sexta-feira, 29 de agosto de 2025

Estande da FAPERJ é palco de palestras sobre projetos inovadores no Rio Innovation Week


Débora Motta


Dois projetos de inovação social na Rocinha em destaque no estande da Fundação: à esq., a presidente da FAPERJ, Caroline Alves, com Marcelo Santos, do Sabão Amigo; e a equipe do projeto Rocinha Mais Sustentável, coordenada por Davison Coutinho (ao centro), exibindo souvenirs de plástico reciclado (Fotos: Divulgação/FAPERJ)

Como parte das comemorações pelo aniversário de 45 anos da FAPERJ, a Fundação participou, de 12 a 15 de agosto, da 5ª edição do Rio Innovation Week com um estande próprio, instalado no Armazém 4, no Píer Mauá. Ponto de encontro entre empreendedores, pesquisadores e autoridades, o estande foi palco de uma programação intensa de 33 palestras, com cases de sucesso de projetos científicos e tecnológicos inovadores desenvolvidos com apoio da Fundação. Neste ano, a novidade foi o “Passaporte da Ciência”, iniciativa lúdica em que os participantes receberam carimbos ao visitarem os diferentes espaços das instituições vinculadas à Secretaria estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI) – Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj), Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec), Universidade do Norte Fluminense (Uenf), Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e FAPERJ, além da própria SECTI. Ao completarem o passaporte com todos os carimbos, foram recompensados com brindes e participaram de sorteios no estande da FAPERJ. Outra atração foi a realização de um quiz com os visitantes, que testaram seus conhecimentos com perguntas sobre o universo científico e tecnológico, escolhidas após girarem a roleta.

Entre os diversos temas apresentados, estiveram em pauta as diferentes aplicações da Inteligência Artificial e das técnicas de impressão em 3D para o desenvolvimento de produtos inovadores, a importância das políticas de fomento direcionadas ao empreendedorismo, à inovação tecnológica e social, além dos relatos das conquistas e desafios para inserção no mercado de representantes de startups e empresas juniores. A professora Maitê Vaslim, do Departamento de Virologia do Instituto de Microbiologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IMPG/UFRJ), compartilhou sua experiência no desenvolvimento de bioinsumos para proteger as plantas dos ataques causados por fungos e viroses, com o objetivo de aumentar a produtividade agrícola e minimizar as doenças no campo, de forma sustentável.

“Hoje, temos cerca de quatro mil toneladas de pesticidas no mundo, anualmente. No Brasil, são 719,5 mil toneladas de agrotóxicos por ano e, mesmo com o uso desses pesticidas, cerca de 40% daquilo que é plantado é perdido com doenças”, justificou. Maitê lembrou que em 2021 nasceu a startup Tolveg, fundada pelas suas ex-alunas Mariana Collodetti e Caroline Montebianco, com apoio da FAPERJ, por meio de editais como o Doutor Empreendedor. Entre os produtos da Tolveg estão o bioestimulador Hariman, concebido para dar maior tolerância aos vegetais, para que tenham mais resistência às pragas comuns no campo.


No estande da FAPERJ, o público girou a roleta e participou de um quiz, testando o conhecimento científico e tecnológico. Outra novidade foi o Passaporte da Ciência, que estimulou a visita aos diferentes espaços das instituições vinculadas à SECTI (Fotos: Divulgação/FAPERJ)


Outro destaque foi a palestra do estudante de Engenharia Matheus Afonso, da Uerj, campus regional de Resende, que refletiu sobre o tema “Por que contratar uma empresa júnior pode ser o melhor negócio que sua organização vai fazer esse ano?”. Presidente da RioJunior, a Federação das Empresas Juniores do Estado do Rio de Janeiro, ele palestrou sobre as vantagens da inserção das empresas juniores no mercado. “O nosso estado possui 76 empresas juniores federadas, com uma mão de obra jovem, cheia de energia e qualificada, a um custo-benefício imbatível. Alcançamos um faturamento de R$ 23 milhões de 2022 a 2024. Dos aproximadamente dois mil empresários juniores, estima-se que 58% são mulheres empreendedoras”, pontuou. “Contratar empresas juniores gera benefícios tanto para o ecossistema empreendedor como para as universidades, com projetos de jovens talentos que geram impactos diretos na sociedade”, completou.

Produtos rurais inovadores que geram desenvolvimento regional, e estão em vias de obter o selo de Indicação Geográfica (IG), foram o tema das apresentações de Thamyres Freire, representante da “Santa Farofa” – farinha de mandioca típica de São Francisco de Itabapoana –, e de Graziela Passarelli, coordenadora da produção de arroz-anã de Porto Marinho. Esta comunidade pertence ao pequeno distrito de São Sebastião do Paraíba, no município fluminense de Cantagalo, às margens do Rio Paraíba do Sul. Contempladas pela FAPERJ no edital Apoio à Promoção de Indicações Geográficas no Estado do Rio de Janeiro, elas destacaram a importância do reconhecimento dos seus produtos com o selo, que chancela a originalidade de produtos tradicionais vinculados a determinados territórios. “Na região de Porto Marinho, a produção de arroz-anã é fundamental para gerar uma alternativa de trabalho e dar a oportunidade de nossos filhos continuarem trabalhando em nossa terra, sem precisarem migrar para a cidade grande. Que eles tenham a chance de escolher ficar e não precisem ir embora”, disse Graziela.

O biólogo Vander Luna, do grupo Kovalent Esportes, sediado em Niterói, falou sobre os equipamentos de nutrição do futuro. De forma didática, ele realizou testes de hidratação com o público no estande da FAPERJ, a partir da aferição rápida da saliva, e detalhou as funções dos outros equipamentos inovadores da empresa. “Com o point-of-care de Bioquímica, obtemos em apenas 12 minutos, com uma gotinha de sangue retirada do dedo, dados sobre a glicose, CK Total, ureia, creatina, LDH e eletrólitos, por exemplo. Esse e outros equipamentos rápidos e portáteis, alguns com resultados em um ou dois minutos, vão ajudar a revolucionar os critérios para o monitoramento da saúde de atletas”, explicou.


O biólogo Vander Luna, do grupo Kovalent Esportes, movimentou o estande da FAPERJ com a realização de testes rápidos para aferir o nível de hidratação do público, por meio da coleta da saliva. Ele também apresentou outros equipamentos inovadores na área da Saúde (Foto: Mirian Dias/FAPERJ)


A gestora Jéssica Rodrigues, da Baby Move, apresentou uma tecnologia inédita para a saúde de bebês: uma cinta capaz de monitorar os batimentos cardíacos e outros sinais do feto ainda na barriga da mãe. Mãe de dois bebês prematuros e casada com um obstetra, Jéssica partiu da sua experiência pessoal para criar o produto, que já tem registro de patente e deve chegar ao mercado em 2026. “Com o auxílio da Inteligência Artificial, a cinta acoplada ao corpo da mãe e conectada a um aplicativo no celular da gestante identifica os batimentos maternos e fetais de forma separada, sendo uma ferramenta importante para a detecção precoce de problemas de saúde. O objetivo é que ela seja utilizada como uma ferramenta aliada ao trabalho dos médicos, complementando os cuidados”, disse. Ela e o seu marido, Cristiano Salles, contam com o apoio da FAPERJ, pelo edital Doutor Empreendedor.

Ainda na área de inovação para a Saúde, o biomédico Anael Viana, do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), discorreu sobre a construção de bioimpressora em 3D e biotintas para a Medicina regenerativa. A tecnologia de bioimpressão 3D permite obter tecidos biológicos artificiais com potencial para aplicação na pesquisa biomédica, na saúde humana e animal e na indústria de alimentos. Ele explicou que o equipamento funciona de forma semelhante a uma impressora 3D convencional. Mas, enquanto a impressora 3D utiliza materiais como plásticos para imprimir objetos, a bioimpressora utiliza biotinta para imprimir estruturas semelhantes a tecidos biológicos em laboratório. “A biotinta funciona como uma matriz extracelular. Ela é composta de células vivas imersas em hidrogel de biopolímeros. Este material rico em proteínas, como o colágeno, promove a adesão das células, de forma similar ao que ocorre no organismo, e possibilita a realização de diversos testes científicos”, resumiu Viana.


O presidente do Conselho Municipal de CT&I de Nova Friburgo, Marcelo Verly, destacou a importância do desenvolvimento do interior fluminense para reduzir as assimetrias regionais (Foto: Divulgação/FAPERJ)


Representando os empreendedores que desenvolvem projetos de inovação social na Rocinha, com suporte da Fundação, estiveram entre os palestrantes Davison da Silva Coutinho, que falou sobre o trabalho da associação de catadores de lixo reciclável da comunidade, e Marcelo Santos, conhecido como Marcelinho do Ciep, da Sabão Amigo, que coordena a coleta óleo de cozinha usado para a fabricação de sabão ecológico.

