sexta-feira, 29 de março de 2019

Ações climáticas urgentes são necessárias para conter ciclones fatais como Idai, alerta o secretário-geral da ONU

O crescente número de mortos provocado pelo ciclone Idai é “outro sinal alarmante dos perigos da mudança climática”, disse na terça-feira (26) o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertando que países vulneráveis como Moçambique serão atingidos com mais força se ações urgentes não forem tomadas pela comunidade internacional.

“Tais eventos estão se tornando mais frequentes, mais severos e mais amplos, e isto só irá piorar se não agirmos agora”, disse o chefe da ONU. “Perante tempestades fortes, precisamos acelerar a ação climática”, acrescentou a correspondentes na sede da ONU em Nova Iorque.

ONU

O secretário-geral convocou uma Cúpula sobre Ação Climática para setembro, para tentar mobilizar países em torno da necessidade urgente de reduzir aquecimento global para abaixo de 2°C acima de níveis pré-industriais, em linha com o Acordo de Paris, de 2015.


Mulher alimenta filho de dois anos após terem sido obrigados a deixar sua casa após enchentes em Buzi, Moçambique. Foto: UNICEF/Prinsloo



O crescente número de mortos provocado pelo ciclone Idai é “outro sinal alarmante dos perigos da mudança climática”, disse na terça-feira (26) o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, alertando que países vulneráveis como Moçambique serão atingidos com mais força se ações urgentes não forem tomadas pela comunidade internacional.

“Tais eventos estão se tornando mais frequentes, mais severos e mais amplos, e isto só irá piorar se não agirmos agora”, disse o chefe da ONU. “Perante tempestades fortes, precisamos acelerar a ação climática”, acrescentou a correspondentes na sede da ONU em Nova Iorque.

O secretário-geral convocou uma Cúpula sobre Ação Climática para setembro, para tentar mobilizar países em torno da necessidade urgente de reduzir aquecimento global para abaixo de 2°C acima de níveis pré-industriais, em linha com o Acordo de Paris, de 2015.

O número de mortos em Moçambique, Malauí e Zimbábue já soma cerca de 700, mas ainda pode aumentar, à medida que centenas de pessoas ainda estão desaparecidas. De acordo com estimativas, 3 milhões de pessoas foram afetadas, quase dois terços delas em Moçambique, onde a cidade portuária de Beira foi “praticamente arrasada”, enquanto terras agrícolas do interior foram inundadas, disse Guterres.

Ao menos 1 milhão de crianças precisam de “assistência urgente” e há temores de que vilarejos inteiros tenham sido destruídos em lugares que ainda estão inacessíveis, acrescentou o chefe da ONU. Segundo relatos, em torno de 1 bilhão de dólares em infraestrutura foi destruído. Guterres afirmou que cidadãos dos três países africanos precisam de “apoio forte e contínuo”.

Na segunda-feira (25), a ONU realizou um pedido emergencial revisado de 281,7 milhões de dólares para Moçambique, classificando o desastre como uma “emergência de escala crescente”, que é a mais severa.

“Peço para a comunidade internacional financiar este apelo de forma rápida e completa para que agências de ajuda possam aumentar urgentemente suas respostas”, disse Guterres.




ONU e parceiros intensificam respostas

As condições para sobreviventes do ciclone Idai permanecem difíceis, com enorme devastação e um “risco extremamente alto de doenças diarreicas, como cólera”, afirmou na terça-feira a Organização Mundial da Saúde (OMS), em briefing a jornalistas em Genebra.

A representante da OMS em Moçambique, Djamila Cabral, disse que mais de 100 mil pessoas na cidade de Beira perderam suas casas e todos os seus pertences.

Além disso, “famílias, mulheres grávidas e bebês estão vivendo em acampamentos temporários em condições horríveis… sem suprimentos seguros de alimentos ou água potável segura e saneamento”.

Ao menos 1,8 milhão de pessoas precisam de assistência humanitária apenas em Moçambique. Casos de diarreia aguda similar à cólera já foram relatados entre as vítimas.

Para prevenir um surto, a OMS irá enviar 900 mil doses de vacina oral contra a cólera para o país. O suprimento deve chegar ainda nesta semana. A organização também irá enviar suprimentos para tratar doenças diarreicas, incluindo fluidos intravenosos e testes diagnósticos. Junto a isso, três centros para tratamento da cólera, incluindo uma instalação com 80 camas em Beira, estão sendo montados.

Para conter um aumento da malária nas próximas semanas, a OMS também prepara o fornecimento de 900 mil mosquiteiros com inseticidas para proteger famílias.

Testes rápidos de diagnóstico e remédios antimalária serão enviados para áreas de alto risco, mas esta e outras necessidades de saúde irão exigir “ao menos” 38 milhões de dólares ao longo dos próximos três meses, disse Cabral.

Coordenando necessidades alimentares para vítimas do ciclone, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) está mirando 1,7 milhões de pessoas em Moçambique com assistência alimentar, 732 mil no Malauí e 270 mil no Zimbábue.

A assistência também inclui logística e apoio emergencial de telecomunicações. Imagens de satélites mostram diversas plantações alagadas, incluindo um “oceano em terra” do tamanho de Luxemburgo, afirmou o PMA em comunicado. Nas províncias moçambicanas de Sofala e Manica, comunidades isoladas ainda estão inacessíveis e aguardam equipes de busca e resgate.


Zimbábue e Malauí também precisam de fundos de emergência

No Zimbábue, 95% das redes rodoviárias em distritos afetados foram danificadas, enquanto no Malauí o ciclone teve impacto limitado, disse o porta-voz do PMA, Hervé Verhoosel.

“Este apoio irá exigir 140 milhões de dólares para intervenções vitais em Moçambique para os próximos três meses; 15,4 milhões de dólares para os próximos dois meses no Malauí e 17 milhões de dólares para os próximos três meses no Zimbábue”, acrescentou.

Em apelo separado, cobrindo outras necessidades, como abrigos, água potável e saneamento, o Escritório das Nações Unidas para Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) e parceiros humanitários pediram 282 milhões de dólares para apoiar vítimas em Moçambique.

De acordo com o OCHA, quase meio milhão de hectares de plantações foi alagado, além de grandes danos a casas e infraestruturas.

Uma perda severa de gado também é esperada, levando ao agravamento de insegurança alimentar na região central do país, que já sofria com pobreza e problemas de desenvolvimento antes da chegada do ciclone.


Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2019





Autor: ONU Brasil
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/03/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/03/29/acoes-climaticas-urgentes-sao-necessarias-para-conter-ciclones-fatais-como-idai-alerta-o-secretario-geral-da-onu/

Imazon divulga dados do desmatamento na Amazônia em fevereiro de 2019

Por Stefânia Costa

O Imazon publicou os dados do Boletim do Desmatamento (SAD) referentes ao mês de fevereiro de 2019. No total, foram detectados 93 km² de desmatamento na Amazônia Legal. Esse número é 57% inferior ao desmatamento detectado em fevereiro de 2019, quando o desmatamento somou 214 km². Mas o dado não deixa de ser preocupante porque, considerando os 7 primeiros meses do calendário do desmatamento 2019 (agosto/2018 a fevereiro/2019), há um aumento de 46% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os estados que mais desmataram nesse período foram o Pará (39%), Mato Grosso (22%) e Amazonas (15%)

As áreas privadas e sob diversos estágios de posse (69%) e os assentamentos (24%) foram as categorias fundiárias que mais desmataram no mês. Considerando os 7 primeiros meses do calendário do desmatamento 2019, há um aumento de 46% em relação ao mesmo período do ano anterior. Ainda de acordo com o boletim do Imazon, em fevereiro de 2019, a maioria (69%) do desmatamento ocorreu em áreas privadas ou sob diversos estágios de posse. O restante do desmatamento foi registrado em assentamentos (24%), Unidades de Conservação (4%) e Terras Indígenas (3%).

Saiba mais a seguir:



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Clique aqui e confira o boletim completo.



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2019






Autor: Stefânia Costa
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/03/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/03/29/imazon-divulga-dados-do-desmatamento-na-amazonia-em-fevereiro-de-2019/

Aquecimento Global: Um bilhão de pessoas serão expostas a doenças como a dengue com o aumento da temperatura mundial

Até um bilhão de pessoas poderiam ser expostas a mosquitos portadores de doenças até o final do século devido ao aquecimento global, diz um novo estudo que examina mensalmente as mudanças de temperatura em todo o mundo.

Georgetown University Medical Center*


Aedes albopictus. Segundo a Organização Mundial da Saúde, os mosquitos são um dos animais mais letais do mundo, portadores de doenças que causam milhões de mortes todos os anos. (Imagem: James Gathany, Centros de Controle e Prevenção de Doenças)



Os cientistas dizem que a notícia é ruim mesmo em áreas com um pequeno risco de ter um clima adequado para mosquitos, porque os vírus que carregam são notórios por surtos explosivos quando aparecem no lugar certo, sob as condições certas.

“A mudança climática é a maior e mais abrangente ameaça à segurança sanitária global”, diz o biólogo de mudança global Colin J. Carlson, PhD, um pós-doutorado no departamento de biologia da Universidade de Georgetown e co-autor do novo estudo. “Mosquitos são apenas parte do desafio, mas depois do surto de zika no Brasil em 2015, estamos especialmente preocupados com o que vem a seguir.”

Publicado na revista de acesso aberto PLOS Neglected Tropical Diseases (“Global expansion and redistribution of Aedes-borne virus transmission risk with climate change”), a equipe de pesquisa, liderada por Sadie J. Ryan da Universidade da Flórida e Carlson, estudou o que aconteceria se os dois mosquitos transmissores de doenças mais comuns – Aedes aegypti e Aedes albopictus – seguirem e se moverem à medida que a temperatura muda ao longo de décadas.

Segundo a Organização Mundial da Saúde, os mosquitos são um dos animais mais letais do mundo, portadores de doenças que causam milhões de mortes todos os anos. Tanto o Aedes aegypti quanto o Aedes albopictus podem conter os vírus da dengue, chikunguyna e zika, bem como pelo menos uma dúzia de outras doenças emergentes que, segundo os pesquisadores, podem ser uma ameaça nos próximos 50 anos.

Com o aquecimento global, dizem os cientistas, quase toda a população mundial pode ser exposta em algum momento nos próximos 50 anos. À medida que a temperatura aumenta, eles esperam transmissões durante todo o ano nos trópicos e riscos sazonais em quase toda parte. Uma maior intensidade de infecções também é prevista.

“Essas doenças, que consideramos estritamente tropicais, já apareceram em áreas com climas adequados, como a Flórida, porque os seres humanos são muito bons em mover os insetos e seus patógenos em todo o mundo”, explica Ryan, professor associado de geografia médica na Flórida.

“O risco de transmissão de doenças é um problema sério, mesmo nas próximas décadas”, diz Carlson. “Lugares como a Europa, a América do Norte e altas elevações nos trópicos que costumavam ser muito frias para os vírus enfrentarão novas doenças, como a dengue.”

