quarta-feira, 19 de abril de 2023

Rede de pesquisa identifica novo coronavírus em porcos do mato


Uma rede de pesquisa monitora possíveis infecções virais que provocam doenças em mamíferos da fauna nacional de diferentes biomas, como a floresta Amazônica, Mata Atlântica e o Cerrado, para avaliar o potencial risco à saúde humana. Fazem parte da rede 40 laboratórios brasileiros de centros de pesquisa, de primatologia e zoológicos do Rio de Janeiro, Santa Catarina, Mato Grosso e Amazonas. Graças a esse monitoramento, pesquisadores conseguiram identificar um novo coronavírus que matou porcos do mato também conhecido como cateto ou queixada.

O coronavírus encontrado é um betacoronavírus da linhagem A e foi nomeado de Ptajacu-CoV. A identificação aconteceu em três porcos do mato, no Rio de Janeiro, e que apresentaram sintomas como prostração, apatia e intensa desidratação, além de danos pulmonares e renais, que acabaram levando os animais ao óbito. Até o momento, nenhum outro caso desse tipo foi detectado no mundo e também se desconhece riscos para os seres humanos.

Liderados por André Felipe Andrade dos Santos, do Instituto de Biologia da UFRJ, a rede busca estabelecer protocolos de sequenciamento massivo para investigação e monitoramento de vírus circulantes. O pesquisador recebeu recursos para o desenvolvimento do estudo por meio de proposta submetida e aprovada no edital Apoio a Projetos Temáticos no Estado do Rio de Janeiro, lançado pela FAPERJ em agosto de 2021.

Andrade explica que a identificação de vírus, até então, era realizada, principalmente, por meio de cultura celular e da caracterização molecular, teste que depende de aparelhos como PCR e de profissionais capacitados em sequenciamento viral. Mas, segundo ele, muitos vírus não são propagados e nem identificados em cultura celular. Diante desse cenário, a descoberta de novos vírus era limitada.



André Felipe Andrade dos Santos: pesquisador lidera rede que busca estabelecer protocolos de sequenciamento massivo para investigação e monitoramento de vírus circulantes no País
Mas com o surgimento de técnicas de sequenciamento massivo, conhecidas pela sigla HTS (do inglês, High-Throughput Sequencing), tudo mudou. Os custos de sequenciamento de genoma foram reduzidos de forma impactante e a variedade de análises foi amplificada. Hoje, já é possível sequenciar toda a população viral presente em amostras biológicas como fezes, sangue e saliva de mamíferos.

Rapidez na caracterização da diversidade viral dos reservatórios animais e controle de possíveis surtos de doenças em primatas, roedores e morcegos mantidos em cativeiro ou de vida livre são os principais objetivos que podem, ainda, servir de alerta para a população sobre riscos de doenças em animais serem transmitidas para a sociedade.

Estima-se que entre 60 a 75% de todas as doenças infecciosas emergentes são de origem animal e que a rápida expansão das atividades humanas sobre o meio ambiente tem resultado em maior potencial de troca de agentes infecciosos, por isso a vigilância é necessária e imprescindível.


Autor: Claudia Jurberg
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 13/04/2023
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=296.7.9 

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