Coutinho explicou que o projeto Rocinha Mais Sustentável – uma iniciativa da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), no Núcleo de Estudos e Ação Mundo da Juventude (Neam/PUC-Rio), e do coletivo Tamo Junto Rocinha recolhe 200 toneladas de lixo por dia. “Criamos a partir do plástico reciclado produtos para turistas na Rocinha, souvenirs artesanais, como porta-copos e casinhas de empilhar. Esse trabalho, financiado pelo Favela Inteligente e concorrendo no edital PISTA, ambos da FAPERJ, recebeu o Prêmio Periferia Viva 2024”, contou. Já Marcelinho do Ciep, da empresa Sabão Amigo, detalhou os impactos sociais do projeto. “Esse esforço de reaproveitamento de óleo de cozinha tem gerado benefícios para toda a comunidade e até ajudou a despoluir a praia de São Conrado, que recebia em suas águas os dejetos de óleo usado. São mais de mil litros de óleo usado recolhidos por mês, e também realizamos oficinas de empoderamento feminino, pois sabemos que a maioria dos lares na Rocinha é coordenada por mulheres”, completou.

Presidente do Conselho Municipal de Ciência, Tecnologia e Inovação de Nova Friburgo, Marcelo Verly falou sobre o papel da inovação para o desenvolvimento de Nova Friburgo e da região Centro-Norte fluminense. “Temos uma região com muitas potencialidades, mas que tem como desafio a evasão de mão de obra. Em 2012, foi criado o movimento Serra do Silício, para gerar alternativas regionais de desenvolvimento. É bom lembrar que os estados que mais se fortaleceram no País são aqueles nos quais o interior também é desenvolvido, além da capital. Precisamos trabalhar para reduzir as desigualdades regionais no interior fluminense”, destacou.


Autor: faperj
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 18/08/2025
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=837.7.0

Programa HUB RJ, usina de startups, abre espaço a novos empreendedores

Marcos Patricio


Empreendedores selecionados na primeira fase do programa HUB RJ Startup 2025 e pesquisadores contemplados em outros editais da FAPERJ apresentaram seus projetos no Palco HUB (Fotos: Marcos Patricio)

Utilizado de forma compartilhada pelas instituições vinculadas à Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação (SECTI), o Palco HUB foi a casa do programa HUB RJ Startup 2025 no Rio Innovation Week. Voltado ao empreendedorismo e à inovação, o espaço recebeu uma programação especial, com apresentações de projetos já apoiados pela FAPERJ e de propostas ainda em fase embrionária, que acabaram de ser contempladas no edital HUB RJ Startup 2025, lançado oficialmente em março deste ano pela SECTI e a FAPERJ.

Durante os quatro dias do RIW 2025, os autores dos 246 projetos selecionados para a primeira das três etapas do programa HUB RJ Startup 2025 tiveram a oportunidade de fazer o chamado pitch 00. Uma espécie de apresentação-piloto com no máximo 3 minutos de duração, um ensaio para o primeiro pitch oficial, que será realizado provavelmente em outubro, após um período de mentorias e treinamentos.

Projetos destinados a trazer soluções para as mais variadas demandas foram apresentados ao longo do evento. De reciclagem de tecidos e customização de peças de vestuário à utilização de drones no combate a incêndios florestais; da impressão 3D de próteses à plataforma para aluguel de vagas e quartos para estudantes, as propostas foram demonstradas com entusiasmo pelos participantes.

Coordenador-geral do HUB RJ Startup 2025, Rogério Pires destacou a importância de os selecionados no edital levarem suas propostas ao palco HUB. “Tanto para nós, que somos responsáveis pelo programa, como para os autores, que estão iniciando o desenvolvimento dos projetos, é sensacional ter a oportunidade de participar de um evento como o Rio Innovation Week. Eles estão estreando com o pé direito e nós estamos começando a fazer o processo de avaliação deles”, afirmou.


A professora Eliane Cipolatti, da UFRRJ, foi uma das pesquisadoras convidadas dentro da programação da FAPERJ no Palco HUB. Espaço recebeu cases de sucesso e projetos apoiados pela Fundação


Já o coordenador-executivo do HUB, Jose Wilson Coura Pinto, falou sobre as etapas do programa, que terá 64 semanas e será dividido em três fases. “Todas as apresentações estão sendo filmadas e estes pitches 00 servirão como um diagnóstico de chegada das propostas. Esta primeira fase, com foco no empreendedor, será realizada ao longo de 12 semanas. Nesse período, serão realizados treinamentos semanais”, explicou. O Sebrae-RJ (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Rio de Janeiro) dará um curso de formação de empreendedores aos participantes. Agentes de inovação farão as mentorias.

Dos 246 projetos iniciais, até 150 serão selecionados para a segunda etapa, focada nas ideias e com duração de 20 semanas. Serão investidos até R$ 30 mil em cada um deles. A terceira e última fase terá como foco o desenvolvimento e validação do produto ou serviço e terá duração de 32 semanas, com fomento de até R$ 50 mil para cada projeto.

Apoio à inovação e às cientistas mulheres

Além de levar as propostas do HUB RJ Startup 2025 para o Palco, a FAPERJ convidou vários pesquisadores empreendedores, que apresentaram projetos que já estão sendo apoiados por diferentes editais da Fundação na área de Tecnologia, como o "Doutor Empreendedor" e o “Pesquisador na Empresa”. As apresentações foram acompanhadas por vários dos contemplados no edital HUB RJ Startup ao longo dos quatro dias de evento. Foram exibidos cases de sucesso em inovação, como o da MF Papaya, que desenvolveu um projeto de sexagem de sementes que vem aumentando a produtividade do cultivo de mamão. O trabalho foi apresentado pela pesquisadora Fernanda Arêdes, CEO da startup.

A professora Eliane Cipolatti, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), apresentou o projeto de aproveitamento de abacates que seriam descartados e são usados para fabricação de bioprodutos sustentáveis. O trabalho é realizado em parceria com pesquisadoras de instituições peruanas. A equipe é formada por 20 cientistas e técnicas, sendo 17 mulheres. O projeto de Eliane é apoiado pelo edital Jovem Cientista Mulher.


A FAPERJ também levou diversas ações ao Rio Innovation Week, como o trabalho realizado pela Comissão Permanente de Equidade, Diversidade e Inclusão. Atuação do grupo já deu origem a editais que contribuem para a diversidade na Ciência


A participação feminina foi o tema central do painel “Mulheres na Ciência – O papel estratégico da FAPERJ”, mediado pela professora da Universidade Federal Fluminense (UFF), Letícia Oliveira, presidente da Comissão Permanente de Equidade, Diversidade e Inclusão da FAPERJ. Letícia recebeu no Palco HUB três pesquisadoras contempladas em editais que foram lançados pela Fundação como resultado das ações da Comissão, criada em 2023. “É importante destacar o potencial de alcance desses editais, que proporcionam inclusão, equidade e diversidade na Ciência”, afirmou Letícia.

Letícia conversou com as pesquisadoras Ana Lúcia Nunes de Sousa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Georgiana Feitosa da Cruz, da Universidade Estadual do Norte Fluminense (Uenf); e Luana de Almeida Rangel, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). “Quando você apoia uma cientista mulher, você apoia muitas outras, porque as mulheres vêm juntas nesse processo”, ressaltou Ana Lúcia Sousa, lembrando o caráter multiplicador dos programas.

Na sexta-feira, 15 de agosto, último dia da RIW 2025, a FAPERJ recebeu novos convidados. Marcelo Corenza, assessor da Diretoria de Tecnologia da Fundação, e o professor Henrique da Hora, diretor da TEC Campos, participaram de um bate-papo sobre a capacidade transformadora da inovação, no painel “Academia + Empresa = Inovação que Transforma”.

Instalado no Espaço RIW Disruptivo, no Armazém 5 do Pier Mauá, o palco HUB foi compartilhado pelas instituições vinculadas à SECTI. Representantes da Fundação de Apoio à Escola Técnica (Faetec) e da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Fundação Cecierj) levaram projetos de inovação para o palco e para as bancadas do espaço. Pesquisadores da Uerj e da Uenf também apresentaram uma série de projetos com diferentes soluções tecnológicas para demandas do estado do Rio de Janeiro. 



