terça-feira, 30 de abril de 2019

Crise e novo comportamento reduzem interesse dos jovens em dirigir; No DF, emissão de habilitações para mais jovens caiu 45% em três anos

Crise e novo comportamento reduzem interesse dos jovens em dirigir – Símbolo de maturidade, status e autonomia desde que chegou ao Brasil, em 1891, o automóvel vem perdendo espaço entre os mais jovens.

ABr

Identificado pelos governos, setor automotivo e por autoescolas, o crescente desinteresse dos jovens tem diversas causas. Entre os principais motivos apontados, estão a crise econômica, os inconvenientes do trânsito, os custos para manter um veículo próprio e a popularização de aplicativos móveis.

“Muitos jovens não consideram mais a CNH [Carteira Nacional de Habilitação] uma prioridade”, disse à Agência Brasil o presidente da Federação Nacional das Autoescolas e Centro de Formação de Condutores (Feneauto), Wagner Prado. Também presidente do Sindicato dos Centros de Formação de Condutores de Mato Grosso do Sul, Prado afirma que o fenômeno se intensificou a partir de 2015, com o agravamento da crise econômica e o acesso aos serviços de aplicativos de transporte pago ou compartilhado.

“Muitos jovens estão adiando o momento de tirar a habilitação. As famílias têm optado por investir em outras coisas, como em cursos universitários para estes jovens. Com isso, muitos acabam desistindo de tirar suas carteiras”, comentou Prado.

“Antes, tudo que um garoto queria era completar 18 anos para poder dirigir o próprio carro. Hoje, eles veem os custos com IPVA, manutenção, seguro; o trânsito nas cidades; tem mais consciência sobre os riscos de acidentes. Somando a isso, aspectos como a Lei Seca, muitos acabam optando por outras formas de se deslocar, como os aplicativos de compartilhamento”, explicou o presidente da Feneauto.

Moradora do Distrito Federal, a universitária Aghata Ingridi de Sousa Sampaio, 22 anos, é um exemplo dos que dizem não ter interesse em tirar a primeira habilitação. “Quando eu estava prestes a completar 18 anos, meu pai se ofereceu para me pagar a autoescola. Só que eu me mudei para Foz do Iguaçu [PR] para fazer faculdade. Como eu morava perto do campus, ia às aulas de bicicleta. Além disso, a cidade não é tão grande e o transporte público lá funciona relativamente bem. Então, quando eu precisava, apanhava um ônibus”, contou Aghata.

De volta à capital federal, onde está concluindo o curso de geografia, a jovem continua preferindo se deslocar de carona ou de ônibus entre sua casa, em Planaltina, e o campus da Universidade de Brasília (UnB). Um percurso de cerca de 60 quilômetros que, considerando ida e volta, consome, em média, duas horas e meia de seu dia.

“Não quero ter carro para não expor outras pessoas a riscos, me expor a engarrafamentos, ter que pagar todas as despesas. Também acho que é uma questão de consciência. Depender do transporte público pode ser cansativo, mas acho mais cômodo andar de ônibus que dirigir no trânsito de Brasília. Principalmente quando você consegue um assento para viajar sentado em um ônibus que não esteja completamente lotado – o que depende muito dos horários”, comentou a estudante.

Para a jovem, a falta de qualidade do transporte público motiva as pessoas a recorrer ao carro ou à moto particular como uma solução cômoda. “Só que dirigir no nosso trânsito é muito estressante. E quanto mais a pessoa utiliza o transporte público, mais ela vai cobrar do Poder Público um serviço de transporte coletivo de qualidade e melhorias na mobilidade urbana”, disse.

Mudança gradual

De acordo com o presidente da Feneauto, exemplos como o de Aghata são cada vez mais comuns. “Isso ajuda a diminuir ainda mais a procura por aulas, derrubando a margem de faturamento e forçando muitas autoescolas a reduzirem o número de funcionários e a frota de veículos”, disse Prado, ele mesmo dono de um centro de formação de condutores. Por esse e outros motivos, as autoescolas vivem um momento de incertezas”, admite Prado.

No Distrito Federal, onde a universitária voltou a residir, a emissão total de CNHs (incluindo novas, renovação, mudança de categoria e segunda via) vem caindo ano a ano desde 2015, quando foram emitidas 554.554 carteiras. Em 2016, foram 386.422; em 2017, 392.147 e, no ano passado, 333.952 CNHs. A diminuição atinge todos os grupos etários, mas sobressai entre os condutores de 18 e 24 anos. Em 2015, foram emitidas 26.537 primeiras habilitações para essa faixa etária. Em 2018, o número caiu para 14.581, retração de 45%.

“Temos recomendado cautela ao setor. Há cinco, seis anos, muitos não previam a popularização dos aplicativos. Hoje, veículos que não precisam de condutores estão sendo testados. Daqui a poucos anos, portanto, teremos novas surpresas e eu acredito que tendemos a perder ainda mais clientes entre esta faixa mais jovem do público”, complementou Prado.

Revisão

Em nota, a Secretaria Especial de Produtividade, Emprego e Economia, do Ministério da Economia, informou que “vê como uma tendência para os próximos cinco anos a diminuição do interesse pela propriedade de automóveis e o aumento da procura por compartilhamento de veículos e uso de soluções alternativas, como bicicletas e patinetes”. E que, ao fim deste prazo, o assunto pode ser tema da primeira revisão do Programa Rota 2030 – Mobilidade e Logística, a política industrial para o setor automotivo que entrou em vigor em dezembro do ano passado, com previsão de vigorar até 2030.

“A mudança do padrão de consumo de motoristas mais jovens não consta diretamente no texto do primeiro ciclo da política Programa Rota 2030”, acrescentou a secretaria. O órgão explicou que, pelos próximos cinco anos, os consumidores mais jovens “ainda deverão ter participação significativa no mercado dos veículos tradicionais”. A pasta também lembrou que o Rota 2030 contempla incentivos a novas tecnologias de propulsão e soluções estratégicas para a mobilidade e logística em consonância com “novos modelos de negócio”.

Pesquisa

Uma recente pesquisa analisou a relação das diferentes gerações com a mobilidade. Apresentado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) em novembro de 2018, o estudo contempla os resultados das entrevistas com 1.789 pessoas de 11 capitais: Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Manaus, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo. Na ocasião da divulgação, o então presidente da Anfavea, Antonio Megale, classificou os resultados como “surpreendentes”.

Apenas 39% dos entrevistados entre 26 e 35 anos possuíam carro. O percentual entre os jovens de até 25 anos era ainda menor: 23%. Entre os do primeiro grupo, 31% responderam não desejar comprar um carro nos próximos cinco anos. Percentual idêntico ao dos entrevistados com 36 a 55 anos de idade. Já entre os mais jovens (até 25 anos), 30% não tinham interesse em adquirir um veículo automotivo.

Somente 35% da geração mais nova têm habilitação para dirigir, e 8% dos que não têm CNH disseram que não pretendiam tirar o documento. O que pode ser explicado pelo fato de que saber dirigir sempre foi visto como uma habilidade capaz de ampliar as chances de conseguir um emprego.

Na época, o presidente da Anfavea interpretou que os dados sugerem que, mesmo entre os mais jovens, o desejo de ter um veículo e a CNH se mantém, mas que, de fato, algumas mudanças começaram a ocorrer entre os indivíduos da chamada Geração Y (de 26 a 35 anos) e se potencializaram entre os da Geração Z (até 25 anos). Os dois grupos são os mais propensos a usar outros tipos de transporte, como a bicicleta e os veículos compartilhados por aplicativos (que 34% de todos os entrevistados acreditam representar o futuro do carro). Por outro lado, são estes dois grupos os mais críticos aos ônibus – o que, para a Anfavea, pode demonstrar a necessidade de modernização do modal.

Estatísticas do Detran mostram queda na emissão de habilitações nos últimos anos. Recuo é mais acentuado entre os mais jovens – Divulgação/Detran-DF



Por Alex Rodrigues, da Agência Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/04/2019




Autor: Alex Rodrigues
Fonte: Agência Brasil
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/04/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/04/30/crise-e-novo-comportamento-reduzem-interesse-dos-jovens-em-dirigir-no-df-emissao-de-habilitacoes-para-mais-jovens-caiu-45-em-tres-anos/

Má qualidade da água, o direito do consumidor e as responsabilidades do Estado e das concessionárias, artigo de Ruslan Stuchi

Nas últimas duas semanas, a água fornecida pela Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (Sabesp) para alguns dos municípios do Grande ABC, especificamente nas cidades de São Bernardo do Campo, Diadema e Santo André, tem chegado às torneiras com tonalidade amarelada. Em alguns casos, a água tem espessura barrenta e com odor forte. Situação que tem atingido outras regiões do Estado.

De acordo com a concessionária, o problema foi causado pelo excesso de chuvas ocorridas nos meses de fevereiro e março deste ano, que além das diversas inundações em todo o grande ABC, foi responsável ainda pelo extravasamento da barragem Rio Grande, que faz parte da Represa Billings e de onde sai a água usada na região do ABC.

Os munícipes têm utilizado as redes sociais e relatado com frequência problemas vinculados à qualidade da água, como o fato das roupas saírem amareladas, por exemplo, manchadas e com mau cheiro após a lavagem. A água que sai das torneiras de suas cozinhas, tanques e até mesmo de seus chuveiros tem se apresentado simplesmente inutilizável.

Mas a questão é: de quem é a responsabilidade de tais acontecimentos e a quem é possível imputar essa responsabilidade?

É importante lembrar que o serviço público é um negócio altamente lucrativo. Porém, o que deve ser alvo de cuidado por parte do Estado não é o lucro da prestadora de serviços, mas a qualidade da prestação do serviço para a população e a continuidade do fornecimento satisfatório da água.

Faz parte do âmbito jurídico a discussão sobre a responsabilidade do Estado e a da própria concessionária de serviços públicos sendo, no presente caso, a Sabesp.

A Constituição Federal de 1988 em seu artigo 37, parágrafo 6º, aborda a responsabilidade das pessoas jurídicas de Direito Público e de Direito Privado que prestam serviços públicos diante dos danos que seus agentes possam causar, sendo tal responsabilidade de caráter objetivo.

A legislação brasileira é adepta à figura da concessionária ou permissionária de serviços públicos que, em síntese, são pessoas jurídicas que exercem as atividades de competência do Estado e tem estendidas para si a responsabilidade estatal prevista na Constituição Federal.

Essa delegação de serviços é regulamentada através da Lei nº 8.987/1995, onde se determina que as concessionárias ou permissionárias de serviços públicos prestam serviços por sua conta e risco sendo que, nos casos de danos a terceiros, devem sim assumir a responsabilidade objetiva de repará-los. Em tese, o Estado deve responder de forma subsidiária aos eventuais danos causados pelas concessionárias ou permissionárias de serviços públicos.

