quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018
Fatores genéticos associados à bronquiolite viral aguda são identificados
Pesquisa feita na Unicamp pode ajudar no desenvolvimento de testes para estimar a evolução da doença, que é a maior causa de internação hospitalar no primeiro ano de vida (ilustração Fernando Marson)
Uma pesquisa feita na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) identificou fatores genéticos associados à gravidade da bronquiolite viral aguda. O estudo, apoiado pela FAPESP, tem resultados publicados na edição de 1º de março da revista Gene.
“Detectar associações genéticas em casos de bronquiolite viral aguda é o primeiro passo para o desenvolvimento de testes capazes de identificar o possível desfecho clínico de cada paciente diagnosticado com a doença logo após a entrada no pronto-socorro”, disse Fernando Augusto de Lima Marson, pesquisador na Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp e um dos autores do artigo.
O coordenador do estudo, o professor José Dirceu Ribeiro, também da FCM-Unicamp, destaca que existem diversos fatores de risco que propiciam o aparecimento da bronquiolite viral aguda, como prematuridade, histórico de doença pulmonar e tabagismo passivo. “Por outro lado, há um percentual muito relevante de pacientes que não se enquadram em nenhum fator de risco. A questão é explicar, nesses casos, a evolução da doença para a sua forma mais grave”, disse.
O novo estudo buscou relacionar fatores genéticos com as formas mais graves de bronquiolite viral aguda em pacientes que não estão em grupos de risco.
Ribeiro lembra que a doença é a mais comum no primeiro ano de vida e também a maior causa de internação hospitalar nesse período em todo o mundo. Trata-se de uma infecção das vias respiratórias que afeta em particular os bronquíolos.
Na maioria dos casos, a bronquiolite viral aguda é branda e sem grandes consequências. Ainda assim, entre 1% e 3% dos doentes necessitam de internação. Desses, alguns pacientes precisarão de inalação de oxigênio. Um número menor ainda irá para a unidade de terapia intensiva para receber ventilação mecânica.
Para investigar a existência de possíveis fatores genéticos que influenciam na gravidade dos casos, os pesquisadores estudaram 181 crianças que foram admitidas ao longo de dois anos em três hospitais da região de Campinas. Elas foram diagnosticadas com bronquiolite viral aguda e todas tiveram que receber oxigênio. A triagem foi realizada nos hospitais das Clínicas da Unicamp, Estadual de Sumaré e Vera Cruz.
Primeiramente, foram coletadas amostras de secreção no nariz, para determinar o tipo de vírus causador de bronquiolite aguda em cada um deles. Como esperado, a maioria dos casos era causada pelo vírus sincicial respiratório (VSR). Mais especificamente, a infecção pelo vírus VSR respondia por 69,9% dos pacientes, enquanto que 26,5% eram infecções por rinovírus, a segunda principal causa.
Paralelamente, os pesquisadores fizeram uma avaliação das 181 crianças para saber quais se enquadravam em um ou mais grupos de riscos para a bronquiolite viral aguda. O resultado da triagem foi revelador. Não faziam parte de nenhum grupo de risco 131 crianças (ou 72% do total).
Foram empregadas técnicas de biologia molecular e de estatística para estudar e comparar o DNA dos pacientes. A busca foi por marcadores genéticos específicos, em especial a identificação de variações na sequência de DNA chamadas polimorfismos de nucleotídeo simples (conhecidos pela sigla em inglês SNP). Os SNPs constituem 90% de todas as variações no genoma humano.
Ao trabalhar estatisticamente os dados, os prognósticos da doença foram comparados entre os pacientes e a frequência de polimorfismos foi comparada entre esses e também com um grupo de controle, composto por 536 pessoas saudáveis (entre 19 e 26 anos), convidadas aleatoriamente e sem histórico de doenças pulmonares.
Foram também analisadas as frequências dos polimorfismos nos pacientes para cada tipo de vírus, como o VSR dos subtipos A e B e o rinovírus, bem como identificados possíveis casos de codetecção viral.
“Nosso estudo focou nos fatores genéticos que poderiam estar associados à gravidade da bronquiolite viral aguda. Mostramos que existe relação entre a predisposição genética do paciente e a gravidade da doença. De nosso conhecimento, este é o primeiro estudo mundial a mostrar isso com esse nível de detalhamento, incluindo um grande número de variantes genéticas”, disse Marson.
Alguns genes estão de fato associados à presença de vírus específicos causadores da doença. Os pesquisadores da Unicamp observaram a associação entre o SNP rs2107538*CCL5 e a bronquiolite causada pelo vírus VSR e VSR do subtipo A e entre o SNP rs1060826*NOS2 e a bronquiolite causada por rinovírus.
“Os SNPs rs4986790*TLR4, rs1898830*TLR2 e rs2228570*VDR estavam associados aos casos gravíssimos da doença, aqueles que progrediram até o óbito. O rs7656411*TLR2 foi associado à necessidade de inalação de oxigênio, assim como rs352162*TLR9, rs187084*TLR9 e rs2280788*CCL5 foram associados aos casos em que foi necessária a internação em unidade de terapia intensiva. Por fim, rs1927911*TLR4, rs352162*TLR9 e rs2107538*CCL5 foram associados aos doentes que precisaram de ventilação mecânica”, disse Marson.
Os autores do estudo destacam que os resultados precisam ser replicados por outros grupos de pesquisa. Mesmo assim, consideram os resultados bastante animadores.
“A medicina caminha no sentido de desenvolver terapias feitas sob medida para cada paciente. Nesse sentido, a identificação de SNPs associados à doença pode representar um alvo de terapias genéticas, criando tratamentos e manejos para a medicina de precisão e preventiva, respectivamente”, disse Marson.
O artigo Association between single nucleotide polymorphisms in TLR4, TLR2, TLR9, VDR, NOS2 and CCL5 genes with acute viral bronchiolitis (doi: https://doi.org/10.1016/j.gene.2017.12.022), de Alfonso Eduardo Alvarez, Fernando Augusto Lima Marson, Carmen Sílvia Bertuzzo, Juliana Cristina Santiago Bastos, Emilio Carlos Elias Baracat, Marcelo Barciel Brandão, Antônia Teresinha Tresoldi, Mariana Tresoldi das Neves Romaneli, Celize Cruz Bresciani Almeida, Therezinha de Oliveira, Patricia Godano Schlodtmann, Ester Corrêa, Maria Luísa Ferreira de Miranda, Marcelo Conrado dos Reis, José Vicente De Pieri, Clarice Weis Arns e José Dirceu Ribeiro, está publicado em www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0378111917310752.
Autor: Peter Moon
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data de Publicação: 28/02/2018
Publicação Original: http://agencia.fapesp.br/fatores_geneticos_associados_a_bronquiolite_viral_aguda_sao_identificados/27218/
Mudanças climáticas aumentam o risco de surtos de doenças transmitidas por mosquitos
Por meio de modelos matemáticos, cientistas estimam como será, até o fim do século, a área de distribuição de quatro arbovírus: Oropouche, Mayaro, Rocio e vírus da encefalite de Saint Louis (foto: Thomas Brown / Wikimedia)
O aumento da temperatura média do planeta, induzido principalmente pela emissão de gases de efeito estufa, deve contribuir para ampliar, no Brasil, a área de distribuição de quatro vírus transmitidos por mosquitos: o Oropouche (OROV), o Mayaro (MAYV), o Rocio (ROCV) e o vírus da encefalite de Saint Louis (SLEV).
A conclusão é de um estudo publicado na revista PLoS Neglected Tropical Diseases. O trabalho foi realizado no Instituto Butantan durante o doutorado de Camila Lorenz, com apoio da FAPESP e orientação de Lincoln Suesdek, do Departamento de Parasitologia. Também participaram os pesquisadores Flávia Virginio, Thiago Salomão, Breno Aguiar e Francisco Chiaravalloti-Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).
“Levantamos todos os surtos dessas arboviroses ocorridos no país desde a década de 1960 e avaliamos como eles se relacionavam com diferentes fatores ambientais. Com base nos resultados, modelamos a distribuição das doenças até 2100. Os dados mostram que a área de distribuição dos quatro arbovírus deve aumentar nos próximos anos em função, principalmente, da temperatura”, disse Lorenz à Agência FAPESP.
Ao todo, sete fatores ambientais foram considerados na análise multivariada: precipitação anual (o quanto chove ao longo do ano na região em que ocorreu o surto), média de temperatura anual, elevação (altitude), sazonalidade da temperatura (variação entre os meses mais quentes e mais frios do ano), sazonalidade da precipitação (variação entre os meses mais chuvosos e os mais secos), amplitude térmica (variação da temperatura ao longo do mês) e variação diária da temperatura.
De acordo com Lorenz, os resultados sugerem que cada vírus é afetado de forma diferente pelas variáveis ambientais. No caso do Oropouche e do Mayaro, por exemplo, os fatores que se mostraram mais associados à ocorrência de surtos foram a média anual da temperatura e a amplitude térmica. Ambos os vírus mostraram características semelhantes e se distribuem principalmente na região Norte do país. Já para Saint Louis e Rocio a precipitação anual teve mais peso – quanto mais alta a média anual de chuva, maior o número de surtos.
“Embora fracionada em diferentes variáveis, a temperatura esteve de algum modo presente em todos os casos. A precipitação também apresentou alguma contribuição para a ocorrência dos surtos, já que a presença de água é necessária para a reprodução dos mosquitos”, disse a pesquisadora.
A variável altitude, segundo Lorenz, teve mais influência apenas sobre a distribuição do vírus Rocio. Um grande surto causado pelo patógeno foi registrado no Vale do Ribeira, região de baixa altitude no sul do Estado de São Paulo, por volta de 1975.
“Já existe a noção de que a temperatura é um fator importante para as doenças tropicais, mas, por mais que o senso comum aponte para uma direção, só temos segurança científica por meio de experimentos ou validação estatística. E observamos que, como os vírus têm características diferentes, ciclos de vida diferentes dentro e fora do hospedeiro, não são influenciados da mesma maneira pelos fatores ambientais. Este estudo dá diretrizes para o refinamento das estratégias de detecção e de controle dessas doenças”, disse Suesdek.
O aumento da temperatura média do planeta, induzido principalmente pela emissão de gases de efeito estufa, deve contribuir para ampliar, no Brasil, a área de distribuição de quatro vírus transmitidos por mosquitos: o Oropouche (OROV), o Mayaro (MAYV), o Rocio (ROCV) e o vírus da encefalite de Saint Louis (SLEV).
A conclusão é de um estudo publicado na revista PLoS Neglected Tropical Diseases. O trabalho foi realizado no Instituto Butantan durante o doutorado de Camila Lorenz, com apoio da FAPESP e orientação de Lincoln Suesdek, do Departamento de Parasitologia. Também participaram os pesquisadores Flávia Virginio, Thiago Salomão, Breno Aguiar e Francisco Chiaravalloti-Neto, da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP).
“Levantamos todos os surtos dessas arboviroses ocorridos no país desde a década de 1960 e avaliamos como eles se relacionavam com diferentes fatores ambientais. Com base nos resultados, modelamos a distribuição das doenças até 2100. Os dados mostram que a área de distribuição dos quatro arbovírus deve aumentar nos próximos anos em função, principalmente, da temperatura”, disse Lorenz à Agência FAPESP.
Ao todo, sete fatores ambientais foram considerados na análise multivariada: precipitação anual (o quanto chove ao longo do ano na região em que ocorreu o surto), média de temperatura anual, elevação (altitude), sazonalidade da temperatura (variação entre os meses mais quentes e mais frios do ano), sazonalidade da precipitação (variação entre os meses mais chuvosos e os mais secos), amplitude térmica (variação da temperatura ao longo do mês) e variação diária da temperatura.
De acordo com Lorenz, os resultados sugerem que cada vírus é afetado de forma diferente pelas variáveis ambientais. No caso do Oropouche e do Mayaro, por exemplo, os fatores que se mostraram mais associados à ocorrência de surtos foram a média anual da temperatura e a amplitude térmica. Ambos os vírus mostraram características semelhantes e se distribuem principalmente na região Norte do país. Já para Saint Louis e Rocio a precipitação anual teve mais peso – quanto mais alta a média anual de chuva, maior o número de surtos.
“Embora fracionada em diferentes variáveis, a temperatura esteve de algum modo presente em todos os casos. A precipitação também apresentou alguma contribuição para a ocorrência dos surtos, já que a presença de água é necessária para a reprodução dos mosquitos”, disse a pesquisadora.
A variável altitude, segundo Lorenz, teve mais influência apenas sobre a distribuição do vírus Rocio. Um grande surto causado pelo patógeno foi registrado no Vale do Ribeira, região de baixa altitude no sul do Estado de São Paulo, por volta de 1975.
“Já existe a noção de que a temperatura é um fator importante para as doenças tropicais, mas, por mais que o senso comum aponte para uma direção, só temos segurança científica por meio de experimentos ou validação estatística. E observamos que, como os vírus têm características diferentes, ciclos de vida diferentes dentro e fora do hospedeiro, não são influenciados da mesma maneira pelos fatores ambientais. Este estudo dá diretrizes para o refinamento das estratégias de detecção e de controle dessas doenças”, disse Suesdek.
Na coluna da esquerda, os mapas mostram a distribuição atual dos quatro arbovírus; ao centro,
como será em um cenário de baixa emissão até 2100 e, à direita, em um cenário de alta emissão
Clima futuro
Além de mapear as características físicas de todos os locais em que ocorreram surtos dessas quatro arboviroses nos últimos 55 anos, os pesquisadores também analisaram os registros climáticos existentes desde a década de 1960 e observaram que a temperatura média no país vem aumentando nos últimos anos, principalmente na região Norte.
Em seguida, por meio de modelos matemáticos, o grupo estimou como seria a distribuição dos quatro vírus até o fim deste século. Foram considerados dois cenários climáticos projetados por especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Organização das Nações Unidas (IPCC).
No primeiro, de baixa emissão de gases-estufa, ocorreria um aumento médio de 1º C na temperatura do planeta até 2100. Já no cenário de alta emissão, o aumento ultrapassaria os 2º C considerados seguros pelos especialistas em clima.
O trabalho de modelagem foi realizado por Thiago Azevedo, do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro. Considerando os diferentes cenários, ele calculou a ampliação da área de risco para cada capital brasileira.
No caso da cidade de São Paulo, por exemplo, a região suscetível ao vírus Mayaro saltaria dos 4% atuais para 12% em 2050 e quase 20% em 2100 em um cenário de alta emissão. Em relação ao Rocio, o número passaria de aproximadamente 1% da área do município para 2,5% em 2050 e quase 4% em 2100, também no pior cenário climático.
Em Campo Grande (MS), a área de risco para Mayaro passaria de 23,8% para 83,6% no pior cenário. Em Brasília (DF), o número passaria de 10% para mais de 57%. Em Belo Horizonte (MG), saltaria de 14,8% para 65% e, no Rio de Janeiro (RJ), de 21,4% para quase 55%.
O maior aumento na área de distribuição do Rocio foi previsto para Porto Alegre (RS). Atualmente, menos de 9% do município é considerado área de risco. Em 2100, no cenário de alta emissão, o índice chegaria a 57,3%.
“No caso do Mayaro e do Oropouche, vemos dois cenários futuros bem diferentes do atual – seja com baixa ou com alta emissão de gases. Já para Saint Louis e Rocio a diferença não é tão gritante. Mas mesmo um aumento pequeno é importante, pois são doenças pouco conhecidas e contra as quais não temos vacinas”, avaliou Suesdek.