Mudanças climáticas mais severas produziriam proporcionalmente piores exposições populacionais para o mosquito Aedes aegypti . Mas em áreas com o pior aumento do clima, incluindo o oeste da África e sudeste da Ásia, são esperadas reduções sérias das condições para o mosquito Aedes albopictus , mais notadamente no sudeste da Ásia e no oeste da África. Este mosquito transporta dengue, chikunguyna e zika.

“Entender as mudanças geográficas dos riscos realmente coloca isso em perspectiva”, diz Ryan. “Embora possamos ver mudanças nos números e achar que temos a resposta, imagine um mundo quente demais para esses mosquitos.”

“Isso pode soar como uma boa notícia, cenário de más notícias, mas é tudo uma má notícia se acabarmos no pior cronograma para a mudança climática”, diz Carlson. “Qualquer cenário em que uma região se torne quente demais para transmitir a dengue é aquele em que também temos ameaças diferentes, mas igualmente severas, em outros setores da saúde.”

A equipe de pesquisadores analisou as temperaturas mês a mês para projetar o risco até 2050 e 2080. A modelagem não previa qual tipo de mosquito migraria, mas sim um clima em que sua disseminação não seria evitada.

“Com base no que sabemos sobre o movimento do mosquito de região para região, 50 anos é um tempo considerável, e esperamos uma disseminação significativa de ambos os tipos de insetos, particularmente o Aedes aegypti , que prosperam em ambientes urbanos”, explica Carlson.

“Este é apenas um estudo para começar a entender os desafios que enfrentamos rapidamente com o aquecimento global”, diz Carlson. “Temos uma tarefa hercúlea à frente. Precisamos descobrir o patógeno por patógeno, região por região, quando os problemas surgirão para que possamos planejar uma resposta global à saúde ”.


Referência:

Global expansion and redistribution of Aedes-borne virus transmission risk with climate change
Sadie J. Ryan , Colin J. Carlson , Erin A. Mordecai, Leah R. Johnson
Published: March 28, 2019
DOI https://doi.org/10.1371/journal.pntd.0007213


* Tradução e edição de Henrique Cortez, EcoDebate.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2019




Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/03/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/03/29/aquecimento-global-um-bilhao-de-pessoas-serao-expostas-a-doencas-como-a-dengue-com-o-aumento-da-temperatura-mundial/

‘No campo a gente tem liberdade e adquire saúde’: luta pela terra no sul de MG, artigo de Gilvander Moreira

“No campo a gente tem liberdade e adquire saúde”: luta pela terra no sul de MG.

Por Gilvander Moreira1

Ao lado do Assentamento Primeiro do Sul, do MST2, em Campo do Meio, no sul de Minas Gerais, e na fronteira com a maior fazenda de monocultura do café da América Latina está o megalatifúndio da ex-usina Ariadnópolis, que foi ocupado pelo MST pela primeira vez em 1998, um ano após a conquista do Assentamento Primeiro do Sul.

Na luta pela terra, os Sem Terra do MST e o Movimento como tal sofrem diversas pressões. “Sofremos pressão do Estado, por meio da prefeitura, do INCRA, do sistema de saúde, das forças policiais e do poder judiciário. Sofremos pressão do latifúndio do entorno que vem buscar nossos jovens e famílias para trabalharem para eles como boias-frias. A gente sofre com a pressão da cidade, pois a cultura urbana vem para os acampamentos e assentamentos não só para se instalarem, mas para arrancar o povo que está na luta pela terra e levar para cidade. Um exemplo disso é o transporte escolar que tira as crianças do Assentamento e dos Acampamentos e leva lá para cidade”, diz Sílvio Neto, da coordenação nacional do MST.

Todos os instrumentos do Estado, o latifúndio e os latifundiários, a cidade e todas as suas seduções são obstáculos à luta pela terra, pois integram a engrenagem que reproduz a estrutura latifundiária e fazem na prática uma contrarreforma agrária. Entretanto, em 25 de setembro de 2015, o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel, assinou decreto desapropriando três fazendas para centenas de Sem Terra do MST acampados há mais de dez anos: a fazenda Nova Alegria, em Felisburgo; a fazenda Gravatá, em Novo Cruzeiro, e o megalatifúndio da Ariadnópolis, em Campo do Meio. Mas a área da CAPIA, que é a sede da ex-usina Ariadnópolis e o parque industrial – 26 hectares -, ficou fora do decreto de desapropriação. Um Mandado de Segurança movido pela CAPIA, que gerencia a massa falida, suspendeu o decreto de desapropriação, o que acirrou mais ainda os ânimos no maior conflito agrário de Minas Gerais e um dos maiores do Brasil. Um dos coordenadores estaduais do MST alertou para isso na reunião com o governo de Minas e com dois comandantes da polícia militar. “O barraco da Maria Baiana foi queimado. Quando nós chegamos aqui na sede da ex-Usina Ariadnópolis, as casas aqui tinham se transformadas em curral de gado. Diante das ameaças, ocupamos também a sede da Ariadnópolis. A reforma agrária não é só terra, mas é também cooperativa, escola, crédito, área de lazer. Por isso precisamos também da estrutura aqui da sede”, bradou Sílvio Neto, em reunião com o Governo de Minas, dia 1º/03/2016.

Na luta pela terra no megalatifúndio da Ariadnópolis, o MST abraçou há vários anos a luta pela instalação de uma Escola do Campo no território. “Se a corda está esticada, não foi esticada por nós. Nós nunca fomos intransigentes. Já sofremos 06 reintegrações de posse aqui. Esperamos a desapropriação aqui há 18 anos. Até quando vamos ter que esperar?”, perguntou outro Sem Terra, em reunião tensa dia 1º /03/2016.

Ocupando as terras do latifúndio há Sem Terra oriundos de muitas regiões, famílias que estão há 21 anos acampadas, outras com menos tempo; há também trabalhadores que trabalhavam ali e que, lesados nos seus direitos trabalhistas após a falência da usina, resolveram se engajar na luta pela terra; e há também trabalhadoras camponesas e trabalhadores camponeses que nasceram naquelas terras e resistem como posseiros na luta pela terra.

O MST coordena a luta histórica e complexa para conquistar de uma vez por todas a integralidade do megalatifúndio da Ariadnópolis. Além da resistência no território ocupado, os assentados e acampados do MST de Campo do Meio têm travado muitas lutas fora das terras da Ariadnópolis. Apenas em 2015, por exemplo, o MST de Campo do Meio levou um caminhão de alimentos e doou para as nove mil famílias das Ocupações Urbanas da Izidora, em Belo Horizonte e Santa Luzia, MG, quando estavam sob seríssima ameaça de despejo; manifestou na portaria da Petrobras, em Betim, MG, em apoio à greve dos funcionários da Petrobras; marchou e bloqueou o trânsito na MG 010, diante da Cidade Administrativa, em Belo Horizonte, reforçando a luta das professoras e dos professores da rede estadual de educação; bloqueou um dos pedágios da BR 381 (Fernão Dias), exigindo Luz para Todos nos Assentamentos Primeiro do Sul, Nova Conquista II e Santo Dias; e ocupou prédios públicos, como a sede do INCRA em Belo Horizonte.

Oitocentos hectares de terra ficaram fora do decreto do governador Pimentel, de 25 de setembro de 2015. Mas em reunião dia 1º de março de 2015, representantes do Governo de Minas asseguraram que o governador de Minas assinaria outro decreto para destinar 100% das terras da Ariadnópolis para as mais de 500 famílias acampadas há 19 anos. “É preciso ter muito amor e muita paixão para poder estar na luta pela terra carregando a bandeira do MST e sob essa bandeira viver. Nós podemos ter várias cores, várias religiões, várias orientações sexuais, várias idades e ter vindo de diversos estados do Brasil, mas o que nos unifica e nos dá unidade como povo camponês na luta pela terra é a bandeira do MST”, afirmou Sílvio Neto, ao finalizar Assembleia Geral no Acampamento Quilombo Grande, na Ariadnópolis, dia 1º/3/2016.

O Acampamento Vitória da Conquista é o mais antigo nas terras da Ariadnópolis, com 21 anos. Nele, 32 famílias estão acampadas, já em casas construídas de tijolo ou de adobe, produzindo café, maracujá, mandioca, banana, feijão e hortaliças. “Como aconteceram muitos despejos aqui no Girassol, a gente organizou o acampamento Vitória da Conquista”, diz Maria De Fátima Silva Meira, Sem Terra do Acampamento Vitória da Conquista. Dezenas de famílias de posseiros estão resistindo nas terras da Ariadnópolis. Muitos já moravam e trabalhavam na Usina. Outros trabalhadores com dívidas trabalhistas acamparam na Ariadnópolis após a falência da usina. Os Sem Terra ali acampados têm uma grande diversidade cultural e de origem. Há trabalhadores camponeses oriundos dos estados de São Paulo, Paraná, Bahia, Pernambuco e de outros estados, além de Minas Gerais, obviamente. O sr. João Batista Pura, 63 anos, que trabalhou na usina por mais de 30 anos, afirma: “Trabalhei aqui na usina Ariadnópolis mais de 30 anos, cortando cana, capinando café e batendo veneno. Meu pai era fiscal na usina. Tenho irmãos que trabalharam na usina. Aqui se produzia açúcar e álcool. Nas partes altas se plantava cafezal e nas baixadas era tudo cana-de-açúcar. Clóvis Azevedo era o dono da usina. Um tanque de álcool pegou fogo aqui e causou um incêndio medonho. Eu trabalhava sem ter carteira registrada desde os 14 anos. Quando os Sem Terra vieram pra cá (em 1998), eu tinha direito a R$135.000,00 (cento e trinta e cinco mil reais) de indenização trabalhista a receber, mas perdi a esperança de receber isso. Hoje, deveriam me pagar acima de quinhentos mil reais.”

Camponeses assolados pela seca e pela cerca, expropriados pela cerca do latifúndio na região Nordeste, também vieram engrossar a luta pela terra no sul de Minas, na Ariadnópolis. José Nery Da Silva, Sem Terra pernambucano do Acampamento Betinho (Herbert de Souza), nas terras da ex-usina Ariadnópolis recorda: “Há 13 anos abracei a luta pela terra para a gente ter uma convivência melhor, porque onde a gente morava (estado de Pernambuco) a vida era muito difícil. Aqui nas terras da Ariadnópolis, a gente tem o que comer, tem uma roupinha melhor. Podemos calçar um sapato. Sapato eu nem conhecia antes de chegar aqui. A gente planta milho, feijão, café e verduras. A gente vive da roça. Nossa vida aqui melhorou 100%. Pulamos da lamparina para a vela que dá menos fumaça. Nóis quer a terra pra nóis trabalhar. Quem receber a terra e vender após mais de 13 anos de luta não tem jeito, pode matar. Na cidade não tem jeito. O jeito é na roça mesmo. Se eu soubesse que a luta pela terra fosse tão boa, eu teria vindo muito antes. Lá no sertão brabo é muito difícil a sobrevivência. Aqui a gente planta, colhe, guarda para comer e vende o bocado que sobra. Trabalhar para o fazendeiro ou na cidade, a gente tem que cumprir horário, o que causa muita pressão e preocupação. Mesmo doente tem que trabalhar, porque tem meta. Patrão não quer nem saber se você está doente ou não. No campo, a gente tem liberdade e trabalha para a gente mesmo, trabalha tranquilo e feliz. Depois que a gente vem pra roça adquire saúde. Na roça tudo é do jeito que a gente quer.”


