quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O que fazer em casos de crise de asma?




No Brasil, foram registrados 2.477 mortes decorrentes de asma em 2017, segundo o Datasus. É uma crise frequente na emergência mas, em geral, poucos casos levam ao óbito. Se considerado que até um quarto da população sofre com essa condição, pode-se considerar o número baixo.

Esta semana, o Brasil se comoveu com a história da escritora e atriz Fernanda Young, de 49 anos, que teve uma crise no sítio da família, em Gonçalves (MG), e o quadro evoluiu para uma parada cardíaca. Neste contexto, precisamos estar preparados para evitar este desfecho trágico na emergência, identificando os sinais de gravidade e agindo rapidamente.

O Dr Eduardo Cardoso, produziu uma série de 3 textos com base no último ABRAMEDE, que nos ajudam a responder muitas perguntas nestes casos mais graves e iremos compilar aqui as principais orientações.

1) Detectar a gravidade da asma

O primeiro passo diante de um paciente com crise asmática é identificar as manifestações que indicam que o doente provavelmente evoluirá desfavoravelmente, como, por exemplo, o uso de musculatura acessória. Os pacientes em maior risco são aqueles que se apresentam sonolentos, agitados ou com tórax silencioso, que é o doente que deixa de sibilar. Quando o sibilo, principal manifestação da asma (decorrente do broncoespasmo), desaparece, é um sinal de que o paciente está deteriorando.

2) Tratamento

A partir da detecção de gravidade, deve-se iniciar o tratamento imediatamente:
Beta-agonista de curta duração (inalatório, de preferência);
Associado ao tratamento beta-agonista, o mais recomendado é iniciar imediatamente a corticoterapia;
Deve-se iniciar também o brometo de ipratrópio inalatório, que vai atuar como um tratamento adjuvante na asma grave.

Aminofilina e sulfato de magnésio são eficazes?

A aminofilina é muitas vezes utilizada, mas não há nenhum estudo que mostre um benefício real e seu uso é bastante contraditório. O sulfato de magnésio, que também é utilizado em algumas situações, é recomendado apenas nos casos refratários.

Para saber o momento correto, deve-se usar a regrinha mnemônica: o ABC da intubação orotraqueal no asmático.

A) Alteração do estado mental.
B) Breathing: refere-se às manifestações de que a respiração não está bem, ou seja, hipóxia e hipocapnia (marcadores de gravidade importantes no curso da asma).
C) Curso desfavorável: pacientes que estão deteriorando, assumindo um curso desfavorável. Determinar esse curso desfavorável é o mais difícil.

Nessa avaliação do paciente, é fundamental o uso de um aparelho de Peak flow, que hoje tem um preço acessível e fornece bastante informação ao profissional. O aparelho mede o pico de fluxo respiratório do paciente e as medidas sucessivas oferecem um bom parâmetro de como está a respiração do mesmo
Ventilação não invasiva (VNI)

A ventilação não invasiva continua sendo um tema controverso. Na prática diária, seu uso é comum e eficaz, diminuindo a acidose e hipercapnia. Mas fica o alerta: a VNI não deve retardar a IOT. Se o paciente está evoluindo mal, não se deve retardar sua intubação, que é o que realmente resolverá o problema.
Recomendações para intubação do asmático

A melhor técnica para IOT é a de sequência rápida: pré-oxigenação, uso de sedativo e bloqueio neuromuscular.

Durante a pré-intubação, a VNI é um recurso interessante para pré-oxigenar o paciente, se a pré-oxigenação sem VNI não é tão efetiva. Lembrar de utilizar continuamente o broncodilatador.

Atenção! Pensando em IOT no asmático, a escolha do tamanho do tubo é muito importante. Nesses casos, nunca use um tubo menor que o 8 (com exceção de pacientes pediátricos).

Autor: Pebmed
Fonte: Pebmed
Sítio Online da Publicação: Pebmed
Data: 28/08/2019 
Publicação Original: 
https://pebmed.com.br/asma-o-que-fazer-em-casos-como-o-da-fernanda-young/

Quiz: paciente com mialgia, febre e desconforto abdominal. Qual o diagnóstico?

febre

Paciente masculino, 47 anos, previamente hígido, procura atendimento médico por apresentar queixa de astenia, mialgia, anorexia, febre e desconforto abdominal, principalmente em quadrante superior direito. Refere também náuseas e vômitos. Após alguns dias de sintomas, notou que sua urina estava escurecida e que seus olhos estavam amarelados.
O médico assistente solicitou exames laboratoriais que mostraram: Hb = 13, Ht = 39%, leucograma = 3000 células/mm³, plaquetas = 150.000, TGP = 1024, TGO = 1500, FA = 50, GGT = 120, BT = 5, BD = 3,8, BI = 1,2, Na = 135, K = 4,2, U = 13, Cr = 0,7.
O paciente nega viagens recentes ou contato com coleções de água ou lama. Refere ter se vacinado contra febre amarela durante campanha em 2018. Quando questionado, afirma que mais 2 amigos, com quem havia jantado em um restaurante aproximadamente 3 semanas antes do início do quadro, apresentaram sintomas semelhantes na semana anterior.

Quiz

  1. Diante da história clínica e dos exames laboratoriais, qual a hipótese diagnóstica mais provável?
Autor: Pebmed
Fonte: Pebmed
Sítio Online da Publicação: Pebmed
Data: 29/08/2019 
Publicação Original: https://pebmed.com.br/quiz-paciente-com-mialgia-febre-e-desconforto-abdominal-qual-o-diagnostico/

Miopia: veja alguns fatos sobre a doença



O que acontece?

A imagem é focada na frente da retina, o que causa um embaçamento visual principalmente para longe. Para corrigir, precisamos trazer a imagem para trás, com uma lente que cause uma divergência dos raios.
É muito comum?

Ocorre em 42% dos americanos entre 12 e 54 anos. No leste asiático a prevalência é a maior, chegando a 69% aos 15 anos de idade.
Quando ocorre?
Comprimento axial do olho muito grande OU
Córnea muito curva OU
Cristalino muito espesso.
Porque o olho cresce muito?

Indivíduos que carregam genes associados ao desenvolvimento de miopia tem uma chance 10 vezes maior.

Causas ambientais: Pouco tempo de atividade outdoor pelas crianças, maior tempo utilizando a visão de perto (celulares, tablets, computadores).

O que consideramos “alta miopia”?

Quando necessita de -6 dioptrias ou mais de correção. A alta miopia aumenta o risco de descolamento de retina, catarata, glaucoma e degenerações miópicas da retina, edema macular e neovascularização coroidal.
Como diagnosticar?
Crianças devem ser levadas ao Oftalmologista de acordo com as recomendações da Sociedade Brasileira de Oftalmopediatria (SBOP) a cada 6 meses nos 2 primeiros anos de vida e, após isso, anualmente;
Crianças que ficam muito próximas aos objetos para enxergar e que se queixam de não enxergar o quadro da escola devem ser imediatamente referenciadas ao Oftalmologista;
O exame oftalmológico, incluindo a retinoscopia e a refração, deve ser realizado, sendo necessária a cicloplegia em grande parte dos casos para confirmação do grau.
Como corrigir?
Óculos;
Lentes de Contato;
Cirurgia refrativa.
Como evitar o desenvolvimento de altas miopias?
Estimular as atividades outdoor, sob a luz do sol;
Desestimular o uso excessivo da visão de perto, limitar uso de tablets e celulares;
Acompanhar de perto com oftalmologista, sendo possível hoje o uso de algumas técnicas na tentativa de estabilizar o grande aumento da miopia, como o uso de colírio de atropina e da ortoceratologia.


Autor: Pebmed
Fonte: Pebmed
Sítio Online da Publicação: Pebmed
Data: 28/08/2019 
Publicação Original: https://pebmed.com.br/miopia-veja-alguns-fatos-sobre-a-doenca/

Pré-natal e escabiose: como manejar?

pré-natal

Em uma série de vídeos de Medicina de Família, o especialista Renato Bergallo fala sobre o atendimento longitudinal de uma família. No primeiro episódio, veja como fazer a consulta de pré-natal e como tratar a escabiose!



Autor: Pebmed
Fonte: Pebmed
Sítio Online da Publicação: Pebmed
Data: 28/08/2019 
Publicação Original: https://pebmed.com.br/pre-natal-e-escabiose-como-manejar/

As oito maiores necessidades dos pacientes crônicos





Nos últimos três anos, a Quid, uma plataforma de análise de dados e linguagem, e a UCB, uma empresa biofarmacêutica global, firmaram uma parceria para analisar as postagens realizadas por pacientes crônicos. Elas eram realizadas em fóruns online nos Estados Unidos, como um recurso para compartilhar as suas alegrias e frustrações com outros que passam pela mesma experiência.