Para o pesquisador, as quatro doenças estudadas apresentam significativo potencial de causar danos à saúde pública e podem ser consideradas negligenciadas. Todas têm como principal sintoma febre aguda e intensa. Por serem facilmente confundidas com dengue ou malária, especialistas acreditam que a subnotificação seja grande. Não existem testes sorológicos para diagnóstico (aqueles que detectam os anticorpos contra o vírus no sangue de pacientes) e os exames moleculares são caros e pouco acessíveis.
O artigo Impact of environmental factors on neglected emerging arboviral diseases (doi: https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0005959), de Camila Lorenz , Thiago S. Azevedo, Flávia Virginio, Breno S. Aguiar, Francisco Chiaravalloti-Neto e Lincoln Suesdek, está publicado em http://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0005959.
Autor: Karina Toledo
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data de Publicação: 23/02/2018
Publicação Original: http://agencia.fapesp.br/mudancas_climaticas_aumentam_o_risco_de_surtos_de_doencas_transmitidas_por_mosquitos_/27190/
como será em um cenário de baixa emissão até 2100 e, à direita, em um cenário de alta emissão
Clima futuro
Além de mapear as características físicas de todos os locais em que ocorreram surtos dessas quatro arboviroses nos últimos 55 anos, os pesquisadores também analisaram os registros climáticos existentes desde a década de 1960 e observaram que a temperatura média no país vem aumentando nos últimos anos, principalmente na região Norte.
Em seguida, por meio de modelos matemáticos, o grupo estimou como seria a distribuição dos quatro vírus até o fim deste século. Foram considerados dois cenários climáticos projetados por especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, da Organização das Nações Unidas (IPCC).
No primeiro, de baixa emissão de gases-estufa, ocorreria um aumento médio de 1º C na temperatura do planeta até 2100. Já no cenário de alta emissão, o aumento ultrapassaria os 2º C considerados seguros pelos especialistas em clima.
O trabalho de modelagem foi realizado por Thiago Azevedo, do Departamento de Geografia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Rio Claro. Considerando os diferentes cenários, ele calculou a ampliação da área de risco para cada capital brasileira.
No caso da cidade de São Paulo, por exemplo, a região suscetível ao vírus Mayaro saltaria dos 4% atuais para 12% em 2050 e quase 20% em 2100 em um cenário de alta emissão. Em relação ao Rocio, o número passaria de aproximadamente 1% da área do município para 2,5% em 2050 e quase 4% em 2100, também no pior cenário climático.
Em Campo Grande (MS), a área de risco para Mayaro passaria de 23,8% para 83,6% no pior cenário. Em Brasília (DF), o número passaria de 10% para mais de 57%. Em Belo Horizonte (MG), saltaria de 14,8% para 65% e, no Rio de Janeiro (RJ), de 21,4% para quase 55%.
O maior aumento na área de distribuição do Rocio foi previsto para Porto Alegre (RS). Atualmente, menos de 9% do município é considerado área de risco. Em 2100, no cenário de alta emissão, o índice chegaria a 57,3%.
“No caso do Mayaro e do Oropouche, vemos dois cenários futuros bem diferentes do atual – seja com baixa ou com alta emissão de gases. Já para Saint Louis e Rocio a diferença não é tão gritante. Mas mesmo um aumento pequeno é importante, pois são doenças pouco conhecidas e contra as quais não temos vacinas”, avaliou Suesdek.
Para o pesquisador, as quatro doenças estudadas apresentam significativo potencial de causar danos à saúde pública e podem ser consideradas negligenciadas. Todas têm como principal sintoma febre aguda e intensa. Por serem facilmente confundidas com dengue ou malária, especialistas acreditam que a subnotificação seja grande. Não existem testes sorológicos para diagnóstico (aqueles que detectam os anticorpos contra o vírus no sangue de pacientes) e os exames moleculares são caros e pouco acessíveis.
O artigo Impact of environmental factors on neglected emerging arboviral diseases (doi: https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0005959), de Camila Lorenz , Thiago S. Azevedo, Flávia Virginio, Breno S. Aguiar, Francisco Chiaravalloti-Neto e Lincoln Suesdek, está publicado em http://journals.plos.org/plosntds/article?id=10.1371/journal.pntd.0005959.
Autor: Karina Toledo
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data de Publicação: 23/02/2018
Publicação Original: http://agencia.fapesp.br/mudancas_climaticas_aumentam_o_risco_de_surtos_de_doencas_transmitidas_por_mosquitos_/27190/
Depois de corrida aos postos, vacina da febre amarela encalha em meio a boatos sobre reações
Casos de óbito por febre amarela vêm subindo desde o começo de 2017 (Foto: Reuters)
Embora os casos de morte por febre amarela sigam subindo desde o começo de 2017 e tenham atingido o número de 93 vítimas no último dia 23 (contra 76 até o dia 16, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo), milhões de doses da vacina fracionada continuam dentro dos refrigeradores dos postos de saúde, à espera da população.
Na prática, a situação em São Paulo passou de uma corrida desenfreada aos locais de vacinação para o encalhe de doses.
O não comparecimento do público na frequência desejada pelas autoridades fez com que o fim da campanha de vacinação no Estado fosse postergada do dia 17 de fevereiro para o dia 2 de março. No entanto, a três dias do término do prazo estendido, 5,1 milhões de pessoas não foram vacinadas em 54 cidades abrangidas pela campanha. A proposta é imunizar 9,2 milhões nesses locais.
"No início, as pessoas saíam de áreas não visadas pelo vírus para se sujeitar a pegá-lo nas filas das regiões em que havia casos; agora sobram doses nos postos", afirma Regiane de Paula, diretora do Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde de São Paulo.
"A gente vai ter de traçar uma segunda estratégia para atingir a meta dessa imunização preventiva."
Se a doença em si assustou em um primeiro momento, a população parece agora mais preocupada com eventos adversos da vacina. Um dos sinais disso são postagens que pipocam nas redes sociais atribuindo ao produto complicações as mais variadas possíveis: "Tem gente que está perdendo filho na barriga por conta de ter tomado a vacina", "Vacina causa outras doenças no futuro, como câncer", "Vacina é armadilha", "60 médicos americanos dizem ao mundo não tomem o veneno da vacina da morte da febre amarela".
A vacina tem eficácia superior a 95%, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), e, mesmo fracionada, protegeria a pessoa por no mínimo oito anos. Em seguidas entrevistas, Helena Sato, diretora de Imunização da Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo e colega de Regiane, faz questão de reiterar em frente das câmeras: "Não precisamos ter medo dessa vacina, ela é excelente".
Desde janeiro de 2017, poucos são os casos de óbitos atribuídos oficialmente a uma reação à vacina da febre amarela - mais precisamente, apenas três pessoas entre quinze suspeitas, todas no Estado de São Paulo e todas com menos de 60 anos e sem registro de doenças anteriores.
Proposta do governo é vacinar 9,2 milhões pessoas em 54 cidades de São Paulo (Foto: EPA)
De qualquer forma, efeitos fora do script estão previstos não apenas para a vacina da febre amarela, mas para muitas outras.
No Manual de Vigilância Epidemiológica de Eventos Adversos Pós-Vacinação, elaborado pelo Ministério da Saúde e em sua terceira edição, é possível encontrar reações graves e não graves às vacinas de difteria, tétano, pertússis (coqueluche), hepatite A, hepatite B, BCG, cólera, febre tifoide, influenza, HPV, poliomielite, raiva, rotavírus humano, sarampo, caxumba, rubéola, varicela e febre amarela. O manual funciona como uma bula quilométrica, com 250 páginas, voltada a profissionais da saúde.
Uma de suas principais referências é a Brighton Collaboration, organização sem fins lucrativos sediada na Suíça que conta com cinco mil especialistas dedicados a tornar as vacinas cada vez mais confiáveis.
"O sucesso das vacinas implica que a imunização permaneça o mais segura possível, particularmente porque é oferecida a indivíduos saudáveis", lembra o grupo no seu site, enfatizando que a responsabilidade aumentou nos últimos tempos devido à distribuição mais rápida e ampla do produto pelo mundo.
Quais são os efeitos adversos?
O capítulo do Manual de Vigilância dedicado à vacina da febre amarela toma 9 páginas. Na introdução, o manual lembra que o imunizante é utilizado na prevenção à doença desde 1937. Composto por vírus vivo atenuado da cepa 17DD ou equivalente, cultivado em ovos de galinha embrionados, contém sacarose, glutamato, sorbitol, gelatina bovina, eritromicina e canamicina.
Daí sua primeira contraindicação: indivíduos com história de reação anafilática a qualquer uma dessas substâncias, incluindo ovo de galinha, deve sair da fila de vacinação e voltar para casa.
Seguem na linha de risco crianças menores de 6 meses de idade (a recomendação na campanha do Estado de São Paulo é de 9 meses como idade mínima), pacientes com imunodepressão de qualquer natureza - de transplantados a pessoas submetidas a tratamento com quimioterapia - e idosos com 60 anos ou mais que buscam a vacina pela primeira vez.
São considerados efeitos adversos leves febre, dor no local da aplicação, vermelhidão, dor de cabeça, dor abdominal. Entre os graves, estão encefalite, meningite, doenças autoimunes com envolvimento do sistema nervoso central e periférico, como a Guillain-Barré, afora infecção semelhante à forma severa da doença, chamada de doença viscerotrópica aguda. Ela normalmente começa com ânsia, vômito e fadiga e pode evoluir para sintomas como dificuldade para respirar, taquicardia, hemorragia, insuficiências hepática e renal. Em alguns casos leva a óbito.
O manual cita que, de 2007 a 2012, a incidência dos efeitos adversos graves foi de 4,2 casos por 1 milhão de doses administradas. Regiane de Paula fala em um caso de morte a cada 500 mil. Ou seja, dois casos em 1 milhão.
Ela ressalta que os efeitos adversos da vacina da febre amarela estão muito bem estabelecidos e que apenas 5% deles podem evoluir para uma doença viscerotrópica aguda, por exemplo.
Nas redes sociais, os efeitos adversos se amplificam
Nas redes sociais, alguns internautas atribuem à vacina de febre amarela diversas complicações; registros oficiais indicam poucos casos de óbitos oficialmente ligados à imunização (Foto: Getty Images)
Ocorre que certos casos ainda não esclarecidos desses efeitos vicejam no Facebook e no YouTube, alargando ainda mais o pé atrás quanto ao produto.
Um deles é o de Vitória Marina Souza Gomes, de 15 anos. No dia 10 de janeiro, quarta-feira, a adolescente procurou um posto de vacinação no bairro de Comendador Soares, em Nova Iguaçu. Baixada Fluminense. Queria tomar a vacina da febre amarela.
A garota não morava em área visada pelos mosquitos transmissores da doença, tampouco pensava em passear em um lugar assim. Mas havia "um medo lançado no ar", como lembra a irmã Lorena Gomes, e Vitória achou por bem se proteger recebendo no corpo um vírus vivo atenuado.
No dia seguinte, sentia enjoo e dores abdominais. O quadro agregou febre alta e dor de cabeça forte. No domingo, acordou com os olhos inchados e a dor de cabeça não dava sinal de passar. Na segunda, veio uma convulsão. O edema, que começou nos olhos, se espalhou pelo rosto e pescoço.
Sucedeu-se uma semana angustiante, agora com vermelhidão e dores tão fortes pelo corpo que ela mal caminhava sozinha. Até que surgiu a dificuldade para respirar. Dezesseis dias depois de tomar a vacina, Vitória teve três paradas cardíacas. Morreu no Hospital Geral de Nova Iguaçu. O causador oficial da morte, aquele que consta do atestado de óbito, não foi o flavivírus da febre amarela, mas uma bactéria, a Staphylococcus aureus. Para os médicos, Vitória morreu devido a uma pneumonia.
A família, no entanto, aposta que a vacina teve seu papel nesse calvário. Priscila, a mãe de Vitória, diz ter avisado sobre essa imunização aos profissionais que atenderam a garota tanto na UPA quanto no Hospital Souza Aguiar e no Nova Iguaçu, também conhecido como Hospital da Posse. "Mas preferiram apostar em sinusite, conjuntivite, alergia, infecção urinária, lúpus", afirma Lorena.
No dia 24, diz a irmã, os médicos coletaram sangue para fazer o exame da febre amarela com o propósito de enviá-lo para análise em São Paulo. Os familiares ainda não receberam o laudo dessa avaliação. Vitória sofria de bronquite, mas a família afirma que a moléstia estava sob controle. Foi isso o que teria relatado à agente de saúde quando perguntada sobre sua condição física antes de receber a agulhada no braço. "Ela foi liberada para tomar a dose", conta Lorena.
Depois do acontecido, os Gomes não querem mais saber de imunização alguma - ainda que o irmão da adolescente, que também sofre de bronquite, tenha manifestado apenas dor de cabeça depois de se imunizar junto com ela.
A rejeição é compartilhada por quem visitou a página no Facebook de Lorena antes e depois da morte de Vitória. Não faltaram comentários baseados em teorias da conspiração: "O governo quer acabar com o povo", "A vacina é uma fraude", "Nunca confiei nessas vacinas, veja o caso do ebola, tudo criado", "Tá parecendo aquela injeção que mata", "Posso morrer de febre amarela, azul ou roxa, menos de vacina; disso sim já estou imunizada".
Apuração dos casos é lenta
Quando perguntada sobre a demora na apuração dos casos suspeitos - reclamação não somente da família de Vitória mas de outras cujos parentes padeceram depois da vacina e que ainda aguardam o resultado do Adolfo Lutz sobre a causa da morte -, Regiane de Paula afirma que o processo não é tão simples assim.
"São feitos, entre outros, um exame de histopatologia e de PCR (técnica de isolamento viral), além do levantamento do histórico familiar para confirmar se a pessoa tinha ou não uma doença de base", diz.
Para atestar um efeito adverso, continua a diretora, os critérios e as etapas são mais longos e complexos do que confirmar um caso de febre amarela "puro", transmitido pela picada de um mosquito Haemagogus ou Sabethes.
Segundo a OMS, vacina para febre amarela tem eficácia superior a 95% (Foto: Getty Images)
Segue sem resposta o caso do menino Murilo Pio, de 3 anos, que morreu no dia 19 de janeiro, cinco dias após a vacinação.
O Hospital Renascença, em Osasco, que o diagnosticou em um primeiro momento com nasofaringite aguda, recebeu a criança dois dias depois, já em um quadro de contrações musculares da face seguido de crise convulsiva generalizada. A parada cardiorrespiratória aconteceu às 15h55 da sexta-feira. Às 16h35 os médicos atestaram a morte, após intubação orotraqueal e manobras de reanimação sem sucesso.
Entre os comentários virtuais depois do falecimento de Murilo, mais indignação: "A vacina está matando mais que a tal febre, 'gadão' sem noção", "Isso tem nome e chama-se homicídio culposo", "Temos tecnologia para produzir uma vacina com vírus morto, mas não é de interesse pois é um vírus que existe no 3º mundo e não há retorno financeiro".
Um histórico de revoltas
Não se vislumbra no cenário de imunização no Brasil nada que lembre a Revolta da Vacina, em 1904, na cidade do Rio de Janeiro, quando a população virou bondes, danificou fachadas de prédios, quebrou árvores e destruiu lampiões para protestar contra a vacina da varíola.
Na época, os agentes sanitários invadiam as casas e aplicavam as injeções à força. Para quem acreditava que se tratava de uma tática do Estado para exterminar as camadas mais humildes, a violência dos agentes só fez aumentar o rechaço.
Em uma proposta muito mais conciliadora, agentes comunitários têm visitado domicílios em bairros de São Paulo para saber quem tomou ou não a vacina. Aproveitam para distribuir uma senha de vacinação aos que ainda não se protegeram e esclarecer dúvidas. Os eventos adversos costumam ocupar o topo das perguntas.
