“São aves do tamanho de gaios com garras e bicos afiados como agulhas”, diz Dumbacher, que, instintivamente, levou o corte à boca. “A minha boca começou a formigar e arder, depois ficou dormente e permaneceu assim até à noite.”
Quando Dumbacher consultou os seus guias locais eles acenaram com a cabeça em concordância, dizendo-lhe que os aldeães evitavam os “pássaros-lixo”, comendo-os apenas depois de serem “esfolados e preparados de uma maneira especial”. Curioso, o aluno de pós-graduação da Universidade de Chicago passou o ano seguinte a recolher amostras de Pitohui dichrous e procurando um químico na sua terra natal que fosse capaz de averiguar a origem das peculiares sensações.
Em 1992, Dumbacher e os seus colaboradores anunciaram as suas espantosas descobertas: os Pitohui dichrous são portadores de batracotoxina. A toxina é mais mortal do que o cianeto e é uma das substâncias mais mortíferas do reino animal. É a mesma substância presente em algumas rãs da família Dendrobatidae, que existem do outro lado do mundo.
Desde então, pelo menos uma dezena de espécies de aves, das mais de 10.500 conhecidas pela ciência, foram identificadas como tóxicas. Alguns membros deste grupo selecto, a codorniz-comum, o tetraz-enrufado e a poupa-eurasiática, existem fora da nova Guiné e contêm diferentes toxinas. A maioria, porém, são portadoras de batracotoxina e endémicas da segunda maior ilha do mundo, incluindo pelo menos outras cinco espécies de Pitohui e a ifrita-de-coroa-azul.
Contudo, 35 anos após a descoberta fortuita de Dumbacher, subsistem muitos mistérios em torno das aves venenosas da Nova Guiné. “Há muitas coisas que não sabemos – desde a ecologia das aves à forma como utilizam a batracotoxina para se defenderem e onde a obtêm”, diz Dumbacher, actual curador de aves e mamíferos da Academia de Ciências da Califórnia.
Autor: nationalgeographic
Fonte: nationalgeographic
Sítio Online da Publicação: nationalgeographic
Data: 21/05/2025
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