quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

Reabilitação da síndrome pós-covid: recomendações para manejo nutricional

 De 22 a 24 de setembro de 2022, aconteceu em São Paulo, o Congresso Brasileiro de Nutrologia (CBN 2022), onde uma das mesas de discussão abordou o tema tão atual e necessário que é a reabilitação pós-covid. Nela, foram apresentadas quatro palestras que abordaram as diversas nuances no processo de reabilitação do paciente que foi acometido pela doença. 


Na primeira palestra foram discutidas as dificuldades encontradas nas diferentes fases do processo de nutrir esse paciente, que envolve desde o início da terapia nutricional (quando e como iniciar a dieta para o paciente crítico?), a transição de cuidados nutricionais, até a fase final de como reabilitar o paciente após a alta hospitalar. Nas formas mais graves da doença, os pacientes evoluem com Síndrome Respiratória Aguda, com instabilidade hemodinâmica e metabólica, e muitas vezes com a necessidade do uso da ventilação mecânica.


A inflamação aguda leva também a glicemias elevadas e aumento do lactato, causando uma grande  dificuldade de estabilização do paciente. Isso estimula o uso de altas doses de sedação, drogas vasoativas e bloqueadores neuromusculares, e muitos foram submetidos à posição prona por longos períodos e também hemodiálise, todos esses fatores foram contribuintes para o início tardio da terapia nutricional.


Controle volumétrico de líquidos 

O controle do volume de líquidos infundidos, o uso elevado de substâncias que contém calorias não nutricionais, como o propofol e o manejo minucioso dos distúrbios hidroeletrolíticos também foram desafios enfrentados durante a fase de progressão da dieta. A fase de transição de cuidados da terapia nutricional se inicia na substituição da nutrição parenteral, quando utilizada, e da nutrição enteral até a reabilitação à nutrição oral, o que por vezes não será possível realizar dentro do ambiente hospitalar.


As altas taxas de readmissão hospitalar em pacientes acometidos por covid-19, demonstrada em estudos apresentados durante a palestra, podem ser um indicativo de uma alta hospitalar mal planejada, onde o paciente recebe uma enxurrada de informações no momento em que irá para a casa, evidenciando a importância do desenvolvimento de uma programação que auxilie o processo de desospitalização e entregue protagonismo ao paciente e aos cuidadores, sanando dúvidas e quando possível realizando treinamentos.  


Reabilitação motora e mobilização precoce

Já sobre a reabilitação motora, os palestrantes abordaram os cuidados com os pacientes críticos internados em unidades de terapia intensiva por covid-19. Foram apresentados vários estudos que demonstraram que esses pacientes eram mobilizados muito tardiamente, muitas vezes a mobilização só era iniciada após a suspensão da sedação ou retirada da ventilação mecânica, o que pode demorar longos períodos nessa patologia.


Nesses estudos foram mostrados que em alguns serviços, a mobilização dos pacientes se iniciou de set a 14 dias após a admissão na UTI. É sabido que a mobilização precoce contribui para a preservação da massa magra e prevenção de sarcopenia em pacientes críticos, e foram relatadas experiência de serviços hospitalares que adotaram estratégias de mobilização precoce e preservação muscular como contração ativa, contração eletro estimulada e exercício resistido, de acordo com as possibilidades do paciente.


Exercícios de alta ou baixa intensidade? 

Existem poucos estudos de boa qualidade que tratam sobre a recuperação dos pacientes após a alta hospitalar, mas os que existem mostraram que os exercícios de baixa intensidade apontaram um ganho de força superior quando comparados aos exercícios de alta intensidade.


O consumo máximo de oxigênio (VO2 máximo) pode ser afetado por inúmeros fatores em pacientes acometidos por covid-19, que evoluem com perda de massa magra, sarcopenia e diminuição da força física, mostrando que um outro desafio a ser vencido nos pacientes acometidos por covid-19 é a reabilitação cardiopulmonar, evidenciando a importância de programas de treinamento físico, podendo adaptar as atividades e utilizar estratégias como o princípio FITT: Frequência (número de dias por semana), Intensidade (carga de trabalho realizada), Tempo (duração de cada sessão), Tipo (modalidade de exercício).


Suplementação na síndrome pós-covid

A terceira palestra tratou sobre o uso de suplementos orais em covid-19, e mostrou a importância da análise crítica acerca da literatura científica, pois foi mostrado que inúmeras substâncias se mostraram promissoras no processo de reabilitação nutricional, mas os trabalhos são de pouca relevância estatística, mal delineamento dos estudos, poucas revisões sistemáticas sobre o tema.


Os estudos mais promissores mostraram o suporte adequado de proteínas, calorias e minerais, associado à atividade física e reabilitação muscular são efetivos na prevenção e melhora da sarcopenia, como também o uso de vitamina D, minerais, imunomoduladores mostrou potencial promissor em recuperação da resposta imunológica.


Existem estudos promissores com o uso de polifenóis; vitamina E, C e A; glutationa e carboidratos de baixo índice glicêmico na contribuição da minimização do estresse oxidativo a que esses pacientes são submetidos nas diversas fases e formas da Síndrome, assim como o uso de diversas substâncias na diminuição da inflamação, como ácidos graxos ômega 3, ácidos graxos monoinsaturados, fibras dietéticas, palmitoiletanolamida, N-acetilcisteína e Inositol.


Considerações

É importante ainda ressaltar que a síndrome pós-covid é multifatorial e abrange muitos aspectos que podem afetar o indivíduo das mais diversas formas, como inflamação, estresse traumático, microtromboses, estresse oxidativo, resposta imune debilitada, déficit hormonal, uso de medicamentos, desnutrição, sarcopenia, polineuropatia do paciente crítico.  


Todas as palestras retratam as dificuldades existentes da falta de consensos terapêuticos exclusivos para pacientes com covid-19, uma doença que desafiou a produção científica pois exigia soluções imediatas, sem tempo hábil para cumprir todas as fases necessárias na criação de protocolos e pesquisas a longo prazo. No momento a doença não é mais uma pandemia, mas a síndrome pós-covid é uma realidade a ser enfrentada por todos os profissionais de saúde. Muitas substâncias estão sendo testadas tanto para minimizar os efeitos agudos, quanto atenuar sequelas e consequências de uma síndrome tão heterogênea, mas os estudos demonstram que a nutrição e atividade física adequadas tem se mostrado as ferramentas mais eficazes.


Mensagem prática 

Existe a recomendação que o paciente com hipogonadismo e covid-19 deva ser tratado com reposição de testosterona, mas não há evidência científica clara ou consenso sobre qual o melhor momento para iniciar essa terapia, qual forma terapêutica mais adequada e qual dosagem utilizar.


Muitas substâncias têm se mostrado eficazes nas várias fases da doença, mas não existe evidência científica robusta que sugira o uso de nenhuma substância como recomendação especifica para tratamento e prevenção da síndrome pós-covid e o recado final é de que nada substitui um estilo de vida saudável.




Autor: Ana Clara Costa
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 28/09/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/reabilitacao-da-sindrome-pos-covid-recomendacoes-para-manejo-nutricional/

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