Reconhecendo e valorizando a importância da Rede Globo na formação de opinião para a sociedade brasileira, a Rede Global de Bancos de Leite Humano (rBLH), coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em ação integrada com a Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno (CGSCAM) do Ministério da Saúde, alerta sobre o fato ocorrido no capítulo do dia 27 de março de 2018, da novela O outro lado do paraíso, no qual foi evidenciado de forma valorosa a prática da amamentação cruzada, que representa um risco grave à saúde das crianças, no que se refere às doenças infectocontagiosas, particularmente o HIV/Aids.
Trata-se de uma prática reconhecida como nociva para a saúde da criança pela Organização Mundial de Saúde (OMS) que, ao longo das três últimas décadas, vem sendo trabalhada de forma enfática para desestimulá-la.
Nesse sentido e considerando a importância da Rede Globo na formação de opinião e particularmente no tocante ao seu compromisso com a infância brasileira, solicitamos a gentileza de neste mesmo veículo, que é a novela O outro lado do paraíso, sejam incluídas mensagens que evidenciem os riscos da prática veiculada no dia 27 de março de 2018. Outrossim, colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos técnicos que se fizerem necessários.
Por fim, cabe destacar que documentos de igual teor seguem em anexo, firmados por todas as Coordenações de Saúde da Criança das Secretarias de Estado da Saúde do País, todos os Centros de Referências Estaduais de Bancos de Leite Humano, pela Área Técnica de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde e pelo Programa Ibero-americano de Bancos de Leite Humano.
João Aprigio Guerra de Almeida
Coordenador da Rede Global de Bancos de Leite Humano
Secretário Executivo do Programa Ibero-americano de Bancos de Leite Humano
Fundação Oswaldo Cruz/Ministério da Saúde
Autor: João Aprigio Guerra de Almeida
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/fiocruz-e-rblh-esclarecem-perigos-da-amamentacao-cruzada
sexta-feira, 30 de março de 2018
Doença falciforme: faixa etária para transplante de medula é ampliada
O Ministério da Saúde ampliou a faixa etária para indicação de transplante de medula aparentado para tratamento da doença falciforme - doença genética que atinge principalmente a população negra. Agora a idade não é mais critério de restrição para esse transplante, único método de curar a doença no SUS. Em 2015, foram diagnosticados 1.145 novos casos da doença no Programa de Triagem Neonatal do SUS.
Baseado em evidências científicas, o Ministério da Saúde decidiu ampliar a faixa etária para dar mais qualidade de vida às pessoas com essa doença. A partir de agora, pessoas também acima de 16 anos podem fazer o transplante alogênico aparentado de medula óssea, de sangue periférico ou de sangue de cordão umbilical, do tipo mieloablativo, para tratamento da doença falciforme. Trata-se de mais uma ação do Sistema Único de Saúde (SUS) para fortalecer a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme (PNAIPDF). A conquista é considerada um avanço, já que havia uma reivindicação de especialistas e da sociedade civil. Antes, só podiam fazer o transplante, pessoas abaixo de 16 anos pois não havia dados científicos para atestar segurança e eficácia do procedimento para maiores dessa idade.
A doença falciforme é genética e hereditária. A causa é uma mutação no gene que produz a hemoglobina A (HbA) originando uma outra mutante denominada hemoglobina S. Apesar das particularidades que distinguem as doenças falciformes e de graus variados de gravidade, todas essas doenças têm manifestações clínicas e hematológicas semelhantes e são tratadas da mesma forma.
As pessoas com esse tipo de doença apresentam anemia crônica e episódios frequentes de dor severa, decorrentes do processo de vaso oclusão causados pela forma de foice (daí o nome falciforme) que as hemácias assumem. Além disso, essas pessoas apresentam vulnerabilidade a infecções, o sequestro esplênico (quando o baço acumula sangue), a síndrome torácica aguda (infiltrado pulmonar) e o priapismo (ereção involuntária que causa dor) são algumas das intercorrências frequentes nestas pessoas.
Assistência
A realização do Teste do Pezinho, é fundamental para a identificação precoce e acompanhamento dos casos, bem como para o planejamento e organização da rede de atenção integral. O exame deve ser realizado nos postos públicos de saúde na primeira semana de vida.
Baseado em evidências científicas, o Ministério da Saúde decidiu ampliar a faixa etária para dar mais qualidade de vida às pessoas com essa doença. A partir de agora, pessoas também acima de 16 anos podem fazer o transplante alogênico aparentado de medula óssea, de sangue periférico ou de sangue de cordão umbilical, do tipo mieloablativo, para tratamento da doença falciforme. Trata-se de mais uma ação do Sistema Único de Saúde (SUS) para fortalecer a Política Nacional de Atenção Integral às Pessoas com Doença Falciforme (PNAIPDF). A conquista é considerada um avanço, já que havia uma reivindicação de especialistas e da sociedade civil. Antes, só podiam fazer o transplante, pessoas abaixo de 16 anos pois não havia dados científicos para atestar segurança e eficácia do procedimento para maiores dessa idade.
A doença falciforme é genética e hereditária. A causa é uma mutação no gene que produz a hemoglobina A (HbA) originando uma outra mutante denominada hemoglobina S. Apesar das particularidades que distinguem as doenças falciformes e de graus variados de gravidade, todas essas doenças têm manifestações clínicas e hematológicas semelhantes e são tratadas da mesma forma.
As pessoas com esse tipo de doença apresentam anemia crônica e episódios frequentes de dor severa, decorrentes do processo de vaso oclusão causados pela forma de foice (daí o nome falciforme) que as hemácias assumem. Além disso, essas pessoas apresentam vulnerabilidade a infecções, o sequestro esplênico (quando o baço acumula sangue), a síndrome torácica aguda (infiltrado pulmonar) e o priapismo (ereção involuntária que causa dor) são algumas das intercorrências frequentes nestas pessoas.
Assistência
A realização do Teste do Pezinho, é fundamental para a identificação precoce e acompanhamento dos casos, bem como para o planejamento e organização da rede de atenção integral. O exame deve ser realizado nos postos públicos de saúde na primeira semana de vida.
Todos os medicamentos que compõem a rotina do tratamento são disponibilizados no Sistema Único de Saúde (SUS). Os que integram a farmácia básica são: ácido fólico (de uso contínuo), penicilina oral ou injetável (obrigatoriamente até os cinco anos de idade), antibióticos, analgésicos e antiinflamatórios (nas intercorrências). A hidroxiuréia, os quelantes de ferro, o dopller transcraniano e transfusões sanguíneas integram os medicamentos e procedimentos para atenção especializada.
O rigoroso programa de vacinação estabelecido no calendário nacional também é outro importante fator de redução da mortalidade infantil por infecções, pois as crianças com a doença falciforme possuem um risco aumentado em 400 vezes em relação à população em geral.
Autor: Carolina Valadares
Fonte: Agência Saúde
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/doenca-falciforme-faixa-etaria-para-transplante-de-medula-e-ampliada
O rigoroso programa de vacinação estabelecido no calendário nacional também é outro importante fator de redução da mortalidade infantil por infecções, pois as crianças com a doença falciforme possuem um risco aumentado em 400 vezes em relação à população em geral.
Autor: Carolina Valadares
Fonte: Agência Saúde
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/doenca-falciforme-faixa-etaria-para-transplante-de-medula-e-ampliada
'Se não posso deixar de ter essa doença, quero um final digno', diz médica que planeja suicídio assistido
Antes de começar a ter crises por conta da doença autoimune, Letícia Franco trabalhava como oftalmologista em Cuiabá (Foto: Arquivo Pessoal)
Logo que atende a chamada telefônica por vídeo, Letícia Franco, de 36 anos, se desculpa por estar desarrumada. Ajeita-se rapidamente na cama, vestida de camiseta e calça legging, e aponta o pescoço para a repórter. "Tá vendo aqui essa cicatriz feia? É do respirador que eu usei ano passado", diz à BBC Brasil sobre a traqueostomia pela qual passou. O procedimento consiste em fazer um orifício na traqueia para colocar um tubo que ajuda o ar a chegar aos pulmões.
A médica de Cuiabá retornava de mais uma de incontáveis internações em hospitais que acumula desde 2010 - só na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) foram 34 vezes. O grande sofrimento causado por uma doença crônica degenerativa fez com que ela postasse, dias antes da conversa com a BBC Brasil, uma espécie de despedida nas redes sociais: "Em 16 dias estarei longe, na Suíça, fazendo o que me deixará livre da dor e do medo. Acho que amanhã ou depois desligo esse facebook [...] (sic) Toda minha família deixo meu mais sincero amor", postou no dia 1º de março.
A viagem à Suíça citada na mensagem apontava para o plano de suicídio assistido em uma conhecida clínica que oferece esse serviço para pacientes terminais que desejam por um fim a sua vida, prática que é legal naquele país, ao contrário do que acontece no Brasil.
O recado no Facebook comoveu várias pessoas e chegou ao portal cuiabano O Livre. Sua posterior repercussão a fez apagar a mensagem logo depois.
A decisão de colocar fim à vida, segundo a oftalmologista, foi extremamente difícil e envolveu questões religiosas. No momento, Franco afirma ter suspendido o plano - a possibilidade de poder ter seu caso estudado e ajudar outras pessoas que tenham a mesma doença a motivou a postergar o fim.