O objetivo era descobrir as necessidades coletivas não atendidas desses pacientes. Eles viam nestes fóruns uma maneira de construir uma comunidade virtual online. Além de discutir todos os aspectos de seus cuidados com a privacidade proporcionada pelo anonimato.

A plataforma explorou mais de 500 mil comentários públicos anônimos. Eles foram realizados em mídias digitais abertamente acessíveis para pacientes com enfermidades crônicas de 2010 a 2018. A análise utilizou um processamento de linguagem natural e aprendizado de máquina.
Necessidades não atendidas dos pacientes

Ao analisar esses comentários dos pacientes, foram identificadas oito necessidades específicas do paciente que não foram atendidas.

Com base na maioria dos comentários e linguagem dentro de cada necessidade, essas necessidades foram classificadas em dois grupos, médico e emocional:
Necessidades médicas: relacionadas aos sintomas, especificidades de tratamento e cura da doença;
Necessidades emocionais: relacionadas ao conhecimento e poder para tomar decisões informadas e preparar-se para a vida diária, como administrar a doença a longo prazo e o envolvimento da comunidade.

Curiosamente, os dados coletados mostram que seis das oito principais necessidades não atendidas são mais preocupações emocionais de longo prazo. E o foco delas é em como viver com a doença (compreendendo os efeitos colaterais dos medicamentos e o impacto na vida diária, e lidando com a vida com a condição).

Os profissionais de saúde há muito sabem da importância de abordar os problemas de qualidade de vida dos pacientes crônicos. E essa análise quantitativa agora confirma essa importância em várias áreas de doenças.

Em outras palavras, os pacientes passaram a entender que as suas condições não podem ser resolvidas apenas por intervenções médicas de curto prazo e agora estão ativamente pedindo ajuda para viver com a doença. Eles querem algum grau de controle sobre como a doença afeta as suas vidas. Até porque viver com a doença também significa entender a doença.

O que a pesquisa descobriu?

De acordo com a pesquisa realizada, essas são as maiores necessidades dos pacientes crônicos:
Compreender os efeitos colaterais dos medicamentos e o impacto diário em sua vida.
Aprender a lidar com a sua atual condição.
Entender a doença e as suas causas.
Saber identificar e atenuar os sintomas da sua doença.
Conectar-se com outros pacientes da mesma doença para compartilhar as suas experiências.
Saber gerenciar a progressão da doença.
Saber quais as melhores opções de tratamento.
Compreender melhor os testes, procedimentos e resultados dos diagnósticos.

Como mostra a relação acima, dois dos oito primeiros precisam de referência sobre como os pacientes estão procurando entender a sua doença mais profundamente, nos níveis teóricos e práticos.

A Internet tornou fácil a procura por qualquer doença para obter acesso imediato às informações. Entretanto, como os pacientes não têm treinamento médico, ainda existe uma lacuna em ajudá-los a compreender verdadeiramente suas condições em plena complexidade.

Sendo assim, não é suficiente informar aos pacientes sobre as medidas médicas exatas que devem ser tomadas para controlar a condição deles (cronograma de medicação, efeitos colaterais a serem observados, etc.). Mas, também, os pacientes estão pedindo ajuda para entender o raciocínio e a ciência por trás desses passos médicos.


Autor: Pebmed
Fonte: Pebmed
Sítio Online da Publicação: Pebmed
Data: 29/08/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/as-oito-maiores-necessidades-dos-pacientes-cronicos/

Já ouviu falar sobre GMSI ou MGUS?




Gamopatia Monoclonal de Significado Indeterminado (GMSI), conhecida pela abreviação do termo inglês “Monoclonal Gammopathy of Undeterminated Significance” (MGUS) é uma desordem clonal pré-maligna, classificada a depender do tipo de imunoglobulina envolvida, como IgM, não IgM ou cadeia leve. Pode progredir ou não para mieloma múltiplo ou outras doenças hematológicas.
Quais São os Achados Clínicos-Laboratoriais dessa Patologia?
MGUS não IgM: proteína Sérica Monoclonal < 3 g/dL, < 10% células monoclonais plasmáticas na medula óssea e ausência de eventos definidores de mieloma (EDM) ou CRAB (hipercalcemia, insuficiência renal, anemia e lesão lítica óssea);
MGUS IgM: proteína Sérica Monoclonal IgM <3 g/dL na ausência de CRAB, EDM, sintomas constitucionais, hiperviscosidade, linfadenopatia, hepatoesplenomegalia ou outros danos nos órgão-alvo associados à paraproteinemias;
MGUS cadeia leve: relação de cadeia leve livre anormal (< 0,26 ou >1,65) na presença de aumento do valor sérico da cadeia leve envolvida, < 10% células monoclonais plasmáticas na medula óssea e ausência de imunoglobulina monoclonal sérica ou urinária, CRAB e amiloidose.
Existem dados epidemiológicos dessa condição?

É fato que MGUS é detectada duas vezes mais em homens do que mulheres. E três vezes mais em pacientes afrodescendentes. Porém, devemos levar em consideração que, apesar de mais prevalente em determinados grupos afrodescendentes, por exemplo, o risco de progressão para mieloma múltiplo é o mesmo. Muitos estudos estão em andamentos para avaliação detalhada da gamopatia.

Fatores de Riscos estão associados à MGUS?

Muitos fatores de risco estão sendo estudados ligados ao desenvolvimento de desordens monoclonais, inclusive MGUS. Um deles é o índice de massa corporal. Altos índices parecem estar associados ao desenvolvimento da condição. Outros fatores estudados que parecem estar ligados são: exposição à radiação e pesticidas.
Quais Condições Clínicas Estão Associadas à MGUS?

Estão associadas à gamopatia clonal: infecções, fraturas, neuropatia periférica, tromboembolismo e gamopatia monoclonal de significado renal.


Devemos Rastrear Portadores de MGUS?

Não existem guidelines de orientação de rastreio de MGUS. No entanto, há interesse pela compreensão dos fatores que contribuem para o risco de progressão da desordem para direcionamento futuro de investigação e intervenção.
E o manejo dessa gamopatia monoclonal, como fazer?

O objetivo atual dos profissionais da área de saúde em relação a MGUS é a monitorização da progressão para fazer intervenções precoces em danos causados por proliferação clonal. No entanto, existe um forte ímpeto de estudar estratégias de intervenção e monitorização precoce da MGUS. A finalidade é melhorar a sobrevida global e complicações dos pacientes acometidos.
Uma vez encontrada MGUS, como estratificamos?

A estratificação de risco individual depende do hemograma completo, creatinina e cálcio séricos. Dependendo do risco, adicionamos na investigação LDH, beta-2-microglobulina e biópsia de medula óssea com FISH.

Para pacientes com MGUS não IgM, avaliamos o esqueleto ósseo com tomografia computadorizada de baixa dose. Pacientes portadores de IgM MGUS necessitam de tomografia de tórax, abdome e pelve para avaliação de linfonodomegalia.

Por fim, MGUS cadeia leve, sob o risco de amiloidose-AL, necessitam de avaliação adicional com NT-proBNP, troponina e eletroforese de proteína urinária.
Como manejamos as alterações clínicas dos pacientes com MGUS?

A neuropatia periférica, por exemplo, deve ser avaliada de forma extensa. Incluem exames como eletromiograma, biópsia de gordura, avaliação de crioglobulinas, anticorpo antiMAG, antigangliosídeo.

Já a disfunção renal necessita de avaliação para amiloidose-AL e GMSR. O acompanhamento conjunto multiespecialidades deve ser sempre considerado, com neurologia e nefrologia, por exemplo.

Por fim, acabamos de conhecer alguns detalhes de uma condição médica geralmente assintomática. Porém com necessidade de compreensão de sua patogênese, avaliação e abordagem terapêutica precoce devido ao potencial risco de desenvolvimento de distúrbios malignos do plasma e células B.




Autor: Pebmed
Fonte: Pebmed
Sítio Online da Publicação: Pebmed
Data: 29/08/2019
Publicação Original: https://pebmed.com.br/ja-ouviu-falar-sobre-gmsi-ou-mgus/

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

Inscrições para mestrado e doutorado na Ensp terminam dia 19/9

Resultado de imagem para mestrado e doutorado

Fonte: Ensp/Fiocruz


Estão disponíveis, no Portal de Ensino da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz) e na Plataforma Siga Stricto Sensu Fiocruz, os editais dos cursos de mestrado e doutorado em Saúde Pública, Saúde Pública e Meio Ambiente e Epidemiologia em Saúde Pública (2020).

