“Esse estudo ajuda a elucidar especificamente o processo evolutivo da ordem Notoungulata e demonstra o potencial científico que a Bacia de Itaboraí, atual Parque Paleontológico de São José de Itaboraí, tem a oferecer aos pesquisadores e à população”, disse o geólogo Luís Otávio Rezende Castro, primeiro autor do artigo e gestor do Parque. Ele desenvolveu o projeto de pesquisa que resultou na identificação do fóssil durante seu mestrado em Geociências, na Uerj. O estudo foi tema da sua dissertação de mestrado, entre 2019 e 2020, sob orientação científica da professora Lílian Paglarelli Bergqvist, da UFRJ, do professor Hermínio Araújo Junior (orientador acadêmico da Uerj) e do pesquisador argentino Daniel Garcia Lopez da Universidade de Tucumán (orientador científico), referência em pesquisas sobre notoungulados na América do Sul. "A parceria com o Daniel teve início por meio de uma bolsa Cientista do Nosso Estado, concedida a ele pela FAPERJ, que possibilitou que ele viesse ao Rio avaliar o material fossilizado do mamífero e se unisse ao trabalho de orientação de Luís Otávio", completou Lílian.
Curiosamente, o material fossilizado do mamífero não foi descoberto agora. Ele já estava depositado desde 1968 na Coleção de Vertebrados Fósseis do Museu de Ciências da Terra, na Urca, época em que foi descoberto nas escavações realizadas na Bacia de Itaboraí pelos pesquisadores Diógenes Campos e Llewellyn Price, grandes nomes da Paleontologia no Brasil. “O grupo dos notoungulados tem características bastante complexas, o que dificulta sua análise, e talvez por isso tenha ficado guardado por todos esses anos, sem nenhum outro pesquisador ter feito uma revisão. Para identificar essa nova espécie, fizemos uma análise minuciosa da arcada dentária do animal, observando fragmentos maxilares, dentários e os dentes isolados, no Laboratório de Macrofósseis da UFRJ”, contou Castro.
Maxila direita com dentes preservados do mamífero: o estudo da arcada dentária fossilizada foi fundamental para identificar a nova espécie (Foto: Divulgação/UFRJ)
Os notoungulados constituem o grupo mais diverso e abundante de ungulados nativos sul-americanos, que viveram durante todo o Cenozoico, se extinguindo no Pleistoceno, depois da extinção dos dinossauros. A importância da fauna da Bacia de Itaboraí, especialmente de mamíferos, é tanta que foi proposto o andar Itaboraiense (aproximadamente 57 milhões de anos) na coluna sul-americana que posiciona cronologicamente as idades-mamífero (SALMA – South American Land Mammal Ages). “Identificamos semelhanças morfológicas com os gêneros da família de Henricosborniidae. Ele pertence a essa família, mas apresenta características próprias, o que possibilitou a criação do gênero Nanolophodon e a espécie Nanolophodon tutuca”, disse.
O Nanolophodon tutuca era um mamífero de pequeno porte. “Provavelmente ele foi um animal que servia de base para a alimentação de predadores carnívoros maiores. Com hábito alimentar herbívoro, ele media cerca de 30 centímetros de comprimento, da ponta do rabo até o focinho. Trata-se de uma espécie nova da ordem dos notoungulados da família do Henricosborniidae. Numa escala de tempo, esse grupo viveu na interseção dos períodos Paleoceno e Eoceno”, contextualizou.
A última vez que pesquisadores haviam identificado uma nova espécie de ungulados na Bacia de Itaboraí foi na década de 1980. “Esse é o menor notoungulado encontrado na Bacia de Itaboraí. Esse achado reforça a riqueza paleontológica da Bacia de Itaboraí, uma das menores bacias sedimentares do Brasil, sendo o mais antigo registro brasileiro da diversificação dos mamíferos após a extinção dos dinossauros. Com intensa formação calcária, o local propiciou a conservação dos fósseis e ainda tem muito a contribuir para a Ciência”, destacou Lílian.