Há oito anos, Letícia foi primeiramente diagnosticada como portadora de uma doença autoimune chamada dermatopolimiosite. Doenças autoimunes são aquelas em que o organismo passa a atacar células saudáveis do próprio corpo. No caso da dermatopoliomiosite, o principal efeito é sobre os músculos e a pele. Mas pela complexidade de seu quadro, ela recebeu, mais tarde, outro diagnóstico: de ter uma rara síndrome ligada ao uso de prótese de silicone.
Em sua primeira internação, quando seus membros ficaram paralisados e ela mal conseguia abrir os olhos, conta ter passado três meses no hospital. "Nunca tinha ouvido falar nessa doença, não lembro de ter estudado isso na faculdade. Ali eu soube que meus músculos estavam morrendo. Eu corria, participava de competições, malhava muito. Tenho 1,73 m e cheguei no hospital pesando 78 kg, a maior parte de músculo. Quando eu tive alta estava pesando 43 kg."
O primeiro diagnóstico veio quando ela estava de casamento marcado. A perspectiva de ter crises ainda piores, fez com que seu então noivo terminasse o relacionamento, segundo ela. "Eu estava horrorosa, ele não quis mais saber. Como ele era médico também, sabia que ia ser difícil e falou pra eu ficar sendo cuidada pelos meus pais."
Franco passou a ter crises da doença a cada quatro meses - e manifestou sintomas de outras enfermidades, como lúpus e esclerodermia. Em decorrência da alta carga de cortisona tomada, relata ter desenvolvido osteoporose e passado a sofrer fraturas a cada vez que caía ou batia em algum lugar - quebrou queixo, braço e perna.
Hoje, Franco se locomove em cadeira de rodas e afirma que a dor que sente é tanta que precisa tomar morfina de quatro em quatro horas - algumas vezes em que a BBC Brasil tentou contato com a médica, ouviu de sua enfermeira que ela estava dormindo após ter ingerido essa medicação.
A médica em uma das suas internações - só de UTI foram 34 (Foto: Arquivo pessoal)
Síndrome Asia
Há três anos, o quadro de Franco piorou. Além das dores nas articulações e músculos, e as constantes paralisias, começou a ter paradas respiratórias e outros sintomas inesperados para a doença que supunha ter.
Foi então que um médico do Hospital das Clínicas de São Paulo a diagnosticou como portadora de uma nova síndrome, chamada Asia (sigla em inglês para síndrome autoimune/autoinflamatória induzida por adjuvantes), que ainda está sendo estudada e sequer foi definitivamente reconhecida no mundo científico.
Os adjuvantes são elementos externos que basicamente estimulam os anticorpos de quem é geneticamente propenso a ter doenças autoimunes a atacar o próprio organismo. Até agora, entre as substâncias estranhas ao corpo humano identificadas como tendo efeito adjuvante estão implantes de silicone e alguns tipos de vacina.
No caso de Franco, ela e o reumatologista que a atendeu no Hospital das Clínicas, em São Paulo, acreditam que a prótese de silicone colocada pela primeira vez aos 18 anos, e que se rompeu anos depois, teria sido a responsável para que ela desenvolvesse a doença. Contatado pela reportagem, o médico não quis dar entrevista.
Os sintomas da síndrome, segundo os estudos, se assemelham muito aos de algumas doenças autoimunes, como a dermatopolimiosite, com a qual Franco foi inicialmente diagnosticada. Os mais comuns relatados são dores e inflamações dos músculos e nas articulações, fadiga crônica, comprometimento cognitivo, perda de memória e manifestações neurológicas associadas à desmielinização (quando há algum tipo de perda ou danificação da bainha de mielina dos nervos, como na esclerose múltipla).
"O médico então me disse que essa doença também não tinha cura [como a dermatopolimiosite], que eu ia continuar tendo crises e podia tentar tratamentos paliativos", lembra Franco. "Aí eu falei: doutor, e agora? O que vai ser de mim? Eu sabia que ia piorar mais...E eu não queria isso."
Franco era corredora antes de adoecer; hoje ela se locomove em cadeira de rodas Foto: Arquivo pessoal (Foto: Arquivo pessoal)
Quero partir
Foi no ano passado, quando foi internada e fez a traqueostomia para poder respirar, que começou a pensar no suicídio assistido. Como médica, ela sempre defendeu que pacientes de doenças incuráveis ou com morte cerebral pudessem ter essa opção.
"Eu não quero morrer cheia de tubos, ter uma morte sofrida, horrível como eu sei que é. Se fosse só eu que sofresse, tudo bem. Mas é a família inteira que sofre. A coisa mais difícil é olhar para o olho da mãe e do pai e ver a tristeza enorme que eles têm por você estar com dor, ver eles sem esperança de que você vá melhorar, esperando por um milagre", diz ela, cujos pais também são médicos.
"Quantas vezes minha mãe pegou na mão e disse 'Descansa, que vai ficar tudo bem.' E eu via aquele olhar cheio de lágrimas. Isso pra mim dói mais que a doença, eu tô matando meus pais com tudo isso. Por isso pensei: se eu não posso voltar atrás e não ter essa doença, o que posso tentar é um final melhor, com dignidade."
A coisa mais difícil é olhar para o olho da mãe e do pai e ver a tristeza enorme que eles têm por você estar com dor, ver eles sem esperança de que você vá melhorar, esperando por um milagre
Católica praticante, a oftalmologista conta que a decisão pela eutanásia a fez perder algumas noites de sono. "Tinha medo de Deus não me perdoar. Dizem que quem comete suicídio vai para o inferno", fala.
Ao receber um e-mail com instruções da clínica de morte assistida Dignitas, na Suíça, Franco comunicou a decisão aos pais. Em um primeiro momento, eles aceitaram levá-la até o local. Mas depois desistiram da ideia. "Minha mãe me disse 'Como eu posso te levar pra morrer? Eu pedi tanto para ter uma filha, como vou fazer isso?'."
Se fosse a situação oposta, ela assegura que levaria os pais doentes em direção ao fim escolhido.
Desesperada com a negativa da família, a médica conta que tentou tirar a própria vida com um bisturi dias após o post de "despedida" no Facebook. Foi salva pelos pais e ficou internada mais alguns dias.
Nesse período no hospital, Franco consultou três padres. "Falei pra eles do sofrimento meu e da minha família e perguntei se Deus ia me perdoar, se estava vendo a cruz que eu carrego", diz. "Um me perguntou o que eu faria se fosse o contrário, se eu levaria minha mãe [para morrer]. E eu disse que sim, eu levaria. E todos me falaram que não iriam interferir na minha decisão, que só Deus conhecia meu coração."
A médica diz que desistiu da eutanásia por enquanto para tentar ajudar outros pacientes com a mesma doença (Foto: Arquivo pessoal)
Cobaia
Logo depois, recebeu um e-mail que a fez suspender o plano do suicídio assistido. Ela havia escrito para o médico israelense Yehuda Shoenfeld, um dos principais pesquisadores da síndrome Asia no mundo, relatando seu caso e oferecendo-se para servir de cobaia para suas pesquisas sobre a doença.
Na mensagem, à qual a BBC teve acesso, o cientista, que é professor da Universidade de Tel Aviv, sugere que Franco tentasse se submeter a um dos tratamentos recomendados por ele para tentar evitar crises, mas não se compromete a recebê-la para estudar seu caso.
Mesmo assim, Franco diz que pretende ir a Israel conhecer Shoenfeld. "Eu sou médica, minha vida toda foi doação, então pensei que é um final justo eu poder ajudar os outros."
Autor: BBC
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data de Publicação: 30/03/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/noticia/se-nao-posso-deixar-de-ter-essa-doenca-quero-um-final-digno-diz-medica-que-planeja-suicidio-assistido.ghtml
O palácio celestial está caindo
Tiangong-1, a primeira estação espacial da China (Foto: Fraunhofer)
A primeira estação espacial chinesa, batizada de Tiangong-1 (palácio celestial em chinês) foi lançada em 29 de setembro de 2011. Ela é um charutão de 10 metros de comprimento e 9 toneladas de massa. Muito modesta se comparada com estações pequenas, como o Skylab ou a Mir.
A Estação Espacial Internacional (ISS) não vale como comparação, pois ela é uma iniciativa de vários países e foi sendo montada ao longo dos anos até chegar a mais de 70 metros de comprimento.
Os objetivos da Tiangong-1 nem eram o de ter um laboratório permanente em órbita, mas sim testar tecnologias que a China virá a usar em breve na sua conquista do espaço. Uma delas, claro, é a de manter um ambiente propício para a sobrevivência de seres humanos no espaço executando atividades diversas, como as de pesquisa, por exemplo.
Mas talvez a maior delas tenha sido testar a capacidade de acoplamento entre naves e módulos não tripulados. Isso é fundamental para estender missões espaciais, enviando suprimentos e novos equipamentos, mas também para construir estruturas maiores.
Ao que parece, a China não costuma fazer comunicados efusivos sobre suas atividades espaciais, a Tiangong-1 foi muito bem sucedida. Ela chegou a abrigar duas equipes de taikonautas (como são chamados os astronautas chineses) que realizaram acoplamentos em modo manual e modo automático com sucesso.
Depois da última missão, em 2013, a estação foi colocada em modo de repouso, sendo monitorada da Terra, mas sem executar nenhuma ação. A ideia era mantê-la em órbita por 2 anos para avaliar o desgaste das peças e equipamentos no ambiente espacial.
