quarta-feira, 30 de novembro de 2022
Ministério da Saúde lança Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual
Foto: Julia Prado/MS
Com o objetivo de combater a precariedade menstrual, o Ministério da Saúde lançou, nesta quarta-feira (23), a portaria que institui incentivo financeiro para o Programa de Proteção e Promoção da Saúde Menstrual. A iniciativa assegura a oferta e a distribuição gratuita de absorventes higiênicos para cerca de 4 milhões de adolescentes e mulheres em 3,5 mil municípios brasileiros no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
O evento contou com a participação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, da primeira-dama, Michelle Bolsonaro; da Ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Cristiane Britto; da senadora do Distrito Federal, Damares Alves; da vice-presidente do CONASEMS, Cristiane Pantaleão; além da presença do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga; do Secretário de Atenção Primária a Saúde, Raphael Câmara e do Diretor do departamento dos Ciclos da Vida (SAPS), Walter Palis Ventura.
Queiroga falou sobre a importância dos cuidados voltados às mulheres em situação de vulnerabilidade. “A história da menstruação é tão antiga quanto a história da humanidade. Essa política da saúde menstrual resgata a dignidade das mulheres que vivem em condição de vulnerabilidade”, afirmou.
“Até pouco tempo muitas meninas poderiam perder aula por falta de um item tão básica de higiene. E agora nós queremos que essa mulher, lá na frente, capacitada, escolarizada, não tenha nenhuma limitação para realizar seus sonhos”, ressaltou a ministra Cristiane Brito.
Segundo a Portaria do Ministério da Saúde, as beneficiárias do programa serão mulheres em situações de vulnerabilidade menstrual, sendo:
• 17,2 mil mulheres em situação de rua ou em situação de vulnerabilidade social extrema, cadastradas em equipe de Consultório na Rua homologada pelo Ministério da Saúde, observados os critérios do Programa Previne Brasil - faixa etária entre 08 a 50 anos;
• 3,5 milhões de estudantes de baixa renda, matriculadas nos níveis de ensino fundamental, médio, Educação de Jovens e Adultos (EJA) e ensino profissional, em escolas pactuadas na adesão ao Programa Saúde na Escola (PSE), com percentual mínimo de 50% dos estudantes de famílias beneficiárias do Programa Auxílio Brasil, conforme Portaria Interministerial 1.055 de 25 de abril de 2017, em 36.549 escolas pactuadas em 3.394 municípios;
• 291 mil adolescentes internadas em unidades de cumprimento de medida socioeducativa, cadastradas em uma equipe Saúde da Família ou equipe de Atenção Primária, observados os critérios do Programa Previne Brasil (faixa etária entre 12 e 21 anos).
A senadora eleita Damares Alves falou sobre o Brasil ser um exemplo para o mundo, “Em 2021 a lei que institui o programa foi aprovada e sancionada. Em março de 2022 vem o decreto. Esse legado a gente vai deixar. Esse é mais um programa para o mundo inteiro copiar”, reforçou.
O Programa será implementado de forma integrada entre todos os entes federados, mediante a atuação das áreas da saúde, assistência social, educação e segurança pública. A distribuição ficará a critério do gestor local, dependendo da organização de cada município, em locais como Unidades Básicas de Saúde, escolas que participam do PSE e Consultórios na Rua homologados pelo Ministério da Saúde.
O impacto financeiro estimado para a promoção da saúde menstrual em 2022 é de R$ 23,4 milhões para os últimos dois meses do ano. Já para 2023, a meta é investir R$ 140,4 milhões e para 2024, o repasse também será de R$ 140,4 milhões levando em conta o número de beneficiadas.
Fran Martins
Ministério da Saúde
Categoria
Saúde e Vigilância Sanitária
Autor: gov
Fonte: gov
Sítio Online da Publicação: gov
Data: 23/11/2022
Publicação Original: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/novembro/ministerio-da-saude-lanca-programa-de-protecao-e-promocao-da-saude-menstrual
Ministério da Saúde reforça ação de vacinação nas fronteiras
- Foto: Walterson Rosa/MS
Para ampliar as coberturas vacinais e atualizar as cadernetas de vacinação da população que vive nas regiões de fronteira das 33 cidades gêmeas brasileiras, o Ministério da Saúde segue atuando com o “Plano de Ação: Estratégia de Vacinação nas Fronteiras de 2022” para elevar as taxas de imunização nesses municípios. Neste sábado (26), a mobilização será realizada na cidade de Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, na fronteira com o Uruguai, a partir das 09h30. As vacinas estarão disponíveis no Parque Internacional da cidade.
Pessoas de todas as idades podem se imunizar com as doses recomendadas de acordo com o Calendário Nacional de Vacinação. Serão utilizados como indicadores de monitoramento e avaliação da estratégia as coberturas vacinais dos seguintes imunizantes:
• Vacinas Poliomielite;
• Tríplice Viral;
• Covid-19;
• Febre Amarela;
• Influenza;
A Pasta reforça que as baixas coberturas vacinais nessas regiões representam alto risco para a saúde pública, pois a população se expõe a possíveis epidemias e surtos, com consequentes prejuízos para a comunidade e sobrecarga nos serviços de saúde.
A meta do Ministério da Saúde é atualizar a situação vacinal da população, de todas as faixas etárias, residente nos municípios brasileiros ou estrangeiros que estiverem no Brasil, considerando todas as vacinas orientadas no Calendário Nacional de Vacinação e vacina Covid-19 e, com isso, evitar novos casos e a reintrodução de doenças imunopreveníveis em território nacional.
A estratégia de intensificação vacinal nas áreas de fronteira segue até o dia 16 de dezembro de 2022, conforme o cronograma. Os países que fazem fronteira com o Brasil serão convidados a aderir ao Plano, com a inclusão das cidades que fazem fronteiras com os 33 municípios brasileiros selecionados. Por isso, cidades estrangeiras também serão contempladas com a ação.
Ministério da Saúde
Categoria
Saúde e Vigilância Sanitária
Autor: gov
Sítio Online da Publicação: gov
Data: 25/11/2022
Publicação Original: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/novembro/ministerio-da-saude-reforca-acao-de-vacinacao-nas-fronteiras
Ministério da Saúde detém e monitora diariamente todas as informações sobre vacinação de brasileiros
Myke Sena/MS
Para garantir o andamento das campanhas de vacinação, o Ministério da Saúde acompanha diariamente a atualização de dados dos brasileiros vacinados e todas as notificações registradas por estados e municípios nas plataformas de informação. O Governo Federal detém o número de vacinados, por CPF, além do tipo de vacina administrada, data de aplicação e as doses de reforço.
O próprio cidadão pode acessar a sua situação vacinal contra o coronavírus e histórico clínico por meio do ConecteSUS - plataforma que disponibiliza comprovante de vacinação em português, inglês e espanhol, além de dados de autenticação. O aplicativo, criado em 2020, já tem mais de 35 milhões de downloads.
O andamento da campanha contra a Covid-19 também é atualizado diariamente na plataforma LocalizaSUS, onde a partir das notificações de estados e municípios, é possível saber quantos brasileiros estão vacinados com todas as doses da vacina. A consulta é simples e pode ser feita por todos os brasileiros. Por essa plataforma, o Governo Federal mantém a atualização de distribuição de insumos, medicamentos, testes, ventiladores, habilitação de leitos, repasse de recursos para municípios e outras informações essenciais para o enfrentamento da pandemia. Mesmo com o fim da Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), todos os dados permanecem disponíveis e atualizados.
Desde o início da pandemia, o Governo Federal apostou na compra diversificada de vacinas, de vários laboratórios, garantindo mais de 700 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 com um investimento de mais de R$ 37 bilhões. Destas, mais de 550 milhões de doses já foram distribuídas a todos os estados e Distrito Federal - incluindo as destinadas para os povos e comunidades tradicionais.
“Os dados da vacinação e distribuição de imunizantes contra a Covid-19, bem como número de casos e óbitos registrados, são observados de perto e disponibilizados publicamente no LocalizaSUS. Os dados epidemiológicos também são atualizados diariamente, informando a população, inclusive, o percentual de recuperados e pacientes em acompanhamento”, destaca o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga.
O ministro também segue alertando, constantemente, sobre a importância da dose de reforço para manter a proteção contra casos graves e óbitos pela Covid-19. Até agora, mais de 77 milhões de brasileiros ainda não retornaram aos postos de vacinação para tomar a primeira dose de reforço, recomendada quatro meses após a segunda dose. Cerca de 24 milhões de pessoas, que já podem tomar a segunda dose de reforço (quatro meses após o primeiro reforço), também não se vacinaram. É importante reforçar que as doses disponíveis nas salas de vacinação de todo Brasil são eficazes contra a doença.
O Ministério da Saúde, desde as primeiras tratativas com os laboratórios fabricantes de imunizantes contra a Covid-19, segue em contato constante para garantir a entrega das doses e a atualização das vacinas quando necessário. Após a articulação da pasta com a Pfizer e a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os primeiros lotes da vacina bivalente, de acordo com previsão do fabricante, devem chegar ao Brasil no início de dezembro. Os imunizantes são eficazes por conter a mistura de cepas do vírus SarsCov-2.
“É importante ressaltar que o Ministério da Saúde possui acordo com a farmacêutica Pfizer, assinado ainda em novembro de 2021, que contempla a entrega de todas as vacinas disponíveis e aprovadas pela Anvisa, ressalta o ministro Queiroga. A entrega da vacina bivalente ao Brasil está em negociação há, pelo menos, dois meses.
Já a estratégia de vacinação para o próximo ano está em discussão pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), assim como o quantitativo necessário de doses para garantir a continuidade da imunização da população e a máxima proteção contra a Covid-19.
A mais recente atualização do Ministério da Saúde mostra que aproximadamente 80% da população receberam as duas doses ou dose única da vacina contra a Covid-19. Mais de 101 milhões de doses de primeira dose de reforço foram aplicadas até o momento.
Do diagnóstico ao tratamento
Para garantir o diagnóstico de Covid-19, o teste RT-PCR é considerado padrão ouro no SUS porque apresenta alta sensibilidade e alta especificidade. Desde o início da pandemia, mais de 32,2 milhões de reações de RT-PCR foram enviadas para todos os estados e o Distrito Federal. A metodologia utilizada identifica todas as variantes da Covid-19.
O Brasil já conta com medicamentos incorporados ao SUS para tratamento da Covid-19. Cinquenta mil tratamentos do antiviral formado pelos comprimidos nirmatrelvir e ritonavir foram distribuídos a todos os estados e o Distrito Federal de maneira proporcional e igualitária - respeitando discussões feitas com as unidades federativas. O País também poderá contar com outros 50 mil tratamentos já no começo do próximo ano, de acordo com previsão feita pelo próprio laboratório fabricante.
