terça-feira, 10 de julho de 2018

Paul Gilding, ruptura de modelo e a sustentabilidade, artigo de Roberto Naime





Nem todos conhecem o australiano Paul Gilding, professor de sustentabilidade na Universidade de Cambridge. Mas interessante matéria na revista exame ambiental merece divulgação e comentários. Na década de 90, Paul Gilding ocupou a presidência do Greenpeace, uma das Organizações Não Governamentais (ONGs) ambientalistas mais combativas do mundo.

Mas deixou a organização depois de cinco anos por discordar de sua política de apenas atacar as corporações.

Desde 1994, Gilding aconselha executivos de grandes empresas a atuar de forma diferente nos negócios. Em seu livro “A Grande Ruptura”, lançado em 2014 no Brasil, Paul Gilding defende que devido às mudanças climáticas, até o final desta década o sistema econômico mundial sofrerá um colapso muito pior do que as últimas crises. Podem haver modificações temporais, mas se concorda com o diagnóstico.

A marca da simplicidade é sempre característica das mais argutas e integradas observações. As observações de Paul Gilding se aproximam muito de tudo que tem se refletido neste espaço. Nem que seja por razões econômicas ou que seja exclusivamente pela defesa de interesses, esta situação tornará as modificações de paradigmas obrigatórias.

Arguido sobre as evidências da “grande ruptura”, ele assevera “A falta de água em São Paulo é um ótimo exemplo. O desmatamento das florestas provoca menos chuvas nos locais onde elas costumavam cair e a infraestrutura que existe não está preparada para essa mudança. Minha tese sobre a grande ruptura, é que problemas como esse vão se refletir, cada vez mais, na economia e só então a sociedade vai se mexer”.

Retornando ao círculo virtuoso do fato que aqui se denomina de atual autopoiese sistêmica, que tem sido objeto de tantas reflexões, instado a se manifestar sobre a possibilidade de evitar que a ruptura ocorra, Paul Gilding se manifesta “Se o desempenho econômico e a criação de empregos continuarem vinculados ao consumo, teremos um crescimento limitado porque os recursos materiais vão se esgotar. Há limites para o que é físico, mas não há limites para o número de empregos que se pode ter, e eles devem ser criados de outras maneiras”.

Seria muito interessante que houvesse manifesto mais específico, mas enfim, se corrobora que uma outra realidade é possível. Não se sabe se nova autopoiese sistêmica será possível sem a ocorrência de rupturas ou cataclismas no arranjo dos sistemas.

Lembrando do consumo colaborativo e de outras inovações, Paul Gilding relata suas concepções das novas maneiras e atributos de futuros sistemas. Ele argumenta que “Precisamos recompensar serviços e experiências, reutilizar o lixo e descaracterizar o consumo de coisas materiais. Gosto dos programas de compartilhamento de carros, em que o cliente paga por hora pelo uso, e evita os estacionamentos, diminui a quantidade de novos veículos nas ruas e faz um uso mais eficiente do recurso”.

Indagado se este modelo de compartilhamento de consumo que se chama “consumo colaborativo” vai prejudicar as montadoras de veículos no futuro, Paul Gilding registra que “Sim, quem não se preparar vai quebrar. Não é um problema para a sociedade como um todo, apenas se vai substituir alguns tipos de empresa por outras. É o que chamo de momento Kodak, em que uma tecnologia será substituída por outra”.

Provocado a manifestar exemplos de outros setores que seriam afetados, Paul Gilding relata “A petroleira Shell, por exemplo, assume em seu plano estratégico que a temperatura do planeta vai subir 3 ou 4 graus. Diversos estudos já publicados de cientistas e economistas apontam que um aumento de mais de 2 graus vai bagunçar completamente o fornecimento de alimentos em todo o mundo. Empresas como a Unilever serão muito prejudicadas. Portanto, ou teremos espaço para uma Shell ou para uma Unilever. As duas não poderão coexistir”.

Advindo de cultura anglo-saxônica, onde muito se emprega as cargas tributárias e os mecanismos fiscais para induzir ou inibir cenários, como é notável na Alemanha, questionado como os sistemas tributários poderiam ajudar, Paul Gilding é direto e objetivo “Menos impostos sobre o emprego encorajariam os negócios a contratar mais pessoas. E mais impostos sobre os produtos incentivariam a reciclagem e a diminuição de resíduos.

Finalizando arguido sobre o que empresas e organizações de fato estão se engajando e realizando, Gilding manifesta “Algumas companhias estão incluindo questões de sustentabilidade em sua agenda e tentando acertar. Mas ainda é muito pouco. Para realmente fazer a diferença, os empresários precisam ser mais rápidos e aumentar a pressão sobre os governos”.

São desnecessárias outras reflexões adicionais diante de tanta crueza nos diagnósticos. Mas não resta a menor dúvida de que nova autopoiese sistêmica se implantará por necessidade do arranjo econômico. Não se sabe se até o fim da década ou nas décadas vindouras. E nem a extensão das rupturas sistêmicas que ocorrerão. Mas contra fatos da realidade, não existirão argumentos.

Referência:
http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1081/noticias/um-novo-modelo-de-negocios-para-evitar-crises


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 10/07/2018




Autor: Roberto Naime
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 10/07/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/07/10/paul-gilding-ruptura-de-modelo-e-a-sustentabilidade-artigo-de-roberto-naime/

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