Lançados pela FAPERJ em 2021, os programas – Apoio a Projetos no Âmbito do Bicentenário da Independência do Brasil (em parceria com a Fundação Biblioteca Nacional – FBN), Apoio à Organização de Eventos Comemorativos do Bicentenário da Independência e do Centenário da Semana de Arte Moderna e Apoio à Editoração e ao Audiovisual Comemorativo do Bicentenário da Independência e do Centenário da Semana de Arte Moderna – têm por objetivo fomentar a realização de pesquisas, eventos e publicações que concorram para consolidar a vocação científica, tecnológica, profissional e artístico-cultural do Estado do Rio de Janeiro no âmbito da temática dessas comemorações.
Os 59 projetos contemplados abrangem todas as áreas, em especial Biblioteconomia, Linguística, Letras e Artes, e reconstituem eventos que consolidaram o patrimônio histórico, político, cultural, artístico e institucional da nação. O evento foi transmitido em tempo real pelo Instagram da Fundação (@faperjoficial) e é tema do vídeo produzido pela equipe de audiovisual do Núcleo de Difusão Científica e Tecnológica da FAPERJ, que realizou a cobertura do Seminário, disponível a partir desta quinta, 31 de agosto, no Canal oficial da Fundação: https://www.youtube.com/c/faperjoficial.
Na mesa de abertura do Seminário, o presidente da FAPERJ, Jerson Lima, ressaltou a importância do repasse dos recursos previstos em Lei estadual, de 2% da renda líquida do Estado do Rio de Janeiro, para o fomento à Ciência, Tecnologia e Inovação (C,T&I) fluminenses. Lima também destacou o papel da Biblioteca Nacional e do Arquivo Nacional, das universidades e demais instituições de C,T&I para a viabilização dos trabalhos apresentados. Um livro, que reúne detalhadamente os projetos apoiados, foi produzido pela FAPERJ e disponibilizado digitalmente via leitura de QR Code impresso no folder do evento.
“Na pandemia de Covid-19 a FAPERJ investiu mais de R$ 300 milhões em projetos, reafirmando a importância da Ciência no enfrentamento das pandemias”, lembrou. Jerson Lima disse ainda que no atual momento – de pós-pandemia – a Fundação tem se dedicado a apoiar projetos que visem solucionar as consequências da doença.
Representando Francisco Sampaio, presidente da Academia Nacional de Medicina (ANM), o acadêmico e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Basílio, parabenizou a FAPERJ pelo aniversário e pelo clima acolhedor que sempre encontra quando visita a Fundação. Destacou o trabalho do filho do sanitarista Carlos Chagas, Carlos Chagas Filho (1910-2000), médico, professor e pesquisador brasileiro, que empresta seu nome à Fundação, e desejou sucesso na ampliação da abrangência e no aumento da capacidade de apoio da FAPERJ.
No painel 'A independência através de documentos', foram apresentadas pesquisas contempladas no edital lançado pela FAPERJ em parceria com a Fundação Biblioteca Nacional, uma das principais instituições de salvaguarda da memória brasileira
Em seguida, o subsecretário estadual de Ensino Superior, Pesquisa e Inovação do Estado do Rio de Janeiro, presidente da Academia Brasileira de Filosofia e membro titular do Conselho Superior da FAPERJ, Edgard Leite, disse que a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro (Secti) sempre compreendeu a necessidade de se incentivar a Fundação e as universidades para fortalecer a Ciência. “A FAPERJ vem se consolidando como instrumento imprescindível para o desenvolvimento da C,T&I”, afirmou. Segundo Leite, a comemoração do Bicentenário da Independência foi uma das mais entusiásticas plataformas da Secretaria. Ele ressaltou que a celebração da efeméride é de fundamental importância para “afirmar nosso papel no mundo e nosso futuro”.
Integrante da mesa de abertura, a diretora Científica da Fundação, Eliete Bouskela, absteve-se de falar devido a uma afonia e foi seguida pelo diretor de Tecnologia Maurício Guedes. Ele apresentou uma ideia para reflexão de que Ciência, Tecnologia, Inovação e Cultura são a própria Independência. “Estamos transformando nosso esforço e trabalho em riqueza para a população”, disse Guedes, referindo-se ao fomento concedido pela Fundação e aos projetos desenvolvidos pelas instituições apoiadas.
