O crescimento do PIB não resolve o problema do emprego, da distribuição da renda e tampouco o da crise ecológica
A médio e longo prazo, manter o crescimento do PIB juntamente com o crescimento do emprego e reduzir as desigualdades é um desafio impossível; tanto mais que estamos vésperas de mais uma revolução com a entrada em cena da inteligência artificial.
Talvez por pouco tempo ainda seja possível alcançar taxas positivas de crescimento do PIB, mas sem aumento do número de empregos ou até com a sua destruição. E este crescimento será benéfico para um número cada vez mais restrito de pessoas. Vamos continuar o processo de substituição de trabalhadores por máquinas e robôs. Substituir o trabalho humano pelas máquinas é um antigo processo para aumentar a produtividade. Mas com o avanço das novas tecnologias este processo está cada vez mais acelerado.
E as máquinas necessitam de energia para funcionar, particularmente de energias fósseis. E o valor agregado gerado por estes robôs será apropriado pelo detentor do capital. A partilha entre o capital e o trabalho será e continuará sendo mais favorável ao primeiro do que ao segundo. Segundo a Oxfam International, 82% da riqueza do planeta já é apropriada por 1% da população. Nos fazer crer que o problema do emprego será resolvido com mais crescimento e com melhor distribuição de renda é um equívoco.
Além deste aspecto, o crescimento do PIB aumenta o impacto negativo sobre o meio ambiente, ou seja, cresce o tamanho da pegada ecológica da sociedade sobre a natureza, sobretudo em função do aumento do consumo de energias fósseis. Não há como dissociar o crescimento do PIB do crescimento do consumo de energia. Para aumentar o PIB é preciso aumentar o número de maquinas que consomem energia, a energia fazendo o trabalho do homem. Um litro de petróleo restitui em energia mecânica o equivalente a 80 dias de trabalho de um ser humano. Tal a quantidade de energia concentrada em um volume pequeno de energia fóssil.
Assim, o crescimento do PIB não resolve o problema do emprego, da distribuição da renda e tampouco o da crise ecológica.
Seguir neste caminho significa levar a sociedade humana para o colapso através de uma crise ecológica sem precedentes: elevação da temperatura média acima de 2ºC, ainda em meados deste século, perda de biodiversidade e esgotamento dos recursos naturais.
E o que fazer diante desta catástrofe? É uma questão aberta e sobre a qual não existe unidade. Um caminho a ser construído com urgência.
Tomás Togni Tarqüinio, Antropólogo e pós-graduado em Prospectiva pela EHESS, Paris
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 07/01/2019
Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 07/01/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/01/07/colapso-economico-e-ecologico-artigo-de-tomas-togni-tarquinio/
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