sexta-feira, 29 de novembro de 2019

O que a descoberta de açúcar em meteoritos revela sobre a origem da vida

É extraordinário que uma molécula tão frágil quanto a ribose possa ter sido encontrada em uma matéria tão antiga".


A declaração é de Jason Dworkin, pesquisador do Centro Goddard da Nasa, agência espacial americana, um dos autores do novo estudo que confirma algo sem precedentes: a descoberta de açúcares essenciais para a vida em meteoritos.



Um artista da Nasa ilustra como teria sido o bombardeio de meteoritos na Terra — Foto: Nasa's Goddard Conceptual Image Lab/BBC


A descoberta reforça a tese de que reações químicas em asteroides, dos quais muitos meteoritos se originam, são capazes de produzir um dos principais "ingredientes" para nossa existência.


Se a hipótese estiver correta, o bombardeio de meteoritos nos primórdios da Terra pode ter contribuído para a origem da vida a partir do fornecimento de elementos básicos.

Açúcares


Os cientistas descobriram a ribose e outros açúcares essenciais, incluindo a arabinose e xilose, em dois meteoritos ricos em carbono chamados NWA 801 (encontrado em 2001 no Marrocos) e Murchison (que caiu em 1969 na Austrália).


A ribose é um componente essencial do ácido ribonucleico (ARN).


O ARN tem a função de uma molécula mensageira, que leva as informações genéticas do DNA (ácido desoxirribonucleico) até os ribossomos, as "fábricas" das células, que vão ler as instruções do ARN para produzir proteínas.


"Outros componentes importantes da vida já foram encontrados em meteoritos, incluindo aminoácidos (componentes das proteínas) e nucleobases (componentes do DNA e do ARN)", afirmou Yoshihiro Furukawa, pesquisador da Universidade de Tohoku, no Japão, e principal autor do estudo.


"Mas o açúcar era a peça que faltava entre os principais componentes básicos da vida."


"A pesquisa oferece a primeira evidência direta de ribose no espaço e da chegada desse açúcar na Terra. O açúcar extraterrestre poderia ter contribuído para a formação do ARN na Terra prebiótica que possivelmente levou à origem da vida", acrescentou a Nasa em comunicado.



Os cientistas esperam analisar amostras do asteroide Bennu no futuro — Foto: Nasa/Goddard/University of Arizona/BBC


Os pesquisadores descobriram os açúcares ao analisar amostras de pó dos meteoritos usando a técnica de espectrometria de massa por cromatografia gasosa, que identifica moléculas pela sua massa e carga elétrica.


A abundância de ribose e outros açúcares variou de 2,3 a 11 partes por bilhão no NWA 801, e entre 6,7 e 180 partes por bilhão no Murchison.


Os cientistas também consideraram a possibilidade de que os açúcares nos meteoritos sejam simplesmente produto da contaminação da vida na Terra.


Mas argumentam que a variedade de carbono no açúcar extraterrestre é diferente da encontrada na biologia terrestre.


Antes do DNA?


O estudo, publicado na revista científica americana Proceedings of the National Academy of Sciences, respalda a teoria de que o ARN coordenava a engrenagem da vida antes do DNA.


De acordo com a Nasa, um dos grandes mistérios sobre a origem da vida é como a biologia emergiu de processos químicos não biológicos.


O DNA é o "modelo" da vida, que carrega instruções sobre como construir e operar um organismo vivo.


Mas o ARN também contém informações, e muitos cientistas acreditam que ele se desenvolveu antes e foi substituído posteriormente pelo DNA.


Isso se deve, de acordo com a Nasa, ao fato de que as moléculas de ARN têm capacidades que o DNA não possui.



Um pedaço do meteorito Murchison ao lado do que seria a estrutura molecular da ribose, um dos açúcares encontrados em sua poeira — Foto: Yoshihiro Furukawa/BBC


O ARN pode fazer cópias de si mesmo sem a ajuda de outras moléculas e também é capaz de iniciar ou acelerar reações químicas como catalisador.


"O açúcar do DNA (2-desoxirribose) não foi encontrado em nenhum dos meteoritos analisados ​​neste estudo", declarou Danny Glavin, do Centro Goddard da Nasa.


Os cientistas planejam agora analisar mais meteoritos para obter informações sobre a abundância de açúcar extraterrestre.


"Os resultados deste estudo vão guiar nossa análise de amostras primitivas dos asteroides Ryugu e Bennu, que serão trazidas para a Terra pela missão Hayabusa2 da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (Jaxa) e pela espaçonave OSIRIS-REx da Nasa", disse Dworkin.


A expectativa é de que a sonda Hayabusa 2 retorne à Terra no fim de 2020, e a OSIRIS-REx em 2023.




Autor: BBC Saude
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data: 29/11/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/11/29/o-que-a-descoberta-de-acucar-em-meteoritos-revela-sobre-a-origem-da-vida.ghtml

O extraordinário fóssil do Peru que mostra como baleias de 4 patas chegaram à América do Sul



O fóssil encontrado no Peru é o único de uma baleia quadrúpede descoberta na América do Sul até o momento. — Foto: Alberto Gennari/BBC


O Museu de História Natural de Lima abriga os restos de uma rara criatura que viveu há 42 milhões de anos, quando o mundo era bem diferente do que é hoje.


O esqueleto de uma baleia anfíbia descoberto em 2011 na costa sul do Peru pelo paleontólogo Mario Urbina, do Museu de História Natural de Lima, não foi exibido ao público porque as pesquisas sobre ele ainda não foram concluídas.


A espécie foi batizada de Peregocetus pacificus, um termo que vem do latim pereger (viajante) e cetus (baleia).


"Este fóssil é o único remanescente de uma baleia quadrúpede descoberto na América do Sul até o momento", disse à BBC Mundo Rodolfo Salas-Gismondi, do Departamento de Paleontologia de Vertebrados do Museu de História Natural de Lima.




O fóssil de baleia também é "o primeiro esqueleto bem preservado de um cetáceo quadrúpede de toda a região do Pacífico", disse Olivier Lambert, pesquisador do Instituto Real Belga de Ciências Naturais que liderou os estudos e que recentemente apresentou as descobertas da equipe na reunião da Sociedade de Paleontologia de Vertebrados, na Austrália.


Pergocetus pacificus é extraordinário também por ajudar os cientistas a entender como as baleias evoluíram desde suas origens na Ásia, há mais de 50 milhões de anos.




Onde o fóssil foi encontrado e por que está tão bem preservado?




O esqueleto está bastante completo, com as duas mandíbulas, grande parte da coluna vertebral, incluindo a cauda, ​​numerosas costelas, a pelve e as pernas da frente e de trás.


O fóssil foi encontrado nas rochas de Yumaque, na área desértica em frente à praia Media Luna, na costa sul do Peru.


"Naquela época, as condições existentes eram favoráveis ​​ao enterro e subsequente fossilização dos restos esqueléticos dos animais que ali viviam, seja porque os corpos foram enterrados rapidamente ou porque a decomposição e desmembramento dos corpos ocorreu lentamente", explicou Salas-Gismondi.


"Para que esses fenômenos acontecessem, poder ter ocorrido algum fenômeno de tixotropia (fenômeno que produz areia movediça) ou talvez fossem ambientes com pouco oxigênio, o que pode ter sido essencial para atrasar a decomposição das partes moles dos cadáveres."


O paleontólogo disse que depois que os restos foram enterrados e fossilizados, e que os sedimentos que cobriam os restos se tornaram estratos ou camadas de rochas sedimentares, toda essa área subaquática teve que emergir.


Os movimentos tectônicos ligados ao nascimento dos Andes elevaram os estratos rochosos por vários metros até a superfície do deserto, que agora é um dos locais mais importantes do mundo para estudar a evolução dos ecossistemas marinhos e sua diversidade.




O que o fóssil revela sobre a evolução das baleias?




"Os fósseis mais antigos de cetáceos são da Índia e do Paquistão, não tiveram muitas adaptações ao ambiente aquático e eram relativamente pequenos, do tamanho de um cachorro", disse Lambert à BBC Mundo.


Algumas linhagens desses primeiros cetáceos se adaptaram à vida na água, mas mantiveram os membros e começaram a se dispersar.


Primeiro eles migraram para o oeste e alcançaram as costas do norte e leste da África. E de lá, atravessaram o Atlântico para chegar ao continente americano, explicou o cientista belga.



"Durante muito tempo, não tínhamos pistas sobre o caminho que seguiram, mas o fóssil do Peru indica que as baleias quadrúpedes cruzaram o Atlântico Sul da África para a América do Sul antes de migrar para o norte".




Salas-Gismondi explicou que "não se sabia que esses tipos de cetáceos arcaicos haviam chegado à costa da América do Sul".


O cientista peruano explicou que , há 42 milhões de anos, a América do Sul era um continente-ilha, sem conexões terrestres com nenhum outro continente, e a única forma de chegar a ele era através do oceano.


"É surpreendente que um cetáceo arcaico, capaz de nadar, mas ainda não completamente separado da vida em áreas terrestres e costeiras, tenha atravessado grandes distâncias no oceano".



O fóssil foi encontrado nas rochas de Yumaque, na área desértica em frente à Praia Media Luna, na costa sul do Peru. — Foto: Gentileza Olivier Lambert/BBC



Como eram os ancestrais das baleias?



"Os cetáceos têm um ancestral totalmente terrestre, de um grupo extinto de mamíferos com pernas entre os artiodáctilos, o grupo que agora inclui hipopótamos, veados, vacas e lhamas", explicou Lambert.


A conservação das patas traseiras permitiu que os cetáceos antigos retornassem à terra para descansar e dar à luz.


Algumas baleias começaram a usar predominantemente a cauda para nadar, e as patas podem ter se tornado um obstáculo para movimentos mais eficientes, segundo o cientista.


As patas da frente gradualmente se transformaram nas barbatanas, usadas para determinar a direção do nado. "Nesse ponto, os cetáceos não podiam mais voltar à terra e precisavam dar à luz na água."




Quais outras perguntas os cientistas querem responder?




"Uma investigação completa da anatomia funcional do Peregocetus começará nos próximos meses", disse Salas-Gismondi. "Cada osso do esqueleto pós-craniano será estudado em detalhes para entender como se movia, como usava as pernas durante a natação ou, eventualmente, quando estava em terra."


"Já podemos mostrar que o Perregocetus tinha uma pelve e as patas traseiras fortes o suficiente para suportar seu próprio peso no chão. Agora queremos ir além e entender que tipo de locomoção usava — e comparar com mamíferos semiaquáticos modernos, como lontras, para testar diferentes hipóteses sobre o uso da cauda durante a natação."




Autor: BBC Saude
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data: 29/11/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/11/29/o-extraordinario-fossil-do-peru-que-mostra-como-baleias-de-4-patas-chegaram-a-america-do-sul.ghtml

Expectativa de vida do brasileiro ao nascer é de 76,3 anos em 2018, diz IBGE

Expectativa de vida do brasileiro ao nascer aumenta para 76,3 anos, diz IBGE


A expectativa de vida ao nascer dos brasileiros era de 76,3 em 2018, de acordo com dados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira (28). São 3 meses e 4 dias a mais que a projeção feita em 2017, o que corresponde a uma alta de 0,4%.


