quarta-feira, 10 de abril de 2019
A mudança geoeconômica global, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
A mudança geoeconômica global
O mundo está passando por uma mudança geoeconômica e geopolítica de grandes proporções. Nos últimos 40 anos, o mapa mundial das principais economias globais e dos blocos regionais e políticos se alterou com surpreendente rapidez. Como mostra o gráfico acima, com dados do FMI, o G20 (que reúne 19 das maiores economias do mundo mais a União Europeia) mantem o percentual acima de 80% do PIB mundial, apesar da ligeira diminuição de 83,7% em 1980, para 80,4% em 2018.
Porém, o G7 – que reúne as principais economias capitalistas do mundo (EUA, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Canadá) – apresentou uma redução relativa muito acentuada, passando de 51% do PIB global em 1980, para 30,1% em 2018. Em 1980, o G7 era mais do dobro do G12 (os países em desenvolvimento, representados nas colunas do gráfico acima) e tinha uma economia mais de 20 vezes superior à economia da China ou 10 vezes superior à Chíndia (China + Índia). Mas o G7 ficou menor do que o G12 em 2009 e deve empatar com a Chíndia em 2020. Para 2023, a estimativa do FMI é que o G7, com 27,1% do PIB global, será menor do que o G12 com 46,7% e menor do que a Chíndia com 30,3%.
A União Europeia (com 28 Estados-membros: Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Croácia, Chipre, República Checa, Dinamarca, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Estônia, Finlândia, França, Grécia, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Polônia, Portugal, Romênia, Reino Unido e Suécia), tinha 29,9% do PIB mundial em 1980 e caiu para 16,3% em 2018, ficando abaixo da participação da China (18,7%) e, consequentemente, abaixo da Chíndia, do RIC (Rússia, Índia e China) e do grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Em 2023, a UE, com 14,8% em relação ao PIB global, deve representar a metade do tamanho da Chíndia (com 30,3%) e três vezes menor do que o G12.
Observa-se uma grande inversão do peso das economias avançadas em relação às economias emergentes nas últimas 4 décadas. Considerando as economias avançadas como sendo o G7 mais a “UE – 4” (UE menos a Alemanha, França, Reino Unido e Itália) e o G12 como as economias em desenvolvimento ou emergentes do grupo G20, nota-se que as primeiras (avançadas) representavam 61,7% do PIB global em 1980, quase 3 vezes superior aos 22% das economias emergentes (G12). No ano 2013, pela primeira vez, as economias emergentes ultrapassaram as economias avançadas e em 2018, elas já representavam 42,9% do PIB global, contra 36,9% das economias avançadas. A estimativa do FMI para 2023 indica o G7 + “UE – 4” com 33,5% e o G12 (economias emergentes do G20) com 46,7% do PIB global. Portanto, mudou a correlação de forças entre os países desenvolvidos e os países em desenvolvimento.
Entre os países emergentes, o grande destaque é o grupo BRICS que no ano 2000 representava 18,7% do PIB global e era quase 3 vezes menor do que as economias avançadas com 52,8% do PIB global, conforme sintetizado na tabela abaixo. Contudo, mostrando a inversão geoeconômica global, o BRICS empatou com o G7 + “UE – 4” em 2018 e deve ficar com 35,9% do PIB global contra 33,5% das economias avançadas. Entre os 5 países do grupo BRICS o destaque é o subgrupo RIC (Rússia, Índia e China) que em 2023 deve empatar com o conjunto das economias avançadas, em torno de 33% do PIB global. E no subgrupo RIC, o destaque é a Chíndia (China + Índia) que até 2023 vai ultrapassar o peso do G7 na economia internacional. Evidentemente, entre todos os países, a nação que apresentou o crescimento mais rápido e o maior salto em termos de desenvolvimento socioeconômico é a China que já superou os EUA e também a União Europeia, sendo o país com o maior PIB do Planeta.
O fato é que as economias emergentes cresceram muito mais rápido que as economias avançadas nas últimas 4 décadas. O motor do crescimento mundial está localizado nas duas nações mais populosas do mundo – China e Índia – que também já foram as grandes potências do passado, antes do início da Revolução Industrial e Energética. Rússia, Índia e China formam o grupo RIC, que tem uma posição fulcral na Eurásia, contam com uma força de trabalho muito ampla e com amplos recursos naturais. O triângulo estratégico deve forjar uma nova ordem global, reconfigurando as relações internacionais e gerando grandes impactos econômicos e políticos sobre as relações estruturais e sobre a governança global.
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/04/2019
Autor: José Eustáquio Diniz Alves
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 10/04/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/04/10/a-mudanca-geoeconomica-global-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
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