Para além do foco na prevenção da doença, por meio das vacinas, o Governo Federal também investiu na assistência das pessoas que necessitem de atendimento médico por complicações da Covid-19. Mais de 19,5 mil leitos foram habilitados ao custo de R$ 14 bilhões. Os dados de leitos habilitados por ano e localidade também são públicos e podem ser acessados no LocalizaSUS.
Nathan Victor
Ministério da Saúde
Categoria
Saúde e Vigilância Sanitária
Autor: gov
Fonte: gov
Sítio Online da Publicação: gov
Data: 25/11/2022
Publicação Original: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/noticias/2022/novembro/ministerio-da-saude-detem-e-monitora-diariamente-todas-as-informacoes-sobre-vacinacao-de-brasileiros
Lecanemab: medicamento experimental contra Alzheimer tem resultados 'históricos'
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
Após decadas de fracassos com tratamentos experimentais contra o Alzheimer, o lecanemab mostrou resultados animadores
Pela primeira vez, um medicamento se mostrou capaz, em experimentos com voluntários, de desacelerar a destruição do cérebro pela doença de Alzheimer.
O sucesso da pesquisa, divulgada nesta terça-feira (29/11) na revista científica New England Journal of Medicine, encerra décadas de fracassos em tratamentos experimentais contra o Alzheimer, a forma mais comum de demência.
No entanto, o medicamento, o lecanemab, ainda mostrou algumas limitações: seu efeito foi moderado e trouxe alguns riscos. Exames de imagem mostraram a ocorrência de hemorragias cerebrais em 17% dos participantes e de inchaço cerebral em 13%. Entre os voluntários, 7% tiveram que deixar os testes devido a efeitos colaterais.
O lecanemab ataca a gosma pegajosa que se acumula no cérebro de pessoas com Alzheimer, a chamada beta-amiloide. A droga funciona nos estágios iniciais da doença, então boa parte das pessoas não se beneficiaria com ela, já que é frequente que a condição só seja investigada após a aparição de sinais — muitas vezes, em estágios relativamente avançados.
O centro de pesquisa britânico Alzheimer's Research UK afirmou que os resultados são "importantes".
Um dos primeiros pesquisadores do mundo a propor tratamentos que atinjam a amiloide, há mais de 30 anos, o professor John Hardy avaliou que o experimento é "histórico" e mostra que "estamos vendo o início de tratamentos contra o Alzheimer".
A professora Tara Spires-Jones, da Universidade de Edimburgo, afirmou que os resultados são "importantes porque tivemos uma taxa de falha de 100% por muito tempo".
Atualmente, pessoas com Alzheimer recebem medicamentos para controlar seus sintomas, mas nenhum muda o curso da doença diretamente.
O lecanemab é um anticorpo — como aqueles que o corpo produz para atacar vírus ou bactérias — projetado para mandar o sistema imunológico limpar a amiloide do cérebro.
A amiloide é uma proteína que se aglomera nos espaços entre os neurônios no cérebro e forma placas bastante características da doença de Alzheimer.
O estudo em larga escala envolveu 1.795 voluntários em estágio inicial da doença de Alzheimer. Infusões de lecanemab foram administradas quinzenalmente.
Os resultados, apresentados na conferência Clinical Trials on Alzheimer's Disease em São Francisco, Estados Unidos, não revelam uma cura milagrosa. A doença continuou a deteriorar as funções cerebrais das pessoas, mas esse declínio foi retardado em cerca de um quarto ao longo dos 18 meses de tratamento.
Os dados já estão sendo avaliados por órgãos reguladores dos EUA, que em breve decidirão se o lecanemab pode ser aprovado para uso mais amplo. Os desenvolvedores da droga, as empresas farmacêuticas Eisai e Biogen, planejam solicitar essa permissão no próximo ano em outros países.
Legenda da foto,
David Essam — na foto, ao lado da esposa Cheryl — é voluntário no ensaio clínico
David Essam, que tem 78 anos e é de Kent, no Reino Unido, participou dos ensaios clínicos.
A doença o obrigou a abrir mão do trabalho como marceneiro — ele não se lembrava mais de como usar suas ferramentas ou construir um armário. Ele agora usa um relógio digital, pois não consegue ver as horas usando um relógio analógico.
"Se alguém puder desacelerar [o Alzheimer] e, eventualmente, pará-lo de uma vez, seria brilhante. É simplesmente uma coisa horrível", diz David, referindo-se à doença.
Sua esposa, Cheryl, lamenta mudanças já muito perceptíveis no marido, mas afirma que a participação nos ensaios clínicos trouxe esperança à família.
"Ele não é o homem que já foi. Ele precisa ajuda com a maioria das coisas e, em geral, sua memória quase não existe mais", diz a esposa.
Existem mais de 55 milhões de pessoas no mundo como David e o número de pessoas com a doença de Alzheimer deve passar de 139 milhões até 2050, segundo projeções.
Limitações
Há um debate entre cientistas e médicos sobre o impacto do lecanemab no "mundo real".
Os melhores resultados foram encontrados nas avaliações individuais de sintomas. Trata-se de uma escala de 18 pontos, variando de normal à demência grave. Aqueles que receberam o medicamento tiveram 0,45 ponto a mais.
A professora Tara Spires-Jones disse que foi observado um "pequeno efeito" da droga na doença, mas "mesmo que não seja algo tão impactante, eu aceitaria".
Susan Kohlhaas, do Alzheimer's Research UK, disse que foi um "efeito modesto, mas que nos dá um pouco de chão". Para ela, a próxima geração de medicamentos contra o Alzheimer deve ser melhor.
Uma questão crucial é o que acontecerá após os 18 meses do experimento, e as respostas ainda são especulações.
A médica Elizabeth Coulthard, que trata pacientes na rede pública de Bristol, diz que as pessoas têm, em média, seis anos de vida independente desde que o comprometimento cognitivo leve começa.
CRÉDITO,GETTY IMAGES
Legenda da foto,
A OMS estima que 55 milhões vivem com demência — em 2050, esse número deverá chegar perto dos 139 milhões
Se o declínio for reduzido em um quarto, como observado nos ensaios clínicos, isso daria mais 19 meses de vida independente — mas, por enquanto, isso é apenas uma suposição, diz ela.
É até cientificamente plausível que a eficácia possa ser maior em ensaios mais longos.
O surgimento de medicamentos que alteram o curso da doença levanta grandes questões sobre se os serviços de saúde estariam prontos para usá-los.
As drogas devem ser administradas no início da doença, antes que ocorram muitos danos ao cérebro, mas um percentual muito pequeno de pessoas faz exames precoces para detectar o Alzheimer.
"Há um enorme abismo entre o atendimento prestado hoje e o que precisamos fazer para oferecer tratamentos que alteram o curso da doença", diz Coulthard.
Alguns cientistas também enfatizaram que a amiloide é apenas uma peça do complexo quadro da doença de Alzheimer e não deveria ser o único foco das terapias.
O sistema imunológico e processos inflamatórios estão fortemente envolvidos na doença, além de outra proteína tóxica, chamada tau — encontrada onde as células cerebrais estão realmente morrendo.
"É onde eu apostaria meu dinheiro", opina Spires-Jones. "Estou muito animada por estarmos prestes a entender suficientemente o problema. Devemos ter algo [tratamento] que fará uma diferença maior em uma década ou mais."
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63803472
Autor: James Gallagher
Fonte: BBC News
Sítio Online da Publicação: BBC
Data: 30/11/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63803472
terça-feira, 29 de novembro de 2022
O legado do Projeto Genoma FAPESP alcança todas as áreas das ciências da vida, avaliam cientistas
O sequenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, responsável pela clorose variegada dos citros, doença também conhecida como amarelinho, resultou num artigo assinado por 119 pesquisadores paulistas, que foi capa da edição 406 da Nature de 13 de julho de 2000 e mereceu da revista um editorial: “Como primeira sequência pública de um patógeno de planta de vida livre, o artigo representa um marco científico significativo”, escreveram os editores.
Foi uma “iniciativa ousada”, que transformou a ciência paulista, destacou o presidente da FAPESP, Marco Antonio Zago, na abertura do Genome Workshop 20+2. O evento, realizado no início desta semana (dias 21 e 22 de novembro), integra as atividades comemorativas do 60º aniversário da Fundação e celebra os 22 anos da empreitada científica que inaugurou a pesquisa em genômica e a biologia molecular no Brasil.
Segundo relatou Perez em sua apresentação, não se tratava de um projeto sobre a Xylella e sim sobre capacity building, ou seja, a criação de uma infraestrutura física e humana que, depois de vencido esse primeiro desafio, pudesse levar adiante o sequenciamento de diversos outros organismos de interesse – seja para a saúde humana, animal ou de plantas.
"Mesmo antes de o genoma da Xylella ser publicado, muitos grupos se organizaram para investigar outros agentes infecciosos de plantas e animais. E muitas dessas pessoas estão hoje aqui”, comentou Zago, lembrando que a primeira iniciativa foi seguida pelo sequenciamento da cana-de-açúcar, da bactéria Xanthomonas citri (causadora do cancro cítrico) e dos genes expressos em amostras de tumores humanos, entre outros.
Visão de longo prazo
Vinte e dois anos depois é possível reconhecer o legado do Projeto Genoma FAPESP nos avanços da medicina personalizada, nas aplicações da genoterapia, no desenvolvimento de vacinas, nos estudos sobre a evolução filogenética da biodiversidade, entre outros.
O conhecimento adquirido naquela época, destacou Zago, foi essencial durante a pandemia de COVID-19, pois permitiu que cientistas brasileiros sequenciassem o SARS-CoV-2 em apenas 48 horas – enquanto outros países demoravam em média 15 dias. “O legado daquele período se estende para todos os campos de pesquisa das ciências da vida. E a segunda ou terceira geração de cientistas dessa linhagem estão agora manipulando o genoma para ajudar a tratar doenças e a produzir alimentos”, disse.
Em 2010, dez anos após a publicação do artigo que descreveu o genoma da fitobactéria, um novo editorial da Nature destacava: “Mais do que tudo, a Xylella demonstra os benefícios de mirar alto”.
“E eu reforço: se investirmos somente em projetos regulares e de baixo risco, os melhores resultados que vamos obter é a publicação de um artigo. Mas, se mirarmos alto, temos a chance de realmente mudar o panorama. E foi isso o que aconteceu naquele momento”, afirmou Zago na abertura do workshop.
Além de ousadia, foi preciso uma boa dose de coragem para levar adiante o plano. Como lembrou Perez, em 1997, a reação da comunidade acadêmica paulista à ideia de sequenciar o genoma da X. fastidiosa foi heterogênea: parte apoiou com entusiasmo e parte considerou que o projeto não fazia sentido. “Eles me perguntavam o que eu ia fazer com o genoma da Xylella após o sequenciamento. Temiam que eu gastasse todo o dinheiro da FAPESP nesse empreendimento. A geração mais velha de pesquisadores se afastou”, contou.
