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A Nasa já construiu maquetes para simular como será o interior da cápsula Orion | Foto: Nasa
Em 1959, a Nasa, agência espacial americana, selecionou os sete astronautas que dariam início às missões tripuladas dos Estados Unidos no espaço. Ao serem apresentados à minúscula cápsula Mercury, que só tinha capacidade para uma pessoa, a reação não foi de euforia.
Além de não ter janelas, o módulo espacial praticamente não oferecia controle manual - o que levou os então pilotos de teste a protestarem, argumentando que não passariam de "sardinhas em lata".
O conflito entre o desejo dos astronautas de pilotar de fato a espaçonave e a disposição dos engenheiros de simplesmente enviar um homem ao espaço (e trazê-lo de volta vivo) é dramatizado no filme Os Eleitos (1983). No longa, apenas quando o personagem de John Glenn, primeiro americano a orbitar a Terra, ameaça se queixar com a imprensa é que os engenheiros decidem providenciar escotilhas e instrumentação adequada na cápsula.
Quase 60 anos depois, uma cena semelhante se passa em Houston - mas em câmera lenta. Neste momento, astronautas negociam com engenheiros da Nasa o projeto final do design de interior e do sistema de controles da nave espacial Orion, projetada para levar quatro pessoas. Seu primeiro voo teste não tripulado foi realizado em 2014 - e a expectativa é de que, nos próximos cinco anos, seja lançada com astronautas a bordo.
Queixas renovadas
Hoje, o papel de John Glenn é protagonizado por um ex-comandante de submarino e veterano de três missões com ônibus espacial, Steve Bowen. Pergunto a ele suas primeiras impressões sobre a Orion:
"É muito apertada", responde.
"É realmente pequena para quatro pessoas. Os dois indivíduos na parte de trás ficam olhando para os assentos do piloto e do comandante acima deles", completa.
A Orion lembra vagamente a espaçonave usada no programa Apollo, que enviou uma tripulação de três astronautas à Lua - tem formato cônico e um escudo térmico para proteger a superfície inferior arredondada. Embora seja mais espaçosa, ainda precisa caber na parte superior de um foguete - e, portanto, não é tão maior assim.
Enquanto as missões do programa Apollo levaram apenas alguns dias, com direito a pouso e passeio na Lua, as missões da Orion estão sendo planejadas para durar no mínimo três semanas - e não há previsão de saída da nave durante a jornada.
Em 1959, a Nasa, agência espacial americana, selecionou os sete astronautas que dariam início às missões tripuladas dos Estados Unidos no espaço. Ao serem apresentados à minúscula cápsula Mercury, que só tinha capacidade para uma pessoa, a reação não foi de euforia.
Além de não ter janelas, o módulo espacial praticamente não oferecia controle manual - o que levou os então pilotos de teste a protestarem, argumentando que não passariam de "sardinhas em lata".
O conflito entre o desejo dos astronautas de pilotar de fato a espaçonave e a disposição dos engenheiros de simplesmente enviar um homem ao espaço (e trazê-lo de volta vivo) é dramatizado no filme Os Eleitos (1983). No longa, apenas quando o personagem de John Glenn, primeiro americano a orbitar a Terra, ameaça se queixar com a imprensa é que os engenheiros decidem providenciar escotilhas e instrumentação adequada na cápsula.
Quase 60 anos depois, uma cena semelhante se passa em Houston - mas em câmera lenta. Neste momento, astronautas negociam com engenheiros da Nasa o projeto final do design de interior e do sistema de controles da nave espacial Orion, projetada para levar quatro pessoas. Seu primeiro voo teste não tripulado foi realizado em 2014 - e a expectativa é de que, nos próximos cinco anos, seja lançada com astronautas a bordo.
Queixas renovadas
Hoje, o papel de John Glenn é protagonizado por um ex-comandante de submarino e veterano de três missões com ônibus espacial, Steve Bowen. Pergunto a ele suas primeiras impressões sobre a Orion:
"É muito apertada", responde.
"É realmente pequena para quatro pessoas. Os dois indivíduos na parte de trás ficam olhando para os assentos do piloto e do comandante acima deles", completa.
A Orion lembra vagamente a espaçonave usada no programa Apollo, que enviou uma tripulação de três astronautas à Lua - tem formato cônico e um escudo térmico para proteger a superfície inferior arredondada. Embora seja mais espaçosa, ainda precisa caber na parte superior de um foguete - e, portanto, não é tão maior assim.
Enquanto as missões do programa Apollo levaram apenas alguns dias, com direito a pouso e passeio na Lua, as missões da Orion estão sendo planejadas para durar no mínimo três semanas - e não há previsão de saída da nave durante a jornada.
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A espaçonave será lançada pelo foguete SLS da Nasa, que ainda está sendo construído | Foto: Nasa
"Não sei se quatro pessoas vão conseguir se alongar confortavelmente ao mesmo tempo", diz Bowen, que passou toda a carreira trabalhando em espaços confinados.
