O professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação e do Departamento de Ciência da Informação da Universidade Federal Fluminense (PPGCI/UFF), Carlos Henrique Juvêncio, tem uma relação estreita com a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), onde iniciou como estagiário, permaneceu por seis anos e baseou toda a sua formação. Tanto seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) em Biblioteconomia na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio) quanto sua dissertação de mestrado e tese de doutorado em Ciência da Informação na Universidade de Brasília (UnB) foram sobre ou usando informações da Biblioteca Nacional.
Apesar da familiaridade com esse acervo – estimado em mais de nove milhões de itens –, Carlos Henrique Juvêncio precisava eleger objetos de estudo que pudessem reconstruir os 200 anos passados desde a Independência do Brasil. Seus estudos em Bibliografia o levaram a eleger os Anais da Biblioteca Nacional como uma das fontes de pesquisa, cujas primeiras edições surgem com as ideias republicanas.
Outra fonte de pesquisa são os ricos patrimônios documentais e símbolos nacionais (semióforos) das exposições realizadas pela instituição em efemérides, as quais auxiliaram na construção do ideário nacional. Uma das mais importantes e até hoje um dos documentos mais consultados da biblioteca, é o Catálogo da Exposição de História do Brasil, de 1881, que reúne toda a iconografia e bibliografia existentes sobre o país, em quase quatro séculos de história, no acervo da Biblioteca Nacional. Com mais de 1.700 páginas, o catálogo da exposição, impresso em três grossos volumes, é composto pelo registro de 20.337 itens, entre obras avulsas, dossiês, coleções e outros conjuntos documentais. Outras mostras compiladas são a Exposição de 1908, em comemoração ao centenário da abertura dos portos brasileiros e da chegada da Família Real ao Brasil, que inclui obras de Camões; do Centenário da Independência, em 1922; e dos 500 anos do Descobrimento, em 2000.
Carlos Henrique: a documentação da Biblioteca Nacional foi usada para a delimitação das fronteiras do Brasil (Foto: arquivo pessoal)
Por fim, em uma dimensão maior e de interesse mundial, a pesquisa elegeu os conjuntos documentais reconhecidos como legado e ‘memória do mundo’ pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Fortemente atrelados à ideia de construção nacional e à memória mundial, os acervos escolhidos incluem desde Documentos da Guerra do Paraguai à herança imperial, contada por meio da Coleção do Imperador Pedro II, chamada Teresa Cristina Maria, ao Arquivo de Lima Barreto, escritor negro autor de “Triste fim de Policarpo Quaresma” e observador e crítico ferrenho da aristocracia e das desigualdades sociais. Além disso, pontua Carlos Henrique, “Uma das curiosidades que observamos é de como a documentação geral do acervo da Biblioteca Nacional foi usada para a delimitação das fronteiras do Brasil, no início do século XX, sendo muito utilizada pelo Barão do Rio Branco”.
O doutor em Ciência da Informação espera que essa pesquisa bibliográfico-documental ajude a afirmar que a Biblioteca Nacional não é apenas uma fonte de informação, mas partícipe ativa na estruturação de narrativas da memória nacional, sendo um meio para sua construção e manutenção, sobretudo a partir da sua compreensão como um lugar de memória. Para o pesquisador, é necessário explorar o papel das bibliotecas nacionais na concepção dos estados-nação, identificando a sua missão e relação com a construção da memória nacional, observando, inclusive, o seu aspecto arquitetônico como algo importante no imaginário nacional, como pode ser visto nesta coleção de fotos históricas.
A fim de preencher a lacuna de uma obra sobre a Biblioteca Nacional “a casa da documentação brasileira, o semióforo nacional” a pesquisa de Juvêncio se desdobrará na publicação de artigos e um livro. Ele, que também recebe apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas por meio do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, também destaca a importância do lançamento de editais específicos por parte da Fundação, que, em sua opinião, ampliam a inclusão de uma parcela de pesquisadores que não têm acesso às chamadas regulares.
Autor: Paula Guatimosim
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 18/08/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=157.7.8
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