A concessionária deve responder individualmente pelos seus atos e, desse modo, reparar os danos ou lesões causadas a terceiros, uma vez que a atividade cedida é desempenhada livremente e sob a sua responsabilidade. O que ocorre é que, em determinados casos, mesmo a concessão integral dos serviços não é e não deve ser suficiente para afastar a responsabilidade solidária do Estado para responder pelos possíveis danos, o que deve ser considerado no atual problema relacionado à qualidade da água fornecida pela Sabesp.

O Município que firma convênio para serviços de água e esgoto com uma empresa é fiador da regularidade da prestação destes serviços e não pode evitar a sua responsabilidade por eventuais danos causados. São nos casos em que a concessionária não possui condições financeiras de arcar com a reparação devida em que o Estado pode responder de forma subsidiária. Desse modo, o poder público assume assim a obrigação de indenizar ou reparar o dano.

As empresas que firmam contratos para a execução de serviços públicos, como fornecimento de água oferecido pela Sabesp, são responsabilizadas pelos possíveis danos na mesma proporção do poder público e é reconhecida a obrigação de reparação em relação aquele que causa danos a terceiros por conta dos perigos inerentes à sua atividade. É o que é conhecido no meio jurídico como a “teoria do risco do negócio”.

Para que a Sabesp seja juridicamente responsabilizada é necessário que passe por processo administrativo perante a Agência Nacional de Águas (ANA) ou figure como parte requerida em processo que pode contar a questão da indenização civil, assim como responsabilidade criminal diante da venda de um produto de qualidade extremamente duvidosa.

É possível que as concessionárias ou permissionárias de serviços públicos percam até às outorgas que permitem que prestem o serviço público. Isso ocorrerá se for constatada, por exemplo, a má gestão da Sabesp durante processo administrativo.

No caso das vítimas buscarem compensações no Judiciário pelos problemas com o fornecimento de água, os consumidores afetados pelos problemas possuem o benefício da inversão do ônus da prova. Cabe à concessionária de serviço público comprovar que os danos aos consumidores não foram ocasionados por sua culpa e responsabilidade. Geralmente, nos processos na Justiça, as provas cabem a quem entra com o pedido judicial.

A responsabilidade verificada nos processos se refere à má qualidade da água fornecida e aos prejuízos sofridos por cada particular, ou seja, cada consumidor lesado deve pleitear a sua própria indenização.

É justo que as vítimas de problemas como o que tem ocorrido na região do ABC consigam compensações junto ao Judiciário. A exposição à água suja pode trazer riscos de contrair doenças tais como hepatite A, leptospirose, tétano e micose. É preciso ficar atento aos sintomas e evitar o consumo da água suja que vem sendo fornecida, devendo os atingidos por esta crise, por hora, optarem pela compra de água potável até o reestabelecimento da devida prestação de serviços.

Há jurisprudência favorável para receber a compensação. O Tribunal de Justiça no Estado de São Paulo (TJ-SP) já decidiu em casos semelhantes o ressarcimento de danos materiais e morais a um consumidor que ingeriu água contaminada. Desse modo, uma vez constatada a ocorrência do fornecimento de água imprópria ao consumo, é inegável o direito do consumidor de serviços públicos pleitear junto ao Poder Judiciário indenização por danos morais e materiais, caso a ocorrência de tais fatos cause prejuízos à sua saúde.

Quando a água chega com má qualidade às residências e estabelecimentos, cabe ao Judiciário limpar essa história e verificar quem vai compensar uma má prestação de serviço que é um problema sério e que não deveria ter ocorrido.

* Ruslan Stuchi é especialista em Direito do Consumidor e sócio do escritório Stuchi Advogados.



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/04/2019

Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/04/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/04/30/ma-qualidade-da-agua-o-direito-do-consumidor-e-as-responsabilidades-do-estado-e-das-concessionarias-artigo-de-ruslan-stuchi/

Solidariedade e consumo, Parte 1/2, artigo de Roberto Naime




Solidariedade e consumo

Lisabete Alves, coordenadora do serviço educativo da Fundação de Serralves, reflete sobre o paradigma do consumismo, o qual associa diretamente a concepção de sucesso e felicidade. Associar a capacidade de consumo de cada pessoa com satisfação existencial é algo disseminado por todas as culturas ditas “desenvolvidas” do planeta.

Hoje todos são confrontados com claros sinais de colapso da lógica do arranjo econômico global, apoiado em altos níveis de consumo, encontrando-se as pessoas, empresas e países por todo o mundo desenvolvido a viver acima das suas posses, com consequências a longo prazo, quer em termos financeiros quer em termos ambientais.

O planeta não oferece recursos em quantidade suficiente para suportar este modelo de desenvolvimento econômico, ou esta atual autopoiese sistêmica.

A autopoiese sistêmica dominante necessita ser alterada. Pois hoje só o consumismo garante a manutenção dos círculos virtuosos da sociedade. Aumento de consumo gera maiores tributos, maior capacidade de intervenção estatal, maior lucratividade organizacional e manutenção das taxas de geração de ocupação e renda.

O consumismo precisa ser substituído pela ideia de satisfazer as necessidades dentro de ciclos.

A abordagem sociológica e antropológica alicerça movimentos da sociedade que propugnam alterações ideológicas como apanágios para a solução de problemas ambientais.

Não ocorre encaminhamento de soluções, pois tanto vertentes socialistas como da livre iniciativa rezam pela cartilha de crescimento permanente como forma de incrementar círculos econômicos virtuosos.

Outro mundo é possível, mesmo dentro da livre iniciativa. Ocorre enfatizar que nada é contra a livre-iniciativa. Que sem dúvida sempre foi e parece que sempre será o sistema que melhor recepciona a liberdade e a democracia. Mas uma nova autopoiese sistêmica para o arranjo social, é urgente.

A civilização humana determinará nova autopoiese sistêmica, na acepção de Niklas Luhmann e Ulrich Beck, que contemple a solução dos maiores problemas e contradições exibidas pelo atual arranjo de equilíbrio.

Que é um sistema instável, muito frágil e vulnerável. Para sua própria sobrevivência, o “sistema” vai acabar impondo uma nova metamorfose efetiva.

Ao nível social, se sabe que este modelo de desenvolvimento apresenta também impactos elevados, na medida em que tantos dos produtos que se adquire são produzidos em países em que o respeito pelos direitos humanos, direitos da criança e outros tantos reconhecidos, não ocorrem adequadamente.

Por isto se afirma que o “sistema socioeconômico”, da forma como se conhece influenciou na formação familiar, procurando maximizar as ações de consumo e apenas isto. Nenhuma preocupação com solidariedade, que só é incorporada na família estendida pelas senzalas.

O deslocamento maciço de bens através do planeta por ar, água ou terra apresenta um custo ambiental extremamente elevado e não contabilizado no preço do produto final. Assim, o crescimento demográfico, a diferença de acesso a condições mínimas de sobrevivência nas várias nações, as condições para a paz e justiça e a degradação ambiental constituem alguns dos desafios globais adicionais a resolver.

As pessoas se sentem prisioneiras de um sistema que se desenvolve a um ritmo vertiginoso, em que não existe tempo para parar, pensar, partilhar ou conviver com família e amigos.

É preciso trabalhar mais e mais para ganhar dinheiro para colmatar as necessidades que cada vez são mais e mais ou para pagar o que se consumiu a crédito.

O paradigma do consumismo incita-nos a tornarmo-nos competitivos e sufoca o desenvolvimento de outros sentimentos e afetividades. O individualismo impera. A solidão, a tristeza e o desespero são companheiros próximos de todos aqueles que não conseguem acompanhar o ritmo da máquina e mesmo de muitas pessoas que conseguem.

O valor econômico e felicidade são duas coisas que se vinculam, mas que percorrem caminhos distintos e se influenciam e são influenciadas pelo sistema.

A dependência dos circuitos globais coloca em causa a soberania dos países no que se refere ao aprovisionamento dos produtos para a sobrevivência dos seus habitantes, de entre os quais a mais evidente será possivelmente a soberania alimentar.

Que é a capacidade de cada nação produzir alimentos em quantidade suficiente para responder a uma parte significativa das necessidades da sua população.

Outras soberanias estão também em causa, como a energética, hídrica e geração de emprego.

No estado de dependência atual dos circuitos globais, não se possui um controle mínimo da realidade imediata.

Os seres humanos crescem, constroem a sua identidade e inscrevem as suas marcas no quotidiano, inseridos em contextos sociais que nem sempre conferem sentido às significações. Mas modela a sua forma de conceber e agir no mundo.

Em sociedade se desempenhar diferentes trajetórias e personagens, cada um deles em resposta direta a práticas e valores que se aprende a perceber como “naturais” ou “adequados”. A este conjunto de referências e significados e que confere sentido à existência, modelando práticas e atitudes, se chama “cultura”.



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 30/04/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 30/04/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/04/30/solidariedade-e-consumo-parte-12-artigo-de-roberto-naime/

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Principal causa de cegueira irreversível, glaucoma avança com envelhecimento da população



A prevalência da doença é três vezes maior e a chance de cegueira seis vezes maior em latinos e afrodescendentes em relação aos caucasianos. — Foto: Reprodução



Principal causa de perda irreversível da visão, o glaucoma afetará 80 milhões de pessoas em 2020 e 111,5 milhões em 2040, segundo projeções da Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, há escassez de informações confiáveis e atualizadas sobre a prevalência da doença, que neste ano é o tema central da campanha Abril Marrom, cujo objetivo é prevenir e combater os diversos tipos de cegueira.


"O que sabemos é que nos últimos anos tem havido mais casos por causa do envelhecimento da população e por se fazer mais diagnóstico hoje do que no passado", diz Nara Gravina Ogata, especialista em glaucoma infantil e adulto pelo Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) e membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).




O que é o glaucoma?




É uma enfermidade crônica e degenerativa do nervo óptico (estrutura que envia as imagens do olho para o cérebro), normalmente associada ao aumento da pressão intraocular - essa medida indica a tensão no interior do olho e tem valor médio de 16 mmHg, mas até 21 mmHg ainda é considerada dentro do limite da normalidade.


Ele provoca um estreitamento do campo visual, fazendo com que a pessoa perca progressivamente a visão periférica. Nara explica que, na maioria dos casos, é assintomático.


"É uma doença bem silenciosa. Se instala e vai progredindo lentamente, durante meses ou anos, sem a pessoa perceber. O problema é que, quando recebe o diagnóstico, o nervo óptico costuma estar bem danificado e a visão periférica já muito comprometida", afirma.




Quem é acometido pela doença?