"Mas isso já foi feito antes, então, não acho que seja impeditivo. Você só precisa se certificar de que as pessoas estejam acostumadas a espaços apertados."
'Sardinhas trabalhando'
Além da cabine de comando, os engenheiros também precisam prever uma cozinha, área de recreação e banheiro.
"Há ajustes que podemos fazer, como a configuração dos assentos. Assim que concluirmos esse aspecto, teremos uma compreensão melhor dos alojamentos e como vamos operar dentro deles", esclarece Bowen.
Para missões de longa duração até Marte, é quase certo que haverá um módulo de habitação adicional. Mas, nos primeiros voos da Orion, os astronautas terão de se contentar apenas com uma área total de nove metros cúbicos - para trabalhar, dormir, fazer exercícios e relaxar.
Imagine passar várias semanas trancado com três colegas de trabalho em uma sala pequena com um banheiro só. E, ainda por cima, no espaço.
"Em algum momento, chegaremos ao design final e vamos ter a chance de dizer como vamos viver dentro dela por semanas a fio", afirma Bowen.
"Não imagino que alguém diga que é muito espaçosa, mas não ouvi ninguém reclamar de viver nessas limitações."
Riscos de voo
Além de ajudar a resolver como tudo vai caber dentro da espaçonave, os astronautas também estão envolvidos nos testes para procedimentos de pouso e decolagem. Uma das maiores críticas em relação aos ônibus espaciais, por exemplo, era a falta de qualquer sistema de escape, caso o foguete explodisse durante o lançamento. A preocupação ficou evidente quando o Challenger explodiu segundos após a decolagem, em 1986, matando todos os sete tripulantes.
A Orion será lançada pelo maior foguete da Nasa, o Sistema de Lançamento Espacial (SLS, na sigla em inglês). E, assim como a Apollo, contará com um sistema de escape de emergência - um pequeno foguete na ponta da cápsula, capaz de ejetá-la para longe do veículo lançador, no caso de uma falha na decolagem.
"Não sei se quatro pessoas vão conseguir se alongar confortavelmente ao mesmo tempo", diz Bowen, que passou toda a carreira trabalhando em espaços confinados.
"Mas isso já foi feito antes, então, não acho que seja impeditivo. Você só precisa se certificar de que as pessoas estejam acostumadas a espaços apertados."
'Sardinhas trabalhando'
Além da cabine de comando, os engenheiros também precisam prever uma cozinha, área de recreação e banheiro.
"Há ajustes que podemos fazer, como a configuração dos assentos. Assim que concluirmos esse aspecto, teremos uma compreensão melhor dos alojamentos e como vamos operar dentro deles", esclarece Bowen.
Para missões de longa duração até Marte, é quase certo que haverá um módulo de habitação adicional. Mas, nos primeiros voos da Orion, os astronautas terão de se contentar apenas com uma área total de nove metros cúbicos - para trabalhar, dormir, fazer exercícios e relaxar.
Imagine passar várias semanas trancado com três colegas de trabalho em uma sala pequena com um banheiro só. E, ainda por cima, no espaço.
"Em algum momento, chegaremos ao design final e vamos ter a chance de dizer como vamos viver dentro dela por semanas a fio", afirma Bowen.
"Não imagino que alguém diga que é muito espaçosa, mas não ouvi ninguém reclamar de viver nessas limitações."
Riscos de voo
Além de ajudar a resolver como tudo vai caber dentro da espaçonave, os astronautas também estão envolvidos nos testes para procedimentos de pouso e decolagem. Uma das maiores críticas em relação aos ônibus espaciais, por exemplo, era a falta de qualquer sistema de escape, caso o foguete explodisse durante o lançamento. A preocupação ficou evidente quando o Challenger explodiu segundos após a decolagem, em 1986, matando todos os sete tripulantes.
A Orion será lançada pelo maior foguete da Nasa, o Sistema de Lançamento Espacial (SLS, na sigla em inglês). E, assim como a Apollo, contará com um sistema de escape de emergência - um pequeno foguete na ponta da cápsula, capaz de ejetá-la para longe do veículo lançador, no caso de uma falha na decolagem.
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A nave espacial vai transportar quatro astronautas em missões previstas para durar semanas | Foto: Nasa
O teste do sistema para abortar a missão vai acontecer nos próximos meses, conta Bowen.
"Vai ser realmente emocionante de ver. Também estamos analisando o que acontece se algo der errado em qualquer momento do voo, para que a equipe tenha mais chances de sobreviver."
Retorno arriscado
A experiência de Bowen como tripulante de submarino tem sido particularmente importante em relação a encontrar a melhor maneira de resgatar os astronautas e a espaçonave quando regressarem à Terra - possivelmente um dos estágios mais arriscados de qualquer missão.
Enquanto os ônibus espaciais pousam em uma pista, a Orion vai cair no meio do oceano com o auxílio de um paraquedas, após entrar na atmosfera a cerca de 11 quilômetros por segundo.
Bowen supervisionou recentemente o último teste de recuperação da Orion, realizado pela Nasa ao longo da costa da Califórnia.
