuto, chamou a atenção dos pesquisadores.
Uma campanha de observação do objeto usando os telescópios mais potentes do mundo mostrou que ele não levava algum tipo de tecnologia inteligente, mas que poderia conter água em seu interior.
Ao medir a maneira como o Oumuamua reflete a luz do sol, os pesquisadores concluíram que ele é semelhante a objetos gelados do nosso próprio sistema solar, que estão cobertos por uma camada seca.
Autor: G1 Globo
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data de Publicação: 26/12/2017
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/7-acontecimentos-e-descobertas-que-fizeram-de-2017-um-ano-incrivel-para-a-ciencia.ghtml
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