Camponesas em Campo do Meio. Foto: Gilvander Moreira



Belo Horizonte, MG, 26/3/2019.

Obs.: Abaixo, vídeos que versam sobre o assunto apresentado, acima.

1 – MST luta pela terra em Campo do Meio/MG desde 1998: Palavra Ética/TVC/BH c/ frei Gilvander. 17/11/18

https://www.youtube.com/watch?v=YixJpJvnmTE

2 – Sr. Mozar no Quilombo Campo Grande/MST/MG: “Sem a terra ele não vive!” Vídeo 6 – 26/11/18

https://www.youtube.com/watch?v=R27l_jTM6LY

3 – Função social para a terra nos 11 Acampamentos do MST/Campo do Meio/sul de MG. Vídeo 5 – 26/11/18

https://www.youtube.com/watch?v=NZvoAaUjOrs#7s8d6f87

4 – Reflorestamento e Produção no Quilombo Campo Grande, do MST/MG – Vídeo 4 – 25/11/2018

https://www.youtube.com/watch?v=gSJs71xh5oA


1 Frei e padre da Ordem dos carmelitas; doutor em Educação pela FAE/UFMG; licenciado e bacharel em Filosofia pela UFPR; bacharel em Teologia pelo ITESP/SP; mestre em Ciências Bíblicas; assessor da CPT, CEBI, SAB e Ocupações Urbanas; prof. de “Movimentos Sociais Populares e Direitos Humanos” no IDH, em Belo Horizonte, MG. E-mail: gilvanderlm@gmail.comwww.gilvander.org.brwww.freigilvander.blogspot.com.brwww.twitter.com/gilvanderluis – Facebook: Gilvander Moreira III


2 Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra – www.mst.org.br



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/03/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/03/29/no-campo-a-gente-tem-liberdade-e-adquire-saude-luta-pela-terra-no-sul-de-mg-artigo-de-gilvander-moreira/

O que é o Sínodo para a Amazônia? artigo de Ricardo Luiz da Silva Costa

A Amazônia Continental, também designada de Pan-Amazônia, essa gigantesca região fisiográfica da América do Sul, de incomensurável riqueza natural e cultural, compartilhada, além do Brasil com mais oito países, quais sejam, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana Inglesa, Guiana Holandesa (Suriname), Guiana Francesa, Peru e Venezuela, desta feita, conta com as bençãos e graças providenciais da Igreja Católica, que, de uma forma proativa, adota a iniciativa de abraçar as causas ecológicas e socioambientais vinculadas aos problemas e desafios que afetam os diferentes níveis de vida existentes, nesse grandioso e complexo bioma natural do Planeta.

Assim surge essa idéia do Sínodo da Amazônia, sob a convocação e liderança do Papa Francisco, que remonta desde 2015 a partir de sua carta encíclica Laudato si , um genuíno tratado ecológico-filosófico, que versa sobre os cuidados que todos devemos ter em mente e coração, em relação ao que o Santo Padre nomina de Casa Comum, a Terra, recordando outro Francisco, o de Assis, que em seu cântico Laudato Si, mi Signore (1224) Cântico das criaturas , traduzido ao português,Louvado Sejas, meu Senhor, se referia a Terra, ora como irmã, ora como mãe, ao dizer “Louvado sejas, meu senhor, pela nossa irmã, a mãe Terra, que nos sustenta e governa e produz variados frutos com flores coloridas e verduras”.

Em 2017, o Papa Francisco anuncia e convoca a assembléia especial do sínodo dos bispos para debater e repercutir sobre o tema: “Novos caminhos para a igreja e para uma ecologia integral”, com foco especial para o contexto pan-amazônico, o Sínodo para a Amazônia, a ser realizado em outubro deste ano (2019), no Vaticano.

Em rigor, a síntese dessa encíclica papal, em nome de uma igreja universal, encerra como princípio norteador “a defesa da vida, da terra e das culturas” com enfoque central na concretização do pensamento defendido pela tese do Papa Francisco, de conversão pastoral e ecológica, tendo como premissa a concepção dialética de uma ecologia ntegral, a partir das realidades socioambientais degradantes, de águas, florestas, biodiversidade e povos originários, vivenciadas na região da Pan-Amazônia; ou seja, uma concepção teórica a ser implementada pela igreja que promova transformações radicais de sentimentos e comportamentos à nível de consciência individual, no seio da comunidade católica, sobretudo nos seus modos de pensar e agir em relação aos modos de produção e consumo de bens e serviços que afetam a vida, desde o ambiente natural de onde são extraídos, passando por aonde serão descartados, até o socioeconômico envolvido nesses processos, segundo regimes técnico-científicos sustentáveis, resilientes e responsáveis. E por fim, como tais tranformações repercutirão positivamente em condições de vida digna e feliz para os amazônidas, de todas as fácies da Amazônia, em especial daqueles segmentos mais esquecidos e vulneráveis da sociedade amazônida. Que eles sejam ouvidos e atendidos. Somente assim, conforme essa cosmovisão eclesial, ora defendida pelo Santo Padre, será possível atingir essas transformações com perspectiva integral. Segundo a qual, em referência a esse sínodo, diz o Papa, “a defesa da Terra não tem outra finalidade que a defesa da vida”.

Nesse desiderato, em janeiro de 2018, o Santo Padre, em viagem ao Peru, na cidade de Puerto Maldonado, fez questão de reunir para ouvir os povos indígenas da Amazônia, e naquela ocasião anunciava, entre as boas novas, que aquele encontro significava também, a primeira reunião, como conselho pré-sinodal, de uma série de reuniões preparatórias, a serem realizadas em diferentes localidades da pan-amazônia, com vistas à realização do Sínodo Especial para a Amazônia agendado para outubro deste ano, contando com a presença de bispos atuantes na região.


Seminário preparatório do Sínodo da Amazônia, em Manaus, março/2019.

Desse modo, entre os dias 07 a 09 deste mês, a Arquidiocese de Manaus, em parceria com a ONG Fundação Amazônia Sustentável-FAS, realizou um seminário preparatório com vistas ao Sínodo da Amazônia, envolvendo a participação da sociedade civil, de organizações militares, e membros de igrejas, em que foram discutidos aspectos de cunho social, econômico e ecológico atuais da região, distribuídos em grupos temáticos de discussão, que a organização do seminário nominou de “Agenda de diálogos e encontros para o desenvolvimento sustentável da Amazônia”, versando sobre: tráfico de pessoas, abusos contra mulheres e crianças e a prostituição; proteção dos territórios indígenas; espiritualidade e cultivo de virtudes; proteção de rios e lagos; desmatamento e degradação florestal; obras de infraestrutura; mudanças climáticas e impacto econômico. E cujos resultados foram bastante ricos, no que se refere a qualidade de informações levantadas, tendo em vista as contribuições da Arquidiocese de Manaus para o grande encontro do Sínodo da Amazônia, no Vaticano.


Seminário preparatório do Sínodo da Amazônia, em Manaus, março-2019.

A ideia é nobre, a iniciativa é oportuna e o intuito, além de estimulante, é regenerativo para a humanidade. Quer dizer, a Igreja Católica por intermédio de sua autoridade moral maior, o Santo Padre, propõe aos seus fiéis e as demais religiões do mundo uma nova visão e caminhada que destaca a natureza como expressão maior e mais perfeita da criação divina, incluindo a humanidade enquanto criatura, e coloca a Amazônia Continental como modelo natural representativo da gênese divina dos dias atuais, que, por isso é dever da humanidade administrar e zelar com todo desvelo e responsabilidade esse patrimônio universal, que pode ser finito e fatídico se não for bem administrado. Ademais, dispõe da estrutura organizacional e da capilaridade da Igreja para fazer chegar essa mensagem de reconciliação e regeneração do homem fiel com a natureza leal, em todos os lugares, nas cidades e nos campos; nos distritos e nas ocas indígenas.


O congraçamento de crenças em busca da tese eclesial do Papa, a ecologia integral.

À primeira vista, a proposta da Igreja é educativa, de promoção social em sua esfera de atuação, no sentido do esclarecimento e da sensibilização, enfim, de empoderamento dos fiéis em prol das causas justas e nobres da humanidade e da natureza, em defesa da vida e da sobrevivência das espécies, incluindo a humana.

Por enquanto, vislumbramos apenas sementes, ainda sendo lançadas, em solos de todos tipos e padrões, no entanto, tal como na parábola do semeador, esperamos que essas sementes caiam em terra fértil e logo germinem e frutifiquem em abundância.

Enquanto isso, seguimos aguardando o grande encontro do Sínodo Especial para a Amazônia, em outubro vindouro, para então, conferir seus desdobramentos.


1 Ricardo Luiz da Silva Costa, Engenheiro Florestal, Especialista em Gestão Ambiental e Florestal, Mestre em Gestão de Áreas Protegidas.



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 29/03/2019






Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/03/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/03/29/o-que-e-o-sinodo-para-a-amazonia-artigo-de-ricardo-luiz-da-silva-costa/

Por que a evolução levou o ser humano a beber leite, contrariando a biologia



Evolução levou o ser humano a beber leite, contrariando a biologia — Foto: Pixabay



O leite animal tem concorrência. Leites alternativos feitos com plantas como soja ou amêndoas são cada vez mais populares. Estas alternativas são muitas vezes adotadas por adeptos do veganismo, que exclui da alimentação qualquer produto de origem animal, e podem ser boas para pessoas alérgicas ou intolerantes a lactose.


Mas a ascensão de leites alternativos é a mais recente reviravolta na saga da relação da humanidade com o leite animal - que remonta a milhares de anos e teve muitos altos e baixos.


Quando refletimos um pouco sobre o assunto, o leite parece uma coisa estranha de se beber. É um líquido feito por uma vaca ou outro animal para alimentar seus filhotes; temos de tirá-lo de suas tetas.


Em muitas culturas, é algo quase inédito. Em 2000, a China lançou uma campanha nacional para encorajar um maior consumo de leite e de produtos lácteos por razões de saúde - uma campanha que teve de superar as profundas suspeitas de muitos chineses mais velhos. Um queijo, que é essencialmente leite estragado, ainda pode fazer muitos chineses se sentirem enojados.


Tendo como base a história de 300 mil anos de nossa espécie, beber leite é um hábito relativamente recente. Antes de cerca de 10 mil anos atrás, quase ninguém bebia leite, e isso só ocorria em raras ocasiões.


As primeiras pessoas a beber leite regularmente foram os agricultores e pastores pioneiros da Europa Ocidental - alguns dos primeiros humanos a viver com animais domésticos, incluindo vacas. Hoje, beber leite é uma prática comum no norte da Europa, nas Américas e em uma série de outros lugares.




Quando o ser humano passou a beber leite?




Existe uma razão biológica pela qual beber leite animal é estranho.