A patologia tem origens variadas, sendo a genética uma das mais relevantes. Para se ter uma ideia, filhos de portadores de glaucoma têm de 6 a 10 vezes mais chance de desenvolvê-lo.


Idade avançada também eleva os riscos. No geral, a incidência aumenta a partir dos 40 anos, chegando a 7,5% aos 80, assim como o uso de colírios com corticoide de forma indiscriminada e sem acompanhamento médico, já que eles podem causar aumento da pressão intraocular.


A atenção ainda deve ser redobrada em diabéticos, cardiopatas, vítimas de trauma ou lesão (por exemplo, uma bolada ou cotovelada no olho) e pessoas de etnia africana ou asiática.


De acordo com o Ministério da Saúde, a prevalência da doença é três vezes maior e a chance de cegueira seis vezes maior em latinos e afrodescendentes em relação aos caucasianos.




Quais os tipos de glaucoma?




São vários os tipos de glaucoma. O mais comum é o primário de ângulo aberto, que representa cerca de 80% dos diagnósticos. Ele é assintomático e atinge pessoas a partir de 40 anos.


Neste caso, a pressão intraocular sobe lentamente devido ao mau funcionando do ângulo de drenagem do olho, responsável pela saída do líquido ocular (humor aquoso). Via de regra, a perda de visão começa nos extremos do campo visual e, se não for tratada corretamente, acaba por comprometer toda a visão.


O primário de ângulo fechado, com maior incidência em asiáticos e portadores de hipermetropia, ocorre quando o ângulo de saída do humor aquoso é bloqueado, geralmente pela íris, e o fluído não consegue ser drenado.


No geral, provoca aumento súbito da pressão intraocular, e o paciente pode ter dor forte nos olhos e na cabeça e ficar com a visão turva.


O glaucoma congênito se dá quando a criança nasce com uma má formação no sistema de drenagem do fluído do olho. Seus sintomas incluem olhos sem brilho e de coloração azulada, lacrimejamento, fotofobia e aumento do tamanho do globo ocular. Pode se manifestar logo após o nascimento ou na infância.


"Este é um tipo pouco frequente, mas é fundamental o diagnóstico precoce para tratamento imediato", pontua Wilma Lelis Barboza, oftalmologista membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e presidente da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG).


E ela acrescenta: "O teste do olhinho (reflexo vermelho), obrigatório em algumas cidades, é a oportunidade perfeita para o pediatra avaliar possíveis doenças oculares em recém-nascidos".


Outro tipo de glaucoma é o de pressão normal. Diferentemente dos demais, neste ocorre dano ao nervo óptico mesmo sem a elevação da pressão intraocular. Suas causas são desconhecidas, mas sabe-se que tem uma associação com problemas vasculares.


Há ainda o secundário, desencadeado por fatores externos, como inflamação, trauma e uso de colírios de corticoide por tempo prolongado sem indicação e acompanhamento médico; o pigmentar, causado pela oclusão do ângulo de drenagem do olho por pigmento que se solta da íris, e o pseudoesfoliativo, provocado pela obstrução do sistema de drenagem do humor aquoso por depósitos fibrilares anormais.




Como é feito o diagnóstico?




Como a maioria dos casos é do tipo assintomático, o diagnóstico da doença se dá na consulta oftalmológica de rotina. Nesta ocasião, informa a médica Nara Gravina Ogata, é imprescindível que seja feita a medição da pressão intraocular e o exame de fundo de olho, para analisar o estado e o funcionamento do nervo óptico.


"Dependendo do caso, também podem ser necessários mais alguns testes, como campimetria computadorizada (avalia os defeitos do campo visual), paquimetria ultrassônica (mede a espessura da córnea), tomografia de coerência óptica (verifica as estruturas da retina e do nervo óptico) e retinografia (checa possíveis alterações no fundo do olho)", complementa.


Vale salientar que pessoas a partir de 40 anos e quem tem histórico familiar de glaucoma precisa procurar o oftalmologista com mais frequência. Na avaliação, serão ponderados os fatores de risco e determinada a periodicidade das visitas.




Quais as opções de tratamento?




Uma vez diagnosticado o glaucoma, o tratamento se dá com base no seu tipo e estágio. Wilma Lelis Barboza, da SBG, enfatiza que ele não tem cura, mas, sim, controle.


"É uma doença crônica e progressiva, e o objetivo do tratamento, qualquer que seja ele, é estabilizá-la, mas ele não fará com que o paciente recupere a visão perdida. De toda forma, mesmo os casos avançados, quando há perda importante da visão, precisam ser tratados de forma regular, a fim de evitar a cegueira", assegura.


As terapias são feitas com procedimentos clínicos, cirúrgicos ou a combinação dos dois. No início da doença, normalmente recomenda-se a aplicação diária de colírios específicos.



Uso de colírio sem acompanhamento médico pode ampliar chance de glaucoma — Foto: Secom Porto Calvo/G1


Entre os mais usuais estão: análogos da prostaglandina (travoprosta, bimatoprosta e latanoprosta), beta bloqueadores (maleato de timolol), inibidores da anidrase carbônica (cloridrato de dorzolamida) e agonistas de receptores adrenérgicos (tartarato de brimonidina). Eles podem ser usados separadamente ou combinados.


Em algumas situações também se faz necessário o uso de laser. As primeiras etapas do glaucoma de ângulo fechado, por exemplo, são realizadas dessa forma. A cirurgia, por sua vez, é indicada em cerca de 10% dos casos e no glaucoma congênito.


Segundo a presidente da SBG, a adesão ao tratamento, que é contínuo e sem duração pré-determinada, é importantíssima para o seu sucesso. "Por não perceberem a evolução da doença, muitos pacientes tendem a negligenciar a administração dos remédios", completa.




Estudos recentes sobre glaucoma




Recentemente, especialistas do Conselho Brasileiro de Oftalmologia promoveram dois estudos sobre os impactos do glaucoma na condução de veículos, a fim de verificar se o comprometimento visual provocado pela enfermidade aumenta o risco de acidentes.


No primeiro, foi avaliado o impacto do crowding (aglomeração) - fenômeno no qual os objetos se misturam quando apresentados muito próximos, dificultando a visualização - nos glaucomatosos.


"O crowding estabelece um limite fundamental para as capacidades da visão periférica e é essencial para explicar o desempenho em uma ampla gama de tarefas diárias", explica Nara, uma das autoras do trabalho.


"E, devido aos efeitos do glaucoma justamente na visão periférica, hipotetizamos que a perda neural na doença levaria a implicações mais fortes do apinhamento visual, o que foi confirmado", acrescenta.


Ao final da experiência, publicada na edição de fevereiro do jornal Investigative Ophthalmology & Visual Science (IOVS), da The Association for Research in Vision and Ophthalmology (Arvo), constatou-se que os que têm a enfermidade, mesmo em estágios iniciais, apresentam dificuldade maior em discriminar os itens.


O outro estudo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia avaliou a habilidade de dividir a atenção ao dirigir e falar ao celular, cena muito comum no dia a dia, apesar de proibida pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB). O intuito foi verificar a performance de portadores de glaucoma nesta situação.


A conclusão foi de que o tempo de reação a estímulos visuais periféricos é significativamente pior entre os pacientes com glaucoma. Durante o uso do celular, foi de 1,86 segundos, contra 1,14 segundos dos motoristas com olhos saudáveis.


De acordo com Nara, quem tem a doença não está proibido de guiar um automóvel, porém, precisa ser alertado de que os riscos de acidentes são maiores e, junto com o médico, decidir se é melhorar parar ou continuar com essa atividade.


Este trabalho do Conselho Brasileiro de Oftalmologia foi apresentado no último congresso da Sociedade Americana de Glaucoma, em Nova York, nos Estados Unidos, e publicado este mês na revista científica Jama, da American Medical Association (AMA).




Autor: BBC
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 27/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/viva-voce/noticia/2019/04/27/principal-causa-de-cegueira-irreversivel-glaucoma-avanca-com-envelhecimento-da-populacao.ghtml

Uso excessivo de medicamentos pode causar até 10 milhões de mortes por ano até 2050

Relatório alerta para doenças resistentes aos medicamentos antimicrobianos



Relatório de entidades ligadas à ONU publicado nesta segunda-feira (29) alerta que o uso excessivo de medicamentos pode levar a 10 milhões de mortes por ano até 2050. As entidades apontam problemas ligados aos remédios antimicrobianos, entre os quais estão antibióticos, antivirais, antifúngicos e antiprotozoários.


O uso excessivo deles em humanos, em animais e em plantas está fazendo com que as doenças que seriam por eles tratadas fiquem mais resistentes e causem mais danos. Mas como essa resistência ocorre, em primeiro lugar?


A cada vez que uma pessoa toma um antibiótico, por exemplo, as bactérias podem desenvolver formas de resistência a sua fórmula. Quanto mais a pessoa toma antibióticos, maiores as chances de a resistência se desenvolver e levar a uma versão mais grave da doença, às vezes não tratável.


As infecções resistentes a remédios já causam, pelo menos, 700 mil mortes todo ano, de acordo com o relatório desta segunda (29). Dessas, 230 mil são por causa da tuberculose multirresistente.



O uso excessivo de antibióticos também leva a versões resistentes de doenças, como, por exemplo, a tuberculose. — Foto: Pixabay


No Brasil, entre 40 e 60% das doenças infecciosas já são resistentes a medicamentos, segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). No ano passado, a OMS já havia alertado para um aumento no número de casos, no mundo, de tuberculoses resistentes a medicamentos.




Segundo um relatório do Banco Mundial publicado em 2016, o prejuízo econômico nos sistemas de saúde causado pela resistência dos micróbios a medicamentos pode ser comparável ao da crise financeira de 2008, com impactos globais de até um 1 trilhão de dólares (cerca de R$ 3,9 trilhões) até 2050.


Ao mesmo tempo, o mundo poderia perder até 3,8% do seu PIB até 2050 se não forem adotadas medidas para prevenir as doenças resistentes a medicamentos.




Prejuízos na exportação de carne



O uso excessivo de antibióticos também pode prejudicar a exportação de carne bovina do Brasil. — Foto: Unsplash


Entre 2000 e 2010, o consumo dos antimicrobianos aumentou 36% em 71 países. O Brasil, a Rússia, a Índia, a África do Sul e a China responderam por 75% desse crescimento, segundo estudo publicado na revista "The Lancet".




Caso nada seja feito para impedir a proliferação de doenças resistentes a medicamentos, o agronegócio brasileiro também pode ficar ameaçado. Em 2018, o Brasil lucrou 6,57 bilhões de dólares (cerca de R$ 25,8 bilhões), 7,9% a mais do que no ano anterior, com a exportação de carne bovina. O país é o maior exportador do mundo.