O presidente da FAPERJ passou a palavra para a professora da Faculdade de Letras, coordenadora do Programa Avançado de Cultura Contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PACC/UFRJ) e Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, Beatriz Resende, destacando sua importância na área de Editoração. “Foi Beatriz que colaborou com o lançamento do pioneiro e premiado Atlas da Aids (ATLAids: Atlas de Patologia da Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), de autoria do acadêmico e professor de Anatomia Patológica da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Carlos Alberto Basílio de Oliveira, obra lançada com apoio do programa Auxílio à Editoração (APQ 3), da FAPERJ”, lembrou Lima.
Beatriz, como representante da área de Letras, brincou com os demais integrantes da mesa, iniciando a sua fala com uma provocação: “A Medicina que me perdoe, mas a área de Humanas somos nós”. Em seguida, falou que as editoras das universidades dependem, exclusivamente, das verbas de fomento do programa Auxílio à Editoração. Beatriz defendeu a circularidade nas universidades, ou seja, a circulação dos pesquisadores entre mais de uma área de estudo na construção do conhecimento, e destacou o papel da Editoração como uma das formas de devolver à sociedade o apoio recebido. “Os textos, livros e eventos que entregamos são os frutos da nossa reflexão”, finalizou.
O primeiro Painel do dia, que teve como tema “A Independência através de documentos”, foi mediado por Edgard Leite. Houve apresentação de projetos contemplados no edital Apoio a Projetos no Âmbito do Bicentenário da Independência do Brasil – uma parceria entre a FAPERJ, a Secti e a Fundação Biblioteca Nacional (FBN), no qual 21 projetos de mais de uma dezena de instituições foram contemplados. O presidente da Biblioteca Nacional, o pesquisador Luiz Carlos Ramiro Jr., destacou o papel da instituição como “a principal casa da memória brasileira”. Ele salientou a transversalidade da FBN, que reúne em seu acervo cultura, educação, ciência e turismo histórico patrimonial, além de atrair mais de 100 milhões de acessos ao ano em seu banco de dados digital. Ramiro Jr. lembrou que a aproximação cada vez mais crescente da FBN com outras instituições vem gerando demandas de novos eventos e publicações. “Os projetos selecionados abordam uma diversidade de temas que trazem novas interpretações do processo de Independência”, disse o presidente da FBN.
Proponente do projeto “A Independência do Brasil e a capitalidade nacional no Rio de Janeiro” aprovado no edital, Ramiro Jr. disse que se dedicou a estudar o sistema de justiça criminal ao longo da Independência. Ele lembrou que as primeiras instituições brasileiras foram copiadas de modelos europeus, como a Guarda Nacional; ou fruto de soluções internas, como a Polícia Militar, e ressaltou a importância do Padre Feijó na amenização dos castigos exagerados impostos aos escravos. Segundo Ramiro Jr. o projeto aborda alguns marcos temporais como a Intendência Geral da Polícia da Corte e do Estado do Brasil (1808), a extinção dos Capitães do Mato, o Código Criminal, até e a Casa de Correção (1850), entre outros. Destacou ainda, entre os documentos recuperados, o Excerto do “Toque do Aragão”, o primeiro toque de recolher instituído no País – ao som de meia hora de repique dos sinos de duas igrejas –, visando coibir a prática de crimes como roubos, furtos e até assassinatos na Corte.
O Painel prosseguiu com a apresentação de “Independência do Brasil: Pensamento, política, instituições”, título do projeto de Ana de Melo Louzada, membro da Academia Brasileira de Filosofia e pesquisadora na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo ela, trata-se de um projeto plural, que dialoga com várias correntes de pensamento, focados nos temas filosofia, religiosidade e indígenas. Além de debates, foram criados Guias de Fontes, compostos de scanners e transcrições em português moderno de documentos relativos a D. Pedro I, à Marinha do Brasil, questões indígenas e à Independência do Brasil. Sobre as questões indígenas e indigenistas, Ana sublinhou a abordagem não vitimizada do indígena, mas recuperando seu protagonismo por meio dos documentos. “Em dezembro um seminário irá mostrar o produto final do projeto para que possamos nos entender melhor como Brasil, como nação e como brasileiros”, informou.