Confira os editais:

Saúde Pública
Mestrado
Doutorado

Saúde Pública e Meio Ambiente
Mestrado
Doutorado

Epidemiolgia em Saúde Pública
Mestrado
Doutorado



Autor: Ensp/Fiocruz
Fonte: Ensp/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Ensp/Fiocruz
Data: 28/08/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/inscricoes-para-mestrado-e-doutorado-na-ensp-terminam-dia-19-9

Brics discutirá experiência brasileira em Bancos de Leite Humano



Por: Aline Câmera (Agência Fiocruz de Notícias) e Virginia Valiate (Rede Global de Bancos de Leite Humano)


No ano em que exerce a presidência pró-tempore do Brics (arranjo de países emergentes composto também por China, Rússia, Índia e África do Sul), o Brasil coordenará diversos encontros com o intuito de propor temas prioritários para ações entre os países membros. Prestes a completar 120 anos, a Fiocruz assumiu o papel estratégico de fortalecer, no âmbito do Brics, uma de suas experiências mais exitosas de cooperação horizontal: a Rede Global de Bancos de Leite Humano. A Fundação sediará, em Brasília, entre os dias 28 e 30 de agosto o 1º Workshop Brics em Banco de Leite Humano.

Articulada com o Ministério da Saúde do Brasil, a iniciativa marcará a primeira vez que o Brics, por meio de seus representantes do setor saúde, discutirá a ação Banco de Leite Humano como estratégia de política pública e seus benefícios para a melhoria das condições de saúde de recém-nascidos e mulheres em processo de amamentação. Haja vista o reconhecimento pela Organização das Nações Unidas do impacto positivo da experiência brasileira, é esperado, no encerramendo do Workshop, a construção de uma ata que reúna compromissos e diretrizes comuns entre os países membros do bloco.

“O encontro reforça o compromisso do bloco para além dos temas econômicos. Configura a oportunidade para uma ação conjunta do Brics com a saúde global, mais especificamente no que se refere aos Objetivos 3 e 17 da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, ressaltou o coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano, João Aprigio Guerra de Almeida.

Durante os três dias, os países membros do bloco terão a oportunidade de conhecer o modelo brasileiro de Banco de Leite Humano em visitas exploratórias às instalações do Distrito Federal. A programação também inclui palestras sobre a trajetória da ação no Brasil; estratégias de operacionalização; alinhamento com a saúde global; aulas práticas de processamento e controle de qualidade, a partir dos preceitos técnico-científicos desenvolvidos no país; além de um painel com a experiência de cada um dos países no tema.
Realidade mundial e a experiência brasileira

Segundo estudo da Organização Mundial da Saúde, em nível global, apenas 36% das crianças de zero a seis meses foram amamentadas exclusivamente entre 2007 e 2014. Análises recentes indicam que práticas como a amamentação não exclusiva, contribuem para 11,6% da mortalidade em crianças menores de cinco anos. Diante deste cenário, a Assembleia Mundial da Saúde, aprovou por unanimidade um conjunto de seis metas globais de nutrição, incluindo o aumento nas taxas de aleitamento materno exclusivo, a ser alcançado até 2025 para melhorar a nutrição materna, neonatal e infantil em todo o mundo.

Contudo, é reconhecido que, em algumas circunstâncias, a mãe pode ser impossibilitada de amamentar devido a problemas de saúde ou à ausência de um sistema de apoio adequado. No caso do Brasil, foi possível reduzir significativamente a taxa de mortalidade infantil com, dentre outras iniciativas, investimentos na implantação de Bancos de Leite Humano como casas de apoio à amamentação em todo o território nacional.

Atualmente, o país conforma a maior e mais complexa Rede de Bancos de Leite Humano do mundo com 225 unidades presentes em todos os estados, além do Distrito Federal. Somando os países que mantem cooperação técnica com o Brasil, esse número chega a 337 bancos de leite em funcionamento. Os compromissos, iniciados pela Fiocruz em 1998, foram reconhecidos pelo Ministério da Saúde e materializados como ação estratégica da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança, estando organicamente integrada ao Sistema Único de Saúde (SUS). No âmbito do Brics, até 2017, Rússia, China, Índia e África do Sul totalizaram cerca de 100 Bancos de Leite Humano, regidos sob as mais diversas formas de operação.

Confira a programação completa.



Autor: Aline Câmera (Agência Fiocruz de Notícias) e Virginia Valiate (Rede Global de Bancos de Leite Humano)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 27/08/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/brics-discutira-experiencia-brasileira-em-bancos-de-leite-humano

Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde completa 38 anos



Por: Penélope Toledo (INCQS/Fiocruz)


Literatura e leveza, esta foi a forma que o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS/Fiocruz) escolheu para celebrar seu 38º aniversario. A farmacêutica e sanitarista Daniella Guimarães de Araújo, que também é escritora, ministrará a palestra Guimarães Rosa - saúde, território e arte: confluências em 6 de setembro, a partir das 9h, no auditório Sérgio Arouca (Av. Brasil, 4365, em frente à creche). O evento é aberto ao público geral, gratuito e não requer inscrição prévia.

A palestrante fará a exposição Diálogos sobre as experiências do projeto Saúde e Literatura, com foco em Guimarães Rosa, homenageado no 8º Simbravisa (Simpósio Brasileiro de Vigilância Sanitária), exibirá o trecho de um curta-metragem, promoverá uma atividade em que os participantes escreverão cartas para Guimarães Rosa e discutirá com os participantes as confluências entre saúde, território e arte.

A discussão partirá dos encontros realizados nas três cidades relacionadas à literatura rosiana: Cordisburgo, Morro da Garça e Andrequicé-Três Marias, cidades situadas na região onde Daniella reside. “É simbólico. Faz uma pausa, abre um parêntesis, desloca do lugar do desalento para um lugar ao abrigo da utopia”, explica.

Sobre o escritor

Nascido em Cordisburgo, Minas Gerais, em 1908, Guimarães Rosa é considerado por muitos especialistas como o maior escritor brasileiro do século XX e um dos maiores de todos os tempos. Além de sua habilidade impecável com as palavras, foi médico e diplomata.

Temas como saúde e adoecimento, sonhos, memórias, ambiente e relação do povo sertanejo com o seu território são muito marcantes em sua literatura.

Sua obra é marcada pela simplicidade, linguagem poética, grande sensibilidade, angústias e indagações perante os paradoxos da vida. O escritor mineiro foi, ainda, membro Academia Brasileira de Letras eleito por unanimidade e indicado ao prêmio Nobel de Literatura, pouco antes de falecer de ataque cardíaco, em 1967.


Além de escritor renomado, Guimarães Rosa também foi médico e diplomata (Imagem: divulgação)

Sobre a palestrante

Daniella Guimarães de Araújo é funcionária da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais/Regional de Sete Lagoas e coordenadora da Comissão Cultural do 8º Simbravisa, que acontecerá em novembro na cidade de Belo Horizonte e homenageará o escritor mineiro. O INCQS compõe a comissão científica do evento.

A palestrante coordena, ainda, o Projeto Saúde e Literatura, que tem uma parceria com o Instituto René Rachou (Fiocruz Minas) de cooperação técnica, estabelecida em abril deste ano.

Aniversário de 38 anos do INCQS - Guimarães Rosa - Saúde, Território e Arte: Confluências
Data: 06/09
Palestrante: Daniella Guimarães de Araújo, sanitarista e farmacêutica, trabalha na Secretaria de Estado da Saúde de MG e é escritora
9h às 10h15 - Exposição Diálogo sobre as experiências do trabalho Saúde e Literatura, com foco em Guimarães Rosa, homenageado no 8º Simbravisa
10h30 - exibição de trecho do curta-metragem Riobaldo e Diadorim (Anita Leandro) e considerações do público

O evento é aberto ao público geral, gratuito e não requer inscrição prévia.



Autor: Penélope Toledo (INCQS/Fiocruz)
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 28/08/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/instituto-nacional-de-controle-de-qualidade-em-saude-completa-38-anos

Bienal do Rio: Editora Fiocruz celebra mais de duas décadas de participação no evento

De 30 de agosto a 8 de setembro, a Editora Fiocruz comemora mais de duas décadas de participação no principal evento literário do Brasil: a 19ª edição da Bienal do Livro Rio. Mais uma vez, o estande da Associação Brasileira das Editoras Universitárias (Abeu) contará com a presença de dezenas de títulos da Editora Fiocruz, disponíveis para todo o público interessado em saúde, ciência e pesquisa.