Autor: faperj
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 18/08/2025
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=835.7.8

Pesquisa conduzida no JBRJ alerta para extinção de espécies

Paula Guatimosim
Paisagem da Caatinga, um dos domínios fitogeográficos, ao lado da Amazônia, com maior potencial para novas descobertas (Foto: Ricardo Moura)

A análise do padrão histórico de descrição das espécies nativas de angiospermas (plantas com flores) no Brasil num intervalo de 267 anos (entre 1753 e 2020), com base em dados taxonômicos publicados, revela que apesar de o Brasil ser historicamente um dos países que mais descrevem novas espécies, centenas delas podem ser extintas antes mesmo de serem descritas. O estudo mostra que o catálogo taxonômico brasileiro está longe de ser completo. Ao analisar cerca de 33 mil espécies nativas distribuídas nos seis grandes domínios fitogeográficos do país, verificou-se que os atuais esforços de coleta e descrição são insuficientes frente ao ritmo acelerado da perda de habitat.

A pesquisa, conduzida no Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ), considerou dezenas de milhares de registros, utilizando modelos estatísticos que incorporam o esforço de pesquisa taxonômico ao longo do tempo e as datas de descrição das espécies para estimar o quanto da flora brasileira ainda permanece desconhecida. Na sequência, foi analisada a variação espacial do potencial de descoberta e da completude taxonômica em todo o território nacional, comparando as áreas com maior número estimado de espécies não descritas com a rede atual de áreas protegidas, a fim de avaliar como as prioridades de conservação poderiam mudar se todas as espécies já fossem conhecidas.

“Tesouros ocultos” é o termo que os autores do artigo, publicado no periódico científico PLOS One, usaram para se referir às espécies de plantas ainda não descritas pela ciência. Sem um nome científico, essas espécies tornam-se invisíveis para políticas de conservação e pesquisa – é como se não existissem oficialmente. “Sem um nome científico, uma espécie torna-se invisível para a ciência, ficando excluída de políticas públicas, estratégias de conservação e mesmo de pesquisas básicas e aplicadas”, alerta a pesquisadora Janaina Gomes da Silva mestre e doutora em Ciências Biológicas (Botânica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela contou com bolsa de Pós-Doutorado Sênior da FAPERJ ao longo de todo o período do seu estudo. Um domínio fitogeográfico se refere a uma região geográfica onde certas condições morfoclimáticas prevalecem e onde um tipo particular de vegetação é predominante, embora vários tipos de vegetação possam coexistir dentro dela. A Amazônia, especialmente em áreas remotas ainda inexploradas, e a Caatinga aparecem como as regiões com maior potencial para novas descobertas, mas com cobertura insuficiente por Unidades de Conservação (UCs), sobretudo no caso da Caatinga.

Janaína acredita que o estudo reforça a urgência de políticas públicas mais estratégicas e coordenadas para a coleta, catalogação e conservação da flora brasileira. A criação ou expansão de Unidades de Conservação em áreas críticas pode ser decisiva para evitar perdas irreversíveis. “Além disso, ao identificar lacunas espaciais no conhecimento florístico do país, fornecemos direções para futuras expedições científicas e ações de conservação. Isso representa uma contribuição prática e imediata para gestores, cientistas e tomadores de decisão”, afirma.


Inflorescência de Dyckia Schult. & Schult.f. (Pitcairnioideae, Bromeliaceae), angiosperma encontrada na Ilha do Cardoso/SP (Foto: Janaina Gomes)

Angiospermas
Angiospermas são as plantas que produzem flores e frutos, dentro dos quais ficam protegidas suas sementes. Estão presentes no nosso dia a dia de várias formas: nas árvores das florestas, nos alimentos, nos jardins, nas hortas e até em plantas com propriedades medicinais. São o grupo mais diverso de plantas existentes e dominam os biomas terrestres, particularmente importantes para a diversidade taxonômica no Brasil, que é o país com maior diversidade florística do mundo, com aproximadamente 33.609 espécies nativas de angiospermas, incluindo 19.247 espécies endêmicas e 341 gêneros exclusivos do Brasil. Além de seu valor para a biodiversidade, as angiospermas fornecem serviços ecossistêmicos essenciais, como a regulação do ciclo hidrológico, a produção de oxigênio e o armazenamento de carbono. Árvores e outras plantas vasculares armazenam grandes quantidades de carbono em seus tecidos, ajudando a reduzir o CO2 atmosférico e a mitigar as mudanças climáticas. Conservar e manejar as angiospermas de forma sustentável contribui diretamente para a preservação do planeta e para garantir um clima mais estável.

Quando o desmatamento atinge áreas pouco amostradas, é possível perder espécies únicas, antes mesmo de conhecê-las. A pesquisa estima que o catálogo de angiospermas do Brasil ainda esteja incompleto em pelo menos 19% a 23%, com lacunas que variam de 4% a 39% entre os diferentes domínios fitogeográficos. Ou seja, ainda há muitos “tesouros” botânicos escondidos, espécies desconhecidas que precisam ser descobertas, descritas e conservadas antes que desapareçam. O fato de os diferentes métodos empregados no estudo apontarem para as mesmas regiões – em especial, a Amazônia e a Caatinga – com o maior número estimado de espécies não descritas, indica que tais regiões deveriam ser priorizadas para pesquisa taxonômica e conservação. Segundo Janaina, finalizar o catálogo de espécies pode trazer muitos benefícios práticos, além de avanços científicos. “Uma melhor compreensão da diversidade vegetal tem implicações diretas para setores como agricultura, biotecnologia e indústria farmacêutica”, acrescenta.

Os resultados revelam um grande desequilíbrio no conhecimento botânico entre regiões do Brasil. Enquanto o Sudeste tem inventários relativamente completos, o Norte e o Nordeste, especialmente a Amazônia, ainda são amplamente subamostrados. Cerca de 45% da Amazônia brasileira não possui registros de coleta, o que aponta para zonas críticas que carecem de atenção urgente. Aproximadamente 80% das áreas com alto potencial de descoberta não coincidem com áreas protegidas (UCs) no Brasil. Em particular, a Caatinga, que carece de cobertura de proteção integral em áreas de alto potencial de descoberta, apesar de sua rica biodiversidade. Isso destaca a necessidade de expandir e redesenhar estratégias de conservação para incluir regiões negligenciadas pela atual rede de áreas protegidas. Embora a Amazônia concentre a maior parte das áreas protegidas do Brasil (~28%), outras, como a Caatinga, permanecem sub-representadas, com apenas 1,3% sob proteção integral. “Notavelmente, cerca de 50% das áreas com maior potencial para a descoberta de novas espécies estão localizadas em terras indígenas. Isso destaca o papel fundamental desses territórios”, alega Janaina.


Janaina Gomes: para a pesquisadora, identificar lacunas espaciais no conhecimento florístico do país é uma contribuição para gestores, cientistas e tomadores de decisão

Foi literalmente voando que Janaina Gomes se encantou pela Botânica. Ela conta que sempre admirou a riqueza natural brasileira, por sua biodiversidade moldada por clima, relevo e história geológica que serve de palco para uma das mais diversas floras do mundo. “Foi esse cenário que me capturou para a ciência de forma quase poética: um sequestro feliz, do qual me recusei a querer me libertar". Ela explica que seus primeiros passos profissionais foram voltados à aviação. Durante anos pilotou aviões. Mas foi olhando pela janela de uma cabine, durante voos sobre o Pampa gaúcho, sua terra natal, que se viu fascinada pela paisagem abaixo, mais do que pelo painel de controle. “Aquela visão aérea despertou perguntas que seguem guiando minha pesquisa até hoje: o que explica tanta diversidade entre os biomas? Por que algumas espécies existem apenas em certas regiões? Como evoluíram? Que histórias o DNA e a morfologia das folhas e flores podem nos contar? Como contam a história evolutiva do planeta?" Por um tempo ela tentou conciliar as duas carreiras, mas a Ciência a arrebatou por completo.

Eimear Nic Lughadha, pesquisadora do Royal Botanic Gardens Kew, localizado a sudoeste de Londres, coautora do artigo, complementa: “Cada espécie perdida por extinção representa um custo de oportunidade (não sabemos o que perdemos), enquanto cada espécie descrita para a ciência representa um ativo de potencial importância para a bioeconomia emergente do Brasil”.

Para a também coautora do estudo, a pesquisadora do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (JBRJ) Rafaela Forzza, coordenadora dos projetos Reflora e Flora & Funga do Brasil e bolsista do programa "Cientista do Nosso Estado" da FAPERJ, é preciso mais investimento na ciência de catalogação da biodiversidade brasileira. "Muitos dos locais apontados pelo artigo, especialmente na Amazônia, são de difícil acesso e sem recursos para a realização de expedições de coleta não conseguiremos atingir 100% da catalogação. Além disso, a devastação anda mais rápido que a ciência, infelizmente. Precisamos urgentemente diminuir a perda de vegetação nativa em todo o território brasileiro", diz.