O leite contém um tipo de açúcar chamado lactose, que é diferente dos açúcares encontrados nas frutas e outros alimentos doces. Quando somos bebês, nossos corpos produzem uma enzima especial chamada lactase que nos permite digerir a lactose no leite de nossas mães. Mas depois que somos desmamados na primeira infância, isso acaba para muitas pessoas.


Sem lactase, não podemos digerir adequadamente a lactose no leite. Como resultado, se um adulto bebe muito leite, pode ter gases, cólicas dolorosas e até diarreia.


Vale notar que, em outros mamíferos, a lactase não está presente em adultos - as vacas adultas não têm lactase ativa, nem cães ou gatos, por exemplo.




Outros mamíferos, a lactase não está presente em adultos - as vacas adultas não têm lactase ativa, nem cães ou gatos, por exemplo — Foto: Pixabay


Assim, os primeiros europeus que bebiam leite provavelmente tinham muitos gases como resultado disso. Mas, então, a evolução começou: algumas pessoas começaram a manter suas enzimas lactase ativas na idade adulta. Essa "persistência da lactase" permitiu que eles bebessem leite sem efeitos colaterais. É o resultado de mutações em uma parte do DNA que controla a atividade do gene ligado à produção da lactase.


"O alelo da persistência da lactase surgiu no sul da Europa há cerca de 5 mil anos, e, depois, isso começou a acontecer na Europa central há cerca de 3 mil anos", diz a professora Laure Ségurel, do Museu da Humanidade em Paris, coautora de uma revisão de 2017 sobre a ciência da persistência da lactase.




Diferenças geográficas




O traço de persistência da lactase foi favorecido pela evolução e, hoje, é extremamente comum em algumas populações. No norte da Europa, está presente em mais de 90% das pessoas. O mesmo é verdade em algumas populações da África e do Oriente Médio.


Mas há também muitas populações onde a persistência da lactase é muito mais rara: muitos africanos não têm essa característica, e é algo incomum na Ásia e na América do Sul.


É difícil entender esse padrão, porque não sabemos exatamente por que beber leite e, portanto, a persistência da lactase, era uma coisa boa, diz Ségurel: "Por que isso era tão vantajoso por si só?"


A resposta óbvia é que o leite deu às pessoas uma nova fonte de nutrientes, reduzindo o risco de passarem fome. Mas, em uma análise mais cuidadosa, isso não se sustenta.


"Há muitas fontes diferentes de alimentos, por isso é surpreendente que uma fonte de alimento seja tão importante, tão diferente de outros tipos de alimentos", diz Ségurel.


As pessoas que não têm a persistência da lactase ainda podem ingerir uma certa quantidade de lactose sem efeitos nocivos, então, beber uma pequena quantidade de leite pode ser bom.


Há também a opção de processar o leite como manteiga, iogurte, creme ou queijo, o que reduz a quantidade de lactose. Queijos duros como o cheddar têm menos de 10% da lactose em comparação com o leite, e a manteiga tem um nível igualmente baixo. "Creme amanteigado e manteiga têm a menor quantidade de lactose", diz Ségurel.


Talvez por isso o queijo pareça ter sido inventado rapidamente. Em setembro de 2018, arqueólogos relataram encontrar fragmentos de cerâmica no que é hoje a Croácia. Eles tinham ácidos graxos, sugerindo que a cerâmica era usada para separar a coalhada do soro de leite - um passo crucial para fazer queijo.


Se isso estiver correto (e esta interpretação já foi questionada), as pessoas estavam produzindo queijo no sul da Europa há 7,2 mil anos. Evidências similares de tempos um pouco mais recentes, mas ainda assim de mais de 6 mil anos atrás, foram encontradas em outros lugares da Europa. Isso é bem antes da persistência da lactase se tornar comum entre os europeus.


Dito isso, há claramente um padrão por trás de quais populações evoluíram com altos níveis de persistência de lactase e quais não, diz o professor de genética Dallas Swallow, da University College London, na Inglaterra.


Aqueles com este traço são pastores, pessoas que criam gado. Caçadores-coletores, que não mantêm animais, não adquiriram as mutações. Nem os "jardineiros da floresta", que cultivavam plantas, mas não tinham gado.


Faz sentido que as pessoas que não tivessem acesso ao leite animal não estivessem sob grande pressão evolucionária para se adaptar a bebê-lo. A questão é: por que alguns grupos pastoris adquiriram a característica e outros não?


Ségurel aponta para povos do leste asiático, como os da Mongólia, que têm algumas das taxas mais baixas de persistência de lactase, apesar de dependerem muito do leite de seus animais como alimento.


As mutações eram comuns em populações próximas na Europa e no oeste da Ásia, então, teria sido possível que se espalhassem para esses grupos do leste asiático, mas isso não aconteceu. "Esse é o grande enigma", diz Ségurel.




Os benefícios de beber leite




A pesquisadora especula que o consumo de leite pode ter outras vantagens além de seu valor nutricional. As pessoas que mantêm gado estão expostas às suas doenças.


Talvez, beber leite de vaca forneça anticorpos contra algumas dessas infecções. De fato, o efeito protetor do leite é considerado um dos benefícios para amamentar crianças.

O efeito protetor do leite é considerado um benefício da amamentação — Foto: Depositphoto


Mas algumas das misteriosas ausências da persistência da lactase poderiam ser apenas um acaso: se alguém em um grupo de pastores conseguiu a mutação certa, por exemplo. Até muito recentemente, havia muito menos pessoas na Terra, e as populações locais eram menores, de modo que alguns grupos poderiam ficar de fora por puro azar.


"Acho que o mais coerente é que haja uma correlação com o estilo de vida, com o pastoreio", diz Swallow. "Mas você tem de ter a mutação primeiro." Só então a seleção natural poderia entrar em ação.


No caso dos pastores mongóis, Swallow ressalta que eles tipicamente bebem leite fermentado, que tem um teor de lactose mais baixo. Indiscutivelmente, a facilidade com que o leite pode ser processado para ser mais comestível faz com que a ascensão da persistência da lactase seja ainda mais enigmática.


"Como éramos muito bons nos adaptando culturalmente ao processamento e fermentação do leite, tenho dificuldades em apontar a razão pela qual nos adaptamos geneticamente", diz Catherine Walker, aluna de doutorado de Swallow.


Vários fatores podem ter promovido a persistência da lactase, não apenas um. Swallow suspeita que a chave pode estar nos benefícios nutricionais do leite, que é rico em gordura, proteína, açúcar e micronutrientes como cálcio e vitamina D. É também uma fonte de água limpa. Dependendo de onde sua comunidade viveu, você pode ter evoluído para tolerar isso por um motivo em detrimento de outro.


Não está claro se a persistência da lactase ainda é ativamente favorecida pela evolução e, portanto, se ela se disseminará mais, diz Swallow.


Em 2018, ela foi coautora de um estudo com um grupo de pastores na região de Coquimbo, no Chile, que adquiriu a mutação de persistência de lactase quando seus ancestrais cruzaram com os europeus recém-chegados, 500 anos atrás. A característica agora está se espalhando pela população, que está sendo favorecida pela evolução, como ocorreu no norte da Europa há 5 mil anos.


Mas este é um caso especial, porque o povo coquimbo é fortemente dependente do leite. Globalmente, a imagem é muito diferente. "Eu acho que está se estabilizado, exceto em países onde a população tem dependência do leite e há escassez [de outros alimentos]", diz Swallow. "No Ocidente, onde temos dietas boas, as pressões seletivas não estão realmente presentes."




O consumo de leite animal está em declínio?




Em novembro de 2018, o jornal britânico The Guardian publicou uma reportagem com o título "Como nos apaixonamos pelo leite", descrevendo a ascensão meteórica das empresas que vendem leite de aveia e nozes e sugerindo que o leite tradicional está enfrentando uma grande batalha.


Mas as estatísticas contam uma história diferente. De acordo com o relatório de 2018 da IFCN Dairy Research Network, organização de pesquisa sobre a indústria láctea, a produção global de leite vem aumentando a cada ano desde 1998, em resposta à crescente demanda.


Em 2017, 864 milhões de toneladas de leite foram produzidas em todo o mundo. A tendência não dá sinais de desaceleração: a IFCN estima que a demanda por leite subirá em 35% até 2030, para 1,17 bilhão de toneladas.


Ainda assim, isso mascara algumas tendências locais. Um estudo de 2010 sobre o consumo de alimentos constatou que, nos Estados Unidos, o consumo de leite caiu nas últimas décadas - embora tenha sido substituído por refrigerantes, não por leite de amêndoa.


Essa queda foi equilibrada pela crescente demanda nos países em desenvolvimento, especialmente na Ásia - algo que o IFCN também observou.


Enquanto isso, um estudo de 2015 sobre hábitos de consumo de pessoas em 187 países descobriu que o consumo de leite era mais comum entre pessoas mais velhas, o que sugere que é menos popular entre os jovens, embora isso não diga nada sobre o consumo de produtos lácteos, como iogurte.


Ainda assim, parece improvável que leites alternativos afetem o crescente apetite mundial por leite de origem animal, pelo menos na próxima década.


Walker acrescenta que leites alternativos "não são um substituto natural" para a versão animal. Muitos não têm os mesmos nutrientes. Ela diz que eles são mais úteis para os veganos e para as pessoas alérgicas ao leite - sendo esta última uma reação à proteína do leite que nada tem a ver com a lactose.


É particularmente notável que grande parte do crescimento da demanda por leite ocorra na Ásia, onde a maioria das pessoas não é persistente em lactase. Quaisquer que sejam as vantagens que as pessoas possam ver no leite, elas superam os potenciais problemas digestivos ou a necessidade de processar o leite.


De fato, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação tem pressionado as pessoas nos países em desenvolvimento a manterem mais animais não tradicionais, como lhamas, para que possam obter os benefícios do leite mesmo que o leite de vaca não esteja disponível ou seja muito caro.


Além disso, um estudo publicado em janeiro descreveu uma "dieta planetária" projetada para maximizar a saúde e minimizar nosso impacto no meio ambiente. Embora isso implique reduzir drasticamente a carne vermelha e outros produtos de origem animal, ela inclui o equivalente a um copo de leite por dia.


O leite, ao que parece, não está em baixa. Pelo contrário, está em alta - mesmo que nossos corpos parem de evoluir em resposta a isso.





Autor: BBC
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 28/03/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/viva-voce/noticia/2019/03/28/por-que-a-evolucao-levou-o-ser-humano-a-beber-leite-contrariando-a-biologia.ghtml

Um planeta gigante e duas estrelas anãs



Um planeta gigante e duas estrelas anãs — Foto: Leonardo de Almeida


O universo é cheio de surpresas, o que é muito bom. Quem gosta do assunto nunca vai morrer de tédio e sempre vai ter coisa nova para ser estudada. Olhe o caso dos exoplanetas.