A primeira participação da Editora no evento ocorreu em meados da década de 1990, quando a Bienal ainda estava em suas primeiras edições. Desde então, os números só aumentaram. A expectativa é de que cerca de 600 mil pessoas passem pelos pavilhões do Riocentro nos 10 dias de evento.

Já a Editora Fiocruz vem, a cada dois anos, aumentando a quantidade de exemplares presentes na Bienal. Em 2019, entre os quase 500 títulos já publicados pela Editora, serão 115 obras no estande da Abeu, com aproximadamente 850 unidades de livros disponibilizados.

Lançamentos, clássicos e obras de coleções e temáticas variadas estarão presentes na XIX Bienal do Rio. Entre os livros recém-lançados, títulos da mais nova coleção da Editora, a Fazer Saúde: Saúde de migrantes e refugiados, Pessoas com deficiência e doenças raras, Saúde na escola e O Nasf e o trabalho na Atenção Básica à Saúde. Avaliação nutricional na atenção básica, Saúde no caminho da roçae O jogo como prática de saúde, publicados em 2018, também fazem parte da lista.

Já entre as obras que são referências em nosso catálogo e têm alta procura em eventos estão O Que É O SUS, O Que É Saúde e Como e Por Que as Desigualdades Sociais Fazem Mal à Saúde – todos da coleção Temas em Saúde –, além de outros títulos, como Anatomia de uma Epidemia e Atenção primária à saúde no Brasil.



"A Bienal é a festa do livro. Tem para todos os gêneros, gostos e idades. Distinto de um evento acadêmico, a diversidade de público encanta e motiva. Na verdade, é a festa do conhecimento", destaca o editor executivo da Editora Fiocruz, João Canossa.

O estande da Abeu, localizado no pavilhão verde do Riocentro, reunirá 32 editoras universitárias em 2019. A Editora Fiocruz estará ao lado de instituições que também têm, entre seus compromissos, a divulgação da ciência e da pesquisa no Brasil, fomentando o acesso à leitura e ao conhecimento. Venha nos visitar no estande P70!
Serviço

Editora Fiocruz na XIX Bienal Internacional do Livro | Rio de Janeiro
Editoras Universitárias | ABEU | Pavilhão verde
Endereço: Riocentro - Avenida Salvador Allende, 6.555, Barra da Tijuca
Estande: P70




Autor: Marcella Vieira/Editora Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 27/08/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/bienal-do-rio-editora-fiocruz-celebra-mais-de-duas-decadas-de-participacao-no-evento

Fiocruz lança curso EAD sobre metodologia da pesquisa científica



Observar, questionar, criar hipóteses e experimentar. Estas são algumas das etapas utilizadas pelo método científico – um conjunto de regras, procedimentos e linguagens que definem o que é ou não é ciência. Para ampliar os conhecimentos sobre o tema, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está lançando o curso Metodologia da Pesquisa Científica.

E, claro, sempre trazendo o que há de mais atual em educação. O curso é gratuito, aberto a todos os interessados (cientistas ou não) e oferecido à distância (EAD), com aulas online. A oferta contempla aplicações em diferentes áreas do conhecimento, em especial no campo da saúde pública.
Inscrições abertas: vem aprender a fazer ciência!

Os alunos serão apresentados aos fundamentos do método científico aplicados à pesquisa e serão instrumentalizados para elaborar projetos que atendam a demandas sociais, organizacionais e profissionais.

Dentre os objetivos da aprendizagem, estão: entender as bases da filosofia da ciência; conhecer e usar fundamentos, métodos e técnicas de elaboração da pesquisa científica; compreender e empregar as diretrizes do trabalho científico para formatação, indicação de citações, uso de fontes de informação e organização de referências; identificar diferentes métodos e tipos de pesquisa; e desenvolver sua tese com autonomia e segurança.

Trata-se de um Massive Open Online Course (MOOC, na sigla em inglês), o que significa que é um curso para um público amplo (massivo), aberto e online. Cada participante determina como vai se dedicar ao curso para cumprir a carga horária total, que é de 30 horas. Serão concedidos certificados de participação para os alunos que obtiverem nota igual ou superior a 70 no questionário de avaliação final.

Vem aprender a fazer ciência! Inscreva-se já, aqui no Campus Virtual Fiocruz.



Autor: Fiocruz
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 26/08/2019
Publicação Original: https://campusvirtual.fiocruz.br/portal/?q=noticia/56283

terça-feira, 27 de agosto de 2019

Como as emoções afetam nossas escolhas alimentares?




Você sabia que a sua alimentação pode estar sendo afetada pelos seus sentimentos? E que, talvez, esses sentimentos – estresse, ansiedade, depressão – estejam dificultando hábitos mais saudáveis e até a perda de peso?

Por Bruna Bozza

Segundo a psicóloga clínica, especialista em saúde focada em emagrecimento, nutrição emocional e comportamental, Dra. Daiana Peixé, nossas emoções afetam nossas escolhas porque o ser humano é guiado por duas forças: a busca pelo prazer e o medo da dor.

A consequência disso, é nossa tendência em optar por alimentos que estejam associados ao prazer, ao afeto, alimentos que preencham aquela determinada necessidade emocional, e se não estivermos atentos, isso pode causar não só o ganho de peso como também outros problemas relacionados a má alimentação. “É por isso que as nossas emoções afetam tanto as nossas escolhas, inclusive alimentares. Se não estamos bem emocionalmente, automaticamente vamos buscar alternativas que ajudem a melhorar aquela situação, e na grande maioria das vezes a opção escolhida é por um prazer imediato, que não é tão saudável”, avalia a terapeuta.

Vamos usar aqui o seguinte exemplo: Você chega em casa após um dia cansativo de trabalho e pede uma pizza. Automaticamente, seu cérebro associa esse ato a algo bom, como uma “recompensa”, sendo assim, da próxima vez que você chegar em casa cansado, sua mente pedirá automaticamente por aquela recompensa. De acordo com a Dra. Daiana, são essas escolhas emocionais que acabam fazendo com que a pessoa entre em um ciclo vicioso de dopamina e serotonina, atrelando imediatamente aquele alimento ao prazer. “Isto acontece porque quando pensamos em determinado alimento, seja ele doce ou fritura (nossas escolhas mais comuns), temos uma descarga da dopamina, que é o prazer imediato, seguido de uma descarga de serotonina, que é o prazer de recompensa”, explica.

E por que o nosso cérebro entende isso como “recompensa”? Simples. Ao escolher a pizza, para compensar – mesmo que inconscientemente – a dor e o cansaço, e ainda ter o prazer imediato ao saborear, você acaba criando um hábito. Ou seja, automaticamente o seu cérebro vai atrelar a pizza a uma “recompensa” quando seus dias forem cansativos. Isso serve para explicar aquele seu desejo enorme por alimentos ricos em açúcar e fritura. “É por causa desse ciclo de recompensa que as pessoas criam hábitos de comer um doce após o almoço, um chocolate quando se sentem tristes, uma coxinha para aliviar o estresse. É graças a este “prazer” que o nosso cérebro cria uma imagem e associa aquilo a algo bom. O grande problema, ocorre quando temos a queda da dopamina, pois, esse ciclo inicia novamente, tornando algo incontrolável”, complementa.

Se você está com tal problema, a primeira coisa a ser feita para melhorar este cenário, é identificar a situação pela qual você está buscando aquele alimento, se é por necessidade física ou se é emocional. Isto feito, é preciso desenvolver novos hábitos, os quais vão ter o mesmo efeito de prazer causado pelo ciclo de dopamina e serotonina. Caso você venha a ter muita dificuldade, o aconselhado é procurar ajuda de um especialista. “É importante ter consciência quando você sente fome, parar e se perguntar se você está realmente sentindo aquilo. Se a resposta for sim, tente analisar se é uma fome “física”, que precisa ser saciada para nutrir o seu corpo, ou se é fome “emocional”, aquela que você nutre a sua alma. Nem sempre é fácil ter essa consciência, muitas vezes precisamos de ajuda, e o ideal é sempre procurar um especialista para te orientar”, finaliza Daiana.