Em 2016 foi lançada uma estação espacial quase gêmea, a Tiangong-2, com os mesmo objetivos e chegou-se a pensar em conectar as duas e por isso a Tiangong-1 ganhou sobrevida. Mas a ideia nunca foi adiante e logo em seguida a China admitiu que tinha perdido o controle sobre a estação. Não que ela tenha ficado desgovernada, voando sem rumo no espaço, o controle, neste caso se refere à capacidade da agência espacial chinesa de corrigir sua órbita em torno da Terra.
Mesmo a mais de 300 km de altura, a atmosfera da Terra ainda consegue promover algum arrasto das naves. Isso significa que elas vão perdendo velocidade e, como consequência, elas vão perdendo altitude.
De tempos em tempos, a ISS precisa disparar os foguetes de módulos acoplados para dar uma subidinha, corrigindo sua órbita. Foi esse controle de altura que a agência chinesa perdeu e, com isso, a Tiangong-1 começou a cair. Aos poucos no começo, mas conforme foi baixando, foi encontrando camadas mais densas de atmosfera que estão fazendo o arrasto se intensificar cada vez mais.
A imagem que ilustra essa coluna é do Instituto Fraunhofer de Física de Altas Energias e Técnicas de Radar e foi retirada quando ela estava a 200 km de altura. O instituto começou a monitorar sua queda desde a semana passada e essa deve ser a melhor imagem já obtida por alguém de fora da China.
É muito difícil dar uma data de reentrada com precisão, principalmente no início do processo. Aqui mesmo no G1 você deve se lembrar que havia previsão de reentrada em janeiro, eu cheguei a falar que iria acontecer até o fim do primeiro bimestre, mas na verdade isso está perto de acontecer só agora.
Agora que estou escrevendo, as últimas previsões convergiram para o dia 1º de abril (não é mentira!). Na verdade, a janela de reentrada vai desde a manhã do dia 31 de março e vai até a tarde de 1º de abril. Mas pode ser que mesmo hoje, sexta feira, a previsão melhore mais um pouco.
E onde ela deve cair?
Isso é muito mais difícil de se prever. Ela pode cair em qualquer lugar da Terra entre as latitudes 43 graus norte e sul. Pelas características do seu movimento orbital, as chances maiores se concentram nos extremos desse intervalo, ou seja, 43 graus ao norte e 43 graus ao sul. Fora desses extremos, as chances são menores que 1% para cada grau de latitude.
Qualquer previsão do local da queda é puro chute por enquanto. Veja só, a velocidade da estação é da ordem de 25 mil km/h e se você tiver uma incerteza de apenas uma hora, para mais ou para menos, sua posição prevista pode estar 25 mil km para frente ou 25 mil km para trás! Por enquanto, a incerteza da previsão está em um dia.
Espera-se que ela melhore bastante no véspera da reentrada, ou seja, de acordo com as últimas estimativas apenas no sábado poderemos ter alguma noção de onde ela deve cair.
Existe chance, é claro, dela cair no Brasil, mas é bem mais provável que ela caia sobre o oceano.
A estação deve se desintegrar na atmosfera terrestre, mas por causa da sua massa, é capaz que alguma peça sobreviva ao calor e chegue à superfície. Mas de novo, é muito mais provável que ela caia no mar ou em alguma região pouco habitada da Terra.
Portanto, sem motivo para pânico!
James Webb
Essa semana a NASA divulgou as últimas notícias sobre o telescópio espacial James Webb e, infelizmente não são boas.
A previsão para seu lançamento era 2018, mas já faz um tempo que ela foi esticada para 2019. Um problema com o foguete lançador, o Ariane da agência espacial europeia, acendeu uma luz amarela. Havia a expectativa de mais atraso por causa da investigação das causas do problema com o lançador.
Mas nessa semana a NASA admitiu que precisa fazer mais testes com o telescópio para que possa considera-lo apto a voar. Assim, a agência norte americana empurrou seu lançamento apenas para 2020! Com isso, o orçamento deve estourar a marca dos 8 bilhões de dólares, se tornando mais um fracasso da NASA.
O projeto do telescópio já estourou prazos e orçamentos várias vezes. Justamente por isso ele havia sido cancelado pela administração Bush filho, mas posteriormente voltou aos planos da NASA com a severa recomendação de não ultrapassar o orçamento.
Bom, aconteceu de novo. Acho que como ele está na reta final dos testes, não acredito que será cancelado, mas é uma pena que um projeto tão grandioso quanto importante como esse esteja sempre sendo adiado desse jeito.
Autor: Cássio Barbosa
Fonte: G1 Globo
Sítio Online da Publicação: G1 Globo
Data de Publicação: 30/03/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/blog/cassio-barbosa/post/2018/03/30/o-palacio-celestial-esta-caindo.ghtml
Nova espécie de rã é descoberta em serra entre Colômbia e Venezuela
Foto do dia 27 de março mostra rã da espécie Hyloscirtus Japreria (Foto: Fernando Rojas-Runjaic/La Salle Natural History Museum of Venezuela/AFP)
Cientistas da Venezuela e da Colômbia identificaram uma nova espécie de rã na Serra de Perijá, uma vasta cadeia montanhosa compartilhada pelos dois países e lar de espécies endêmicas como este pequeno anfíbio.
Com uma pele multicolorida e canto único, a Hyloscirtus japreria, que habita rios e cursos d'água a mais de 1 mil metros de altitude, foi descoberta durante expedições realizadas há uma década.
Seu nome presta homenagem aos járerias, um grupo étnico de Perijá, no estado de Zulia (noroeste da Venezuela).
Com essa descoberta – publicada na revista científica "Zootaxa" - são 37 espécies as identificadas do gênero Hyloscirtus.
Menores, os machos medem entre 2,8 e 3,2 centímetros e as fêmeas de 3,5 a 3,9 cm.
O caminho para concluir a investigação começou em 2008.
"Passaram-se vários anos antes que pudéssemos obter evidências suficientes de que se tratava de uma nova espécie", indicou o biólogo Fernando Rojas-Runjaic, coordenador do estudo.
Depois de determinar que "era uma rã de torrentes, tivemos que verificar que não era o Hyloscirtus platydactylus, outra espécie registrada em Perijá em 1994", acrescentou.
Conforme avançavam as expedições, foram incorporadas câmeras fotográficas e gravadores de som de alta definição para documentar a coloração e submeter os cantos a uma "análise bioacústica".
Os sons que emite, que podem ser ouvidos a cerca de 15 metros de distância, são uma das suas características distintivas, indicou Edwin Infante, companheiro de Rojas nas excursões.
"Quando apareceu pela primeira vez - um macho adulto - foi um orgasmo intelectual", lembra Infante.
O espécime foi reconhecido por seu canto particular: um "piu prolongado".
A H. jareria também é caracterizada pelas suas costas amarelo-claras, com manchas castanhas escuras e pequenas manchas castanho-avermelhadas.
Também possui listras esbranquiçadas em certas regiões dos olhos, orelhas, coxas e pernas.
A íris é cinza com uma reticulação preta fina.
Junto com Rojas-Runjaic, do Museu de História Natural La Salle, em Caracas, trabalharam o biólogo colombiano Fabio Meza-Joya e os venezuelanos Infante e Patricia Salerno.
Foto do dia 27 de março mostra rã da espécie Hyloscirtus Japreria (Foto: Fernando Rojas-Runjaic/La Salle Natural History Museum of Venezuela/AFP)
Ciência graças à paz
Meza-Joya havia encontrado a mesma rã no lado colombiano, mas só se deu conta disso quando conheceu Rojas em um curso no Equador. Em 2013, decidiram unir forças.
Foi assim que descreveu a espécie "a partir de indivíduos coletados em três áreas da encosta oriental da Serra de Perijá (Venezuela) e em uma cidade na encosta ocidental (Colômbia)", disse à AFP o herpetologista colombiano.
Para os intrincados habitats só era possível chegar a pé ou de mula depois de vários dias de travessia.
O acesso à Serra de Perijá da Colômbia foi restringido por décadas pelo conflito armado, "o que produziu vácuos de informação", explicou Meza-Joya, que enfatizou que a assinatura da paz com as guerrilhas amplia o horizonte para novas descobertas.
O processo de paz com as FARC – que começou em 2012 e levou ao desarmamento do grupo e à conversão em um partido político em 2017 – "abriu uma janela para entrar em áreas inacessíveis, com a paz aumentando o conhecimento sobre a biodiversidade", disse.
Meza-Joya enfatiza que os anfíbios são fundamentais nos ecossistemas, pois atuam como reguladores de populações de insetos que, por sua vez, podem ser pragas ou vetores de doenças.
Além disso, "algumas espécies têm uma acentuada vulnerabilidade às mudanças ambientais, razão pela qual são consideradas excelentes indicadores da saúde dos ecossistemas", acrescentou o especialista.