Essa estimativa vem crescendo desde 1940. Naquele ano, a expectativa de vida do brasileiro ao nascer era de apenas 45,5 anos, ou seja, os brasileiros hoje vivem, em média, 30,8 anos a mais do que em meados do século passado.


“Esse aumento é justificado, principalmente da década de 1940 para cá, por uma série de fatores, com a queda da mortalidade, por uma série de fatores que chegaram no Brasil, principalmente o desenvolvimento da saúde, da medicina, a melhoria das condições de saneamento básico, de coleta de lixo”, apontou o demógrafo do IBGE Luciano Gonçalves.


(CORREÇÃO: ao publicar esta reportagem, o G1 errou ao informar que a expectativa de vida havia subido 3 meses e 19 dias em 2018. Na verdade, o crescimento foi de 3 meses e 4 dias. O cálculo feito pela reportagem havia levado em conta os números arredondados de expectativa de vida, como são divulgados no 'Diário Oficial da União'. A informação foi corrigida às 10h53.)
Expectativa de vida do brasileiro ao nascer (1940 - 2018)
Brasileiros nascidos em 2018 viverão, em média, quase 31 anos a mais do que os de 1940
45,545,5484852,552,557,657,662,562,566,966,969,869,873,973,975,875,8767676,376,319401950196019701980199120002010201620172018020406080100
Fonte: IBGE


Além da melhora das condições estruturais do país, o Gonçalves destacou que também houve melhorias dos hábitos de vida da população.


"[Outro fator] que a gente fala hoje em dia é que, principalmente, a pessoa passa a se cuidar mais. Então, é fato, é notório, que atividade física, uma alimentação balanceada, um sono que repõe as energias, consumo moderado de álcool, não fumar, são fatores que prolongam a vida dos indivíduos”, disse.


O IBGE destacou que essa expectativa de vida muda conforme o ano de nascimento da pessoa, ao que se dá o nome de "projeção de sobrevida". Por exemplo, quem tinha 30 anos completos em 2018 terá um tempo médio de vida diferente de quem nasceu naquele ano.



Aos 30 anos: 48,7 de expectativa de sobrevida, ou seja, expectativa de vida de 78,7 anos
Aos 40 anos: 39,5 de expectativa de sobrevida, ou seja, expectativa de vida de 79,5 anos
Aos 50 anos: 30,7 de expectativa de sobrevida, ou seja, expectativa de vida de 80,7 anos
Aos 60 anos: 22,6 de expectativa de sobrevida, ou seja, expectativa de vida de 82,6 anos
Aos 70 anos: 15,3 de expectativa de sobrevida, ou seja, expectativa de vida de 85,3 anos
Aos 80 anos ou mais: 9,6 de expectativa de sobrevida, ou seja, expectativa de vida de 89,6 anos ou mais



Maior longevidade feminina



Para as mulheres, que tendem a viver mais tempo que os homens, a expectativa aumentou de 79,6 anos em 2017 para 79,9 anos em 2018. Já para os homens aumentou de 72,5 para 72,8 anos no mesmo período.


O IBGE destacou, no entanto, que essa diferença da expectativa de vida entre homens e mulheres é mais acentuada conforme a faixa etária, fenômeno chamado de "sobremortalidade masculina”. Em 2018, um homem com idade entre 20 e 24 anos tinha 4,5 vezes menos chance de chegar aos 25 anos que uma mulher.



“Esse fenômeno pode ser explicado por causas externas, não naturais, que atingem com maior intensidade a população masculina”, explica o pesquisador do IBGE Marcio Minamiguchi.




O pesquisador enfatizou que esse fenômeno não era observado em 1940 com tanta evidência. “A partir de meados da década de 80 as mortes associadas às causas externas passaram a desempenhar um papel de destaque. É um fenômeno proveniente da urbanização e inclui homicídios, acidentes de trânsito e quedas acidentais, entre outros”, disse.



Também conhecido como "esperança de vida", o dado informa quanto devem viver, aproximadamente, os indivíduos nascidos em um determinado ano – desde que mantidas as mesmas condições observadas no ano de seu nascimento.




Catarinenses vivem mais, maranhenses, menos





Fatores regionais também interferem na expectativa de vida, conforme apontou o IBGE. Para ambos os sexos, a maior estimativa ao nascer foi observada em Santa Catarina, onde chega a 79,7 anos - 3 anos e 4 meses a mais que a média nacional.


Outros estados com expectativa acima dos 78 anos são o Espírito Santo, São Paulo, Distrito Federal e Rio Grande do Sul.


No outro extremo, a população com menor expectativa de vida está o Maranhão, com 71,1 anos, seguido pelo o Piauí, com 71,4 anos.


Ou seja, para uma criança nascida no Maranhão espera-se que ela viva 8,6 anos a menos que uma criança nascida em Santa Catarina.
Expectativa de vida em cada estado brasileiro (em 2018)
Longevidade é maior em Santa Catarina e menor no Maranhão
71,171,171,471,471,771,772,172,172,372,372,472,472,572,573,273,273,873,873,973,973,973,974,374,374,474,474,574,574,574,574,674,674,774,776,176,176,276,276,376,376,876,877,777,777,777,778,378,378,678,678,678,678,878,879,779,7MaranhãoPiauíRondôniaRoraimaAlagoasAmazonasParáSergipeParaíbaTocantinsBahiaCearáAmapáGoiásAcrePernambucoMato GrossoMato Grosso do SulRio Grande do NorteBrasilRio de JaneiroParanáMinas GeraisRio Grande do SulDistrito FederalSão PauloEspírito SantoSanta Catarina020406080100
Fonte: IBGE



Mortalidade infantil segue em queda




De acordo com o IBGE, a mortalidade infantil manteve, em 2018, a tendência de queda observada desde. O número de mortes antes de completar 1 ano de idade caiu de 12,8 a cada mil nascidos vivos em 2017 para 12,4 por mil em 2018.


Em 1940, eram 146,6 mortes entre mil nascidos vivos, o que representa uma queda de 91,6%.


Já até os 5 anos de idade, o número de mortes caiu, entre 2017 e 2018, de 14,9 por mil para 14,4 por mil.


“A mortalidade infantil tem causas normalmente evitáveis e, principalmente nesses primeiros anos de vida, está muito relacionada às condições em que a criança vive. Conforme melhoram as condições de saneamento básico da população e o acesso a vacinas e atendimentos de saúde, diminuem os índices de morte infantil. Se conseguirmos reduzir a taxa atual pela metade, isso significará menos 15 a 20 mil mortes de crianças por ano”, comentou o pesquisador do IBGE Marcio Minamiguchi.


Já o demógrafo do IBGE Luciano Gonçalves apontou que a maior escolarização das mulheres também contribui para reduzir a mortalidade infantil.


“Tem a ver com o aumento da escolaridade feminina, da mulher, da mãe, que é a pessoa que está no dia-a-dia com a criança e cada dia que passa começa a encontrar formas de cuidar melhor daquele ser vivo”, destacou.




Em 2018, brasileiros tinham, em média, uma expectativa de 30,8 a mais de vida que em 1940. — Foto: Caio Coutinho/G1



Autor: Felipe Gutierrez e Daniel Silveira, G1
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data: 29/11/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/2019/11/28/expectativa-de-vida-do-brasileiro-ao-nascer-foi-de-763-anos-em-2018-diz-ibge.ghtml

'Peguei HIV na minha primeira relação sexual'



Jovem tinha apenas 17 anos quando foi diagnosticada com HIV – Ilustração: Debie Loizou/BBC



"Eu só havia me relacionado com uma pessoa quando contraí HIV. Eu sei que as pessoas ouvem isso e acham que é uma história triste que eu conto, mas é a verdade."


Jane (nome fictício), uma jovem nascida na Irlanda do Norte, está entre as 1.100 pessoas que vivem hoje com HIV no país, que faz parte do Reino Unido. Ela foi uma das mais jovens na região a receber o diagnóstico.


Os dados mostram que a proporção de pessoas afetadas é maior entre homens que mantêm relações com homens. Entretanto, como alerta a instituição de caridade Positive Life — a única no país que presta assistência às pessoas soropositivas — associar o HIV a tal população é um erro. A organização explica que não se trata de uma "doença que só afeta homens gays".


Na Irlanda do Norte, o número de mulheres que acessam serviços de apoio a quem vive com HIV ultrapassa 200. No país, um terço dos testes de anticorpos do HIV são conduzidos durante os exames pré-natais.


Outra estatística local ajuda a questionar o mito sobre HIV: 40% das pessoas soropositivas contraíram o vírus por meio de relações heterossexuais.



'Coloque-se no meu lugar'




"Eu sei que as pessoas que me ouvem podem até julgar, mas eu pediria para que se colocassem no meu lugar."


A primeira reação de Jane ao receber seu diagnóstico foi buscar informações sobre o HIV, tanto na internet quanto em filmes sobre o assunto.


"Isso me assustou muito. (Os filmes) mostravam pessoas ficando muito doentes, com a pele ficando feia, e pessoas morrendo", conta ela. "Eu pensava 'é isso que vai acontecer comigo?'."



Símbolo da luta contra a Aids — Foto: DIPTENDU DUTTA / AFP

O estigma sobre as pessoas que vivem com o vírus também assustou a família de Jane. Sua mãe conta que também associava a condição a um comportamento sexual específico.


"No começo, eu tinha todos os tipos de estereótipos e de estigmas na cabeça que você pode imaginar. Eu só conseguia pensar 'isso não poderia estar acontecendo com ela, com alguém da idade dela, com alguém que não é promíscua'", diz a mãe, que falou em condição de anonimato.


"Mas agora eu sei que não importa se você é promíscuo ou não, basta uma vez para que sua vida mude para sempre."


Recomeço



Um teste de HIV com resultado positivo não significa o fim da linha para os afetados pela condição. Pelo contrário: medicamentos atuam para baixar a carga viral e garantem mais qualidade de vida a quem vive com o vírus.


Jane explica que toma medicamentos diariamente, que servem para suprimir o vírus. Como resultado, no caso dela, eles já impedem que o HIV seja transmitido, mesmo em relações sexuais.


Células do vírus HIV (viriões), em imagem microscópica produzida em 2011 — Foto: Maureen Metcalfe, Tom Hodge/CDC/AP


"Depois do diagnóstico, eu comecei a usar a medicação, que deixou os níveis de HIV no meu sangue bem baixos. Chegaram ao ponto de serem indetectáveis e eu engravidei."


"Durante a gravidez, tive de tomar três tipos diferentes de comprimidos, para ter certeza de que o bebê não contrairia HIV. Agora, tenho um filho pequeno e a medicação funcionou. Sim, eu tenho HIV, mas isso não vai me impedir de cuidar do meu filho. Eu ainda tenho um teto para morar, eu tenho apoio familiar."


Para a mãe de Jane, o caso pode servir de exemplo para repensar os debates sobre HIV e as pessoas que vivem com o vírus.


"Eu acho importante pensar positivo, mas isso não significa ignorar a questão. A gente precisa falar sobre o assunto e sobre como evitar que se chegue nesse estágio."