"Ela não tem quilha, não tem propulsão própria, vai ficar basicamente flutuando por aí. Será um passeio interessante mesmo em condições marítimas desfavoráveis", avalia.
"Tive experiência suficiente no mar para ver alguns dos tripulantes mais durões ficarem gravemente doentes. Ficar enjoado é uma possibilidade real."
Como a Orion é muito pesada, a Marinha não consegue usar helicópteros para içar a cápsula até um navio. Após semanas - quem sabe até meses ou anos - dentro da espaçonave, a tripulação vai estar desesperada para sair, mas pode ser que tenha de esperar mais um pouco para minimizar o risco de afogamento.
"Afinal, esse veículo vai ficar no espaço por anos. Se formos a Marte, a condição física dos astronautas será muito diferente dos programas anteriores", ressalta Bowen.
"A questão é em que momento você resgata a equipe de dentro da cápsula. Você deve retirar enquanto eles estão flutuando no oceano, ou é melhor arrastar [a cápsula] para o convés de um navio e retirá-los efetivamente em terra firme?"
Sonho antigo
A Orion foi idealizada há mais de 10 anos, mas apenas após a recém-definida meta da Nasa de retornar à Lua o programa finalmente começou a tomar forma. Com o foguete SLS também em construção, e testes bem avançados do lançador, é razoável apostar que os astronautas farão seu voo inaugural até 2025.
"Na semana passada, começaram as soldagens na primeira espaçonave que transportará humanos além da órbita baixa da Terra pela primeira vez em 50 anos", conta o astronauta.
"Ela está sendo construída. É ferragem real, é emocionante".
Apesar do desconforto, do enjoo e dos perigos, Bowen adoraria voar na espaçonave que está ajudando a desenvolver. E quais são as chances de isso acontecer?
"Quem sabe?", diz ele, diplomaticamente.
"Ainda faço parte do escritório de astronautas, meu nome está na lista. Estou aqui há algum tempo... Mas ainda me sinto bem!"
Autor: Richard Hollingham
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: BBC
Data de Publicação: 12/06/2018
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-44378542
O teste do sistema para abortar a missão vai acontecer nos próximos meses, conta Bowen.
"Vai ser realmente emocionante de ver. Também estamos analisando o que acontece se algo der errado em qualquer momento do voo, para que a equipe tenha mais chances de sobreviver."
Retorno arriscado
A experiência de Bowen como tripulante de submarino tem sido particularmente importante em relação a encontrar a melhor maneira de resgatar os astronautas e a espaçonave quando regressarem à Terra - possivelmente um dos estágios mais arriscados de qualquer missão.
Enquanto os ônibus espaciais pousam em uma pista, a Orion vai cair no meio do oceano com o auxílio de um paraquedas, após entrar na atmosfera a cerca de 11 quilômetros por segundo.
Bowen supervisionou recentemente o último teste de recuperação da Orion, realizado pela Nasa ao longo da costa da Califórnia.
"Ela não tem quilha, não tem propulsão própria, vai ficar basicamente flutuando por aí. Será um passeio interessante mesmo em condições marítimas desfavoráveis", avalia.
"Tive experiência suficiente no mar para ver alguns dos tripulantes mais durões ficarem gravemente doentes. Ficar enjoado é uma possibilidade real."
Como a Orion é muito pesada, a Marinha não consegue usar helicópteros para içar a cápsula até um navio. Após semanas - quem sabe até meses ou anos - dentro da espaçonave, a tripulação vai estar desesperada para sair, mas pode ser que tenha de esperar mais um pouco para minimizar o risco de afogamento.
"Afinal, esse veículo vai ficar no espaço por anos. Se formos a Marte, a condição física dos astronautas será muito diferente dos programas anteriores", ressalta Bowen.
"A questão é em que momento você resgata a equipe de dentro da cápsula. Você deve retirar enquanto eles estão flutuando no oceano, ou é melhor arrastar [a cápsula] para o convés de um navio e retirá-los efetivamente em terra firme?"
Sonho antigo
A Orion foi idealizada há mais de 10 anos, mas apenas após a recém-definida meta da Nasa de retornar à Lua o programa finalmente começou a tomar forma. Com o foguete SLS também em construção, e testes bem avançados do lançador, é razoável apostar que os astronautas farão seu voo inaugural até 2025.
"Na semana passada, começaram as soldagens na primeira espaçonave que transportará humanos além da órbita baixa da Terra pela primeira vez em 50 anos", conta o astronauta.
"Ela está sendo construída. É ferragem real, é emocionante".
Apesar do desconforto, do enjoo e dos perigos, Bowen adoraria voar na espaçonave que está ajudando a desenvolver. E quais são as chances de isso acontecer?
"Quem sabe?", diz ele, diplomaticamente.
"Ainda faço parte do escritório de astronautas, meu nome está na lista. Estou aqui há algum tempo... Mas ainda me sinto bem!"
Autor: Richard Hollingham
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: BBC
Data de Publicação: 12/06/2018
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-44378542
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