Apesar disso, o Brasil deu um passo importante em 2016 ao banir o uso de colistina, um dos antibióticos mais importantes, para consumo animal. Ainda assim, o meio mais eficiente de reduzir a necessidade de medicamentos é evitar a proliferação de infecções entre os animais. "Isso pode ser feito com melhor higienização em fazendas e com a expansão de vacinação para vacas e outros animais."


No ano passado, o país lançou um plano para combater e controlar a resistência aos antimicrobianos, envolvendo vários setores do governo, que deve ser implementado até 2022.




Como resolver?




O relatório desta segunda (29) também apresenta cinco recomendações para abordar o uso de antibióticos e combater o desenvolvimento de doenças resistentes a eles:



Acelerar o progresso em países, inclusive para assegurar o acesso a vacinas. Os governos devem parar de usar os antimicrobianos para promover crescimento do gado.
Inovar para garantir o futuro, envolvendo doadores, públicos e privados, para aumentar a inovação em vacinas, diagnósticos e alternativas ao uso de microbianos, seja na saúde humana, animal ou vegetal, assim como em alternativas de descarte de lixo e saneamento básico.
Colaborar para uma ação mais efetiva, com o envolvimento da sociedade civil e do setor privado para lidar com a resistência aos antimicrobianos;
Investir para uma resposta sustentável, com o aumento de financiamento de iniciativas que lidem com a resistência antimicrobiana. Elas devem ter maior prioridade, também, nos orçamentos domésticos dos países;
Reforçar a governança global e a responsabilidade internacional. O Secretário-Geral da ONU deve fornecer relatórios sobre a resistência antimicrobiana a países, recomendando medidas para adaptação e mitigação dos efeitos. Também recomenda a criação de um grupo global em saúde sobre resistência antimicrobiana.





Autor: Lara Pinheiro
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 29/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/04/29/uso-excessivo-de-medicamentos-pode-causar-ate-10-milhoes-de-mortes-por-ano-ate-2050-alerta-onu.ghtml

Veja a lista de hospitais que serão descredenciados pela Amil; ANS monitora situação




Hospital Santa Luzia, em Brasília, que pertence à Rede D'OR — Foto: Divulgação



A Amil, que faz parte do grupo do setor de saúde UnitedHealth Group, com sede nos EUA, anunciou a clientes no sábado (27) que vai descredenciar 10 hospitais a partir do dia 21 de junho. A operadora de saúde alega que quer alinhar a rede de hospitais credenciados com as "mais recentes evidências médicas e modelos de remuneração que premiam os resultados clínicos e a experiência do paciente".


(Correção: O G1 errou ao informar 17 hospitais descredenciados nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, além do Distrito Federal. Na verdade são 10 hospitais descredenciados em SP e RJ. A informação foi corrigida às 12h54)


"Os beneficiários continuarão a ter acesso a uma sólida rede de hospitais e provedores que praticam medicina baseada em evidência, com foco em melhores resultados de saúde", informou no comunicado.


Todos os hospitais da lista são da Rede D'OR. Veja abaixo os hospitais descredenciados:


São Paulo



Hospital Assunção (São Bernardo)
Hospital e Maternidade Brasil (Santo André)
Hospital Sino Brasileiro (Osasco)




Rio de Janeiro



Clínica São Vicente (Rio de Janeiro)
Hospital Barra D'Or (Rio de Janeiro)
Hospital Caxias D'OR (Rio de Janeiro)
Hospital Copa D'OR (Rio de Janeiro)
Hospital Oeste D'OR (Rio de Janeiro)
Hospital Quinta D'OR (Rio de Janeiro)
Hospital Rios D'OR (Rio de Janeiro)




Já outros sete hospitais tiveram readequação de rede de atendimento (alteração na aceitação de alguns planos) que valerá a partir de 21 de junho, mas não foram descredenciados. Veja abaixo:


São Paulo



Hospital HCor (São Paulo)
Hospital Leforte Liberdade - antigo Hospital Bandeirantes (São Paulo)
Hospital São Luiz - unidade Jabaquara (São Paulo)
Hospital e Maternidade São Luiz - unidade Itaim (São Paulo)
Hospital São Luiz - unidade Morumbi (São Paulo)




Distrito Federal



Hospital Santa Luzia (Brasília)




Pernambuco



Hospital São Marcos (Recife)




O HCor emitiu nota informando que a grande maioria dos beneficiários Amil continuará tendo acesso aos serviços do hospital, cuja mantenedora é a Associação Beneficente Síria.


A lista foi repassada por meio de comunicado interno do CEO da Amil aos colaboradores do grupo. O G1 entrou em contato com a Amil para obter a lista, mas a empresa não divulgou.




Mudança na remuneração dos serviços




O jornal O Globo, em reportagem publicada no sábado, informa que a Amil pressionou esses hospitais para mudar a forma de remuneração, da chamada remuneração por serviço (hospital recebe por procedimento prestado) para remuneração por pacotes de serviços (hospital recebe pelo conjunto de procedimentos recomendados a determinadas doenças/quadros de saúde).


No caso de uma fratura, por exemplo, o modelo por remuneração é feito da seguinte forma: o hospital faz os exames e os procedimentos. Tudo isso é cobrado da operadora. Inclusive se os procedimentos tiverem de ser refeitos.


No modelo proposto pela Amil, um valor fechado é pago ao hospital, que fica responsável, com aquele valor, por fazer o tratamento usando sua eficiência e estratégia para resolver o caso do paciente.


A Amil argumenta, segundo a reportagem, que o antigo modelo incentiva procedimentos desnecessários e leva ao desperdício e assistência médica inadequada. A operadora afirma que 30% de sua rede credenciada de hospitais está no novo modelo de remuneração.




Nota da Rede D'OR




Em nota, a Rede D'Or São Luiz confirmou que, a partir de 21 de junho, parte de seus hospitais deixará de atender alguns planos da Amil. Veja, abaixo, a íntegra do comunicado:


"A Rede D’Or São Luiz esclarece que, a partir de 21 de junho, parte de seus hospitais deixará de atender alguns planos do convênio Amil. Os demais Convênios atualmente elegíveis seguem atendidos normalmente, sendo mantido nosso compromisso de oferecer serviços de excelência aos nossos pacientes.


A RDSL ressalta ainda que sempre se manteve aberto ao diálogo com todas as operadoras, tendo como prioridade buscar as melhores opções em prol do setor e do paciente. A RDSL defende que o melhor cenário para todos, paciente, médico e, mercado, e aquele que assegura a pluralidade de prestadores de serviços, produtos e operadoras.


Somente assim, garante-se a liberdade de escolha do paciente em ser atendido no local de sua preferência, bem como do médico em praticar uma medicina de excelência, valorizando sua qualificação e treinamento permanente.É dessa forma que se afiança também a competitividade necessária para a sustentabilidade do setor.


A RDSL é uma empresa comprometida com a qualidade do cuidado que oferece a população, tendo as suas unidades acreditadas nacional ou internacionalmente. Nossos hospitais demonstram resultados assistenciais, comprovados pela satisfação dos consumidores, além de estar entre os melhores do mundo, representando um ambiente seguro e de qualidade para médicos e pacientes.


O compromisso do Grupo com a medicina de excelência e na atenção ao paciente é ratificada nos mais de 80 mil médicos credenciados em nossa rede. São profissionais referência nacional e internacional que acompanham o engajamento da Rede em oferecer a melhor infra estrutura e equipamentos para que possam exercer sua atividade em nível de excelência.


Adicionalmente, a RDSL trabalha pela sustentabilidade setorial, adotando as melhores práticas de gestão, e trabalhando com novos modelos de remuneração junto as suas mais de 70 operadoras de saúde parceiras que compartilham o valor de se oferecer a sociedade o melhor que a medicina tem. Por fim, a RDSL reitera que busca evoluir junto com o setor e não abre mão de ter foco na qualidade assistencial prestada ao paciente em primeiro lugar."




ANS está monitorando situação




A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) informou ao G1 que está monitorando o caso do pedido da Amil quanto ao descredenciamento de hospitais de sua rede e que atuará em caso de necessidade para impedir que haja descumprimento da legislação do setor de planos de saúde e para garantir que não haverá prejuízo aos consumidores.


A respeito do descredenciamento de hospitais, a ANS informa que o pedido está em tramitação e será analisado pela reguladora. A ANS reforça, contudo, que enquanto não for concluído esse processo, não poderá haver descontinuidade na assistência aos beneficiários em tratamento ou em internação.


Sobre as regras para descredenciamento de prestadores, a ANS esclarece que as operadoras de planos privados de assistência à saúde devem dispor de rede suficiente de prestadores de serviços de saúde para garantir o atendimento nos prazos máximos determinados para a realização de exames, consultas, cirurgias e outros procedimentos.


O descredenciamento de prestadores de serviço de saúde poderá se dar através da redução ou substituição da rede e tem regras diferenciadas para hospitais e demais prestadores. As regras são mais rígidas para descredenciamento de hospitais: para as reduções, deve haver prévia autorização da ANS, e para a substituição por outro prestador, a ANS deve ser comunicada para fins de avaliação da equivalência. Em ambos os casos, o beneficiário deve ser comunicado com 30 dias de antecedência.


Em caso de dificuldades de atendimento, o consumidor deverá solicitar a solução do problema à operadora. Se não tiver a situação resolvida, deverá entrar contato com a ANS por meio de um de seus canais de atendimento: Disque-ANS 0800 701 9656; Formulário Eletrônico na Central de Atendimento em www.ans.gov.br ou em um dos 12 Núcleos da ANS existentes nas cinco Regiões do País.


Com relação aos modelos de remuneração adotados nos contratos entre as operadoras e os prestadores de planos de saúde, a legislação não permite que a ANS interfira na relação comercial entre as empresas.


Porém, a ANS informa que vem fomentando a discussão sobre a implementação de modelos alternativos de pagamento que privilegiem a remuneração por qualidade assistencial. A ANS afirma entender que o modelo de remuneração do cuidado em saúde deve privilegiar a qualidade dos resultados em saúde, remuneração por valor, e não que apenas pague pela quantidade de procedimentos realizados.


Veja a nota da Amil enviada aos clientes no sábado:


E-mail da Amil enviado neste sábado (27) a um cliente, ao qual o G1 teve acesso — Foto: Arquivo pessoal




Autor: Marta Cavallini
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 29/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/economia/noticia/2019/04/29/veja-a-lista-de-hospitais-que-serao-descredenciados-pela-amil.ghtml

Pular o café da manhã pode matar?



Pesquisa analisou 6.550 adultos com idades dentre 40 e 75 anos sobre a frequência com que tomavam café da manhã. — Foto: Pixabay



O café da manhã é internacionalmente reconhecido como a refeição mais importante do dia.