Em síntese, a pesquisa evidenciou um descompasso crítico entre o ritmo da descoberta de espécies e a velocidade da destruição de habitats, com implicações diretas para a ciência, o planejamento territorial e a formulação de políticas ambientais eficazes. “Ignorar essa lacuna é aceitar que muitas espécies desaparecerão silenciosamente, sem nunca terem sido vistas, nomeadas ou estudadas, um apagamento irreversível do nosso patrimônio natural e do conhecimento que poderia gerar”, alerta Janaina. As pesquisadoras defendem uma estratégia nacional coordenada para catalogar a diversidade vegetal, com foco na Amazônia, que inclua o financiamento contínuo à pesquisa, a formação e contratação de taxonomistas e o uso de tecnologias como drones e sensoriamento remoto para acessar áreas remotas.



Autor: faperj
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 28/08/2025
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=829.7.6

Epidemia das apostas online

Enganei toda minha família. Desviei dinheiro da empresa do meu pai, da qual eu era sócio há mais de 15 anos. Cheguei ao ponto de vender minha casa para jogar. Contraí dívidas com bancos e agiotas. Tive momentos em que pensei em tirar minha própria vida”.

O depoimento do empresário André Holanda Rodrigues Rolim, feito durante audiência pública da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Apostas Esportivas, revela a dimensão devastadora do problema vivido por milhões de brasileiros que caíram no vício das apostas online.

Criada em outubro de 2024 pelo Senado Federal, a chamada “CPI das Bets” investigou irregularidades no setor. Em junho de 2025, após oito meses de apuração, recomendou o indiciamento de 16 pessoas, entre empresários, donos de plataformas e influenciadores digitais. Apesar das evidências, o relatório acabou arquivado (12/6) numa sessão bem esvaziada (veja abaixo).


De aparência inofensiva, as apostas online, popularmente conhecidas como bets do termo em inglês “bet”, que significa aposta tornaram-se um fenômeno de massa no Brasil. Com a promessa de ganhos rápidos e acessíveis por meio de qualquer celular, as plataformas se espalharam com velocidade. Nas ruas, transportes públicos, locais de trabalho e até nas salas de aula, é cada vez mais comum ver apostadores conectados. A exigência de maioridade é facilmente burlada.

“As plataformas de aposta são desenhadas para gerar dependência. A facilidade de acesso, a ampla divulgação e a lógica de recompensa imediata contribuem para criar um ambiente propício ao vício. Isso está levando milhões de brasileiros a uma espiral de perdas financeiras, isolamento social e sofrimento psíquico”, afirma à Radis o pesquisador e psicólogo Altay de Souza, doutor em Psicologia Experimental pela Universidade de São Paulo (USP).


“Estamos diante de uma nova emergência em saúde pública. O vício em apostas online já pode ser visto como uma epidemia no Brasil”
Altay de Souza, doutor em Psicologia Experimental pela USP


Ele alerta que o jogo compulsivo afeta diretamente a saúde mental dos apostadores. “Temos observado um aumento expressivo na demanda por atendimento de pessoas com sintomas de ansiedade, depressão, crises de pânico e até ideação suicida associada ao uso compulsivo dessas plataformas”, declara. Segundo ele, os serviços de saúde já estão sobrecarregados e a demanda por acompanhamento na área de saúde mental está cada vez maior. “Estamos diante de uma nova emergência em saúde pública. O vício em apostas online já pode ser visto como uma epidemia no Brasil”, ressalta.

Referência nacional no tratamento de pessoas com transtornos relacionados ao jogo, o psiquiatra Hermano Tavares, que coordena o Ambulatório do Jogo Patológico do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), também faz duras críticas à legalização das bets. “É como se tivéssemos instalado um cassino em cada bolso’, frisa, em entrevista à Radis.

Segundo ele, o número de adolescentes expostos aumentou muito desde a legalização dos jogos online. “Embora ainda seja proibido apostar antes dos 18 anos, isso é amplamente desrespeitado. E o impacto nessa faixa etária é particularmente cruel: compromete a formação escolar, a saúde mental e a inserção social”, aponta.



Autor: fiocruz
Fonte: fiocruz
Sítio Online da Publicação: fiocruz
Data: 20/08/2025
Publicação Original: https://fiocruz.br/

quarta-feira, 27 de agosto de 2025

FAPESP lança chamadas para coleções biológicas e acervos museológicos


Cada edital do Programa de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa destinará até R$ 75 milhões para subsidiar ações de recuperação de coleções, informatização dos acervos e disponibilização on-line do acesso ao acervo


Foto: coleção entomológica do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo – MZUSP (crédito: Léo Ramos Chaves/Pesquisa FAPESP)

A FAPESP anuncia o lançamento de duas chamadas de propostas no âmbito do Programa de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa do Estado de São Paulo (PAIP): uma para Coleções Biológicas e outra para Acervos Museológicos, Bibliográficos e Arquivísticos.

Em cada uma das chamadas, a FAPESP reservou até R$ 75 milhões para apoio à aquisição de equipamentos multiusuários (EMU) e custos de suprimentos e serviços necessários à instalação e operacionalização do equipamento multiusuário (EMU), além de Bolsas de Treinamento Técnico e de Participação em Curso. As propostas selecionadas poderão ter vigência de até 48 meses.

As chamadas priorizarão propostas baseadas em concepções inovadoras de armazenamento, organização e disponibilização das coleções, demonstrando a relevância da coleção para o desenvolvimento de pesquisas e prevendo o desenvolvimento de projetos de caráter cultural e educativo a partir das coleções.

Proponentes devem incluir ao menos uma das várias linhas de pesquisa estabelecidas pelas chamadas, que incluem: Recuperação de coleções e documentos sob risco de deterioração ou desaparecimento; Digitalização e/ou informatização de acervos; Disponibilização on-line do acesso ao acervo, de uso gratuito; Previsão de atualização de softwares que garantam a preservação e a continuidade da acessibilidade do acervo; Disponibilização on-line de imagens em alta resolução do material, sempre que possível, associadas a informações taxonômicas e séries históricas.

A cada proposta, será exigida uma demonstração de contrapartida institucional, que consiste na capacidade da instituição solicitante de desempenhar uma gestão institucional administrativa, técnica e financeira adequadas, contando com pessoal de apoio técnico dedicado à operação dos equipamentos, à gestão dos acervos e ao apoio aos usuários da instituição e externos.

Na chamada que contempla a infraestrutura de Coleções Biológicas, o objetivo é modernizar e expandir a infraestrutura dessas coleções, promovendo avanços na informatização e gestão de dados biológicos, com foco em atender às necessidades de uma ciência cada vez mais integrada e orientada por dados. Incluem-se na chamada as coleções de herbários, zoológicas e de células e tecidos – neste edital, coleções de cultura de células ou de tecidos e bancos de DNA podem ser objetos de propostas.

Por sua vez, a chamada referente a Acervos Museológicos, Bibliográficos e Arquivísticos abrange espaços – físicos ou virtuais – destinados ao armazenamento, pesquisa e divulgação do conhecimento científico, tecnológico, artístico, histórico e cultural, com destaque para a história social, cultural e científica no Brasil. O apoio da FAPESP tem como objeto a infraestrutura relacionada a pesquisa, preservação, digitalização, promoção do acesso universal e de divulgação de acervos e coleções institucionais.

As propostas deverão ser vinculadas a universidades, centros de pesquisa e de documentação, arquivos, bibliotecas e museus públicos e privados sem fins lucrativos, bibliotecas e entidades sem fins lucrativos. Acervos e coleções pessoais não registradas oficialmente em instituições públicas ou privadas sem fins lucrativos não são consideradas elegíveis.

O pesquisador responsável, enquanto deve ter vínculo empregatício com instituição de pesquisa no estado de São Paulo, excepcionalmente nesta chamada poderá ou não ter vínculo empregatício na mesma Instituição onde será instalado o equipamento.

Propostas devem ser submetidas exclusivamente via SAGe (fapesp.br/sage) até 31 de outubro.

• Chamada de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa em Coleções Biológicas: fapesp.br/17669.
• Chamada de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa em Acervos Museológicos, Bibliográficos e Arquivísticos: fapesp.br/17670





Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data:06/08/2025

Mídia Ciência abre inscrições para a chamada do 2º semestre

Bolsas de Jornalismo Científico se destinam a estudantes de graduação e profissionais diplomados em qualquer área, que tenham concluído ou estejam realizando um Curso de Introdução ao Jornalismo Científico

A FAPESP está com chamada aberta até 31 de agosto de 2025 para solicitação de Bolsas de Jornalismo Científico regulares do Programa José Reis de Incentivo ao Jornalismo Científico (Mídia Ciência). O objetivo é estimular a formação de profissionais capazes de veicular informação sobre ciência e tecnologia.