"Ainda não temos certeza, mas acho que o Carnaval e o período de férias contribuíram para essa drástica diminuição na procura pela doses", cogita Marco Antônio Carvalho de Lima, coordenador de saúde da região Sul do município de São Paulo.
Na visão geral, diz ele, ainda vigora a percepção de que a vacina, se não mata, traz algum efeito colateral que pode comprometer um período de relaxamento e descontração, por exemplo. Com a volta ao ritmo normal, a proposta é convencer a população de que não há nenhuma conspiração embutida na fórmula do produto.
Autor: BBC
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data de Publicação: 27/02/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/depois-de-corrida-aos-postos-vacina-da-febre-amarela-encalha-em-meio-a-boatos-sobre-reacoes.ghtml
Como perceber se uma criança está sofrendo bullying
Imagem: EBC
Entenda quais os sinais apresentados pelas vítimas de bullying e saiba como agir
Todos já passamos em algum momento da vida por uma situação de bullying, mas, não é porque foi no passado que não tenha te afetado até hoje.
Sabendo disso, é necessário identificar se uma criança está sofrendo bullying para poder agir e combater esse mal que se espalha pelas escolas.
Como identificar que a criança está sofrendo bullying?
O primeiro passo para combater o bullying é saber identificar se uma criança está sofrendo a agressão. Geralmente, alguns comportamentos podem te alertar sobre a possível situação. Veja abaixo alguns sinais que podem te ajudar a identificar se uma criança está sofrendo bullying.
– Muito silêncio
Se a criança ficar muito quieta, se isolar, não querer conversar sobre a escola ou o dia, isso pode indicar que ele está passando por problemas, especialmente se ficar em silêncio não for um comportamento típico de sua personalidade.
– Machucados e hematomas
Note se a criança está com muitos hematomas e machucados pelo corpo. Ela pode afirmar que caiu ao longo do dia ou que bateu em algum lugar, mas se esse tipo de situação começar a se tornar mais frequente, é aconselhável que a situação seja investigada.
– Rejeição a escola
Se o seu filho começar a querer a evitar a escola, pedindo para faltar ou arranjando motivos para não ir, isso pode ser um indício de que ele está sofrendo bullying. Ele também pode lhe pedir para trocar de sala ou até mesmo de instituição.
– Roupas ou materiais estragados
Em algumas situações, quem sofre bullying tem seus pertencer destruídos ou jogados fora. Comece a notar se isso está acontecendo com a criança, pois pode te dar um sinal de que algo está errado.
– Muito irritado
Se em casa a criança começar a se mostrar muito irritada por qualquer motivo, isso pode indicar que ela sofrendo bullying ou que é quem o pratica. Junte isso a outros comportamentos para identificar se o seu filho é a vítima ou o agressor.
– Medo de ir sozinho para a escola
Pode ser que ele comece a pedir para trocar de caminho ou para que alguém o acompanhe até a escola, fique atento, isso pode indicar que ele está com medo de encontrar com os praticantes do bullying.
– Muitas brigas em sala de aula
A criança que briga muito dentro da escola pode estar tentando se defender e isso deve ser um alerta para pais, professores e coordenadores.
– Rendimento escolar começa a cair
Por não se sentir bem no ambiente, a vítima tende desenvolve uma dificuldade na escola, podendo afetar suas notas, participação e outros fatores.
– Redes sociais
Você pode perceber que seu filho ou aluno está sofrendo bullying ao verificar suas redes sociais. Muitas vezes o bullying vira o cyberbullying, que também precisa ser combatido. Porém, tome cuidado com os limites de privacidade da criança.
Saiba como agir
– Se você é o pai, mãe ou responsável: converse com o seu filho de forma aberta e sincera. Entenda o que ele está passando e não o force a nada. Fale com a escola para que juntos vocês descubram a melhor forma de ajudar a criança afetada.
Nunca culpe o seu filho pela situação, nesse momento ele precisa de apoio e incentivo. Se necessário, leve-o para um acompanhamento com psicólogo, que iniciará um tratamento personalizado para a criança.
– Se você é professor: como professor você tem mais facilidade para entender o que está acontecendo no ambiente. Preste atenção em piadinhas e agressões físicas que podem estar acontecendo na sua sala de aula. Não deixe passar, aproveite o momento para resolver a situação.
Alguns cursos online de psicologia infantil ajudam a compreender a mente das crianças e te darão clareza para lidar com o bullying.
O ideal é que se converse com as crianças envolvidas de forma adequada, pois tanto a vítima quanto o agressor precisam de ajuda durante esse processo.
Vale lembrar que o bullying é um assunto sério e que precisa de muita atenção, pois ele pode causar efeitos permanentes em algumas pessoas.
Colaboração de Tainá Fantin, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2018
Autor: Tainá Fantin
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 27/02/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/02/27/como-perceber-se-uma-crianca-esta-sofrendo-bullying/
Entenda quais os sinais apresentados pelas vítimas de bullying e saiba como agir
Todos já passamos em algum momento da vida por uma situação de bullying, mas, não é porque foi no passado que não tenha te afetado até hoje.
Sabendo disso, é necessário identificar se uma criança está sofrendo bullying para poder agir e combater esse mal que se espalha pelas escolas.
Como identificar que a criança está sofrendo bullying?
O primeiro passo para combater o bullying é saber identificar se uma criança está sofrendo a agressão. Geralmente, alguns comportamentos podem te alertar sobre a possível situação. Veja abaixo alguns sinais que podem te ajudar a identificar se uma criança está sofrendo bullying.
– Muito silêncio
Se a criança ficar muito quieta, se isolar, não querer conversar sobre a escola ou o dia, isso pode indicar que ele está passando por problemas, especialmente se ficar em silêncio não for um comportamento típico de sua personalidade.
– Machucados e hematomas
Note se a criança está com muitos hematomas e machucados pelo corpo. Ela pode afirmar que caiu ao longo do dia ou que bateu em algum lugar, mas se esse tipo de situação começar a se tornar mais frequente, é aconselhável que a situação seja investigada.
– Rejeição a escola
Se o seu filho começar a querer a evitar a escola, pedindo para faltar ou arranjando motivos para não ir, isso pode ser um indício de que ele está sofrendo bullying. Ele também pode lhe pedir para trocar de sala ou até mesmo de instituição.
– Roupas ou materiais estragados
Em algumas situações, quem sofre bullying tem seus pertencer destruídos ou jogados fora. Comece a notar se isso está acontecendo com a criança, pois pode te dar um sinal de que algo está errado.
– Muito irritado
Se em casa a criança começar a se mostrar muito irritada por qualquer motivo, isso pode indicar que ela sofrendo bullying ou que é quem o pratica. Junte isso a outros comportamentos para identificar se o seu filho é a vítima ou o agressor.
– Medo de ir sozinho para a escola
Pode ser que ele comece a pedir para trocar de caminho ou para que alguém o acompanhe até a escola, fique atento, isso pode indicar que ele está com medo de encontrar com os praticantes do bullying.
– Muitas brigas em sala de aula
A criança que briga muito dentro da escola pode estar tentando se defender e isso deve ser um alerta para pais, professores e coordenadores.
– Rendimento escolar começa a cair
Por não se sentir bem no ambiente, a vítima tende desenvolve uma dificuldade na escola, podendo afetar suas notas, participação e outros fatores.
– Redes sociais
Você pode perceber que seu filho ou aluno está sofrendo bullying ao verificar suas redes sociais. Muitas vezes o bullying vira o cyberbullying, que também precisa ser combatido. Porém, tome cuidado com os limites de privacidade da criança.
Saiba como agir
– Se você é o pai, mãe ou responsável: converse com o seu filho de forma aberta e sincera. Entenda o que ele está passando e não o force a nada. Fale com a escola para que juntos vocês descubram a melhor forma de ajudar a criança afetada.
Nunca culpe o seu filho pela situação, nesse momento ele precisa de apoio e incentivo. Se necessário, leve-o para um acompanhamento com psicólogo, que iniciará um tratamento personalizado para a criança.
– Se você é professor: como professor você tem mais facilidade para entender o que está acontecendo no ambiente. Preste atenção em piadinhas e agressões físicas que podem estar acontecendo na sua sala de aula. Não deixe passar, aproveite o momento para resolver a situação.
Alguns cursos online de psicologia infantil ajudam a compreender a mente das crianças e te darão clareza para lidar com o bullying.
O ideal é que se converse com as crianças envolvidas de forma adequada, pois tanto a vítima quanto o agressor precisam de ajuda durante esse processo.
Vale lembrar que o bullying é um assunto sério e que precisa de muita atenção, pois ele pode causar efeitos permanentes em algumas pessoas.
Colaboração de Tainá Fantin, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2018
Autor: Tainá Fantin
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 27/02/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/02/27/como-perceber-se-uma-crianca-esta-sofrendo-bullying/
Ibama pode embargar atividades da mineradora Hydro Alunorte, por vazamento de resíduos em Barcarena (PA)
Secretaria de Meio Ambiente do Pará monitora níveis das bacias do sistema de tratamento de rejeitos nas instalações da mineradora Hydro Alunorte, acusada de ser responsável por um vazamento em Barcarena Igor Brandão/Agência Brasil
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, determinou ontem (26) que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) adote providências legais e administrativas para interromper os danos ambientais causados pela mineradora norueguesa Hydro Alunorte, responsável pelo vazamento de rejeitos tóxicos no município de Barcarena (PA), na região metropolitana de Belém.
Laudo do Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, apresentado na semana passada, comprovou que um depósito de resíduos da mineradora transbordou no fim de semana anterior despejando uma quantidade ainda incerta de efluentes tóxicos no meio ambiente. De acordo com o documento, o vazamento coloca em risco a saúde de moradores de pelo menos três comunidades da região: Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba.
“Frente a essa comprovação, nós determinamos ao Ibama que tomasse todas as medidas legais possíveis, inclusive embargo [das atividades da empresa] e multas pesadas, para que fatos como esse não ocorram novamente”, declarou Sarney Filho em entrevista coletiva. O ministro destacou que o licenciamento ambiental para a operação da empresa foi concedido pelo governo do estado e não pelo governo federal.
Segundo Sarney Filho, por causa da contaminação por metais pesados, a população local está sem abastecimento de água potável. “A empresa vai ter que se explicar e responder pelos danos ambiental e social que está promovendo na região”, acrescentou o ministro, que afirmou ter “convicção pessoal” de que, pela gravidade do vazamento, o Ibama deverá embargar as atividades da empresa por prazo indeterminado. Sarney Filho disse que a autarquia ambiental federal deverá anunciar medidas nas próximas 48 horas.
As famílias atingidas pelo vazamento dos resíduos tóxicos em depósitos da mineradora começaram a receber água potável na noite de sexta-feira (23). A determinação havia sido dada pelo governo do estado.
A Hydro Alunorte é considerada a maior refinaria de alumina do mundo e opera em Barcarena desde 1995. Segundo a empresa, a maior parte de sua produção (86%) é destinada ao mercado internacional, abastecendo dez países.
Procurada pela Agência Brasil após as declarações do ministro do Meio Ambiente, a mineradora negou que tenha havido vazamento ou transbordamento de resíduos sólidos de sua produção e disse que está colaborando com as autoridades locais para distribuir água potável à população afetada por inundações na região.
Mudança na água de igarapés e rio
O vazamento dos rejeitos tóxicos foi denunciado por moradores da região, que notaram a alteração na cor da água de igarapés e de um rio. O Ministério Público do Estado do Pará instaurou dois inquéritos, um por meio da Promotoria de Justiça de Barcarena, que vai apurar o vazamento e seus impactos ao meio ambiente; e outro pela promotora Eliane Moreira, da 1ª Região Agrária, que vai apurar os possíveis impactos socioambientais do suposto vazamento, especialmente os que podem ter afetado comunidades rurais e ribeirinhas.
Sarney Filho informou também que o governo vai verificar a existência de outros empreendimentos da mineradora no país para fazer uma fiscalização “pente-fino”.
O ministro evitou comparar o vazamento em Barcarena com o desastre ocorrido em Mariana (MG), há dois anos, após o rompimento da barragem da mineradora Samarco, que resultou na morte de 19 pessoas, na destruição completa de um vilarejo e na contaminação ambiental de toda a bacia do Rio Doce, com mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos despejados no meio ambiente. “Nesse vazamento do Pará não houve morte nem barragem rompida, mas não é por isso que deixa de ser grave, ainda mais sendo na Amazônia, que é um bioma sensível, que a gente tem que proteger.”
Por Pedro Rafael Vilela – Repórter da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2018
Autor: Pedro Rafael Vilela
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 27/02/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/02/27/ibama-pode-embargar-atividades-da-mineradora-hydro-alunorte-por-vazamento-de-residuos-em-barcarena-pa/
O ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, determinou ontem (26) que o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) adote providências legais e administrativas para interromper os danos ambientais causados pela mineradora norueguesa Hydro Alunorte, responsável pelo vazamento de rejeitos tóxicos no município de Barcarena (PA), na região metropolitana de Belém.
Laudo do Instituto Evandro Chagas, do Ministério da Saúde, apresentado na semana passada, comprovou que um depósito de resíduos da mineradora transbordou no fim de semana anterior despejando uma quantidade ainda incerta de efluentes tóxicos no meio ambiente. De acordo com o documento, o vazamento coloca em risco a saúde de moradores de pelo menos três comunidades da região: Bom Futuro, Vila Nova e Burajuba.
“Frente a essa comprovação, nós determinamos ao Ibama que tomasse todas as medidas legais possíveis, inclusive embargo [das atividades da empresa] e multas pesadas, para que fatos como esse não ocorram novamente”, declarou Sarney Filho em entrevista coletiva. O ministro destacou que o licenciamento ambiental para a operação da empresa foi concedido pelo governo do estado e não pelo governo federal.
Segundo Sarney Filho, por causa da contaminação por metais pesados, a população local está sem abastecimento de água potável. “A empresa vai ter que se explicar e responder pelos danos ambiental e social que está promovendo na região”, acrescentou o ministro, que afirmou ter “convicção pessoal” de que, pela gravidade do vazamento, o Ibama deverá embargar as atividades da empresa por prazo indeterminado. Sarney Filho disse que a autarquia ambiental federal deverá anunciar medidas nas próximas 48 horas.
As famílias atingidas pelo vazamento dos resíduos tóxicos em depósitos da mineradora começaram a receber água potável na noite de sexta-feira (23). A determinação havia sido dada pelo governo do estado.
A Hydro Alunorte é considerada a maior refinaria de alumina do mundo e opera em Barcarena desde 1995. Segundo a empresa, a maior parte de sua produção (86%) é destinada ao mercado internacional, abastecendo dez países.
Procurada pela Agência Brasil após as declarações do ministro do Meio Ambiente, a mineradora negou que tenha havido vazamento ou transbordamento de resíduos sólidos de sua produção e disse que está colaborando com as autoridades locais para distribuir água potável à população afetada por inundações na região.
Mudança na água de igarapés e rio
O vazamento dos rejeitos tóxicos foi denunciado por moradores da região, que notaram a alteração na cor da água de igarapés e de um rio. O Ministério Público do Estado do Pará instaurou dois inquéritos, um por meio da Promotoria de Justiça de Barcarena, que vai apurar o vazamento e seus impactos ao meio ambiente; e outro pela promotora Eliane Moreira, da 1ª Região Agrária, que vai apurar os possíveis impactos socioambientais do suposto vazamento, especialmente os que podem ter afetado comunidades rurais e ribeirinhas.
Sarney Filho informou também que o governo vai verificar a existência de outros empreendimentos da mineradora no país para fazer uma fiscalização “pente-fino”.
