terça-feira, 20 de agosto de 2019
Desperdício de alimentos e água, artigo de Roberto Naime
Desperdício de alimentos e água
Desperdício de alimentos é um conceito de definição imprecisa. De modo geral, considera-se desperdício um dos tipos de perda que ocorrem na cadeia produtiva dos alimentos, que vai da produção até o consumo, referindo-se especificamente às perdas deliberadas que ocorrem na comida apta para o consumo, seja por descarte ou pela não utilização.
Como muitas vezes pode ser difícil distinguir até que ponto as perdas são intencionais, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) prefere utilizar a expressão abrangente perda e desperdício.
Dados de 2011 apontam que cerca de 1,5 bilhão de toneladas de comida, representando em torno de 1/3 da produção mundial, são perdidas ou desperdiçadas anualmente, significando uma contínua e injustificável sangria nos recursos vitais do planeta e na economia das nações.
E sendo um fator de desequilíbrio ecológico e social, uma das causas do aquecimento global e um importante obstáculo à resolução do problema da fome crônica que ainda aflige mais de 800 milhões de pessoas em todo o mundo.
Todos estes desperdícios também se refletem nos recursos hídricos. Se estima que para cada litro de cerveja produzido sejam consumidos em média 5,5l de água, para cada kg de arroz, cerca de 2.500l do recurso natural, para cada kg de manteiga cerca de 18.000l, para cada litro de leite 710l, para cada kg de queijo, cerca de 5.280l, para cada kg de batata são estimados 130l, para cada kg de carne bovina mais de 17.000l e para carne de frango cerca de 3.700l.
Nos países desenvolvidos e em desenvolvimento o desperdício ocorre em sua maioria na fase final da cadeia produtiva, a do consumo. Nos países mais pobres as perdas principais ocorrem nas etapas primárias e intermédias da cadeia, com perdas menos significativas na fase do consumo.
Em geral, o desperdício ocorre em níveis mais elevados nos países onde a industrialização é mais acentuada. Por exemplo, na Europa e Estados Unidos as perdas “per capita” são estimadas em 95 a 115 kg por ano, enquanto que na África subsaariana e no sudeste asiático elas ficam entre 6 e 11 kg por ano.
A piada é mórbida e de mau gosto mas serve para ilustrar o problema. Só ocorrem perdas significativas onde existem alimentos.
Diversos fatores contribuem que o alimento seja perdido durante sua produção, beneficiamento ou comercialização.
O assunto ainda é relativamente pouco estudado e requer muito mais pesquisa, mas no panorama, nos países pouco desenvolvidos as perdas se devem principalmente a limitações de ordem financeira, administrativa, infraestrutural ou técnica, e não entram propriamente na definição de desperdício, mas cabem na definição geral perda alimentar.
Nos demais países se deve a fatores culturais ou comportamentais, e à deficiente coordenação entre os agentes da cadeia de produção, distribuição e comercialização dos alimentos.
As perdas também ocorrem quando há produção acima da demanda, e são influenciadas por fatores culturais, econômicos estruturais e técnicos presentes em todos os países, que incluem as opções de produção, tradições da cultura agropecuária e pesqueira, maneiras preferenciais de armazenamento, distribuição e comercialização dos produtos, e a lucratividade de cada uma das etapas da cadeia.
Um dos fatores culturais que têm influência no problema é o conceito que a população forma a respeito do que é um bom alimento. Muitas vezes alimentos perfeitamente comestíveis são descartados ou rejeitados por razões alheias ao seu valor nutricional, acabando por serem perdidos.
As perdas e desperdícios de alimentos representam uma vasta e inútil drenagem de recursos de várias ordens, terra, água, energia, força de trabalho e dinheiro, além de extinguir vidas e diminuir o bem-estar das pessoas, elementos cujo valor não pode ser quantificado ou monetarizado.
O desperdício tem um impacto cultural insidioso, pois a grande quantidade de comida perdida transmite uma impressão de que o alimento é facilmente conseguido e tem pouco valor intrínseco, e por isso pode ser desperdiçado sem preocupações, o que é uma visão profundamente equivocada, reforçando o círculo vicioso das perdas.
A efeméride tem ainda um grande impacto econômico, pois comida perdida é dinheiro perdido. A FAO calcula que os custos chegam a 750 bilhões de dólares por ano. Observa-se adicionalmente um importantíssimo custo social, já que grande população no mundo, calculada em torno de 900 milhões de pessoas, ainda sofre de fome crônica. Segundo a FAO, a quantidade de comida perdida poderia erradicar completamente a fome do mundo.
Além disso, como os desperdícios especificamente se situam em sua maioria nos países industrializados, que importam muita comida produzida nos países pouco desenvolvidos, onde a fome é mais comum, as perdas concorrem para a desigualdade e a injustiça social.
E ampliam os problemas já existentes de segurança alimentar, saúde pública, desemprego, migração de populações, violência e urbanização, entre outros, e podem ser uma causa de desintegração de culturas tradicionais.
Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.
Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.
Referência:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Desperdício_de_alimentos
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 20/08/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 20/08/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/08/20/desperdicio-de-alimentos-e-agua-artigo-de-roberto-naime/
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