Esse impacto se daria em decorrência tanto das reações psicológicas de um indivíduo diante dessa doença como também da fenomenologia neuropsiquiátrica associada às síndromes demenciais. A relação entre o diagnóstico de demência e risco de suicídio, contudo, não era — até então — bem esclarecido na literatura.
A JAMA Neurology publicou, neste ano, estudo que se propôs a analisar essa associação. Os autores dessa pesquisa consideraram como hipótese que o risco de suicídio após um diagnóstico de demência era maior entre os indivíduos com quadros de demência de início precoce, em período imediato após o diagnóstico de demência e entre indivíduos com comorbidades psiquiátricas.
Métodos
Trata-se de um estudo de caso controle que ocorreu na Inglaterra entre janeiro de 2001 e dezembro de 2019 a partir do uso de registros eletrônicos provenientes de três centros: Clinical Practice Research Datalink (CPRD), Hospital Episode Statistics (HES) e Office for National Statistics (ONS).
A exposição de interesse foi diagnóstico de demência em pacientes acima de 45 anos. Pacientes que receberam prescrição de inibidores de acetilcolinesterase (galantamina, rivastigmina, donepezila) e memantina — mesmo que não apresentassem documento de diagnóstico de demência em CPRDF e HES — foram também inclusos.
Os casos foram selecionados a partir de pacientes com óbito por suicídio. Para serem inclusos no estudo, os participantes deveriam apresentar pelo menos 15 anos de idade na data do óbito e possuir pelo menos um ano de dados completos no CRPD antes da morte. Para cada caso de paciente com óbito por suicídio, 40 controles vivos foram selecionados de acordo com os critérios de elegibilidade a fim de maximizar o poder estatístico do estudo. Os controles também deveriam possuir pelo menos 15 anos de idade e pelo menos um ano de dados completos no CRPD antes da morte.
A avaliação de risco de suicídio em pacientes com demência a partir da idade e do tempo do diagnóstico foi também examinado. A análise do risco de suicídio foi estratificada em < 65 anos ou > 65 anos.
Para estimar o odds ratio entre os grupos caso e controle, a análise estatística ocorreu a partir de regressão logística condicional. O nível de significância estatística nesse estudo foi considerado como 5%.
Resultados
Entre os 70.065.533 pacientes com registros disponíveis no CRPD, 23.333.028 pacientes (33%) apresentavam elegibilidade para inclusão no estudo.
Desses 70.065.533 pacientes, 14.515 pacientes (2,4%) apresentaram suicídio com mediana de idade em torno de 47,4 anos sendo 74,8% homens. Foram selecionados 580.159 controles em que mediana de idade da morte era 81,6 anos sendo 50% homens. Entre os 14.515 pacientes com relato de suicídio analisados no estudo, 14.240 casos apresentaram 40 controles pareados cada e 275 casos com nove a 39 controles pareados cada.
De toda a amostra do estudo, 4.940 pacientes foram identificados com diagnóstico de demência nos quais 95 pacientes (1,9% dos indivíduos com demência) pertenciam ao grupo caso (óbito por suicídio). Esses pacientes apresentavam mediana de idade de morte em torno de 79,5 anos — que foi em uma idade mais jovem comparada à idade de morte do grupo controle que possuía pacientes com demência que morreram por outras causas (mediana de 87,9 anos). Além disso, os pacientes com demência e óbito por suicídio apresentaram diagnóstico de demência em idade mais jovem (mediana de 76,1 anos) comparada aos controles (mediana de 80,5 anos).
Em pacientes com diagnóstico de demência precoce (< 65 anos), o risco de suicídio foi maior três meses (OR 6,69) após o diagnóstico e permaneceu aumentado mesmo após um ano (OR 2,45) comparado com pessoas sem diagnóstico de demência. Em pacientes com demência acima de 65 anos, risco de suicídio também estava aumentado nos primeiros 3 meses do diagnóstico (OR 2,25). Vale constar, contudo, que esse risco apresentou redução após um ano (OR 0,66).
Comentários
Os resultados dessa publicação vão ao encontro de achados presentes em estudos de coorte prévios que sugerem que o diagnóstico de demência em idade mais jovem e o diagnóstico recente de demência são fatores preditores para aumento no risco de suicídio. Uma justificativa para esse resultado seria a dificuldade na aceitação desse diagnóstico e os ajustes intrínsecos a essa condição serem maiores nessa faixa etária.
Na análise desse presente estudo, não houve como demonstrar conclusões se distúrbios psiquiátricos poderiam atuar predominantemente como fator de risco para demência e para suicídio ou se eles atuariam como um mediador dessas morbidades.
Mensagem final
O período após o diagnóstico de demência deve ser acompanhado também por um acesso a risco de suicídio, principalmente naqueles com demência de início precoce. Logo, esse período é crítico para abordagem e prevenção de suicídio.
Autor: Danielle Calil
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/11/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/associacao-entre-risco-de-suicidio-apos-diagnostico-de-demencia-de-inicio-precoce/
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