E o custo de conduzir o primeiro sequenciamento genômico de um fitopatógeno da história – US$ 12 milhões da FAPESP e mais US$ 400 mil da Fundecitrus, o maior valor até então destinado a um projeto científico no Brasil – era algo que de fato preocupava Perez. Ele buscou aconselhamento internacional, recorrendo aos britânicos Steve Oliver (Universidade de Manchester) e John Sgouros (Imperial Cancer Research Foundation), além de André Goffeau (Universidade Católica de Louvain, da Bélgica). “Eles avaliaram se tratar de uma grande ideia. E isso me tranquilizou”, disse o então diretor científico da FAPESP, que hoje dirige uma empresa de biotecnologia, a Recepta Biopharma.
Uma chamada de propostas foi então lançada e 35 laboratórios do Estado de São Paulo foram selecionados para compor a rede Onsa (sigla em inglês para Organização Virtual para Sequenciamento de Nucleotídeos), que reunia mais de 190 pesquisadores.
Reinach, também presente no Genome Workshop 20+2, liderava um dos laboratórios selecionados no edital e classificou a experiência como “fantástica”. “Foi um dos melhores períodos da minha vida”, afirmou.
O biólogo, que hoje atua como gestor do Fundo Pitanga e investe em pequenas empresas inovadoras, disse ter a impressão de que, atualmente, o ânimo de correr riscos e desenvolver projetos realmente ousados e desafiadores arrefeceu na comunidade científica brasileira.
Ainda na abertura do evento, o atual diretor científico da FAPESP, Luiz Eugênio Mello, destacou a “natureza mítica” do Projeto Genoma FAPESP, que envolve personagens com histórias de superação, trama com uma sequência de sucessos e fracassos, grandes conquistas e impactos duradouros. “A FAPESP apostou numa visão de longo prazo. Visou não apenas sequenciar uma bactéria em particular, mas também – e talvez principalmente – criar uma infraestrutura material e humana complexa e potente na área de genômica, cuja fertilidade foi evidenciada nas décadas seguintes”, afirmou Mello, parabenizando as lideranças científicas que, na época, “não se dobraram a visões de mundo imediatistas”.
A bióloga Ana Tereza Ribeiro de Vasconcelos, pesquisadora do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), contou em sua apresentação que o Projeto Genoma FAPESP serviu de modelo e inspiração para a criação da Rede Brasileira de Genômica no ano 2000.
“O modelo implantado em São Paulo nós replicamos em todo o país. Usamos a mesma metodologia e espalhamos a fantástica experiência em 25 laboratórios de Norte a Sul. Então agradecemos muito à FAPESP por conduzir esse projeto e às lideranças do Ministério da Ciência e do CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico] da época por não criar nada diferente e apenas replicar essa experiência – o que colocou o Brasil em uma boa posição na pesquisa em genômica atualmente”, afirmou Vasconcelos.
Segundo dados apresentados pela pesquisadora do LNCC, o Brasil é líder em publicações na área entre os países da América Latina e é a única nação do continente que figura entre os top 30 países do mundo que mais publicam estudos sobre genômica.
Mesas temáticas
A primeira mesa do evento foi dedicada à genômica de patógenos e foi moderada por Marie-Anne Van Sluys, professora da Universidade de São Paulo (USP) e integrante da Coordenação Adjunta de Programas Especiais e Colaborações em Pesquisa da FAPESP. Além de Perez, participaram como palestrantes Alessandra Alves de Souza (Instituto Agronômico), Jorge Elias Kalil Filho (USP), João Marcelo Pereira Alves (USP) e Anna Childers (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos).
Alves de Souza, que ainda era estudante de mestrado quando o sequenciamento da Xylella teve início, falou sobre como a participação no projeto ajudou a moldar sua carreira e como os resultados obtidos transformaram o Brasil em referência na área.
“Hoje o amarelinho não é mais um problema para a produção de frutas cítricas em São Paulo, mas a Xylella ataca várias outras culturas [ao todo infecta 350 espécies vegetais]. Tem sido um grande problema para a produção de azeitonas no sul da Itália, na região de Puglia”, sublinhou a pesquisadora, que participa de um projeto voltado a resolver o problema em parceria com cientistas italianos.
Kalil Filho descreveu em sua palestra como evoluiu durante a pandemia de COVID-19 a capacidade brasileira de fazer o monitoramento genômico de um patógeno. “No começo, a tecnologia estava aqui, mas faltava o investimento [necessário para sequenciar com celeridade um grande número de genomas do SARS-CoV-2 de modo a detectar o surgimento de variantes virais]”, disse. “Não tivemos chance de pegar a variante gama [que possivelmente surgiu em Manaus no fim de 2020], ela foi detectada no Japão.”
O salto na capacidade de sequenciamento começou em maio de 2021, informou o pesquisador, graças à estruturação da Rede Corona-ômica pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), o apoio do Instituto Todos pela Saúde (do banco Itaú) e a parceria com laboratórios privados. Hoje o país já depositou cerca de 183 mil genomas completos do novo coronavírus no repositório internacional Gisaid – um número absurdamente maior que o de outros patógenos relevantes para a saúde pública brasileira, como o vírus da dengue (281 genomas sequenciados), febre amarela (195) ou zika (76).
Pereira Alves falou sobre sua principal linha de pesquisa, relacionada com a genômica de bactérias e de protozoários causadores de doenças negligenciadas como, por exemplo, os tripanossomatídeos.
A segunda mesa do evento foi dedicada à genômica agroambiental, com moderação do professor da USP Luis Eduardo Aranha Camargo. Um dos palestrantes foi Paulo Arruda, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que dirige o Centro de Pesquisa em Genômica Aplicada às Mudanças Climáticas (GCCRC) – um Centro de Pesquisa em Engenharia (CPE) apoiado por FAPESP e Embrapa. Ele descreveu estudos direcionados à descoberta de genes que podem tornar as plantas mais resistentes à seca e outros fatores de estresse. Esses genes podem estar na própria planta ou, muitas vezes, na comunidade de microrganismos em seu entorno.
João Carlos Setubal, professor do Instituto de Química da USP, apresentou estudos que tem conduzido nos últimos oito anos com a microbiota existente em zoológicos. Em um trabalho recente, seu grupo identificou microrganismos que produzem enzimas com grande potencial para degradar a lignina – composto que confere rigidez às plantas – e, portanto, de grande interesse biotecnológico.
Claudia Vitorello, professora da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP), apresentou seus estudos sobre patógenos da cana-de-açúcar, com destaque para o fungo Sporisorium scitamineum, causador de uma doença conhecida como carvão da cana.
E finalizando o primeiro dia do workshop, o pesquisador do Wellcome Sanger Institute Mark Blaxter, do Reino Unido, apresentou o projeto Tree of Life (Árvore da Vida), que busca compreender a evolução por meio do sequenciamento de organismos eucariotos (cujas células possuem núcleo).
“Estamos vivendo uma crise biológica e as espécies selvagens estão em risco. Um dos grandes desafios é a mudança climática. Se falharmos em preservar a biodiversidade que nos sustenta, falhamos em preservar a nós mesmos, pois a nossa sociedade depende dos serviços ecossistêmicos prestados por todas as espécies com quem dividimos o planeta”, ressaltou Blaxter. “Esperamos que, por meio do sequenciamento genômico, possamos ajudar a mitigar essa crise, a achar formas de reverter o declínio de espécies e oferecer dados que fomentem novas bioindústrias menos destrutivas para o planeta.”
O vídeo abaixo traz a íntegra das apresentações do primeiro dia do Genome Workshop 20+2
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 23/11/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/o-legado-do-projeto-genoma-fapesp-alcanca-todas-as-areas-das-ciencias-da-vida-avaliam-cientistas/40121/
Cientistas ressaltam contribuição de técnica criada no Brasil para o estudo do câncer e do genoma humano
A análise foi feita durante a apresentação de Simpson no segundo dia (22/11) do Genome Workshop 20+2. O evento integra as atividades comemorativas do 60º aniversário da FAPESP e celebra os 22 anos da empreitada científica que inaugurou a pesquisa em genômica e a biologia molecular no Brasil.
“Naquele tempo a genômica era o assunto. Todo mundo queria sequenciar alguma coisa. E todos, exceto o Estado de São Paulo, cometeram o mesmo erro: tentaram criar um instituto de genômica. Isso requer tempo, dinheiro e, geralmente, barganhas políticas. Quando nós concluímos o nosso genoma, todos ainda estavam tentando construir seus institutos”, afirmou Simpson, ressaltando que o objetivo do projeto foi alcançado seis meses antes do prazo determinado e a um custo menor que o previsto.
O sucesso da fase inicial possibilitou à chamada rede Onsa (sigla em inglês para Organização Virtual para Sequenciamento de Nucleotídeos) abraçar metas ainda mais ousadas. Em abril de 1999 teve início o Projeto Genoma do Câncer Humano (HCGP), o mais ambicioso do grupo. O objetivo era sequenciar genes expressos em tumores de grande incidência no país usando uma metodologia nova e desenvolvida no Brasil. O trabalho foi conduzido por 29 laboratórios e um centro de bioinformática, com recursos (US$ 20 milhões) fornecidos pela FAPESP e o Ludwig Institute for Cancer Research.
A necessidade é a mãe da inovação
Conhecida pelo acrônimo ORESTES (open reading frame expressed sequence tag), a técnica de sequenciamento usada no Projeto Genoma do Câncer Humano foi desenvolvida durante o doutorado de Emmanuel Dias Neto na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), sob a orientação de Simpson. Sem recursos para investigar o genoma do esquistossomo (Schistosoma mansoni) pelos métodos convencionais, o grupo criou uma estratégia alternativa baseada em PCR (reação da cadeia de polimerase) – equipamento que amplifica o DNA e permite detectar e medir genes específicos.
Dias Neto descreveu a técnica no periódico The Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em 1997. Na mesma época, a convite do então diretor-presidente da FAPESP Ricardo Brentani, mudou-se para São Paulo e iniciou no Hospital A C Camargo (hoje chamado AC Camargo Cancer Center) um projeto de pós-doutorado focado no uso da metodologia ORESTES para estudo do câncer.
“Em 1999 nós submetemos o pedido de financiamento para o Projeto Genoma do Câncer Humano. No lançamento, Fernando Reinach (um dos idealizadores do Projeto Genoma FAPESP) disse: ‘Estou muito orgulhoso porque, no projeto da Xylella, estudamos um organismo pequeno, para o qual não tínhamos competidores e usamos a tecnologia mais tradicional. Dois anos depois, estamos desafiando o padrão estabelecido para sequenciamento do genoma humano. Usando uma tecnologia desenvolvida no Brasil, estamos indo para a área mais competitiva e para um genoma realmente grande’”, lembrou Dias Neto em palestra ministrada no workshop.
Enquanto os métodos considerados padrão-ouro na época focavam as extremidades dos genes, a metodologia brasileira permitia sequenciar a porção central, onde se localiza a informação genética. Com o avançar do projeto, ficou evidente que a ORESTES também era útil para identificar genes que não estão entre os mais abundantes nos tecidos humanos e, muitas vezes, passavam despercebidos nos estudos feitos com técnicas tradicionais. Inúmeras sequências inéditas foram geradas pelo grupo, contribuindo para o esforço internacional – conduzido entre 1990 e 2003 – que visava decifrar o genoma humano.