8 passos para você criar novos hábitos alimentares

1. Decida qual ciclo você prefere seguir: o do prazer da comida ou da vida saudável;

2. Tenha consciência sobre sua fome emocional; avalie o ato, mostrando os ganhos imediatos e secundários de cada decisão;

3. Faça substituições saudáveis.

4. Aprenda a mudar sua relação com o alimento que o fez entrar nesse ciclo.

5. Ria! Rir ajuda a aumentar os níveis de dopamina. Veja filmes de comedia, se divirta mais.

6. Treine sua consciência alimentar.

7. Visualize sempre as recompensas imediatas e tardias de suas escolhas.

8. Se não estiver conseguindo, procure ajuda.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2019



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/08/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/08/27/como-as-emocoes-afetam-nossas-escolhas-alimentares/

Estudo demonstra que a tragédia de Mariana causou alterações substanciais e perenes na foz do Rio Doce

Estudo desenvolvido no Instituto de Geociências demonstra os efeitos do rompimento da barragem de Fundão

JORNAL DA UNICAMP
TEXTO PAULA PENEDO | INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS |
ESPECIAL PARA O JU
FOTOS AGÊNCIA BRASIL
EDIÇÃO DE IMAGEM LUIS PAULO SILVA

O Rio Doce, localizado nos Estados de Minas Gerais e Espírito Santo, é um dos cursos d’água mais importantes da região Sudeste brasileira, com uma bacia hidrográfica que incorpora 184 municípios. Em novembro de 2015, ele sofreu o maior impacto socioambiental de sua história, quando a barragem de Fundão, em Mariana (MG), rompeu e despejou em suas águas cerca de 60 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração. Em poucos dias essa lama atravessou 600 km extensão, chegou à Vila de Regência no município de Linhares (ES) e finalmente atingiu a foz do rio no oceano Atlântico.

Além desse desastre provocado pela ação humana, eventos naturais também impactaram a qualidade da água na foz do Rio Doce, mas com efeitos bem diferentes do primeiro caso. Essa é a conclusão de um artigo publicado recentemente no periódico Science of the Total Environment, de autoria de Keyla Coimbra, aluna do doutorado em Geociências do Instituto de Geociências (IG) da Unicamp e de seus orientadores, os professores Carlos Roberto de Souza Filho (IG/Unicamp) e Enner Alcântara, do Instituto de Ciência e Tecnologia da Unesp de São José dos Campos.

O estudo integra a tese de Keyla sobre os efeitos do colapso da barragem no Rio Doce. Foram utilizados dados de sensoriamento remoto para comparar as alterações causadas pelo desastre em Mariana e por chuvas intensas sobre o campo de luz na água na foz do rio. Componentes opticamente ativos (que interagem com a radiação eletromagnética) presentes na coluna d’água podem espalhar ou absorver a energia em determinado comprimento de onda. O balanço entre o que é espalhado e o que é absorvido permite inferir como o sistema aquático reflete a energia que incide sobre ele. Esses componentes são o fitoplâncton, o material particulado em suspensão, a matéria orgânica dissolvida colorida. além de outros detritos.

Inicialmente, a ideia da pesquisa era verificar apenas a alteração na concentração de matéria particulada em suspensão na superfície da água após o colapso da barragem. Entretanto, quando os pesquisadores começaram a organizar a série de dados históricos sobre a bacia do Rio Doce, foi constatado que, em determinados anos, também ocorrem precipitações acima da média na bacia, produzindo inundações significativas, como aquela ocorrida em dezembro de 2013. “Constatamos que essa chuva intensa de 2013 também produziu o carreamento de uma grande quantidade de sedimentos para a foz do Rio Doce. Daí surgiu a motivação de comparar os efeitos dessa chuva intensa com o evento de Fundão”, relata Keyla.

Como resultado, o estudo constatou que em ambos os eventos a pluma de sedimentos do rio alcançou grandes proporções e alterou significativamente os parâmetros bio-ópticos da água. Entretanto, na inundação de dezembro de 2013, a situação foi regularizada gradualmente e de forma natural poucos meses depois do ocorrido. Em contraste, os efeitos do rompimento da barragem foram muito mais duradouros, de longo prazo. “No caso do colapso, o rejeito foi depositado no período de um mês. Porém, observamos nas imagens de sensoriamento remoto que ocorreram processos de ressuspensão desses sedimentos de fundo oito meses após a chegada do rejeito na foz. Nesse momento, foram constatados os maiores valores do coeficiente de atenuação da água e do material particulado em suspensão de toda a série histórica”, conclui a aluna.

Metodologia

Para efeito de comparação, os pesquisadores avaliaram o coeficiente de atenuação difusa da luz em 490 nm (Kd490), que fornece informações sobre a atenuação da luz na coluna d’água, algo essencial para a ocorrência de processos como a fotossíntese das plantas que compõem os biomas aquáticos. Eles também verificaram a profundidade da Zona Eufótica (Zeu), que é a camada superior do oceano, onde a luz penetra de forma suficiente para que ocorra a fotossíntese – sua profundidade varia de acordo com a quantidade e o tipo de partículas em suspensão. Também foi estimada a quantidade do material particulado em suspensão (SPM).

O estudo foi realizado utilizando dados do sensor MODIS (a bordo do satélite Aqua) e das plaformas Giovanni (https://giovanni.gsfc.nasa.gov/giovanni/) e Cor do Oceano da NASA (https://oceancolor.gsfc.nasa.gov). No caso do estudo de Keyla, foram utilizados dados de uma série temporal entre 2011 e 2016, cobrindo as fases antes, durante e após o rompimento da barragem.

A vantagem de usar esses dados está no fato de que, quando acontecem desastres de grandes proporções, geralmente não existem muitas informações sobre o estado precedente do ambiente, uma vez que as pesquisas nesses locais costumam ser espaçadas e pontuais. “Por isso os dados de sensoriamento remoto são bastante úteis. Proporcionam informações espaço-temporais da distribuição desse material”, esclarece Keyla, que também chama atenção para o fato de serem dados disponíveis na internet de forma gratuita.

Perspectivas

O estudo realizado representa a primeira parte da tese de Keyla sobre os efeitos do colapso da barragem no Rio Doce. Atualmente, Keyla também está concluindo a avaliação da dinâmica de dispersão da pluma do rio após o colapso por meio do uso de imagens de satélite. O objetivo é verificar se o rejeito alcançou a região do arquipélago de Abrolhos, que foi a primeira unidade de conservação marinha criada no país, possuindo a maior biodiversidade marinha do Brasil e da região do Atlântico Sul.


Foz do Rio Doce, após a tragédia de Mariana. Foto: Jornal da Unicamp

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2019



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/08/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/08/27/estudo-demonstra-que-a-tragedia-de-mariana-causou-alteracoes-substanciais-e-perenes-na-foz-do-rio-doce/

Catástrofe: este é o cenário provável na Mina Guaíba (RS)


Projeto Mina Guaíba www.projetominaguaiba.com.br


Uma audiência pública promovida pelo Ministério Público Estadual do Rio Grande do Sul (MP-RS) na noite de terça-feira (20), em Porto Alegre, debateu a viabilidade de implantação do projeto Mina Guaíba e teve a presença de autoridades e ambientalistas de vários lugares do país. Caso o projeto for autorizado, será a maior área de extração de carvão mineral a céu aberto do Brasil. Isso também acarretará em uma concentração de poluentes em Porto Alegre que pode ultrapassar em até 241% o permitido pela legislação ambiental – dados levantados pela própria Copelmi, dona do empreendimento.

Por Laura Moreira Sliva

Renan Andrade, gestor ambiental e consultor da 350.org Brasil, afirma que, caso a mina entre em funcionamento, o cenário pode sair do controle.

“Com a mina ativa, haverá contaminação do lençol freático e do Rio Jacuí. Fora outros acidentes que muito provavelmente acontecerão, pois a área onde pretende-se criar o empreendimento é muito grande e peculiar. Ela oferece serviços ambientais em ecossistemas complexos que deveriam ser estudados com mais seriedade. O cenário pode se tornar catastrófico”, alerta Andrade.

A futura mina de carvão ficará a menos de 17 km do centro de Porto Alegre, portanto, segundo especialistas, o empreendimento poderá afetar toda a população dos arredores. Luiz Afonso Rosário, consultor técnico ambiental e de comunidades tradicionais da 350.org Brasil e da Coalizão Não Fracking Brasil alerta: “o Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), não estão prevendo as barreiras geoquímicas para conter os elementos particulados que virão pela força do vento, o que vai ocasionar chuva ácida e a piora significativa da qualidade do ar de toda a região”.

Além disso, o próprio Estudo de Impacto Ambiental para a Mina Guaíba teria diversas falhas e não levaria em consideração o verdadeiro bioma do local a ser explorado.