Os exoplanetas, os planetas descobertos fora do Sistema Solar, eram apenas teoria há coisa de 20-30 anos. Não havia ainda tecnologia que permitisse sua detecção, até que em 1992 foi confirmada a suspeita que havia planetas rochosos em torno de um pulsar. Um pulsar não é exatamente uma estrela, né? Um pulsar é tão somente os restos de uma estrela de alta massa que explodiu em supernova e deixou seus restos imortais em forma de uma estrela de nêutrons em alta rotação.


Um exoplaneta orbitando uma estrela mesmo só foi descoberto em 1995, um Júpiter quente girando em torno da estrela 51 Pegasi a cada 4 dias. A partir daí o número desses objetos só cresceu. E as bizarrices também!


Já começou com esse primeiro elemento, batizado de 51 Pegasi b. Ele é um planeta com metade da massa de Júpiter, mas uma órbita mais apertada do que a órbita de Mercúrio. Por conta da sua proximidade, sua temperatura deve estar na casa dos 1.500 graus. Como pode uma coisa dessas?


Em princípio se pensou que o caso de Dimidium, o outro nome oficial de 51 Pegasi b, fosse uma exceção, mas o que se viu foi que isso está mais para regra. A ideia corrente até essa época era que planetas gigantes e gasosos se formariam apenas nas regiões mais exteriores do sistema planetário, assim como no Sistema Solar. Mas do meio da década de 1990 em diante, o que se viu foi a multiplicação do número de exoplanetas (hoje são mais de 4 mil deles confirmados) entre super Terras, mini Netunos e Júpiteres quentes. Até estrelas duplas foram encontradas com planetas orbitando o sistema, em um caso de perfeito equilíbrio entre as forças gravitacionais.


Mesmo com tanta adversidade na fauna de planetas, digamos assim, a ideia geral é a de que eles se formam a partir da mesma nuvem que deu origem à estrela do sistema planetário, assim como aconteceu com a Terra e os demais planetas do nosso Sistema Solar. Mas como eu disse lá em cima, o universo é cheio de surpresas.


Faz um tempo já, um astrônomo chegou a propor que o nosso Sol e seus planetas pudessem ter se formado a partir de uma nuvem de gás ejetada por uma estrela gigante, propondo que poderíamos ser ‘golfada de estrela’. Eu cheguei a falar sobre isso na época e enquanto a equipe da Universidade de Chicago tenha conseguido simular a situação, talvez um astrônomo brasileiro tenha encontrado um caso parecido.


Leonardo Almeida, hoje na Universidade Federal do Rio Grande do Norte, encontrou um caso que poderia se encaixar nessa hipótese de planetas formados em golfadas de estrelas. Na época em que ainda estava na Universidade de São Paulo, ele começou um estudo com mais oito pesquisadores brasileiros observando um sistema formado por uma anã vermelha, estrela bem comum na Galáxia e ainda na fase de queima de hidrogênio (a chamada sequência principal) e uma anã branca. A anã branca é o resto de uma estrela como o Sol, por exemplo, que esgotou sua reserva de hidrogênio e já saiu da sequência principal e se tornou um núcleo quente de luz pálida. Até aí, nenhuma novidade, a Galáxia está cheia de casos assim e quando as estrelas interagem entre si, com a anã branca roubando gás da anã vermelha, temos o que chamamos de variáveis cataclísmicas. Inclusive esse é o processo pelo qual as novas são formadas.


Mas o que Almeida encontrou orbitando as duas anãs vai deixar você abismado.


Estudando o tempo que leva para uma estrela orbitar a outra, o que se dá em menos de 8 horas e meia, Almeida e seus colegas encontraram discrepâncias que são melhor descritas pela existência de um terceiro corpo, com massa aproximada de 13 vezes a massa de Júpiter. Isso é bastante, claro, mas ainda é menos do que o necessário para ser classificado como estrela. Existem planetas orbitando sistemas duplos, esse não é ponto, mas orbitando um sistema em que uma das estrelas tenha já evoluído para além de seu tempo de vida na sequência principal é intrigante.


O caso dos planetas descobertos orbitando um pulsar detonou uma discussão profunda de como eles poderiam ter sobrevivido a uma explosão de supernova, o que nos faz crer que eles capturados pela estrela de nêutrons em algum momento. Mas no caso do sistema KIC 10544976 a coisa parece ser diferente.


As duas hipóteses levantadas por Almeida são: ou o planeta nasceu junto com as duas estrelas a partir da mesma nuvem, ou ele teria se formado a partir da ejeção das cascas mais externas da estrela mais evoluída, no processo que leva a formação da anã branca. O primeiro processo nem é tão problemático assim, como sabemos, planetas se formam e ficam em órbita estável de sistemas múltiplos, mas uma importante pergunta que se faz é, como ele sobreviveu à evolução da estrela que virou anã branca?


Entre a fase de sequência principal e anã branca, a estrela passa pela fase de gigante vermelha. O Sol deve passar por isso. Nessa etapa a estrela se expande bastante para ejetar suas camadas mais externas. Nesse momento, imagina-se que planetas que estejam em sua órbita sejam destruídos de uma maneira ou de outra. Por exemplo, podem perder velocidade ao atravessar a nuvem de matéria e eventualmente cair sobre uma das estrelas, ainda mais tendo 13 massas de Júpiter!


A segunda hipótese é ainda mais interessante, teria esse super Júpiter se formado da matéria ejetada pela gigante vermelha antes de se tornar anã branca? Possível é, como as simulações do grupo de Chicago já mostrou. Almeida, mais conhecido como Léo, diz que este seria um caso de formação de planetas de segunda geração, ou seja, formados em função da evolução de uma estrela, e não em função da formação dela.


Certamente um caso bastante interessante que merece mais estudos. Infelizmente ainda não estamos em condições de obtermos informações de forma mais direta desse planeta, como por exemplo sua composição química, então por ora só podemos especular.


Mas é um achado muito importante e com chancela 100% brasileira!




Autor: Por Reuters
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 29/03/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/cassio-barbosa/post/2019/03/29/um-planeta-gigante-e-duas-estrelas-anas.ghtml

Brasil enviará 870 quilos de remédios e insumos para ajuda humanitária em Moçambique



Menino recebe comida de um centro de distribuição de um supermercado em Dondo, a cerca de 35km de Beira, em Moçambique. — Foto: Yasuyoshi Chiba/AFP


O Brasil enviará na sexta-feira (29) dois aviões com ajuda humanitária para Moçambique, após a passagem do ciclone Idai, que afetou cerca de 1,85 milhão de pessoas e deixou mais de 460 mortos no país.


Os aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) sairão do Rio de Janeiro e levarão seis kits de medicamentos e insumos, totalizando 870 quilos. A quantidade é suficiente para atendar até três mil pessoas durante três meses, segundo o Ministério da Saúde.


Além dos insumos, equipes do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais e da Força Nacional.


Segundo comunicado do ministério, os kits têm antibióticos, anti-hipertensivos e antitérmicos, como penicilina, amoxicilina, paracetamol e soro para hidratação. Além de materiais de primeiros socorros, como ataduras, gazes, luvas, máscaras, seringas, esparadrapos, entre outros.



Risco de cólera



Autoridades moçambicanas confirmaram na quarta-feira (27) o registro de cinco casos de cólera. Além da doença, os moradores da região ainda enfrentam escassez de alimentos, água e outros itens essenciais.


"Haverá mais [casos], porque cólera é uma pandemia. Quando há um caso, podemos temer outros. Estamos pondo em marcha medidas preventivas para limitar o impacto", disse o diretor nacional de Saúde, Ussein Isse, em entrevista coletiva em Beira, cidade que ficou 90% destruída pela passagem do ciclone.



Criança ao lado de poças de água parada em Beira, Moçambique, nesta quarta-feira (27) — Foto: Mike Hutchings/Reuters


O cólera se espalha pela contaminação de água ou comida por fezes. Surtos podem se desenvolver rapidamente durante crises humanitárias em que os sistemas de saneamento entram em colapso. A doença pode matar dentro de horas, caso não haja tratamento.


O Idai chegou a Moçambique no dia 14 de março com ventos de mais de 170 km/h, e foi seguido de fortes chuvas. Sua passagem danificou casas, provocou inundações e deixou destruída a cidade portuária de Beira, segunda maior do país. A situação ali está "em ebulição", disse o chefe de uma operação de resgate da África do Sul no fim da semana passada.



Ajuda humanitária



A Unicef (sigla em inglês para Fundo Internacional de Emergência para a Infância das Nações Unidas) lançou, também nesta quarta (27), um apelo para conseguir US$ 122 milhões (cerca de R$ 488 milhões) em ajuda humanitária destinada a Moçambique, Zimbábue e Malauí. Segundo a Unicef, são 3 milhões de pessoas afetadas nos três países — e cerca de metade são crianças.


e acordo com a organização, o ciclone é o pior desastre a atingir o sul da África em pelo menos duas décadas. A intenção é que a ajuda humanitária se estenda pelos próximos nove meses.


"A escala massiva da devastação causada pelo ciclone Idai está ficando mais clara a cada dia", disse a diretora-executiva da Unicef, Henrietta Fore, em visita à cidade de Beira na semana passada. "As vidas de milhões de crianças estão em risco, e nós precisamos urgentemente montar uma resposta humanitária nos três países."


A situação nos lugares atingidos pelo ciclone deve ficar pior antes de melhorar, segundo a Unicef, à medida que mais áreas afetadas fiquem acessíveis por terra. A organização também registrou preocupação com a segurança de mulheres e crianças que estão em abrigos temporários e correndo risco de sofrer violência e abuso.


De acordo com a Unicef, mais de 869 mil pessoas foram afetadas no Malauí, incluindo 443 mil crianças e mais de 85 mil pessoas desabrigadas. No Zimbábue, foram mais de 270 mil pessoas afetadas — metade delas, crianças.


Ciclone Idai atinge Moçambique e afeta outros dois países da África — Foto: Rodrigo Sanches/G1





Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 28/03/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/03/28/brasil-enviara-870-quilos-de-remedios-e-insumos-para-ajuda-humanitaria-em-mocambique.ghtml

'Turismo médico': milhões de pessoas que moram em potências mundiais viajam a países mais pobres para fazer cirurgias



Um número crescente de pessoas viajam para fora de seus países para realizar procedimentos médicos — Foto: Pixabay


Quando Melissa Moore tomou a decisão de viajar dos Estados Unidos à Costa Rica para realizar uma cirurgia de joelho, preferiu não contar para ninguém.


"Não disse a meus amigos e parentes porque não queria ouvi-los dizer 'você está louca?'", diz a americana de 53 anos. "Claro que também tinha meus receios quanto a viajar para a América Central e me submeter a uma cirurgia de grande porte."


Melissa é parte de um contingente cada vez maior de pessoas do mundo que viajam para fora de seus países em busca de tratamentos médicos mais rápidos ou baratos.


Para americanos, essa é uma alternativa sobretudo para os que não têm plano de saúde - e indicadores oficiais apontam que há mais de 28 milhões de americanos nessa situação. No caso de Melissa, a cobertura de seu plano de saúde era tão pequena que ela teria de pagar extra para realizar qualquer tratamento de saúde.