Instituto Emílio Ribas solta balões para lembrar do Dia Internacional de Combate à Aids


"Para mim, é daí que vem a importância da educação sexual, porque o HIV ainda é um grande tabu. A história da minha filha mostra que é possível que uma garota jovem, que está na melhor fase da vida, contrair o HIV."


Como Jane reconhece, não é possível "mudar o passado", mas ela passa adiante o que aprendeu.


"Eu diria para qualquer um: se você faz sexo com alguém, seja a primeira vez ou não, faça com segurança. E você deve perguntar àquela pessoa: 'você já fez o teste?', 'você já passou pelos exames?'."


Ela defende que essas são "perguntas simples" que devem ser feitas por qualquer pessoa sexualmente ativa, e que as escolas deveriam ensinar sobre a importância do teste de HIV.


"Tenho de viver com o fato de ser HIV-positiva. Isso significa tomar medicamentos pelo resto da vida, fazer exames de sangue regularmente. Mas não vou deixar que arruíne a minha vida."




Autor: BBC Saude
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data: 29/11/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/11/29/peguei-hiv-na-minha-primeira-relacao-sexual.ghtml

quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Brasileiros consomem quase o dobro de sal sugerido pela OMS



Brasileiros consomem, em média, 9,34 gramas de sal por dia — quase o dobro do recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de 5 gramas. Esta é uma das principais conclusões de um levantamento inédito no país: a análise de sangue e de urina de cerca de 9 mil brasileiros, realizada pela Pesquisa Nacional de Saúde (PNS). A Fiocruz foi responsável pela coordenação técnica do estudo. Essa foi a primeira vez que um inquérito com representatividade nacional coletou nos domicílios amostras biológicas para realização de exames complementares, viabilizando que se estabeleçam parâmetros nacionais para valores de referência laboratoriais. Um importante avanço para o conhecimento de características e condições de saúde da população brasileira, o que pode aprimorar a vigilância e o acompanhamento das doenças crônicas não transmissíveis no país.

O estudo faz parte do mais amplo inquérito em saúde já feito no Brasil, a Pesquisa Nacional de Saúde. Realizada em 2013 e 2014, foi conduzida pelo Ministério da Saúde em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e a Fiocruz, por meio de seu Instituto de Comunicação e Informação em Saúde (Icict). Contou ainda com a colaboração de várias instituições de ensino e pesquisa. O levantamento visitou 69.954 domicílios e entrevistou 60.202 adultos. Desse conjunto, foi selecionada uma subamostra para a coleta de material biológico nos domicílios nos anos de 2014 e 2015. A análise dos exames de laboratório possibilitou traçar o perfil bioquímico de condições clínicas e pré-clínicas da população brasileira.

Os valores de referência podem ser influenciados por fatores populacionais e ecológicos, como idade, sexo, raça, nível socioeconômico, exposição a agentes químicos, físicos e biológicos. Por isso, devem ser diferentes entre as populações. “O Brasil é marcado pela miscigenação, com uma grande diversidade de raças, etnias, povos, segmentos sociais e econômicos. A análise dos exames de sangue e urina oferece, pela primeira vez, uma amostra representativa do país, que permitiu a obtenção de valores hematológicos de referência por sexo, grupos etários e raça/cor. “E o conhecimento de parâmetros nacionais de referência é fundamental para o estabelecimento de critérios de diagnóstico, tratamento e controle de doenças”, observou a pesquisadora da Fiocruz Célia Landmann Szwarcwald, coordenadora técnica da pesquisa.

Os resultados desses exames de laboratório possibilitam monitorar os indicadores globais da Organização Mundial de Saúde e da Organização das Nações Unidas, dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, agenda 2030, e do Plano de Enfrentamento das Doenças Crônicas no Brasil, compondo linha de base para o monitoramento de indicadores globais e do alcance de metas, tais como deter o crescimento do diabetes e das doenças cardiovasculares, reduzir o consumo de sal e diminuir a mortalidade prematura por doenças crônicas não transmissíveis.

Além de dados sobre o consumo de sal, a pesquisa traz resultados inéditos, comprovados cientificamente pela primeira vez no país, sobre diabetes, doença renal e anemias, por exemplo. Em relação aos problemas renais, o resultado é surpreendente: as estimativas de número de casos foram até quatro vezes maiores se comparadas com outras pesquisas já realizadas no país. Isso porque os estudos anteriores são em geral baseados nos relatos dos próprios doentes. Dessa forma, o levantamento sugere que há um sub diagnóstico da doença renal no país.

Consumo de sal

A pesquisa possibilitou que o consumo de sal na sociedade brasileira fosse avaliado por meio da análise de urina — o que nunca havia sido feito antes em abrangência nacional. Os dados apontam que praticamente três quartos dos brasileiros têm consumo alto de sal (mais de 8 gramas por dia), sendo maior em homens e nos mais jovens.

O estudo indica consumo elevado de forma generalizada na população brasileira, em todas as faixas etárias e níveis de escolaridade. E, por isso, lança um alerta: programas de redução de consumo devem ser desenvolvidos para atingir todas essas subcategorias, e não somente grupos específicos, como portadores de hipertensão ou doenças renais.

Dados da PNS também constataram que a percepção sobre o consumo elevado de sal é baixa entre os brasileiros: apenas 14,2% dos adultos se referiram a seu consumo como alto. O excesso de sal na alimentação está associado à hipertensão (doença que está presente em 28% dos adultos brasileiros) e às doenças cardiovasculares, destaca a pesquisadora

“O consumo excessivo de sal é um dos indicadores mais preocupantes. A redução no consumo de sal é considerada, hoje, uma das intervenções de melhor custo-efetividade para reduzir as doenças crônicas não transmissíveis, sobretudo pela possibilidade de diminuição da pressão arterial média da população. A hipertensão arterial é causa direta e indireta de várias doenças crônicas, como as cardiovasculares e a renal. A redução do sal na alimentação tem potencial para diminuir uma grande fração de mortes prematuras e aumentar, consideravelmente, a expectativa de vida saudável na população brasileira”, resume Szwarcwald.

Apenas 2,39% da amostra da pesquisa apresentaram consumo inferior a 5 gramas por dia, que é a faixa recomendada pela OMS. A ingestão de sal nesta faixa foi maior em mulheres e nos indivíduos de maior idade. A utilização muito elevada (mais de 12 gramas por dia) foi mais frequente em homens (15,7%) do que em mulheres (10,8%). No grupo com escolaridade mais alta, foi encontrada proporção menor de indivíduos com consumo superior a 12 gramas por dia (11,35%).

Dados inéditos sobre diabetes e doença renal

Segundo o levantamento, o diabetes foi identificado em 6,6% dos adultos, enquanto em 76,5% não foi encontrada qualquer alteração. Mas, considerando-se critérios simultâneos — incluindo as pessoas que referiram ter diagnóstico de diabetes e/ou fazem uso de medicamentos — a prevalência do diabetes é de 8,4%, porque esta proporção inclui as pessoas que estão com a doença controlada. Há alta prevalência do diabetes na população obesa, alcançando nível de 17%.

A pesquisa é ainda o primeiro estudo nacional a apresentar avaliação de função renal da população adulta brasileira por meio de critérios laboratoriais. Para isso, fez a dosagem de creatinina sérica e estimou a taxa de filtração glomerular (TFG), segundo variáveis sócio demográficas: índices usados para detectar doenças renais. "Os exames laboratoriais se mostram de muita relevância para identificar precocemente a doença e prevenir a progressão da lesão renal e a mortalidade prematura”, destacou Szwarcwald.

Desigualdades na saúde bucal e paradoxos na alimentação

Os resultados dos exames laboratoriais da PNS foram esmiuçados no suplemento temático da Revista Brasileira de Epidemiologia, que será lançado em 26 de novembro, na Fiocruz. O suplemento contém ainda outras análises inéditas da PNS, que lançam luz ao quanto as desigualdades incidem na saúde da população.

Grandes desigualdades foram encontradas, por exemplo, na saúde bucal dos brasileiros. A perda de dentes na população com mais de 60 anos afeta mais do que o dobro as pessoas com renda per capita inferior a meio salário mínimo, em comparação às pessoas da mesma faixa etária que têm renda superior a três salários mínimos — a prevalência da doença varia de 44%, no primeiro grupo, para 20% no segundo.

A análise no perfil de alimentação dos brasileiros mostrou, por sua vez, resultados contraditórios. Quanto aos alimentos saudáveis, verificou-se melhor perfil alimentar entre brancos, pessoas com maior renda e maior grau de escolaridade, com consumo mais frequente de frutas, legumes e vegetais. Mas, paradoxalmente, os segmentos de melhor condição social foram os que apresentaram maiores prevalências quanto ao consumo de alimentos doces e substituição de refeições por sanduíches, salgados ou pizzas.

A prevalência de anemia entre adultos e idosos foi de 9,9%. Não é um número que pareça alarmante, se comparado à prevalência mundial: estima-se que 27% das populações tenham anemia. Ocorre, porém, que o estudo não usou amostras de crianças, segmento que manifesta grande risco de apresentar o problema. Os resultados dos exames, por outro lado, chamam atenção para o quanto a prevalência da anemia, em nosso país, está relacionada às iniquidades: os maiores índices e os casos mais graves ocorrem entre mulheres, idosos, pessoas de baixa escolaridade e negros. “Em relação à população idosa, as maiores prevalências de anemia nas camadas de menor nível socioeconômico são dignas de nota, indicando a necessidade de intensificar ações para prevenir e tratar a anemia entre os idosos desfavorecidos socialmente”, ressalta Szwarcwald.

Parcerias para a coleta

A coleta de material biológico (sangue e urina) nos domicílios em uma subamostra de participantes da PNS contou com a parceria do Hospital Sírio Libanês, e foi realizada em todo o país por meio do financiamento do Programa de Desenvolvimento para o Sistema Único de Saúde (Proadi-SUS), em 2014 e 2015. Os exames laboratoriais realizados com as amostras de sangue foram: hemoglobina glicada; colesterol total e frações; sorologia para dengue; hemograma série vermelha (eritograma) e série branca (leucograma); cromatografia líquida de alta eficiência (HPLC) para diagnóstico de hemoglobinopatias; creatinina. E, com as amostras casuais de urina, estimativas de excreção de potássio, sódio e creatinina.

A PNS foi aprovada pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) do Conselho Nacional de Saúde (CNS), vinculado ao Ministério da Saúde. A participação do adulto na pesquisa foi voluntária e a confidencialidade das informações foi garantida. Os participantes da pesquisa assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e autorizaram a coleta de exames laboratoriais.



Autor: Juliana Krapp (Icict/Fiocruz)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 27/11/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/brasileiros-consomem-quase-o-dobro-de-sal-sugerido-pela-oms

Editora Fiocruz conquista mais um Prêmio Abeu



Marcella Vieira/Editora Fiocruz

A Editora Fiocruz acaba de conquistar mais um Prêmio Abeu. O livro Clínica, Laboratório e Eugenia: uma história transnacional das relações Brasil-Alemanha foi o grande vencedor na categoria Ciências Sociais da quinta edição do prêmio, concedido pela Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu). A vitória foi anunciada em cerimônia realizada na última sexta-feira (22/11), em São Paulo.