“Nós podemos identificar inúmeras falhas dentro desse procedimento de Estudo de Impacto Ambiental realizado pela Copelmi [empreendedora]. Dentre os quais, o primeiro e mais flagrante é que todo o estudo está voltado para o bioma Pampa. Mas a área da futura mina é uma região especificamente de transição entre o bioma Mata Atlântica e o bioma Pampa. Então, neste caso, há uma legislação muito mais severa e de muito mais cuidados adicionais. E isso não foi observado dentro do Estudo de Impacto Ambiental”, denuncia o consultor técnico ambiental.

Impacto no Aquífero Rio Bonito

A região na qual pretende-se criar a mina possui incidência de terrenos extremamente molhados, conhecidos popularmente como charques.

“A Copelmi não possui experiência em extrair carvão em terras úmidas, só em terras secas. Essa situação toda levará, como já foi comentado, à contaminação do Aquífero Rio Bonito, que é a salvaguarda de Porto Alegre em caso de uma crise hídrica. Ele poderá ser completamente comprometido”, alerta o consultor pelo meio ambiente.

Questionada em uma coletiva para a imprensa se o projeto poderá afetar a água que abastece a população de Porto Alegre, a promotora Ana Marchesan, que mediou a audiência, afirmou que “é uma reserva de água doce importante que podemos perder”.

Não há tecnologia segura

“Não há tecnologia segura”, afirmaram os ambientalistas durante a audiência. “Se, com o rompimento das barragens de Mariana e Brumadinho, ambas pertencentes à poderosa Vale do Rio Doce, os resultados de indenização às vítimas e aos impactados até agora não foram alcançados passados mais de três anos, o que seria se o cenário fosse com a Copelmi, que é uma microempresa em relação à Vale do Rio Doce?”, questionaram.

Desapropriação de terra

O procurador do Ministério Público Federal, Pedro Mousa Saco, declarou para a imprensa , que uma das principais falhas da Copelmi foi não ter consultado as comunidades que serão atingidas pela Mina Guaíba e nem ter incluído essa população no Estudo de Impacto Ambiental (EIA-Rima).

Para a Mina Guaíba ser colocada em prática, 107 famílias do loteamento Guaíba City serão removidas de suas terras. Além disso, os produtores de arroz orgânico do assentamento Apolônio de Carvalho também terão suas terras desapropriadas.

O consultor da 350.org Brasil, Luiz Afonso, critica essa ação: “nos dias atuais, não podemos falar em desocupação forçada de comunidades já estabelecidas a mais de cinquenta anos. Nem tampouco a premissa de remover os produtores do assentamento Apolônio de Carvalho, que são detentores da maior safra de arroz orgânico do país. Isso é inaceitável”.

Falta de comunicação com a população local

Outra falha considerada gritante pelos ambientalistas foi a falta de inclusão do povo indígena Guarani, localizado a menos de dois mil metros da futura mina, nos Estudos de Impacto Ambiental. O mesmo aconteceu com o povoado de mais de mil pescadores artesanais que exerce sua atividade no Rio Jacuí.

Quando a audiência abriu o momento para falas da população, o vice-cacique Alex, da aldeia guarani Guajyvi, de Charqueadas, falou sobre a falta de contato dos empreendedores com seu povo: “eu não sabia que tinha alguns brancos pensando assim. Lá na aldeia a gente não foi informado que ia ter mina. Digo alguns brancos porque vejo aqui também outros brancos combatendo os poderosos. Através dos deuses a gente acredita que a mina não vai sair”.

Pressa com a licença ambiental

Em coletiva para a imprensa realizada antes da audiência pública, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), declarou esforços do governo para facilitar o licenciamento ambiental, o que pode ser preocupante quando se observa a situação da Mina Guaíba, na qual há um embate entre população, mineradora e autoridades.

“Estamos aqui apresentando uma agenda importante na redução da burocracia especialmente ligada às questões de licenciamento ambiental, é uma questão de modernização do Estado à legislação nacional. Nós estamos propondo uma licença de adesão e compromisso, onde há regramentos claros. A gente acredita que, o empreendedor preenchendo o questionário e os documentos estiverem de acordo com o solicitado, em 24h ele já possa instalar e empreender”, declarou o governador.

Questionado se a Mina Guaíba entraria nesse novo processo de licitação ambiental, o governador não deixou claro, apenas afirmou que “o Conselho Estadual do Meio Ambiente vai fazer uma análise para resolver quais empreendimentos entram na licença de adesão e compromisso e quais não”.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2019



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/08/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/08/27/catastrofe-este-e-o-cenario-provavel-na-mina-guaiba-rs/

É possível recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa do país até 2030, indica relatório

Documento lançado pela Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos estima que restauração florestal sequestraria 1,39 megatonelada de CO2 da atmosfera e aumentaria em 200% a conservação da biodiversidade, sem prejuízos à agropecuária


(foto: Leticia Garcia)


Elton Alisson | Agência FAPESP – O Brasil perdeu 71 milhões de hectares de vegetação nativa nos últimos 30 anos – área maior que a ocupada pela Amazônia – em decorrência de desmatamento e queimadas, entre outros fatores, apontam dados do MapBiomas. Como esse desmatamento ocorreu sem planejamento ambiental e agrícola, boa parte dessas áreas tornaram-se abandonadas, mal utilizadas ou entraram em processo de erosão, ficando impróprias para produção de alimentos ou qualquer outra atividade econômica.

A restauração florestal pode diminuir parte desse prejuízo ao possibilitar a recuperação estratégica de 12 milhões de hectares de vegetação nativa em todo o país até 2030, conforme estabelecido no Plano Nacional de Restauração Ecológica. Dessa forma, seria possível sequestrar 1,39 megatonelada (Mt) de dióxido de carbono (CO2) da atmosfera, interligar fragmentos naturais na paisagem e ainda aumentar em 200% a conservação da biodiversidade.

As estimativas constam no sumário para tomadores de decisão do relatório temático “Restauração de Paisagens e Ecossistemas”, lançado na sexta-feira (23/08), no Museu do Meio Ambiente do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico, no Rio de Janeiro.

O documento é resultado de uma parceria entre a Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES, na sigla em inglês), apoiada pelo programa BIOTA-FAPESP, e o Instituto Internacional de Sustentabilidade (ISS), e foi elaborado por um grupo de 45 pesquisadores, de 25 instituições do país.

“O sumário mostra que as questões ambientais [conservação e restauração ecológica] e a produção agrícola são interdependentes e podem caminhar juntas, sem prejuízo para nenhum dos lados. Pelo contrário, ela só traz benefícios diretos, como a diponibilização de polinizadores para as culturas agrícolas, a conservação da água e do solo e, principalmente, a possibilidade de certificação ambiental da produção, permitindo agregar valor”, disse à Agência FAPESP Ricardo Ribeiro Rodrigues, professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e um dos autores do documento.

O sumário destaca que o Brasil tem grandes oportunidades para impulsionar a restauração e a recuperação da vegetação e, com isso, aumentar a geração de benefícios socioeconômicos e ambientais, minimizar a competição de florestas com áreas agrícolas e contribuir para combater as mudanças climáticas.

No entanto, para que as oportuni¬dades se tornem realidade, o país não pode retroceder em suas políticas ambientais de redução do desmatamento, conservação da biodiversidade e impulsionamento da recuperação e da restauração da vegetação nativa em larga escala, ponderam os autores.

O fim da obrigatoriedade da Reserva Legal, as reduções das alternativas de conversão de multas e a extinção dos fóruns de colaboração e coordenação entre atores governamentais e da sociedade seriam perdas irreparáveis para uma política de adequação ambiental, afirmam.

Os autores também ponderam que Brasil tem assumido o papel de líder em negociações ambientais internacionais e qualquer ruptura desse caminho, além de afastar oportunidades, vai afugentar mercados internacionais consumidores de produtos agrícolas. Isso porque, cada vez mais, esses agentes se pautam pela produção e pelo consumo sustentáveis, incluindo políticas de não consumo de produtos provenientes de áreas desmatadas.

“O Brasil não deveria ter nenhuma dificuldade de colocar seus produtos agrícolas no mercado internacional, pois o diferencial poderia ser uma agricultura sustentável praticada em ambientes de elevada diversidade natural. Isso é um ativo que nenhum outro país tem”, avaliou Rodrigues.

Aumento de produtividade

De acordo com o documento, a intensificação sustentável da pecuária brasileira é um processo-chave para aumentar a produtividade do setor e liberar as áreas agrícolas de menor produtividade para o cumprimento de leis e metas ambientais.

O aumento da produtividade média da pecuária brasileira de 4,4 para 9 arrobas por hectare por ano permitiria não só a atingir a meta brasileira de recuperar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, como também zerar o desmatamento ilegal e liberar 30 milhões de hectares para a agricultura.

