segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Aquíferos – Cenário atual e perspectivas futuras no mundo, por Marco Antonio Ferreira Gomes e Lauro Charlet Pereira

O futuro dos aquíferos no mundo estará seriamente comprometido, com perspectivas de escassez cada vez maiores de água, inclusive para consumo humano

Os aquíferos constituem as únicas reservas estratégicas de água subterrânea para as gerações vindouras, motivo pelo qual a proteção dos mesmos é de fundamental importância para a sobrevivência da humanidade.

O maior desafio é manter as reservas protegidas dentro de um ambiente sustentável, exigência essa que está na contramão dos acontecimentos atuais e no comportamento do homem de forma agressiva ao meio ambiente em diversos locais do Planeta. Some-se a isso, as condições climáticas severas, que interferem negativamente na recarga dos aquíferos.

Estudos realizados pela NASA no período entre 2003 e 2013, de caráter inédito, identificou um cenário preocupante para os principais aquíferos do mundo. Cerca de 21 dos 37 aquíferos mais importantes, em função da sua reserva de água, apresentaram perdas de volume, ou seja, a retirada de água foi maior do que a entrada (recarga). Em 13 deles (dos 21 mais críticos), por exemplo, os níveis de exploração os levaram à condição de grande estresse ou de nível crítico. Este cenário tem se tornado comum em todo o planeta por dois motivos básicos: crescimento populacional em escala expressiva e redução ou desequilíbrio dos regimes de chuva em muitas regiões, não recarregando assim, de forma minimamente satisfatória, os reservatórios subterrâneos.

Os aquíferos mais afetados são aqueles situados em regiões densamente povoadas e pobres como, por exemplo, o noroeste da Índia e o Paquistão (Bacia Aquífera Indu), o norte da África (Bacia Murzuk-Djado), principalmente Líbia e Niger, e o Sistema Aquífero Árabe, que atende 60 milhões de pessoas, considerado o mais crítico de todos. Este aquífero, além de sofrer uma redução drástica no volume de água no período de 2003 a 2013, não apresenta sinais de que está sendo recarregado, até porque o regime de chuvas anual é insignificante. Também em situação crítica está o aquífero da Bacia do Rio Jordão, que é objeto de conflito entre Israel, Palestina, Síria e Jordânia.

Em países desenvolvidos também existem problemas com os aquíferos e os Estados Unidos é um deles. Atualmente, o reservatório mais problemático é o Aquífero do Vale Central da Califórnia, com grande pressão de uso, principalmente agrícola, visando suprir a escassez de chuva. Outro aquífero americano com problemas à vista é o Ogallala, um dos maiores e mais importantes mananciais da América. Ele cobre cerca de 450 mil quilômetros quadrados de extensão, atravessando vários estados americanos, como Dakota do Sul, Nebraska, Wyoming, Colorado, Kansas, Oklahoma, Texas e Novo México.

O aquífero Ogallala, que homenageia uma das sete divisões da grande nação Sioux, já perdeu o equivalente a 18 vezes o volume do rio Colorado, desde que começou a ser explorado para irrigação agrícola. Um quinto das terras irrigadas nos Estados Unidos mantêm-se com as águas do Ogallala que se espalham sob oito estados.

Está localizado sob as Grandes Planícies americanas. Nesses estados, já existe um controle de uso da água subterrânea desde 2012, principalmente para irrigação, cuja demanda é de cerca de um terço de todo o consumo anual de água dos Estados Unidos.

Em situação intermediária de pressão por consumo está o Aquífero Núbia, localizado no norte da África, abrangendo parte do Egito, Líbia, Chade e Sudão. Entre os aquíferos europeus estão, principalmente o Praded na República Tcheca e Polônia, o Digitalwaterway Vechte na Alemanha e Holanda e o Leste Prússia que abrange parte da Rússia, Polônia e Lituânia.
Também na condição intermediária de pressão por consumo está o aquífero North China Plain na China, além do Aquífero Guarani no Brasil.

Em situação mais confortável, atualmente, estão os aquíferos Alter do Chão no Brasil, Kalahari/Karoo na Namíbia/Botsuana/África do Sul e os aquíferos Grande Bacia Artesiana e Bacia Murray-Darling, ambos na Austrália. Isso ocorre porque a densidade populacional ainda não é expressiva sobre tais regiões, aliada ao regime de chuvas que permite, de forma satisfatória, a recarga anual.

Diante do exposto, e no ritmo atual, o futuro dos aquíferos no mundo estará seriamente comprometido, com perspectivas de escassez cada vez maiores de água, inclusive para consumo humano. Para se ter uma dimensão do impacto negativo causado nos aquíferos devido à exploração sem controle, ou inadequada, basta imaginar que 1 século atrás todos eles estavam praticamente intactos, ou seja, inexplorados ou sub-explorados. Diante do cenário atual, se projetarmos então 1 século para o futuro, o que iremos ter de reserva subterrânea?

Consultas:

http://www.mma.gov.br/estruturas/167/_publicacao/167_publicacao28012009044356.pdf

https://noticias.uol.com.br/meio-ambiente/ultimas-noticias/redacao/2015/06/17/dados-da-nasa-mostram-nivel-critico-nas-aguas-subterraneas-da-terra.htm?cmpid=copiaecola
https://oglobo.globo.com/sociedade/sustentabilidade/dados-da-nasa-revelam-que-mundo-esta-ficando-sem-suas-principais-fontes-de-agua-16467230#ixzz5OvyOPU1t

Marco Antonio Ferreira Gomes* & Lauro Charlet Pereira*
*Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 17/09/2018




Autor: Marco Antonio Ferreira Gomes & Lauro Charlet Pereira
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 17/09/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/09/17/aquiferos-cenario-atual-e-perspectivas-futuras-no-mundo-por-marco-antonio-ferreira-gomes-e-lauro-charlet-pereira/

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