Em debate: Ciência e Memória; Arte e Independência
A partir da esq., os palestrantes do painel 'Arte e Independência': o cineasta Silvio Tendler; o diretor da AdUFRJ, Marcelo Morales; o presidente do ICCA, Cravo Albin; o diretor da editora Batel, Carlos Barbosa; e a arquiteta Ana Luiza Nobre, da PUC-Rio
O Painel 2, que abordou o tema “Ciência e Memória”, teve início com o físico Antonio Cesar Olinto de Oliveira, fundador e por 20 anos diretor do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC). Mesmo se recuperando de uma cirurgia, ele compareceu ao evento para apresentar o projeto de livro “Modelando Histórias - Mais de Quatro Décadas do Laboratório Nacional de Computação Científica”. Oliveira lembrou que a Matemática Aplicada (aplicação do conhecimento matemático a outros domínios) é relativamente recente, tendo dado seus primeiros passos na década de 1960. Recordou que, naquela época, junto com um grupo que se dedicava à matéria, criou o Laboratório de Cálculo no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Segundo ele, a ideia não foi bem aceita pela instituição, a primeira vinculada ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Tempos depois, o LNCC, que também está completando 42 anos, seria criado em uma única tarde pelo próprio CNPq.
Quatro projetos da Academia Nacional de Medicina abordando os 200 Anos de uma Medicina Brasileira foram contemplados no edital da FAPERJ. Eles irão gerar um seminário, uma exposição temporária com versão itinerante e um livro. O primeiro deles traça um panorama da evolução da Medicina, desde 1822, fazendo um paralelo com a ANM. O segundo projeto, coordenado pelo presidente da ANM, Francisco Sampaio, reconstrói o desenvolvimento da Medicina a partir da política e da cultura, com ênfase na representação política e artística da Semana de Arte Moderna. O apoio da FAPERJ contemplou ainda o reforço e a dinamização do arquivo Sérgio d’Avila Aguinaga, e a digitalização e acessibilidade da Biblioteca Alfredo Nascimento, da ANM.
O acadêmico, pesquisador e chefe do Laboratório de Pesquisa em Malária do Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, Claudio Tadeu Daniel Ribeiro, que representou Sampaio no seminário e falou sobre os projetos submetidos ao edital pela ANM, lembra que justamente após a Independência do Brasil foram criadas várias instituições, inclusive a ANM, nove anos após a instituição similar francesa. Daniel-Ribeiro destaca que desde 1831, D. Pedro II, então com apenas nove anos, já se interessava pela Medicina, tendo frequentado com assiduidade a Sociedade de Medicina do Rio de Janeiro até 1889. De acordo com Daniel-Ribeiro, o projeto apresenta algumas relíquias da ANM, como a cadeira que D. Pedro II se sentava, o atestado de óbito do imperador, e o Tratado dos Partos, publicado em 1861 pelo médico dinamarquês naturalizado brasileiro, Theodor Langgaard.
Dando continuidade ao Painel 2, a pesquisadora do Museu de Astronomia e Ciências Afins (Mast), Heloisa Meireles Gesteira, apresentou o projeto “Ciências de Observatório: 200 anos de observações do Céu e da Terra no acervo do Mast”. Trata-se de um portal de história que valorizará temas que destacam as relações entre ciência, tecnologia, sociedade e ambiente. Na página principal, o visitante pode conhecer aceleradores de partículas, acessar a linha do tempo e usar a ferramenta de busca na base de dados, construída basicamente com material iconográfico. Segundo Heloisa, um conteúdo voltado para pesquisadores, pesquisadores e estudantes. “O objetivo do projeto é explorar as possibilidades das ferramentas digitais na divulgação da história da Ciência e da Tecnologia”, disse a pesquisadora. Ela explica que o acervo do Mast é composto pelo Arquivo de História da Ciência, pelo Acervo Museológico, pelo Patrimônio Arquitetônico e pela Biblioteca. Entre os documentos disponíveis ela destaca uma imagem de satélite da Baía de Guanabara, de 1970, e um rótulo de água mineral radioativa. Beatriz também lembrou que o Observatório Nacional, vizinho ao Mast, é a única instituição legalmente designada para gerar e divulgar a Hora Legal Brasileira.