O ministro evitou comparar o vazamento em Barcarena com o desastre ocorrido em Mariana (MG), há dois anos, após o rompimento da barragem da mineradora Samarco, que resultou na morte de 19 pessoas, na destruição completa de um vilarejo e na contaminação ambiental de toda a bacia do Rio Doce, com mais de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos tóxicos despejados no meio ambiente. “Nesse vazamento do Pará não houve morte nem barragem rompida, mas não é por isso que deixa de ser grave, ainda mais sendo na Amazônia, que é um bioma sensível, que a gente tem que proteger.”
Por Pedro Rafael Vilela – Repórter da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/02/2018
Autor: Pedro Rafael Vilela
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 27/02/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/02/27/ibama-pode-embargar-atividades-da-mineradora-hydro-alunorte-por-vazamento-de-residuos-em-barcarena-pa/
terça-feira, 27 de fevereiro de 2018
Usos da água e desigualdade na oferta precisam ser discutidos, diz especialista
A barragem Sete Quedas faz parte do Sistema Cantareira de abastecimento de água para a capital - Rovena Rosa/Agência Brasil
Especialista em recursos hídricos e sustentabilidade, a arquiteta e urbanista Marussia Whately coordena desde 2014 a articulação Aliança pelas Águas, iniciativa criada durante a crise de abastecimento de água em São Paulo. A rede reúne mais de 70 organizações da sociedade civil. A especialista participará, entre os dias 18 e 23 de março, em Brasília, do 8º Fórum Mundial da Água, evento organizado pelo Conselho Mundial da Água.
Em entrevista à Agência Brasil, Marussia Whately destaca que uma combinação de fatores que envolve a disponibilidade da água no país, a forma como vem sendo usada e as alterações climáticas não permitem que o tema da água seja tratado de “forma marginal”. A arquiteta é autora do livro Século da Escassez. Uma nova cultura de cuidado com a água: impasses e desafios, lançado em 2016.
Ela defende o debate e o aprimoramento das políticas de recursos hídricos para enfrentar tendências como o aumento dos conflitos por água no Brasil. “É fundamental trazer a questão de que muitos desses usos [de água] que são citados como conflitantes são autorizados, então já sendo autorizada por aqueles que são os que tem o domínio da água no Brasil, ou é o governo federal ou estadual. Como está sendo repartido esse grande benefício?”, questiona.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
Agência Brasil: O tema da água tem sido tratado como um problema crônico, como as crises de abastecimento vivenciadas em São Paulo, nos anos de 2014 e 2015, e atualmente pelo Distrito Federal, além da situação histórica como a do semiárido. Por que a água é encarada como um problema e o que a trouxe para este patamar que precisa de solução?
Marussia Whately: A água doce é um recurso essencial não só para a vida, mas para qualquer atividade econômica ou produtiva e, em diferentes regiões do planeta, nós temos um conjunto de fatores que acabam por comprometer a disponibilidade desse recurso de forma ampla. Tem desde regiões onde a disponibilidade natural já é menor, como o próprio semiárido brasileiro, mas a situação se agrava quando é somada à forma como se vem usando a água para diferentes fins, como abastecimento público, produção de bens, irrigação, abastecimento de animais, termelétricas, mineração. Todos esses usos são grandes usuários de água.
No caso do Brasil, a maior parte do país, a quantidade de água não é necessariamente o nosso principal problema, e sim, cada vez mais, a questão de repartição dos usos e da qualidade da água. Quando se menciona uma crise, fala-se, principalmente, do contexto de crises urbanas que é muito relacionada ao abastecimento público e ao planejamento que se faz, ou não, para garantir que esse recurso esteja disponível em diferentes situações. Por exemplo, em uma crise por conta de um evento climático extremo, como foi em São Paulo, que, na verdade, foram acúmulos de vários anos com menos chuvas e o resultado de dois anos com ainda menos chuva, não necessariamente a infraestrutura foi planejada, construída, para dar conta disso.
Agência Brasil: Quando se fala em segurança hídrica, costuma-se pensar em oferta de água. O que esse conceito significa e qual a situação do Brasil?
Marussia Whately: O conceito de segurança hídrica é relativamente novo, dos últimos dez anos. Você tem diferentes definições e abordagens em relação a esse conceito. Ainda não é um conceito institucionalizado, tanto do ponto de vista global, como nacional, não temos uma definição em lei sobre segurança hídrica, isso permite que se tenha as várias interpretações e aplicações.
No caso do Brasil, nós desenvolvemos uma pesquisa sobre a governança da água doce, que eu realizei junto com a professora Estela Neves, da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Ao analisar marcos federais de saneamento e saúde e a Constituição Federal, descobrimos que a questão da segurança hídrica aparece muito próxima da Defesa Civil, mas nós ainda não temos uma legislação que trate do tema. Vimos que a gente tem uma aproximação com o conceito que a ONU [Organização das Nações Unidas] tem usado desde 2013, que é garantir água em quantidade adequada, com qualidade adequada, com acesso tanto físico quanto financeiro, protegendo as pessoas em relação à poluição, aos desastres naturais, protegendo os ecossistemas e garantindo um clima de paz e resolução de conflito. Ou seja, é um conceito bem abrangente e que, no caso, ele teria uma aplicação no âmbito do município, uma vez que seria essa a instância que poderia integrar as diferentes frentes relacionadas ao saneamento, à saúde, ao meio ambiente e à defesa civil.
Agência Brasil: Ao discutir o problema da água, fala-se menos de temas que também impactam nessa questão, como saneamento. Por que isso ocorre e quais as consequências desta percepção?
Marussia Whately: Essa é uma leitura cada vez menos usual. A questão da água tem ganhado uma centralidade em diferentes agendas, principalmente porque esse tema está presente em diversas dimensões da nossa vida. A questão da água vai ganhando uma complexidade à medida que esse recurso vem ficando mais ameaçado, seja pela combinação dos fatores que mencionei antes, que envolve a disponibilidade natural versus a forma como a gente usa versus a forma como a gente polui, esses fatores combinados com o clima, que está mudando, e as alterações climáticas são sentidas, principalmente, pela falta de água ou pelo excesso de água, fica difícil tratar a água de uma forma marginal. A importância dela está cada vez mais central, onde não só temas como o saneamento, como o direito humano ao acesso à água e ao saneamento ou mesmo o entendimento sobre a questão de que diferentes usos necessitam de diferentes qualidades de água, é uma série de questões que estão mudando rapidamente, não só na percepção como a importância delas no dia a dia.
Agência Brasil: Durante a crise hídrica em São Paulo, por exemplo, um dos temas debatidos foi o uso excessivo da água pela indústria e pelo agronegócio. Como é possível enfrentar o problema da água olhando também para este consumo?
Marussia Whately: Um estudo anual produzido pela Agência Nacional de Águas (ANA), que chama Conjuntura Nacional de Recursos Hídricos, talvez seja o documento mais completo sobre água e recursos hídricos oficial que temos no Brasil. Uma coisa que o estudo mostra é que considerando tudo que tem de uso hoje de autorização para a irrigação mais o que tem de uso para abastecimento animal, mais para o que tem de uso para abastecimento público, ele vai fazendo uma análise. Hoje, em torno de mais de 50% da água retirada dos corpos d’água do Brasil são para irrigação. A diferença é que com o uso como irrigação, retira-se uma quantidade de água e com uma taxa de retorno daquela água muito pequena, porque ele vai irrigar, vai fazer a planta crescer e aquela água não vai voltar para aquele lugar. É diferente, por exemplo, dessa metodologia da ANA, que fala que o abastecimento público tem uma taxa de retorno alta, porque vai utilizar água e vai devolver essa água em forma de esgoto.
Considerando essa metodologia, a irrigação e a produção animal para proteína, juntas seriam responsáveis hoje por quase 80% do consumo de água no Brasil. Em relação à retirada, as duas juntas dão em torno de 60%. Toda a água que é utilizada para o abastecimento público estaria em torno de 20% a 25% do uso da água no Brasil hoje.
A gente costuma ter um pouco essa leitura de que existem crises de água, então o problema é o excesso de consumo residencial naquele lugar, mas não necessariamente essa é uma leitura do que existe de disponibilidade de água no país como um todo. Uma vez que são dadas as outorgas de uso pelas diferentes instâncias, isso ocorre de forma muito fragmentada tendo em vista a desigualdade dessa distribuição e do quanto se tem uma discussão efetiva dessas prioridades de uso. Por exemplo, o setor de irrigação pode consumir menos água ou consumir de forma muito mais inteligente do que a gente tem hoje em diferentes lugares do Brasil, não necessariamente toda a irrigação no Brasil está errada do ponto de vista de consumo de água, mas a gente tem uma grande possibilidade de melhorar .
Agência Brasil: Um levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) indica o aumento dos conflitos por água no Brasil. Segundo a entidade, de 2011 a 2015, os casos passaram de 69 para 172, com destaque para os conflitos relacionados à apropriação particular da água e o uso e preservação. Um dos casos mais recentes ocorreu em Correntina, na Bahia, que tem tido protestos em defesa da água em contraposição à exploração feita por empresas do agronegócio ali instaladas. O que explica o aumento desses conflitos e como solucioná-los?
Marussia Whately: Esse mapeamento apresenta uma tendência, que infelizmente não é só uma tendência do Brasil, mas global. A gente já ouviu muito sobre conflitos entre países por conta de água, mas o que temos de tendências recentes é de conflito dentro de países, entre regiões. Aqui o que nós começamos a ver não são exatamente conflitos entre regiões, entre estados, mas conflitos entre diferentes usos da água no mesmo território e, normalmente, de grandes usuários impactando pequenos usuários.
Na verdade, é uma amostragem daquilo que pode acontecer de fato em diferentes regiões e acompanha uma preocupação de que nós temos no Brasil, teoricamente, legislações, ferramentas e instrumentos que deveriam promover a resolução desses conflitos.
Do ponto de vista dos instrumentos, da outorga, teoricamente, esses usos estão autorizados. Tem muitos usos irregulares, obviamente, mas uma mineradora, por exemplo, o mínimo que deve ter é uma outorga. Precisamos melhorar e aprimorar os instrumentos que já temos, inclusive trazendo aprendizados sobre o que eles podem ter de aprimoramento, mas é fundamental trazer a questão de que muitos desses usos que são citados como conflitantes são usos autorizados, então já sendo autorizada por aqueles que são os que tem o domínio da água no Brasil, então ou é o governo federal ou estadual. Como está sendo repartido esse grande benefício?
Agência Brasil: Como você avalia a evolução do debate da água no Brasil? Há avanços na compreensão da água como um bem coletivo?
Marussia Whately: Temos 20 anos de políticas de gestão de recursos hídricos com todo o esforço de implementação, mas que merece uma reflexão, inclusive, para aprimorar várias ferramentas e fortalecer novamente esse sistema no sentido que ele exerça um papel mais central da definição de políticas públicas de recursos hídricos.
Na parte de saneamento, infelizmente, a gente avançou muito menos do que seria o desejável, é uma área urgente para o Brasil, da maior importância, uma das nossas maiores deficiências em termos de serviços e que teve não só muitos avanços aquém do esperado do ponto de vista da infraestrutura, mas que tem tendências de sofrer grandes retrocessos do ponto de vista de gestão.
Agência Brasil: Qual papel deve cumprir o 8º Fórum Mundial da Água? Qual o significado de ele ser realizado no Brasil?
Marussia Whately: O Fórum Mundial da Água não é uma conferência global da água do ponto de vista da ONU, mas é um evento que reforça a importância de se ter essa discussão, esse tipo de espaço nas Nações Unidas por conta do envolvimento e da criação de compromissos vinculantes entre os países. Independentemente disso, ele é um evento superimportante da agenda da água, que ocorre a cada três anos em um país e agora este ano no Brasil. Acho que o evento vai trazer bastante visibilidade para o tema, vai criar bastante pauta, agenda e pode ser uma oportunidade para a gente avançar em algumas questões, por exemplo, discutir saneamento no Brasil.
Como contraponto existe o Fórum Alternativo Mundial da Água, uma grande articulação de várias organizações e movimentos que não reconhecem o Fórum Mundial da Água como espaço de representação desse ponto de vista. Eles veem como um espaço privado e de fato tem questões. Para participar do fórum, da parte de debates, tem que pagar inscrição. Além disso, o que o Fórum Mundial da Água gera de produto é uma declaração, mas não necessariamente gera compromisso, como geraria um acordo a partir da ONU, que os países signatários se comprometem a cumprir.
Por Camila Maciel, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/02/2018
Autor: Camila Maciel
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 26/02/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/02/26/usos-da-agua-e-desigualdade-na-oferta-precisam-ser-discutidos-diz-especialista/
Especialista em recursos hídricos e sustentabilidade, a arquiteta e urbanista Marussia Whately coordena desde 2014 a articulação Aliança pelas Águas, iniciativa criada durante a crise de abastecimento de água em São Paulo. A rede reúne mais de 70 organizações da sociedade civil. A especialista participará, entre os dias 18 e 23 de março, em Brasília, do 8º Fórum Mundial da Água, evento organizado pelo Conselho Mundial da Água.
Em entrevista à Agência Brasil, Marussia Whately destaca que uma combinação de fatores que envolve a disponibilidade da água no país, a forma como vem sendo usada e as alterações climáticas não permitem que o tema da água seja tratado de “forma marginal”. A arquiteta é autora do livro Século da Escassez. Uma nova cultura de cuidado com a água: impasses e desafios, lançado em 2016.
Ela defende o debate e o aprimoramento das políticas de recursos hídricos para enfrentar tendências como o aumento dos conflitos por água no Brasil. “É fundamental trazer a questão de que muitos desses usos [de água] que são citados como conflitantes são autorizados, então já sendo autorizada por aqueles que são os que tem o domínio da água no Brasil, ou é o governo federal ou estadual. Como está sendo repartido esse grande benefício?”, questiona.
Veja abaixo os principais trechos da entrevista:
Agência Brasil: O tema da água tem sido tratado como um problema crônico, como as crises de abastecimento vivenciadas em São Paulo, nos anos de 2014 e 2015, e atualmente pelo Distrito Federal, além da situação histórica como a do semiárido. Por que a água é encarada como um problema e o que a trouxe para este patamar que precisa de solução?
Marussia Whately: A água doce é um recurso essencial não só para a vida, mas para qualquer atividade econômica ou produtiva e, em diferentes regiões do planeta, nós temos um conjunto de fatores que acabam por comprometer a disponibilidade desse recurso de forma ampla. Tem desde regiões onde a disponibilidade natural já é menor, como o próprio semiárido brasileiro, mas a situação se agrava quando é somada à forma como se vem usando a água para diferentes fins, como abastecimento público, produção de bens, irrigação, abastecimento de animais, termelétricas, mineração. Todos esses usos são grandes usuários de água.
No caso do Brasil, a maior parte do país, a quantidade de água não é necessariamente o nosso principal problema, e sim, cada vez mais, a questão de repartição dos usos e da qualidade da água. Quando se menciona uma crise, fala-se, principalmente, do contexto de crises urbanas que é muito relacionada ao abastecimento público e ao planejamento que se faz, ou não, para garantir que esse recurso esteja disponível em diferentes situações. Por exemplo, em uma crise por conta de um evento climático extremo, como foi em São Paulo, que, na verdade, foram acúmulos de vários anos com menos chuvas e o resultado de dois anos com ainda menos chuva, não necessariamente a infraestrutura foi planejada, construída, para dar conta disso.
Agência Brasil: Quando se fala em segurança hídrica, costuma-se pensar em oferta de água. O que esse conceito significa e qual a situação do Brasil?