Lançada em 2018, em coedição com a Editora PUC-Rio, a obra tem autoria de Pedro Muñoz, professor do Departamento de História da PUC-Rio e ex-aluno do Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde da Casa de Oswaldo Cruz (PPGHCS/COC/Fiocruz). Os segundo e terceiro lugares na categoria foram, respectivamente, os livros Joias da Floresta: antropologia do tráfico de animais, publicação da Editora da Universidade Federal de São Carlos (EdUFSCar), e Escritos de Liberdade: literatos negros, racismo e cidadania no Brasil oitocentista, da Editora da Universidade de Campinas (Unicamp).

Além da primeira colocação, a Editora Fiocruz também conquistou menção honrosa na categoria Ciências da Vida com Arquivo de um sequestro jurídico-psiquiátrico: o caso Juvenal. Escrito por Luciana Brito e lançado em 2018, o livro inaugurou a coleção Bioética e Saúde, que já conta com três obras publicadas.

Na cerimônia, a Editora Fiocruz foi representada por Cristiani Vieira Machado, vice-presidente de Educação, Informação e Comunicação (VPEIC) da Fiocruz, e João Canossa, editor executivo da Editora. Cristiani participou da entrega do prêmio da categoria Ciências Sociais Aplicadas.

Canossa recebeu o prêmio e a certificação de menção honrosa em nome dos autores, que não puderam comparecer ao evento. “Trata-se, sobretudo, da celebração do saber acadêmico, a festa de congratulação da excelência do conhecimento que este imenso Brasil produz e que suas editoras universitárias difundem. Ganha a cultura, ganham os leitores, ganha o país", ressaltou o editor executivo.

Desde 2015, a Editora Fiocruz vem marcando presença em todas as edições do Prêmio Abeu. Essa foi a quarta vez que um título da Editora foi vencedor. Em 2017, a Editora conquistou o primeiro lugar em Ciências da Vida com Brasil Saúde Amanhã: população, economia e gestão. Na edição 2016, Dengue: teorias e práticas foi primeiro colocado também em Ciências da Vida. No ano anterior, primeira edição do prêmio, Cidades Saudáveis? Alguns olhares sobre o tema ficou na primeira colocação na categoria Tecnociências.

Além dos primeiros lugares, a Editora também conquistou, em 2018, a segunda colocação na categoria Ciências Humanas com o livro Novas e Velhas Faces da Violência no Século XXI: visão da literatura brasileira do campo da saúde. Na edição 2017, em Ciências da Vida, Amamentação e Políticas para a Infância no Brasil: a atuação de Fernandes Figueira (1902-1928) ficou em segundo lugar e Tessituras do Cuidado: as condições crônicas de saúde na infância e adolescência recebeu menção honrosa. Em 2016, o segundo lugar em Ciências da Vida foi para Três Ensaios de Bioética.

Sobre 'Clínica, Laboratório e Eugenia'
Resultado de amplas pesquisas ligadas à tese de doutorado do autor, o livro traz importante contribuição para o entendimento das relações entre Brasil e Alemanha numa perspectiva histórica transnacional, que tem como foco os entrelaçamentos e a circulação do conhecimento.

Enriquecido por material levantado de fontes primárias nos dois países, o estudo investigou as relações no campo da psiquiatria, de 1900 a 1942, interrompidas pela II Guerra Mundial. Neste período, circularam no Brasil os conceitos da psiquiatria, da neurologia e da psiquiatria genética alemãs.

O resultado é um livro inovador, que enfoca o trânsito e a circulação dos cientistas em redes construídas em viagens, congressos, cursos e publicações. O autor é graduado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e em História pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – Uerj.

O doutorado de Pedro Muñoz na Fiocruz contemplou período sanduíche na Alemanha, na Freie Universität Berlin (Universidade Livre de Berlim), instituição em que ele, atualmente, desenvolve pesquisa de pós-doutorado como visiting scholar. Mesmo de longe, o autor celebrou a conquista: “Eu quero manifestar meus agradecimentos por terem apostado no meu livro. Ser finalista e vencer foi uma alegria indescritível", comemorou.

Sobre 'Arquivo de um sequestro jurídico-psiquiátrico'
Livro que inaugurou a coleção Bioética e Saúde da Editora Fiocruz, Arquivo de um sequestro jurídico-psiquiátrico analisa a história de Juvenal, homem que ficou mais tempo confinado em um manicômio judiciário no Brasil: 46 anos.

Ao analisar o dossiê de Juvenal, abandonado à espera de uma decisão oficial sobre sua experiência, banido do convívio social e do reconhecimento de direitos, a autora se debruçou sobre arquivos para realizar uma análise das práticas discursivas de saber e poder sobre o homem, revelando o funcionamento de uma "máquina de abandono que confiscou a existência de Juvenal”.

Doutora em Ciências da Saúde pela Universidade de Brasília (com período sanduíche na Universidade de Ottawa, Canadá), Luciana Brito é psicóloga e mestre em Psicologia Clínica e Cultura. A autora é também pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, organização de Brasília voltada para pesquisa, assessoramento e capacitação em bioética na América Latina.

Participação em livro sobre editoras universitárias
O evento de premiação também foi marcado pelo lançamento do livro Editoras universitárias: estratégias de gestão, organizado pela presidente da Abeu, Rita Virginia Argollo, e pela diretora de comunicação, Flávia Rosa.

 

A Editora Fiocruz contribuiu para a coletânea com o capítulo Uma nova experiência de leitura: a coleção Temas em Saúde Interativa da Editora Fiocruz. O texto tem autoria de Maria Fernanda Marques Fernandes, ex-assessora de comunicação da Editora e atualmente no Museu da Vida da COC/Fiocruz; Phelipe Gasiglia, produtor editorial; Vanessa Freitas, responsável pela área de Marketing e Eventos da Editora, e Letícia Taets, ex-bolsista do Programa de Vocação Científica (Provoc) da Fiocruz.

Sobre o prêmio
O objetivo do Prêmio Abeu é incentivar a qualificação das edições das casas editoriais universitárias, além de fomentar a produção técnico-científica em relação à excelência dos conhecimentos veiculados pelos livros e à concepção estética das obras.

A edição 2019 englobou oito categorias, sendo três finalistas em cada. A novidade deste ano foi a categoria Tradução. A lista completa dos ganhadores e as informações sobre a cerimônia de premiação podem ser acessadas no site www.abeu.org.br.



Autor: Marcella Vieira/Editora Fiocruz
Fonte: Editora Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 27/11/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/editora-fiocruz-conquista-mais-um-premio-abeu

Pesquisa sobre doenças negligenciadas é destaque em prêmio internacional


As doenças negligenciadas reúnem um grupo diversificado de agravos que prevalecem em condições tropicais e subtropicais e que afetam, principalmente, populações que vivem em situação de pobreza. Entre as mais relevantes estão as leishmanioses e a doença de Chagas, causadas respectivamente por parasitos do gênero Leishmania e pelo protozoário Trypanosoma cruzi.

Um amplo estudo liderado por pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) em busca de medicamentos alternativos para os agravos que infectam humanos e animais em todo o mundo foi classificado entre os cinco finalistas de prêmio concedido pela Rede Universal de Educação e Pesquisa Científica (USERN), na categoria Ciências Médicas. A seleção, feita pelo conselho consultivo da USERN, levou em consideração mais de mil trabalhos. Os finalistas foram homenageados no 4º Congresso da Rede USERN, em Budapeste, na Hungria.

O estudo

A limitação dos fármacos disponíveis para o tratamento é um dos principais desafios no enfrentamento às leishmanioses e à doença de Chagas. Fatores como efeitos colaterais e a baixa resposta ao tratamento dificultam a melhoria na qualidade de vida dos pacientes. Utilizando técnicas de biologia celular, os pesquisadores investigam novos alvos de medicamentos para o combate aos parasitos responsáveis pelas infecções. A estratégia tem como foco o sistema mitocondrial que tem um papel essencial nas defesas antioxidantes do microrganismo, relacionadas à susceptibilidade ou resistência aos fármacos.

Ainda em desenvolvimento, o estudo liderado pelo pesquisador Rubem Menna Barreto, do Laboratório de Biologia Celular do IOC, também identificou promissores candidatos a biomarcadores de lesões cardíacas em humanos por abordagem proteômica. A descoberta de indicadores que permitam mensurar a disfunção cardíaca é de grande importância, uma vez que esta é a mais frequente manifestação da progressão da doença de Chagas e também a principal causa de mortes pelo agravo. Visando o aumento na qualidade de vida dos pacientes, os pesquisadores avaliaram os efeitos do exercício físico na funcionalidade cardíaca de camundongos em estágio crônico.

Sobre o prêmio

O Prêmio USERN é um prêmio internacional, estabelecido pela Rede Universal de Educação e Pesquisa Científica (USERN), concedido anualmente a cientistas ou pesquisadores de todo o mundo, com menos de 40 anos de idade, por avanços ou conquistas em educação científica, pesquisa ou contribuição à humanidade em cinco campos científicos, incluindo ciências médicas, ciências da vida, ciências formais, ciências físicas e ciências sociais.

A USERN é uma organização internacional exclusivamente dedicada ao avanço da pesquisa científica e educacional. A rede não-governamental e sem fins lucrativos tem como missão fornecer infraestrutura para estimular o compartilhamento de ideias, instalações, recursos humanos, financeiros e educacionais, com o objetivo maior de promover a melhoria da vida humana.



Autor: Lucas Rocha (IOC/Fiocruz)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 27/11/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/pesquisa-sobre-doencas-negligenciadas-e-destaque-em-premio-internacional

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Energias solar e eólica representam o caminho mais seguro para descarbonizar o setor elétrico mundial

Ruy Fontes – Agência #movidos




Um novo estudo realizado por cientistas alemães mostrou que as fontes de energia solar e eólica são a melhor solução para reduzir as emissões da geração elétrica mundial.

Intitulado “Co-benefícios Ambientais e Efeitos Colaterais Desfavoráveis Para Estratégias de Descarbonização do Setor Elétrico”, o estudo foi publicado na revista Nature Communications.

Segundo seus autores, essas duas fontes de energia renováveis são mais eficientes para combater o aquecimento global ao mesmo tempo que causam os menores impactos à saúde humana.

São essas vantagens, em conjunto com a competitividade dos seus preços, que puxam o crescimento anual das fontes solar e eólica em todo o mundo.

No Brasil, por exemplo, a eólica já se consolidou como a segunda fonte de maior participação na matriz elétrica, com mais de 15 Gigawatts (GW) de capacidade.

A geração por placas solares, por sua vez, apresenta o maior crescimento anual, com destaque para a energia solar em Salvador, na Bahia, estado com maior capacidade solar do Brasil.

De acordo com o estudo, a geração de energia por fontes fósseis responde por cerca de 40% das emissões mundiais de CO2, principal causador do efeito estufa.

Além disso, é responsável também pelo uso e poluição da água, ocupação de terras, radiação ionizante e dejetos radioativos.

No entanto, os cientistas afirmam que a geração de energia é a atividade humana que apresenta os métodos de menor custo para sua descarbonização e combate à poluição.