Autor: France Presse
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data de Publicação: 29/03/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/natureza/noticia/nova-especie-de-ra-e-descoberta-em-serra-entre-colombia-e-venezuela.ghtml
quinta-feira, 29 de março de 2018
Pesquisa indica que vítimas de racismo têm maior chance de sofrer transtornos mentais
A saúde mental de mulheres brasileiras pode ser prejudicada ao sofrer preconceito por causa da cor da pele, tanto na dimensão pessoal quanto em grupo, aumentando em até 70% a chance de sofrer transtornos mentais comuns (TMC). Essa foi a conclusão de um estudo feito pelo pesquisador e coordenador do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia, Maurício Barreto, em conjunto com pesquisadores do Instituto de Saúde Coletiva e do Instituto de Humanidades Artes e Ciências Professor Milton Santos, ambos da Universidade Federal da Bahia.
A pesquisa foi descrita no artigo Personal-Level and Group-Level Discrimination and Mental Health: the Role of Skin Color, publicado no Journal of Racial And Ethnic Health Disparities. O estudo contou com a participação de 1.130 mulheres inscritas originalmente em um programa de pesquisa denominado Mudanças Sociais, Asma e Alergia na América Latina (SCAALA), criado em 2004, que tem como objetivo estudar os fatores associados ao surgimento e persistência dos sintomas de asma e marcadores de alergia na população latino-americana.
No trabalho de campo, foram utilizados os instrumentos Experiences of Discrimination (EOD) e SRQ-20 para identificar os denominados transtornos mentais comuns. Ambos os instrumentos têm sido validados para a língua portuguesa, no Brasil. Os resultados do questionário mostram que, de 38,3% das mulheres que afirmaram ter sintomas de (TMC), 8,5% disseram sofrer alto nível de preconceito e 41,6% demonstraram ter preocupações sobre discriminação. As mulheres que tiveram maior nível de TMCs, tiveram maior exposição a experiências de racismo. Também evidenciou-se que a relação entre TMCs e exposição ao racismo é mais concentrada em mulheres que se declararam de cor parda, seguidas pelas de cor negra e, por fim, do tom branco. Segundo a pesquisa, os resultados são importantes pelo fato de indicar que os futuros estudos sobre TMC em saúde pública deverão, também, considerar preconceito em nível de grupo tanto quanto em nível individual, além da cor da pele.
Da Agência Fiocruz de Notícias, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/03/2018
Autor: Agência Fiocruz de Notícias
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/03/28/pesquisa-indica-que-vitimas-de-racismo-tem-maior-chance-de-sofrer-transtornos-mentais/
A pesquisa foi descrita no artigo Personal-Level and Group-Level Discrimination and Mental Health: the Role of Skin Color, publicado no Journal of Racial And Ethnic Health Disparities. O estudo contou com a participação de 1.130 mulheres inscritas originalmente em um programa de pesquisa denominado Mudanças Sociais, Asma e Alergia na América Latina (SCAALA), criado em 2004, que tem como objetivo estudar os fatores associados ao surgimento e persistência dos sintomas de asma e marcadores de alergia na população latino-americana.
No trabalho de campo, foram utilizados os instrumentos Experiences of Discrimination (EOD) e SRQ-20 para identificar os denominados transtornos mentais comuns. Ambos os instrumentos têm sido validados para a língua portuguesa, no Brasil. Os resultados do questionário mostram que, de 38,3% das mulheres que afirmaram ter sintomas de (TMC), 8,5% disseram sofrer alto nível de preconceito e 41,6% demonstraram ter preocupações sobre discriminação. As mulheres que tiveram maior nível de TMCs, tiveram maior exposição a experiências de racismo. Também evidenciou-se que a relação entre TMCs e exposição ao racismo é mais concentrada em mulheres que se declararam de cor parda, seguidas pelas de cor negra e, por fim, do tom branco. Segundo a pesquisa, os resultados são importantes pelo fato de indicar que os futuros estudos sobre TMC em saúde pública deverão, também, considerar preconceito em nível de grupo tanto quanto em nível individual, além da cor da pele.
Da Agência Fiocruz de Notícias, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/03/2018
Autor: Agência Fiocruz de Notícias
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/03/28/pesquisa-indica-que-vitimas-de-racismo-tem-maior-chance-de-sofrer-transtornos-mentais/
Relatório revela que as atividades humanas já impactaram 75% da superfície terrestre
Número deve chegar a 90% até 2050, segundo o novo relatório sobre degradação e restauração de áreas degradadas divulgado pela Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES) (foto: Dudarev Mikhail / Shutterstock.com)
Apenas 25% da superfície terrestre permanece livre de impactos substanciais causados por atividades humanas. E o índice deve cair para meros 10% até 2050, segundo projeções da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
“Apenas algumas regiões nos polos, desertos e as partes mais inacessíveis das florestas tropicais permanecem intactas”, afirmou o sul-africano Robert Scholes, um dos coordenadores do relatório temático sobre Degradação e Restauração de Terras Degradadas divulgado pela IPBES nesta segunda-feira (26/3), em Medellín, na Colômbia.
O documento na íntegra e um sumário para tomadores de decisão foram aprovados pelos 129 países-membros da entidade durante a 6a Reunião Plenária, que ocorreu entre os dias 17 e 24 de março.
Segundo o texto, até o ano de 2014, mais de 1,5 bilhão de hectares de ecossistemas naturais foram convertidos em áreas agrícolas. Plantações e pastagens cobrem atualmente mais de um terço da superfície do planeta. “Os processos mais recentes de desmatamento estão ocorrendo nas regiões do globo mais ricas em biodiversidade”, afirmaram os autores no texto.
De acordo com Scholes, pode ser definido como degradação o processo que leva um ecossistema terrestre ou aquático a sofrer um declínio persistente das funções ecossistêmicas e da biodiversidade. “É quando uma determinada região tem sua capacidade de sustentar a vida – humana ou não – persistentemente reduzida”, explicou.
A expansão não sustentável de áreas dedicadas à agricultura e à pecuária é apontada no relatório como uma das principais causas do problema – que tende a se agravar com a demanda crescente por comida e biocombustíveis. Segundo os autores, o uso de pesticidas e fertilizantes deve dobrar até 2050.
“Esses produtos químicos em excesso contaminam não apenas o solo como também os sistemas aquáticos, terminando por afetar a zona costeira. Já temos centenas de áreas mortas em regiões como o Golfo do México e isso ocorre por causa da forma que manejamos a terra. Portanto, esta é também uma questão de segurança hídrica e de preservação da costa”, disse Robert Watson, presidente da IPBES.
Outro fator importante que tem contribuído para a degradação de ecossistemas, de acordo com os cientistas da IPBES, é o estilo de vida de alto consumo dos países desenvolvidos – bem como o consumo crescente observado nos países em desenvolvimento.
O combate ao problema, afirmam, deve necessariamente incluir a adoção de uma dieta mais sustentável, com menos produtos de origem animal e maior preocupação com os métodos usados na produção dos alimentos e demais produtos consumidos.
“Não estamos dizendo para as pessoas pararem de comer carne, mas para se preocuparem com o modo com que ela foi produzida. E, acima de tudo, acabar com o desperdício de comida. Hoje, entre 35% e 40% do que é produzido nos países desenvolvidos não é aproveitado”, disse Watson.
Para o italiano Luca Montanarella, outro coordenador do relatório, é necessário um esforço de comunicação que ajude moradores das áreas urbanas a se reconectarem com a terra que os alimenta.
“Esperamos que a solução para problemas como esse venha de fora, mas nós, como consumidores, temos nossa carga de responsabilidade. Estamos dispostos a pagar caro por celulares ou computadores, mas queremos que a comida seja barata. E não percebemos os impactos de nossas escolhas alimentares porque, muitas vezes, eles se manifestam em regiões distantes”, disse.
Para Montanarella, a degradação da superfície terrestre é um problema que precisa ser resolvido localmente, mas em um contexto global. Na avaliação de Scholes, os subsídios oferecidos pelos governos aos produtores rurais tendem a promover uma expansão não sustentável da produção, pois permitem que corram mais riscos.
“É possível aumentar a produção sem avançar sobre áreas naturais e sem abusar de produtos químicos. Intensificação é uma grande parte da resposta, mas por meio de uma melhora das práticas de manejo da terra, promovendo a ciclagem de nutrientes, por exemplo”, afirmou.
Para Scholes, o Brasil está em uma posição favorável para lidar com essas questões por ter fortalecido ao longo dos últimos anos sua capacidade de realizar pesquisas científicas e por ter especialistas capazes de orientar soluções.
“Há um clamor político pelo fim do desmatamento e da destruição de áreas alagáveis. Temos uma oportunidade de começar a fazer as coisas de um jeito melhor. Há espaço no mercado para isso. As pessoas cada vez mais vão se questionar se os produtos que compram do Brasil são bons ou ruins [do ponto de vista ambiental]”, disse Scholes.
Watson reconhece que a produção de biocombustíveis, soja e carne é hoje a base da economia brasileira e afirma ser valiosa para muitos outros países. “O desafio é produzir esses bens de maneira mais sustentável. Avançar em direção das boas práticas. Há um jeito mais esperto de fazer isso e seria uma grande contribuição do Brasil.”
Três faces do mesmo problema
De acordo com o relatório da IPBES, os processos de degradação da terra já comprometem o bem-estar de dois quintos da humanidade – 3,2 bilhões de pessoas. Isso tem sido uma das principais causas de migração humana – o que, por sua vez, está relacionado com a intensificação de conflitos entre os povos e empobrecimento de populações, na avaliação de Watson.
“A degradação da superfície terrestre está nos conduzindo para a sexta extinção em massa de espécies”, alertou Scholes.
