Arboviroses são um grande problema de saúde pública no Brasil. O Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) possui significativa expertise no desenvolvimento de kits para diagnóstico que identificam os vírus da dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A ideia é identificar mais arboviroses, como oropouche e mayaro, que acenderam o sinal de alerta dos cientistas nos últimos anos por conta do aumento do número de casos.
Colaboradores da Vice-Diretoria de Reativos para Diagnóstico (VDIAG) tiveram o estudo Oropouche virus genomic surveillance in Brazil publicado (26/8) na revista Lancet Infectious Diseases. A pesquisadora e gerente dos projetos de diagnóstico molecular de Bio-Manguinhos/Fioruz, Patricia Alvarez, explicou que o ensaio Kit Molecular Oroupoche/Mayaro, em fase final de desenvolvimento, foi essencial para a identificação de oropouche no Brasil. “Esse kit viabilizou a continuidade da avaliação genética das amostras, gerando dados de extrema importância que foram publicados neste artigo científico. O cenário de surtos torna o diagnóstico molecular diferencial uma ferramenta importante para auxiliar no manejo do paciente e na vigilância epidemiológica”, afirmou Alvarez.
Ela é uma das autoras do estudo e comentou que esta publicação é resultado de uma parceria com Renato Santana, do Departamento de Genética, Ecologia e Evolução do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Este artigo contou, ainda, com a colaboração de Marisa de Oliveira Ribeiro e de Monica Barcellos Arruda, pesquisadoras do Laboratório de Kits Moleculares do Departamento de Desenvolvimento de Reativos para Diagnóstico (Lamol/Deded) e pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Hermes Pardini do Grupo Fleury e Instituto D'OR de Pesquisa e Ensino.
Vice-diretor de Reativos para Diagnóstico, Antonio Ferreira destacou que esse artigo se traduz em importante conquista. “É uma prova de que os trabalhos de desenvolvimento tecnológico da VDIAG estejam com base em parcerias científicas, onde façamos parte das publicações, demonstrando a importância, desempenho e aplicação dos produtos que Bio-Manguinhos/Fiocruz desenvolve e produz com qualidade”.
Patricia contou que o desenvolvimento do Kit Molecular Oroupoche/Mayaro começou há cerca de um ano. “Este ensaio vem complementar o Kit ZC D tipagem Bio-Manguinhos (que detecta zika, chikungunya e dengue), onde a ideia é adicionar o diagnóstico para mayaro e oropouche. Procuramos estabelecer estratégias que antecipem possíveis futuras emergências relacionadas a arbovírus. Nesta linha, temos não somente esse, mas outros ensaios em desenvolvimento”, adiantou.
O trabalho descreveu a múltipla exposição do vírus Oropouche (Orov) da região Norte do Brasil para outras regiões do país. “Podemos até especular que esteja acontecendo o mesmo com outros vírus, como mayaro e febre amarela. O Lamol e o laboratório do Dr. Renato Santana possuem parceria desde 2016, quando houve a epidemia de zika. Desde então, trabalhamos em outros projetos e temos o laboratório da UFMG como um colaborador dos nossos ensaios de desenvolvimento. Esta cooperação é fundamental, pois agrega aos produtos desenvolvidos análises mais amplas e consistentes do desempenho dos ensaios desenvolvidos em Bio-Manguinhos, indo para registro junto a Anvisa com bases sólidas”, destacou Patricia.
Ela detalhou como o kit funciona e seu benefícios. “O ensaio, por ser multiplex, permite o diagnóstico diferencial, o qual é fundamental para vigilância epidemiológica, além de ser importante para uma efetiva intervenção de saúde pública. Os resultados são obtidos em poucas horas e o kit pode processar até 94 amostras por rotina”.
Outro diferencial do produto é o uso de um “multicontrole positivo’, componente inovador por conter o material genético ou a molécula-alvo que o teste pretende detectar. Esses controles positivos são usados para garantir que o teste esteja funcionando corretamente. Trata-se de uma VLPs (Virus-Like-Particles) biosegura, permitindo que o teste possa detectar eficazmente os alvos virais sem expor os operadores a riscos biológicos. “A boa notícia é que a submissão de registro do produto será em breve”, concluiu Patricia.
Dados de oropouche
O artigo explica que o Orov é um ortobunyavírus transmitido principalmente pelas picadas de Culicoides paraensis. Entre 2022 e 2024, aconteceram surtos de febre oropouche nos estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia. A investigação genômica revelou que esses surtos foram causados por um novo vírus rearranjador, com segmentos genômicos de diferentes vírus que são classificados na espécie Orthobunyavirus oropoucheense.
Até 4 de julho de 2024, 6.976 casos foram confirmados em laboratório no país, sendo 21,6% ocorrendo fora da região endêmica. Segundo o estudo, vários fatores contribuem para o surgimento de arbovírus, incluindo desmatamento e mudanças climáticas. Consequentemente, vírus endêmicos do norte do Brasil têm sido cada vez mais detectados em outras regiões do país, como o vírus da febre amarela e o vírus mayaro.
Este ano foi marcado por um aumento substancial de casos de arbovírus em todo o mundo, com 7,6 milhões de casos suspeitos, 90% dos quais foram registrados no Brasil. O país está enfrentando o maior pico de casos de sua história, com mais de 6,2 milhões de casos suspeitos de dengue e 233.255 casos de infecção por chikungunya, com um número crescente de casos graves para ambos os vírus. Portanto, a detecção dos primeiros casos humanos de febre oropouche em regiões não endêmicas do Brasil contribui para um cenário já complexo e é motivo de grande preocupação para a saúde pública.
Em suma, o trabalho aponta que ferramentas de diagnóstico precisas e vigilância genômica em tempo real são essenciais para esclarecer rapidamente aspectos cruciais da epidemiologia do Orov, fornecendo uma base para intervenções eficazes de saúde pública. Leia artigo científico completo.
Autor: Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 02/09/2024
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