Um dos projetos aprovados no Arquivo Nacional, apresentado no Painel 2, elegeu o rico acervo da instituição para reconstruir os 200 da Independência do Brasil. “Independência do Brasil narrada pelos arquivos” foi proposto pelo arquivista, especialista em História do Brasil, mestre em Ciência da Informação pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e doutor em Memória Social pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), Eliezer Pires da Silva. Para selecionar os arquivos textuais, iconográficos, audiovisuais e sonoros – em meio a 55 km de documentos textuais; 1,74 milhão de fotografias e negativos, 200 álbuns fotográficos, 15 mil diapositivos, quatro mil caricaturas e charges, 3 mil cartazes, mil cartões postais, 300 desenhos, 300 gravuras e 20 mil ilustrações, além de mapas, filmes e registros sonoros – o pesquisador elegeu as efemérides acerca do 7 de setembro ao longo desses 200 anos. Ele apresentou uma degustação de cinco minutos do seu documentário, na linguagem do Cinema de Arquivo, que inicia com belas imagens aéreas do prédio em estilo neoclássico localizado na Praça da República, no Centro do Rio, passando para tomadas internas da sala de consulta e seu mobiliário, aproximando dos pesquisadores, narradores dessa viagem no tempo. No filme, o pesquisador reafirma que a Independência foi um processo longo e contínuo, ao longo de 1822 a 1825, não pacífico, marcado por guerras entre a Corte e as províncias resistentes.
Salão nobre da Academia Nacional de Medicina: a história da instituição, fundada em 1829, confunde-se com a história da evolução das Ciências Médicas no País e reforça a importância da Ciência como força motriz de um projeto de soberania nacional
O último painel da tarde, intitulado “Arte e Independência”, foi mediado pelo diretor da EdUFRJ, a editora da UFRJ, Marcelo Moraes. A arquiteta Ana Luiza de Souza Nobre, professora do Departamento de Arquitetura da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), uma das contempladas pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, apresentou o projeto “Atlas do Chão”, que mapeou 200 pontos do chão no Rio, que contam uma história de descolonização, reparação histórica de povos silenciados e submetidos a deslocamentos compulsórios, remoções forçadas e dispersão territorial. “Atlas do Chão é um experimento cartográfico-historiográfico concebido como uma plataforma digital, disponível on-line, com o objetivo de mapear e tornar visíveis, criticamente, processos de urbanização, territorialização e desterritorialização que permanecem de algum modo inscritos no chão, em diferentes contextos histórico-culturais e geopolíticos”, resumiu.
A inusitada faceta de compositor do imperador D. Pedro I foi a tônica da apresentação do jornalista e musicólogo Ricardo Cravo Albin, presidente do Instituto Cultural Cravo Albin (ICCA). Na ocasião, ele entregou ao presidente da FAPERJ o primeiro exemplar da obra Pedro I – Compositor inesperado, lançada pela editora Batel. Organizada e idealizada por Cravo Albin, o livro reúne oito ensaios inéditos sobre Pedro I, abordando suas nuances como compositor, homem e proclamador, com curadoria da historiadora Mary del Priore. Um CD com 17 peças musicais escritas por Pedro I acompanham a edição ricamente ilustrada e com capa dura. “Pedro I tinha uma atração irrefreável para a música e foi aluno de três notáveis compositores no Rio no primeiro quartel do século XIX: José Mauricio Nunes Garcia, Marcos Portugal e o austríaco Sigismund Neukomm”, contou Cravo Albin.
Por sua vez, o cineasta Silvio Tendler, do Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá, falou sobre o projeto “Tempos híbridos: questionar o passado com vistas à construção do futuro”. Com uma vasta trajetória de cinebiografias dedicadas a personalidades marcantes da história brasileira, como Jango, JK e Carlos Marighella, Tendler refletiu sobre seu processo de pesquisa, segundo ele, infindável. “Ao estudar a memória de personagens históricos, buscamos a infinitude das coisas. Em ‘Tempos híbridos’, apresento uma estrada de ferro virtual que possibilita ao público navegar de forma interativa com temas relacionados à História da Independência do Brasil e à Semana de Arte Moderna, dispostos em 15 estações, em uma linha do tempo. O webdocumentário é uma nova maneira de contar histórias, a partir da interatividade e da integração multimídia”, disse. “Temos que reconhecer o trabalho que a FAPERJ vem desempenhando pela cultura brasileira”, completou.
Publicação Digital reúne resumo dos projetos contemplados
A realização de pesquisas, eventos e publicações que resultaram dos projetos submetidos aos editais lançados pela FAPERJ no âmbito da temática dos 200 anos da Independência do Brasil e do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922 foi objeto da produção de uma publicação digital, que pode ser acessada, tanto pelo arquivo em PDF do link abaixo ou pelo QR Code.
https://www.faperj.br/rp/downloads/livro-Bicentenario.pdf
Autor: Débora Motta e Paula Guatimosim
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 02/09/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=177.7.2
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