segunda-feira, 27 de fevereiro de 2023

Roteiros Culturais, Ecológicos e Históricos em Ibirité – MG: possibilidade de experiências educacionais para estudantes de licenciaturas

Roteiros Culturais, Ecológicos e Históricos em Ibirité – MG: possibilidade de experiências educacionais para estudantes de licenciaturas

Gilmara de Souza Gomes Menez1

Vagner Luciano Coelho de Lima Andrade2


A cidade de Ibirité, integrante oficialmente da Grande BH, desde meados da década de 1970, é muito mais que uma cidade dormitório. Residência de 182.153 habitantes, a urbe agrega paisagens urbano-rurais únicas, com múltiplos receptáculos citadinos e camponeses. A cidade foi residência de Helena Antipoff, uma soviética que está sepultada num cemitério da municipalidade, desde agosto de 1974. Foi ela quem fundou a FEER – Fundação Estadual de Educação Rural, numa área rural que foi rapidamente transformada em bairros e vilas, entre a Fundação e a Represa Ibirité (Lagoa da Petrobrás). Eram vários bairros que demandavam por múltiplas políticas públicas. Uma delas foi a criação da Escola Estadual Anexo FEER, transformada em Professora Yolanda Martins, hoje localizada no Lago Azul.

A FEER foi transformada posteriormente em FHA – Fundação Helena Antipoff. Esta fundação, por sua vez criou o ISEAT – Instituto Superior de Ensino Anísio Teixeira, com a oferta inicial de cinco licenciaturas: Ciências Biológicas, Educação Física, Letras/Espanhol, Matemática e Pedagogia. A expectativa era que viessem novos cursos na área da educação, tanto especializações, quanto novas graduações. O ISEAT se localizava na Avenida São Paulo, 3996, Vila Nunes. Posteriormente o ISEAT foi absorvido pela UEMG – Universidade do Estado de Minas Gerais, sendo criado o Campus Ibirité desta IES, e os cinco curso pioneiros continuam a serem regularmente ofertados.

A oferta dos cursos de Artes, Ciências da Religião, Filosofia, Física, Geografia, História, Letras/Inglês, Letras/Português, Química e Sociologia prossegue sem previsão de oferta. Mas o que se pretende aqui é mesclar a realidade desse campus da UEMG, com a realidade do município que historicamente o acolhe. Assim, por ser referência, há décadas na área de formação de professores, é preciso trazer a cidade como problematização para a prática dos alunos em formação docente, promovendo desde de leituras e discussões até visitas e projetos correlacionados. Uma quantidade significativa de moradores, já cursou ou cursa uma das cinco licenciaturas.

Defende-se aqui a inserção de disciplinas nos currículos vigentes, para versar sobre patrimônios históricos e naturais com a oferta, em caráter obrigatório das disciplinas de Educação Cultural, Educação Ecológica e Educação Histórica. A ideia é criar três roteiros de estudo e visitação na cidade: Roteiro Rola Moça – Roteiro Educacional Ecológico, Roteiro Vargem Pantana – Roteiro Educacional Cultural e Roteiro Helena Antipoff – Roteiro Educacional Histórico. Como mencionado, seria relevante que as três disciplinas sejam de caráter obrigatório nos currículos vigentes das licenciaturas já ofertadas ou novos cursos de formação docente. O projeto pode ser estendido à Escola de Ensino Técnico e Profissionalizante Sandoval Soares de Azevedo, existente dentro do campus.

Rola Moça é a paisagem da água. Situado dentro da região metropolitana, o Parque Estadual da Serra do Rola-Moça proporciona ao visitante, gostosas oportunidades de desfrutar a natureza junto a uma vegetação muito especial, com paisagens características de Mata Atlântica, Cerrado, Campos de Altitude e Campos Ferruginosos. Em alguns pontos, a topografia possibilita vistas panorâmicas de excelente apelo visual. Os atrativos do parque são mirantes e trilhas para caminhadas. Dos mirantes, têm-se ótimas vistas, uma mais bonita que a outra. Existem ângulos de onde se pode observar a área preservada do Parque e a malha urbana, bom momento para reflexão sobre preservação do patrimônio natural e sobre o crescimento de Belo Horizonte. Os mirantes são: Jatobá, Morro dos Veados, Planeta, Três Pedras. Há Cachoeiras, sendo a principal a das Pitangueiras.

O Parque foi criado para proteger a biodiversidade e seis importantes mananciais de água ali existentes: Bálsamo, Barreiro, Catarina, Rola-Moça, Mutuca e Taboões. Declarados pelo governo estadual como Áreas de Proteção Especial, essas áreas garantem a qualidade dos recursos hídricos e abastecem parte da população da região metropolitana. Para assegurar a proteção desses mananciais, a área correspondente deste espaços não está aberta à visitação pública, somente em alguns casos, com autorização expressa. Estas áreas de mananciais públicos, somente é possível em decorrência de uma formação geológica, o Campo Ferruginoso, composto de canga hematítica, é extremamente raro, sendo encontrado apenas aqui em Minas Gerais, no Quadrilátero Ferrífero, e em Carajás, no estado do Pará. Um grande atrativo do parque, a visita aos Campos Ferruginosos só é permitida com acompanhamento dos monitores do Parque.