Marussia Whately: O conceito de segurança hídrica é relativamente novo, dos últimos dez anos. Você tem diferentes definições e abordagens em relação a esse conceito. Ainda não é um conceito institucionalizado, tanto do ponto de vista global, como nacional, não temos uma definição em lei sobre segurança hídrica, isso permite que se tenha as várias interpretações e aplicações.
No caso do Brasil, nós desenvolvemos uma pesquisa sobre a governança da água doce, que eu realizei junto com a professora Estela Neves, da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro]. Ao analisar marcos federais de saneamento e saúde e a Constituição Federal, descobrimos que a questão da segurança hídrica aparece muito próxima da Defesa Civil, mas nós ainda não temos uma legislação que trate do tema. Vimos que a gente tem uma aproximação com o conceito que a ONU [Organização das Nações Unidas] tem usado desde 2013, que é garantir água em quantidade adequada, com qualidade adequada, com acesso tanto físico quanto financeiro, protegendo as pessoas em relação à poluição, aos desastres naturais, protegendo os ecossistemas e garantindo um clima de paz e resolução de conflito. Ou seja, é um conceito bem abrangente e que, no caso, ele teria uma aplicação no âmbito do município, uma vez que seria essa a instância que poderia integrar as diferentes frentes relacionadas ao saneamento, à saúde, ao meio ambiente e à defesa civil.
Agência Brasil: Ao discutir o problema da água, fala-se menos de temas que também impactam nessa questão, como saneamento. Por que isso ocorre e quais as consequências desta percepção?
Marussia Whately: Essa é uma leitura cada vez menos usual. A questão da água tem ganhado uma centralidade em diferentes agendas, principalmente porque esse tema está presente em diversas dimensões da nossa vida. A questão da água vai ganhando uma complexidade à medida que esse recurso vem ficando mais ameaçado, seja pela combinação dos fatores que mencionei antes, que envolve a disponibilidade natural versus a forma como a gente usa versus a forma como a gente polui, esses fatores combinados com o clima, que está mudando, e as alterações climáticas são sentidas, principalmente, pela falta de água ou pelo excesso de água, fica difícil tratar a água de uma forma marginal. A importância dela está cada vez mais central, onde não só temas como o saneamento, como o direito humano ao acesso à água e ao saneamento ou mesmo o entendimento sobre a questão de que diferentes usos necessitam de diferentes qualidades de água, é uma série de questões que estão mudando rapidamente, não só na percepção como a importância delas no dia a dia.
Agência Brasil: Durante a crise hídrica em São Paulo, por exemplo, um dos temas debatidos foi o uso excessivo da água pela indústria e pelo agronegócio. Como é possível enfrentar o problema da água olhando também para este consumo?
Marussia Whately: Um estudo anual produzido pela Agência Nacional de Águas (ANA), que chama Conjuntura Nacional de Recursos Hídricos, talvez seja o documento mais completo sobre água e recursos hídricos oficial que temos no Brasil. Uma coisa que o estudo mostra é que considerando tudo que tem de uso hoje de autorização para a irrigação mais o que tem de uso para abastecimento animal, mais para o que tem de uso para abastecimento público, ele vai fazendo uma análise. Hoje, em torno de mais de 50% da água retirada dos corpos d’água do Brasil são para irrigação. A diferença é que com o uso como irrigação, retira-se uma quantidade de água e com uma taxa de retorno daquela água muito pequena, porque ele vai irrigar, vai fazer a planta crescer e aquela água não vai voltar para aquele lugar. É diferente, por exemplo, dessa metodologia da ANA, que fala que o abastecimento público tem uma taxa de retorno alta, porque vai utilizar água e vai devolver essa água em forma de esgoto.
Considerando essa metodologia, a irrigação e a produção animal para proteína, juntas seriam responsáveis hoje por quase 80% do consumo de água no Brasil. Em relação à retirada, as duas juntas dão em torno de 60%. Toda a água que é utilizada para o abastecimento público estaria em torno de 20% a 25% do uso da água no Brasil hoje.
A gente costuma ter um pouco essa leitura de que existem crises de água, então o problema é o excesso de consumo residencial naquele lugar, mas não necessariamente essa é uma leitura do que existe de disponibilidade de água no país como um todo. Uma vez que são dadas as outorgas de uso pelas diferentes instâncias, isso ocorre de forma muito fragmentada tendo em vista a desigualdade dessa distribuição e do quanto se tem uma discussão efetiva dessas prioridades de uso. Por exemplo, o setor de irrigação pode consumir menos água ou consumir de forma muito mais inteligente do que a gente tem hoje em diferentes lugares do Brasil, não necessariamente toda a irrigação no Brasil está errada do ponto de vista de consumo de água, mas a gente tem uma grande possibilidade de melhorar .
Agência Brasil: Um levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT) indica o aumento dos conflitos por água no Brasil. Segundo a entidade, de 2011 a 2015, os casos passaram de 69 para 172, com destaque para os conflitos relacionados à apropriação particular da água e o uso e preservação. Um dos casos mais recentes ocorreu em Correntina, na Bahia, que tem tido protestos em defesa da água em contraposição à exploração feita por empresas do agronegócio ali instaladas. O que explica o aumento desses conflitos e como solucioná-los?
Marussia Whately: Esse mapeamento apresenta uma tendência, que infelizmente não é só uma tendência do Brasil, mas global. A gente já ouviu muito sobre conflitos entre países por conta de água, mas o que temos de tendências recentes é de conflito dentro de países, entre regiões. Aqui o que nós começamos a ver não são exatamente conflitos entre regiões, entre estados, mas conflitos entre diferentes usos da água no mesmo território e, normalmente, de grandes usuários impactando pequenos usuários.
Na verdade, é uma amostragem daquilo que pode acontecer de fato em diferentes regiões e acompanha uma preocupação de que nós temos no Brasil, teoricamente, legislações, ferramentas e instrumentos que deveriam promover a resolução desses conflitos.
Do ponto de vista dos instrumentos, da outorga, teoricamente, esses usos estão autorizados. Tem muitos usos irregulares, obviamente, mas uma mineradora, por exemplo, o mínimo que deve ter é uma outorga. Precisamos melhorar e aprimorar os instrumentos que já temos, inclusive trazendo aprendizados sobre o que eles podem ter de aprimoramento, mas é fundamental trazer a questão de que muitos desses usos que são citados como conflitantes são usos autorizados, então já sendo autorizada por aqueles que são os que tem o domínio da água no Brasil, então ou é o governo federal ou estadual. Como está sendo repartido esse grande benefício?
Agência Brasil: Como você avalia a evolução do debate da água no Brasil? Há avanços na compreensão da água como um bem coletivo?
Marussia Whately: Temos 20 anos de políticas de gestão de recursos hídricos com todo o esforço de implementação, mas que merece uma reflexão, inclusive, para aprimorar várias ferramentas e fortalecer novamente esse sistema no sentido que ele exerça um papel mais central da definição de políticas públicas de recursos hídricos.
Na parte de saneamento, infelizmente, a gente avançou muito menos do que seria o desejável, é uma área urgente para o Brasil, da maior importância, uma das nossas maiores deficiências em termos de serviços e que teve não só muitos avanços aquém do esperado do ponto de vista da infraestrutura, mas que tem tendências de sofrer grandes retrocessos do ponto de vista de gestão.
Agência Brasil: Qual papel deve cumprir o 8º Fórum Mundial da Água? Qual o significado de ele ser realizado no Brasil?
Marussia Whately: O Fórum Mundial da Água não é uma conferência global da água do ponto de vista da ONU, mas é um evento que reforça a importância de se ter essa discussão, esse tipo de espaço nas Nações Unidas por conta do envolvimento e da criação de compromissos vinculantes entre os países. Independentemente disso, ele é um evento superimportante da agenda da água, que ocorre a cada três anos em um país e agora este ano no Brasil. Acho que o evento vai trazer bastante visibilidade para o tema, vai criar bastante pauta, agenda e pode ser uma oportunidade para a gente avançar em algumas questões, por exemplo, discutir saneamento no Brasil.
Como contraponto existe o Fórum Alternativo Mundial da Água, uma grande articulação de várias organizações e movimentos que não reconhecem o Fórum Mundial da Água como espaço de representação desse ponto de vista. Eles veem como um espaço privado e de fato tem questões. Para participar do fórum, da parte de debates, tem que pagar inscrição. Além disso, o que o Fórum Mundial da Água gera de produto é uma declaração, mas não necessariamente gera compromisso, como geraria um acordo a partir da ONU, que os países signatários se comprometem a cumprir.
Por Camila Maciel, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/02/2018
Autor: Camila Maciel
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 26/02/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/02/26/usos-da-agua-e-desigualdade-na-oferta-precisam-ser-discutidos-diz-especialista/
Projeto busca vírus que possam causar pandemias globais
A revista Science publicou, nesta sexta-feira (23/2), artigo que descreve o Projeto Viroma Global (PVG), iniciativa internacional que propõe uma estratégia absolutamente diversa da que tem sido adotada ao combate dos riscos virais. O objetivo do PVG é identificar e caracterizar os vírus com potencial de risco, gerando conhecimento que possibilite prever as próximas epidemias e mitigar seus danos. O projeto se baseia na estimativa de que há aproximadamente 1,6 milhão de vírus desconhecidos no mundo, entre eles, de 600 a 800 mil deles podem infectar o homem. Os cientistas do PVG querem saber quem são eles e qual caminho podem seguir. Para isso, pretendem caracterizar os patógenos emergentes, identificar práticas e comportamentos que levam a propagação e ampliação da doença e propor conjunto de medidas para caso de emergências.
A proposta, embora audaciosa, está sustentada em evidências robustas coletadas pelo Predict – um projeto piloto, conduzido pela Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAIDS) com foco no fortalecimento de competências e estruturas laboratoriais para detectar e prever pandemias a partir de vírus que são transmitidos da relação entre animais e humanos. Para alcançar seu objetivo, o PVG pretende ampliar e fortalecer laboratórios de virologia existentes e criar uma base de dados de larga escala em ecologia e genética de vírus de alto risco propondo transformar a ciência básica em virologia em uma área de conhecimento baseada em big data.
O Predict, em oito anos, com U$ 170 milhões e mais de 30 países parceiros, conseguiu coletar aproximadamente 250 mil amostras de mais de 90 mil origens e identificou aproximadamente mil novos vírus. Capacitou mais de 4 mil profissionais e tem 50 laboratórios em plena atividade. Os números demonstram o acerto na abordagem OneHealth, que considera a intrínseca relação entre a população, animais e o meio ambiente para o mapeamento de vírus que representam perigo para a saúde.
De fato, 75% dos patógenos emergentes é transmitido por animais. De acordo com o artigo publicado na Science, o PVG estima que a maioria da diversidade viral de nossos reservatórios zoonóticos podem ser descobertos, caracterizados e avaliados em um prazo de dez anos. De acordo com o artigo, a iniciativa dependerá da adoção de tecnologias de ponta para sequenciamento além da colaboração entre virologistas, epidemiologistas e modeladores, novas estratégias para avaliar as relações entre vírus e hospedeiros, e conhecimento nas áreas de biologia evolutiva, modelagem de biodiversidade, veterinária, entre outras.
O Brasil faz parte dessa iniciativa. O coordenador do Centro de Desenvolvimento de Tecnologias em Saúde (CDTS/Fiocruz), Carlos Morel, é co-autor do artigo da Science e participa da governança do projeto ao lado do diretor da Unidade de Desenvolvimento e Segurança da Saúde Global da Agência Americana para Ajuda Internacional, Dennis Carroll. O Brasil é um hotspot para pesquisas e coleta de amostras dada a alta probabilidade de extrapolação dos vírus de seus reservatórios para o ser humano. Além disso, o país tem cientistas com importantes contribuições para a compreensão e prevenção de doenças emergentes virais, como o especialista em virologia do CDTS Thiago Moreno, que a partir do sequenciamento e análise do comportamento do vírus da zika identificou a trajetória da epidemia e testa medicamentos já aprovados para tratar a doença e evitar que a transmissão do vírus para o feto. O Brasil tem biodiversidade, liderança, ciência e experiência em alianças internacionais.
Os organizadores do PVG estão estabelecendo um desenho de gestão transparente e com participação equitativa de cada país envolvido. Questões éticas, sociais, legais pautam as atividades científicas. Na prática, isso representa um esforço para construir protocolos de acesso a biodiversidade e patrimônio genético em conformidade com Protocolo de Nagoya e as regras dos países envolvidos, acordos para o compartilhamento de amostras, dados e potenciais benefícios na hipótese de desenvolvimento e comercialização de produtos e serviços, além de políticas de proteção da propriedade intelectual e compliance que estabelecem, de antemão, os valores e princípios que os parceiros devem observar, garantindo a proteção das populações e o meio ambiente e a primazia do interesse público e o bem comum. A estratégia de vigilância orientada e baseada no risco, voltada para a detecção de vírus no seu ambiente natural pode conduzir a intervenções eficientes antes do contágio de pessoas ou animais alimentares.
O custo da empreitada foi avaliado em US$ 1,2 bilhão, para aumentar a capacidade de identificação de patógenos, fortalecer capacidades e laboratórios existentes, colher dados e gerar conhecimento. Entre os benefícios, mais conhecimento pode oferecer respostas mais eficientes e rápidas aos surtos, nortear o desenvolvimento e aprimoramento de diagnósticos, medicamentos e vacinas. Entendendo como o vírus se comporta, é possível, inclusive, evitar que se espalhe e criar consciência global e regional e informar políticas para evitar ou mitigar a disseminação dos vírus.
Para fins de comparação, um recente estudo na área da economia da saúde avaliou que o Brasil gastou R$ 2,3 bilhões com dengue, chikungunya e zika, apenas em 2016. Considerado conservador pelos próprios autores, o estudo calculou custos diretos, como atendimento e medicamentos e ausência no trabalho, e indiretos, como o combate ao mosquito vetor, mas excluiu, por exemplo, despesas com tratamento da microcefalia e anos de vida perdidos. Pode-se dizer que o Brasil pagou o preço alto pela inação.
O Boletim Epidemiológico 3/2018 do Ministério da Saúde divulgou que mais de 3 mil crianças nasceram com malformação em virtude do vírus zika entre os anos de 2015 e 2017. Por malformação compreende-se microcefalia, comprometimento do sistema nervoso central, epilepsia, deficiências auditivas e visuais, dificuldade de desenvolvimento psicomotor, além de prejuízos nos ossos e articulações. Entre mais de 15 mil notificações de suspeitas de zika, 507 crianças morreram, desconsiderando abortos e natimortos.
Esse número ganha corpo com a história de Henrique, de 2 anos. Diagnosticado com microcefalia causada pela zika, tem dificuldades de se manter de pé, sentar ou sustentar a cabeça. Pouco fala e mal enxerga. As atividades de fisioterapia, fonoaudiologia, estimulação visual e terapia ocupacional que o menino faz desde o nascimento não têm promovido melhoras expressivas e a mãe de Henrique, apesar da esperança, pouco sabe sobre seu futuro.
Cientistas vêm descobrindo e descrevendo os efeitos das epidemias virais na medida em que seus danos ocorrem. Do mesmo modo que autoridades administrativas na área da saúde tomam decisões no auge dessas emergências. A fragilidade das ações em saúde pública que reagem a propagação de vírus novos e reemergentes não é exclusividade do Brasil. Agora mesmo, assistimos os EUA definindo como lidar com o H3N2, um tipo de influenza A, no meio da crise.