Melissa pagou US$ 12,2 mil por sua cirurgia de joelho na Clínica Bíblica, o maior hospital privado da Costa Rica. Ela estima que teria pago US$ 44 mil caso tivesse sido operada nos EUA.


Patients Beyond Borders, empresa que publica guias de "turismo médico", estima que mais de 20 milhões de pessoas viajarão para fora de seus países em busca de tratamentos médicos neste ano, um aumento de 25% em relação às 16 milhões do ano passado.


Ao mesmo tempo, um relatório de 2016 da operadora multinacional de cartões de crédito Visa calculou que a indústria do turismo médico movimentaria US$ 50 bilhões por ano, com tendência de crescimento.


Em número pequeno, mas crescente, brasileiros fazem parte desse fenômeno. Reportagem de 2018 da BBC News Brasil mostrou como brasileiros organizam viagens à Bolívia e à Venezuela em busca de cirurgias plásticas mais baratas.


Até mesmo britânicos, que contam com um sistema de saúde universal gratuito, têm viajado em maior número ao exterior para se tratar - para evitar longas listas de espera de tratamento, realizar procedimentos estéticos não cobertos pelo NHS (o SUS britânico) ou para tratamentos dentais, de cobertura insuficiente na rede pública.


A escocesa Amanda Wells, 46, viajou para a Polônia no ano passado para remover um doloroso joanete de seu pé esquerdo, porque não queria esperar pelos nove meses estimados por seus médicos para realizar a operação via NHS.


Ela realizou o tratamento em uma clínica polonesa por 3 mil libras (R$ 15 mil), metade do que cobraria um cirurgião particular no Reino Unido.


"Pesquisei por conta própria o tempo médio de espera de um cirurgião (no NHS) e descobri que meus médicos estavam sendo otimistas (quanto ao tempo de espera de 9 meses)", conta Wells. "A estrutura (hospitalar) era excelente na Polônia. O cirurgião foi fantástico e fiz três consultas de retorno antes de voltar para casa."


Outro britânico, Lincoln Summers, 54, de Londres, viajou à Hungria no ano passado em busca de tratamento dental.


"Quando quebrei o meu dente da frente, fiquei parecendo um mafioso", conta ele. Ele realizou um implante em Budapeste por 800 libras (R$ 4 mil), um terço do que pagaria em um dentista particular britânico.


"Não era como eu imaginava (na Hungria): meu dentista tinha um consultório de última geração", elogia.


Embora Lincoln, Amanda e Melissa tenham ficado extremamente satisfeitos com o atendimento médico que receberam, alguns especialistas sugerem que turistas tenham cautela com o estabelecimento médico onde serão tratados.


"(Americanos) viajam ao exterior achando que vão receber tratamento médico a um custo razoável, mas acabam necessitando de novas cirurgias ou tratamento de infecções quando voltam para casa", diz a professora Leigh Turner, da Escola de Saúde Pública da Universidade de Minnesota.


"Seu seguro não cobre (esse tipo de despesa). Então pode acabar sendo uma experiência cara."


Quanto a brasileiros que buscam cirurgia cosmética na Venezuela ou Bolívia, os riscos notados até agora são o de ser operado por um profissional que não seja de fato cirurgião plástico, ou de o procedimento ser realizado em uma clínica clandestina ou até mesmo da ausência de cuidados adequados no pós-operatório.


Nos EUA, a despeito de eventuais riscos, cresce anualmente o número de americanos indo ao exterior em busca de tratamento médico. Foram 422 mil pessoas em 2017, segundo o Escritório de Viagens e Turismo americano, contra 295,3 mil pessoas em 2000.


"O número de americanos sem plano de saúde voltou a crescer em 2017", explica Turner. "Parece plausível concluir que as reduções na cobertura de saúde levam mais americanos a buscar por tratamentos acessíveis em outras partes do mundo."


Para Josef Woodman, executivo-chefe da Patients Without Borders, diz que boa parte do crescimento no turismo médico global é puxado atualmente por pessoas que moram em países em desenvolvimento.


"Existem centenas de milhões de pessoas entrando na classe média em países como China, Índia e Indonésia", diz ele. "Os sistemas de saúde desses países não conseguem oferecer a essas pessoas o que elas precisam, em termos de cuidados médicos complexos e especializados."


De volta aos EUA, Melissa Moore continua a se recuperar de sua cirurgia na Costa Rica, no início deste ano. Ela agradece toda a equipe médica que a atendeu.


"Tive uma crise (no hospital) por causa da dor e de uma sensação de desamparo", relembra. "Mas os enfermeiros e auxiliares foram tão gentis e me ajudaram a me acalmar."




Autor: BBC
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 29/03/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/03/29/turismo-medico-milhoes-de-pessoas-que-moram-em-potencias-mundiais-viajam-a-paises-mais-pobres-para-fazer-cirurgias.ghtml

quarta-feira, 27 de março de 2019

Rep. Democrática do Congo tem segundo pior surto de Ebola da história



Funcionários de saúde pulverizam uma sala durante o funeral de Kavugho Cindi Dorcas, suspeito de morrer de Ebola em Beni, na província de Kivu do Norte, na República Democrática do Congo — Foto: Goran Tomasevic/Reuters



A epidemia de Ebola na República Democrática do Congo já ultrapassou mil casos, disse o Ministério da Saúde na segunda-feira (25), com 629 mortos no segundo pior surto da história.


O ebola é uma febre hemorrágica, que causa vômitos, diarreia e sangramento, e mata mais da metade dos que ela infecta.


Os profissionais de saúde estão mais bem preparados do que nunca para esta epidemia mais recente. Novas tecnologias, como uma vacina experimental, tratamentos experimentais e unidades móveis futuristas em forma de cubo para o tratamento de pacientes, ajudaram a conter a disseminação do vírus.


Mas a desconfiança pública e a insegurança desenfreada nas regiões do leste da República Democrática do Congo, onde o Ebola atingiu a região, dificultaram a resposta, e consequentemente o combate à doença.


Cinco centros de Ebola foram atacados desde o mês de fevereiro, às vezes por agressores armados. A violência levou a organização médica francesa Médicos Sem Fronteiras (MSF) a suspender suas atividades no epicentro do surto.


Como resultado, agora é o surto é segundo mais mortal da história, atrás do surto de 2013-16 na África Ocidental, que acredita-se ter matado mais de 11.000 pessoas.


"O total agora é de 1.009 casos", disse o ministério em um comunicado, mas acrescentou: "a resposta, liderada pelo Ministério da Saúde em colaboração com seus parceiros, limitou a expansão geográfica".


Quarta-feira passada, as autoridades confirmaram um caso de Ebola em Bunia, outra cidade de quase 1 milhão de pessoas.


O International Rescue Committee (IRC), um grupo de ajuda humanitária, alertou que o número de casos estava aumentando e que o surto poderia durar mais seis a 12 meses em uma região assolada pela violência e pela pobreza.



Unidade do Médicos Sem Fronteira queimada após ataque na República Democrática do Congo — Foto: Laurie Bonnaud/MSF/Handout via REUTERS




Autor: Por Reuters
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 25/03/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/03/25/rep-democratica-do-congo-tem-segundo-pior-surto-de-ebola-da-historia.ghtml

Vacina da febre amarela pode proteger contra zika, indica estudo brasileiro



Vacina da febre amarela pode ajudar contra o vírus da Zika: Pesquisa concluiu que a vacina protegeu camundongos da infecção do vírus em laboratório — Foto: Divulgação



Enquanto cientistas do mundo correm em busca de uma vacina contra o vírus Zika, pesquisadores no Rio de Janeiro constataram que a resposta pode estar em uma vacina amplamente disponível, testada e adotada mundialmente: a da febre amarela.


"Talvez a solução estivesse na nossa frente o tempo todo", diz o médico Jerson Lima Silva, professor do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), um dos coordenadores de estudo divulgado na segunda-feira (25).


Conduzida por dezesseis pesquisadores da UFRJ e da Fundação Oswaldo Cruz, a pesquisa concluiu que a vacina da febre amarela protegeu camundongos da infecção do vírus em laboratório, reduzindo a carga do vírus no cérebro e prevenindo deficiências neurológicas.


"Apareceu como um ovo de Colombo", diz Silva, referindo-se à expressão que descreve uma solução complexa que, depois de demonstrada, parece óbvia.


"Nossa pesquisa mostra que uma vacina eficiente e certificada, disponível para uso há diversas décadas, efetivamente protege camundongos contra infecção do vírus Zika", diz o estudo, publicado online que ainda precisa passar pelo processo de revisão por pares exigido por periódicos científicos, que têm um trâmite demorado.


Esse sistema de publicação é adotado para disponibilizar rapidamente resultados iniciais de pesquisas à comunidade científica internacional.


A corrida por uma vacina contra a zika começou em 2016, quando se comprovou a suspeita de que a doença recém-chegada ao Brasil, até então considerada inofensiva, era a causa do surto de bebês que nasciam com microcefalia e malformações neurológicas - conjunto de sintomas hoje designado como síndrome da zika congênita.



A corrida por uma vacina começou em 2016, quando se comprovou a suspeita de que a doença era a causa do surto de bebês com microcefalia — Foto: AP Photo/Felipe Dana


O surto levou o governo brasileiro e a Organização Mundial da Saúde a decretarem situações de emergência, posteriormente suspensas. Além dos graves problemas que pode causar nos bebês durante a gestação, a zika é associada ao surgimento da síndrome de Guillain-Barré em adultos.




Vírus semelhantes




Tanto a zika e quanto a febre amarela são transmitidos por vírus da família dos Flavivírus. A estruturas biológicas dos vírus são semelhantes, o que inspirou a equipe no Rio a testar os efeitos da vacina de febre amarela sobre o vírus Zika.


Além disso, diz o médico Jerson Lima Silva, a região que teve maior incidência de zika, o Nordeste do país, é também a que tinha a menor cobertura vacinal para febre amarela. "Então resolvemos testar essa hipótese", afirma o professor da UFRJ. O estudo foi coordenado por Silva, Andrea Cheble Oliveira e Andre Gomes, do Instituto de Bioquímica Médica da UFRJ e do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Biologia Estrutural e Bioimagem, e pelo professor Herbert Guedes, do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ.


A equipe realizou testes com dois grupos de camundongos, um composto por indivíduos saudáveis e outro por indivíduos com sistema imune comprometido, mais suscetíveis à propagação do vírus.


O Aedes aegypti é o mosquito transmissor da zika e da febre amarela — Foto: Pixabay/Divulgação


Nos dois grupos, parte dos animais foi imunizada com a vacina de febre amarela e outra recebeu apenas uma solução salina, sem nenhum efeito imunológico. Depois, todos receberam injeções intracerebrais do vírus da zika, de modo a simular infecções com alto índice de letalidade.


"Sem a vacina, os mais suscetíveis morreram e os normais desenvolveram sintomas da doença. Já entre os vacinados, os suscetíveis não morreram e todos apresentaram carga viral extremamente reduzida no cérebro", explica Silva. O vírus Zika consegue furar a proteção da placenta durante a gestação, e se alastra pelo cérebro do bebê, impedindo que se forme corretamente.