Um estudo divulgado na semana passada pelo American College of Cardiology, associação médica que se dedica a doenças cardiovasculares nos EUA, afirma que o café da manhã pode também salvar vidas.


Pular a primeira refeição do dia está associado a um maior risco de morte por doenças cardiovasculares, afirmam os pesquisadores.


A pesquisa envolveu uma equipe de médicos e pesquisadores de diferentes universidades dos EUA. Eles analisaram uma mostra de 6.550 adultos com idades entre 40 e 75 anos, que participaram de uma pesquisa nacional de saúde e nutrição entre 1988 e 1994. Os participantes informaram a frequência com que tomavam café da manhã.


De um modo geral, 5% dos participantes disseram que nunca tomavam café da manhã, cerca de 11% deles afirmaram que raramente comiam pela manhã e 25% disseram que consumiam café da manhã de forma intermitente.


Os pesquisadores, então, analisaram os registros de morte dessas pessoas até 2011 - 2.318 participantes do estudo tinham morrido - e procuraram por associações entre o consumo de café da manhã e mortalidade.


Depois de avaliar outros fatores de risco como fumo ou obesidade, os pesquisadores descobriram que 87% dos que pulavam o café da manhã tinham maior probabilidade de morrer de doença cardiovascular.

Ressalvas ao estudo



Pesquisas médicas já haviam indicado, anteriormente, que pular o café da manhã tinha impacto negativo na nossa saúde. Mas cientistas continuam procurando entender as possíveis relações entre não fazer essa refeição e ter algum problema de saúde.


Ao comentar a pesquisa da associação americana de cardiologia, o NHS, o serviço público de saúde do Reino Unido, foi categórico em dizer que o estudo "não é capaz de provar que não comer café da manhã é causa direta de morte por doença cardiovascular".


"Pessoas que não tomam café da manhã (no estudo) tinham mais chances de ser ex-fumantes, consumidores pesados de álcool, sedentários, com uma alimentação pobre e de baixo status socioeconômico do que os que tomavam café da manhã", diz uma resenha publicada no site do NHS, destacando os fatores aumento o risco de doenças cardiovasculares.


"O estudo só teve uma avaliação única do café da manhã, que pode não refletir hábitos ao longo da vida. Também não explica o que o café da manhã significa para pessoas diferentes", diz o texto do NHS.


"Por exemplo, muitas pessoas tomam café da manhã todos os dias, mas pode ter uma variação enorme entre quem come algo saudável às 8h e quem come um sanduíche de bacon ou uma barrinha de cereal açucarada no fim da manhã."

De qualquer forma, Wei Bao, professor assistente de epidemiologia da Universidade do Iowa e um dos autores da pesquisa, sai em defesa das descobertas do estudo.


"Muitos estudos têm mostrado que pular o café da manhã está relacionado com alto risco de ter diabetes, hipertensão ou colesterol alto", diz Bao. "Nosso estudo indica que tomar café da manhã pode ser uma forma simples de promover a saúde cardiovascular", completa o professor.


Bao e seus colegas também escreveram no artigo sobre a pesquisa que as associações entre o consumo de café da manhã e o risco de doença cardíaca "eram significativas e independentes do nível socioeconômico, do índice de massa corporal e dos fatores de risco cardiovascular".


"Até onde sabemos, esta é a primeira análise prospectiva (que avalia) pular o café da manhã e o risco de mortalidade por doença cardiovascular", observaram os pesquisadores.



Os problemas cardiovasculares - especialmente o infarto e o acidente vascular cerebral - são a principal causa de morte no mundo, tendo sido responsáveis por um total de 15,2 milhões de mortes em 2016, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).




Autor: BBC
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 29/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/viva-voce/noticia/2019/04/29/pular-o-cafe-da-manha-pode-matar.ghtml

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Universo está se expandindo mais rápido do que o esperado, diz estudo



Vista da galáxia Grande Nuvem de Magalhães a partir do telescópio Hubble; brilho de estrelas dessa galáxia, vizinha à Via Láctea, ajudou cientistas a determinarem a velocidade de expansão do universo — Foto: Divulgação/NASA, ESA, A. Riess (STScI/JHU) and Palomar Digitized Sky Survey



Astrônomos responsáveis pelo telescópio Espacial Hubble descobriram que o universo está se expandindo a uma velocidade mais rápida do que os cientistas esperavam. Segundo informações publicadas nesta quinta-feira (25) no "Astrophysical Journal", medidas tomadas pelo telescópio mostram que a velocidade de expansão é 9% acima de medições feitas anteriomente.


Ao encontrar a nova discrepância nos resultados, cientistas afirmam que apenas novas teorias serão capazes de explicar o fenômeno da taxa de expansão. Isso porque as chances de que a diferença registrada tenha sido um acidente é de apenas uma em 100 mil.


Um dos responsáveis pela pesquisa é Adam Riess, ganhador do Nobel de física em 2011 e professor da Universidade Johns Hopkins, nos Estados Unidos. Em um comunicado da instituição, ele afirmou que a divergência na medição dos números não aconteceria apenas por um acaso instrumental ou observacional.



"Esse descompasso tem crescido e agora chegou a um ponto que é realmente impossível descartar como uma casualidade. Essa disparidade não poderia acontecer plausivelmente apenas por acaso" , diz o pesquisador Adam Riess.






Como se mede a expansão do universo?




Para fazer a medição, os astrônomos e astrofísicos usam telescópios que analisam a luz das estrelas. Atualmente, apenas o telescópio Hubble e o satélite Planck podem realizar essa medição, que é considerada uma das principais etapas para a compreensão da história do universo a partir do Big Bang, explosão ocorrida há cerca de 14 bilhões de anos que deu origem à expansão do cosmo.


Para este estudo, o Hubble analisou a luz de 70 estrelas pulsantes em nossa galáxia vizinha, a Grande Nuvem de Magalhães. Essas estrelas pertencem a uma classe chamada "cefeidas", e a variação da luz emitida pelo brilho delas permitiu que os cientistas determinassem sua distância.


Para refinar esses dados, os resultados do Hubble foram comparados com dados da mesma galáxia obtidos pelo Projeto Araucária, que envolve instituições do Chile, Estados Unidos e Europa.


Com o resultado obtido, os pesquisadores descobriram que o universo está se expandindo a uma velocidade de 74 quilômetros por segundo por megaparsec – uma unidade de medida que equivale a 3,3 milhões de anos-luz.


Isso quer dizer uma galáxia que esteja a 3,3 milhões de anos-luz de nós vai aparentar estar se movendo a uma velocidade que é 74 quilômetros por segundo mais rápida do que a nossa, porque a expansão do universo faz espaço entre as galáxias aumentem com o decorrer do tempo.


Esse aumento de 9% se deve ao fato de que a medição anterior era de 67 quilômetros por segundo por megaparsec. Esse registro foi feito pelo satélite Planck considerando observações sobre o início do universo feitas 380 mil anos após o Big Bang.



O Hubble orbita a Terra a uma altura de 593 km sobre o nível do mar — Foto: Nasa/BBC




Mas o que pode explicar essa aceleração?




Muitas teorias cresceram diante da descoberta, mas, de fato, nenhuma é exata. Os cientistas responsáveis pelo projeto levantaram a teoria de que a causa do descompasso seria por conta da incidência inesperada de energia escura no universo jovem, ou seja, o universo que existe antes da formação estelar e que pode ser o responsável por acelerar a expansão do universo.


Por mais que ainda não haja uma resposta precisa sobre a causa dessa expansão, o principal objetivo da equipe é reduzir a incerteza da descoberta para 1%. No momento, a medida feita pelo satélite Planck apresenta uma incerteza de 1,9%.




Dados não discordam entre si




Apesar de ajudar a aumentar a precisão da medida, Riess explica que os dois números não discordam entre si. Isso porque o telescópio Hubble e o satélite Planck estão medindo duas coisas "fundamentalmente" diferentes.



"Uma é uma medida de quão rápido o universo está se expandindo hoje, como nós o vemos. A outra é uma previsão baseada na física do universo primitivo e em medidas de quão rápido ele deveria estar se expandindo", explicou Adam Riess.




"Se esses valores não concordam, torna-se uma probabilidade muito forte de que estamos perdendo alguma coisa no modelo cosmológico que conecta as duas eras."


Ilustração mostra o satélite Planck em órbita no espaço — Foto: Divulgação/ESA/AOES Medialab


Sob orientação de Ana Carolina Moreno*




Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 26/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/04/25/universo-esta-se-expandindo-mais-rapido-do-que-o-esperado-diz-estudo.ghtml

Primeiro tipo de molécula formada no universo é detectado; entenda

O universo se formou em uma súbita expansão do espaço-tempo chamada ‘Big Bang’. Por conta desta alcunha, que foi dada de forma jocosa por Fred Hoyle que não acreditava nessa hipótese, essa rápida expansão é muitas vezes confundida com uma grande explosão.


Semântica à parte, o fato é que o universo nasceu muito, muito quente e era energia pura. Aos poucos, ele foi esfriando e a energia pode se converter em matéria, dando origem às primeiras partículas.



Ilustração da nebulosa planetária NGC 7027 e moléculas de hidreto de hélio. — Foto: NASA/SOFIA/L. Proudfit/D.Rutter


Mesmo quando o universo já tinha prótons e elétrons, ainda levou mais um tempinho para que se formassem os primeiros átomos, principalmente hidrogênio, um pouco de hélio e pitadas de outros elementos mais pesados, como berílio e lítio, por exemplo.


As quantidades certinhas podem ser calculadas a partir das equações de física nuclear em uma disciplina chamada nucleossíntese primordial. Os cálculos teóricos foram comparados com observações de nebulosas em que a contaminação de elementos produzidos posteriormente por estrelas é baixa, portanto, nebulosas bastante representativas da abundância química do início do universo, e os resultados estavam em grande concordância. Esse fato é um dos 3 pilares que sustentam a teoria do Big Bang, mostrando que apesar de precisar de alguns remendos, ela é uma teoria bem consistente.


Os outros dois pilares são a expansão do universo e a radiação cósmica de fundo.


Mas e quanto as primeiras moléculas? Quando e qual teria sido a primeira molécula formada no universo?


Para que um átomo se formasse no universo primordial, foi preciso que o universo se esfriasse a ponto de um próton poder capturar um elétron, para formar o átomo de hidrogênio, o mais simples. Para formar a primeira molécula, foi preciso esperar mais um pouco, de modo que o universo se esfriasse mais.


Então por volta de 100 mil anos depois do Big Bang, a temperatura tinha caído para valores da ordem de 4-5 mil kelvin, o que já é baixo o suficiente para moléculas se formarem e sobreviverem. Mas qual teria sido essa molécula?