Há muito ainda para ser desenvolvido em termos de tecnologias para diagnósticos e tratamentos. Medicamentos e vacinas levam de 10 a 20 para seu desenvolvimento completo. É um processo longo, complexo, custoso e de alto risco. Por outro lado, aproximadamente três novas doenças virais surgem a cada ano. De acordo com o Ministério da Saúde, em apenas dois anos o número de mortos pelo chikungunya subiu de 14 (2015) para 173 pessoas (2017).
As tecnologias disponíveis não dão conta dos efeitos causados pelas doenças virais emergentes, seja porque pensadas para um grupo limitado de pacientes ou por falta de capacidade de produção e distribuição que garanta o acesso imediato de alto volume de tratamento ou vacinas. O vírus H1N1, por exemplo, foi detectado em 2009 e infectou quase 2 bilhões de pessoas em 73 países. Nesse mesmo prazo, como resposta sanitária, apenas 17% da população global foi imunizada.
Pensar em política públicas de saúde e desenvolver medidas de reparação após a dispersão do vírus expõe a população a danos trágicos, como os de Henrique. Estudos recentes estimam que o mundo conhece apenas 1% dos vírus que podem causar doenças. Mudanças demográficas e ambientais, além do mercado global e trânsito internacional de pessoas, contribuem para o aumento e propagação de vírus novos e reemergentes, como HIV, ebola, Mers, síndrome respiratória aguda grave (SARS), dengue, chikungunya, zika etc.
Detecção precoce é elemento imprescindível para combater as doenças virais emergentes. Nossa capacidade de lidar com as próximas epidemias está limitada pelo desconhecimento sobre essas ameaças. O PVG pretende abastecer a comunidade global com informações necessárias para detectar, prevenir e agir de maneira proativa às epidemias emergentes, mitigando o risco de futuras epidemias reduzindo o impacto das doenças como a zika, que afetou Henrique e sua família. Se o objetivo for alcançado, o preço é insignificante.
Autor: Renata Curl Hauegen
Fonte: CDTS/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 23/02/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/projeto-busca-virus-que-possam-causar-pandemias-globais
A proposta, embora audaciosa, está sustentada em evidências robustas coletadas pelo Predict – um projeto piloto, conduzido pela Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAIDS) com foco no fortalecimento de competências e estruturas laboratoriais para detectar e prever pandemias a partir de vírus que são transmitidos da relação entre animais e humanos. Para alcançar seu objetivo, o PVG pretende ampliar e fortalecer laboratórios de virologia existentes e criar uma base de dados de larga escala em ecologia e genética de vírus de alto risco propondo transformar a ciência básica em virologia em uma área de conhecimento baseada em big data.
O Predict, em oito anos, com U$ 170 milhões e mais de 30 países parceiros, conseguiu coletar aproximadamente 250 mil amostras de mais de 90 mil origens e identificou aproximadamente mil novos vírus. Capacitou mais de 4 mil profissionais e tem 50 laboratórios em plena atividade. Os números demonstram o acerto na abordagem OneHealth, que considera a intrínseca relação entre a população, animais e o meio ambiente para o mapeamento de vírus que representam perigo para a saúde.
De fato, 75% dos patógenos emergentes é transmitido por animais. De acordo com o artigo publicado na Science, o PVG estima que a maioria da diversidade viral de nossos reservatórios zoonóticos podem ser descobertos, caracterizados e avaliados em um prazo de dez anos. De acordo com o artigo, a iniciativa dependerá da adoção de tecnologias de ponta para sequenciamento além da colaboração entre virologistas, epidemiologistas e modeladores, novas estratégias para avaliar as relações entre vírus e hospedeiros, e conhecimento nas áreas de biologia evolutiva, modelagem de biodiversidade, veterinária, entre outras.
O Brasil faz parte dessa iniciativa. O coordenador do Centro de Desenvolvimento de Tecnologias em Saúde (CDTS/Fiocruz), Carlos Morel, é co-autor do artigo da Science e participa da governança do projeto ao lado do diretor da Unidade de Desenvolvimento e Segurança da Saúde Global da Agência Americana para Ajuda Internacional, Dennis Carroll. O Brasil é um hotspot para pesquisas e coleta de amostras dada a alta probabilidade de extrapolação dos vírus de seus reservatórios para o ser humano. Além disso, o país tem cientistas com importantes contribuições para a compreensão e prevenção de doenças emergentes virais, como o especialista em virologia do CDTS Thiago Moreno, que a partir do sequenciamento e análise do comportamento do vírus da zika identificou a trajetória da epidemia e testa medicamentos já aprovados para tratar a doença e evitar que a transmissão do vírus para o feto. O Brasil tem biodiversidade, liderança, ciência e experiência em alianças internacionais.
Os organizadores do PVG estão estabelecendo um desenho de gestão transparente e com participação equitativa de cada país envolvido. Questões éticas, sociais, legais pautam as atividades científicas. Na prática, isso representa um esforço para construir protocolos de acesso a biodiversidade e patrimônio genético em conformidade com Protocolo de Nagoya e as regras dos países envolvidos, acordos para o compartilhamento de amostras, dados e potenciais benefícios na hipótese de desenvolvimento e comercialização de produtos e serviços, além de políticas de proteção da propriedade intelectual e compliance que estabelecem, de antemão, os valores e princípios que os parceiros devem observar, garantindo a proteção das populações e o meio ambiente e a primazia do interesse público e o bem comum. A estratégia de vigilância orientada e baseada no risco, voltada para a detecção de vírus no seu ambiente natural pode conduzir a intervenções eficientes antes do contágio de pessoas ou animais alimentares.
O custo da empreitada foi avaliado em US$ 1,2 bilhão, para aumentar a capacidade de identificação de patógenos, fortalecer capacidades e laboratórios existentes, colher dados e gerar conhecimento. Entre os benefícios, mais conhecimento pode oferecer respostas mais eficientes e rápidas aos surtos, nortear o desenvolvimento e aprimoramento de diagnósticos, medicamentos e vacinas. Entendendo como o vírus se comporta, é possível, inclusive, evitar que se espalhe e criar consciência global e regional e informar políticas para evitar ou mitigar a disseminação dos vírus.
Para fins de comparação, um recente estudo na área da economia da saúde avaliou que o Brasil gastou R$ 2,3 bilhões com dengue, chikungunya e zika, apenas em 2016. Considerado conservador pelos próprios autores, o estudo calculou custos diretos, como atendimento e medicamentos e ausência no trabalho, e indiretos, como o combate ao mosquito vetor, mas excluiu, por exemplo, despesas com tratamento da microcefalia e anos de vida perdidos. Pode-se dizer que o Brasil pagou o preço alto pela inação.
O Boletim Epidemiológico 3/2018 do Ministério da Saúde divulgou que mais de 3 mil crianças nasceram com malformação em virtude do vírus zika entre os anos de 2015 e 2017. Por malformação compreende-se microcefalia, comprometimento do sistema nervoso central, epilepsia, deficiências auditivas e visuais, dificuldade de desenvolvimento psicomotor, além de prejuízos nos ossos e articulações. Entre mais de 15 mil notificações de suspeitas de zika, 507 crianças morreram, desconsiderando abortos e natimortos.
Esse número ganha corpo com a história de Henrique, de 2 anos. Diagnosticado com microcefalia causada pela zika, tem dificuldades de se manter de pé, sentar ou sustentar a cabeça. Pouco fala e mal enxerga. As atividades de fisioterapia, fonoaudiologia, estimulação visual e terapia ocupacional que o menino faz desde o nascimento não têm promovido melhoras expressivas e a mãe de Henrique, apesar da esperança, pouco sabe sobre seu futuro.
Cientistas vêm descobrindo e descrevendo os efeitos das epidemias virais na medida em que seus danos ocorrem. Do mesmo modo que autoridades administrativas na área da saúde tomam decisões no auge dessas emergências. A fragilidade das ações em saúde pública que reagem a propagação de vírus novos e reemergentes não é exclusividade do Brasil. Agora mesmo, assistimos os EUA definindo como lidar com o H3N2, um tipo de influenza A, no meio da crise.
Há muito ainda para ser desenvolvido em termos de tecnologias para diagnósticos e tratamentos. Medicamentos e vacinas levam de 10 a 20 para seu desenvolvimento completo. É um processo longo, complexo, custoso e de alto risco. Por outro lado, aproximadamente três novas doenças virais surgem a cada ano. De acordo com o Ministério da Saúde, em apenas dois anos o número de mortos pelo chikungunya subiu de 14 (2015) para 173 pessoas (2017).
As tecnologias disponíveis não dão conta dos efeitos causados pelas doenças virais emergentes, seja porque pensadas para um grupo limitado de pacientes ou por falta de capacidade de produção e distribuição que garanta o acesso imediato de alto volume de tratamento ou vacinas. O vírus H1N1, por exemplo, foi detectado em 2009 e infectou quase 2 bilhões de pessoas em 73 países. Nesse mesmo prazo, como resposta sanitária, apenas 17% da população global foi imunizada.
Pensar em política públicas de saúde e desenvolver medidas de reparação após a dispersão do vírus expõe a população a danos trágicos, como os de Henrique. Estudos recentes estimam que o mundo conhece apenas 1% dos vírus que podem causar doenças. Mudanças demográficas e ambientais, além do mercado global e trânsito internacional de pessoas, contribuem para o aumento e propagação de vírus novos e reemergentes, como HIV, ebola, Mers, síndrome respiratória aguda grave (SARS), dengue, chikungunya, zika etc.
Detecção precoce é elemento imprescindível para combater as doenças virais emergentes. Nossa capacidade de lidar com as próximas epidemias está limitada pelo desconhecimento sobre essas ameaças. O PVG pretende abastecer a comunidade global com informações necessárias para detectar, prevenir e agir de maneira proativa às epidemias emergentes, mitigando o risco de futuras epidemias reduzindo o impacto das doenças como a zika, que afetou Henrique e sua família. Se o objetivo for alcançado, o preço é insignificante.
Autor: Renata Curl Hauegen
Fonte: CDTS/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 23/02/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/projeto-busca-virus-que-possam-causar-pandemias-globais
Febre amarela: entre fake news e pós-verdades
Por: Graça Portela (Icict/Fiocruz)
No dia 18 de fevereiro, o pesquisador do Laboratório de Comunicação e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Laces/Icict/Fiocruz) e professor colaborador do Programa de Pós-Graduação em Informação e Comunicação em Saúde (PPGICS/Icict), Igor Sacramento, foi ouvido pelo The Washington Post em uma matéria sobre a febre amarela no Brasil (Brazil battles yellow fever – and a ‘dangerous’ anti-vaccination campaing). Nela, o pesquisador fala sobre os boatos contra a vacina da febre amarela no país.
Em um momento tão crucial para a saúde da população, diversas notícias falsas dificultam a adesão da população à vacinação contra a febre amarela. No meio de tanta incerteza, o Icict conversou com Igor Sacramento sobre o uso das fake news e a pós-verdade na saúde e seus impactos na desinformação da população. Ele afirma que as fake news não têm como ser combatidas ou eliminadas, pois fazem parte da dinâmica social contemporânea, entretanto, defende uma mudança na estratégia de comunicação.
Leia a entrevista no site do Icict.
Autor: Graça Portela
Fonte: Icict/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 22/02/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/pt-br/content/febre-amarela-entre-fake-news-e-pos-verdades
Anvisa aprova novo medicamento para esclerose múltipla
Ilustração mostra a estrutura do linfócito B. Nova droga se liga à célula para impedir ataca à bainha de mielina (Foto: Blausen Medical - BruceBlaus)
Pacientes que sofrem de esclerose múltipla passaram a ter uma nova opção com a aprovação do Ocrelizumabe, que recebeu registro da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O novo medicamento, produzido pela Roche, impede surtos da doença.
A esclerose múltipla é uma condição em que o sistema de defesa "ataca" a estrutura que reveste as células nervosas: a bainha de mielina.
Isso causa sintomas diversos, como distúrbios do movimento.
Não há cura e os medicamentos visam a reduzir os surtos da doença -- episódios em que os sintomas são mais agudos.
A droga se liga ao linfócito B, célula de defesa que tem um papel importante na destruição da bainha.
"O ocrelizumabe identifica e elimina esses linfócitos B específicos. Isso reduz a inflamação e os ataques na bainha de mielina, como também reduz a probabilidade de surtos e atrasa a progressão da doença", detalha a nota da Anvisa.
O medicamento é biológico, ou seja, seu princípio ativo é produzido por meio de organismos vivos. Também trata-se de um anticorpo monoclonal.
Para produzir um anticorpo monoclonal, pesquisadores clonam uma célula de defesa, que depois é treinada para identificar e atacar agentes causadores de doenças.
Doença degenerativa provoca distúrbios de movimento
A esclerose múltipla é uma condição em que o próprio sistema imunulógico acaba destruindo uma camada de gordura e proteína que reveste as células nervosas.
Essa camada, chamada de bainha de mielina, permite a condução dos impulsos nervosos com velocidade e precisão.
São esses impulsos que possibilitam que o cérebro comande as funções do corpo.
Com a destruição da camada, a doença vai progressivamente provocando alterações no humor, depressão, deterioração mental, fraqueza, lentidão, desequilíbrio, tremor, entre outros sintomas.
Autor: G1 Globo
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data de Publicação: 27/02/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/anvisa-aprova-novo-medicamento-para-esclerose-multipla.ghtml
segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018
OMS divulga lista de doenças e patógenos prioritários para pesquisa e desenvolvimento em 2018
14 de fevereiro de 2018 – A Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou a revisão de sua lista de agentes patogênicos prioritários, que podem causar uma emergência de saúde pública e para as quais não existem medidas suficientes ou contramedidas. O organismo internacional pede que a comunidade médica una esforços de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de tratamentos e vacinas para ajudar a controlar possíveis surtos de oito doenças.
Análise anual de 2018 da lista Blueprint de doenças prioritárias
A OMS desenvolveu uma ferramenta especial para determinar quais doenças e patógenos priorizar para a pesquisa e desenvolvimento em contextos de emergência de saúde pública. Essa ferramenta busca identificar as enfermidades que representam um risco para a saúde pública devido ao seu potencial epidêmico e para as quais não existem contramedidas ou medidas suficientes. As doenças identificadas por meio desse processo são o foco do trabalho de R&D Blueprint (planos de P&D). Esta não é uma lista exaustiva, nem indica as causas mais prováveis de uma próxima epidemia.
A primeira lista com doenças prioritárias para P&D foi lançada em dezembro de 2015.
Utilizando uma metodologia de priorização já publicada, a lista foi revisada pela primeira vez em janeiro de 2017.
A segunda revisão anual ocorreu entre 6 e 7 de fevereiro de 2018.
Os especialistas consideram que, dado o potencial dessas doenças e patógenos de causar uma emergência de saúde pública, além da ausência de drogas e/ou vacinas eficazes, existe uma necessidade urgente de acelerar a pesquisa e desenvolvimento para:
Febre Hemorrágica da Crimeia-Congo;
Doença do vírus ebola e febre hemorrágica de Marburgo;
Febre de Lassa;
Síndrome respiratória coronavírus do Oriente Médio (MERS) e síndrome respiratória aguda severa (SARS);
Infecção pelo vírus Nipah e doenças relacionadas aos henipavírus;
Febre de Vale do Rift;
Vírus zika;
Doença X.
A “doença X” representa o conhecimento de que uma grave epidemia internacional poderia ser causada por um patógeno atualmente desconhecido, que levaria a doenças humanas. Por isso, os planos de pesquisa e desenvolvimento buscam explicitamente habilitar a preparação de P&D transversal, que também é relevante para uma "doença X" desconhecida na medida do possível.