Benefícios e Desafios das Energias Limpas

Apresentando quatro diferentes cenários de transição, o estudo mostra os benefícios e os percalços de um setor elétrico mundial descarbonizado.

Para isso, os cientistas utilizaram duas metodologias diferentes, que avaliam a integração das novas tecnologias em um cenário global e seus respectivos ciclos de vida.

O estudo analisa que a maior implantação das tecnologias limpas, em especial a solar, exigiria o maior uso de recursos minerais.

No entanto, diferentemente do seu uso nas tecnologias de geração por fontes fósseis, esses materiais seriam passíveis de reciclagem ao fim de sua vida útil, apontam os cientistas.

Desta forma, eles sugerem que uma transição global elétrica de baixo carbono baseada nessas tecnologias seja muito bem alinhada a uma estratégia integrada do uso desses materiais.

O uso de terras, por outro lado, poderia ser poupado com as tecnologias solar e eólica, que demandam menos espaço que outras tecnologias, como no cultivo para a Biomassa.

A energia do sol e do vento também libera menos substâncias químicas do que outras fontes tradicionais e renováveis, como na produção do biocombustível, afirmou o estudo.

No melhor cenário de transição traçado pelos cientistas, seriam 30% a menos dessas substâncias lançadas ao Meio Ambiente do que no pior cenário.

Outro recurso vital que seria poupado com a expansão das fontes solar e eólica seria a água, utilizada nessas tecnologias em bem menos quantidade do que a Nuclear ou Bioenergia.

O documento conclui que o cenário de maior transição para essas fontes limpas apresenta os níveis mais altos de redução de emissões aliados à maior qualidade de vida humana.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/11/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/11/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/11/27/energias-solar-e-eolica-representam-o-caminho-mais-seguro-para-descarbonizar-o-setor-eletrico-mundial/

Estudo revela a importância de levar em consideração os impactos climáticos da água no planejamento da rede elétrica


Foto: EBC
A confiabilidade da rede sob as mudanças climáticas pode exigir mais capacidade de geração de energia do que o estimado


Os pesquisadores criaram uma nova abordagem de modelagem que explica os impactos do clima e da água no desenvolvimento da infraestrutura elétrica.


A nova análise compara os resultados com as abordagens de modelagem tradicionais que podem ou não considerar os impactos climáticos, revelando que a rede elétrica dos EUA pode precisar de mais capacidade do que se pensava para se adaptar às futuras condições climáticas da água.


As adaptações incluem construção adicional de gás natural e renovável e, junto com as compensações regionais da geração de eletricidade, levam a menor uso de água e emissões de carbono, potencialmente ajudando a mitigar as mudanças climáticas

Uma nova análise de pesquisadores de laboratórios nacionais e universitários aplicou uma nova abordagem de modelagem para o planejamento de infraestrutura de geração de eletricidade a longo prazo, que considera as condições futuras do clima e dos recursos hídricos. Comparado às projeções tradicionais, que não consideram os impactos climáticos da água na geração de eletricidade, os resultados dessa nova abordagem mostram que a rede elétrica nacional pode precisar de 5,3% a 12% adicionais da capacidade de geração de energia para atender aos requisitos de demanda e confiabilidade. As mudanças reduziriam o uso da água e as emissões de carbono, potencialmente ajudando a mitigar futuras mudanças climáticas.

A atual rede norte-americana depende fortemente de usinas termelétricas que usam carvão, nuclear e gás natural; estes são afetados por temperaturas ambientes quentes e precisam de grandes quantidades de água para fins de resfriamento. Fontes de energia renováveis, como energia solar fotovoltaica e eólica, requerem quantidades mínimas de água para operação, pois não precisam de refrigeração, mas essas tecnologias desempenham um papel muito menor na geração de energia na rede elétrica atual. As diferenças regionais na configuração e desenvolvimento da rede elétrica até o ano 2050, juntamente com as mudanças na disponibilidade de água e clima, sugerem que algumas regiões podem enfrentar desafios de confiabilidade de energia.

Com o estudo, os pesquisadores fizeram quatro perguntas:


Como as condições futuras do clima e dos recursos hídricos afetarão quatro cenários de infraestrutura de eletricidade?


Como o novo método de modelagem dos impactos climáticos da água na geração de eletricidade se compara aos esforços anteriores?


Que tipos de opções tecnológicas seriam necessários para se adaptar às condições climáticas futuras da água e atender a níveis confiáveis ​​de geração de eletricidade?


Quais são as implicações econômicas e ambientais resultantes?

Para responder a essas perguntas, a equipe de pesquisa primeiro simulou cenários de expansão de capacidade para quatro misturas de eletricidade, favorecendo diferentes tipos de tecnologia (carvão, nuclear, solar e negócios como de costume) sem considerar os impactos climáticos da água.

Essas projeções para o ano de 2050 forneceram um entendimento básico dos resultados usando as atuais abordagens de expansão de capacidade. Para o próximo passo, os pesquisadores levaram em consideração os impactos climáticos da água em cada mix de eletricidade.

Essa abordagem permitiu avaliar seu efeito em diferentes tipos de sistemas e elucidar possíveis etapas de adaptação necessárias para que cada um atendesse às demandas de energia. Sua análise constatou que as margens de reserva de capacidade caem abaixo de certos níveis de confiabilidade quando as projeções de capacidade não são responsáveis ​​pelos impactos climáticos da água ou quando tentam mas não incluem verificações de viabilidade.

Referência:

Ariel Miara, Stuart M. Cohen, Jordan Macknick, Charles J. Vörösmarty, Fabio Corsi, Yinong Sun, Vincent C. Tidwell, Robin Newmark, Balazs M. Fekete. Climate-Water Adaptation for Future US Electricity Infrastructure. Environmental Science & Technology, 2019; DOI: 10.1021/acs.est.9b03037

https://doi.org/10.1021/acs.est.9b03037


Por Henrique Cortez, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/11/2019



Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/11/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/11/27/estudo-revela-a-importancia-de-levar-em-consideracao-os-impactos-climaticos-da-agua-no-planejamento-da-rede-eletrica/

O assassinato arquitetônico do CRUSP, artigo de Álvaro Rodrigues dos Santos


CRUSP. Foto: USP


O ASSASSINATO ARQUITETÔNICO DO CRUSP
Geol. Álvaro Rodrigues dos Santos (santosalvaro@uol.com.br)
Morador do CRUSP do final de 1964 a 1968 – apto 602 E

1 – Introdução

O CRUSP – Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo situa-se no Campus da
Cidade Universitária, Bairro do Butantã, na capital paulista.

Representou, desde sua concepção arquitetônica original, a mais ousada e inspirada experiência de oferecimento de moradia a estudantes que dela necessitasse por sua condição econômica e social e por seu distanciamento de sua cidade de origem.

Abrigando cerca de 2000 estudantes em seus diversos blocos o CRUSP propiciou, em especial durante seu período inicial, entre 1963 e 17 de dezembro de 1968, data da invasão militar que culminou na triste e definitiva diáspora dos cruspianos, uma pioneira, única e riquíssima experiência existencial a seus moradores e frequentadores.

Estudantes dos mais diversos cursos universitários, dos mais diversos locais de origem (no país e no exterior), das mais diversas visões de mundo, valores individuais e culturas familiares, expressando o verdadeiro espírito “universitário”, integraram-se fraternalmente conformando uma nova cultura de vivência coletiva, criando hábitos, costumes, inovando permanentemente em formas de rica coexistência, superando dificuldades e carências logísticas e materiais, tendo como fator unificador a percepção do CRUSP como seu novo lar e o espírito de apoio mútuo, de profundo sentido comunitário, como elemento comum em suas inter-relações.

O CRUSP em sua fase inicial, 63-68, marcou profundamente a vida pessoal e profissional de seus moradores e frequentadores. Mesmo entre aqueles que hoje optam por diferentes opiniões sobre os mais diversos assuntos, há algo maior que os une, e esse algo maior foi a maravilhosa experiência existencial vivida enquanto cruspianos. Do ponto de vista profissional o fato dessa vivência ter proporcionado a proximidade de uma enorme diversidade de especializações, juntando em um mesmo convívio estudantes de engenharia, direito, geologia, geografia, história, ciências humanas, economia, arquitetura, biologia, medicina, odontologia, etc., revelou em uma rica prática os incríveis ganhos trazidos por uma visão interdisciplinar das questões profissionais colocadas a cada um no exercício de suas carreiras.

Bem, toda essa riqueza existencial foi em grande parte induzida pela concepção arquitetônica original do CRUSP, marcada pela amplidão dos espaços, pela profusão de espaços de convivência, pelo desenho dos apartamentos; enfim, pelo sentido de
amplidão/liberdade e vida colaborativa a que o projeto original se propôs.

** Para ler ou fazer o download do artigo na íntegra, no formato PDF, clique no link 191127_O ASSASSINATO ARQUITETÔNICO DO CRUSP (1)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/11/2019



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/11/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/11/27/o-assassinato-arquitetonico-do-crusp-artigo-de-alvaro-rodrigues-dos-santos/

Geração Distribuída: retomada de discussões geram incertezas no setor de energia renováveis, artigo de Mariana de Meira Todeschini




Em 15 de outubro, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) aprovou a realização de consulta pública de nº 026/2019, que trata sobre a proposta de taxação do sistema de compensação de energia elétrica decorrente da Geração Distribuída (GD). Tal consulta provocou inúmeras críticas da sociedade e reacendeu os debates sobre a geração de energia elétrica distribuída no país, que, desde a Resolução Normativa nº 482/2012 da ANEEL, revisada em 2015, apresenta incentivos ao crescimento do setor de energia renováveis.

Mas antes de comentar a cobrança proposta pela ANEEL, importante esclarecer a sistemática de compensação de energia elétrica atualmente vigente, que prevê a instalação de centrais sustentáveis de mini ou microgeração distribuída de energia elétrica (fonte solar, biomassa, eólica e cogeração qualificada, por exemplo) e o acesso à rede de distribuição das concessionárias através de unidades consumidoras.

Pela sistemática atual, a energia elétrica gerada por uma unidade consumidora com mini ou microgeração de energia, que exceda o próprio consumo, será cedida, mediante empréstimo gratuito, à Companhia Distribuidora local, para posterior compensação através do consumo de energia elétrica pela própria unidade ou por outras unidades previamente registradas, com possibilidade de geração de créditos energéticos com validade de 60 meses. Em outras palavras, a partir da instalação de placas solares em um edifício residencial, por exemplo, a energia solar gerada de dia que exceda o consumo simultâneo da unidade condominial será injetada na rede de distribuição para o posterior consumo à noite, tanto da própria unidade quanto das unidades particulares de cada morador (previamente registradas para este fim).

A ANEEL permite a utilização do sistema de compensação por meio de 3 modalidades: (i) Autoconsumo Remoto, caracterizado pela geração e consumo de energia elétrica por unidades consumidoras de titularidade de uma mesma Pessoa Jurídica, incluídas matriz e filial, ou Pessoa Física; (ii) Empreendimento com Múltiplas Unidades Consumidoras, caracterizado pela utilização da energia elétrica de forma independente, no qual cada fração com uso individualizado constitua uma unidade consumidora e as instalações para atendimento das áreas de uso comum constituam uma unidade consumidora distinta, de responsabilidade do condomínio, da administração ou do proprietário do empreendimento, com micro ou minigeração distribuída, e desde que as unidades consumidoras estejam localizadas em uma mesma propriedade ou em propriedades contíguas; e (iii) Geração Compartilhada, caracterizada pela reunião de consumidores, dentro da mesma área de concessão ou permissão, que possua unidade consumidora com microgeração ou minigeração distribuída em local diferente das unidades consumidoras nas quais a energia excedente será compensada.