O Mídia Ciência apoia a execução de propostas de pesquisas jornalísticas supervisionadas por pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa sediada no estado de São Paulo, que resultem na produção de documentos de divulgação em veículos de comunicação de qualquer natureza (como jornais, rádio e mídia eletrônica) e que sejam desenvolvidas paralelamente ao cumprimento de um programa definido de estudos. Trata-se de um dos programas mais antigos da fundação.

As bolsas se destinam a estudantes de graduação e a profissionais diplomados em qualquer área, sem vínculo empregatício, que tenham concluído ou estejam realizando um Curso de Introdução ao Jornalismo Científico. O valor da bolsa é proporcional à formação do candidato.

O entendimento da FAPESP é que o fortalecimento do sistema de ciência e tecnologia de um país requer a divulgação adequada e sistemática, por todos os meios de comunicação, dos resultados das atividades de pesquisa nele desenvolvidas.


Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data:14/08/2025
Publicação Original: https://fapesp.br/17685/midia-ciencia-abre-inscricoes-para-a-chamada-do-2o-semestre

Chamada selecionará pesquisas para enfrentamento da gripe aviária


Programa FAPESP Sistemas Alimentares Saudáveis destinará até R$ 2,5 milhões por projeto selecionado


A FAPESP anuncia o lançamento da Chamada de Propostas de Redes FAPESP de Colaboração em Pesquisa em Sistemas Alimentares Saudáveis Gripe Aviária, que visa apoiar a criação de redes de pesquisadores com ênfase no enfrentamento da gripe aviária e na mitigação de seus impactos econômicos, sociais e sanitários.

A chamada é lançada no âmbito do novo Programa FAPESP Sistemas Alimentares Saudáveis (SAS), que tem como objetivo estimular pesquisas que integrem o conceito de Saúde Única aos elementos centrais dos Sistemas Alimentares produção, agregação, processamento, distribuição e consumo.

A gripe aviária tem causado perdas significativas para o estado de São Paulo e o Brasil, principalmente no setor de exportação de carne de frango. Estimativas apontam para perdas mensais acima de R$ 1 bilhão em exportações, devido à suspensão de importações por diversos países após a detecção do vírus, afetando especialmente pequenos e médios produtores integrados ao sistema da agroindústria. Além disso, há o risco de impacto em outras cadeias produtivas, como as de carne suína e bovina, e em insumos como o milho.

A nova chamada convida pesquisadores vinculados a instituições de ensino e pesquisa do estado de São Paulo a submeterem propostas nos seguintes eixos:

a) Interface entre saúde ambiental, animal e humana na dinâmica de transmissão da gripe aviária para os sistemas alimentares;
b) Plataformas digitais incluindo variáveis ecológicas, sociais e econômicas para a construção de sistemas de prevenção da gripe aviária;
c) Inovação em estratégias de vigilância sanitária integradas aos sistemas alimentares visando o controle da gripe aviária;
d) Avaliação e desenvolvimento de vacinas e terapias adaptadas contra a gripe aviária e proteção dos sistemas alimentares;
e) Avaliação do impacto da gripe aviária nas cadeias associadas ao Agronegócio.

A modalidade de financiamento será Auxílio à Pesquisa – Projeto Temático, com duração de até 60 meses e valor máximo de R$ 2,5 milhões por proposta. A submissão deve ser feita pelo sistema SAGe até 28 de novembro de 2025.

Serão priorizadas propostas de pesquisa inovadoras, ousadas e com grande potencial de inserção internacional.

A chamada está publicada em:
Foto: Agência Brasil


Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 22/08/2025
Publicação Original: https://fapesp.br/17699/chamada-selecionara-pesquisas-para-enfrentamento-da-gripe-aviaria

sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Pesquisa conduzida na Uerj propõe soluções para a restauração da Bacia do Rio Doce


O rompimento da barragem do Fundão despejou 50 milhões de toneladas de lama e resíduos tóxicos no Rio Doce (Foto: Ascom/Ibama)


Novembro de 2025 marca 10 anos do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana (MG). Considerado um dos maiores desastres ambientais da história do Brasil, o rompimento da barragem liberou 50 milhões de toneladas de lama e resíduos tóxicos decorrentes da extração de minério de ferro no Rio Doce, matando 19 pessoas, contaminando plantações, devastando a vida aquática e poluindo a água que serve às comunidades ao longo de 650 quilômetros do rio, nos estados de Minas Gerais e Espírito Santo. Estima-se que 2,2 milhões de pessoas dependam da Bacia do Rio Doce.

O Parque Estadual do Rio Doce, com uma extensão de quase 36 mil hectares e uma importante unidade de conservação, foi uma das áreas mais afetadas. Em 2010 recebeu o título de Sítio Ramsar – convenção internacional que aponta as zonas úmidas de maior importância globalmente - por abrigar mais de 40 lagos em toda a sua extensão, sendo o terceiro maior sistema lagunar do Brasil, superado apenas pelo Pantanal e a Amazônia.

Em 2024, a Samarco Mineradora fechou um acordo de repactuação do processo de reparação e compensação pelo rompimento da barragem, homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no final daquele ano. O documento foi assinado pela União, pelos estados de Minas Gerais e Espírito Santo, Ministérios Públicos Federal e Estaduais e Defensorias Públicas da União e Estaduais, além de outras autoridades públicas. O acordo definitivo prevê um desembolso de R$170 bilhões pela mineradora para o cumprimento de obrigações passadas e futuras, para atender às comunidades e o meio ambiente impactados pelo rompimento da barragem.

Uma pesquisa conduzida no Laboratório de Ecologia e Conservação de Ecossistemas (Lece), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), fruto de dissertação de mestrado do biólogo Luiz Conrado Silva, no Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Evolução da Uerj, usou a Bacia do Rio Doce como estudo de caso. O trabalho, orientado pela bióloga Aliny Pires, contemplada no Programa Jovem Cientista Mulher com vínculo em ICTs do Estado do Rio de Janeiro, da FAPERJ, avalia que as iniciativas atuais de restauração na Bacia do Rio Doce podem ser ineficazes no longo prazo se não forem considerados os eventos extremos decorrentes das mudanças climáticas (chuvas intensas e inundações) e a restauração das Áreas de Preservação Permanentes (APPs), como topos de morros e matas ciliares. O artigo, intitulado “Adaptative Restoration Planning to Enhance Water Security in a Changing Climate” foi publicado na revista Ambio, vinculada ao Grupo Springer Nature.


Luiz Conrado Silva: para o biólogo, a restauração da vegetação nas APPs pode reduzir os danos causados pelos eventos extremos (Foto: Divulgação)


O biólogo escolheu a Bacia do Rio Doce para estudo de caso com o objetivo de restauração ecológica considerando duas variáveis: serviços ecossistêmicos e diferentes cenários climáticos projetados para 2070. “Entendíamos que as principais ações de mitigação adotadas após o acidente estavam voltadas à recuperação da qualidade da água do rio Doce”, pontua Luiz Conrado. A modelagem utilizou o software de gestão ambiental InVEST (Avaliação Integrada de Serviços Ecossistêmicos), que permite mapear, avaliar e comparar diferentes cenários de uso da terra incluindo variáveis como altitude, cobertura vegetal, granulometria do solo, entre outras, a fim de avaliar os futuros processos erosivos.

Dois diferentes cenários foram avaliados, o primeiro a partir da situação atual da cobertura vegetal (vegetação nativa, pastagens, áreas cultivadas etc); e o segundo considerando a adoção do Novo Código Florestal (Lei de Proteção à Vegetação Nativa de 2012). Os pesquisadores concluíram que se forem adotadas as diretrizes do Novo Código Florestal, principalmente a restauração da vegetação nas Áreas de Preservação Permanente (APPs), como nos topos de morros e das matas ciliares (vegetação às margens ou próximas de cursos d'água, como rios, lagos e nascentes), as consequências dos eventos extremos seriam menores. A cobertura vegetal minimizaria o efeito da variável climática sobre o processo de erosão e o possível carreamento de mais resíduos tóxicos para o Rio Doce.

“Com a restauração das APPs, a exportação de sedimentos pode ser reduzida em até 90%, em algumas áreas”, afirma o pesquisador. O estudo conclui que caso não sejam adotadas essas medidas complementares, há risco de se perder o que já foi feito até agora. “Esperamos que o modelo seja um protocolo replicável para outras regiões. No momento, esperamos poder mostrar os resultados do trabalho a todos os envolvidos, sejam os responsáveis nas mineradoras, os órgãos ambientais ou os governos dos estados de Minas Gerais e Espírito Santo”, conclui Luiz Conrado.