“Tivemos de inventar algo porque não conseguíamos fazer o que todo mundo estava fazendo. E no fim o que nós estávamos fazendo era melhor. Hoje concluo que não foi só um bom trabalho, como também um trabalho fortemente subestimado. Nossa contribuição para o sequenciamento dos genes humanos nunca foi realmente reconhecida”, disse Simpson.
Por meio da rede Onsa foram sequenciados mais de 1 milhão de fragmentos gênicos expressos (expressed sequences tags ou ESTs) provenientes de diferentes tumores humanos. Grande parte desses dados está disponível no Gene Bank, repositório mantido pelo National Center for Biotechnology Information (NCBI). Ainda hoje as informações geradas pelo grupo subsidiam projetos de pesquisa na área.
“Lembro de Andy [Simpson] uma vez me dizer: você pode passar o resto de sua vida trabalhando em algo que não é importante. Mas se você dedicar seu tempo e seu entusiasmo a algo relevante, eventualmente poderá fazer algo de bom”, contou Dias Neto no final de sua apresentação. “Temos de fazer big Science, temos de acreditar em nós mesmos”, acrescentou.
O segundo dia do Genome Workshop 20+2 também contou com a participação de Sergio Verjovsky, que coordenou um dos laboratórios da rede Onsa e hoje é pesquisador do Instituto Butantan. Ele falou sobre sua linha de pesquisa relacionada aos genes não codificadores. Por muito tempo essa parte do genoma foi considerada não importante e até chamada de lixo. Hoje se sabe que participa da regulação dos genes codificadores de proteínas.
Outro palestrante foi Rui Manuel Vieira Reis, diretor científico do Laboratório de Diagnóstico Molecular do Hospital de Amor (antigamente conhecido como Hospital do Câncer de Barretos). Ele contou que o banco de tumores mantido pela instituição foi criado a partir de uma sugestão de Brentani. Como o hospital atende pacientes de todo o país, o material armazenado tem grande diversidade genética e tem sido útil em muitos estudos relacionados à genômica do câncer.
A moderação foi feita por Anamaria Aranha Camargo, que integrou a equipe do HCGP e hoje é pesquisadora do Hospital Sírio-Libanês e membro da Coordenação Adjunta - Ciências da Vida na FAPESP.
Homenagem a Brentani
A última mesa do evento foi dedicada a homenagear o legado do professor Brentani, que faleceu em 2011 e é considerado um dos principais nomes no mundo em pesquisa oncológica. Entre os participantes estava Chi Van Dang, diretor científico do Ludwig Cancer Research, que apresentou um panorama sobre a evolução das pesquisas em genômica do câncer e contou como esse conhecimento tem ajudado a cuidar dos pacientes.
“Pretendemos usar a informação genômica para interceptar o desenvolvimento do câncer. Tenho participado de um esforço para criar um atlas pré-câncer para tumores de mama e de ovário relacionados à mutação no gene BRCA. A ideia é identificar pistas que indiquem lesões ainda muito iniciais nesses tecidos usando técnicas de sequenciamento de célula única, transcriptômica e proteômica. Esperamos que olhando para a genômica seja possível aprender com todos esses dados e interceptar – seja por estratégias farmacológicas ou imunológicas – o desenvolvimento da doença”, contou Dang.
Outras áreas que o cientista apontou como promissoras são relacionadas com biópsia líquida (que permite acompanhar a evolução do câncer por meio de exames de sangue) e a metagenômica do câncer, que estuda a influência do microbioma tanto no desenvolvimento de tumores como na resposta aos tratamentos.
“Creio que o estudo do microbioma do câncer é uma grande oportunidade, uma área em que nós – Ludwig e FAPESP – podemos atuar no futuro”, concluiu Dang.
A última mesa também contou com a participação de Marco Antonio Zago, presidente da FAPESP; Carlos Américo Pacheco, diretor-presidente da FAPESP; Paulo Hoff, diretor do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp); e Giovanni Guido Cerri, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM-USP) e ex-secretário da Saúde de São Paulo.
“Brentani sempre será lembrado, pois é uma das poucas pessoas que conseguiu, ao mesmo tempo, ser um cientista bem-sucedido, um formulador de políticas científicas e diretor do maior hospital do câncer de São Paulo em sua época”, disse Zago, lembrando ainda que Brentani dirigiu o braço paulista do Ludwig Institute for Cancer Research desde que foi criado, em 1986, até sua morte.
“Talvez seu legado mais duradouro seja derivado dessa posição de diretor do Ludwig Institute for Cancer Research. Isso tornou possível unir as duas instituições, Ludwig e FAPESP, em um dos programas de maior impacto dos 60 anos da FAPESP. O Projeto Genoma, como ficou conhecido, transformou o panorama científico do Brasil. A biotecnologia brasileira tem amadurecido a ponto de seus cientistas serem agora atores no palco internacional. As habilidades e conhecimentos que começamos a adquirir naquele momento são altamente valiosos hoje. O legado desse período se estende a todos os campos da pesquisa em ciências da vida”, afirmou Zago.
Veja também a íntegra das apresentações do segundo dia do Genome Workshop 20+2
Autor: Karina Toledo
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 24/11/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/cientistas-ressaltam-contribuicao-de-tecnica-criada-no-brasil-para-o-estudo-do-cancer-e-do-genoma-humano/40132/
Marco Antonio Zago recebe título de Professor Emérito da FMRP-USP
“Esse título é o reconhecimento pelo trabalho do professor Zago para esta faculdade e baseia-se em três pilares: a contribuição para a ciência e para a medicina, a formação de médicos e pesquisadores e a contribuição para a gestão da ciência e gestão acadêmica”, afirmou Calado durante a cerimônia de outorga, em 11 de novembro, no Teatro do Campus da USP em Ribeirão Preto.
Zago ingressou na FMRP-USP em 1965. “Participou do movimento estudantil, na vanguarda da resistência à ditadura militar, foi membro da diretoria do Centro Acadêmico Rocha Lima e um dos brilhantes alunos da 14ª turma”, disse Calado. Foi contratado como professor assistente em 1973 no então Departamento de Clínica Médica, contribuiu para a implementação do curso de Hematologia na FMRP-USP, formou mais de uma centena de hematologistas e dezenas de mestres e doutores – e ainda leciona para os alunos do 4º ano de medicina.
“Sua contribuição científica destaca-se pelo entendimento das alterações ontogenéticas e moleculares das neoplasias hematológicas, das trombofilias e em especial das bases moleculares da talassemia e da anemia falciforme”, elencou Calado. “Com seu trabalho, foi possível estabelecer em todo o país diagnósticos corretos de doenças, o que permitiu estruturar atendimento de pacientes.” Esse trabalho, ele continuou, possibilitou que o Hospital das Clínicas da FMRP-USP realizasse, pioneiramente, transplantes de medula óssea para tratar a anemia falciforme.
Zago também liderou a implantação do Centro de Terapia Celular (CTC) – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) da FAPESP criado em 2000. O grupo desenvolve pesquisas pioneiras na área de transplantes com células-tronco hematopoiéticas para doenças autoimunes e, mais recentemente, investiga o uso de linfócitos modificados em laboratório (células CAR-T) no tratamento do câncer, disse Calado.
“Foi um dos responsáveis pela criação do Hemocentro de Ribeirão Preto, do Centro de Ciências, Imagens e Física Médica, do Centro de Oncologia e pelo Curso de Informática Biomédica na FMRP.”
Esse mesmo compromisso com a ciência e a pesquisa pautou sua atuação na presidência do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), entre 2007 e 2010, quando, por exemplo, criou e implementou os Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs).
De volta à USP, Calado lembrou que Zago foi pró-reitor de Pesquisa entre 2010 e 2014, quando assumiu a reitoria da universidade. Na pró-reitoria contribuiu para a consolidação dos Núcleos de Apoio à Pesquisa, criou o programa de apoio a jovens docentes e fortaleceu a cooperação internacional. Como reitor, adotou medidas de austeridade para enfrentar grave crise econômica até alcançar o equilíbrio financeiro, além de promover a igualdade por meio, por exemplo, do escritório USP Mulheres e de um amplo programa de inclusão que abriu as portas da universidade para pelo menos 50% de alunos provenientes de escolas públicas, boa parte deles pretos, pardos e indígenas.
Zago foi secretário estadual de Saúde em 2018 e, desde outubro do mesmo ano, é presidente da FAPESP, tendo sido reconduzido ao cargo em setembro de 2021.
“O conjunto de atividades do professor Zago é extremamente amplo, diversificado e relevante e um exemplo do comprometimento com a educação e com a ciência, com a medicina e com o país”, concluiu Calado.
Dimas Covas, presidente do Instituto Butantan, percorreu a trajetória de Zago por meio da exposição de fotografias sobre a vida profissional. “Zago foi meu orientador na residência médica, na pós-graduação, no mestrado, no pós-doutorado e na minha livre-docência. Eu o considero meu pai científico e de tantos outros.”
Autonomia e conquistas civilizatórias
“Dediquei minha vida à universidade”, afirmou no discurso em que abordou três tópicos: a carreira acadêmica, a autonomia universitária e a inclusão na universidade.
“Começarei pelo mais relevante, a autonomia universitária.” Lembrou que, desde a sua origem na cidade de Bologna, em 1088, a história da universidade é a “contínua luta pela liberdade” e que a autonomia é encarada com resistência, sobretudo por governantes autoritários, inclusive no Brasil.
“Exemplos de restrições à autonomia ocorrem diariamente, nas manifestações públicas que diminuem ou distorcem seu papel, no estrangulamento financeiro e interferência em sua liberdade didática, ou pela falta de reconhecimento da universidade como um interlocutor central na vida do país”, ressalvando, no entanto, “o povo e o governo paulistas, que conduzem há mais de 35 anos uma política de Estado de respeito e promoção de suas universidades públicas”.
À frente da reitoria da USP, adotou medidas para garantir a liberdade financeira da universidade, com o apoio expressivo da grande maioria de seus dirigentes. Citou ainda “conquistas civilizatórias”, como as de inclusão social e racial de estudantes. “A sociedade não tem direito de negar o acesso à sua mais expressiva universidade, mantida com recursos públicos, recursos gerados com impostos pagos igualmente por ricos e pobres e dos negros.”
Sobre a carreira acadêmica, fez um reconhecimento especial a Cassio Bottura, seu mestre e um dos fundadores da hematologia moderna. “Foi um dos mais exemplares educadores que conheci.” Lembrou de sua vida nos laboratórios, enfermarias, salas de aula e das pesquisas que marcaram sua trajetória. “Nos últimos anos, voltei-me para a política de ciência, tecnologia e educação superior.”