Próximos passos




A pesquisa foi conduzida ao longo de dois anos. O grupo trabalha agora para entender os mecanismos de proteção contra o vírus desenvolvidos a partir da vacina da febre amarela. O médico diz que o próximo passo é realizar testes em primatas.


"Os resultados foram muito evidentes. A gente acredita que há uma grande chance de (a vacina da febre amarela) proteger humanos (contra a zika), já que os testes com animais demonstraram uma proteção tão forte", considera Silva. Ele espera que os próximos passos para determinar se a vacina pode ser recomendada à sociedade como uma proteção eficiente contra a zika não tardem. Por enquanto, entretanto, é preciso cautela. "Como todo estudo científico, este precisa ser reproduzido e confirmado", diz.


Se o efeito for comprovado para humanos, ressalta o pesquisador da UFRJ, haveria uma grande vantagem em poder contar com uma vacina licenciada, usada há décadas e disponível no mercado - e que poderia ser distribuída e aplicada prontamente no caso de um novo surto de infecções. Desenvolver uma nova vacina envolve passar por muitos testes, acertos e erros e etapas de segurança.


O estudo teve financiamento da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Ministério da Saúde, da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).




Autor: BBC
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 26/03/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/03/26/vacina-da-febre-amarela-pode-proteger-contra-zika-indica-estudo-brasileiro.ghtml

Estudo aponta que cérebro continua a ganhar novos neurônios ao longo da vida

O ser humano continua a produzir novas células cerebrais ao longo da vida, pelo menos até os 97 anos, de acordo com um novo estudo.


Esta ideia tem sido amplamente debatida, e costumava-se pensar que nascemos com todas as células cerebrais que teremos em toda a vida.


Os pesquisadores da Universidade de Madri, na Espanha, também demonstraram que o número de novas células cerebrais produzidas diminui com a idade e que isso cai drasticamente nos estágios iniciais da doença de Alzheimer - o que permite pensar em novas formas de tratamento para demência.


Estudos com outros mamíferos já haviam demonstrado que novas células cerebrais são formadas em estágios posteriores da vida, mas a extensão desta "neurogênese" no cérebro humano ainda é algo polêmico.



Como foi feito o estudo



O estudo, publicado na revista Nature Medicine, analisou os cérebros de 58 pessoas mortas quando tinham entre 43 e 97 anos de idade.


O foco estava no hipocampo - uma parte do cérebro envolvida com a memória e a emoção. É desta parte do cérebro que você precisa para se lembrar onde estacionou o carro, por exemplo.


A maioria dos nossos neurônios - células cerebrais que enviam sinais elétricos - de fato já existem quando nascemos. Mas estas células não emergem no cérebro totalmente formadas. Elas têm de passar por um processo de crescimento e maturação.


Os pesquisadores conseguiram identificar neurônios imaturos ou "novos" nos cérebros examinados. Nos cérebros saudáveis, ​​houve uma "ligeira diminuição" desta neurogênese com a idade.



Pesquisadores identificaram neurônios imaturos ou "novos" (em vermelho) nos cérebros estudados — Foto: MORENO-JIMÉNEZ/BBC


"Acredito que geramos novos neurônios conforme precisamos aprender coisas novas. E isso ocorre a cada segundo de nossas vidas", diz pesquisadora Maria Llorens-Martin à BBC News.


Mas a história foi diferente com o cérebro de pacientes com Alzheimer. O número de novos neurônios formados caiu de 30 mil por milímetro para 20 mil por milímetro em pessoas em um estágio inicial da doença, uma redução de mais de 30%.


"É muito surpreendente, porque é algo que ocorre muito cedo, mesmo antes do acúmulo no cérebro de placas da proteína beta-amiloide (uma característica chave de Alzheimer) e, provavelmente, antes do surgimento de sintomas", afirma Llorens-Martin.




Um novo caminho para um tratamento para Alzheimer?




Ainda não existe cura para a doença de Alzheimer, mas o foco principal das pesquisas tem sido este acúmulo de beta-amiloide no cérebro.


No entanto, estudos que usam esta abordagem para desenvolver formas de combater a doença falharam, e a nova pesquisa da Universidade de Madri sugere que pode haver algo ocorrendo ainda mais cedo no curso da doença.


Llorens-Martin diz que entender o motivo da diminuição da neurogênese pode levar a novos tratamentos tanto para os efeitos comuns do envelhecimento quanto para Alzheimer.


Ela afirma que o próximo estágio da pesquisa provavelmente exigirá que sejam analisados os cérebros de pessoas ainda em vida, para ver o que acontece com eles ao longo do tempo.


"Ao mesmo tempo em que passamos a perder células nervosas no início da idade adulta, essa pesquisa mostra que podemos continuar a produzir novas células até os 90 anos", diz Rosa Sancho, chefe de pesquisa da Alzheimer's Research UK, organização sem fins lucrativos dedicada à pesquisas sobre a doença.


Ela explica que o Alzheimer acelera bastante a taxa de perda de células nervosas, e avalia que esta nova pesquisa fornece evidências convincentes de que também limita a criação de novas células.


"Mais estudos serão necessários para confirmar estas conclusões e explorar se isso pode abrir caminho para um teste capaz de sinalizar precocemente se uma pessoa tem um risco maior de ter esta doença."




Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 26/03/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/03/26/estudo-aponta-que-cerebro-continua-a-ganhar-novos-neuronios-ao-longo-da-vida.ghtml

‘Celebrando o Cérebro’ tem nova edição na Fiocruz

Lógico-matemática, linguística, musical, corporal, espacial, naturalista, existencial, inter e intrapessoal: essa é a lista das múltiplas inteligências que nós, seres humanos, possuímos. Ao longo da história, para a promoção da saúde, temos articulado essas inteligências com diferentes tecnologias (que podem ser entendidas como extensões do nosso cérebro). Para explorar essas conexões, todos estão convidados a participar do Celebrando o Cérebro 2019, evento comemorativo da Semana do Cérebro no Museu da Vida, que acontece de 26 a 30 de março, com entrada gratuita.

Idealizada pela entidade norte-americana Dana Foundation, a Semana do Cérebro é uma iniciativa internacional, realizada anualmente, com o objetivo de divulgar e popularizar as neurociências. Este ano, o tema escolhido pelo Museu da Vida foi Inteligências, Tecnologias e Saúde.

Participando de uma programação divertida, com muitos jogos e oficinas variadas, os visitantes poderão conhecer e discutir a teoria das inteligências múltiplas do psicólogo norte-americano Howard Gardner. As atividades prometem instigar a curiosidade e propor desafios que estimulem e mobilizem diferentes inteligências. O objetivo é quebrar preconceitos sobre os limites da inteligência humana e motivar o público a reconhecer e valorizar as diversas formas humanas de construção do conhecimento, ampliando suas visões sobre a inteligência. Tudo isso com aplicações práticas e muita experimentação.

As atividades acontecerão em três espaços da Fiocruz: pirâmide, epidauro e castelo. Confira abaixo a programação:


Pirâmide

Experimente suas inteligências!
Faixa etária: acima de 10 anos
Dias: de 26 a 30 de março
Horários: de terça a sexta, às 9h, 10h30, 13h30 e 15h; sábado, das 10h às 16h
Separar palavras aleatórias por categorias e utilizá-las para formar um poema. Solucionar jogos de raciocínio lógico. Explorar os sons e identificar diferentes notas musicais de olhos vendados. Desvendar os avanços tecnológicos a partir dos conhecimentos da automação. Em quatro estações de atividades, o visitante será desafiado a utilizar suas diferentes inteligências e a refletir sobre a importância da integração entre elas para indivíduos e grupos.

No ritmo das inteligências
Faixa etária: livre
Dias: de 26 a 30 de março
Horários: de terça a sexta, às 9h, 10h30, 13h30 e 15h; sábado, das 10h às 16h
Você tem controle sobre os movimentos do seu corpo? Com o uso de um game, vamos dançar para estimular a coordenação motora e a orientação no espaço. Aqui você experimenta muitas inteligências ao mesmo tempo!

Batalha espacial: encontre os espaços do MV
Faixa etária: acima de 10 anos
Dias: de 26 a 30 de março
Horários: de terça a sexta, às 9h, 10h30, 13h30 e 15h; sábado, das 10h às 16h
Vamos encontrar os espaços do Museu da Vida? Num jogo parecido com batalha naval, os participantes têm que localizar os símbolos do Museu no campo do adversário, utilizando modelos mentais para deduzir as coordenadas verticais e horizontais.

De onde viemos e para onde vamos?
Faixa etária: acima de 10 anos
Dias: de 26 a 30 de março
Horários: de terça a sexta, às 9h, 10h30, 13h30 e 15h; sábado, das 10h às 16h
A atividade propõe reflexões e questionamentos sobre a origem da vida através de imagens, motivando reflexões sobre a nossa existência.

A inteligência nas ciências naturais
Faixa etária: acima de 8 anos
Dias: de 26 a 30 de março
Horários: de terça a sexta, às 9h, 10h30, 13h30 e 15h; sábado, das 10h às 16h
Como se organizam os padrões da natureza? Como se comunicam os insetos? O visitante vai conhecer o ciclo de vida dos mosquitos, identificando seus diferentes estágios de desenvolvimento. Vai conhecer também algumas características do corpo humano.

Animais são inteligentes?
Faixa etária: acima de 8 anos
Dias: de 26 a 30 de março
Horários: de terça a sexta, às 9h, 10h30, 13h30 e 15h; sábado, das 10h às 16h
Quem aí tem curiosidade sobre as inteligências no mundo animal? Nesse jogo de associações, o visitante vai conhecer processos de inteligência animal estudados por cientistas.


Epidauro

Oficina de robótica
Faixa etária: a partir de 12 anos
Dias: 26 e 27 de março
Horários: terça e quarta, às 15h
Venha conhecer um pouco sobre robótica e suas aplicações nas diversas áreas do conhecimento ao montar e programar um robô. O limite é sua imaginação!

Aventuras do cérebro
Faixa etária: a partir de 12 anos
Dias: 26 e 28 de março
Horários: terça, às 9h30, e quinta, às 9h30 e 15h
Venha descobrir o que acontece com seu cérebro ao comer um delicioso bolo de chocolate ou uma torta de limão.


Castelo

Evolução tecnológica na aplicação das vacinas
Faixa etária: livre
Dias: de 26 a 30 de março
Horários: de terça a sexta, às 9h, 10h30, 13h30 e 15h; sábado, às 10h10, 11h, 11h50, 12h40, 13h30, 14h20 e 15h10 (durante a visita ao Castelo)
Uma mostra de objetos antigos, que compõem o acervo museológico da Fiocruz, ajuda a contar a história da tecnologia das vacinas.

Termo... o quê?
Faixa etária: livre
Dias: de 26 a 30 de março
Horários: de terça a sexta, às 9h, 10h30, 13h30 e 15h; sábado, às 10h10, 11h, 11h50, 12h40, 13h30, 14h20 e 15h10 (durante a visita ao Castelo)
Venha desvendar os segredos de um antigo objeto do Castelo: o termocontrolador.


