O refluxo laringofaríngeo caracteriza-se por retorno do conteúdo do estômago de volta para as áreas acima do esfíncter esofágico, incluindo cavidade nasal, boca, faringe, laringe, traqueia e/ou pulmões. A etiopatogênese deste refluxo ainda não está totalmente esclarecida, mas sugere-se que seja multifatorial.
É considerado refratário, o refluxo não controlado com tratamento com inibidor da bomba de prótons em dose plena, por dois meses. Nesta situação, sintomas como angustia, desconforto físico sem alterações patológicas orgânicas, ansiedade ou depressão podem ocorrer. É uma entidade patológica frequente, tanto nos consultórios de gastrenterologia, quanto nos de otorrinolaringologia. E a busca por melhora clínica pode ser desafiante, gerando muito sofrimento para médicos e pacientes.
Estudo
Huang e colaboradores em 2022 estudaram 28 pacientes com suspeita de refluxo laringofaríngeo, de ambos os sexos e com idades de 20 a 65 anos. Os pacientes foram diagnosticados com refluxo laringofaríngeo quando apresentaram manifestações típicas: de sensação de corpo estranho na faringe, pigarro persistente, combinado com escores da escala de classificação de sintomas de refluxo. O critério para ser considerado refratário foi que o paciente não apresentou alívio significativo dos sintomas com o tratamento com omeprazol 20 mg em dose plena.
Os critérios de exclusão foram: massa cervical/tumor maligno, história de cirurgia de pescoço e garganta, presença de doenças subjacentes graves e dificuldade em cooperar com o estudo clínico. Todos os pacientes foram classificados pelas escalas de ansiedade e depressão, a saber Self-rating Anxiety Scale (SAS) e Self-rating Depression Scale (SDS). Dos 28 pacientes estudados, os principais sintomas foram sensação de corpo estranho (21 pacientes – 75,0%), pigarro persistente (9 pacientes – 32,1%) e desconforto epigástrico com regurgitação e arrotos (10 pacientes – 35,7%). Ao exame local, os pacientes apresentaram principalmente, adesão de muco na laringe (28 pacientes – 100%) e eritema/hiperemia da mucosa aritenoide (27 pacientes – 96,4%).
Os sintomas e sinais de refluxo foram mais graves nos pacientes que apresentavam sintomas psiquiátricos de ansiedade e/ou depressão.
Os pacientes foram tratados com Deanxit (não disponível no Brasil) para ansiedade/depressão. Após um mês de tratamento, os pacientes foram reavaliados e houve melhora estatisticamente significativa das escalas de ansiedade e depressão. Após o tratamento com a medicação antidepressiva/ansiolítica, o estado mental dos pacientes melhorou, a disfunção do nervo autônomo gastrointestinal foi regulada e a hipersensibilidade visceral reduzida.
Segundo a literatura, fatores mentais podem alterar a secreção hormonal e a resposta no trato gastrointestinal através dos reflexos do eixo cérebro-intestino, do estresse, enquanto regulam as sensações esofágicas. Destaca-se que mesmos os pacientes que não tinham ansiedade ou depressão também melhoraram dos sintomas atípicos com o Deanxit.
Limitações sobre os resultados desde estudo foram o pequeno tamanho da amostra que pode influenciar os resultados do estudo. Os processos de diagnóstico e tratamento são demorados, o que faz com que alguns pacientes relutaram em cooperar ou completar os exames e o tratamento. Finalmente, não se sabia se os pacientes apresentavam ansiedade e depressão antes de serem tratados devido ao refluxo laringofaríngeo.
Conclusão
Conclui-se que pacientes com refluxo laringofaríngeo podem apresentar ansiedade e depressão; e que o tratamento destas condições pode melhorar os sintomas de refluxo. Estudos com maiores casuísticas contribuirão para reforçar esta correlação.
Autor: Vera Lucia Angelo Andrade
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 12/05/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/refluxo-laringofaringeo-refratario-pode-estar-relacionado-a-ansiedade-e-ou-depressao/
Nenhum comentário:
Postar um comentário