Bom, partindo do princípio que naquela época o universo era basicamente hidrogênio e hélio, deve ter sido uma combinação entre os dois. O hélio é um elemento nobre, não se combina com ninguém, mas em determinadas condições de alta densidade, pressão e temperatura, ele pode se ligar a algum átomo. E o universo, com 100 mil anos tinha tudo isso, e tinha muito hidrogênio soltinho.


A primeira molécula a se formar no universo foi um hidreto de hélio, ou HeH+. Essa molécula foi sintetizada em laboratórios em 1925 e desde então ela tem sido procurada no universo moderno. Veja, não se trata de usar os melhores telescópios do mundo para tentar detectar essa molécula no universo antigo, observando galáxias ou quasares muito, muito distantes.


Para encontrar essa molécula em ambientes astrofísicos atuais, era preciso encontrar um local com alta temperatura e abundância de energia, que poderia dar condições para a formação do hidreto de hélio. Essas condições são encontradas, de modo geral, em nebulosas planetárias, estágios finais de evolução de estrelas de pouca massa como o Sol. Na década de 1970, a nebulosa NGC 7027, distante 3 mil anos luz na constelação do Cisne, foi identificada como boa candidata a ter as condições propícias.


Desde então, astrônomos tentaram, sem sucesso, identificar essa molécula. Coube a equipe liderada por Rolf Guesten, do Instituto Max Planck de Rádio Astronomia da Alemanha encontrar o HeH+.


Para fazer isso, ele e sua equipe precisou observar com um instrumento, digamos, sui generis: um observatório embarcado em um Boeing 747! Pois é, a nossa atmosfera atua como um filtro absorvendo quase toda a radiação infravermelha que vem do espaço. Pouca coisa pode ser observada da Terra e para conseguir observar em comprimentos de onda mais longos, é preciso contornar a atmosfera.


Isso pode ser feito do espaço, com satélites dedicados a isso, como o telescópio espacial Spitzer da NASA e o Herschel, da ESA. Mas lançar um telescópio como esse é muito caro, sem falar no risco de um defeito de fabricação, ou no lançamento, arruinar um investimento de centenas de milhões de dólares. O infravermelho é absorvido, principalmente, pelo gás carbônico e vapor d’água e ambos se concentram em altitudes abaixo de 10 km. Com um jato viajando a 11-12 km de altitude, podendo alcançar um pouco mais, ele deixa para baixo algo como 90% dos dois gases. Isso viabiliza observações em comprimentos de onda impossíveis de atingir o solo.


O Observatório Estratosférico para Astronomia Infravermelha (SOFIA) é um consórcio entre várias instiruições de pesquisa, incluindo a NASA (dona do avião) e o Instituto Max Planck. Os dados foram coletados em 2016 e publicados esta semana na prestigiosa revista Nature, de tão importante que esse achado representa.



SOFIA — Foto: Nasa


Ele confirma detalhes da evolução do universo primordial, quando ele era ainda muito jovem e inacessível aos instrumentos de pesquisa, pois só podemos observar a partir de quando o universo tinha 380 mil anos de idade. Descobertas como essas confirmam as previsões teóricas de uma época em que não podemos observar o universo através de observações do universo como ele é hoje.




Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 26/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/cassio-barbosa/post/2019/04/26/primeiro-tipo-de-molecula-formada-no-universo-e-detectada-entenda.ghtml

Musculação pode ter efeito rápido em redução da gordura no fígado, indica estudo



Exercícios musculares podem ajudar a diminuir a acumulação de gordura no fígado — Foto: Unsplash/Divulgação



Inúmeros estudos - e o senso comum - indicam que atividades físicas ajudam na perda de gordura e na prevenção da obesidade e diabetes.


Mas qual é o papel de exercícios musculares na ação destes distúrbios sobre um dos órgãos mais importantes e multifuncionais do nosso corpo, o fígado?


Foi esta pergunta que motivou um estudo de pesquisadores brasileiros da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e da USP (Universidade de São Paulo) em parceria com colegas das universidades de Harvard e de Massachusetts College of Pharmacy and Health Sciences, nos EUA. O trabalho foi publicado neste mês no periódico internacional Journal of Endocrinology e teve apoio da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo).


Experimentos feitos com camundongos mostraram que 15 dias de treino moderado de força foram suficientes para diminuir o acúmulo de gordura no fígado e melhorar o controle da glicose no organismo. É a primeira vez que um estudo demonstra os efeitos especificamente do treino muscular - e não exercícios aeróbicos, como caminhar e correr, por exemplo - neste órgão.


Para entender a descoberta e o que ela pode representar para o nosso cotidiano, é preciso primeiro entender as partes do corpo envolvidas, seu funcionamento - e as disfunções.




A gordura que não se vê




Quando você pensa em gordura, pode logo pensar naquela que se vê: na barriga, nos braços, nas pernas...


No entanto, ela também se acumula nos órgãos. E o fígado, já conhecido por segurar o consumo excessivo de álcool e alimentos pesados, também sofre com a presença anormal de gordura dentro dele - que se torna tóxica para o órgão.


"Todo mundo tem um pouco de gordura no fígado. Mas quando há um acúmulo e ele não é tratado, o quadro pode evoluir para uma inflamação, a esteato-hepatite. Se continuar não tratando, pode até se desenvolver para uma cirrose e, em casos mais extremos, carcinomas (tumores malignos)", explica à BBC News Brasil Leandro Pereira de Moura, professor da Unicamp e coordenador da pesquisa.


Por isso, o fígado é afetado com a obesidade e, também, com a diabetes tipo 2 (relacionada à obesidade e ao sedentarismo, que normalmente atinge pessoas com mais de 40 anos - apesar de afetar pessoas cada vez mais cedo).



Diabetes também aumenta o risco da gordura no fígado — Foto: Pixabay/Divulgação


Estas são, atualmente, condições que representam alguns dos mais graves e crescentes riscos à saúde da população em nível mundial. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), em 2016, 13% dos adultos em todo o o globo estavam obesos; em relação à diabetes (de ambos os tipos), em 2014, ela atingia 8,5% deles.


E estes distúrbios são ainda correlacionados: segundo a organização britânica Diabetes.co.uk, acredita-se que a obesidade seja responsável por 80 a 85% do risco de desenvolver a diabetes tipo 2. Algumas pesquisas chegaram a mostrar que pessoas obesas têm 80 vezes mais chances de desenvolver essa doença.


Mas como a diabetes 2 - envolvida no estudo - afeta diretamente o fígado?


A diabetes é uma doença que se manifesta por problemas na produção ou nos efeitos da insulina, hormônio produzido pelo pâncreas que permite a entrada da glicose nas células, para transformá-la em energia.


O fígado é um dos principais órgãos envolvidos na gestão do açúcar no organismo. Isso porque ele "estoca" glicose, liberada quando o fígado responde à insulina. Isso se evidencia por exemplo em jejuns, pois é o órgão que garante algumas horas de "combustível" para o corpo sem a alimentação.


"O pâncreas secreta a insulina, mas ela age de diferentes formas no organismo. Por exemplo, no cérebro, ela pode controlar a forme; no músculo, ela faz a captação de glicose. No fígado, a ação da insulina é justamente liberar e parar a produção de glicose", explica Moura, que fez pós-doutorado pela Unicamp em parceria com a Escola de Saúde Pública de Harvard.


"Quando a gordura se torna tóxica para o fígado, o órgão deixa de responder de forma adequada à insulina. Então, indivíduos obesos e diabéticos apresentam um quadro de resistência à insulina. Significa que eles têm o hormônio, mas o organismo não responde bem".




O papel dos exercícios




Assim, reduzir a presença da gordura no órgão é algo fundamental para pacientes como obesos e diabéticos.


Mas como fazê-lo?


Uma vez que os efeitos da redução de peso e dos exercícios aeróbicos na eliminação da gordura em todo o organismo já são bem conhecidos, Moura e sua equipe decidiram testar o papel dos exercícios de força especificamente no fígado.


Como queriam saber o papel da atividade muscular, fizeram testes com cobaias garantindo que não haveria perda de peso.


Pesquisa analisou efeitos de exercício de força na redução da gordura no fígado - próximos passos devem envolver testes com humanos — Foto: Pixabay/Divulgação


Os camundongos, manipulados sob as regras da legislação brasileira e da avaliação do comitê de ética da Unicamp no que diz respeito a pesquisas com animais, foram divididos em três grupos: o grupo de controle recebeu uma ração padrão e não fez exercícios; outro recebeu dieta hiperlipídica (35% de gordura) e também não fez exercícios; o último grupo também teve a dieta hiperlipídica mas, quando já havia ficado obeso e diabético, fez exercícios de força por 15 dias.


Com o fim do teste, este grupo (cobaias que passaram por exercícios) ainda estava obeso, mas tinha valores normais de glicemia em jejum; também teve redução de 25-30% na gordura no fígado. Já os obesos sedentários permaneceram diabéticos.


Agora, os próximos passos dos pesquisadores devem incluir testes com humanos e buscar por detalhes sobre como este impacto positivo do exercício muscular acontece. Segundo Leandro Moura, a chave para isso deverá estar no papel de certas proteínas que temos no corpo.


"Está sendo bastante investigado o papel das chamadas 'exercinas', proteínas liberadas para o sangue durante o exercício físico. Quando liberadas para o organismo, elas atuam em diferentes órgãos: cérebro, fígado, pulmão...", explica.


Eventualmente, confirmando-se as propriedades destas proteínas, a equipe vislumbra até sintetizá-las, transformando-as em remédios, por exemplo. Mas, destaca o pesquisador, mesmo que estes fármacos venham a existir, a atividade física ainda seria fundamental.


"Estamos muito longe de entender a total funcionalidade do exercício físico. Temos não só o efeito biológico, mas o psicológico etc. Não podemos resumir isso tudo a uma cápsula", diz o professor da Unicamp.




Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 26/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/viva-voce/noticia/2019/04/26/musculacao-pode-ter-efeito-rapido-em-reducao-da-gordura-no-figado-indica-estudo.ghtml

Dia Nacional de Prevenção e Combate à Hipertensão Arterial: doença atinge 25% da população brasileira, por Anna Carolina Rodrigues

A hipertensão arterial, conhecida como pressão alta, é uma doença crônica em que a pressão sanguínea nas artérias se encontra constantemente elevada, obrigando o paciente a criar uma rotina de controle contínuo sobre esta condição. Para isso, a utilização correta dos medicamentos deve estar associada a uma dieta equilibrada e hábitos de vida saudáveis.