Autor: Museu da Vida/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 27/03/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/celebrando-o-cerebro-tem-nova-edicao-na-fiocruz

FAPERJ entrega termos de outorgas a pesquisadores do Museu Nacional

Pesquisadores de diversas instituições fluminenses de ensino superior e representantes do governo estadual se reuniram na manhã desta quarta-feira, 13 de março, no Prédio Anexo ao Palácio Guanabara, para acompanhar a cerimônia de entrega dos termos de outorga aos pesquisadores contemplados no edital Apoio Emergencial ao Museu Nacional. Ao todo, 72 pesquisadores vinculados ao Museu Nacional – que é uma unidade da Universidade Federal do Rio de Janeiro (MN/UFRJ) – foram outorgados pelo edital. Cada um deles vai receber, durante um ano, uma bolsa mensal de R$ 3 mil. Lançado pela FAPERJ em outubro de 2018, o edital vai repassar um total de recursos da ordem de R$ 2,5 milhões, que serão utilizados para garantir a continuidade dos trabalhos de pesquisa após o incêndio de grandes proporções que atingiu o museu em 2 de setembro de 2018, destruindo boa parte de um acervo de 20 milhões de itens, reunidos ao longo de 200 anos.

O governador do estado do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, destacou que o edital lançado pela FAPERJ é uma importante contribuição ao Museu Nacional. “Esta é uma primeira ação. Estes pesquisadores vão resgatar aquilo que foi perdido no incêndio em termos de pesquisa. São mais de 70 profissionais, cada um na sua área”, disse o governador. Ele convocou ainda a população a continuar fazendo doações ao SOS Museu Nacional. “Convido a todos para fazerem uma doação. Precisamos de R$ 300 milhões para reconstruir este importante ícone da nossa história e do nosso estado”, acrescentou. Witzel afirmou seu compromisso de trabalhar para cumprir a obrigação constitucional de repassar 2% do orçamento líquido estadual à FAPERJ, apesar das restrições que se impõem em razão da crise fiscal por que passa o estado desde 2015. “Estamos recuperando a economia do estado para poder investir em pesquisa. Recebemos o estado com um déficit de R$ 8 bilhões no orçamento e, depois desse primeiro momento, queremos recuperar integralmente a capacidade de fomento à pesquisa", disse.

O presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, saudou os esforços e o empenho de funcionários, servidores e estudantes na recuperação do Museu Nacional, e reafirmou sua solidariedade a essa instituição centenária. “As efêmeras chamas que atingiram o Museu Nacional não extinguiram o seu maior acervo: o conhecimento, que é perene. O museu está cada vez mais vivo e, tenho certeza, sempre poderá contar com as agências de fomento nacionais e internacionais e, no estado do Rio de Janeiro, com a FAPERJ. Se boa parte do acervo físico foi perdido, cabe a todos apoiar o patrimônio intelectual do museu”, disse Lima Silva.

De acordo com o titular da FAPERJ, o edital vai destinar recursos que contribuirão para que 72 pesquisadores deem continuidade aos seus trabalhos e possam reestabelecer parte da coleção que foi perdida. “O museu faz parte do rico parque de Ciência, Tecnologia e Inovação do nosso estado, composto por dezenas de instituições e universidades e grupos de pesquisa de excelência. Ele representou para muitos de nós, brasileiros, e para mim também, o primeiro contato na infância com o mundo da ciência e da cultura. As labaredas foram o retrato de um Brasil que não queremos. Esse edital simboliza o resgate da Ciência e da Tecnologia no estado do Rio de Janeiro”, completou.


Alexandre Dias Pimenta (esq.) recebeu o termo de outorga das mãos de Alexander Kellner, diretor do Museu Nacional/UFRJ


O diretor do Museu Nacional, Alexander Kellner, contou que, após o incêndio, há um esforço contínuo de servidores, funcionários e estudantes para dar continuidade às atividades do museu. “Muitos assistiram, incrédulos, à instituição científica mais antiga do País arder em chamas. Porém, sem querer diminuir de forma nenhuma o impacto e as consequências dessa tragédia, que transcenderam as fronteiras brasileiras, passados mais de seis meses do ocorrido, pelo apoio emergencial do MEC, podemos dar continuidade aos trabalhos de resgate do acervo que ainda se encontra sob os escombros”, disse, citando o apoio de organizações nacionais e internacionais e de governos, como o Consulado da Alemanha, a Unesco e a Sociedade Brasileira de Zoologia. “Temos tido a grata surpresa de conseguir resgatar mais peças do acervo do que esperávamos, em grande quantidade e em variado estado de conservação. E depois da tragédia já organizamos duas exposições que estão em cartaz na cidade, uma no CCBB, com peças desse acervo resgatado, e outra na Casa da Moeda, sobre o trabalho de pesquisa da UFRJ na Antártica. Todos estão convidados a visitar essas exposições”, lembrou Kellner. “Hoje é um bom dia porque estamos recebendo, graças à ação concreta da FAPERJ, apoio por meio de bolsas mensais para que mais de 70 pesquisadores do museu deem continuidade aos seus projetos. Com isso temos a possibilidade de que a instituição não perca um dos seus maiores atributos, que é a de gerar conhecimento. Ao fazer isso, também estamos atuando na formação de capital humano, inclusive no exterior. Somente poderemos reconstruir o Museu Nacional com ajuda expressiva de diversos segmentos da sociedade e de instituições nacionais e internacionais”, ponderou o diretor.

O reitor da UFRJ, Roberto Leher, lembrou que o incêndio no museu atingiu a memória profunda da história brasileira, que diz respeito à evolução geológica, à biodiversidade, às cosmovisões e formas de vida de diversos povos, ao precioso acervo arqueológico. “Nós da UFRJ, sentimos uma dor profunda ao ver todo esse trabalho de muitas gerações ser queimado. Os principais museus do mundo e todos os que amam a cultura choraram naquela noite de 2 de setembro”, falou. Sobre o trabalho de reconstrução do museu, ele afirmou que há três linhas de trabalho. “A primeira é a reconstrução da edificação principal do museu. Expresso o agradecimento aos deputados da bancada estadual do Rio de Janeiro, que no dia 4 de setembro fizeram uma emenda coletiva que será o ponto inicial para essa reconstrução. A segunda linha de trabalho é a organização do espaço anexo ao museu, onde estão sendo guardadas as peças encontradas sob os escombros. E a terceira é a infraestrutura cotidiana de pesquisa. Nela se enquadra o apoio da FAPERJ, com bolsas que permitirão aos pesquisadores do museu reorganizarem suas vidas acadêmicas. Estamos caminhando de forma altiva para cumprir a afirmação de que o ‘Museu Nacional Vive’!”, concluiu Leher.

A subsecretária de Ensino Superior, Pesquisa e Inovação, Maria Isabel de Castro, representando o secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti), Leonardo Rodrigues, citou o caso da China para ressaltar a importância dos investimentos continuados em Ciência, Tecnologia e Inovação para o desenvolvimento de um país. “Há algumas décadas, a China começou a aumentar gradativamente os investimentos em pesquisa. Hoje, é uma potência. Investir em pesquisa e ciência gera impactos diretos e indiretos nas vidas de todos nós e nenhuma palavra que eu disser sobre a importância do museu será suficiente para expressar o que ele representa”, argumentou. “Pesquisadores, universidade, alunos, funcionários estão trabalhando para definitivamente virar o jogo. A Secti está trabalhando para colocar o Rio de Janeiro não como segundo colocado na produção científica nacional, mas em primeiro lugar”, disse.

A pesquisadora do Museu Nacional, Marcela Laura Monné Freire discursou em nome dos 72 outorgados. Ela foi contemplada no edital da FAPERJ com o projeto Estudos taxonômicos em Buprestidae Neotropical (Insecta, Coleoptera), sobre a família dos “besouros-joia”, que são pragas de plantações. “As bolsas concedidas pela FAPERJ vão minimizar alguns dos nossos diversos problemas em virtude do incêndio. Elas terão abrangência nas diferentes vertentes da produção acadêmica do Museu Nacional, que contam com seis departamentos: de Antropologia, Botânica, Entomologia, Invertebrados, Vertebrados e Geologia e Paleontologia. Vários dos projetos agraciados focam na reconstrução das coleções científicas e dos laboratórios que se perderam no incêndio, como, por exemplo, para a reconstrução do Laboratório de Entomologia, de Aracnologia (AracnoLab) e a recuperação da capacidade operacional e de infraestrutura do Laboratório de Geologia Costeira, Sedimentologia e Meio Ambiente (Lagecost)”, detalhou Marcela, que lembrou a expertise do museu com seus nove cursos de pós-graduação. Ela recebeu seu termo de outorga das mãos do governador.


Marcela Monné e o governador Wilson Witzel: contemplada no edital da FAPERJ, ela discursou em nome dos demais outorgados


Outros cinco pesquisadores receberam seus termos de outorga das mãos das autoridades que compuseram a mesa durante a solenidade. Luciana Witovisk Gussela recebeu, do presidente da FAPERJ, a outorga pelo seu projeto “Estruturação do laboratório de paleobotânica Diana Mussa”. Já Alexandre Dias Pimenta teve sua outorga – relativa ao seu projeto, intitulado “Diversidade de microgastrópodes do Brasil – sistemática de Triphoroidea: base para a recomposição da Coleção de Mollusca do Museu Nacional” – entregue pelo diretor do museu, Alexandre Kellner. Por sua vez, o pesquisador Antonio Carlos de Souza Lima recebeu, da subsecretária Maria Isabel, a outorga pelo projeto “Resgate – O PPGAS e o Museu Nacional após o incêndio, dos documentos em papel e em meio virtual às narrativas e memórias”. O reitor da UFRJ foi o escolhido para entregar a outorga de Andrea Ferreira da Costa, proponente do projeto “Evolução e diversificação da subtribo Vrieseinae(Tillandsioideae, Bromeliaceae). Por fim, o pesquisador Murilo Quintans Ribeiro Bastos recebeu das mãos do vice-governador do estado do Rio de Janeiro, Claudio Castro, a outorga pelo projeto “Dieta e condições de vida no passado do RJ a partir do estudo de remanescentes esqueléticos humanos do Museu Nacional”.

Estiveram presentes diversos gestores públicos e representantes da comunidade científica e tecnológica fluminense, como o secretário de Estado da Casa Civil e Governança, José Luís Zamith; o reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Ruy Garcia Marques; o reitor da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf), Luís Passoni; a arqueóloga Claudia Carvalho, responsável pela Comissão de Resgate do acervo do Museu Nacional; a diretora Científica da FAPERJ, Eliete Bouskela; o diretor de Tecnologia da Fundação, Mauricio Guedes; e a chefe de Gabinete da Fundação, Consuelo Câmara, entre outros.



A partir da esq.: Jerson Lima Silva, Roberto Leher, Claudio Castro, o governador Wilson Witzel, Maria Isabel de Castro e Alexander Kellner, durante a solenidade realizada no Prédio Anexo ao Palácio Guanabara, sede do governo (Fotos: Lécio Augusto Ramos)





Autor: Ascom FAPERJ
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 14/03/2019
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3717.2.0