quinta-feira, 17 de outubro de 2019
Substância utilizada em produtos para pele pode interferir em resultados de exames de glicemia
O monitoramento do índice glicêmico é fundamental no controle da glicemia e da diabetes, impactando diretamente no tratamento dos pacientes que lidam diariamente com essa condição.
Entretanto, um estudo realizado em pacientes da República dos Camarões, em 2018, que avaliou o impacto de loções e cremes para o corpo no exame de glicose apontou que o uso tópico da hidroquinona, muito utilizada em produtos voltados ao clareamento de manchas na pele, pode interferir no resultado final. A diferença foi significativa e persistiu após 60 minutos da aplicação inicial do produto.
“Neste caso, os índices glicêmicos podem apresentar níveis falsamente elevados, interferindo no diagnóstico e levando ao monitoramento errôneo da condição”, ressalta a química Maria Inês Harris, diretora executiva do Instituto Harris, com Ph.D. em Química (UNICAMP) e Pós-Doutorado em Toxicologia Celular e Molecular de Radicais Livres (UNICAMP) e em Lesões de Ácidos Nucleicos (CNRS, França).
Mais sobre o estudo
Apesar de o estudo ter sido realizado somente com amostras de 16 pacientes, a especialista afirma que esse resultado deve servir de alerta para médicos e os pacientes que devem fazer o controle da glicemia.
“O estudo sugere essa forte correlação entre o uso deste componente e a adulteração dos resultados glicêmicos no momento do exame. Embora mais estudos sejam necessários para corroborar esse resultado, é muito mais seguro que tenhamos o devido cuidado com prevenção do que arriscar a vida dos pacientes. Como já é sabido que a hidroquinona tem alguns aspectos tóxicos, esse pode ser mais um efeito adverso ocasionado pelo ingrediente”, esclarece Maria Inês Harris.
A pesquisa utilizou loções corporais que continham um dos três ingredientes a seguir: óleo de amêndoa, corticoide ou hidroquinona. Não foram observadas diferenças significativas nas medições de glicemia com os dois primeiros ingredientes. Porém, a hidroquinona demonstrou interferir na medição de glicose. Esse erro na medição pode ocasionar problemas sérios. Principalmente para pacientes com diabetes, que monitoram os níveis de glicemia de forma rigorosa, uma vez que um erro na leitura de glicose no sangue pode levar esses pacientes a injetarem doses desnecessárias de insulina no corpo e gerar quadros de hipoglicemia, que podem ser fatais.
Na visão do dermatologista Egon Daxbacher, titular da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) e colunista médico da PEBMED, esse estudo não pode ser usado como resultado definitivo por ter uma amostra de pacientes muito pequena.
“Outra questão muito importante é destacar que o estudo não fala sobre alteração no exame de glicemia com coleta do sangue na veia. Fala apenas de glicemia capilar. É diferente. Glicemia capilar é colhida na ponta do dedo e foi o objeto do estudo porque as pessoas usam a ponta do dedo para aplicar os tópicos. O uso de produtos com hidroquinona foi sugerido como podendo atrapalhar a leitura do teste de glicemia capilar e não a glicose medida no sangue retirado diretamente da veia”, alerta o dermatologista Egon Daxbacher.
Sobre a hidroquinona
A hidroquinona é utilizada como principal ativo para o uso profissional de tratamentos estéticos de clareamento gradativo de manchas como melasmas e melanoses solares.
Apesar de ser proibida em produtos cosméticos na Europa, na Austrália e em algumas localidades da Ásia, essa substância é comercializada e utilizada no Brasil, sob prescrição médica.
“É importante frisar que não é o uso do produto na pele do rosto ou do corpo que pode interferir no resultado do exame de glicemia sanguínea, e sim a presença do ativo na região em que se vai fazer o exame, geralmente nos dedos. A contaminação pode ocorrer quando a pessoa usa as mãos para passar o creme no corpo e não as lava bem antes do exame”, explica Maria Inês Harris.
Para a especialista, os médicos devem fazer um acompanhamento completo sobre o estilo de vida de seus pacientes, sobretudo em relação ao uso de produtos que possam conter hidroquinona e solicitar que o uso destes seja interrompido antes da realização de exames de glicemia.
No caso de pacientes com diabetes, que fazem um controle mais rigoroso das taxas de glicose, os médicos devem sugerir que o uso de tais produtos sejam substituídos por componentes similares, de forma a evitar resultados falsos nos níveis de glicemia, que podem ocasionar problemas mais sérios à saúde de diabéticos.
A segunda recomendação importante é alertar aos pacientes para realizar o teste de glicemia capilar antes do uso de algum produto com a substância ou aplicá-lo com uma mão diferente da que faz a medição ou ainda usar luvas para a aplicação.
Autor: Úrsula Neves
Fonte: Pebmed
Sítio Online da Publicação: Pebmed
Data: 17/10/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/substancia-utilizada-em-produtos-para-pele-pode-interferir-em-resultados-de-exames-de-glicemia/
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