Nas últimas décadas, a incidência de diabetes mellitus tipo 1 (DM1) tem aumentado constantemente no mundo, mas as razões para esse aumento são pouco conhecidas. O DM1 é uma doença autoimune crônica, na qual o sistema imunológico do corpo destrói as células do pâncreas que produzem insulina, um hormônio que controla os níveis de glicemia no sangue.
Embora ainda não haja uma confirmação precisa sobre quais fatores ambientais e epigenéticos concorram para o aumento da susceptibilidade da doença, acredita-se ser altamente provável que alguns agentes infecciosos virais, como o rotavírus, possam desempenhar um papel no desenvolvimento do DM1 em indivíduos geneticamente predispostos.
Um recente estudo, publicado pelo JAMA Pediatrics, investigou a incidência de DM1 em crianças australianas antes e após a introdução da vacina contra o rotavírus no Programa Nacional de Imunização (PNI) da Austrália, que ocorreu em 2007. Ao se investigar o número de crianças diagnosticadas com DM1 a cada ano, desde 2000, a equipe de pesquisa observou que, após 2007, a taxa de DM1 diminuiu em 14% em crianças de zero a quatro anos. Em crianças de cinco a nove anos e 10 a 14 anos, não houve mudança no número de incidentes ou diferenças temporais durante todo o período de 16 anos. Isso sugere que as crianças mais novas poderiam ter sido expostas a um fator de proteção que não causou impacto em crianças mais velhas.
Esta é, provavelmente, a primeira evidência de um declínio na incidência de DM1 após a introdução da vacina oral contra o rotavírus em uma rotina de imunização. Isso ocorreu na coorte etária de crianças nascidas após a introdução da vacina contra o rotavírus e é consistente com a hipótese de que a vacina oral para RV possa ser protetora contra o desenvolvimento de DM1 na primeira infância. A vigilância contínua determinará se o declínio na incidência persiste à medida que as crianças avançam em idade.
No Brasil, a vacina monovalente contra o rotavírus foi introduzida no PNI em 2006 e é rotineiramente administrada a crianças com dois e quatro meses de idade, com intervalo mínimo de 30 dias entre as doses, para protegê-las contra uma forma grave e potencialmente letal de diarreia, sendo contra-indicada em pacientes imunossuprimidos e com má-formações do aparelho gastrointestinal não corrigidas.
A despeito da luz que este estudo lança, outros estudos dedicados a avaliar quais agentes infecciosos estão ligados ao DM1 e quais mecanismos imunológicos induzem ou protegem contra a doença são necessários antes que medidas profiláticas e terapêuticas adequadas possam ser adequadamente indicadas com maior força de evidência.
Autor: Fernando Costa Araújo
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 19/02/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/ha-relacao-entre-vacinacao-e-reducao-na-incidencia-do-diabetes-tipo-1/
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