Para os autores do relatório, processos de degradação, perda de biodiversidade e mudanças climáticas são três faces de um mesmo problema – um fator intensifica o outro e não pode ser combatido isoladamente.
Segundo o documento, os processos de degradação contribuem fortemente para a mudança climática, tanto pelas emissões de gases-estufa resultantes do desmatamento como pela liberação do carbono anteriormente armazenado no solo. Foram liberados 4,4 bilhões de toneladas de CO2 somente entre os anos de 2000 e 2009, segundo a IPBES.
“Dada a importância da função de sequestro e armazenamento de carbono pelo solo, reduzir e reverter os processos de degradação da terra podem oferecer mais de um terço das atividades de mitigação da emissão de gases estufa necessárias até 2030 para manter a elevação da temperatura média da Terra abaixo de 2 oC, como propõe o Acordo de Paris, além de aumentar a segurança alimentar, hídrica e reduzir conflitos relacionados à migração”, disseram os cientistas.
Outro objetivo do relatório temático foi avaliar processos de restauração de terras degradadas já concluídos ou em andamento. Como explicou Scholes, foi definida como restauração qualquer iniciativa intencional de acelerar a recuperação de ecossistemas degradados.
“Fizemos uma diferenciação entre restauração e reabilitação. Esta última corresponde a iniciativas voltadas a recuperar algumas das funções críticas da terra e criar condições para que talvez ela seja recuperada. Mas retornar ao que era antes da degradação pode não ser possível em muitos lugares”, explicou.
Segundo Scholes, a restauração de áreas agrícolas degradadas, por exemplo, pode significar devolver ao solo sua qualidade original – bem como promover a integração de culturas agrícolas, criação de animais e silvicultura.
Iniciativas bem-sucedidas em áreas alagáveis incluem controle de fontes poluidoras e reinundação de áreas úmidas danificadas por drenagem. Para áreas urbanas as opções são planejamento espacial, replantio de espécies nativas, desenvolvimento de “infraestrutura verde” (parques e rios), remediação de solos contaminados e cobertos (sob asfalto, por exemplo), tratamento de águas residuais e restauração de canais fluviais.
Para os cientistas, a solução do problema requer a integração das agendas agrícola, florestal, energética, hídrica e de infraestrutura e serviços. Isso, por sua vez, necessita de políticas coordenadas entre os diferentes ministérios para, simultaneamente, incentivar práticas mais sustentáveis de produção e de consumo de commodities.
Os benefícios obtidos por meio da restauração de áreas degradadas excedem em mais de 10 vezes o custo dessas iniciativas, segundo a IPBES.
“Implementar as ações adequadas pode transformar a vida de milhões de pessoas no planeta, porém, quanto mais demoramos para agir mais difícil e cara se torna a reversão do problema”, afirmou Watson.
O caso brasileiro
De acordo com Carlos Alfredo Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP e da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), a degradação está presente em todos os biomas e regiões brasileiras. É mais intensa, porém, em áreas onde a ocupação humana é mais antiga, como é o caso da Mata Atlântica.
Segundo dados do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Brasil tem 200 milhões de hectares de áreas degradadas.
Exemplos bem-sucedidos de restauração também estão presentes no país, ressaltou Joly, sendo um dos mais antigos da época do Império, no século 19.
“A restauração da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi ordenada por D. Pedro II por recomendação do Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, para recuperar e proteger as nascentes que abasteciam a cidade. O imperador mandou desapropriar terras de fazendeiros e nobres nas encostas do maciço que divide a cidade ao meio para recompor a área que, já no século 19, estava quase totalmente ocupada por fazendas, pastos e lavouras de café. Poucos turistas que visitam o Parque Nacional da Tijuca sabem que estão caminhando em uma área restaurada”, disse Joly.
Outro bom exemplo em pleno desenvolvimento é o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica – do qual o BIOTA participa por meio de pesquisadores como Ricardo Ribeiro Rodrigues e Pedro Brancalion.
Dados do BIOTA também embasaram a norma baixada pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo para regulamentar a restauração ambiental na região (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/4773/).
Rodrigues e Brancalion – ambos membros do BIOTA e da BPBES – estão entre os brasileiros que integraram a equipe de cientistas que elaborou o relatório divulgado nesta segunda-feira pela IPBES, assim como Jean Paul Metzger. Também contribuíram Marina Morais Monteiro (Universidade Federal de Goiás), Geraldo Wilson Fernandes (Universidade Federal de Minas Gerais), Simone Athayde (University of Florida, Estados Unidos) e Daniel Luis Mascia Vieira (Embrapa).
Para produzir o documento, mais de 100 autores de 45 países revisaram mais de 3 mil fontes de informação – que incluem artigos científicos, relatórios de governos e reuniões com representantes de comunidades indígenas e locais.
“O texto passou por um extenso processo de revisão por pares e foi melhorado com mais de 7,3 mil comentários de revisores externos. Além disso, o sumário para tomadores de decisão foi amplamente debatido com os representantes dos países que integram a IPBES. O objetivo desse debate é aumentar a relevância do conteúdo para a formulação de políticas públicas”, explicou Anne Larigauderie, secretária executiva da IPBES.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/03/2018
Autor: Karina Toledo, de Medellín
Apenas 25% da superfície terrestre permanece livre de impactos substanciais causados por atividades humanas. E o índice deve cair para meros 10% até 2050, segundo projeções da Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (IPBES).
“Apenas algumas regiões nos polos, desertos e as partes mais inacessíveis das florestas tropicais permanecem intactas”, afirmou o sul-africano Robert Scholes, um dos coordenadores do relatório temático sobre Degradação e Restauração de Terras Degradadas divulgado pela IPBES nesta segunda-feira (26/3), em Medellín, na Colômbia.
O documento na íntegra e um sumário para tomadores de decisão foram aprovados pelos 129 países-membros da entidade durante a 6a Reunião Plenária, que ocorreu entre os dias 17 e 24 de março.
Segundo o texto, até o ano de 2014, mais de 1,5 bilhão de hectares de ecossistemas naturais foram convertidos em áreas agrícolas. Plantações e pastagens cobrem atualmente mais de um terço da superfície do planeta. “Os processos mais recentes de desmatamento estão ocorrendo nas regiões do globo mais ricas em biodiversidade”, afirmaram os autores no texto.
De acordo com Scholes, pode ser definido como degradação o processo que leva um ecossistema terrestre ou aquático a sofrer um declínio persistente das funções ecossistêmicas e da biodiversidade. “É quando uma determinada região tem sua capacidade de sustentar a vida – humana ou não – persistentemente reduzida”, explicou.
A expansão não sustentável de áreas dedicadas à agricultura e à pecuária é apontada no relatório como uma das principais causas do problema – que tende a se agravar com a demanda crescente por comida e biocombustíveis. Segundo os autores, o uso de pesticidas e fertilizantes deve dobrar até 2050.
“Esses produtos químicos em excesso contaminam não apenas o solo como também os sistemas aquáticos, terminando por afetar a zona costeira. Já temos centenas de áreas mortas em regiões como o Golfo do México e isso ocorre por causa da forma que manejamos a terra. Portanto, esta é também uma questão de segurança hídrica e de preservação da costa”, disse Robert Watson, presidente da IPBES.
Outro fator importante que tem contribuído para a degradação de ecossistemas, de acordo com os cientistas da IPBES, é o estilo de vida de alto consumo dos países desenvolvidos – bem como o consumo crescente observado nos países em desenvolvimento.
O combate ao problema, afirmam, deve necessariamente incluir a adoção de uma dieta mais sustentável, com menos produtos de origem animal e maior preocupação com os métodos usados na produção dos alimentos e demais produtos consumidos.
“Não estamos dizendo para as pessoas pararem de comer carne, mas para se preocuparem com o modo com que ela foi produzida. E, acima de tudo, acabar com o desperdício de comida. Hoje, entre 35% e 40% do que é produzido nos países desenvolvidos não é aproveitado”, disse Watson.
Para o italiano Luca Montanarella, outro coordenador do relatório, é necessário um esforço de comunicação que ajude moradores das áreas urbanas a se reconectarem com a terra que os alimenta.
“Esperamos que a solução para problemas como esse venha de fora, mas nós, como consumidores, temos nossa carga de responsabilidade. Estamos dispostos a pagar caro por celulares ou computadores, mas queremos que a comida seja barata. E não percebemos os impactos de nossas escolhas alimentares porque, muitas vezes, eles se manifestam em regiões distantes”, disse.
Para Montanarella, a degradação da superfície terrestre é um problema que precisa ser resolvido localmente, mas em um contexto global. Na avaliação de Scholes, os subsídios oferecidos pelos governos aos produtores rurais tendem a promover uma expansão não sustentável da produção, pois permitem que corram mais riscos.
“É possível aumentar a produção sem avançar sobre áreas naturais e sem abusar de produtos químicos. Intensificação é uma grande parte da resposta, mas por meio de uma melhora das práticas de manejo da terra, promovendo a ciclagem de nutrientes, por exemplo”, afirmou.
Para Scholes, o Brasil está em uma posição favorável para lidar com essas questões por ter fortalecido ao longo dos últimos anos sua capacidade de realizar pesquisas científicas e por ter especialistas capazes de orientar soluções.