“Três quartos da área agrícola brasileira são ocupados hoje pela pecuária, com baixíssima produtividade média. Se tivéssemos uma boa política agrícola, voltada à tecnificação da pecuária, seria possível aumentar a produtividade da atividade e, assim, liberar pelo menos 32 milhões de hectares de pastagem para outras culturas, mantendo a mesma quantidade de cabeças de gado atual”, disse Rodrigues.

O aumento da produtividade das pastagens nos próximos 30 anos seria suficiente, considerando o Brasil como um todo, para garantir o cumprimento de leis e metas ambientais, como pode ser confirmado nos resultados regionais, afirmam os pesquisadores.

Na Amazônia, por exemplo, para atender a todas as metas de produção agrícola e florestal, de desmatamento ilegal zero e de recuperação da vegetação nativa – visando legalizar ambientalmente as propriedades rurais e ainda potencializar os serviços ecossistêmicos –, seria preciso ampliar a produtividade das pastagens do nível atual de 46% para 63-75% do seu potencial sustentável, em 15 anos.

Na Mata Atlântica, esse mesmo processo necessita de um aumento dos atuais 24% para 30-34% do seu potencial, sendo que tal incremento é possível apenas aplicando o conhecimento básico de manejo de pastagens. No Cerrado, bastaria sair dos 35% vigentes para 65% do seu potencial sustentável até 2050 para harmonizar expansão agrícola sustentável, restauração em áreas prioritárias e desmatamento ilegal zero

“Não há nenhuma justificativa para o desmatamento que está acontecendo na Amazônia e no Cerrado agora, porque estamos gerando ainda mais pecuária de baixa produtividade”, afirmou Rodrigues.

Segundo o documento, o aumento da produtividade nas áreas já agrícolas e a adoção de modelos econômicos alternativos nas áreas com menor potencial agrícola – como aquelas com restrições à produção mecanizada, as ocupadas por vegetação nativa, florestas nativas com aproveitamento econômico sustentável e sistemas agroflorestais biodiversos – também são essenciais para alavancar os benefícios financeiros diretos e indiretos em curto prazo.

Somando a exploração econômica das áreas marginais restauradas com fins comerciais, como sistemas agroflorestais biodiversos, e o ganho proporcionado pelo uso destas áreas para compensação de Reserva Legal de propriedades rurais com débito ambiental, torna-se financeiramente viável a reconversão de áreas agrícolas marginais para vegetação nativa.

Em Paragominas, no Pará, em apenas quatro anos, propriedades de pecuária irregulares ambientalmente e de baixa produtividade regularizaram suas exigências ambientais legais e aumentaram a produtividade da agropecuária em quatro vezes e ainda passaram a explorar a Reserva Legal de forma sustentável, plantando madeira e frutíferas nativas, diversificando a produção, exemplifica o sumário.

“Há vários outros exemplos de projetos de pecuária sustentável no país, em que são tecnificadas as melhores áreas para a pastagem e as áreas marginais, que são as Áreas de Preservação Permanente [APPs] para proteção da água, do solo e da biodiversidade. As áreas agrícolas de menor aptidão agrícola, que cabem no conceito de reserva legal, são ocupadas com florestas econômicas biodiversas, para a recuperação ambiental e produtiva da propriedade”, disse Rodrigues.

Restauração planejada

De acordo com Carlos Joly, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), membro da coordenação da BPBES e do BIOTA-FAPESP, o Brasil tem a oportunidade de desenvolver um programa de recuperação da vegetação nativa ímpar no mundo para áreas florestadas da Mata Atlântica e Amazônia. Isso porque o país pode contar com uma grande diversidade de espécies em projetos de restauração.

“Há projetos grandes e bem-sucedidos de restauração em andamento em países como a China, mas a diversidade de espécies usadas é baixa, pois a variedade que possuem é muito menor do que a encontrada na Mata Atlântica e na Amazônia, por exemplo”, comparou.

A alta diversidade de espécies encontrada nesses biomas brasileiros permite que a restauração seja muito mais funcional, explicou Joly. “Além das vantagens comuns, como a melhoria da estabilidade do solo e o aumento na retenção de água – e, consequentemente, maior recarga de aquíferos –, um programa de restauração com alta diversidade de espécies permite incluir plantas que podem ser fontes de alimentos ou que são importantes para manutenção de polinizadores, como abelhas”, disse.

Um dos gargalos para implantar grandes projetos de restauração em biomas como a Amazônia é a disponibilidade de mudas, apontam os pesquisadores. Mas esse problema seria dirimido à medida que aumentasse a demanda, ponderam.

“Se realmente existir vontade política de implementar programas de restauração em larga escala, o mercado de produção de mudas imediatamente aqueceria, porque há conhecimento suficiente”, afirmou Joly.

“Hoje é difícil encontrar uma alta diversidade de mudas de espécies nativas para restauração porque a demanda é muito baixa. Mas ao estabelecer um programa de restauração, é possível reativar toda uma cadeia, que vai desde a coleta de sementes, passando pelo plantio até o acompanhamento das mudas no campo”, afirmou.

A restauração, se bem planejada e implementada na paisagem, pode aumentar em mais de 200% a conservação da biodiversidade, indica o sumário.

Na Mata Atlântica, por exemplo, a recuperação do débito de Reserva Legal (de 5 milhões de hectares) pode evitar até 26% de extinção de espécies (2.864 espécies de plantas e animais) e sequestrar 1 bilhão de toneladas de CO2 equivalente. A relação custo-efetividade desse cenário é oito vezes maior se comparada a um contexto sem priorização espacial, o que aumenta em 257% a extinção evitada de espécies e em 105% o sequestro de carbono, além de reduzir os custos em 57%.

A condução da regeneração natural em áreas com condições ambientais e socioeconômicas favoráveis no bioma pode reduzir em até 77% o custo de implementação da restauração nos próximos 20 anos.

“Hoje, por meio de ferramentas de modelagem, é possível avaliar o custo-benefício da restauração com diferentes funções, como para ter a maior diversidade possível de espécies de árvores ou maior eficiência em termos de custo da área e da mão de obra empregada”, disse Joly.

“Ao cruzar esses objetivos, os sistemas de modelagem permitem mapear e selecionar áreas com maiores chances de atingir os objetivos de baixo custo, com a maior diversidade de espécies e efetividade de restauração. Com isso é possível aumentar a escala de restauração”, explicou.


Este texto foi originalmente publicado por Agência FAPESP de acordo com a licença Creative Commons CC-BY-NC-ND. Leia o original aqui.


in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/08/2019



Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/08/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/08/27/e-possivel-recuperar-12-milhoes-de-hectares-de-vegetacao-nativa-do-pais-ate-2030-indica-relatorio/

Percepção do risco de carrapaticidas, artigo de Roberto Naime


Carrapato-estrela. Foto: Adelcio Barbosa/Prefeitura de Contagem



[EcoDebate] SILVA et al (2012) caracterizam os riscos relacionados ao uso de agrotóxicos na pecuária leiteira, em relação a questões de legislação, de saúde e da percepção dos riscos desta atividade.

Estudos apontam uma situação de especial interesse para o campo da Saúde Coletiva. No que diz respeito aos trabalhadores da pecuária leiteira, a invisibilidade de riscos associados ao manejo de agrotóxicos de uso veterinário aumenta sua exposição e está relacionada a diversos problemas de saúde, em especial nas mulheres.

Esta mesma invisibilidade leva a um neglicenciamento do respeito ao período de carência do leite para consumo. Parte dos problemas pode estar associada à não classificação dos inseticidas de uso veterinários como agrotóxicos, o que torna necessária e urgente a discussão do tema.

A pecuária é uma das mais importantes e tradicionais atividades econômicas em nosso país, destacando-se em estados como Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás e São Paulo, onde apresenta um papel relevante na composição do Produto Interno Bruto (PIB).

Segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, dos 5.175.489 estabelecimentos agropecuários existentes no país, 2.277.214 (aproximadamente 44%) são destinados à pecuária, particularmente para a criação de bovinos, que concentra 1.572.301 estabelecimentos.

O crescimento da demanda por leite e derivados e o consequente aumento da produção de gado leiteiro têm levado à intensificação dos processos de produção, fato este observado pelo decréscimo do número de vacas ordenhadas no período (de 13,7 milhões de cabeças em 1996 para 12,6 milhões em 2006) e pelo maior consumo de produtos de uso veterinário.