Por ser silenciosa e relativamente comum, datas como o Dia Nacional de Prevenção e combate à Hipertensão Arterial, celebrado nesta sexta-feira (26), tornam-se importantes ferramentas para promover a conscientização sobre esta doença.

A Hipertensão é diagnosticada quando os valores da pressão arterial são iguais ou maiores de 140×90 mmhg (ou 14 por 9), medidas em pelo menos duas ocasiões diferentes.

Ainda que não existam sintomas aparentes, é importante aceitar o tratamento proposto e consultar regularmente o médico. Afinal, a doença pode ocasionar graves problemas de saúde, como infarto agudo do miocárdio, insuficiência cardíaca, acidente vascular cerebral (AVC), doenças renais, e impotência sexual, entre outras.

De acordo com dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no Brasil está aumentando, chegando a atingir cerca de 25% da população. Como agravante, este dado tende a aumentar com a idade, alcançando mais de 60% dos adultos com mais de 65 anos, com as mulheres respondendo por um número maior de diagnósticos.

Em 2017, as capitais brasileiras com maior percentual de hipertensos foram Rio de Janeiro (33,3%), Maceió (29,3%) e Aracaju (28,6%). Na outra ponta, com menor incidência, estão Palmas (18%), o Distrito Federal (21,2%) e Fortaleza (21,3%).

Para além dos comprimidos

A Hipertensão requer controle rigoroso de peso, alimentação saudável, prática de atividades físicas e redução ou corte do tabagismo e consumo de álcool, hábitos que dependem diretamente da dedicação dos pacientes para se obter bons resultados.

Se tratados adequadamente, seguindo as orientações dos profissionais de saúde, os pacientes levarão uma vida normal, podendo trabalhar, desfrutar de atividades de lazer e realizar atividades físicas regulares.

No caso do tratamento com remédios, o paciente deve ser orientado sobre aspectos como a necessidade do uso diário da medicação, a possibilidade de alterações nas doses e a associação com outros medicamentos, bem como o eventual aparecimento de efeitos colaterais. Ao final, é extremamente importante conversar com o médico antes de suspender qualquer remédio por conta própria.

Por Anna Carolina Rodrigues, cardiologista do Hospital Público Estadual Galileu (HPEG), em Belém (PA), gerenciado Pró-Saúde Associação Beneficente de Assistência Social e Hospitalar.



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/04/2019




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/04/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/04/26/dia-nacional-de-prevencao-e-combate-a-hipertensao-arterial-doenca-atinge-25-da-populacao-brasileira-por-anna-carolina-rodrigues/

Ondas e ventos oceânicos estão cada vez mais fortes, por Ian Young e Agustinus Ribal

Ondas e ventos oceânicos estão cada vez mais fortes

Durante tempestades extremas, as ondas do oceano podem ter mais de 20 metros de altura, ou tão altas quanto um prédio de cinco andares.

Mais do que ser apenas um produto dos nossos sistemas climáticos, as ondas são críticas para o transporte marítimo, a estabilidade das praias, a inundação costeira ou inundações e a determinação do projeto de estruturas costeiras e marítimas.

Mas nossa nova pesquisa , publicada na revista Science , mostra que essas ondas e os ventos que as geram estão aumentando em magnitude e vêm crescendo nos últimos 30 anos.

Essas novas medições mostram que as condições globais de ondas estão aumentando, mas, mais importante, as condições extremas das ondas estão aumentando ainda mais rapidamente, com os maiores aumentos ocorrendo no Oceano Antártico.

Descobrimos que ventos extremos no Oceano Austral aumentaram em aproximadamente 1,5 metros por segundo ou 8% nos últimos 30 anos. Da mesma forma, ondas extremas nessa mesma região aumentaram em 30 centímetros ou 5%. Geralmente, os ventos estão aumentando a um ritmo mais rápido que as ondas.

Além dos aumentos no Oceano Austral, ventos extremos também aumentaram no Pacífico equatorial e Atlântico, e no Atlântico Norte em aproximadamente 0,6 metros por segundo durante o período de 30 anos.

Essas mudanças no vento oceânico e no clima de ondas foram determinadas pela criação e análise de um banco de dados de medições por satélite da velocidade do vento e da altura da onda.

Utilizamos dados de um total de 31 satélites que estavam em órbita entre 1985 e 2018. Por mais de trinta anos, esses satélites fizeram aproximadamente 4 bilhões de medições da velocidade do vento e da altura da onda.








Tendências globais em extrema velocidade do vento (topo) e altura da onda (inferior) durante o período 1985-2018. Áreas em vermelho indicam valores crescentes, enquanto azul indica diminuições. Imagem: Fornecida pelos autores

Embora o conjunto de dados seja enorme, para ser útil, todos os satélites precisavam ser calibrados com muita precisão. Isso foi feito comparando as medições dos satélites com mais de 80 bóias oceânicas implantadas em todo o mundo. Este é o maior e mais detalhado banco de dados do seu tipo já compilado.

É importante ressaltar que, dentro do banco de dados combinado, existem três formas diferentes de satélites – altímetros, radiômetros e medidores de dispersão . Eles usaram métodos diferentes para medir as ondas do oceano, então combiná-los fornece um conjunto de dados ainda mais robusto.

Os aumentos na altura extrema das ondas são menos uniformes que os ventos. Além dos aumentos no Oceano Antártico, as alturas das ondas extremas também estão aumentando no Atlântico Norte. A taxa de aumento na velocidade do vento e na altura da onda é mostrada nos gráficos acima.

Embora aumentos de 5% nas ondas e de 8% nos ventos possam não parecer muito, se forem mantidos no futuro, essas mudanças em nosso clima terão grandes ramificações. Os potenciais impactos do aumento do nível do mar induzido pelo clima são bem conhecidos. O que a maioria das pessoas não entende é que os eventos reais de inundação são causados por tempestades e ondas de quebra associadas a tempestades.

O aumento do nível do mar apenas torna esses eventos de vento e ondas mais sérios e mais frequentes. Aumentos na altura das ondas e outras propriedades, como a direção das ondas, aumentarão ainda mais a probabilidade de inundações costeiras. Mudanças como essas também causarão erosão costeira, colocando em risco assentamentos e infra-estrutura costeira.

Ainda não sabemos se os aumentos históricos serão sustentados no futuro. Um dos usos importantes do extenso banco de dados de satélites será calibrar e validar a próxima geração de modelos climáticos globais que agora incluem previsões de ondas do oceano. Os resultados iniciais de tais modelos produzem resultados semelhantes ao registro histórico e apontam particularmente para mudanças no Oceano Antártico.

As mudanças no Oceano Antártico são importantes, já que esta é a origem do swell que domina o clima de ondas do Pacífico Sul, Atlântico Sul e Índico, e determina a estabilidade das praias para grande parte do Hemisfério Sul.

Mudanças no Oceano Austral podem ter impactos que são sentidos em todo o mundo, com ondas de tempestades aumentando a erosão costeira, e colocando assentamentos costeiros e infra-estrutura em risco.

Equipes internacionais de pesquisa, incluindo a Universidade de Melbourne, estão trabalhando para desenvolver a próxima geração de modelos climáticos globais para projetar mudanças nos ventos e nas ondas nos próximos 100 anos.

Precisamos entender melhor o quanto dessa mudança se deve à mudança climática de longo prazo e quanto é devido às flutuações ou ciclos de várias décadas.

Professor Ian Young e Dr Agustinus Ribal, University Melbourne


Referência:

Multiplatform evaluation of global trends in wind speed and wave height
BY IAN R. YOUNG, AGUSTINUS RIBAL
PUBLISHED ONLINE25 APR 2019
DOI: 10.1126/science.aav9527



* Tradução de Henrique Cortez, EcoDebate.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 25/04/2019




Autor: Henrique Cortez
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 25/04/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/04/26/ondas-e-ventos-oceanicos-estao-cada-vez-mais-fortes-por-ian-young-e-agustinus-ribal/

O colapso econômico e político do regime de Daniel Ortega na Nicarágua, artigo de José Eustáquio Diniz Alves

O colapso econômico e político do regime de Daniel Ortega na Nicarágua

A Nicarágua é um das nações mais pobres da América Latina. O país sofreu muito com a ditadura da família Somoza que se manteve no poder entre 1936 e 1979, primeiro com Anastásio Somoza que governou de 1936 a 1956, depois Luis Somoza (filho) de 1967 a 1972 e finalmente Anastásio Somoza (irmão de Luis) de 1972 a 1979.

Em 1979 ocorre a Revolução da Nicarágua (que inspirou toda a América Latina) e a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) assume o poder, elegendo Daniel Ortega como presidente do país. Mas, em 1990, os sandinistas perdem as eleições para Violeta Chamorro, o que deu início a uma série de governos liberais.

Porém, em novembro de 2006 a FSLN vence as eleições e Daniel Ortega volta ao poder para iniciar um governo com discurso de esquerda, mas com práticas corruptas e autoritárias, que lembram os métodos da ditadura Somoza. Depois da crise econômica global de 2009, a economia nicaraguense voltou a crescer e apresentou crescimento anual do Produto Interno Bruto (PIB) entre 4 e 6% ao ano, entre 2010 e 2017, conforme mostra o gráfico abaixo.

O relatório do FMI divulgado em abril do ano passado (WEO2018) estimava que o PIB da Nicarágua continuaria crescendo acima de 4% ao ano. Porém, a realidade mudou e o PIB nicaraguense apresentou uma queda de 4% em 2018 e deve cair 5% em 2019, segundo o novo relatório do FMI (WEO2019).



Taxa de crescimento anual do PIB da Nicarágua: 1994-2022

Fonte: FMI, WEO, abril/2019 https://www.imf.org/external/datamapper/datasets/WEO


A renda per capita da Nicarágua que estava abaixo de US$ 3 mil (só acima da renda do Haiti) subiu nos anos 2000 e chegou a US$ 5,3 mil em 2017. Contudo, ao invés de subir para a casa de US$ 6 mil como previu o relatório WEO2018 do FMI, a renda per capita caiu em 2018 e deve ficar abaixo de US$ 5 mil nos próximos anos, de acordo com os dados do relatório WEO2019, conforme mostra o gráfico abaixo.


Renda per capita (em preços constantes – ppp) da Nicarágua: 1994-2022


Fonte: FMI, WEO, abril/2019 https://www.imf.org/external/datamapper/datasets/WEO



O que mudou foi o agravamento das condições de vida da população e o surgimento de uma “nova revolução” que está em curso na Nicarágua, quando o povo se mobiliza contra a FSLN e, especialmente, contra o governo de Daniel Ortega e sua esposa (e vice-presidente).