Mencionou sua passagem pelo CNPq e, mais detidamente, seu período à frente da pró-reitoria de Pesquisa e a reitoria da USP. “Ao longo de 57 anos de vida universitária, testemunhei o melhor e o pior da vida acadêmica, da vida na sociedade e da atuação de governos. Posso garantir, o saldo é altamente positivo. Por isso e apesar de tudo, eu sou otimista quanto ao futuro do nosso país e da nossa universidade. Não sou otimista por ser ingênuo, eu sou porque confio na determinação e coragem dos homens e mulheres da nossa universidade”, disse.
A íntegra do discurso de Zago está disponível em: fapesp.br/conselho/emerito_zago.pdf.
Ao final do discurso foi saudado pelo diretor da FMRP-USP, Rui Alberto Ferriani. “Posso dizer que, para conhecer verdadeiramente uma pessoa, dê-lhe poder e dê-lhe dificuldades. Presenciei a vida do professor Zago em momentos não apenas de bonança, mas com ele no poder e em grandes dificuldades, e sua sabedoria e bom senso sempre o guiaram”, ressaltou o diretor da FMRP-USP.
Ao final da cerimônia, Zago entregou um livro de resumo da vida acadêmica aos presentes. A íntegra do livro está disponível em: fapesp.br/conselho/emerito_zago_livro.pdf.
Autor: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 25/11/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/marco-antonio-zago-recebe-titulo-de-professor-emerito-da-fmrp-usp/40140/
Efeito de antidepressivos na gravidez ainda é pouco compreendido, dizem cientistas
“A maior parte dos trabalhos que encontramos são pesquisas observacionais e estudos feitos em laboratório com culturas de células e animais, cujo desenvolvimento cerebral difere muito do que ocorre em humanos. Não oferecem dados suficientes para levar a resultados conclusivos”, afirma o neurocientista Alexandre Kihara, do Laboratório de Neurogenética da Universidade Federal do ABC (UFABC), em São Paulo. “Por isso, estamos propondo um modelo experimental de ensaios com a utilização de células-tronco humanas de pluripotência induzida [hiPSC] para investigar o que acontece com as células nervosas em desenvolvimento no útero de mulheres durante o tratamento com antidepressivos”, diz a doutora em epigenética Luciana Rafagnin Marinho, também da UFABC. Ela e Kihara estão entre os principais autores de um artigo sobre o tema publicado on-line na revista Seminars in Cell & Developmental Biology e futuramente disponível na versão impressa. O estudo foi realizado com apoio da FAPESP.
As células hiPSC podem gerar organoides cerebrais ou minicérebros. Há perspectivas de que os organoides cerebrais humanos possam ser usados para investigar condições neurodegenerativas, como as doenças de Parkinson e Alzheimer, e em testes com medicamentos de ação neurológica.
“Com essas estruturas seria possível testar diferentes concentrações de medicamentos e acompanhar a evolução das células cerebrais até o terceiro trimestre de desenvolvimento”, explica o neurocientista e coautor do estudo Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia (UCSD), nos Estados Unidos. À frente de um laboratório de genética que leva seu nome, Muotri é pioneiro no desenvolvimento de organoides cerebrais e no estudo do autismo e síndromes relacionadas. “Na verdade, podemos acompanhar os organoides por até um ano. Nesse período, é possível observar aspectos do seu desenvolvimento como a morfologia e a eletrofisiologia dos neurônios individuais ou em formação de redes”, detalha o pesquisador, também cofundador de uma startup de biotecnologia no Brasil, a Tismoo.
Para exemplificar os avanços possíveis, Marinho menciona o único trabalho entre os mais de cem estudos avaliados que recorreu aos organoides celulares. “Ainda inicial, um estudo que avaliou o impacto do uso do antidepressivo paroxetina identificou diminuição do crescimento de neuritos [ramificações neuronais que permitem a aproximação com outros neurônios] e da população de oligodendrócitos, responsáveis pela produção da bainha de mielina de neurônios e, portanto, importantes para o trânsito de informações no sistema nervoso”, descreve a pesquisadora.
Os cientistas alertam também para a necessidade de empregar recursos como a análise da expressão gênica completa (transcriptoma) em célula única (single-cell RNAseq), neste caso, de um organoide. “Essa tecnologia permite conhecer o impacto da exposição a um antidepressivo sobre diferentes tipos celulares, como as células progenitoras, células da glia e neurônios”, relata Kihara. “Isso é particularmente importante porque as alterações podem não estar restritas aos neurônios. Precisamos conhecer essas implicações.”
O tema, naturalmente, exige muita cautela. “Não estamos dizendo, de maneira alguma, que não se deve usar antidepressivos na gestação. Estamos propondo um modelo experimental e ressaltando a necessidade de estudar sua ação no neurodesenvolvimento com os recursos mais avançados que temos na atualidade para, inclusive, gerenciar as potenciais alterações”, enfatiza o neurocientista Kihara.
O artigo The impact of antidepressants on human neurodevelopment: Brain organoids as experimental tools pode ser conferido em: www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1084952122002695?via%3Dihub.
Autor: Mônica Tarantino
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 28/11/2022
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/efeito-de-antidepressivos-na-gravidez-ainda-e-pouco-compreendido-dizem-cientistas/40152/
sexta-feira, 25 de novembro de 2022
Como parto natural ou cesárea pode alterar reação de crianças às vacinas, segundo estudo
Bebês nascidos de parto vaginal apresentaram o dobro do nível de anticorpos protetores produzidos após as vacinas infantis.
De acordo com os pesquisadores, a diferença foi causada pelos tipos de bactérias boas que colonizam nossos corpos no nascimento.
E embora os bebês de cesárea recebam proteção, pode ser necessário fazer um complemento com probióticos ou vacinas extras.
Nosso nascimento é o momento em que emergimos do útero para um mundo repleto de vida microscópica.
Os micróbios — incluindo bactérias, fungos, vírus e arqueias — fazem do nosso corpo um lar e, por fim, superam em número nossas células "humanas".
Essa parte oculta de nós mesmos é conhecida como microbioma — e uma de suas funções é treinar nosso sistema imunológico no início da vida.
Se você nasce pelo canal vaginal, os primeiros micróbios que você encontra são os que vivem na vagina dela.
Já a cesárea coloca você em uma trajetória diferente, uma vez que os primeiros colonizadores do seu corpo vão ser micro-organismos que vivem na pele das pessoas, no hospital ou na sua casa.
Os pesquisadores da Universidade de Edimburgo, na Escócia, assim como do Hospital Spaarne e do Centro Médico da Universidade de Utrecht, na Holanda, queriam saber o impacto que isso tinha nas vacinas.
Eles monitoraram o microbioma intestinal de 120 bebês, desde o mecônio (primeira evacuação de um recém-nascido) até completarem um ano de idade.
Os resultados, publicados na revista científica Nature Communications, mostraram níveis mais elevados de Bifidobacterium e Escherichia coli (apenas algumas cepas de E. coli são perigosas) nas crianças nascidas de parto normal.
E, de acordo com os pesquisadores, essas bactérias benéficas estavam levando ao dobro dos níveis de anticorpos em resposta às vacinas pneumocócica e meningocócica.
Outras vacinas, incluindo contra a gripe e BCG que protege contra a tuberculose, já demonstraram ser influenciadas pelo microbioma.
"A comunicação inicial entre o sistema imunológico e os micróbios é importante", afirmou Debby Bogaert, chefe de medicina pediátrica da Universidade de Edimburgo.
Ela explica que as bactérias intestinais liberam substâncias químicas — chamadas ácidos graxos de cadeia curta — que informam ao sistema imunológico que é hora de ser ativado. Sem elas, "você vê menos desenvolvimento de células B", que são as células que produzem anticorpos.
Todos os bebês que participaram da pesquisa eram saudáveis e foram gerados até o fim da gestação, portanto as descobertas não são afetadas por outras doenças ou parto prematuro.
Notavelmente, todas as crianças produziram anticorpos após a vacinação, então os bebês de cesariana não estão desprotegidos.
Mas os pesquisadores disseram que as descobertas são particularmente importantes para aqueles com distúrbios genéticos ou que nascem prematuros, pois seus sistemas imunológicos ainda não estão totalmente desenvolvidos.
O que pode ser feito?
Muitas vezes, há uma necessidade médica de fazer uma cesariana para proteger a saúde da mãe ou do bebê.
E para substituir os micróbios que faltam, surgiram alguns métodos recentemente.
Uma tendência é a prática da chamada "semeadura vaginal", na qual bebês de cesariana são untados com fluidos vaginais da mãe. Um estudo recente chegou a realizar até um transplante fecal, no intuito de oferecer as bactérias intestinais da mãe para a criança.
Mas Bogaert adverte que "teoricamente, pode ser ideal devolver os micróbios perdidos à criança nascida por cesariana, mas na prática isso é bastante complicado, e você precisa garantir que não seja perigoso".
Os ensaios científicos examinaram a matéria fecal em busca de infecções perigosas, o que não é tão prático se tiver que ser feito para todos os bebês de cesariana.
Bogaert acredita que oferecer um coquetel preciso de bactérias benéficas — um probiótico — para bebês de cesariana seria um "caminho mais seguro ". Alternativamente, os bebês de cesariana poderiam receber uma dose extra de vacina.
O professor Neil Mabbott, especialista em imunologia do Instituto Roslin, também da Universidade de Edimburgo, disse que era incerto que os níveis de micróbios no corpo sejam diretamente responsáveis pelo aumento das respostas dos anticorpos.
"Este estudo levanta a possibilidade de que seja possível tratar bebês, especialmente bebês nascidos de cesariana, com um suplemento bacteriano ou até mesmo um produto produzido por essas bactérias benéficas para ajudar a melhorar seus sistemas imunológicos, melhorar suas respostas a certas vacinas e reduzir sua suscetibilidade a infecções", acrescentou.
George Savva, estatístico do centro de pesquisa Quadram Institute de ciência biológica, observou que "é importante começar a entender os fatores que contribuem para a resposta à vacina em bebês e o papel do microbioma".
Mas ele destacou que era um estudo relativamente pequeno e que mais pesquisas seriam necessárias antes que fosse seguro tirar conclusões sólidas.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63650937
Autor: James Gallagher
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 24/11/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63650937
3 padrões de alimentação que podem ajudar a regular açúcar no sangue
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O tipo mais comum de diabetes é o 2, geralmente presente em adultos
A glicose é o combustível mais importante disponível para o nosso corpo.
É dela que extraímos a energia necessária para o nosso movimento, nosso pensamento e para os batimentos cardíacos. Ela é fundamental para as nossas funções vitais.
Mas, se esse nível de glicose (ou açúcar) no sangue não for adequado, podem ocorrer sérios problemas de saúde.
O diabetes é uma doença metabólica crônica, caracterizada pelos altos níveis de glicose no sangue. Com o tempo, ele causa danos graves ao coração, aos vasos sanguíneos, olhos, rins e nervos.