Para o aproveitamento do sistema de compensação pelas modalidades de Empreendimento com Múltiplas Unidades Consumidoras e Geração Compartilhada, a ANEEL estabelece que devem ser observadas, especificamente, a natureza jurídica de Condomínio e Consórcio ou Cooperativa, sendo que caberá à Companhia Distribuidora local analisar o ato constitutivo do Condomínio, do Consórcio e da Cooperativa apresentado pelo consumidor, no intuito de comprovar a adequação do documento à legislação específica, não podendo ser aceito outro arranjo jurídico na modalidade de geração distribuída.

Importante destacar que a ANEEL veda, taxativamente, o aluguel ou arrendamento do terreno, lote ou propriedade que se encontra a central geradora da energia elétrica em condições nas quais o valor do aluguel ou do arrendamento se dê em reais por unidade de energia elétrica. De tal regra, cumulada com a exigência de validação do ato pela Companhia Distribuidora, decorre a importância de que os instrumentos jurídicos utilizados para a implementação do sistema de compensação sejam realizados por profissionais com experiência no segmento, com objetivo de diminuir o risco de o investimento realizado ser infrutífero na etapa final de registro.

Apresentada a sistemática atual de compensação de energia elétrica, bem como as exigências jurídicas relacionadas, que por si só demandam a atenção redobrada dos consumidores, o setor de energias renováveis terá que se atentar para a possível revisão do sistema de compensação, visto que a ANEEL, por meio de consulta pública, pretende rever as regras que tratam da geração distribuída, cujo prazo para contribuição da sociedade finaliza em 30 de dezembro.

Pela proposta da ANEEL, o consumidor que detenha mini ou microgeração de energia passará a ser cobrado pelo uso da rede elétrica, que hoje se dá a título gratuito, e por demais encargos presentes na conta de luz.

A proposta de taxação gerou inúmeras manifestações e críticas da sociedade e do setor, inclusive da Comissão de Infraestrutura do Senado, que no dia 31 de outubro realizou audiência pública interativa para debater a possibilidade de geração, distribuição e taxação no setor solar fotovoltaico e demais fontes renováveis de energia; e da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados, que no dia 30 de outubro discutiu o tema. Em ambas as comissões, os senadores e deputados consideraram que a proposta da ANEEL pode inviabilizar o crescimento da geração distribuída no país, pelo que defenderam a manutenção dos incentivos à produção de energia solar.

Diante das inúmeras discussões, o diretor da ANEEL e relator do tema, Rodrigo Limp, propôs recentemente a prorrogação do prazo da consulta por mais 30 dias. A prorrogação foi aprovada pelos demais diretores na Reunião Pública Ordinária da diretoria colegiada da ANEEL e divulgada no dia 19 de novembro. O prazo anterior da consulta se encerraria no dia 30/11.

A taxação pelo uso da rede elétrica no sistema de compensação reduzirá a vantagem econômica que o consumidor alcança na instalação da mini ou microgeração distribuída, ao passo que a cobrança refletirá no aumento proporcional do período de recuperação do investimento assumido para a instalação de um sistema solar fotovoltaico, por exemplo. Ou seja, pela perspectiva do consumidor final, a economia na conta de luz poderá não ser mais tão atrativa em comparação ao custo assumido para a instalação de geradores de energias renováveis.

Diante das críticas levantadas pelo governo e pela sociedade, resta a apreensão dos consumidores quanto à possível taxação, bem como quanto aos impactos negativos que a revisão do sistema pode causar no setor de energia renováveis no país, que, apesar do evidente crescimento, ainda se encontra em fase inicial.

Mariana de Meira Todeschini, Advogada da Área Corporativa do escritório do Marins Bertoldi.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/11/2019



Autor: Mariana de Meira Todeschini
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/11/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/11/27/geracao-distribuida-retomada-de-discussoes-geram-incertezas-no-setor-de-energia-renovaveis-artigo-de-mariana-de-meira-todeschini/

Desafios da COP25 e a Greve do Clima 29 de novembro de 2019, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

“Vocês não estão fazendo o suficiente” Greta Thunberg
“Não precisamos de oração, precisamos de ação” Paloma Costa





A Cúpula da Ação Climática da ONU, ocorrida em Nova York, entre os dias 21 e 23 de setembro de 2019, foi precedida pelas maiores manifestações populares contra a crise ambiental. Mais de 4 milhões de jovens (com participação de adultos e idosos) chamaram a atenção para a Emergência Climática e ocuparam as ruas e praças de milhares de cidades em todo o mundo, na sexta-feira, 20 de setembro. Somando as manifestações da sexta-feira seguinte, dia 27/09, foram mais de 7 milhões de pessoas nas ruas, na maior revolta planetária da história.

Diante dos protestos pelo clima que se espalham pelos quatro cantos do mundo, o dicionário Collins elegeu “greve do clima” como a expressão do ano em 2019, observando que o uso do termo aumentou mais de 100 vezes em relação a anos anteriores. Outro dicionário, um dos principais de língua inglesa no mundo, o Oxford, elegeu o termo “emergência climática” como a sua palavra do ano de 2019. A publicação britânica define a expressão como “uma situação em que é necessária ação urgente para reduzir ou interromper a mudança climática e evitar danos ambientais potencialmente irreversíveis”. Portanto, os jovens estão influindo até nos dicionários.

As novas gerações buscam, com urgência, um compromisso das autoridades internacionais para evitar um colapso ecológico provocado pelo crescimento exponencial das atividades antrópicas. Uma Terra quente, inóspita e inabitável tornará a vida inviável num futuro não muito distante. Na trajetória atual, os sistemas planetário e civilizacional podem atingir um ponto de não retorno até meados do século.

Uma questão chave é manter a temperatura abaixo de 1,5º C, ou no máximo dos 2º C, de acordo com o que foi consensuado no Acordo de Paris, de 2015. Estes limites já são arriscados, mas ultrapassar estes números pode ter consequências imprevisíveis e irremediáveis. Para tanto é preciso não só reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE), mas diminuir em um ritmo consistente, pois a mudança climática é o principal desafio de nosso tempo.

A ONU – juntamente com o Grupo Consultivo de Ciência da Cúpula de Ação Climática – preparou um relatório síntese (“United in Science”) com os mais recentes dados críticos e descobertas científicas sobre a crise climática, divulgado durante a Cúpula de Nova York. Caso as tendências atuais de CO2 e outras emissões de gases de efeito estufa continuarem na próxima década (ver figura acima), a temperatura global média da Terra pode aquecer até 5º C acima daquela do período pré-industrial, o que provocaria um apocalipse ecológico.

Mesmo no caso do cumprimento das metas (NDCs) do Acordo de Paris, a temperatura poderá chegar a 2,9º a 3,4º C até 2100, o que teria um impacto de provocar grandes danos. Para manter a temperatura média abaixo do limite preferencial de 1,5º C seria necessário ações rápidas e globais, sem precedentes na história da humanidade. As emissões deveriam cair rapidamente na próxima década e chegar a emissões líquidas zero em 2050.

Mas apesar das palavras inflamadas do secretário-geral da ONU, António Guterres, e da ativista climática Greta Thunberg, as promessas feitas na Cúpula de Nova York não representaram nenhum tipo de revolução climática. Mais de 70 países se comprometeram com o objetivo de se tornar neutro em termos de clima até 2050 – uma das metas estabelecidas para a Cúpula do Clima, porém, os maiores poluidores nada apresentaram de novo.

A União Europeia, que se considera uma líder climática global e tem conseguido reduzir as emissões de CO2, apresenta dificuldade para fazer a promessa de neutralidade climática até meados do século, pois quatro de seus 28 países membros bloquearam a iniciativa, com medo do custo econômico de um corte rápido nas emissões.

A China, o maior emissor de dióxido de carbono do mundo, mesmo investindo muito em energias renováveis, não fez novas promessas em Nova York. Narendra Modi dobrou os planos da Índia de expandir a energia renovável, mas não prometeu reduzir o consumo de carvão e se tornar neutro nas emissões de carbono. Os Estados Unidos nem participaram da Cúpula e o presidente Trump já disse que deseja sair do Acordo de Paris. A Rússia disse que ratificaria o Acordo de Paris, mas não determinou nenhum corte de emissões. O Brasil também não participou da Cúpula e nem deve cumprir as metas voluntárias que apresentou, em 2015, em Paris (enquanto o desmatamento e as queimadas da Amazônia batem recordes da década).

Mas a própria ONU Meio Ambiente mostra que o mundo está fazendo exatamente o oposto do que deveria. Apesar dos avisos nos relatórios anuais da UNEP, as emissões de gases de efeito estufa cresceram a uma média de 1,6% ao ano entre 2008 e 2017. As emissões globais são agora quase exatamente o que os primeiros relatórios projetavam para 2020 se o mundo não alterasse seus modelos de crescimento insustentáveis e poluentes. Com as políticas atuais em vigor, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3,5°C neste século, em comparação com os níveis pré-industriais. Se as temperaturas mais quentes se concretizarem, todas as previsões de impactos climáticos catastróficos se tornarão realidade, tornando mais prováveis o colapso ambiental e civilizacional.

O gráfico abaixo, da ONU Meio Ambiente (UNEP, 2019), mostra o hiato (gap) existente para reduzir as emissões e se atingir as metas do Acordo de Paris. O hiato é estimado como a diferença entre o nível global projetado em 2030, com a plena implementação das Contribuições Nacionalmente Determinada (NDCs). Ou seja, as projeções científicas indicam que o ritmo atual não é consistente com a limitando do aumento da temperatura global em 2100 para abaixo de 2º C e 1,5º C, respectivamente.






Os líderes mundiais continuam apresentando palavras bonitas, mas pouco ação para evitar o aquecimento global catastrófico. Desta forma, as jovens gerações da contemporalidade estão se sentindo traídas pela falta de ação para evitar o colapso ambiental, como reflete as palavras indignadas da adolescente Greta Thunberg durante a Cúpula da Ação Climática: “Está tudo errado (…) Pessoas estão morrendo. Ecossistemas inteiros estão entrando em colapso. Estamos no início de uma extinção em massa. E tudo o que vocês podem falar é sobre dinheiro e sobre o conto de fadas do eterno crescimento econômico. Como vocês se atrevem!”

Portanto, a maioria das promessas de redução de emissão de carbono para 2030, que os 184 países fizeram no Acordo de Paris, não são suficientes para manter o aquecimento global bem abaixo dos 2 graus Celsius. Alguns países não cumprem nem as suas promessas feitas de forma voluntária, sendo que alguns dos maiores emissores de carbono do mundo continuarão aumentando suas emissões.

