sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Diarreia do viajante no pós-pandemia: abordagem clínica e probióticos

A Organização Mundial do Turismo calcula que, devido à pandemia de Covid-19, as viagens internacionais registraram uma queda de 700 milhões de turistas no mundo, apenas no ano de 2020. No Brasil, o número de viagens também foi reduzido drasticamente desde o início da Pandemia em março de 2020. Porém, com a crescente imunização da população, vários destinos já estão disponíveis para serem visitados, o que certamente levará a um aumento do trânsito de turistas. É justamente neste momento devemos estar atentos ao retorno dos casos de diarreia do viajante, a qual apresenta uma incidência estimada em 10-40% dependendo do destino. 

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O que é diarreia do viajante? 

É a diarreia (≥3 evacuações de fezes não formadas em 24 horas), acompanhada por, pelo menos, um dos seguintes sintomas: febre, náuseas, vômitos, cólicas abdominais, tenesmo ou disenteria, que ocorre durante uma viagem ou até 10 dias após o regresso à cidade de origem. Pode ser causada por parasitas, vírus ou bactérias, sendo as últimas as mais frequentes, representando até 80-90% dos casos.  Os patógenos mais prevalentes são Escherichia coli enterotoxigênica e enteroagregativa, seguida por Campylobacter jejuni e Shigella spp. Já a Giardia lamblia, por outro lado, é o principal patógeno protozoário. Os destinos que oferecem maior risco são: Américas do Sul e Central, África, México e Oriente Médio.  

Principais agentes etiológicos da diarreia do Viajante na América Latina e Caribe




Como diagnosticar esta diarreia? 

Em geral, o diagnóstico é fornecido pelo histórico do próprio paciente, que está viajando ou acaba de retornar de algum destino, em geral com baixa condição econômica. Os fatores de maior risco são: falta de saneamento, de água potável ou queda frequente de energia elétrica, interferindo no adequado armazenamento de alimentos. Outros fatores de riscos relatados na literatura e que devem ser observados são: pacientes que já apresentaram diarreia do viajante e jovens até 30 anos. Na maioria dos casos não é necessária a realização de exames, como parasitológico de fezes, coprocultura ou mesmo reação em cadeia da polimerase (PCR). O quadro é autolimitado, e , geralmente, o viajante não procura assistência médica. 

 Classificação de gravidade da diarreia do viajante:

Como tratar a diarreia do viajante? 

O mais importante é a reidratação do paciente. Agentes antimotilidade proporcionam alívio sintomático e poderão ser úteis no tratamento. A loperamida pode ser usada em adultos e crianças, exceto se houver disenteria.  

Nas etiologias bacterianas, os antibióticos são eficazes na redução da duração da diarreia em cerca de um dia.  O tratamento com antibióticos não é recomendado em pacientes com diarreia do viajante leve, mas está indicado nos casos graves. Exemplos de antibióticos a serem prescritos: fluoroquinolonas, azitromicina e  rifaximina. 

Nos casos em que a diarreia já está estabelecida, os probióticos (“organismos vivos que, quando consumidos em quantidades adequadas, trazem benefício a saúde do hospedeiro”) reduzem a duração dos sintomas. Bae realizou metanálise que incluiu onze artigos que teve como objetivo avaliar a eficácia dos probióticos e concluiu que os probióticos mostraram eficácia estatisticamente significativa na prevenção da diarreia do viajante. Estudos demonstraram que o Lactobacillus rhamnosus GG (LGG®) protege contra esse tipo de diarreia quando comparado ao placebo. O benefício da administração de LGG® é maior em pacientes com história prévia de diarreia do viajante. Essas pesquisas indicaram que colonizar o intestino com LGG® antes e durante a viagem pode reduzir a incidência de diarreia do viajante. Outros trabalhos demonstram ainda que o LGG® atua contra a bactéria E. coli, por meio da redução de toxina Shiga, inibição de adesão, proteção contra lesões de junções firmes e modulação imune.  

Como prevenir a diarreia? 

Escolha adequadamente o que for alimentar, evite alimentos in natura, frutos do mar, beba apenas água mineral engarrafada e use-a para escovar os dentes. Procure lavar as mãos com água e sabão frequentemente ou use álcool gel (≥60% de álcool) se não for possível lavá-las, especialmente após uso de sanitários ou antes de preparar alimentos. Não há vacinas disponíveis para a maioria dos patógenos. 

Estudo no México mostrou que o subsalicilato de bismuto pode reduzir em até 50% o risco de diarreia do viajante. O uso profilático de antibióticos deve ser avaliado com cautela devido ao risco de resistência bacteriana. 

Segundo o CDC, o uso de probióticos, como Lactobacillus GG e Saccharomyces boulardii pode ser avaliado individualmente (em especial nos grupos de risco), mas ainda não está indicado de rotina para todos os viajantes.  




Autor: Larissa Pires Marquite da Silva.
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 10/12/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/diarreia-do-viajante-no-pos-pandemia-abordagem-clinica-e-probioticos/

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