A covid-19 pode acometer qualquer faixa etária e a população pediátrica é responsável por 8,1% dos casos notificados no mundo, com 0,2% das mortes globais. No Brasil, a letalidade da população pediátrica internada por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foi de 7%. Entretanto, por ser uma doença mais branda nessa população, menos exames são realizados para confirmação etiológica o que, provavelmente, causa subnotificação e subestimação do número total de casos.
As manifestações clínicas são diversas e os sintomas respiratórios parecem ser os mais prevalentes. A população pediátrica tende a apresentar um quadro mais inespecífico e muito semelhante a outras condições virais comuns da infância, o que torna o diagnóstico de covid-19 particularmente desafiador. Entre 2-4% das crianças evoluem de forma mais grave, necessitando de hospitalização e os fatores de risco para o prognóstico desfavorável, assim como a evolução da doença em crianças com comorbidades ainda não está bem elucidado.
Dessa forma, um estudo brasileiro teve como objetivo descrever os aspectos epidemiológicos e as manifestações clínicas e laboratoriais de pacientes pediátricos internados no Instituto de Puericultura e Pediatria Martagão Gesteira (IPPMG) com covid-19 e compará-los com outras condições virais durante o primeiro ano da pandemia de SARS-CoV-2.
Métodos e resultados
Todos os pacientes menores de 18 anos internados com infecção do trato respiratório superior (com ou sem febre), SRAG, pneumonia, bronquiolite, gastroenterite ou febre de origem indeterminada foram elegíveis para o estudo. Além disso, era necessário ter realizado o PCR para SARS-CoV-2.
Ao todo foram recrutados 533 pacientes e, destes, 105 tiveram infecção por SARS-CoV-2. O diagnóstico foi confirmado por PCR em 79 pacientes e os demais tiveram detecção de IgG 30 dias após doença clínica. A detecção de outros vírus ocorreu em 34% dos 264 pacientes testados e coinfecção com Sars-Cov-2 em 3,5%. Os outros vírus mais comuns foram vírus sincicial respiratório (51%), rino/enterovírus (26%), influenza (5%), parainfluenza (4%) e adenovírus (2%).
Seis pacientes morreram, sendo dois no grupo que tinham covid-19. As variáveis associadas ao diagnóstico de covid-19 foram idade avançada (OR 1,1, IC 95% = 1,0-1,1), leucopenia na admissão (OR 0,9, IC 95% = 0,8-0,9) e contato com caso suspeito (OR 1,6, IC 95% = 1,0-2,6). Além disso, os pacientes infectados pelo SARS-CoV-2 tiveram quase o dobro de chance de precisar de terapia intensiva (OR 1,99, IC 95% = 1,08-3,66).
Discussão
A presença de comorbidades em crianças e adolescentes internados por covid-19 foi semelhante à de pacientes internados por outras doenças virais e maior quando comparado ao descrito na literatura (que gira em torno de 40%). Esses achados podem ser justificados pelo perfil quaternário do centro em que o estudo ocorreu, o que, inclusive, está de acordo com pesquisas anteriores que sugerem que crianças com comorbidades apresentam maior risco de internação por covid-19.
Mensagem prática
Esse estudo, ainda que tenha sido realizado em um hospital quaternário e, por isso, com uma população muito específica de atendimento, foi realizado por um longo período e englobou um grande número de crianças, o que contribuiu significativamente para o conhecimento do impacto da infecção por covid-19 na população pediátrica. Ainda assim, mais estudos são necessários para avaliar o perfil clínico e a evolução diante das novas variantes que estão surgindo e, também, levando em conta o cenário vacinal.
Autor: Remo Holanda M. Furtado
Fonte: pebmed
Data: 21/11/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/covid-19-na-populacao-pediatrica-e-mais-grave-do-que-outras-doencas-respiratorias/
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