O relatório “The truth behind the climate pledges” (2019), mostra que a maioria dos países do mundo não estão no caminho de cumprir as metas de redução das emissões necessárias para não estourar o “Orçamento de Carbono”. O relatório alerta que não reduzir as emissões de CO2 custará ao mundo um mínimo de US$ 2 bilhões por dia em perdas econômicas devido a eventos climáticos agravados pelas mudanças climáticas antropogênicas. Além disso, eventos e padrões climáticos afetarão a saúde humana, meios de subsistência, comida e água, além da biodiversidade.

Robert Watson, ex-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas e coautor do relatório que examinou de perto as 184 promessas voluntárias sob a Acordo de Paris disse: “Os países precisam dobrar e triplicar seus compromissos de redução de 2030 para se alinhar à meta de Paris. Mas na direção contrária, no dia 05 de novembro, o governo Trump enviou um pedido formal para retirar oficialmente os Estados Unidos do Acordo de Paris.

A análise feita no relatório das 184 promessas para 2030 revelou que quase 75% são insuficientes, conforme mostra a figura abaixo.
De fato, os primeiro e quarto maiores emissores do mundo, China e Índia, terão maiores emissões em 2030. Os EUA são o segundo maior e seu compromisso é muito baixo. Também está em dúvida, dada a retirada do governo Trump do acordo.






As emissões dos 4 maiores poluidores do mundo respondem por 56% das emissões globais: China (26,8%), EUA (13,1%), União Europeia – 28 países (9%) e Índia (7%). A análise da NDCs mostra que:

A China – disparado o maior emissor de CO2 – prometeu reduzir a intensidade de carbono em 60-65% de 2005 a 2030 – mas como o PIB vai mais do que triplicar no período, o resultado vai ser o aumento das emissões absolutas de CO2 (as emissões já aumentaram em 80% entre 2005 e 2018 e vão continuar aumentando).

Os EUA – o segundo maior poluidor – se comprometeu a reduzir as emissões em 26-28% de 2005 a 2025. Mas estas metas estão em risco com as medidas adotadas pelo governo Trump. A União Europeia prometeu reduzir as emissões em 40% até 2030, em relação a 1990 e estão no caminho de conseguir e efetivar a meta.

Entre os maiores poluidores, a Índia possui as menores emissões per capita, mas também é aquele que apresenta a maior velocidade do crescimento das emissões. A promessas da Índia são reduzir a intensidade das emissões em relação ao PIB em 30-35% de 2005 a 2030. Mas isto significa, assim como a China, a continuidade do aumento das emissões absolutas.

A Rússia, o quinto maior emissor, sequer apresentou metas para reduzir as emissões. Das promessas dos 152 países restantes, 126 estão parcialmente ou totalmente dependentes da ajuda internacional, em termos financeiros, tecnológicos e de implementação. Em síntese, pelo menos 130 nações, incluindo os 4 ou 5 maiores poluidores, não estão no caminho de reduzir as emissões em 50% até 2030, conforme acordado em Paris, para manter a temperatura abaixo de 1,5º C acima dos níveis pré-industriais.

Estimativas do Observatório do Clima (OC), com base nos dados do SEEG (Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa), mostram que o Brasil não deverá cumprir nem mesmo a generosa meta que se impôs para 2020 na Política Nacional sobre Mudança do Clima. E não tem nem mesmo os instrumentos de governança para cumprir com o que se comprometeu para 2025 no Acordo de Paris. Dados do SEEG 7, lançados dia 06/11/2019, em Recife, mostram que moradores de oito Estados brasileiros emitem mais gases de efeito estufa do que um cidadão americano médio. São os habitantes dos Estados amazônicos (exceto Maranhão e Amapá), cujas emissões per capita ultrapassam as 18 toneladas por ano emitidas nos EUA por causa do desmatamento, e de Mato Grosso do Sul, que tem emissões altas devido à agricultura e ao rebanho bovino. No Brasil, o recordista em emissões per capita é Mato Grosso, com 85 toneladas/habitante/ano em 2018. Ou seja, o Brasil é um grande poluidor e não está fazendo o dever de casa.

Estes são assuntos que deveriam ser discutidos na 25ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (COP25), aquela que deveria ter sido realizada no Brasil, mas não teve apoio governamental, foi transferida para o Chile, mas foi cancelada na última hora devido às manifestações populares e foi confirmada, nas pressas, para a Espanha, no início de dezembro de 2019. O mundo está na emergência climática e nem consegue bem organizar uma COP. Mas a emergência climática não espera, continua e se agrava.

Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado dia 25/11/2019, mostra que a concentração na atmosfera de gases que provocam o efeito estufa e causam o aquecimento global bateu recorde em 2018, aumentando mais rápido do que a média registrada na última década. Segundo Petteri Taalas, secretário-geral da OMM: “Não há sinais de uma desaceleração, muito menos de uma diminuição, na concentração de gases do efeito estufa na atmosfera, apesar de todos os compromissos assumidos no âmbito do Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas. Essa tendência contínua de longo prazo significa que as gerações futuras terão que enfrentar impactos cada vez mais graves das mudanças climáticas, incluindo aumento de temperatura, clima mais extremo, estresse hídrico, aumento do nível do mar e perturbação de ecossistemas marítimos e terrestres”.

Exatamente por tudo isto é que mais de 11 mil cientistas de todo o mundo alertaram, de maneira reiterada, que estamos enfrentando uma emergência climática. O manifesto diz que os cientistas têm a obrigação moral de alertar claramente a humanidade sobre uma possível catástrofe que pode provocar “sofrimento humano incalculável”.

São as crianças e as futuras gerações que vão mais sofrer com a crise climática. Por isto mesmo, a grande novidade da contemporalidade é o movimento global da juventude que exige ações imediatas e não mais procrastinações e discursos demagógicos.

Depois das grandes mobilizações de setembro de 2019 (com mais de 7,5 milhões de jovens e outras pessoas nas demonstrações públicas) a juventude está voltando às ruas no dia 29 de novembro de 2019 e no dia 06 de dezembro, paralelamente à realização da COP25.

Em vez de ir às compras na “Black Friday”, para incentivar o consumismo, o melhor é ir para as ruas no dia 29/11 para protestar contra o agravamento da crise ambiental e do caos climático. A sociedade humana já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta e precisa reduzir o padrão de produção e consumo insustentáveis, especialmente reduzir a queima de combustíveis fósseis.

Como disse Jem Bendell: “A mudança climática é agora uma emergência planetária que representa uma ameaça existencial para a humanidade”. Somente um grande movimento popular pode pressionar as autoridades nacionais e internacionais para redirecionar os rumos da economia internacional e o estilo de produção e consumo, reduzindo a pegada ecológica da humanidade.

José Eustáquio Diniz Alves
Colunista do EcoDebate.
Doutor em demografia, link do CV Lattes: http://lattes.cnpq.br/2003298427606382



Referências:
Robert Watson et. al. The truth behind the climate pledges, Universal Ecological Fund (FEU-US), 2019 https://drive.google.com/file/d/1nFx8UKTyjEteYO87-x06mVEkTs6RSPBi/view

WILLIAM J RIPPLE, et. al. World Scientists’ Warning of a Climate Emergency, BioScience, 05/11/2019
https://academic.oup.com/bioscience/advance-article/doi/10.1093/biosci/biz088/5610806

UNEP. Lessons from a decade of emissions gap assessments, UNEP, 2019
https://wedocs.unep.org/bitstream/handle/20.500.11822/30022/EGR10.pdf?sequence=1&isAllowed=y

OC. Brasil não deve cumprir nem meta menos ambiciosa no clima, OC, 01/10/2019
http://www.observatoriodoclima.eco.br/brasil-nao-deve-cumprir-nem-meta-menos-ambiciosa-no-clima/



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/11/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/11/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/11/27/desafios-da-cop25-e-a-greve-do-clima-29-de-novembro-de-2019-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

terça-feira, 26 de novembro de 2019

Mitos e Verdades sobre a doação de sangue

Todos os anos, em 25 de novembro, é comemorado no Brasil o Dia do Doador Voluntário de Sangue. A data visa informar e conscientizar a população sobre a importância de ser doador. Além disso, serve para homenagear todas as pessoas que investem um tempo do seu dia para através da doação, contribuir com a saúde dos outros que precisam de sangue, inclusive para sobreviver.

Segundo dados publicados pelo Ministério da Saúde (MS) em junho deste ano, 16 a cada mil habitantes doam sangue no Brasil, percentual que corresponde a 1,6% da população brasileira – dentro dos parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS), que indica como desejável que 1% a 3% da população de cada país seja doadora. Apesar de o país ter um número estável de doações, o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz) reforça a promoção da doação de sangue, pois, só através das doações voluntárias regulares pode ser garantida a disponibilidade de sangue para quem precisar, nos estoques das unidades de saúde em todo o Brasil.

Conforme informado pelo serviço de Hemoterapia do IFF/Fiocruz, entre janeiro e outubro de 2019 foram realizadas um total de 447 transfusões de sangue só na instituição. No mesmo período o Instituto encaminhou 287 possíveis doadores para o Hemocentro coordenador do Estado do Rio de Janeiro (Hemorio), e coletou 227 bolsas de sangue, sendo que o índice de reposição de hemocomponentes recebidos nesse período na instituição foi de 52,91%, percentual muito baixo considerando que é quase a metade do sangue usado. Por essa razão é essencial aproveitar a data para incentivar o público a se tornar doador voluntário, pois se não é possível repor o estoque utilizado, poderia haver prejuízo da assistência adequada.

Confira mitos e verdades sobre a doação de sangue. No caso de dúvidas, o Disque Sangue está disponível de segunda a sexta-feira, exceto feriados, das 7h às 17h, através do: 0800 282 0708

Embora hoje, talvez a maioria da população conheça a importância da doação de sangue, ainda são muitos os mitos que afastam as pessoas do ato de doar. Por isso, abaixo a cocoordenadora de Hemoterapia do IFF/Fiocruz, Maria Cristina Pessoa dos Santos esclareceu o que é mito e o que é verdade quando se fala deste assunto:

Doar pode prejudicar a saúde do doador (M)
MCP: Após uma doação, o sangue tende a voltar ao normal rapidamente e, portanto, não há fraqueza. O volume de sangue coletado é baseado no peso e na altura do doador. Além disso, o organismo repõe todo o volume de sangue doado nas primeiras 24 horas após a doação.

Só podem doar sangue maiores de idade (M)
MCP: Adolescentes de 16 e 17 anos podem doar sangue. Fisicamente eles já estão aptos para doar sangue, desde que cumpram todos os requisitos básicos para doação, mas por serem menores de 18 anos, precisam de autorização dos pais ou responsável.

Pessoas com menos de 50 kg não podem doar (V)
MCP: O peso do voluntário deve ser a partir de 50 quilos.

Idosos não podem doar sangue (V)
MCP: Em 2013, houve aumento na idade máxima dos doadores de sangue pelo Ministério da Saúde. Atualmente, pessoas entre 16 e 69 anos podem realizar o ato de doação.

Doar engorda (M)
MCP: Não engorda nem emagrece. O volume de liquido é reposto em 24 horas.

O doador não tem risco de contagio de doenças (V)
MCP: Verdade, pois todo o material utilizado é descartável, não há contato com sangue de outra pessoa.

