A pesquisa que deu origem ao artigo vencedor integra o projeto de doutorado de Marcela Alves Andrade, estudante no Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia da UFSCar e bolsista da FAPESP, sob orientação de Tatiana Sato, docente no Departamento de Fisioterapia.
Conclusão é de estudo com mais de 1,6 mil participantes de todo o Brasil. Trabalho foi premiado em concurso promovido pela Capes (foto: Md Azam/Pixabay)
Andrade participou do Concurso de Artigos Científicos da Capes sobre “Fortalecimento de vínculos familiares em tempos de pandemia”. Ela ficou em segundo lugar na categoria “Estratégias de equilíbrio trabalho-família no contexto do isolamento social”.
O trabalho mostra que profissionais do setor de educação foram os que enfrentaram mais dificuldades na relação trabalho-família no início da pandemia. E, no outro extremo, estão as pessoas com mais de 60 anos.
A pesquisa, que teve início em 2020, faz parte do estudo “Implicações da pandemia de COVID-19 nos aspectos psicossociais e capacidade para o trabalho em trabalhadores brasileiros - estudo longitudinal (IMPPAC)". O objetivo central é avaliar aspectos psicossociais e a capacidade para o trabalho em profissionais de vários setores econômicos, com acompanhamento longitudinal durante 12 meses.
Foram aplicados questionários on-line a 1.698 trabalhadores, dentre os quais o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ II-Br), desenvolvido na Dinamarca, traduzido e adaptado para o português brasileiro pelo grupo liderado pela professora Sato.
O instrumento abrange uma série de aspectos, dentre os quais o conflito entre trabalho e família, tema do concurso de artigos científicos. "A partir do artigo, pudemos explorar esse aspecto de forma mais aprofundada", explica Sato.
“Nós tivemos de modificar nossa forma de trabalhar e de se relacionar com o trabalho e com a família dentro de casa. Foi tudo muito brusco, inesperado e imprevisível. Então, esse tema é muito relevante e interessante”, destaca a professora.
Nesse contexto, o estudo identificou que o conflito foi menor em pessoas acima dos 60 anos, “o que atribuímos à maior experiência para lidar com o trabalho e a família e, também, ao fato de que os trabalhadores com mais idade podem ter tido redução da carga de trabalho na pandemia por comporem o grupo de risco”.
Outros pontos importantes destacados na pesquisa referem-se ao trabalho no setor da educação e ao medo de se contaminar no trabalho. Esses fatores, segundo a orientadora da pesquisa, foram associados ao conflito entre trabalho e família: “Sabemos que os professores foram altamente impactados pelo ensino remoto, o que gerou aumento das demandas de trabalho e da chance de conflitos com a vida familiar”.
Em relação ao medo de contaminação, a professora relata que, no início da pandemia, havia muito medo de que os familiares pudessem ser contaminados e, em decorrência dessa insegurança, muitos profissionais relataram durante a pesquisa que seus familiares desejavam que eles deixassem suas profissões, principalmente os da área da saúde, ou mudassem de emprego, mesmo que momentaneamente, para que o risco fosse minimizado. "Assim, o estresse emocional e psicológico devido ao medo da contaminação pode ter ocasionado conflitos entre diferentes membros da família", salienta a pesquisadora.
Conflito trabalho-família
A docente aponta, no entanto, que algumas hipóteses iniciais do estudo não foram confirmadas. Uma delas relaciona-se à parentalidade, isto é, ao pressuposto que a presença de filhos estaria associada ao conflito trabalho-família. “Discutimos esse aspecto compreendendo que filhos geram demandas, mas também podem ter contribuído para melhorar as relações entre o trabalho e a família, uma vez que os trabalhadores com filhos tiveram mais momentos de distração familiar e, assim, conseguiram gerenciar melhor o desgaste provocado pelo confinamento”, expõe Sato.
Outra expectativa do estudo era que as mulheres tivessem maior chance de conflito entre trabalho e família, por conta das demandas com os afazeres domésticos e de cuidado familiar, o que também não se confirmou.
O estudo mostrou ainda que o convívio social é importante para o bem-estar individual e coletivo e que nem todos os trabalhadores conseguem conciliar a demanda do trabalho e da família de forma positiva. “O retorno às atividades presenciais e as redes de apoio podem auxiliar nesse processo. É fundamental que as famílias fiquem atentas às modificações de comportamentos, busquem separar as atividades de trabalho das atividades com a família e se prestem mais ao lazer dentro e fora do ambiente familiar”, recomenda Sato.
* Com informações da Coordenadoria de Comunicação Social da UFSCar.
Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 31/08/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/profissionais-da-educacao-tiveram-mais-dificuldade-para-conciliar-trabalho-e-familia-durante-a-pandemia/39484/
Andrade participou do Concurso de Artigos Científicos da Capes sobre “Fortalecimento de vínculos familiares em tempos de pandemia”. Ela ficou em segundo lugar na categoria “Estratégias de equilíbrio trabalho-família no contexto do isolamento social”.
O trabalho mostra que profissionais do setor de educação foram os que enfrentaram mais dificuldades na relação trabalho-família no início da pandemia. E, no outro extremo, estão as pessoas com mais de 60 anos.
A pesquisa, que teve início em 2020, faz parte do estudo “Implicações da pandemia de COVID-19 nos aspectos psicossociais e capacidade para o trabalho em trabalhadores brasileiros - estudo longitudinal (IMPPAC)". O objetivo central é avaliar aspectos psicossociais e a capacidade para o trabalho em profissionais de vários setores econômicos, com acompanhamento longitudinal durante 12 meses.
Foram aplicados questionários on-line a 1.698 trabalhadores, dentre os quais o Copenhagen Psychosocial Questionnaire (COPSOQ II-Br), desenvolvido na Dinamarca, traduzido e adaptado para o português brasileiro pelo grupo liderado pela professora Sato.
O instrumento abrange uma série de aspectos, dentre os quais o conflito entre trabalho e família, tema do concurso de artigos científicos. "A partir do artigo, pudemos explorar esse aspecto de forma mais aprofundada", explica Sato.
“Nós tivemos de modificar nossa forma de trabalhar e de se relacionar com o trabalho e com a família dentro de casa. Foi tudo muito brusco, inesperado e imprevisível. Então, esse tema é muito relevante e interessante”, destaca a professora.
Nesse contexto, o estudo identificou que o conflito foi menor em pessoas acima dos 60 anos, “o que atribuímos à maior experiência para lidar com o trabalho e a família e, também, ao fato de que os trabalhadores com mais idade podem ter tido redução da carga de trabalho na pandemia por comporem o grupo de risco”.
Outros pontos importantes destacados na pesquisa referem-se ao trabalho no setor da educação e ao medo de se contaminar no trabalho. Esses fatores, segundo a orientadora da pesquisa, foram associados ao conflito entre trabalho e família: “Sabemos que os professores foram altamente impactados pelo ensino remoto, o que gerou aumento das demandas de trabalho e da chance de conflitos com a vida familiar”.
Em relação ao medo de contaminação, a professora relata que, no início da pandemia, havia muito medo de que os familiares pudessem ser contaminados e, em decorrência dessa insegurança, muitos profissionais relataram durante a pesquisa que seus familiares desejavam que eles deixassem suas profissões, principalmente os da área da saúde, ou mudassem de emprego, mesmo que momentaneamente, para que o risco fosse minimizado. "Assim, o estresse emocional e psicológico devido ao medo da contaminação pode ter ocasionado conflitos entre diferentes membros da família", salienta a pesquisadora.
Conflito trabalho-família
A docente aponta, no entanto, que algumas hipóteses iniciais do estudo não foram confirmadas. Uma delas relaciona-se à parentalidade, isto é, ao pressuposto que a presença de filhos estaria associada ao conflito trabalho-família. “Discutimos esse aspecto compreendendo que filhos geram demandas, mas também podem ter contribuído para melhorar as relações entre o trabalho e a família, uma vez que os trabalhadores com filhos tiveram mais momentos de distração familiar e, assim, conseguiram gerenciar melhor o desgaste provocado pelo confinamento”, expõe Sato.
Outra expectativa do estudo era que as mulheres tivessem maior chance de conflito entre trabalho e família, por conta das demandas com os afazeres domésticos e de cuidado familiar, o que também não se confirmou.
O estudo mostrou ainda que o convívio social é importante para o bem-estar individual e coletivo e que nem todos os trabalhadores conseguem conciliar a demanda do trabalho e da família de forma positiva. “O retorno às atividades presenciais e as redes de apoio podem auxiliar nesse processo. É fundamental que as famílias fiquem atentas às modificações de comportamentos, busquem separar as atividades de trabalho das atividades com a família e se prestem mais ao lazer dentro e fora do ambiente familiar”, recomenda Sato.
* Com informações da Coordenadoria de Comunicação Social da UFSCar.
Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 31/08/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/profissionais-da-educacao-tiveram-mais-dificuldade-para-conciliar-trabalho-e-familia-durante-a-pandemia/39484/
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