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Alguns alimentos ajudam a glicose a permanecer regulada
O tipo mais comum é o diabetes tipo 2, geralmente presente em adultos. Ele ocorre quando o corpo se torna resistente à insulina ou não produz insulina em quantidade suficiente.
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) estima que 62 milhões de pessoas, em todo o continente americano, vivam com diabetes tipo 2.
Esse número triplicou na região desde 1980 e estima-se que atingirá 109 milhões em 2040, segundo o Atlas do Diabetes.
A incidência da doença aumentou com mais rapidez nos países de renda média e baixa que nos países de alta renda.
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A incidência da doença aumentou com mais rapidez nos países de renda média e baixa que nos países de alta renda
O dia 14 de novembro marca o Dia Mundial do Diabetes.
O que comer?
Quais alimentos devemos consumir - ou não - para ajudar a manter regulado o nível de açúcar no sangue?
Para saber a resposta, a BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC, conversou com Clara Eugenia Pérez Gualdrón, vice-presidente da Associação Latino-Americana do Diabetes (ALAD) e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional da Colômbia.
Confira abaixo as orientações da especialista.
BBC News Mundo: Por que é preciso manter os níveis de açúcar no sangue sempre regulados?
Clara Eugenia Pérez Gualdrón: Alguém pode pensar que, se você comer açúcar, a glicose no sangue aumenta. Mas não é assim. Nós temos um desregulador hormonal enzimático complexo que faz com que a glicose se mantenha em níveis ideais 24 horas por dia.
Mas é importante mantê-la regulada. Ou seja, fazer com que não suba muito, nem caia em excesso. Este é o problema que costumam ter os pacientes com diabetes.
Se alguém tiver glicose muito alta por longos períodos, ela produz substâncias tóxicas no corpo que, com o tempo, prejudicam o organismo. Por exemplo, os pequenos e grandes vasos sanguíneos.
Um paciente com diabetes e hiperglicemia crônica pode chegar a perder, por exemplo, a função dos olhos e dos rins. Ele poderia até sofrer amputações. São as complicações crônicas do diabetes.
E o nível muito baixo de açúcar no sangue pode levar à morte do paciente em questão de segundos. Por isso, não é bom ter a glicose muito alta, nem muito baixa.
No diabetes, temos os limites que definem os níveis saudáveis de glicose. Sabe-se, por exemplo, que - em jejum por um período de seis a oito horas - devemos ter a glicose em cerca de 100 ou menos. E, depois de comer, ela não deve superar 140. Se ultrapassar essas marcas, existe algum problema.
CRÉDITO,CLARA EUGENIA PÉREZ GUALDRÓN
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Clara Eugenia Pérez Gualdrón é vice-presidente da Associação Latino-americana de Diabetes e professora associada da Faculdade de Medicina da Universidade Nacional da Colômbia
BBC: Existem alimentos que ajudam a regular o nível de açúcar no sangue?
Pérez Gualdrón: Existe um padrão de alimentação saudável. Alguns alimentos ajudam a glicose a permanecer regulada e outros, ao contrário, evitam que ela se regule.
O padrão de alimentação saudável inclui três componentes fundamentais:
1. Consumir frutas e verduras;
2. Eliminar os alimentos concentrados com açúcar;
3. Reduzir os alimentos que contêm muita gordura saturada e substituí-los pelos que contêm gorduras monoinsaturadas.
Alimentos que podemos consumir e regulam muito bem a glicose são os alimentos ricos em fibras, como o farelo de trigo. E é preciso também consumir muitos líquidos.
O roteiro é este.
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Os grãos de trigo são ricos em fibras
BBC: Quais são essas frutas e verduras e quanto deveríamos comer?
Pérez Gualdrón: Coma quanta verdura puder. Nós nunca abusamos das verduras.
Mas das frutas, sim, nós abusamos. Especialmente na América Latina, pois a região é rica em árvores frutíferas.
É preciso comer as frutas em porções. A recomendação ao paciente é a fórmula 3-2: três porções de verdura e duas porções de frutas por dia. Ou o contrário: três de frutas e duas de verdura.
Geralmente, na forma estabelecida da nossa alimentação na América Latina, incluímos frutas no café da manhã. No meio da manhã, comemos frutas. E, no meio da tarde, voltamos a comer frutas. Já as verduras são destinadas ao almoço e ao jantar.
O segredo é comer verduras de três cores diferentes em cada porção, porque assim estamos oferecendo ao corpo um complexo de vitaminas, sais minerais ou microelementos contidos nesses alimentos.
As pessoas, às vezes, são monotemáticas e começam a comer banana, banana e banana. É a fruta preferida dos latino-americanos. Mas a banana justamente tem uma quantidade de açúcar maior do que as outras frutas.
A maior parte das frutas tem 10% de glicose. Ou seja, em 100 gramas de fruta, há 10% de glicose. E há outras que têm 20%, como a banana, enquanto outras têm 5%, como a tangerina.
Se alguém comer quatro tangerinas, é como se comesse uma banana, em proporção de açúcar.
BBC: Quais são os alimentos que concentram muito açúcar?
Pérez Gualdrón: Em muitos lugares, toma-se café com leite de manhã e acrescenta-se açúcar. É preciso eliminar esse açúcar que adicionamos.
Quando o paciente diz "ah, mas o café é muito amargo!", recomendo um substituto: o adoçante.
Esse adoçante pode ser calórico ou não calórico. Usar um adoçante calórico faz com que a glicose aumente. Por isso, recomenda-se um adoçante não calórico.
Mas exames demonstram que os adoçantes não calóricos prejudicam a flora gastrointestinal. E isso tem três consequências importantes para o corpo.
A flora intestinal serve para garantir a imunidade do corpo, regular o peso corporal e favorecer a produção de neurotransmissores associados à felicidade, para que as pessoas se sintam bem.
Como digo aos meus alunos, muitos permanecem gordos, tristes e com gripe. Por quê? Porque não têm bactérias, elas são eliminadas com o adoçante não calórico.
Muitos refrigerantes são adoçados com adoçantes não calóricos, que destroem nossa flora gastrointestinal. E também é alto o consumo de líquidos açucarados, como sucos.
Existe um exemplo clássico para esta questão: o que é mais doce, um morango ou uma batata? Todos respondem que é o morango.
Mas qual dos dois tem mais açúcar? 100 gramas de morango têm 5% de açúcar e 100 gramas de batata, ou uma batata grande, têm 20% de açúcar.
Se você fizer um suco, o açúcar do morango fica solúvel e pode ser absorvido com mais rapidez, de forma que é melhor comer o morango inteiro. Por outro lado, a batata cozida inteira levará algum tempo para ser digerida. Por isso, o açúcar do sangue não irá subir tão rapidamente.
E existe o que chamo de higiene nos hábitos de alimentação. Isso significa comer acompanhado, na hora certa, sentado e com a quantidade de mastigação necessária. Se eu mastigar batata, sinais de saciedade chegarão ao cérebro em 15 minutos.
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Você toma café com leite: com açúcar, adoçante ou sozinho?
BBC: E quais são as gorduras saturadas?
Pérez Gualdrón: É preciso reduzir as gorduras saturadas e aumentar as monoinsaturadas. Para isso, é preciso usar azeite de oliva.
Nos países do Cone Sul, o azeite de oliva é muito consumido, mas não em outras regiões da América Latina.
Em vez de consumir azeite de oliva, as pessoas usam o tecido celular subcutâneo do porco ou do frango. Ou seja, elas derretem a pele dos animais.
A banha animal é gordura saturada. Toda gordura que é sólida à temperatura ambiente tem alto teor de ácidos graxos saturados. E, em alta concentração no nosso sangue, ela faz com que a insulina não funcione adequadamente.
Se a insulina não funcionar bem, o nível de açúcar no sangue automaticamente aumenta.
Por outro lado, cerca de 20 mililitros de azeite de oliva por dia representam um consumo ideal de gordura. Ela faz com que a sua vida funcione melhor e, portanto, o nível de glicose é reduzido
BBC: O que um diabético deveria comer e não comer?
Pérez Gualdrón: Ele deveria comer mais frutas e verduras e menos alimentos concentrados de açúcar, evitar líquidos açucarados e consumir gordura positiva, como a do azeite de oliva. Essa gordura também se encontra nos frutos secos e nos peixes de águas marinhas frias e profundas.
Mas, além da alimentação, é fundamental caminhar, caminhar e caminhar.
Se você fizer exercício, andar de bicicleta ou patins e nadar, você está muito bem. Mas caminhe pelo menos 7 mil passos por dia.
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Beber vinho moderadamente traz consequências positivas para o sistema cardiovascular
É preciso abandonar as horas de ficar sentado. O que mata as pessoas é a cadeira. É um inimigo silencioso.
Se você passar oito horas do dia sentado, comece a reduzir pela metade ou à terça parte. Você pode começar a trabalhar em pé ou caminhando, e começar a mover-se. É algo possível de se implementar.
Todo esse plano nutricional complexo precisa ser acompanhado de atividade física e fará com que você se sinta muitíssimo melhor.
BBC: E a taça de vinho, é ruim para o nível de glicose no sangue?
Pérez Gualdrón: Beber moderadamente traz consequências positivas para o sistema cardiovascular. Tomar uma taça de vinho por dia não causa danos. Ao contrário, faz bem.
O vinho tem uma grande quantidade de substâncias benéficas para a saúde. O problema é que a maior parte dos latino-americanos não consome o vinho como no sul do continente, onde se bebe uma ou duas taças por dia durante as refeições.
O ruim é o acúmulo. Por exemplo, se você tomar todas as taças de vinho da semana juntas no sábado. Neste caso, o recomendado é não beber álcool.
Mas o vinho faz mal para o paciente com diabetes que tem dislipidemia do tipo hipertrigliceridemia. Isso porque o álcool no fígado favorece a construção de novos triglicérides que, eventualmente, podem prejudicar o paciente com diabetes.
BBC: Existe algum outro fator que nos ajude a regular a glicose?
Pérez Gualdrón: Outro ponto muito importante são as horas de sono. Às vezes, o sono alimenta mais do que a própria alimentação.
Como fazer para melhorar a qualidade do sono? Praticando atividades físicas todos os dias.
Se você seguir todas estas recomendações, logo verá tudo sairá muito bem.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63643761
Autor: Analía Llorente
Fonte: BBC News Mundo
Data: 24/11/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63643761
Teste com vacina que combate todos tipos de gripe de uma vez tem resultados animadores
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Atualmente, vacinas contra a gripe precisam ser atualizadas anualmente para dar conta das constantes mutações do vírus
Cientistas estão trabalhando para desenvolver uma vacina que proteja contra todos os 20 tipos conhecidos de gripe — uma alternativa aos imunizantes atuais, que precisam ser atualizados anualmente para dar conta das constantes mutações pelas quais o vírus da influenza passa.
Nesta quinta-feira, a equipe que está desenvolvendo a nova vacina publicou resultados animadores na revista científica Science. Em testes com furões e camundongos, a vacina levou à produção de altos níveis de anticorpos.