Não posso doar sangue após ter sido vacinado (V)
MCP: É recomendado levar a carteira de vacinação no dia da doação. Vacinas para hepatite B, impedem a doação por 48 horas. Já a vacina da influenza (gripe) impede a doação por quatro semanas.

Quem teve dengue nunca mais pode doar sangue (M)
MCP: Mentira. O organismo cria anticorpos contra as infecções virais e com isso o virus é neutralizado. Há um período de quarentena de um mês entre a infecção e a liberação para a doação. No caso de dengue hemorrágica, o período é de seis meses.

O doador não vai sentir falta desse sangue no seu corpo (V)
MCP: A reposição do volume de plasma ocorre em 24 horas e a dos glóbulos vermelhos em 4 semanas. Entretanto, para o organismo atingir o mesmo nível de estoque de ferro que apresentava antes da doação, são necessárias 8 semanas para os homens e 12 semanas para as mulheres.

Mulheres não pode doar sangue durante a menstruação (M)
MCP: A perda de sangue que ocorre durante a menstruação é uma perda prevista pelo corpo da mulher e seu organismo está adaptado a fazer a reposição necessária. Em cada doação de sangue são coletados em torno de 450 mL de sangue, o que corresponde menos de 10% do total de volume sanguíneo. Essas células sanguíneas doadas são repostas pelo organismo ao longo do tempo e não fará falta no desempenho das funções metabólicas da pessoa que doou. Por isso, a doação de sangue durante o período menstrual não apresenta nenhum risco à saúde da mulher. A candidata será avaliada em uma triagem que avaliará se o hematócrito está bom para a doação.

Doar sangue é um processo rápido, não é demorado (V)
MCP: Em média, na primeira doação, do momento em que doador entra no banco de sangue até o fim de todos os procedimentos, ele gasta em torno de duas horas. Nas próximas vezes, o tempo gasto é entre 60-75 minutos.

Quem tem piercing e tatuagem não pode doar (M)
MCP: Apenas pessoas com piercing na boca não podem doar sangue pois a boca está mais receptiva a infecções. Elas só estão aptas a doar 12 meses após a retirada. Pessoas que fizeram tatuagem, maquiagem definitiva e outros processos com perfuração da pele devem esperar 12 meses para voltar a doar sangue.

Mulheres grávidas ou que estejam amamentando não devem doar (V)
MCP: As lactantes devem aguardar 12 meses após o parto. E no período pós-parto, a mulher poderá ser doadora após 90 dias, em casos de parto normal e 180 dias em cesárias.

É preciso não ingerir alcoólicos antes de doar sangue (V)
MCP: Para doar sangue é preciso que você não tenha ingerido álcool nas últimas 12 horas.

Torne-se voluntário
Doar sangue é um ato de solidariedade que ajuda a salvar milhares de vidas através das transfusões de sangue. Os interessados em se tornar doadores voluntários no Rio de Janeiro podem ligar para o Disque Sangue: 0800-2820708 ou acessar o site do Hemorio para mais informações.



Autor: Mayra Malavé Malavé
Fonte: IFF/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 25/11/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/mitos-e-verdades-sobre-doacao-de-sangue

Eventos destacam cultura, direitos e a saúde dos povos indígenas

Na quarta-feira, dia 27 de novembro, o Grupo de Pesquisa Ambiente, Diversidade e Saúde, do departamento de Endemias Samuel Pessoa da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), promoverá duas atividades para divulgar a cultura, os direitos e a saúde dos povos indígenas do Brasil. A primeira delas, marcada para 9h, na Tenda da Ciência, exibirá o documentário Mboraihu: O espírito que nos une. Mais tarde, às 14h, o debate continuará no Ceensp O bem viver e a resiliência dos povos indígenas no cuidado com a Amazônia, no auditório térreo da Ensp. As atividades são abertas aos interessados.

A exibição do documentário, na Tenda da Ciência Virgínia Schall, receberá Ismael Morel, da Associação Jovens Indígenas Guarani-Kaiowá em Ação, Islândia Carvalho, da Fiocruz Pernambuco, Ida Kolte, da St George’s University of London, e Davilson Brasileiro, da Base Um Produções. O evento será coordenado por Paulo Basta, da Ensp. No encontro, também haverá uma roda de conversa e apresentação cultural do grupo Arandu, do Povo Guarani-Kaiowá.

Às 14h, o Ceensp contará com participação da Iolanda Peraira da Silva, do Povo Macuxi; Michel Oliveira Baré Tikuna, do Povo Baré e Tikuna; do procurador da república Marco Antônio Delfino de Almeida e do coordenador do Programa Rio Negro do Instituto Socioambiental, Marcos Wesley de Oliveira.



Atividades nos dias 28 e 29/11

Na quinta-feira, dia 28/11, a Feira Agroecológica Josué de Castro receberá o Grupo de dança Arandu, que apresentará O canto da resistência Guarani-kaiowá. Na sexta-feira, 29/11, haverá exibição do filme Mboraihu no Museu do Índio da Funai pela manhã e, às 16h, uma apresentação do grupo Arandu nos jardins do Museu da República.




Autor: Ensp/Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 26/11/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/eventos-destacam-cultura-direitos-e-saude-dos-povos-indigenas

Governos insistem em queimar combustíveis fósseis e podem inviabilizar metas do Acordo de Paris


Termelérica a carvão. (AP Photo/Chris Carlson)


Novo relatório aponta que os projetos de energia por carvão, petróleo e gás natural aprovados pelos governos para os próximos anos superam em 120% o limite necessário para viabilizar a meta de aquecimento do Acordo de Paris em 1,5oC até 2100

Por Bruno Toledo

O mundo está no caminho de produzir muito mais carvão, petróleo e gás do que seria consistente com um aquecimento limitado a 1,5oC ou 2oC, o que cria uma “lacuna de produção” que torna os objetivos climáticos muito mais difíceis de serem atingidos, aponta um relatório inédito que avaliou os planos nacionais e as projeções para produção de combustíveis fósseis.

O Production Gap Report complementa o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Emissions Gap Report, que mostra que os compromissos dos países são insuficientes para realizar as reduções de emissões necessárias para garantir uma elevação média mais baixa da temperatura do planeta.

Os países estão planejando produzir combustíveis fosseis em níveis muito acima dos esperados para cumprir seus compromissos climáticos sob o Acordo de Paris, que, por sua vez, já são inadequados para viabilizar as principais metas do Acordo. Esse investimento excessivo em carvão, petróleo e gás natural consolida uma infraestrutura de combustíveis fosseis que tornará as reduções de emissão de carbono ainda mais difíceis de se atingir.

“Ao longo da última década, o debate sobre clima mudou. Houve um reconhecimento maior do papel que a expansão desenfreada da produção de combustíveis fósseis desempenha no enfraquecimento do progresso da ação climática”, diz Michael Lazarus, um dos principais autores do relatório e diretor do U.S. Center do Stockholm Environment Institute. “Este relatório mostra, pela primeira vez, o quão grande é a desconexão entre as metas de temperatura do Acordo de Paris e os planos e políticas nacionais para produção de carvão, petróleo e gás. Ele também compartilha soluções, sugerindo caminhos para ajudar a reduzir essa lacuna de ação através de políticas domésticas e cooperação internacional”.

O relatório foi produzido por organizações de destaque, como o Stockholm Environment Institute (SEI), International Institute for Sustainable Development (IISD), Overseas Development Institute (ODI), CICERO Centre for International Climate and Environmental Research, Climate Analytics, e o PNUMA. Mais de 50 pesquisadores contribuíram para a análise e a revisão, de inúmeras universidades e centros de pesquisa.

No prefácio do relatório, o diretor-executivo do PNUMA Inger Andersen aponta que as emissões de carbono se mantiveram exatamente nos níveis projetados há uma década, sob os cenários de “business-as-usual” usados no Emissions Gap Report.

“Isto exige um foco aguçado, e há muito esperado, nos combustíveis fósseis”, Andersen escreve. “Os suprimentos de energia do mundo continuam dominados por carvão, petróleo e gás, impulsionando níveis de emissões que são inconsistentes com as metas climáticas. Para isso, este relatório apresenta a lacuna na produção de combustíveis fósseis, uma nova métrica que mostra claramente a lacuna entre o aumento da produção de combustíveis fósseis e o declínio necessário desse tipo de fonte energética para limitar o aquecimento global”.

As principais conclusões do relatório incluem:

• O mundo está numa trajetória de produção de combustíveis fósseis em 2030 50% acima do que seria consistente com o limite do aquecimento em 2oC e 120% acima do que seria consistente com o limite em 1,5oC.

• O gap na produção é maior no carvão. Os países planejam produzir 150% mais carvão em 2030 do que o que seria consistente com uma meta de aquecimento de 1oC, e 280% acima do que seria consistente com uma meta de 1,5oC.

• A produção de petróleo e gás natural também está no caminho de exceder seu “orçamento de carbono”, com investimentos contínuos e infraestrutura sendo implementada para o uso desses combustíveis; os países planejam produzir entre 40% a 50% de petróleo e gás até 2040 a mais do que seria esperado no esforço de limitar o aquecimento em 2oC.

• Projeções nacionais sugerem que os países planejam produzir 17% a mais de carvão, 10% a mais de petróleo e 5% a mais de gás em 2030 do que seria consistente com a implementação de suas contribuições nacionalmente determinadas (NDC) para o Acordo de Paris – que, por sua vez, seriam insuficientes para limitar o aquecimento em 1,5oC ou 2oC.

Os países possuem numerosas opções para fechar esse gap de produção, incluindo limitar a exploração e extração, remover subsídios, e alinhar planos de produção energética futura com as metas climáticas. O relatório detalha essas opções, bem como aquelas disponíveis através de cooperação internacional no contexto do Acordo de Paris.

Os autores também enfatizam a importância de uma transição justa para um cenário distante dos combustíveis fósseis.

“Existe uma necessidade premente de assegurar que os afetados pela mudança social e econômica não fiquem para trás”, afirmou Cleo Verkuijl, uma das autoras do relatório e pesquisadora do SEI. “Ao mesmo tempo, o planejamento para essa transição pode construir consenso para uma política climática mais ambiciosa”.

O Production Gap Report é publicado quando mais de 60 países já se comprometeram a atualizar suas NDC, que estabelecem seus novos planos de redução de emissões e compromissos climáticos no âmbito do Acordo de Paris em 2020.

“Os países podem aproveitar essa oportunidade para integrar estratégias de gestão da produção de combustíveis fósseis nas suas NDCs – o que, por sua vez, os ajudará a alcançar as metas de redução de emissões”, disse Niklas Hagelberg, coordenador de mudanças climáticas do PNUMA.

“A despeito de mais de duas décadas de política climática os níveis de produção de combustíveis fósseis estão mais altos do que nunca”, diz Mans Nilsson, diretor-executivo do SEI. “Este relatório mostra que o apoio continuado dos governos para a extração de carvão, petróleo e gás é uma parte grande do problema. Estamos dentro de um buraco fundo, e precisamos parar de cavar para baixo.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/11/2019



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 25/11/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/11/25/governos-insistem-em-queimar-combustiveis-fosseis-e-podem-inviabilizar-metas-do-acordo-de-paris/