Questões de Educação Ecológica, podem ser colocadas pelos participantes, enquanto discentes das licenciatura, e posteriormente como educadores das redes estadual, municipal ou particular: Qual a importância do Parque para Grande BH? Quantos mananciais existem no mesmo, e qual sua importância? O parque abrange quantos municípios? Qual a área do Parque e em quais biomas está inserido? Há uma rodovia asfaltada dentro do parque. Isso está certo? Quais problemas pode trazer? Porque o nome Rola Moça? É uma lenda, poema ou canção? Pelos mirantes é possível ver a cidade vindo na direção da serra? Qual é a área territorial do parque e em que data ele foi criado?

Vargem Pantana é a paisagem da fé. Ibirité, em tupi-guarani significa terra firme/chão duro, bem diferente de seu nome quando era distrito de Capela Nova do Betim, Vargem do Pantana. Visitar os atrativos do Centro, todos de matrizes católicas é perceber a riqueza cultural dos diferentes patrimônios religiosos. É um ensino de respeito, empatia e compaixão pela crença religiosa do outro, mesmo não sendo a mesma religiosidade. Além da Capela de São Judas Tadeu (antiga igreja matriz) entre os Bairros Afonso de Morais e Antônio Amabile destaca-se a Praça da Gruta de Nossa Senhora Aparecida, na confluência das Ruas Alcina Campos Taitson e Afonso de Matos, no Central Park.



Outro lugar simplesmente ímpar é a Estação Ferroviária, que traz a grafia antiga da urbe “Ibiraete”, situada na Rua Arthur Campos, sem número, Bairro Giácommo Aluotto, na Região Central da cidade, inaugurada em 1917, pertencendo ao Ramal Paraopeba da EFCB – Estrada de Ferro Central do Brasil e tombada em 2004, através do decreto municipal n° 1971. O Altar Nossa Senhora das Dores localiza-se na Igreja Matriz Nossa Senhora das Graças, situada na Rua Vereador Orlando Costa Campos, nº 36, no Bairro Parque Estrela do Sul.

Problematizações pedagógicas de Educação Cultural, a serem empreendidas na área central da urbe: Porque se deve respeitar as outras religiões? Porque espaços religiosos são considerados patrimônios da coletividade? É possível aprender sobre artes, filosofia, história e outras disciplinas visistando um atrativo religioso? Qual seria o impacto da ferrovia na cidade no século XX? Será que houve trem de passageiros transitando por aqui, ou apenas carga? Porque preservar a estação é relevante para a memória municipal?







Helena Antipoff é a paisagem da transformação. Essa grande educadora e psicóloga nasceu em 25 de março de 1892, em Grondho, Bielorússia, e possuía um grande objetivo de revolucionar o processo educacional, focando os seus esforços para trabalhar com alunos portadores de necessidades especiais e com a formação de professoras para lecionarem junto à população rural e não mediu esforços para concretizar seus projetos pedagógicos. Personalidade que marcou de forma determinante à Educação no Estado de Minas Gerais. Em 1955, realizou mais uma etapa de seus sonhos, inaugurando o Instituto Superior de Educação Rural – ISER, com objetivo de formação de professores para as Escolas Normais Rurais. Em 1970, o ISER se transformou em Fundação Estadual de Educação Rural. Em 1972 criou a ADAV – Associação Milton Campos para Desenvolvimento e Assistência a Vocação de Bem Dotados, no Jaçanã, preocupada com a necessidade de introduzir algo para os talentosos do meio rural e suburbano. Helena Antipoff faleceu em Ibirité, aos 09 de agosto de 1974. Está sepultada no Cemitério Municipal do Canal, ao lado da Instiuição que criou. Teve um único filho, Daniel Antipoff (1919-2005), que foi agrônomo, educador e psicólogo.

Na Região do Campus Ibirité vale a pena visitar a Fazenda do Rosário da Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário. Problematizações em Educação Histórica a serem discutidas: Porque Helena Antipoff deixou seu país de origem? Qual foi sua trajetória antes de chegar ao Brasil? Com tantas opções de estados, como ela veio parar aqui em Minas Gerais? Qual foi sua contribuição para a educação inclusiva? Como ela foi pioneira na educação rural, hoje chamada de educação do campo? Qual a dimensão de sua afeição por Ibirité?


1 Guia de Turismo, Graduada em Turismo pela PUC Minas, Mestre em Turismo e Meio Ambiente pelo Centro Universitário UNA. E-mail gilsgm@gmail.com


2 Pesquisador em Patrimônio Cultural, com formação inicial em Geografia, especializações em Políticas Públicas Municipais e Arte Educação; História, especializações em Museografia e Patrimônio Cultural e Metodologia de Ensino de História. Formação Complementar em Artes Visuais, Filosofia, Sociologia e Turismo. Pesquisador em Patrimônio Natural, com formação inicial em Ciências Biológicas, especializações em Ecologia e Monitoramento Ambiental e Metodologia de Ensino de Ciências Biológicas; Gestão Ambiental, especializações em Gestão e Educação Ambiental e Administração Escolar, Orientação Educacional e Supervisão Pedagógica. Formação Complementar em Agroecologia, Ecologia, Educação do Campo e Pedagogia. E-mail: reacao@yahoo.com

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in EcoDebate, ISSN 2446-9394






Autor: EcoDebate 
Fonte: EcoDebate 
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