Em meados de abril de 2018, centenas de milhares de nicaraguenses tomaram as ruas da capital Manágua para protestar contra as medidas econômicas do governo. A resposta governamental foi implacável: por meio de prisões (há 647 presos políticos), torturas, violências sexuais contra manifestantes presas e centenas de assassinatos (cerca de 550 mortos).

Entre os mortos estava a estudante brasileira Raynéia Gabrielle Lima, de 31 anos, vítima de disparos efetuados por um grupo paramilitar no sul de Manágua. As manifestações ocorridas nas jornadas de junho de 2013 no Brasil foram fichinha perto do que acontece na Nicarágua a partir de abril de 2018.

O ex-revolucionário sandinista agora é alvo da ira popular. Mas Daniel Ortega tem também outras manchas no currículo. O documentário “Exiliada”, conta a história de Zoilamérica Narváez Murillo, abusada pelo padrasto durante 12 anos, desde que tinha 11 (hoje tem 52). A mãe de Zoilamérica é Rosario Murillo e o padrasto é Daniel Ortega. Segundo denúncias da enteada do presidente da Nicarágua apresentada em 1998, quando já estava com 31 anos, ele abusava dela nos closets de quartos de hotéis em que se hospedava durante as assembleias gerais da ONU em Nova York. Tudo isto com apoio de Rosario Murillo, que abandonou a filha à própria sorte, favorecendo o companheiro e seu projeto de poder.

O fato é que o governo da Nicarágua está em franco confronto com o povo do país. O escritor Eric Nepomuceno, que participou e apoiou a Revolução Sandinista desde o início, hoje tem uma visão extremamente crítica à Dinastia Ortega e à atuação do presidente. Em artigo no sítio Carta Maior ele diz: “Um traidor é e sempre será um traidor. Mas há traidores de pior categoria. José Daniel Ortega Saavedra pertence, com méritos, a essa espécie”.


José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br



Referência:
Eric Nepomuceno. Daniel Ortega: uma história de traição, Carta Maior, 13/06/2018
https://www.cartamaior.com.br/?/Editoria/Politica/Daniel-Ortega-uma-historia-de-traicao/4/40589



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 26/04/2019




Autor: José Eustáquio Diniz Alves
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 26/04/2019
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2019/04/26/o-colapso-economico-e-politico-do-regime-de-daniel-ortega-na-nicaragua-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/

quarta-feira, 24 de abril de 2019

Conselho Federal de Medicina adota novo Código de Ética em resposta a avanços tecnológicos e científicos



Os diretores do CFM explicaram aos jornalistas o processo de atualização dos princípios éticos da Medicina — Foto: Conselho Federal de Medicina (CFM)


Um novo conjunto de normas passa a orientar a atividade profissional dos médicos no Brasil, inclusive nas suas relações com os pacientes. O Conselho Federal de Medicina (CFM) atualizou o seu Código de Ética Médica. Em coletiva de imprensa nesta terça-feira (23), em Brasília, os diretores da organização comentaram as principais novidades.


Entre elas, está a preservação do sigilo profissional na relação entre médico e paciente. De acordo com o CFM, a atualização do código era necessária justamente por causa dos novos contextos na relação dos médicos com a sociedade, especialmente em meio a avanços tecnológicos e científicos.



“No nosso Código de Ética Médica, estes valores estão presentes: dignidade, privacidade, imagem, intimidade e honra”, disse José Eduardo de Siqueira, membro da Comissão Nacional de revisão do documento.


O texto menciona, por exemplo, o respeito à autonomia do paciente, especialmente em casos terminais. O artigo 41 diz: "Nos casos de doença incurável e terminal, deve o médico oferecer todos os cuidados paliativos disponíveis sem empreender ações diagnósticas ou terapêuticas inúteis ou obstinadas, levando sempre em consideração a vontade expressa do paciente ou, na sua impossibilidade, a de seu representante legal."


Outra novidade é a obrigação da elaboração de um "sumário de alta", que precisa ser entregue ao paciente quando for solicitado. Trata-se de um documento que resume a situação do paciente e deve ajudar numa eventual transição ou continuidade de tratamentos. Também melhora a comunicação entre médicos de diferentes áreas.



Respeito ao médico



O código também orienta o respeito ao médico com deficiência ou doença crônica, assegurando-lhe o direito de exercer suas atividades profissionais nos limites de sua capacidade, e cita situações em que os médicos possam recusar atendimentos, como em locais com condições precárias, que os exponham a riscos, assim como os pacientes.


O texto toca, ainda, no tema das novas tecnologias na área de saúde. Ficou definido que o uso das mídias sociais pelos médicos será regulado por meio de resoluções específicas, o que valerá também para a oferta de serviços médicos à distância, mediados por tecnologia.


No âmbito das pesquisas em medicina, continua proibido o uso de placebos quando houver métodos de tratamento eficazes.


O documento é, na verdade, uma versão atualizada de um conjunto de princípios que estabelece os limites, os compromissos e os direitos assumidos pelos médicos no exercício da profissão. Levou quase três anos para ser reelaborado e entra em vigência no dia 30 de abril.


Segundo o CFM, o trabalho teve a participação de toda a categoria médica, através de entidades ou por manifestação pessoal dos médicos.




Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 23/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/04/23/conselho-federal-de-medicina-adota-novo-codigo-de-etica-em-resposta-a-avancos-tecnologicos-e-cientificos.ghtml

Terremoto em Marte é detectado pela primeira vez



Missão da Nasa quer descobrir as características do interior do planeta vermelho — Foto: Roberta Jaworski/G1


Quase um ano após ser enviado a Marte, um sismógrafo da missão americana InSight registrou em 6 de abril pela primeira vez um terremoto no planeta vermelho. O anúncio foi feito nesta terça-feira (23) pela agência espacial francesa CNES, responsável pelo sismômetro que detectou o fenômeno.


"É formidável finalmente ter um sinal de que ainda há uma atividade sísmica em Marte", disse Philippe Lognonné, pesquisador do Instituto de Física da Terra de Paris. "Estávamos esperando há meses o nosso primeiro terremoto marciano", acrescentou o "pai" deste sismógrafo francês SEIS (Seismic Experiment for Interior Structure).


O aparelho foi instalado em 19 de dezembro em solo marciano, graças a um braço robótico da sonda InSight, que chegou ao planeta vermelho em 26 de novembro.


O objetivo da operação é, por meio de registro de terremotos, estudar a história da formação de Marte. E mesmo se esse primeiro tremor foi muito fraco para fornecer dados úteis sobre o interior do planeta, ele "marca o nascimento oficial de uma nova disciplina: a sismologia marciana", segundo Bruce Banerdt, cientista-chefe da missão dentro Nasa.


De acordo com os cientistas, ainda é necessário confirmar se o terremoto foi registrado dentro do planeta e se não foi o efeito do vento ou de outras fontes de ruído. Três outros sinais, mas ainda mais fracos que o de 6 de abril, foram detectados nos últimos dois meses.


Marte não possui placas tectônicas, elemento que geralmente está na origem dos tremores na Terra. Mas os dois planetas, assim como a Lua, podem registrar um outro tipo de fenômeno sísmico, provocado por falhas ou fraturas em sua superfície. O excesso de peso ou condições ligadas ao resfriamento podem contribuir para esse tipo de tremor.



Nova missão da Nasa quer investigar o interior o planeta vermelho — Foto: Nasa




Autor: RFI
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data: 23/04/2019
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2019/04/23/terremoto-e-detectado-em-marte-pela-primeira-vez.ghtml

Dicas para um consumo adequado de ovos de Páscoa por crianças

Um dos símbolos emblemáticos da Semana Santa são os ovos de chocolate, favoritos das crianças durante o domingo de Páscoa. Por esse motivo, a equipe da Coordenação Técnica de Nutrição do IFF/Fiocruz, composta pelas nutricionistas: Vivian Lima, Samira Fernandes, Jessica Val e Luísa Cunha, deu suas recomendações em relação ao consumo de ovos de Páscoa por crianças.

Meu filho pode comer chocolate? Em qual quantidade? Qual o melhor chocolate? são dúvidas comuns que os pais têm quanto aos ovos de Páscoa, e que as especialistas em nutrição do IFF/Fiocruz esclarecem:

De acordo com o Guia Alimentar para Crianças menores de 2 anos, do Ministério da Saúde (MS), alimentos que contêm açúcar de adição, como os chocolates, não são recomendáveis como saudáveis na dieta de uma criança nessa faixa etária, e para as crianças acima dessa idade não há quantidade de açúcar estabelecida que elas possam ingerir por dia. Porém, sabe-se que após os dois anos este consumo deve ser moderado.

Uma das dicas para os pais nesta época é combinar com os familiares e amigos a quantidade de chocolate que a criança acima de dois anos ganhará, para que não ocorram exageros. Também estabelecer para o filho a quantidade de chocolate que será ingerida nesse dia, não deixando os ovos de Páscoa ao alcance dos pequenos. Opte por ovos que não tenham recheios, pois eles têm menos calorias que os outros. As profissionais da nutrição do IFF/Fiocruz também recomendam na hora da compra, olhar os rótulos nutricionais, comparar quais são os mais saudáveis para preferir os baixos em calorias e em açúcar, e aqueles que utilizem maior porcentagem de cacau em sua composição. 

Ovos de Páscoa

Para famílias com crianças que possuem alergias ou intolerâncias alimentares, a leitura do rótulo se torna ainda mais importante para que não ocorram erros no momento da compra. Nesses casos, de acordo com as restrições da criança, é possível optar por chocolates diet, de soja ou sem lactose, hoje, o mercado oferece essas alternativas. Quando não for possível encontrar essas opções, os familiares podem realizar preparações culinárias com os alimentos permitidos e favoritos das crianças, e fazer brincadeiras tipo “caça ao tesouro” utilizando como tema a Páscoa, sem envolver o chocolate ou brincando com os pequenos com ovos de plásticos, também disponíveis no mercado. Esta dica não vale somente para casos de alérgicos e/ou intolerantes, mas para todos que querem substituir o chocolate, nesta data festiva, ressalta a equipe de nutricionistas do Instituto.

É importante lembrar que na Páscoa as crianças não só terão como opção os chocolates. O café da manhã, almoço e jantar já somam opções deliciosas que oferecem um valor nutricional nesse dia. Por isso, também se sugere aos pais contemplar outras opções que possam distrair a atenção das crianças quanto ao consumo inadequado de chocolates, como são por exemplo, brincadeiras de desenhos para colorir, associados à imagem do coelho, não apenas limitá-los aos ovos de chocolate. A criatividade dos pais é importante, pois, há muitas coisas que também atraem a atenção dos filhos pequenos.




Autor: Mayra Malavé
Fonte: IFF/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 18/04/2019
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/dicas-para-um-consumo-adequado-de-ovos-de-pascoa-por-criancas