Uma série de doenças adicionais foram discutidas e consideradas para inclusão na lista de prioridades, entre elas: febres hemorrágicas virais, além da febre de Lassa; chikungunya; doenças causadas pelo coronavírus altamente patogênicas, além de MERS e SARS; enterovírus não polio (incluindo EV71, D68) emergentes; e febre grave com síndrome de trombocitopenia (SFTS). Essas doenças representam grandes riscos para a saúde pública e pesquisas e desenvolvimento adicionais são necessários, incluindo vigilância e diagnóstico. Devem ser vistas com cuidado e reconsideradas na próxima revisão anual. São encorajados esforços no ínterim para compreendê-las e mitigá-las.
Apesar de não estarem incluídas na lista de doenças a serem consideradas na reunião de revisão, foram discutidos os tipos de varíola dos macacos e leptospirose e especialistas ressaltaram os riscos que eles representam à saúde pública. Houve concordância sobre a necessidade de: avaliação rápida das contramedidas possíveis; estabelecimento de vigilância e diagnóstico mais abrangentes; e aceleração de pesquisas e desenvolvimento, além de ações de saúde pública.
Várias doenças estão fora do escopo atual do plano: dengue, febre amarela, HIV/aids, tuberculose, malária, gripe causadora de doenças humanas graves, varíola, cólera, leishmaniose, vírus do Nilo Ocidental e peste. Essas doenças continuam representando grandes problemas de saúde pública e pesquisas e desenvolvimento adicionais são necessários por meio das principais iniciativas de controle de doenças existentes, extensas etapas de pesquisa e desenvolvimento, fluxos de financiamento existentes ou caminhos regulatórios estabelecidos para intervenções melhoradas.
Os especialistas reconheceram, em particular, a necessidade de melhores diagnósticos e vacinas para a peste pneumônica e suporte adicional para terapias mais eficazes contra a leishmaniose. Os especialistas também notaram que:
Para muitas das doenças discutidas, bem como para muitas outras com potencial de causar uma emergência de saúde pública, é necessário um melhor diagnóstico.
Os medicamentos e vacinas existentes precisam de melhorias adicionais para várias das doenças consideradas, mas não incluídas na lista de prioridades.
Qualquer tipo de patógeno pode ser priorizado sob o R&D Blueprint, não apenas vírus.
A pesquisa necessária inclui pesquisa básica/fundamental e de caracterização, bem como estudos epidemiológicos, entomológicos ou multidisciplinares ou ainda esclarecimento adicional das rotas de transmissão, bem como pesquisa em ciências sociais.
É necessário avaliar o valor, sempre que possível, do desenvolvimento de contramedidas para múltiplas doenças ou para famílias de agentes patogênicos.
O impacto das questões ambientais sobre doenças com potencial de causar emergências de saúde pública foi discutido e pode ser considerado como parte de futuras revisões. A importância das doenças discutidas foi considerada para populações especiais, como refugiados, populações internamente deslocadas e vítimas de catástrofes.
O valor de uma abordagem One Health foi enfatizado, incluindo processos paralelos de priorização para a saúde animal. Tal esforço apoiaria pesquisa e desenvolvimento para prevenir e controlar doenças animais, minimizando o alastramento e aumentando a segurança alimentar. Também foi observada a utilidade possível de vacinas animais para prevenir emergências de saúde pública.
Além disso, há esforços concentrados para enfrentar a resistência antimicrobiana por meio de iniciativas internacionais específicas. A possibilidade de que, no futuro, um patógeno resistente possa emergir e ser priorizado adequadamente não foi excluída.
A ordem de doenças desta lista não indica qualquer classificação de prioridade.
[Conteúdo traduzido pela Representação da Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil. A versão original, em inglês, foi publicada pela sede da OMS no dia 12 de fevereiro de 2018, no seguinte link: http://www.who.int/blueprint/priority-diseases/en/].
Autor: PAHO
Fonte: PAHO
Sítio Online da Publicação: PAHO
Data de Publicação: 22/02/2018
Publicação Original: http://www.paho.org/bra/index.php?option=com_content&view=article&id=5595:oms-divulga-lista-de-doencas-e-patogenos-prioritarios-para-pesquisa-e-desenvolvimento-em-2018&Itemid=812
Homem cria ecobarreira caseira e retira 1 tonelada de lixo de rio
Todo fim de ano sempre pensamos nas realizações que queremos fazer no ano seguinte. Para te incentivar a fazer algo pelo meio ambiente, separamos a historia do Diego Saldanha.
Diego é morador de Colombo, cidade próxima de Curitiba e estava cansado de ver lixo no rio Atuba que fica próximo a sua casa e resolveu agir.
Ele criou uma ecobarreira caseira para segurar o lixo flutuante e com isso já retirou mais de 1 tonelda de lixo do rio, inclusive capacete e até um fogão.
Veja : Natura faz liquidação, (acesse aqui)
“Tomei essa iniciativa por que quero demonstrar aos meus filhos que precisamos preservar a natureza”. Disse ele em entrevista ao Bem Paraná.
Para fazer a ecobarreira ele usou galões de água de 20 litros, envolvidos em redes de proteção. Com isso, segura todo o lixo flutuante que é jogado no rio.
Diego é morador de Colombo, cidade próxima de Curitiba e estava cansado de ver lixo no rio Atuba que fica próximo a sua casa e resolveu agir.
Ele criou uma ecobarreira caseira para segurar o lixo flutuante e com isso já retirou mais de 1 tonelda de lixo do rio, inclusive capacete e até um fogão.
Veja : Natura faz liquidação, (acesse aqui)
“Tomei essa iniciativa por que quero demonstrar aos meus filhos que precisamos preservar a natureza”. Disse ele em entrevista ao Bem Paraná.
Para fazer a ecobarreira ele usou galões de água de 20 litros, envolvidos em redes de proteção. Com isso, segura todo o lixo flutuante que é jogado no rio.
Imagem do site água sua linda
“O projeto nasceu da necessidade de dar mais vida ao rio. Eu nasci aqui, pescava e nadava nesse rio. Eu estava vendo o Rio Atuba morrer e resolvi dar minha parcela de contribuição”, afirma. “O pessoal reclama das enchentes, mas não faz sua parte”, disse ele.
Hoje Diego chega a dar aula de meio ambiente e palestras ensinando as crianças a fazer suas próprias ecobarreiras.
Atitudes assim vindo de gente simples, motivam e dão esperanças de ter um futuro melhor. Precisamos urgente de um plano de limpeza dos rios e matas ciliares. Colombo precisa acordar, para o turismo natural, poderia gerar renda com as visitas, além de tornar a cidade mais limpa e saudável.
Autor: Leandro Isola
Fonte: Mundo Conectado
Sítio Online da Publicação: Mundo Conectado
Data de Publicação: 22/02/2018
Publicação Original: https://mundoconectado.net/meio-ambiente-2/homem-cria-ecobarreira-caseira-e-retira-1-tonelada-de-lixo-de-rio/
“O projeto nasceu da necessidade de dar mais vida ao rio. Eu nasci aqui, pescava e nadava nesse rio. Eu estava vendo o Rio Atuba morrer e resolvi dar minha parcela de contribuição”, afirma. “O pessoal reclama das enchentes, mas não faz sua parte”, disse ele.
Hoje Diego chega a dar aula de meio ambiente e palestras ensinando as crianças a fazer suas próprias ecobarreiras.
Atitudes assim vindo de gente simples, motivam e dão esperanças de ter um futuro melhor. Precisamos urgente de um plano de limpeza dos rios e matas ciliares. Colombo precisa acordar, para o turismo natural, poderia gerar renda com as visitas, além de tornar a cidade mais limpa e saudável.
Autor: Leandro Isola
Fonte: Mundo Conectado
Sítio Online da Publicação: Mundo Conectado
Data de Publicação: 22/02/2018
Publicação Original: https://mundoconectado.net/meio-ambiente-2/homem-cria-ecobarreira-caseira-e-retira-1-tonelada-de-lixo-de-rio/
sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018
UFRJ e FAPERJ realizam workshop sobre a criação do AIR Center
Na mesa de abertura, a partir da esq.: José Carlos Pinto, Vieiralves de Castro, Manuel Heitor e Roberto Leher (Foto: Beatriz Correa)
Um workshop realizado no Parque Tecnológico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), nesta terça e quarta-feira, 20 e 21 de fevereiro, colocou em debate novos conhecimentos sobre mudanças climáticas e questões relacionadas ao oceano Atlântico. Organizado pela UFRJ e pela FAPERJ, o evento Rio 2018 Atlantic Interactions representou um primeiro passo para a instalação de um polo do Atlantic International Research Center (AIR Center) no estado do Rio de Janeiro. A iniciativa promove o monitoramento do oceano, conectando tecnologias de águas profundas a tecnologias espaciais por meio de uma cooperação global entre América Latina, Europa, África e Estados Unidos.
Na cerimônia de abertura, na terça, o ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal, Manuel Frederico Tojal de Valsassina Heitor, fez uma apresentação sobre os principais pontos do programa. Estavam presentes Paulo Ferrão, presidente da Fundação para a Ciência e Tecnologia de Portugal (FCT); Roberto Leher, reitor da UFRJ; José Carlos Pinto, diretor do Parque Tecnológico da UFRJ; Ricardo Vieiralves de Castro, presidente da FAPERJ, Augusto C. Raupp, subsecretário de Ciência e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro; Andrei Polejack, coordenador geral de Oceanos, Antártida e Geociências do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC); entre outros participantes.
À ocasião, o presidente da FCT de Portugal, Paulo Ferrão, e o presidente da FAPERJ, Ricardo Vieiralves de Castro, assinaram um memorando para o financiamento de recursos humanos no Rio de Janeiro e em Portugal para a realização de um intercâmbio de pesquisadores nos dois países. De acordo com Vieiralves, o documento é fundamental para confirmar o interesse do Rio de Janeiro em receber o AIR Center e promover uma troca de conhecimentos entre pesquisadores. “A partir de agora, iremos começar a atuar para atingir, pouco a pouco, os objetivos do AIR Center. De início, pretendemos montar uma rede de pesquisadores, com financiamento da FAPERJ e um mínimo de burocracia possível. Esperamos que o primeiro edital com esse objetivo esteja pronto, no máximo, em três meses para começarmos a colaborar com essa iniciativa global. Esse é um trabalho de longo prazo e extrema importância e temos, no nosso estado, um amplo número de cientistas gabaritados que vêm pesquisando mares e oceanos há muito tempo”, disse o presidente da FAPERJ.
Vieiralves também enfatizou a importância da ciência, tecnologia e inovação para o desenvolvimento do estado. “O Rio de Janeiro vem passando por uma crise nos últimos dois anos e a principal lição que aprendemos é que o estado precisa diversificar suas atividades econômicas para se reerguer. Na minha opinião, a melhor forma de fazer com que essa diversificação aconteça é por meio do investimento em ciência, tecnologia e inovação”, complementou.
O diretor do Parque Tecnológico da UFRJ, José Carlos Pinto, destacou a tradição da universidade em pesquisa e tecnologia. “A enorme tradição da UFRJ em áreas como engenharia oceânica, engenharia civil e exploração de petróleo em alto mar fazem com que a universidade esteja vocacionada a interagir fortemente com o AIR Center. O Parque Tecnológico da UFRJ conta hoje com o centro de supercomputação da Coppe, o Laboratório de Tecnologia Oceânica (LabOceano) e ainda com a presença de diversas grandes empresas desenvolvendo tecnologias para exploração de petróleo em águas profundas. Estamos muito motivados a participar dessa iniciativa e de braços abertos para receber a instalação de um polo do AIR Center num futuro próximo”, informa José Carlos.
Paulo Ferrão (E), do FCT, e Ricardo Vieiralves: assinatura do memorando para a criação de um polo de pesquisa do AIR Center no Rio de Janeiro (Foto: Lécio Augusto Ramos)
Durante o evento, o ministro português Manuel Heitor destacou que desenvolvimento econômico, tecnológico e social só é possível através do conhecimento e da criação de uma agenda científica inclusiva. “Criar e transformar o oceano Atlântico num centro de desenvolvimento social e econômico só é possível com mais conhecimento. O desafio que estamos partilhando com o Brasil e países da América Latina, África, Europa, além de uma série de instituições norte-americanas, é desenvolver uma agenda que seja inclusiva e que consiga reunir instituições científicas, pesquisadores, empresas e governos”, explicou o ministro.
O evento também contou com a participação de pesquisadores, representantes da Universidade do Minho (Portugal), UFRJ, Carnegie Mellon University, Marinha do Brasil, Petrobras, laboratórios da Coppe/UFRJ e empresas residentes do Parque Tecnológico da UFRJ. Além da criação do AIR Centre Data Intelligent Network, foram debatidos temas como o desenvolvimento e a integração de tecnologias espaciais e oceânicas, a ciência dos dados, estratégias de novos negócios intensivos em conhecimento no contexto das interações atlânticas, políticas públicas e cooperação entre União Europeia e Brasil. No final, os participantes foram convidados a conhecer o Laboratório de Tecnologia Naval e Oceânica da Coppe, localizado no Parque Tecnológico da UFRJ.
Autor: Ascom Faperj
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data de Publicação: 22/02/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3526.2.6
Brasil entra no grupo da elite mundial da pesquisa em Matemática
Popularizar o gosto pela Matemática ainda é um desafio no País (Foto: Divulgação)
Se o ensino e o aprendizado da Matemática nas escolas enfrentam dificuldades, o Brasil faz bonito quando o assunto é a pesquisa em Matemática. O País acaba de ingressar no seleto grupo das nações mais desenvolvidas do mundo em pesquisa na área da Matemática. O País se junta, assim, ao chamado "Grupo 5" – Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia –, que formam uma “primeira divisão” dentre as nações que participam da União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês). Com sede em Berlim, a IMU tem 76 países-membros, divididos em cinco grupos, segundo ordem de excelência. O anúncio foi realizado na quinta-feira, 22 de janeiro, na sede do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), tradicional instituição localizada no Jardim Botânico, no Rio.
“A entrada no Grupo 5 da IMU é o reconhecimento da evolução do nosso País na área de Matemática, mesmo diante do atual cenário de dificuldades econômicas, devido à redução do orçamento destinado à pesquisa. Como nação em desenvolvimento, entramos apenas em 1954 na IMU, no Grupo 1, o mais baixo, e, que eu saiba, somos o único país-membro que conseguiu sair dessa categoria e chegar ao Grupo 5”, diz o diretor-geral do Impa, o matemático Marcelo Viana. Em 1978, o Brasil ascendeu ao grupo 2; em 1981, ao grupo 3; e, em 2005, ao grupo 4.
Ele lembra que, nos anos 1950, a pesquisa no Brasil – em Matemática e em outras áreas – ainda era feita totalmente de forma amadora, sem o apoio de uma rede de fomento, já que não existia o atual Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (SNDCT), formado por instituições como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e as agências estaduais de fomento, como a FAPERJ. “Nossa comunidade científica era muito despreparada na época. O Impa só foi criado em 1952; o CNPq, em 1951, e a FAPERJ, em 1980. Era um País diferente. Há pouco tempo, nem tínhamos o registro histórico de como foi essa adesão do Brasil à IMU em 1954. Descobrimos que não foi iniciativa do Brasil, foi um convite da IMU”, conta.
Viana recorda que essa trajetória da institucionalização do apoio à pesquisa no País também passou pelo fortalecimento da pós-graduação do Brasil, nos anos 1970, e pela consolidação do Impa como uma instituição de ponta internacional, tornando-se um celeiro de jovens talentos, entre eles o matemático carioca Artur Ávila, ganhador, em 2014, da Medalha Fields – considerada o “Nobel” da Matemática. “O Impa tradicionalmente atrai mentes brilhantes, como o Artur Ávila e o Carlos Gustavo Moreira, porque oferece uma flexibilidade na admissão desses talentos, sem deixar de exigir qualidade. Temos, por exemplo, casos de alunos que foram aceitos no mestrado sem a exigência de conclusão do ensino médio, e casos de admissão no doutorado sem a exigência do mestrado como pré-requisito. Prezamos o talento, acima da burocracia”, pondera.