“Há um clamor político pelo fim do desmatamento e da destruição de áreas alagáveis. Temos uma oportunidade de começar a fazer as coisas de um jeito melhor. Há espaço no mercado para isso. As pessoas cada vez mais vão se questionar se os produtos que compram do Brasil são bons ou ruins [do ponto de vista ambiental]”, disse Scholes.
Watson reconhece que a produção de biocombustíveis, soja e carne é hoje a base da economia brasileira e afirma ser valiosa para muitos outros países. “O desafio é produzir esses bens de maneira mais sustentável. Avançar em direção das boas práticas. Há um jeito mais esperto de fazer isso e seria uma grande contribuição do Brasil.”
Três faces do mesmo problema
De acordo com o relatório da IPBES, os processos de degradação da terra já comprometem o bem-estar de dois quintos da humanidade – 3,2 bilhões de pessoas. Isso tem sido uma das principais causas de migração humana – o que, por sua vez, está relacionado com a intensificação de conflitos entre os povos e empobrecimento de populações, na avaliação de Watson.
“A degradação da superfície terrestre está nos conduzindo para a sexta extinção em massa de espécies”, alertou Scholes.
Para os autores do relatório, processos de degradação, perda de biodiversidade e mudanças climáticas são três faces de um mesmo problema – um fator intensifica o outro e não pode ser combatido isoladamente.
Segundo o documento, os processos de degradação contribuem fortemente para a mudança climática, tanto pelas emissões de gases-estufa resultantes do desmatamento como pela liberação do carbono anteriormente armazenado no solo. Foram liberados 4,4 bilhões de toneladas de CO2 somente entre os anos de 2000 e 2009, segundo a IPBES.
“Dada a importância da função de sequestro e armazenamento de carbono pelo solo, reduzir e reverter os processos de degradação da terra podem oferecer mais de um terço das atividades de mitigação da emissão de gases estufa necessárias até 2030 para manter a elevação da temperatura média da Terra abaixo de 2 oC, como propõe o Acordo de Paris, além de aumentar a segurança alimentar, hídrica e reduzir conflitos relacionados à migração”, disseram os cientistas.
Outro objetivo do relatório temático foi avaliar processos de restauração de terras degradadas já concluídos ou em andamento. Como explicou Scholes, foi definida como restauração qualquer iniciativa intencional de acelerar a recuperação de ecossistemas degradados.
“Fizemos uma diferenciação entre restauração e reabilitação. Esta última corresponde a iniciativas voltadas a recuperar algumas das funções críticas da terra e criar condições para que talvez ela seja recuperada. Mas retornar ao que era antes da degradação pode não ser possível em muitos lugares”, explicou.
Segundo Scholes, a restauração de áreas agrícolas degradadas, por exemplo, pode significar devolver ao solo sua qualidade original – bem como promover a integração de culturas agrícolas, criação de animais e silvicultura.
Iniciativas bem-sucedidas em áreas alagáveis incluem controle de fontes poluidoras e reinundação de áreas úmidas danificadas por drenagem. Para áreas urbanas as opções são planejamento espacial, replantio de espécies nativas, desenvolvimento de “infraestrutura verde” (parques e rios), remediação de solos contaminados e cobertos (sob asfalto, por exemplo), tratamento de águas residuais e restauração de canais fluviais.
Para os cientistas, a solução do problema requer a integração das agendas agrícola, florestal, energética, hídrica e de infraestrutura e serviços. Isso, por sua vez, necessita de políticas coordenadas entre os diferentes ministérios para, simultaneamente, incentivar práticas mais sustentáveis de produção e de consumo de commodities.
Os benefícios obtidos por meio da restauração de áreas degradadas excedem em mais de 10 vezes o custo dessas iniciativas, segundo a IPBES.
“Implementar as ações adequadas pode transformar a vida de milhões de pessoas no planeta, porém, quanto mais demoramos para agir mais difícil e cara se torna a reversão do problema”, afirmou Watson.
O caso brasileiro
De acordo com Carlos Alfredo Joly, coordenador do Programa BIOTA-FAPESP e da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos (BPBES), a degradação está presente em todos os biomas e regiões brasileiras. É mais intensa, porém, em áreas onde a ocupação humana é mais antiga, como é o caso da Mata Atlântica.
Segundo dados do Departamento de Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Brasil tem 200 milhões de hectares de áreas degradadas.
Exemplos bem-sucedidos de restauração também estão presentes no país, ressaltou Joly, sendo um dos mais antigos da época do Império, no século 19.
“A restauração da Floresta da Tijuca, no Rio de Janeiro, foi ordenada por D. Pedro II por recomendação do Conselheiro José Bonifácio de Andrada e Silva, para recuperar e proteger as nascentes que abasteciam a cidade. O imperador mandou desapropriar terras de fazendeiros e nobres nas encostas do maciço que divide a cidade ao meio para recompor a área que, já no século 19, estava quase totalmente ocupada por fazendas, pastos e lavouras de café. Poucos turistas que visitam o Parque Nacional da Tijuca sabem que estão caminhando em uma área restaurada”, disse Joly.
Outro bom exemplo em pleno desenvolvimento é o Pacto pela Restauração da Mata Atlântica – do qual o BIOTA participa por meio de pesquisadores como Ricardo Ribeiro Rodrigues e Pedro Brancalion.
Dados do BIOTA também embasaram a norma baixada pela Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo para regulamentar a restauração ambiental na região (leia mais em: http://agencia.fapesp.br/4773/).
Rodrigues e Brancalion – ambos membros do BIOTA e da BPBES – estão entre os brasileiros que integraram a equipe de cientistas que elaborou o relatório divulgado nesta segunda-feira pela IPBES, assim como Jean Paul Metzger. Também contribuíram Marina Morais Monteiro (Universidade Federal de Goiás), Geraldo Wilson Fernandes (Universidade Federal de Minas Gerais), Simone Athayde (University of Florida, Estados Unidos) e Daniel Luis Mascia Vieira (Embrapa).
Para produzir o documento, mais de 100 autores de 45 países revisaram mais de 3 mil fontes de informação – que incluem artigos científicos, relatórios de governos e reuniões com representantes de comunidades indígenas e locais.
“O texto passou por um extenso processo de revisão por pares e foi melhorado com mais de 7,3 mil comentários de revisores externos. Além disso, o sumário para tomadores de decisão foi amplamente debatido com os representantes dos países que integram a IPBES. O objetivo desse debate é aumentar a relevância do conteúdo para a formulação de políticas públicas”, explicou Anne Larigauderie, secretária executiva da IPBES.
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/03/2018
Autor: Karina Toledo, de Medellín
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/03/28/relatorio-revela-que-as-atividades-humanas-ja-impactaram-75-da-superficie-terrestre/
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/03/28/relatorio-revela-que-as-atividades-humanas-ja-impactaram-75-da-superficie-terrestre/
O grande crescimento global da energia solar em 2017, artigo de José Eustáquio Diniz Alves
O mundo adicionou quase 100 GW de energia solar fotovoltaica (PV) em 2017. O que foi adicionado em 2017 corresponde a toda a capacidade acumulada global até 2012. Isto equivale a mais de 7 usinas hidrelétricas de Itaipu construídas em um só ano.
O crescimento da energia solar PV tem ocorrido acima de todas as expectativas e já coloca esta fonte de energia renovável como a de maior crescimento e aquela que deve apresentar os maiores avanços nos próximos anos, em função da redução do preço de produção e devido à capacidade de atender a demanda do mercado, especialmente na produção e distribuição decentralizada.
Enquanto a energia solar PV aumentou a capacidade anual em 98,9 GW a energia eólica aumentou sua capacidade anual em 52,6 GW em 2017. O predomínio solar é evidente e esta fonte de energia renovável tem um futuro brilhante pela frente.
Em 2016, os três maiores produtores foram China, que adicionou 34,5 GW (representando 45% do total mundial), Estados Unidos, que adicionou 14,8 GW (representando 19% do total global) e Japão, que adicionou 8,6 GW (representando 11% do total). Em 2017, a liderança da China foi ainda maior, pois o gigante asiático adicionou 52,8 GW (representando mais da metade da capacidade instalada global), seguida dos EUA com apenas 11,8 GW (representado 12% do total) e a Índia vindo em terceiro lugar com 9,6 GW (representando 10% do total).
Nota-se que no ano passado a China e a Índia (Chíndia) foram responsáveis por quase dois terços na nova capacidade instalada de energia solar fotovoltaica. Tudo indica que estes dois países vão continuar na dianteira em 2018.
Como já destaquei em outras ocasiões, o mundo baseado na energia renovável é inevitável. Como se diz: “O futuro será renovável ou não haverá futuro”. Contudo, mesmo que o mundo consiga chegar a 100% de energia renovável em 2050, a concentração de CO2 na atmosfera (que neste mês de abril de 2018 deve ultrapassar 410 ppm) pode ir além de 500 ppm até 2050 e tornar o aquecimento global incontrolável nos limites necessários para evitar uma tragédia.
Além do mais, existem muitas dúvidas se o aumento da capacidade instalada de energias renováveis será capaz de funcionar em uma rede inteligente global. Gail Tverberg considera que existe muita ilusão sendo vendida em nome das energias “limpas” (ver artigo de 30/01/2017). Todavia, sem dúvida, o avanço da transição energética é melhor do que a dependência dos combustíveis fósseis.
