Os sedimentos da corrente (ou sedimentos de fundo do rio) são derivados da erosão e transporte de detritos do solo, de rochas e outros materiais dentro da bacia hidrográfica. A análise química de uma amostra de sedimentos de rio é, portanto, representativa da geoquímica de materiais à montante do local da amostragem.
Foz do Rio do Baldo, década de 70’. (fonte: Elmo Marinho)
Levantamento e análise de sedimentos de corrente (ou sedimentos de fundo de rios) é uma técnica geoquímica usada historicamente na exploração mineral na fase regional e, mais recentemente e de maneira crescente, na pesquisa ambiental.
Nessa técnica de pesquisa, elementos químicos são medidos a partir de sedimentos de rios, córregos ou igarapés. O sedimento depositado em leito de rios pode ser considerado como o resultado da integração dos processos físicos, químicos e biológicos que ocorrem em um ambiente aquático. Esteves (1998) relata que os sedimentos de corrente podem ser divididos em duas camadas: a recente e a permanente. A camada recente corresponde a camada com maior concentração de matéria orgânica, é a camada mais superficial, a que está em contato direto com a água. E a camada permanente logo abaixo da camada recente é caracterizada pelo baixo teor de matéria orgânica e por apresentar-se em condições anaeróbias de existência.
Dessa forma, uma amostragem ao longo do perfil dos sedimentos no leito do rio pode historiar as condições geoquímicas daquele ambiente. Resultados homogêneos podem indicar um ambiente dominado por fatores unicamente geogênicos, enquanto que variações podem indicar atuações antropogênicas.
Existe, na maioria dos casos, uma relação nos resultados geoquímicos dos sedimentos com as águas de um mesmo rio. As amostras de fundo do rio, entretanto, são mais fáceis de coletar, transportar e armazenar do que amostras de água, inclusive sofrendo muito menos influência da sazonalidade anual.
Nas águas de rios, grande parte dos metais traços costumam estar associada ao material particulado. Consequentemente, os metais transportados por riachos são eventualmente depositados em leitos, várzeas como sedimentos de corrente (Kuusisto-Hjort, P. & Hjort, 2013). Os sedimentos de fundo do rio são, portanto, um consistente meio amostral para rastrear fontes de metal e, por isso, têm sido cada vez mais empregados na avaliação da contaminação de sistemas fluviais tanto nas áreas urbanas, como rurais.
Dessa forma, as amostras de sedimentos de corrente caracterizam todos os processos que ocorrem no ecossistema aquático à montante e podem contribuir na avaliação do cenário ambiental da área, bem como na delimitação e interpretação de sítios contaminados por elementos tóxicos, para imediato detalhamento e monitoramento.
Referências Bibliográficas
Esteves, F. A. 1998. Fundamentos de Limnologia. Rio de Janeiro: FINEP.
Kuusisto-Hjort, P.; Hjort, J. 2013. Land use impacts on trace metal concentrations of suburban stream sediments in the Helsinki region, Finland. Science of the Total Environment 456–457; 222–230.
Carlos Augusto de Medeiros Filho, geoquímico, graduado na faculdade de geologia da UFRN e com mestrado na UFPA. Trabalha há mais de 35 anos em Geoquímica em Pesquisa Mineral e Ambiental.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/05/2020
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/05/2020
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/05/26/notas-sobre-uso-de-sedimentos-de-corrente-na-geoquimica-ambiental-artigo-de-carlos-augusto-de-medeiros-filho/
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