A trajetória científica de Luís Otávio começou ainda na época em que cursava o Ensino Médio em Itaboraí, quando foi bolsista do programa Jovens Talentos, da FAPERJ, e posteriormente, durante sua graduação em Biologia, bolsista de Iniciação Científica, da Fundação. “Estudei no Colégio Estadual Francesca Carey, e na época fizeram uma chamada para os alunos participarem desse programa Jovens Talentos da FAPERJ, coordenado então pelas professoras Maria Antonieta e Lílian, que me incentivaram a cursar Biologia e me especializar em Paleontologia. Sou um exemplo da importância da agência estadual de fomento à pesquisa para a formação e atração de jovens para as carreiras científicas”, relembrou. Atualmente, ele cursa o Doutorado, em desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em Geologia da UFRJ, sob orientação de Lílian e de Garcia-Lopez.
Morador de Itaboraí, o gestor do Parque Natural Municipal Paleontológico aposta na Ciência e na beleza natural do lugar como forma de impulsionar o turismo na região. “Queremos que o Parque ajude a fomentar o turismo no município, e esse é um objetivo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo da Prefeitura de Itaboraí, na gestão do prefeito Marcelo Delaroli. O Parque apresenta um potencial turístico e científico muito grande, tanto para os cariocas como para os moradores de Itaboraí. Temos um diamante que precisa ser lapidado”, ponderou. Visitas guiadas podem ser agendadas pelo email: parquepaleontologico@itaborai.rj.gov.br
Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 16/09/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4296.2.7
O Nanolophodon tutuca era um mamífero de pequeno porte. “Provavelmente ele foi um animal que servia de base para a alimentação de predadores carnívoros maiores. Com hábito alimentar herbívoro, ele media cerca de 30 centímetros de comprimento, da ponta do rabo até o focinho. Trata-se de uma espécie nova da ordem dos notoungulados da família do Henricosborniidae. Numa escala de tempo, esse grupo viveu na interseção dos períodos Paleoceno e Eoceno”, contextualizou.
A última vez que pesquisadores haviam identificado uma nova espécie de ungulados na Bacia de Itaboraí foi na década de 1980. “Esse é o menor notoungulado encontrado na Bacia de Itaboraí. Esse achado reforça a riqueza paleontológica da Bacia de Itaboraí, uma das menores bacias sedimentares do Brasil, sendo o mais antigo registro brasileiro da diversificação dos mamíferos após a extinção dos dinossauros. Com intensa formação calcária, o local propiciou a conservação dos fósseis e ainda tem muito a contribuir para a Ciência”, destacou Lílian.
A trajetória científica de Luís Otávio começou ainda na época em que cursava o Ensino Médio em Itaboraí, quando foi bolsista do programa Jovens Talentos, da FAPERJ, e posteriormente, durante sua graduação em Biologia, bolsista de Iniciação Científica, da Fundação. “Estudei no Colégio Estadual Francesca Carey, e na época fizeram uma chamada para os alunos participarem desse programa Jovens Talentos da FAPERJ, coordenado então pelas professoras Maria Antonieta e Lílian, que me incentivaram a cursar Biologia e me especializar em Paleontologia. Sou um exemplo da importância da agência estadual de fomento à pesquisa para a formação e atração de jovens para as carreiras científicas”, relembrou. Atualmente, ele cursa o Doutorado, em desenvolvimento no Programa de Pós-graduação em Geologia da UFRJ, sob orientação de Lílian e de Garcia-Lopez.
Morador de Itaboraí, o gestor do Parque Natural Municipal Paleontológico aposta na Ciência e na beleza natural do lugar como forma de impulsionar o turismo na região. “Queremos que o Parque ajude a fomentar o turismo no município, e esse é um objetivo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo da Prefeitura de Itaboraí, na gestão do prefeito Marcelo Delaroli. O Parque apresenta um potencial turístico e científico muito grande, tanto para os cariocas como para os moradores de Itaboraí. Temos um diamante que precisa ser lapidado”, ponderou. Visitas guiadas podem ser agendadas pelo email: parquepaleontologico@itaborai.rj.gov.br
Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 16/09/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4296.2.7
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