O sol é um recurso natural abundante e renovável, mas, certamente, não pode fazer milagres e nem evitar o imperativo do metabolismo entrópico, como ensina a escola da economia ecológica. A humanidade já ultrapassou a capacidade de carga do Planeta. Como alertou o ambientalista Ted Trainer (2007), as energias renováveis não são suficientes para manter a expectativa das pessoas por um alto padrão de consumo conspícuo. Trainer prega um mundo mais frugal, com decrescimento demoeconômico, onde as pessoas adotem um estilo de vida com base nos princípios da Simplicidade Voluntária.
O futuro da Terra pode ser brilhante, mas apenas se houver uma mudança radical do modelo de produção e consumo hegemônico e se a Era dos Combustíveis Fósseis for superada pela Era do Sol (do Vento e da água), com redução das atividades antrópicas. O mundo precisa urgentemente descarbonizar a economia e recuperar os ecossistemas, além de ampliar as áreas anecúmenas e promover o bem-estar de todas as espécies vivas do Planeta.
A revolução necessária vai muito além das energias renováveis e requer o decrescimento demoeconômico para equilibrar a Pegada Ecológica com a Biocapacidade da Terra.
Referências:
ALVES, JED. Energia renovável: um salto na evolução? , Ecodebate, 29/01/2010
http://www.ecodebate.com.br/2010/01/29/energia-renovavel-um-salto-na-evolucao-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
ALVES, JED. Ascensão e queda da civilização dos combustíveis fósseis, Ecodebate, 02/04/2014
http://www.ecodebate.com.br/2014/04/02/ascensao-e-queda-da-civilizacao-dos-combustiveis-fosseis-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Ted Trainer. Renewable Energy Cannot Sustain a Consumer Society, Springer, 2007
http://www.springer.com/la/book/9781402055485
Gail Tverberg. The “Wind and Solar Will Save Us” Delusion, Our Finite World, 30/01/2017
https://ourfiniteworld.com/2017/01/30/the-wind-and-solar-will-save-us-delusion/
Joshua S Hill. Global Solar Market Installed 98.9 Gigawatts In 2017, Cleantechnica, 19/03/2017
https://cleantechnica.com/2018/03/19/global-solar-market-installed-98-9-gigawatts-in-2017/
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado e doutorado em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 28/03/2018
Autor: José Eustáquio Diniz Alves
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2018/03/28/o-grande-crescimento-global-da-energia-solar-em-2017-artigo-de-jose-eustaquio-diniz-alves/
Redecomep e Rede Rio: ligando a medicina ao futuro
Uma das enfermarias do Hospital da Lagoa: objetivo é treinar e capacitar funcionários por videoconferência (Foto: Divulgação/HFL)
Sabe a Internet que geralmente as pessoas acessam em suas casas? Imagina uma conexão 100 vezes mais rápida. É essa conexão, com linhas dedicadas de 1 gigabit por segundo de velocidade, que instituições de ensino e pesquisa do estado do Rio de Janeiro vêm tendo acesso gratuitamente à Internet. Esse trabalho faz parte do consórcio existente entre a Redecomep/RJ, iniciativa do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) coordenada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), com a Rede Rio de Computadores/FAPERJ, instalada no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF). Segundo Sandro L. Silva, da equipe de engenharia da Rede Rio e da Redecomep, já foram contempladas mais de 100 instituições do Rio com essa Internet, que possui uma extensão de 300 km de fibra ótica própria em toda região metropolitana do estado, incluindo o Museu do Amanhã, na Zona Portuária do Rio, e a Fundação Cecierj/Consórcio Cederj.
A mais recente instituição a receber esse benefício foi o Hospital Federal da Lagoa (HFL), referência, principalmente, pelos tratamentos oncológicos infantis e pelas intervenções cirúrgicas. Segundo o diretor geral do hospital, o médico Pedro Cirillo, a implantação dessa Internet de alta velocidade será fundamental para o desenvolvimento dos projetos de capacitação dos funcionários e dos programas de residência médica, de enfermagem e de farmácia que incluem em torno de 200 residentes. “Vamos capacitar e treinar todos os funcionários do hospital, de enfermeiros a médicos, de fisioterapeutas a psicólogos. Todas as especialidades serão beneficiadas com esse projeto. Também iremos compartilhar informações valiosas, como aulas e conteúdo didático aplicados nos cursos de residência, além da filmagem de cirurgias importantes”, diz Cirillo.
“A Internet também será muito importante para os programas de residência médica”, afirma a a médica Angela Carrano, coordenadora do Centro de Estudos Oscar Niemeyer do HFL, denominado assim, pois o prédio do hospital, de dez andares, foi projetado pelo famoso arquiteto, com a participação de Helio Uchoa, o paisagista Roberto Burle Marx e o artista plástico Athos Bulcão, que confeccionou o mural de azulejos externo do hospital. O edifício, construído em 1952 e inaugurado em 1958, foi tombado em 1992 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac). O centro de estudos dispõe de uma biblioteca equipada com terminais de computadores e dois auditórios, onde será instalada uma sala de videoconferências com câmeras de vídeo, alto-falantes e outros equipamentos ligados à Internet de alta velocidade.
De acordo com Angela, o mais importante a partir de agora é que, com essa Internet, o HFL poderá se beneficiar da conexão à Rede Universitária de Telemedicina (RUTE), uma iniciativa do MCTIC, apoiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e pela Associação Brasileira de Hospitais Universitários (Abrahue), coordenada pela RNP que interliga hospitais e universidades federais em todo o Brasil. “Com a RUTE poderemos compartilhar arquivos e realizar videoconferências com Instituições de todo o Brasil e, para isso, precisávamos de uma Internet de altíssima qualidade”, destaca.
Ela ressalta que a chegada da rede viabilizará a possibilidade de os médicos contarem com outras opiniões para diagnósticos difíceis. “Se, por acaso, aparecer um caso raro em qualquer local do Brasil ligado à rede, médicos especialistas no assunto poderão se reunir on-line e decidir juntos um diagnóstico”, explica. Para Angela, essa possibilidade de colaboração conjunta e de compartilhamento de informações representa um grande avanço para a medicina. “Agora que fomos beneficiados por essa rede de Internet de altíssima qualidade e com todas as possibilidades de melhora para o hospital que a Rede Rio nos trouxe, posso dizer que estamos conectados ao futuro”, diz a médica.
Autor: Danielle Kiffer
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3545.2.3
Os desafios éticos dos avanços tecnológicos*
O avanço do conhecimento tecnológico vêm inaugurando um mundo de inovações, que se consolidarão ao longo do século XXI. Por um lado, os atuais avanços da Genética, entre eles a “edição” do sequenciamento do DNA humano por cientistas, vão abrir possibilidades únicas para aprimorar o diagnóstico e o tratamento de doenças. Por outro, o uso de tecnologias, não apenas com o objetivo de tratar uma doença ou reestabelecer capacidades físicas perdidas em acidentes, mas para ampliar as capacidades físicas ou cognitivas de uma pessoa saudável, vão se tornar muito mais frequentes. Essa última área, denominada “aprimoramento humano” (human enhancement), diz respeito à tentativa de elevar o rendimento, no exercício de certas capacidades físicas, cognitivas ou psicológicas, a um patamar superior ao considerado “normal” – como no caso do uso de próteses inteligentes ou de drogas para aumentar o desempenho físico e intelectual. E ainda, no surpreendente cenário de inovações que se avizinha, haverá uma interação cada vez maior entre humanos, robôs, dispositivos e implantes tecnológicos, levando o estreitamento de laços entre a humanidade e a inteligência artificial a níveis talvez só imaginados anteriormente nas obras de ficção científica.
Diante desse cenário de inegáveis avanços tecnológicos, também despontam novos desafios, com o surgimento de verdadeiros dilemas no campo da Ética e do Direito. Afinal, os limites para que uma inovação tecnológica seja revolucionária ou negativa para a sociedade são tênues. Para investigar essas questões, a psicóloga e filósofa Maria Clara Dias, que é Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, e professora do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), e o filósofo Marcelo de Araujo, professor da FND e do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), dedicam-se ao projeto de pesquisa internacional Sienna – sigla para Stakeholder-Informed Ethics for New technologies with high socio-economic and human rights impact, que conta com recursos da ordem de 4 milhões de euros, providos pelo programa Horizon 2020, da União Europeia. Ambos são, também, pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na modalidade “bolsa de produtividade”.
Lançado em outubro de 2017 e com duração prevista de três anos e meio, o projeto é coordenado pela Universidade de Twente, na Holanda, com o suporte da empresa especializada em consultoria multidisciplinar na área de desenvolvimento tecnológico Trilateral Research, do Reino Unido, sendo desenvolvido por uma rede de pesquisadores de instituições localizadas em diferentes países. O propósito do Sienna é fazer, em primeiro lugar, um levantamento de quais novas tecnologias já são usadas nos países integrantes, qual a opinião pública sobre os limites éticos e sociais da utilização delas em cada um desses países, e, a partir de discussões com acadêmicos e gestores da área tecnológica, lançar as bases para estabelecer, ao final do projeto, diretrizes internacionais para nortear a elaboração de normas jurídicas, a serem pactuadas futuramente por todas as nações que o integram, e assim orientar e regular o uso socialmente responsável dessas inovações tecnológicas.