Atualmente, existem 7.222 produtos de uso veterinário, autorizados para comercialização no país, com destaque para os antibióticos e os produtos de combate aos ectoparasitas, em particular, os carrapaticidas. Esses produtos são regulados exclusivamente pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

Com relação aos carrapaticidas e a outros produtos de controle de ectoparasitas, uma importante questão se coloca como tema de grande relevância para a Saúde Coletiva no país. Estes produtos são formulados à base de princípios ativos considerados agrotóxicos ou pesticidas, tal qual registrado no conceito de produtos de uso veterinário descrito pela legislação, agentes químicos reconhecidamente prejudiciais para a saúde humana e para o ambiente.

No Brasil, a legislação pertinente (Lei 7.802 de 11 de Julho de 1989) prevê que o registro de agrotóxicos deve se dar mediante aprovação por comitê que inclui os Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (que avalia a eficiência agronômica dos produtos), da Saúde (que avalia o potencial tóxico dos produtos à saúde humana) e do Meio Ambiente (que avalia o potencial tóxico dos produtos para o ambiente e a biota).

Isto leva a uma análise mais abrangente dos riscos relacionados ao uso desses agentes químicos nas diversas atividades a que se destinam.

Já os agrotóxicos de uso veterinário são analisados exclusivamente pelo MAPA. Assim, produtos formulados com o mesmo princípio ativo, numa mesma concentração, podem ter avaliações distintas, para fins de registro, dependendo de sua utilização na agricultura ou na pecuária.

Como visto anteriormente, a dificuldade de compreender o processo de metabolização dos agrotóxicos pelo gado leiteiro, associada à crença de que os agrotóxicos de uso veterinário são menos tóxicos do que os de uso agrícola, ou mesmo não tóxicos, é amplificada pela carência de informações e de orientação técnica, leva os produtores de leite a minimizarem os riscos associados à contaminação do leite por estes agentes químicos.

Esta complexa relação acaba por comprometer a qualidade desse leite, colocando em risco a população consumidora desses produtos, uma vez que o período de carência acaba não sendo respeitado:

Mesmo aqueles trabalhadores que acreditam ter algum problema tirar o leite imediatamente após a utilização de agrotóxicos de uso veterinário, deixando uma vaca sem tratamento apenas para alimentar a família:

SILVA et al (2012) destacam que não apenas a percepção de risco tem influência nessa decisão, mas também outros determinantes, de ordem econômica, que praticamente tornam impossível o respeito, por parte desses produtores, ao período de carência.

A análise dos dados aqui apresentados e discutidos mostrou uma situação de especial interesse para o campo da Saúde Coletiva, relacionada à utilização de agrotóxicos de uso veterinário nos processos de produção de leite. Uma série de determinantes inter-relacionados acaba por conformar tal situação, colocando diferentes grupos populacionais em situação de vulnerabilidade.

No que diz respeito aos trabalhadores da pecuária leiteira, a invisibilidade de riscos associados ao manejo de agrotóxicos de uso veterinário aumenta sua exposição a esses agentes químicos, e pode acarretar em graves problemas de saúde, muitos dos quais com sintomas tardios e consequências sérias.

Esta mesma invisibilidade de riscos acaba por levar a um neglicenciamento, nem sempre intencional do respeito ao período de carência entre a aplicação de agrotóxicos de uso veterinário no gado e a retirada do leite para consumo humano. E assim, acaba por colocar em situação de risco outro grupo populacional, representado pela população consumidora de leite.

As mulheres que atuam na pecuária leiteira também se apresentam como grupo de especial interesse, dado o potencial de parte desses agentes químicos de interferirem nos sistemas endócrino e reprodutivo, levando a problemas na gestação, no parto e na saúde dos recém-nascidos.

SILVA et al (2012) registram que grande parte dos problemas aqui apresentados e discutidos pode estar associada à não classificação dos inseticidas de uso veterinários como agrotóxicos, o que levaria a um maior controle sobre a autorização de comercialização e as práticas de uso desses agentes químicos.

Por este motivo, produtos formulados a partir de princípios ativos não mais autorizados para uso agrícola continuam a ser utilizados livre e amplamente na pecuária leiteira, colocando não apenas um grande contingente de trabalhadores em situação de vulnerabilidade, como grande parcela da população brasileira consumidora de leite.



Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Aposentado do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.



Referências:

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Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/08/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/08/27/percepcao-do-risco-de-carrapaticidas-artigo-de-roberto-naime/

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Biocarvão (biochar) pode ser usado para recuperar solo degradado, indica estudo



Biocarvão ou Biochar. Foto de Simon Dooley, no Jornal da PUC-Rio

Pesquisa inédita realizada pela professora do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Agnieska Latawiec, provou que o biocarvão, ou biochar, pode ser utilizado como insumo para recuperação de pastagens degradadas no Brasil.

Agnieska disse à Agência Brasil que o biocarvão não é um adubo. “É um potencializador de solo”. O biocarvão é um produto obtido por meio da queima controlada de resíduos orgânicos (pirólise), como casca de coco ou galhos de árvores podadas.

Também diretora do Instituto Internacional de Sustentabilidade (IIS), a professora da PUC Rio coordenou um grupo de pesquisadores da Embrapa Agrobiologia e de instituições estrangeiras que efetuaram dois tipos de experimentos: no campo, em Seropédica, região metropolitana do Rio de Janeiro; e também em laboratórios.

Os pesquisadores aplicaram o biocarvão no solo, na proporção de 15 toneladas por hectare, depois de análises preliminares. Em seguida, repetiram as análises para verificar a fertilidade e qualidade do solo. Foi analisado também o crescimento das gramíneas forrageiras, que são comidas pelo gado. Comparando as gramíneas com e sem a adição de biocarvão, Agnieska observou aumento de 27% na produtividade da gramínea forrageira do gênero Brachiaria, de alta produção de massa seca, mais comumente usada nas pastagens, no Brasil, após a colocação do biochar.

Sustentabilidade

Segundo explicou Agnieska, o biocarvão tem potencial para contribuir para um manejo do solo mais sustentável. Como não existe uma produção do biochar em nível comercial no país, cada produtor rural teria que produzir o seu próprio insumo. “Isso requer biomassa, como matéria-prima para produzir biocarvão, e tempo dele (do produtor)”, destacou a diretora do IIS. “Eu acredito que tem situações em que o biocarvão pode ajudar a recuperar terras degradadas, aumentar a produtividade e até prevenir a degradação ambiental, seja através de desmatamento ou pelo fogo, porque as queimas do lixo orgânico no meio rural acontecem o tempo inteiro, diariamente, o que também causa poluição, sem falar de outros impactos para a vegetação nativa, flora, fauna”.Nessas situações, o biocarvão pode ser uma solução, reiterou Agnieska Latawiec.

O biocarvão usado no experimento coordenado por Agnieszka Latawiec foi aplicado em vários tipos de cultivos: em pastagens e também na produção de milho, feijão e mudas nativas da Mata Atlântica, para ajudar no crescimento de viveiros. “Com feijão, funcionou, mas com milho, não aumentou a produtividade”.

Pecuária de leite

Como a pesquisa inicial foi feita no contexto da pecuária de corte, Anieska pretende agora testar o biocarvão nos solos típicos para a pecuária de leite, com pequenos produtores, e também nos sistemas agroflorestais. Um projeto-piloto está sendo realizado no sistema agroflorestal de Armação dos Búzios, município da Região dos Lagos do estado do Rio de Janeiro. Os resultados positivos da aplicação do biochar dependem da situação do solo, do manejo, do cultivo e da planta. A professora está pesquisando agora os melhores lugares onde essa pesquisa terá seguimento, dentro da biomassa da Mata Atlântica, mas ainda no estado do Rio de Janeiro.

O biocarvão pode diminuir também a poluição atmosférica e reduzir as emissões de gases poluentes. Segundo a professora da PUC Rio, além do aumento da produção de alimentos, o estudo revelou que cada hectare fertilizado com biocarvão salvou 91 toneladas de carbono equivalente (CO2eq) como efeito poupa-terra e teve 13 toneladas de CO2eq sequestradas no solo, o que equivale a US$ 455 em crédito de carbono.

Anieska observou que a maioria das terras desmatadas no Brasil é ocupada por pecuária de baixa produtividade, onde cerca de 70% das pastagens são consideradas degradadas, com menos de um animal por hectare.

O resultado da pesquisa foi tema de reportagem na revista ‘Scientific Reports’, publicada na última segunda-feira (19).


Por Alana Gandra, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/08/2019



Autor: Alana Gandra
Fonte: Agência Brasil
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/08/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/08/26/biocarvao-biochar-pode-ser-usado-para-recuperar-solo-degradado-indica-estudo/