Para a orientadora do estudo, incorporar as mudanças climáticas no desenho de estratégias de priorização para a restauração é fundamental para garantir seus benefícios de longo prazo. “O clima vai mudar e como consequência a prioridade das áreas a serem restauradas também. Se não desenvolvermos uma estratégia que considere este efeito, podemos focar em áreas menos relevantes para garantir serviços ecossistêmicos estratégicos para este tipo de iniciativa, como é o caso da melhoria da qualidade da água para a bacia do Rio Doce.”, afirma Aliny Pires.



Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 2108/2025
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=818.7.2

Projeto 'Nós do Crochê' leva protagonismo feminino ao Rio Innovation Week


As fundadoras do 'Nós do Crochê', iniciativa criada por Daniela Vignoli (C) e Heloísa Cyrillo (à esq.) na comunidade da Rocinha, conversaram com a presidente da FAPERJ, Caroline Alves: a história abriu espaço para um dos momentos mais tocantes do evento: relato das fundadoras do projeto emocionou o público ao destacar o poder da união e da criatividade como ferramentas de transformação social (Foto: Mirian Dias)

No meio de um ambiente pautado por painéis sobre tecnologia, inovação e negócios, o Rio Innovation Week (RIW) abriu espaço para um dos momentos mais tocantes do evento: a história das fundadoras do projeto Nós do Crochê, que emocionou o público ao destacar o poder da união e da criatividade como ferramentas de transformação social.

Criada na Rocinha, comunidade do Rio de Janeiro, a iniciativa surgiu com um propósito claro: gerar renda e autonomia para mulheres em situação de vulnerabilidade, por meio do artesanato e do empreendedorismo coletivo. O projeto foi apresentado no RIW como exemplo de como inovação também pode ser traduzida em cuidado, solidariedade e construção de redes humanas.

Mais do que crochê, o trabalho realizado pela rede é sobre pertencimento e dignidade. São centenas de mulheres já impactadas, que encontraram no fazer manual uma forma de contar suas histórias, sustentar suas famílias e reconstruir suas trajetórias. “Acreditamos que nenhuma mulher deve passar por dificuldades sozinha. Quando nos unimos, conseguimos criar não só peças lindas, mas uma rede de apoio que transforma realidades”, afirmou uma das fundadoras durante o evento.

Caroline Alves, presidente da FAPERJ, que destacou o projeto Nós do Crochê durante o Rio Innovation Week, ressaltou a importância da iniciativa: “Trazer o Nós do Crochê para o palco do Rio Innovation Week é reconhecer que inovação vai muito além da tecnologia. É sobre pessoas, sobre conexões e sobre a força das mulheres em transformar suas vidas e comunidades.”

Com produtos feitos à mão que unem arte, sustentabilidade e impacto social, o Nós do Crochê segue conquistando reconhecimento e inspirando outras iniciativas no Brasil.




Autor: Cristina Cruz
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 18/08/2025
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=841.7.0

Inovação e proteção: FAPERJ destaca tecnologia para a Patrulha Maria da Penha no Rio Innovation Week




Em conversa com a presidente da FAPERJ, Caroline Alves, no Palco Future, a Major Bianca detalhou como funciona o app da Patrulha Maria da Penha, programa da PM do Rio que, criado há seis anos, já assistiu cerca de 100 mil mulheres, com avanços tecnológicos que ampliam a rapidez e eficiência no atendimento às vítimas (Foto: Patrick Viegas)

No Rio Innovation Week, a tecnologia se mostrou aliada fundamental na proteção de mulheres vítimas de violência doméstica. Durante o evento, a Patrulha Maria da Penha, programa da Polícia Militar do Rio de Janeiro criado há seis anos, que já assistiu cerca de 100 mil mulheres, apresentou avanços tecnológicos que ampliam a rapidez e eficiência no atendimento às vítimas.

No Palco Future do Armazém Kobra, a Major Bianca apresentou os avanços tecnológicos que fortalecem o programa. Com participação ativa de policiais voluntários e capacitados para o atendimento humanizado, a iniciativa conta com um reforço essencial: o uso de tecnologias que agilizam o atendimento, aumentam a segurança e salvam vidas.

“O uso da tecnologia é fundamental para proteger e salvar vidas. Aplicativos, sistemas de monitoramento e integração com as viaturas dão mais rapidez às respostas e garantem que a mulher receba apoio no momento em que mais precisa”, afirmou a major Bianca, na quinta-feira (14/8), no Palco Future do Rio Innovation Week, no Píer Mauá.

A oficial ressaltou que a maior parte dos chamados recebidos pelo 190 está relacionada a crimes contra mulheres e à perturbação do sossego, e que ainda há um desafio de alcance: “A cada dez mulheres, seis não conhecem a Patrulha. Precisamos divulgar mais, compartilhar informações e mostrar que existe apoio”, disse.

Entre as ferramentas digitais apresentadas estão o aplicativo Rede Mulher, o Maria da Penha Virtual e o Botão de Emergência, que aciona a viatura mais próxima em casos de ameaça. Desde a implementação, foram mais de 120 mil downloads e mais de 700 acionamentos de emergência. “Essas tecnologias colocam a proteção na palma da mão. É rapidez, é agilidade, é mais uma forma de dizer à mulher: você não está sozinha”, completou.

A major destacou ainda a estrutura das Salas Lilás, presentes em batalhões, shoppings e universidades, que oferecem acolhimento, escuta qualificada e um formulário para avaliação de risco. Parcerias com o Tribunal de Justiça e a Defensoria Pública garantem que ocorrências por descumprimento de medidas protetivas que já somam 880 cheguem diretamente aos policiais responsáveis.

No estado, existem também dois abrigos sigilosos para proteger vítimas em situação de ameaça grave. A presidente da FAPERJ, Caroline Alves, reforçou que investir em inovação com impacto social é prioridade para a fundação. “A tecnologia não pode ser vista apenas como motor da economia, mas como ferramenta para proteger vidas. Projetos como o da Patrulha Maria da Penha mostram que é possível unir inteligência artificial, aplicativos e sistemas de monitoramento para salvar mulheres em situação de risco. É exatamente esse tipo de iniciativa que queremos fomentar", afirmou.

No estande da Polícia Militar, o público pôde conhecer câmeras embarcadas em viaturas com softwares de reconhecimento facial e leitura de placas, drones equipados com as mesmas tecnologias e sistemas de monitoramento integrados à Central 190.

Para Caroline, o caminho está em aproximar a inovação da população mais vulnerável: “Quando conseguimos unir tecnologia, capacitação policial e políticas públicas, não estamos apenas combatendo crimes, mas salvando famílias inteiras", concluiu.



Autor: Cristina Cruz
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 18/08/2025
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=839.7.3

terça-feira, 19 de agosto de 2025

Já chegaram à Terra os filhotes de ratos vindos do espaço

@Envato Elements-imagem ilustrativa




Investigadores da Universidade de Quioto conseguiram produzir descendência saudável a partir de células germinativas de camundongos que estiveram criopreservadas durante seis meses na Estação Espacial Internacional.



Viajar no espaço tem um impacto grande no corpo humano, desde a parte imunológica até à perda de densidade muscular. Mas até que ponto afeta a capacidade dos humanos produzirem descendência saudável? A resposta parece já ter chegado à Terra.

Um novo estudo da Universidade de Quioto, publicado na STEM CELL REPORT pode vir a revolucionar o futuro da reprodução humana no espaço. Cientistas japoneses anunciaram o nascimento de crias saudáveis de ratos a partir de células estaminais masculinas que estiveram armazenadas na Estação Espacial Internacional (ISS) durante meio ano. Esta descoberta representa um passo crucial na preservação da fertilidade durante missões espaciais de longa duração – uma preocupação cada vez mais presente perante o avanço da exploração espacial e a possibilidade de colonização de outros planetas.

As células em questão, conhecidas como células estaminais espermatogoniais, são precursoras dos espermatozoides e fundamentais para a fertilidade masculina. A equipa liderada pela investigadora Mito Kanatsu-Shinohara quis avaliar se a exposição prolongada às condições adversas do espaço – como a microgravidade, a radiação cósmica e a perturbação dos ritmos circadianos – poderia danificar irreversivelmente estas células, com impacto potencial na reprodução.

Para o estudo, as células foram criopreservadas (congeladas a temperaturas muito baixas) e enviadas para a ISS, onde permaneceram durante seis meses num congelador especializado. Após o seu regresso à Terra, os cientistas descongelaram as células e transplantaram-nas nos testículos de ratos inférteis. Três a quatro meses depois, nasceram crias saudáveis por via de acasalamento natural.

