O encontro foi organizado pela Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro (RedeTec) e pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea) e contou com a presença do o secretário de Políticas Públicas para Formação e Ações Estratégicas do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação (MCTI), Marcelo Morales; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Waldemar Barroso Magno Neto; o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Américo Pacheco, e o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Evaldo Ferreira Vilela.
A pesquisadora Fernanda de Negri, do Centro de Pesquisa em Ciência e Tecnologia e Sociedade do Ipea, abriu a reunião destacando algumas das estratégias de profilaxia adotadas pelo mundo, número de pesquisas clínicas e testes realizados por países e a situação pouco favorável do Brasil nesse quadro. Também colocou como desafio a divulgação de informações atualizadas e confiáveis em relação aos testes e profilaxia, e os próximos passos a serem adotados pelo Brasil. Jorge Ávila, presidente da RedeTec e Pró-Reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), colocou preocupações semelhantes às da pesquisadora do Ipea e questionou os participantes sobre a complexidade dos medicamentos e vacinas que estão sendo desenvolvidos e a dificuldade de obter insumos para a produção interna. Ávila pontuou a questão tanto em relação ao financiamento de projetos para pesquisa e produção quanto ao da capacitação técnica em recursos humanos.
O presidente da FAPERJ iniciou a rodada de exposições explicando que a tecnologia para desenvolvimento das vacinas utilizadas pelos projetos mais avançados, seja da Universidade de Oxford ou da empresa chinesa Sinovac, não são complexas e que o País tem conhecimento para desenvolvê-las. “Temos duas grandes instituições com tradição na produção de vacinas no Brasil, o Instituto Butantan e BioManguinhos, e acredito que temos condições de desenvolver os passos iniciais para produzi-las. A tecnologia do Sinovac é muito simples, já utilizada na vacina contra a raiva”. E completou: “Com a anuência do Conselho Superior da FAPERJ, decidimos lançar um conjunto de ações de combate à Covid-19, espelhada na atuação e na estratégia adotada com grande sucesso no combate ao vírus da Zika”. Entre as principais necessidades de resposta à pandemia, Jerson Lima destacou o entendimento sobre qual seria a imunidade necessária para declarar que o paciente não será reinfectado.
Professor titular do Instituto de Bioquímica Médica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena grupo de pesquisa envolvido em estudos relacionados ao combate da pandemia, Lima falou também sobre o esforço de pesquisadores em encontrar respostas para alguns dos principais desafios que se colocam no momento com a disseminação do novo coronavírus e a capacidade de produzir mais testes. “No Brasil todo, e no Rio também, não temos grandes estruturas para testes clínicos e um grupo grande de pesquisadores saíram das suas linhas de pesquisa para trabalhar em estudos que visam o entendimento da propagação da vírus e fazer mais testes”, disse. O maior desafio, de acordo com Lima, é construir estruturas para a produção, que necessitam estar no grau mais elevado de biossegurança (NB3). O presidente da FAPERJ enfatizou ainda a importância da pesquisa em rede, que embora esteja sendo adotada por padrão nessa pandemia, em sua visão, poderia ser mais estreita. Ele destacou que alguns dias depois que a OMS decretou o estado de pandemia, em março, a FAPERJ lançou chamadas para formação de redes de pesquisa e para apoio a projetos em regime de “fasttrack” (julgamento rápido) para o enfrentamento da COVID-19, que receberam , no total, uma dotação inicial de R$ 30 milhões.
O presidente da Fapesp, Carlos Américo Pacheco, dividiu as mesmas preocupações de Lima em relação ao escalonamento da produção e a construção de laboratórios seguros para a produção de vacinas. O economista lembrou a longa tradição de investimento da instituição nos grupos que têm destaque nas pesquisas de vacinas, mas direcionou sua exposição para os dilemas da produção da vacina. “A imunidade de rebanho só vai ser alcançada com a vacina, assim como a plena retomada, porque as pessoas têm medo. Os países ricos vão utilizar a estratégia de imunizar primeiro os seus nacionais e, depois, os outros. E as ações de filantropia serão voltadas, principalmente, para países africanos. Assim, precisamos ter produção própria”, enfatizou. Pacheco considerou positivo o fato de as vacinas mais promissoras – da Universidade de Oxford e da Sinovac – estarem em testes clínicos no Brasil, o que possibilita que o conhecimento de como produzi-la também poderá ficar no País.
Já o secretário de Políticas Públicas para Formação e Ações Estratégicas do MCTI, Marcelo Morales, destacou o financiamento de R$ 50 milhões para a chamada conjunta de projetos reunindo o Ministério da Saúde e CNPq, que terá liberação de recursos nas próximas semanas, ao mesmo tempo que foram realizadas contratações diretas de pesquisas dentro da Rede Vírus. De acordo com Morales, as estratégias de enfrentamento ao novo coronavírus começaram a ser desenhadas pelo ministério em fevereiro, e atualmente existem 16 iniciativas para produção de vacinas no Brasil e quatro linhas estratégicas para profilaxia: uso da heparina como anticoagulante, vacina BCG para imunidade, plasma convalescente e reposicionamento de fármacos, incluindo a hidroxicloroquina como tratamento preventivo. “Estamos investimento em infraestrutura NB3 e em breve uma chamada será lançada por meio da Finep”, declarou.
Em sua apresentação, o presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, apresentou lista de projetos relacionados ao combate da pandemia que receberam recursos da Fundação.
Morales participou da mesa-redonda ao lado de Waldemar Barroso Neto. O presidente da Finep destacou o trabalho em conjunto e a atuação, em cadeia, de financiamento para pesquisa básica, aplicada, startups e empréstimos para empresas que precisam de capital. “Em abril, criamos um grupo de crise para pensar estratégias de combate à Covid, composto por todas as áreas da agência, para que nós possamos ter uma visão uniforme de todas as ações em andamento, não haja contraposição de processos e una esforços”, explicou. Barroso ressaltou que mantém uma comunicação regular com os pesquisadores financiados, citando o diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Kalil, e a pesquisadora Patrícia Rocco, chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar, vinculado ao Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por último, lembrou que a Finep conta com recursos da ordem de R$ 150 milhões para empresas que queiram realizar reconversão industrial e atender às demandas da Covid-19.
Por último, o presidente do CNPq, Evaldo Vilela, destacou o alto nível da ciência brasileira e a rara oportunidade de mostrar à sociedade que a capacidade de fornecer boas respostas não se restringe unicamente à vacina. “Temos que aproveitar esse momento que a sociedade percebe o valor da ciência para convencer os gestores a fazer aportes à altura da nossa excelência em pesquisa”, disse. O ex-reitor da Faculdade Federal de Viçosa revelou que o CNPq está elaborando um planejamento de atuação que não está focado em grandes áreas, mas em temas voltados para uma atuação de caráter interdisciplinar. Vilela disse concordar com a necessidade do aumento dos recursos para a pesquisa, mas lembrou que o País vive um momento de grande dificuldade fiscal para os Estados e que não será possível contar apenas com recursos públicos para fomentar as pesquisas.
Autor: Ascom Faperj
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 18/06/2020
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4002.2.3
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