O imunizante usa a mesma tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) de vacinas contra a covid-19 bem-sucedidas.
Os antígenos que ele contém — cópias em níveis seguros de pedaços de todos os 20 subtipos conhecidos de vírus influenza A e B — podem ensinar o sistema imunológico a combater o patógeno e, com esperança, qualquer nova cepa que possa desencadear uma pandemia, segundo afirmaram os pesquisadores.
"A ideia aqui é ter uma vacina que dê às pessoas um nível básico de memória imunológica contra diversas cepas de gripe", explicou Scott Hensley, um dos autores do trabalho, da Universidade da Pensilvânia (EUA).
"Haverá muito menos infecções e mortes quando ocorrer a próxima pandemia de gripe."
Eficácia a ser testada em humanos
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Vacina 'universal' contra a gripe em teste usa tecnologia de mRNA
A pandemia de gripe suína de 2009, causada por um vírus que saltou de porcos para infectar humanos, foi menos séria do que se temia inicialmente.
Mas acredita-se que a pandemia de gripe espanhola de 1918 tenha matado dezenas de milhões de pessoas.
O diretor do Instituto de Saúde Global e Patógenos Emergentes do Hospital Mount Sinai, em Nova York (EUA), Adolfo García-Sastrem, afirmou que "as vacinas atuais contra influenza não protegem os vírus com potencial pandêmico".
"Esta vacina, se funcionar bem nas pessoas, alcançaria isso", disse García-Sastrem, que não é um dos autores do estudo.
"Os testes foram pré-clínicos, em modelos experimentais."
"Eles são muito promissores e, embora sugiram uma capacidade de proteger contra todos os subtipos de vírus influenza, não podemos ter certeza disso até que os ensaios clínicos com voluntários sejam feitos".
Estanislao Nistal, virologista da Universidade de San Pablo (Espanha), comentou: "Tudo isso mostra o potencial para uma vacina universal de produção fácil e rápida e que pode ser de grande utilidade no caso de um surto pandêmico de um novo vírus influenza".
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63751557
Autor: Michelle Roberts
Fonte: BBC
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 25/11/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63751557
quinta-feira, 24 de novembro de 2022
Os 5 erros mais comuns da anticoagulação na fibrilação atrial
O erro número um é a utilização de doses inadequadas ou incorretas, sobretudo dos anticoagulantes orais de ação direta (DOACs, Direct Acting Oral Anticoagulants)4,5. Segundo a bula de tais medicamentos, doses “cheias” devem ser utilizadas em pacientes com função
renal preservada e nas indicações testadas. Em havendo disfunção renal significativa, é necessário ajuste de doses a depender do anticoagulante (Tabela 1). Com exceção da apixabana, os DOACs não são aprovados para uso em pacientes com insuficiência renal dialítica. A varfarina deve ter sua dose ajustada baseado em dosagens periódicas do INR (international normalized ratio), objetivando-se manter entre 2 e 3.
O erro número dois é a interpretação inadequada dos escores de risco de sangramento. Sabemos que diversas condições podem predispor os pacientes a sangramentos quando em uso de terapia anticoagulante. Nesse sentido, o escore HAS-BLED (H – hipertensão mal controlada [> 160 / 100 mmHg]; A – alteração da função renal ou hepática; S – AVC [stroke] prévio; B – sangramento [bleeding] prévio; L – labilidade do INR; E – idoso [elderly]; D – drogas que podem interagir com anticoagulantes) pode auxiliar na prática clínica. Pacientes com escore ≥ 3 apresentam risco aumentado de sangramento. Entretanto, a presença de uma pontuação alta não significa contra-indicação à anticoagulação, mas apenas alerta para fatores modificáveis que devem ser conhecidos a fim de mitigar o risco. Por exemplo: melhorar controle pressórico; suspender uma medicação que potencialize sangramento como os antiinflamatórios não hormonais e assim por diante6.
O terceiro erro consiste na falsa crença de que o anticoagulante pode ser suspenso após ablação bem-sucedida. A ablação por radiofrequência (geralmente com isolamento das veias pulmonares) consiste em um tratamento especialmente eficaz em reduzir a carga de FA e com isso ajudar no controle dos sintomas e qualidade de vida. Algumas evidências também apontam que a ablação pode reduzir morte ou hospitalização em pacientes com FA e insuficiência cardíaca7. Entretanto, a ablação não consiste em uma cura da FA, uma vez que o substrato arritmogênico persiste. Portanto, não deve em hipótese alguma indicar a ablação com o objetivo de suspender a anticoagulação de pacientes que precisam6.
O erro número quatro consiste em não prescrever anticoagulação após cardioversão elétrica (CVE) ou química por quatro semanas independente do risco de AVC. Tal conduta visa a proteger o paciente em um período vulnerável durante o qual os átrios tendem a permanecer atordoados. Dessa maneira, em pacientes com FA e duração > 48 horas em que se tenha optado por uma estratégia de controle do ritmo, a anticoagulação plena deve ser mantida por quatro semanas após ablação independente do escore de CHADS-VASC6.
O erro número cinco é o uso inadequado dos DOACs em situações nas quais eles são contraindicados. Apesar da vasta evidência favorável ao uso dos DOACs, inclusive com redução de mortalidade em relação à varfarina em meta-análise de estudos randomizados3, duas situações especiais devem ser lembradas nas quais os DOACs são contra-indicados. A primeira se refere à presença de prótese valvar mecânica (mitral ou aórtica), enquanto a segunda se refere à estenose mitral moderada a importante. Em ambas as situações, dados de estudos
randomizados sugeriram que os DOACs foram inferiores à varfarina (na estenose mitral, inclusive com menor mortalidade com a varfarina em relação aos DOACs)8,9. Portanto, nestas duas situações particulares, os DOACs não devem ser utilizados em hipótese alguma, sendo a anticoagulação feita com a varfarina ou outros antagonistas de vitamina K, objetivando um INR entre 2 e 3.
Dica importante: é preciso prescrever o anticoagulante certo, no paciente certo e na dose certa.
Tabela 1. Doses dos DOACs (direct-acting oral anticoagulants) em pacientes com fibrilação atrial4,5
Autor: Remo Holanda M. Furtado
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 23/11/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/os-5-erros-mais-comuns-da-anticoagulacao-na-fibrilacao-atrial/
Novidades no tratamento do diabetes: monitorização contínua da glicemia
A diabetes é um dos maiores problemas de saúde mundiais, em função das diversas consequências advindas do seu controle inadequado, como eventos cardiovasculares, renais e cerebrovasculares. Em função disso, essa é uma área de intenso estudo, para avaliação de novas tecnologias para auxiliar no controle da doença, inclusive com redução no custo do tratamento. Uma novidade nesse tema são os métodos de monitorização contínua da glicemia, como o Libre®, fabricado pela Abbott.
Nesse episódio, o Vinicius Zofoli, intensivista e editor do portal PEBMED e Whitebook, convida o médico Luiz Fernando Vieira (Endocrinologista pela USP), para discutirem sobre novas tecnologias para monitorização contínua da glicemia.
São abordados tópicos como: funcionamento da tecnologia, quais os benefícios esperados e que pacientes são os melhores candidatos. Além de limitações e os aspectos que ainda devem ser melhor estudados.
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Tópicos abordados no episódio
Como funciona o Libre® (Abbott)
Como essa ferramenta pode auxiliar no controle do diabetes
Quais pacientes podem se beneficiar?
Quais aspectos dessa tecnologia ainda devem ser melhor estudados?
Autor: Vinícius Zofoli de Oliveira
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 23/11/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/novidades-no-tratamento-do-diabetes-monitorizacao-continua-da-glicemia/
É melhor comer frutas e legumes com ou sem casca?
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Resíduos de pesticidas e sujeira podem ser removidos com uma escova ao lavar
Muita gente tem o hábito de descascar frutas e legumes. Mas, muitas vezes, não é necessário. Existem nutrientes importantes na casca. Além disso, as cascas de frutas e legumes descartadas contribuem para as mudanças climáticas.
Frutas, legumes e verduras são fontes ricas de vitaminas, minerais, fibras e muitos fitoquímicos (compostos químicos vegetais), como antioxidantes (substâncias que protegem suas células contra danos).
Não consumir o suficiente desses alimentos ricos em nutrientes está associado a um risco maior de doenças crônicas, incluindo doenças cardiovasculares e diabetes tipo 2.
Em 2017, a Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que cerca de 3,9 milhões de mortes por ano em todo o mundo podiam ser atribuídas a pessoas que não comiam frutas, legumes e verduras suficientes.
Consumir 400g de frutas, legumes e verduras por dia, como recomenda a OMS, é uma meta difícil de alcançar para muita gente.
Será então que comer frutas e legumes com casca pode ajudar nessa questão, adicionando importantes nutrientes à dieta da população?
Sem dúvida, pode contribuir.
Por exemplo, quantidades nutricionalmente importantes de vitaminas, como vitamina C e riboflavina, e minerais, como ferro e zinco, são encontradas na casca destas raízes: beterraba, nabo, batata doce, cenoura e rabanete; também na do gengibre (rizoma) e na casca da batata inglesa branca (tubérculo).
E o Departamento de Agricultura dos EUA afirma que a maçã com casca contém 15% mais vitamina C, 267% mais vitamina K, 20% mais cálcio, 19% mais potássio e 85% mais fibra do que sua versão descascada.
Além disso, muitas cascas são ricas em fitoquímicos biologicamente ativos, como flavonoides e polifenóis, que possuem propriedades antioxidantes e antimicrobianas.
Outro motivo para não descartar as cascas é o seu efeito no meio ambiente.
De acordo com a Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas (FAO, na sigla em inglês), alimentos não consumidos, incluindo as cascas, geram de 8% a 10% das emissões mundiais de gases de efeito estufa. (A comida que apodrece em aterros sanitários libera metano, o gás de efeito estufa mais potente.)
Somente a Nova Zelândia reporta um desperdício anual de 13.658 toneladas de cascas de legumes e 986 toneladas de cascas de frutas - um país com uma população de apenas 5,1 milhões de habitantes.
Dado o teor de nutrientes da casca e sua contribuição para o desperdício de alimentos, por que as pessoas descascam frutas e legumes?
Alguns devem ser realmente descascados, uma vez que as porções externas não são comestíveis, não têm sabor agradável, são difíceis de limpar ou fazem mal, como banana, laranja, melão, abacaxi, manga, abacate, cebola e alho.
Além disso, descascar pode ser uma parte necessária da receita, por exemplo, ao preparar um purê de batata.
Mas muitas cascas, como a da batata, beterraba, cenoura, kiwi e pepino, são comestíveis — e, ainda assim, as pessoas descascam.
Resíduos de pesticidas
Algumas pessoas descascam frutas e legumes porque estão preocupadas com pesticidas na superfície dos mesmos.
Resíduos de pesticidas são certamente retidos sobre ou logo abaixo da superfície, embora isso varie de acordo com a espécie de planta.