As análises revelaram que os ratinhos apresentavam padrões genéticos normais e estavam em boas condições de saúde. “É essencial compreendermos durante quanto tempo podemos armazenar células germinativas na Estação Espacial Internacional, especialmente com vista a futuras viagens espaciais humanas de longa duração”, explicou a autora principal do estudo.

Curiosamente, os investigadores esperavam que a radiação no espaço tivesse efeitos mais nocivos nas células do que a criopreservação. No entanto, observaram o contrário: o processo de congelação, nomeadamente a concentração de peróxido de hidrogénio utilizado, foi mais prejudicial para a sobrevivência celular do que a própria estadia no espaço.

Apesar dos resultados promissores, os cientistas sublinham que é necessário continuar a monitorizar os ratinhos ao longo da sua vida para detetar eventuais problemas tardios de saúde ou fertilidade, bem como os efeitos nas gerações seguintes.

“Temos ainda células estaminais armazenadas na ISS e iremos continuar a investigar os seus efeitos a longo prazo”, afirmou Kanatsu-Shinohara.

O estudo, intitulado “Germline transmission of cryopreserved mouse spermatogonial stem cells maintained on the International Space Station”, foi publicado a 15 de agosto de 2025 na revista Stem Cell Reports.



Autor: sustentix
Fonte: sustentix
Sítio Online da Publicação: sustentix
Data: 16/08/2025
Publicação Original: https://sustentix.sapo.pt/ja-chegaram-a-terra-os-filhotes-de-ratos-vindos-do-espaco/

O inseto que pode revolucionar a pesquisa biomédica no Brasil

Nos últimos dez anos, o setor da ciência sofreu cortes orçamentários drásticos no Brasil, ameaçando décadas de avanços e comprometendo a capacidade do país de produzir conhecimento e tecnologia. Assim, buscar modelos de pesquisa que maximizem cada real investido e possibilitem sustentar uma produção científica de qualidade em meio a recursos cada vez mais escassos tornou-se essencial.

É neste cenário, que a Drosophila melanogaster, a popular mosca-das-frutas, ganha protagonismo. Enquanto para o público comum ela parece apenas um incômodo de cozinha, para a comunidade científica internacional é um dos organismos mais poderosos da biologia moderna, tendo rendido seis prêmios Nobel e contribuído para descobertas revolucionárias.

Uma importante estratégia

Promover seu uso no Brasil não significa apenas seguir uma tendência global, mas adotar uma estratégia de resiliência científica: manter a chama da descoberta acesa mesmo com orçamentos reduzidos. É o que dizem os professores Marcus F. Oliveira, do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBqM), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Marcos T. Oliveira, do Departamento de Bioquímica e Imunologia da FMRP, da Universidade de São Paulo (USP), em texto publicado no portal The Conversation Brasil.

De acordo com a publicação, o valor desse inseto de poucos milímetros está em nossa própria história evolutiva. Aproximadamente 75% dos genes ligados a doenças humanas possuem equivalentes na drosófila, o que torna seus processos biológicos — desenvolvimento, envelhecimento, proliferação celular e comunicação neural — incrivelmente semelhantes aos nossos.

Essa proximidade, somada à facilidade de manipular seu genoma de forma rápida e precisa, faz da mosca-das-frutas uma aliada única para investigar doenças complexas como Alzheimer, Parkinson, câncer, diabetes, problemas cardíacos e até infecções por vírus como Zika e SARS-CoV-2. Em laboratório, ela permite triagens genéticas, toxicológicas e farmacológicas, manipulação do metabolismo e estudos multigeracionais, tudo com ferramentas de ponta e custos reduzidos.



Drosophila melanogaster – Crédito: Getty Images
Opção mais barata

Os números são claros: manter experimentos com drosófilas custa, em média, apenas 10% do valor necessário para realizá-los em camundongos ou ratos. Como afirmou o geneticista Hugo Bellen, do Baylor College of Medicine: “10 vezes mais biologia é obtida por dólar investido em drosófila do que em camundongo”. No Brasil, um levantamento com fornecedores locais mostrou que manter um Flylab (isto é, um laboratório de drosófilas) custa quase três vezes menos do que um laboratório de culturas de células — e, se considerados apenas os consumíveis não duráveis, a diferença chega a sete vezes.

Esses dados desmontam o preconceito de que baixo custo significa baixo impacto. No caso da drosófila, a economia é uma vantagem estratégica, sem perda de relevância científica. Ainda assim, o Brasil insiste em priorizar modelos mais caros desde as etapas iniciais da pesquisa, desperdiçando recursos escassos e reduzindo sua competitividade.

Os professores apontam que reverter esse quadro exige ação direta das agências de fomento — CNPq, CAPES e as FAPs estaduais. Eles destacam que criar editais específicos para o uso da drosófila não seria apenas um incentivo, mas uma declaração clara de política científica. Significaria investir em uma ferramenta de alto impacto, capaz de sustentar uma nova geração de cientistas e acelerar a produção de conhecimento no país.

A aposta na drosófila seria um caminho estratégico para construir um ecossistema de pesquisa biomédica mais ágil e competitivo, capaz de garantir que o Brasil mantenha sua capacidade de inovar e transformar sua realidade com soberania.


Autor: Giovanna Gomes
Fonte: aventurasnahistoria
Sítio Online da Publicação: aventurasnahistoria
Data: 18/08/2025
Publicação Original: https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/o-inseto-que-pode-revolucionar-a-pesquisa-biomedica-no-brasil.phtml

sexta-feira, 15 de agosto de 2025

Mídia Ciência abre inscrições para a chamada do 2º semestre

Bolsas de Jornalismo Científico se destinam a estudantes de graduação e profissionais diplomados em qualquer área, que tenham concluído ou estejam realizando um Curso de Introdução ao Jornalismo Científico

A FAPESP está com chamada aberta até 31 de agosto de 2025 para solicitação de Bolsas de Jornalismo Científico regulares do Programa José Reis de Incentivo ao Jornalismo Científico (Mídia Ciência). O objetivo é estimular a formação de profissionais capazes de veicular informação sobre ciência e tecnologia.

                         

O Mídia Ciência apoia a execução de propostas de pesquisas jornalísticas supervisionadas por pesquisadores de instituições de ensino e pesquisa sediada no estado de São Paulo, que resultem na produção de documentos de divulgação em veículos de comunicação de qualquer natureza (como jornais, rádio e mídia eletrônica) e que sejam desenvolvidas paralelamente ao cumprimento de um programa definido de estudos. Trata-se de um dos programas mais antigos da fundação.

As bolsas se destinam a estudantes de graduação e a profissionais diplomados em qualquer área, sem vínculo empregatício, que tenham concluído ou estejam realizando um Curso de Introdução ao Jornalismo Científico. O valor da bolsa é proporcional à formação do candidato.

O entendimento da FAPESP é que o fortalecimento do sistema de ciência e tecnologia de um país requer a divulgação adequada e sistemática, por todos os meios de comunicação, dos resultados das atividades de pesquisa nele desenvolvidas.

Informações em: fapesp.br/jornalismocientifico



Autor: fapesp
Fonte: fapesp
Sítio Online da Publicação: fapesp
Data: 14/08/2025
Publicação Original: https://fapesp.br/17685/midia-ciencia-abre-inscricoes-para-a-chamada-do-2o-semestre

Amazônia: pesquisadores apresentam resultados de estudo sobre impacto do mercúrio

 

Pesquisadores da Fiocruz apresentaram para indígenas do povo Paiter-Suruí (Rondônia) o relatório técnico do estudo sobre o impacto do mercúrio. Foto: Divulgação

Pesquisadores da Fiocruz apresentaram para indígenas do povo Paiter-Suruí (Rondônia) o relatório técnico do estudo sobre o impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia. A devolutiva foi realizada (6/8) na aldeia Lapetanha, na Terra Indígena (TI) Sete de Setembro, no município de Cacoal. Ainda como parte do compartilhamento dos resultados com a comunidade, foram entregues laudos individuais sobre as concentrações de mercúrio identificadas em amostras de cabelo dos 178 participantes da pesquisa.

O estudo foi parte do projeto Proteção de Povos Indígenas e Tradicionais do Brasil, financiado pelo Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha por intermédio do WWF. Nessa iniciativa, a Fiocruz ficou responsável pelo Eixo 3: ações para mitigação dos efeitos do garimpo. O relatório completo Impacto do mercúrio em áreas protegidas e povos da floresta na Amazônia - uma abordagem integrada saúde-ambiente: estudo de caso com o povo Paiter-Suruí de Rondônia” está disponível no Arca Fiocruz.