Se o ensino e o aprendizado da Matemática nas escolas enfrentam dificuldades, o Brasil faz bonito quando o assunto é a pesquisa em Matemática. O País acaba de ingressar no seleto grupo das nações mais desenvolvidas do mundo em pesquisa na área da Matemática. O País se junta, assim, ao chamado "Grupo 5" – Alemanha, Canadá, China, Estados Unidos, França, Israel, Itália, Japão, Reino Unido e Rússia –, que formam uma “primeira divisão” dentre as nações que participam da União Matemática Internacional (IMU, na sigla em inglês). Com sede em Berlim, a IMU tem 76 países-membros, divididos em cinco grupos, segundo ordem de excelência. O anúncio foi realizado na quinta-feira, 22 de janeiro, na sede do Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa), tradicional instituição localizada no Jardim Botânico, no Rio.
“A entrada no Grupo 5 da IMU é o reconhecimento da evolução do nosso País na área de Matemática, mesmo diante do atual cenário de dificuldades econômicas, devido à redução do orçamento destinado à pesquisa. Como nação em desenvolvimento, entramos apenas em 1954 na IMU, no Grupo 1, o mais baixo, e, que eu saiba, somos o único país-membro que conseguiu sair dessa categoria e chegar ao Grupo 5”, diz o diretor-geral do Impa, o matemático Marcelo Viana. Em 1978, o Brasil ascendeu ao grupo 2; em 1981, ao grupo 3; e, em 2005, ao grupo 4.
Ele lembra que, nos anos 1950, a pesquisa no Brasil – em Matemática e em outras áreas – ainda era feita totalmente de forma amadora, sem o apoio de uma rede de fomento, já que não existia o atual Sistema Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (SNDCT), formado por instituições como o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e as agências estaduais de fomento, como a FAPERJ. “Nossa comunidade científica era muito despreparada na época. O Impa só foi criado em 1952; o CNPq, em 1951, e a FAPERJ, em 1980. Era um País diferente. Há pouco tempo, nem tínhamos o registro histórico de como foi essa adesão do Brasil à IMU em 1954. Descobrimos que não foi iniciativa do Brasil, foi um convite da IMU”, conta.
Viana recorda que essa trajetória da institucionalização do apoio à pesquisa no País também passou pelo fortalecimento da pós-graduação do Brasil, nos anos 1970, e pela consolidação do Impa como uma instituição de ponta internacional, tornando-se um celeiro de jovens talentos, entre eles o matemático carioca Artur Ávila, ganhador, em 2014, da Medalha Fields – considerada o “Nobel” da Matemática. “O Impa tradicionalmente atrai mentes brilhantes, como o Artur Ávila e o Carlos Gustavo Moreira, porque oferece uma flexibilidade na admissão desses talentos, sem deixar de exigir qualidade. Temos, por exemplo, casos de alunos que foram aceitos no mestrado sem a exigência de conclusão do ensino médio, e casos de admissão no doutorado sem a exigência do mestrado como pré-requisito. Prezamos o talento, acima da burocracia”, pondera.
Viana destaca a importância da educação em matemática (Foto: Divulgação/Impa)
Outra característica do Impa que vem contribuindo para alavancar a Matemática brasileira no exterior é a internacionalização. “Metade dos nossos alunos são estrangeiros. Os que não ficam no Brasil depois do curso voltam aos seus países, onde acabam se tornando embaixadores da nossa Matemática no exterior”, disse Viana. O instituto também investe no aprimoramento de professores de Matemática. “Oferecemos formação continuada de professores do ensino médio, desde os anos 1990. Hoje, temos mais de 70 polos de ensino de Matemática a distância, pela internet, espalhados pelo Brasil”, completa.
No entanto, mesmo com potencial para a pesquisa na área, a Matemática no Brasil ainda é vista, pela maioria dos alunos em idade escolar e até pela população em geral, como um “bicho-papão”. Uma iniciativa importante para desmistificar essa ideia e atrair novos talentos é a realização da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), organizada pelo Impa desde 2005. “Cerca de 18 milhões de jovens, de escolas públicas e, em 2017, também das escolas privadas, participaram da Olimpíada. É um esforço enorme para aproximar a Matemática das crianças e desfazer a imagem ruim dessa disciplina junto às crianças e famílias”, afirma.
O matemático destaca que mudanças estruturais na educação do País são necessárias. “Entrar no 'Grupo 5' não resolve todos os problemas, mas aumenta a autoestima dos nossos alunos. Infelizmente, o Brasil é um país que investe muito pouco em ciência; menos de 1% do PIB é destinado à pasta de ciência, tecnologia, inovações e comunicações. Deveríamos investir pelo menos o dobro, pois ciência não é gasto, é investimento. Países com visão estratégica sabem que a ciência é o melhor retorno para sair da crise.”
Outra boa nova para a matemática brasileira é que, neste ano de 2018, o Rio vai sediar o Congresso Internacional de Matemáticos, um dos principais eventos mundiais na área, que ocorre a cada quatro anos. “Estamos no Biênio da Matemática (2017-18), conforme foi estabelecido pela Lei 13.358, especialmente para a realização, no Brasil, dos dois maiores eventos matemáticos internacionais. De 12 a 23 de julho de 2017, sediamos a Olimpíada Internacional de Matemática e, este ano, vamos receber o Congresso Internacional de Matemáticos”, diz Viana, que é o coordenador do comitê organizador do congresso.
Autor: Débora Motta
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data de Publicação: 22/02/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3525.2.0
Outra característica do Impa que vem contribuindo para alavancar a Matemática brasileira no exterior é a internacionalização. “Metade dos nossos alunos são estrangeiros. Os que não ficam no Brasil depois do curso voltam aos seus países, onde acabam se tornando embaixadores da nossa Matemática no exterior”, disse Viana. O instituto também investe no aprimoramento de professores de Matemática. “Oferecemos formação continuada de professores do ensino médio, desde os anos 1990. Hoje, temos mais de 70 polos de ensino de Matemática a distância, pela internet, espalhados pelo Brasil”, completa.
No entanto, mesmo com potencial para a pesquisa na área, a Matemática no Brasil ainda é vista, pela maioria dos alunos em idade escolar e até pela população em geral, como um “bicho-papão”. Uma iniciativa importante para desmistificar essa ideia e atrair novos talentos é a realização da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), organizada pelo Impa desde 2005. “Cerca de 18 milhões de jovens, de escolas públicas e, em 2017, também das escolas privadas, participaram da Olimpíada. É um esforço enorme para aproximar a Matemática das crianças e desfazer a imagem ruim dessa disciplina junto às crianças e famílias”, afirma.
O matemático destaca que mudanças estruturais na educação do País são necessárias. “Entrar no 'Grupo 5' não resolve todos os problemas, mas aumenta a autoestima dos nossos alunos. Infelizmente, o Brasil é um país que investe muito pouco em ciência; menos de 1% do PIB é destinado à pasta de ciência, tecnologia, inovações e comunicações. Deveríamos investir pelo menos o dobro, pois ciência não é gasto, é investimento. Países com visão estratégica sabem que a ciência é o melhor retorno para sair da crise.”
Outra boa nova para a matemática brasileira é que, neste ano de 2018, o Rio vai sediar o Congresso Internacional de Matemáticos, um dos principais eventos mundiais na área, que ocorre a cada quatro anos. “Estamos no Biênio da Matemática (2017-18), conforme foi estabelecido pela Lei 13.358, especialmente para a realização, no Brasil, dos dois maiores eventos matemáticos internacionais. De 12 a 23 de julho de 2017, sediamos a Olimpíada Internacional de Matemática e, este ano, vamos receber o Congresso Internacional de Matemáticos”, diz Viana, que é o coordenador do comitê organizador do congresso.
Autor: Débora Motta
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data de Publicação: 22/02/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3525.2.0
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018
Como funciona o cérebro das pessoas criativas
"Os mais criativos têm um padrão distinto de conexões neurais", diz Roger Beaty (Foto: Arquivo Pessoal)
Leonardo da Vinci, Albert Einstein, Isaac Newton, Michelângelo... a lista de gênios da história da humanidade está cheia de personalidades que transbordam criatividade.
Mesmo sem chegar a esse patamar, as pessoas que têm ideias originais em sua vida cotidiana possuem um cérebro diferente dos demais, segundo pesquisa liderada por Roger Beaty, especialista em neurociência cognitiva pela Universidade Harvard.
Assim como a inteligência, a criatividade é algo que todos temos em maior ou menor medida. De fato, para equilibrar o orçamento, planejar as férias ou mesmo mentir, é preciso ter ideias engenhosas.
Pouco a pouco, os cientistas começam a descobrir quais zonas do cérebro se relacionam à criatividade e a identificar processos como ideias espontâneas ou pensamento controlado (aquele que pondera se algumas "ideias loucas" podem chegar a funcionar na vida real).
"Medimos a atividade do cérebro em pessoas que trabalhavam em tarefas que exigem pensamento criativo (por exemplo, pensar em usos diferentes para objetos cotidianos) e descobrimos que os que têm as ideias mais originais demonstraram um padrão diferente em suas conexões neurais", afirmou Beaty à BBC Mundo, serviço em espanhol da BBC.
Beaty estudou o comportamento das distintas redes neurais de 163 pessoas, por meio de ressonâncias magnéticas funcionais (fMRI, na sigla em inglês). Essa técnica permite obter imagens das atividades em múltiplas áreas do cérebro durante atividades que envolvem habilidade artística e criativa, como pensar "fora da caixa", falar em linguagem figurativa, improvisar um música, compor poemas ou produzir algo visualmente artístico.
"Conseguimos prever - modestamente - a habilidade criativa de uma pessoa a partir da força de suas conexões neurais no interior de uma mesma rede", prosseguiu o cientista.
"Em geral, pessoas com conexões mais fortes tiveram ideias melhores."
As redes neurais criativas
Durante a pesquisa, publicada na revista científica "Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS)", Beaty identificou que o pensamento criativo ocorre sobretudo no interior de três redes neurais.
São elas: a rede de modo padrão, usada quando o cérebro está gerando ideias e simplesmente imaginando; a rede de controle executivo, ativada para a tomada de decisões e avaliações de ideias; e a rede de saliência, usada para discernir quais ideias são relevantes e para facilitar a transição das ideias entre os modos padrão e executivo.
Essa última rede tem uma função-chave, ao fazer uma ponte entre o mecanismo de geração de ideias e o de avaliação destas.
Em geral, essas redes não funcionam simultaneamente. Por exemplo, quando se ativa a rede de controle executivo, a padrão pode deixar de trabalhar.
Mas a pesquisa sugere que "as pessoas criativas têm uma habilidade maior em coativar redes neurais que costumam trabalhar separadamente", explicou Beaty.
"O cérebro criativo está conectado de uma maneira diferente, e as pessoas criativas são mais capazes de ativar sistemas cerebrais que tipicamente não funcionam juntos."
Treinando o cérebro?
Essas conclusões vão na mesma linha de estudos prévios realizados com mentes criativas como músicos de jazz, poetas e artistas visuais.
Agora, Beaty planeja mapear a atividade cerebral em diferentes atividades criativas, das artes às ciências, para entender se é possível "treinar" o cérebro para aumentar a criativdade.
O pesquisador tem destacado, porém, que o pensamento criativo não é necessariamente algo exclusivo de poucos sortudos e que ainda é preciso entender melhor como funciona esse complexo esforço neural.
Ainda assim, disse, é possível treinar o cérebro em determinadas áreas para estimular ideias originais.
"O treinamento em diferentes campos, como a escrita criativa, pode funcionar – em parte – para melhorar a conectividade neural dentro de uma mesma rede", ensinou.
Autor: BBC
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: G1 Globo Saúde
Data de Publicação: 21/02/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/como-funciona-o-cerebro-das-pessoas-criativas.ghtml
Estudos mostram que ter zika pode proteger contra a dengue e vice-versa
Aedes aegypti é transmissor da dengue, zika e chikungunya (Foto: James Gathany)
Uma nova pesquisa brasileira publicada na revista "The Lancet" traz evidências de que a infecção pelo zika pode imunizar contra a dengue. O estudo, com pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal da Bahia (UFBA), analisou dados coletados em Salvador. Além disso, uma outra pesquisa chinesa já havia sinalizado que o inverso também pode acontecer: quem pega dengue pode estar mais protegido contra a zika.
O vírus da zika e o da dengue estão relacionados: as transmissões são feitas pelo mesmo mosquito, o Aedes aegypti. O pesquisador Guilherme Ribeiro, da Fiocruz Bahia, realiza desde 2009 junto com um grupo de pelo menos outros dez cientistas, uma análise dos números de pessoas com doença febril aguda que chegam a uma unidade de pronto-atendimento de Salvador.
De acordo com o artigo, até março de 2015, cerca de 25% dos pacientes (484 de 1937) analisados estavam doentes devido à dengue. Essa confirmação ocorria por meio de testes laboratoriais. Nos dois anos seguintes, até 2017, a frequência da dengue foi reduzida para 3% (43 de 1334). O período coincide com a chegada da zika a Salvador.
"Esta ideia faz sentido do ponto de vista biológico, porque o vírus da dengue e o da zika são relacionados. São da mesma família, eles têm uma estrutura semelhante, tanto do ponto de vista genético quanto do ponto de vista da estrutura física. Então, pode ocorrer a criação de uma resposta imune, em que os anticorpos da infecção do zika causem uma proteção contra a dengue", disse Ribeiro.
Segundo o pesquisador, como os casos de chikungunya, também transmitida pelo Aedes, continuaram ocorrendo e crescendo, o mosquito estava presente nessas localidades – o que descarta a hipótese de que a incidência da dengue tenha diminuído em Salvador por não haver mosquitos na cidade.
A prefeitura também ampliou os dados para todo o município, confirmando um declínio para a dengue após a chegada do zika. De qualquer forma, o estudo precisa ser aprofundado para a criação de evidências mais conclusivas.
Pesquisa chinesa
Em novembro do ano passado, Jinsheng Wen, do Instituto de Arboviroses da Universidade de Wenzhou, na China, publicou um estudo na "Nature Communications" com testes em camundongos. A pesquisa indicou, ainda que de forma preliminar, o inverso da pesquisa de Ribeiro: a infecção por dengue ajuda a proteger contra a zika.
Os chineses fizeram um estudo para testar a possível imunidade "cruzada" entre os dois vírus.
Primeiro, infectaram camundongos com o vírus da dengue. As cobaias ficaram doentes, mas se recuperaram da infecção – o que demonstra que adquiriram imunidade.
Após a recuperação, animais foram infectados novamente com o vírus da zika. Também um outro grupo, não infectado anteriormente com o vírus da dengue, foi alvo da infecção pelo zika.
Nos resultados, o grupo anteriormente infectado com dengue apresentou carga reduzida de zika no sangue, nos tecidos e no cérebro.
A descoberta dos testes indica, assim, que a defesa adquirida contra a dengue pode ajudar a mitificar os efeitos neurológicos advindos do zika – já que menos cópias do vírus foram identificadas no cérebro.
Autor: Carolina Dantas
Fonte: G1 Globo Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Globo Saúde
Data de Publicação: 22/02/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/estudos-mostram-que-ter-zika-pode-proteger-contra-a-dengue-e-vice-versa.ghtml