Mas a maioria desses resíduos pode ser removida com a lavagem.
Na verdade, a agência reguladora de alimentos e medicamentos dos EUA (FDA, na sigla em inglês) recomenda que as pessoas lavem os produtos sob água corrente fria, esfregando a casca com uma escova de cerdas rígidas para remover pesticidas, sujeiras e produtos químicos.
Técnicas de preparo, como ferver e cozinhar no vapor, também podem reduzir os resíduos de pesticidas.
Mas nem todos os resíduos de pesticidas são removidos ao lavar e cozinhar. E as pessoas que estão preocupadas com sua exposição a pesticidas ainda podem querer descascar.
Listas com o teor de pesticidas em frutas, legumes e verduras estão disponíveis em alguns países — por exemplo, a Pesticide Action Network produz uma para o Reino Unido. Isso pode te ajudar a decidir quais frutas e legumes descascar, e quais cascas podem ser consumidas.
Se você quiser saber mais sobre cascas de frutas e legumes, e o que fazer com elas, há muitas sugestões online, incluindo ajuda sobre como usar cascas para compostagem, para alimentar um minhocário ou incorporar em receitas.
Com um pouco de pesquisa e criatividade, você pode ajudar a reduzir o desperdício e aumentar a ingestão de frutas e legumes.
Sem dúvida, vale a pena tentar.
E você estará ajudando a cumprir uma das metas de desenvolvimento sustentável da ONU: reduzir pela metade o desperdício de alimentos até 2030.
* Kirsty Hunter é professora de nutrição na Nottingham Trent University, no Reino Unido.
Este artigo foi publicado originalmente no site de notícias acadêmicas The Conversation e republicado aqui sob uma licença Creative Commons. Leia aqui a versão original (em inglês).
Autor: Kirsty Hunter
Sítio Online da Publicação: bbc
Data: 23/11/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63635747
Cabeleireira fica careca após diagnóstico de alopecia: 'perdi os fios e minhas clientes'
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O amor pelos cabelos e a vaidade fizeram Yasmin Torquado Ribeiro escolher ser cabeleireira ainda na adolescência. Mas, por ironia do destino, em 2017, quando ela tinha 23 anos e já trabalhava há quase cinco cuidando do cabelo de dezenas de mulheres de Juiz de Fora (MG) ela começou a perder as suas madeixas. Seis meses mais tarde veio o diagnóstico: ela possuía alopecia areata.
A alopecia areata é uma condição rara que se caracteriza pela perda de cabelo em áreas arredondadas ou ovais do couro cabeludo. Ela acomete homens e mulheres, independentemente da idade, e atinge de 1% a 2% da população.
"Eu tinha um cabelo grande, bem cuidado e em bastante volume, jamais imaginei que um dia eu pudesse ter algum problema relacionado a eles. Até receber o diagnóstico corretamente passa mil coisas na nossa cabeça, eu achava que tinha alguma doença rara que os médicos não conseguiam descobrir e até mesmo que eu pudesse morrer", recorda.
Desde que recebeu o diagnóstico de alopecia areata, Yasmin, hoje com 28 anos, passou por diversos médicos e especialistas. Todos os profissionais diziam que, apesar dos tratamentos e medicações, não dava para garantir que o problema seria resolvido e a queda diminuiria. Alguns chegavam a dar esperança, mas outros eram categóricos em dizer que os tratamentos não fariam efeito e ela perderia grande parte dos seus fios.
"No começo, a falta de fios atingia uma parte do meu coro cabeludo, formando um buraco do tamanho de um copo. Com o tempo ele foi aumento e a cada semana meu cabelo caia mais. Mesmo fazendo acompanhamento psiquiátrico e psicológico, entrei em depressão, principalmente por trabalhar na área da beleza e saber o que o cabelo representa. Aquela situação me assustou demais", conta a cabeleireira.
Além dos olhares atravessados, a queda dos fios e a falta deles em algumas áreas do couro cabeludo também afetou os negócios da cabeleireira. Muitas clientes pararam de frequentar o salão que ela tem e até mesmo familiares se afastaram após o diagnóstico da condição rara.
"Receber o diagnóstico tão nova foi um baque muito grande. Minhas clientes foram se afastando, algumas achavam que era uma doença contagiosa, outras pensavam que eu pudesse ter usado produtos de má qualidade que causou a queda dos meus cabelos. Por mais que eu explicasse que não era nada disso, nada adiantou e minha situação financeira ficou bastante complicada", recorda a cabeleireira.
"Não tive apoio, apenas duas pessoas ficaram ao meu lado desde o diagnóstico até quando eu decidi raspar meu cabelo", acrescenta Yasmin.
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Yasmin em foto de quando o cabelo começou a cair
Raspar os fios e assumir o visual careca
Sem tratamento que fizesse seus fios nascerem e crescerem novamente nos pontos de falha, Yasmin decidiu há dois anos raspar totalmente os cabelos, conviver com o visual careca e encarar o preconceito e olhares tortos das pessoas.
"Determinei que se até o dia 31 de dezembro [de 2020] os tratamentos não fizessem efeito eu iria raspar meu cabelo. A data já é um marco por determinar uma passagem para o novo ano e eu determinei que era a data que eu tomaria as rédeas da minha vida, porque até então a doença estava tomando conta de mim. Ali seria o prazo máximo do meu sofrimento", conta Yasmin.
Desde então, Yasmin raspa seus fios e mantém um visual careca. Hoje, ela afirma que convive melhor com a sua condição e vê a reação das pessoas como falta de conhecimento sobre a alopecia e sua condição autoimune, que pode atingir qualquer pessoa independentemente dos cuidados que ela tem com os cabelos.
"Às vezes na rua uma pessoa me via com a cabeça raspada e perguntava o que eu fiz com o meu cabelo e aquilo me doía muito, porque não era o que eu fiz, mas o que aconteceu para eu perder o meu cabelo. Eu voltava para casa arrasada. Hoje sou muito bem resolvida quanto a isso. Eu não fico mais observando as pessoas ao meu redor e não olho quem está me olhando. Eu estar bem comigo, evita que as pessoas façam comentários maldosos, que me julguem pelo meu cabelo e aparência, ou me façam perguntas desconfortáveis", conta.
Laces dão novo visual
Mesmo aceitando sua falta de cabelos e assumindo o visual careca, Yasmin afirma que possui quatro laces, as populares perucas, e as utiliza como acessório sempre que quer mudar o visual.
"Aproveito para ter vários visuais diferentes, amo essa versatilidade de poder ser loira e daqui a um segundo estar morena com o cabelo grande ou curto, essa é a parte legal de usar a lace, virou um acessório", diz.
Além de fazer a manutenção das próprias laces - elas precisam ser lavadas e cuidadas como nosso cabelo - Yasmin, por ser cabeleireira, também faz esse tipo de serviço em seu salão, atraindo diversas mulheres com a mesma condição que a sua.
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Yasmin em foto que mostra seu cabelo comprido, antes do diagnóstico
Ajudando outras pessoas
Hoje Yasmin fala abertamente sobre sua condição rara e busca, através do seu exemplo, ajudar outras mulheres que possuem alopecia e enfrentam situação semelhante.
Através de vídeos nas redes sociais e até mesmo conversas pessoalmente em seu salão, a cabeleireira busca acolher essas pessoas e mostrar que há muita vida apesar da condição que as fazem perder os cabelos.
"Muita gente me procura para pedir ajuda, como deixar a lace mais natural, cortar ou fazer mexas e dou esse suporte para essas pessoas. Ajudo até mesmo com uma palavra, recebo essas pessoas, converso com elas e passo um pouco da minha experiência. É uma forma de mostrar para que é possível ter uma vida normal após o diagnóstico da alopecia e não há nada de anormal em ser careca", conta.
Quando buscar ajuda?
Toda pessoa perde, em média, 100 fios de cabelo por dia, mas quando os fios caem além desse padrão, isso é considerado queda e é importante buscar ajuda profissional, segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).
"Cada fio de cabelo cresce por média de 6 anos, quando ele cai deve ser substituído por um fio igual a ele e muitas dessas alopecias não permitem que esse novo fio substituía o que caiu interrompendo o ciclo natural do cabelo", explica a dermatologista Fabiane Andrade Mulinari Brenner, coordenadora do Departamento de Cabelos e Unhas da SBD.
Os tratamentos variam conforme o tipo da doença e em alguns casos, como em situações de falta de determinadas vitaminas no corpo, o cabelo retoma o crescimento com a mudança na alimentação. Em outras situações, é indicado o uso de medicamentos e até mesmo terapias para estimulação da área.
Tipos de alopecia
Há basicamente três tipos de alopecias, sendo popularmente chamadas de queda de cabelo excessiva e cada uma possui características especificas. Elas afetam homens, mulheres e até mesmo criança, já que não tem relação direta com o sexo ou idade.
Alopecia areata. É uma inflamação do couro cabeludo e considerada rara. O problema geralmente tem relação com um grande trauma emocional, alterações na tireoide ou com doenças autoimunes, como diabete, por exemplo.
Alopecia androgenética. É a mais comum e é popularmente chamada de calvície. Apesar de ocorrer em mulheres, os homens são os mais afetados. Nela os fios vão caindo e ficando cada vez mais finos com o passar dos anos. Geralmente tem causa genética, mas também pode estar relacionada à sensibilidade a hormônios masculinos, como a testosterona.
Eflúvio telógeno. É uma queda de cabelo acelerada e que normalmente acontece alguns três meses após o corpo receber um estímulo externo como parto, cirurgia e até mesmo infecção por covid-19. Normalmente, essa queda é controlada com o uso de vitaminas.
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Hoje Yasmin fala abertamente sobre sua condição e busca, através do seu exemplo, ajudar outras mulheres com alopecia
Grupo de apoio ajuda pessoas com alopecia
Encarar o diagnóstico de alopecia areata nem sempre é tarefa fácil; por isso, há 20 anos, foi fundado o AAGAP - Grupo de Apoio aos Paciente com Alopecia Areata, com parceria com a Sociedade Brasileira de Dermatologia.
O objetivo do grupo é dar orientações sobre como conviver com a condição e com mais qualidade de vida. Além dos pacientes, familiares e amigos também podem participar.
Uma vez por mês, aos sábados, acontecem encontros presenciais em São Paulo, onde os presentes recebem orientações de dermatologistas e psicólogos.
"Nós criamos o grupo onde fazemos reuniões informais para auxiliar essas pessoas e tirar dúvidas. Além disso, o ambiente com diversos pacientes que compartilham da mesma dor, ajuda com que eles se sintam acolhidos, dividam experiências e criem mais forças para seguir uma vida normal", explica a dermatologista Enilde Borges Costa, que integra o AAGAP.
- Este texto foi publicado em https://www.bbc.com/portuguese/geral-63703514
Autor: Simone Machado
Fonte: São José do Rio Preto (SP) para a BBC News Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC News Brasil
Data: 23/11/2022
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-63703514