Pesquisadores se comprometeram a ofertar um treinamento para vigilância e monitoramento da exposição ao mercúrio. Foto: Divulgação

O pesquisador Paulo Basta, da Escola Nacional de Saúde Pública (Ensp/Fiocruz), e a pesquisadora Ana Claudia Vasconcellos, da Escola Politécnica de Saúde (EPSJV/Fiocruz), coordenadores do grupo de pesquisa Ambiente, Diversidade e Saúde, fizeram uma palestra comunitária com informações gerais sobre os impactos da presença de garimpos ilegais de ouro em terras indígenas da Amazônia, e sobre os efeitos deletérios da contaminação por mercúrio ao ecossistema e aos povos originários. Além disso, os pesquisadores orientaram os conselheiros locais de saúde a cobrarem providências do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Vilhena para notificação dos casos confirmados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan).

Na oportunidade, Vasconcellos e Basta apresentaram o Manual Técnico para o Atendimento de Indígenas Expostos ao Mercúrio no Brasil, documento produzido pelo grupo de pesquisa da Fiocruz, em parceria com a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, e com a Secretaria Nacional de Direitos Territoriais do Ministério dos Povos Indígenas. O documento foi lançado recentemente em maio, em uma cerimônia em Brasília. É possível acessar e baixar gratuitamente na Biblioteca Virtual do Ministério da Saúde.

Ao concluírem a visita, os pesquisadores se comprometeram a ofertar um treinamento para vigilância e monitoramento da exposição ao mercúrio, na TI Sete de Setembro, aos conselheiros locais de saúde e às lideranças Paiter-Suruí, com a participação de membros das Equipes Multiprofissionais de Saúde Indígena (EMSI) do DSEI Vilhena. A previsão é que isso ocorra no primeiro trimestre de 2026.


Autor: Ensp
Fonte: Ensp
Sítio Online da Publicação: Ensp
Data: 14/08/2025
Publicação Original: https://fiocruz.br/noticia/2025/08/amazonia-pesquisadores-apresentam-resultados-de-estudo-sobre-impacto-do-mercurio

InfoGripe: cresce número de casos de SRAG entre crianças no Nordeste e Amazonas

O novo Boletim InfoGripe da Fiocruz, divulgado nesta quinta-feira (14/8), mostra aumento do número de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) na Bahia, Rio Grande do Norte, Paraíba e Amazonas. O crescimento ocorre essencialmente nas crianças e adolescentes de até 14 anos, causados pelo vírus sincicial respiratório (VSR) e rinovírus, na população infantil de até 2 anos, e pelo rinovírus na faixa de 2 a 14 anos. Em relação à Covid-19, a notificação dos casos de SRAG pelo vírus segue em baixa. Contudo, Ceará, Paraíba e Rio de Janeiro têm mostrado sinais de aumento nas notificações de casos graves pelo vírus nas últimas semanas.

O InfoGripe é uma estratégia do Sistema Único de Saúde (SUS) voltada ao monitoramento dos casos de SRAG no Brasil, oferecendo suporte às vigilâncias em saúde na identificação de locais prioritários para ações de preparação e resposta a eventos de saúde pública. A atualização é referente ao período de 3 a 9 de agosto.

Diante deste contexto, a pesquisadora Tatiana Portella, do Programa de Computação Científica da Fiocruz e do InfoGripe, faz um alerta. Ela lembra da importância de que a população esteja em dia com a vacina contra a Covid-19 - a principal forma de proteção contra os casos graves e óbitos da doença.

No agregado nacional observa-se uma manutenção da queda dos casos de SRAG nas tendências de curto e de longo prazo, refletindo a queda das hospitalizações por influenza A e VSR na maior parte do país. Na presente atualização, observa-se que 4 das 27 unidades federativas apresentam incidência de SRAG em nível de alerta, risco ou alto risco (últimas duas semanas) com sinal de crescimento na tendência de longo prazo (últimas seis semanas) até a semana 32. São os estados do Amazonas, Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte.

Nas quatro últimas semanas epidemiológicas a prevalência entre os casos positivos foi de 11% de influenza A, 1,5% de influenza B, 42,2% de vírus sincicial respiratório, 37% de rinovírus e 7,2% de Sars-CoV-2 (Covid-19). Entre os óbitos, a presença destes mesmos vírus entre os positivos e no mesmo recorte temporal foi de 40,7% de influenza A, 2,8% de influenza B, 20,1% de vírus sincicial respiratório, 23,5% de rinovírus e 10,6% de Sars-CoV-2 (Covid-19).

Estados

Além disso, 15 unidades da Federação também apresentam incidência de SRAG em níveis de alerta, risco ou alto risco, porém sem sinal de crescimento na tendência de longo prazo. São Acre, Alagoas, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Pará, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, Santa Catarina e Sergipe.

O aumento do número de casos de SRAG em alguns estados do Nordeste (BA, PB e RN) ocorre especialmente na faixa etária de 2 a 14 anos. Na Bahia e na Paraíba o crescimento está associado ao rinovírus. Além disso, observa-se um leve aumento de SRAG nas crianças de até 2 anos no Amazonas, Bahia e Paraíba relacionados ao VSR e rinovírus. Na Paraíba também há um sinal de aumento dos casos de SRAG entre os idosos, associado à Covid-19.

Mesmo com a tendência de queda na maior parte do país, os casos de SRAG entre as crianças pequenas, associados ao VSR, permanecem em níveis elevados em muitos estados, com exceção do Acre, Amapá, Ceará, Espírito Santos, Goiás, Piauí, Tocantins. Entre os idosos, os casos de SRAG seguem em níveis de moderado a alto em diversos estados do Centro-Sul, além de alguns estados do Norte e do Nordeste.

Capitais

Sete das 27 capitais apresentam nível de atividade de SRAG em alerta, risco ou alto risco (últimas duas semanas) com sinal de crescimento de SRAG na tendência de longo prazo (últimas seis semanas) até a semana 32: Cuiabá (MT), Joao Pessoa (PB), Maceió (AL), Manaus (AM), Natal (RN), Salvador (BA) e São Luís (MA).

Situação nacional

A nível nacional, o cenário atual sinal de queda nas tendências de longo prazo (últimas seis semanas) e de curto prazo (últimas três semanas). Referente ao ano epidemiológico 2025, já foram notificados 155.412 casos de SRAG, sendo 83.042 (53,4%) com resultado laboratorial positivo para algum vírus respiratório, 53.238 (34,3%) negativos e ao menos 8.942 (5,8%) aguardando resultado laboratorial.

Dentre os casos positivos do ano corrente, observou-se que 25,3% são de influenza A, 1,1% de influenza B, 45,8% de vírus sincicial respiratório, 24,1% de rinovírus e 6,9% de Sars-CoV-2 (Covid-19). Nas quatro últimas semanas epidemiológicas, a prevalência entre os casos positivos foi de 11% de influenza A, 1,5% de influenza B, 42,2% de vírus sincicial respiratório, 37% de rinovírus e 7,2% de Sars-CoV-2 (Covid-19).




Autor: Regina Castro
Fonte: Agência Fiocruz de Notícias
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data: 14/08/2025
Publicação Original: https://fiocruz.br/noticia/2025/08/infogripe-cresce-numero-de-casos-de-srag-entre-criancas-no-nordeste-e-amazonas

Science for (and with) whom?

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Dr. J.R. de Almeida

[https://x.com/dralmeidajr][instagram.com/profalmeidajr/][  https://orcid.org/0000-0001-5993-0665][https://www.researchgate.net/profile/Josimar_Almeida/stats][ https://uerj.academia.edu/ALMEIDA][https://scholar.google.com.br/citations?user=vZiq3MAAAAJ&hl=pt-BR&user=_vZiq3MAAAAJ]

Editora Priscila M. S. Gomes


The pluralization of epistemologies in the academic environment is neither a luxury nor a fad. It is an ethical, political, and scientific necessity. Academic journals that open themselves up to listening to the margins are not only innovating their formatsthey are expanding the very limits of knowledge.

For Portuguese philosopher Boaventura de Sousa Santos, we need an “ecology of knowledge,” where different forms of knowledge coexist, dialogue, and strengthen each other.


Therefore, promoting the presence of indigenous, quilombola, and peripheral voices in the scientific circuit is not only democratizing science, but making it more truthful, more rooted, and, above all, more just.

When science is separated from its social function, it becomes a technology of power: it selects what deserves to be studied, who can be an author, and what can be recognized as valid. In this scenario, it is urgent to think of ways to subvert this logic and scientific journals can (and should) be privileged spaces for this.