“O objetivo do projeto é avaliar as implicações éticas e sociais do uso das novas tecnologias, em três eixos temáticos: genética, inteligência artificial e ‘aprimoramento humano’. Ainda não existe uma padronização internacional de legislação para essas inovações. Daí a necessidade de se estabelecer um projeto coletivo, pois não adianta um país estabelecer uma lei rígida e outros não, já que as empresas migram em busca de uma legislação mais branda”, explica Maria Clara, que coordena o estudo na UFRJ, lembrando que a universidade é a única instituição nas Américas que integra o projeto, além do Centro Berkman Klein para Internet e Sociedade, que integra a Escola de Direito da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Marcelo de Araujo e Maria Clara Dias destacam que o projeto vai orientar o estabelecimento de normas de uso das novas tecnologias (Foto: Divulgação/UFRJ)
O grupo da UFRJ pesquisa o chamado “aprimoramento humano”, tema que vem ganhando destaque nas discussões filosóficas, mais particularmente, no campo da Ética. A questão em debate é que a tecnologia já é – e será ainda mais nos próximos anos – uma importante aliada para aprimorar as habilidades humanas, na forma de implantes (inclusive neurais) e próteses inteligentes, drogas, melhoramentos genéticos ou aparatos tecnológicos. O desejo de aprimoramento humano é antigo na história das sociedades, mas somente com o atual avanço das biociências, da robótica, da nanotecnologia e da biomecatrônica, esse ideal de aprimoramento, adaptação, superação e evolução biológica da espécie humana vem se tornando cientificamente mais tangível. Mas quais são os limites éticos e morais para a intervenção artificial sobre a constituição dos seres vivos? Qual a validade do argumento de que há uma fronteira entre aquilo que cresceu naturalmente e aquilo que foi feito artificialmente, e de que este limite deve, do ponto de vista moral, ser preservado?
Diante desses dilemas, torna-se cada vez mais urgente discutir os aspectos da ética e da bioética envolvidos com a ampliação das capacidades humanas mediante o uso de tecnologias já disponíveis e em desenvolvimento – que resultarão nos “humanos aprimorados”, ou seja, em pessoas dotadas de capacidades físicas e mentais acima das capacidades tidas como “normais” dos humanos. “O diferencial desse projeto é que ele pretende orientar o estabelecimento de políticas públicas para regulamentar a utilização das novas tecnologias de acordo com os valores de justiça social e direitos humanos. Poucos países possuem legislação sobre o tema, tampouco o Brasil tem, até pelo ineditismo do assunto”, completou Araujo, que, por sua vez, foi contemplado pela FAPERJ em 2014, com o programa Cooperação bilateral FAPERJ – Birmingham e/ou Nottingham.
De acordo com os pesquisadores, pode-se dizer, brevemente, que há duas correntes de pensamento teórico opostas sobre essa questão. O debate em torno da moralidade do uso das técnicas biocientíficas para o aprimoramento humano, dizem, está polarizado entre aqueles que assumem uma postura a favor do aprimoramento (os transhumanistas) e os que se posicionam como contrários a ele (os bioconservadores). “Entre os transhumanistas estão aqueles que acreditam que um amplo rol de técnicas de aprimoramento deve ser desenvolvido e que as pessoas devem ser livres para usá-las e transformar-se de acordo com sua vontade. Segundo esta perspectiva, até mesmo os indivíduos considerados saudáveis seriam beneficiados pelas inovações biotecnológicas. Já os bioconservadores defendem a indisponibilidade do patrimônio genético humano à tecnicização, pois as tecnologias de aprimoramento humano comprometeriam a dignidade humana”, resume Maria Clara.
A pesquisadora acredita que as novas tecnologias para aprimoramento humano devem ser utilizadas sim, mas com cautela, especialmente pela possibilidade de se criar um abismo em relação ao acesso a essas inovações. “O problema não são as inovações, mas quem terá o poder sobre elas. É preciso pensar na possibilidade real de um aumento nas desigualdades entre populações de diferentes países, desenvolvidos e periféricos, causado pela limitação do acesso às novas tecnologias utilizadas para o aprimoramento humano. Isto se o acesso a elas for mercantilizado, depender das condições econômicas das pessoas. Alguns segmentos populacionais, de menor poder aquisitivo, podem ficar deficitários cognitivamente ou fisicamente se não aderirem ao aprimoramento humano e as camadas mais ricas aderirem”, ponderou Maria Clara. “Um exemplo será o controle das técnicas de manipulação genética. Elas ficarão sob a responsabilidade de laboratórios, de empreendedores particulares ou dos governos? É preciso discutir e regular essas questões”, completou.
As questões éticas que surgem com a possibilidade de editar ou modificar uma sequência do código genético humano são o tema da pesquisa que Marcelo de Araujo está desenvolvendo na Universidade de Konstanz, na Alemanha. O pesquisador obteve uma bolsa da Fundação Alexander von Humboldt para pesquisar a ética da edição genômica no Departamento de Filosofia daquela universidade alemã. Ele analisa, especificamente, os dilemas morais decorrentes da invenção de um novo método de edição genética, utilizando a proteína CRISPR-Cas9 – do inglês, Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas –, que funciona como uma tesoura molecular, cortando e remendando, literalmente, trechos indesejados do DNA. Em 2015, esse sistema foi utilizado por cientistas da Universidade de Sun Yat-sen, na China, para editar o genoma de 86 embriões humanos não viáveis – sem condições de se tornarem embriões –, em um experimento que provocou um debate mundial sobre os limites éticos da ciência. Na ocasião, a equipe teve como objetivo modificar o gene responsável pela beta-talassemia, um distúrbio sanguíneo fatal.
Pouco tempo depois, em julho de 2017, houve a primeira tentativa de criar embriões humanos geneticamente modificados, realizada por pesquisadores da Oregon Health and Science University, nos Estados Unidos. Eles alteraram o DNA de embriões unicelulares, ainda nas primeiras fases de desenvolvimento, e conseguiram a completa alteração dos genes selecionados, logrando um resultado promissor, com poucas mutações erradas (off-target). Esses fatores representam um grande passo rumo ao nascimento da primeira geração de humanos geneticamente modificados. Uma vez editado geneticamente, o embrião seria capaz de transmitir a característica alterada aos seus descendentes.
O surgimento de inovações científicas e tecnológicas, como a edição do genoma humano, abre espaço para novos dilemas no campo da Ética e do Direito (Ilustração: Vitstudio)
E se pudéssemos, antes mesmo de a pessoa nascer, modificar o genoma de um embrião humano para que ele, mais tarde, se torne uma pessoa com capacidades especiais? E, igualmente, escolher o sexo do bebê, a cor dos olhos ou as suas habilidades quando ficasse adulto? A experiência, desse modo, suscita um temor do uso da engenharia genética para experimentos que promovam a segregação social – o que faz relembrar o fantasma da eugenia nazista, que com a teoria da “pureza racial” pregava a “melhoria” das populações por meio do casamento de pessoas com características supostamente “superiores” e a eliminação ou esterilização das ditas “indesejadas”, desde doentes mentais a homossexuais, passando por negros, índios e judeus.
O filósofo também defende o uso responsável e regulado das novas tecnologias. “Embora o objetivo dos cientistas seja desenvolver métodos que, no futuro, possam auxiliar na erradicação de doenças hereditárias por meio da edição dos genes responsáveis pelas enfermidades, o experimento é controverso por abrir uma porta para experimentos de engenharia genética que, se realizados irresponsavelmente, podem trazer, no futuro, efeitos temerários para a humanidade, como uma discriminação genética dos indivíduos geneticamente aprimorados sobre os indivíduos naturais”, avaliou Araujo.
Nos Estados Unidos, pesquisas com embriões humanos não são proibidas, mas elas não podem ser financiadas com verbas do governo federal. O experimento que ocorreu no Oregon Health and Science University foi financiado por meio de doações privadas. “Por isso, é preciso analisar o tema em âmbito internacional. No Brasil, uma nova legislação teria de ser amplamente debatida pela sociedade civil para se regular o uso de edição genômica em clínicas de fertilização. Curiosamente, a legislação brasileira não permite a compra ou venda de sêmen humano em território nacional, mas, por outro lado, também não proíbe a importação de sêmen humano”, disse o pesquisador, que coordena na UFRJ o grupo de estudo Ética, Direito, e Novas Tecnologias. Hoje, essas inovações tecnológicas discutidas no âmbito do projeto podem parecer distantes para a sociedade em geral, mas o desenvolvimento das tecnologias de aprimoramento humano vão forçar as populações a decidirem se aprovam ou não os dilemas que envolvem a bioética.
Entre as outras instituições que participam do projeto Sienna, estão a Universidade de Uppsala, na Suécia; a Fundação Helsinki de Direitos Humanos, na Polônia; a Universidade de Granada, na Espanha; a Universidade Ionian, na Grécia; a Universidade Tecnológica de Dalian, na China; o Centro Nacional de Pesquisa Científica (Sciences Po), da França; a Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul e a Universidade de Chuo, no Japão. O projeto também tem o suporte de organizações como a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização para o Genoma Humano, o Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), organização técnico-profissional dedicada ao avanço da tecnologia para a humanidade, a EURobotics, a All European Academies (ALLEA), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Conselho Europeu.
* Reportagem originalmente publicada em Rio Pesquisa, Ano XI, Nº 41 (dezembro de 2017)
Autor: Débora Motta
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3540.2.6
Diante desse cenário de inegáveis avanços tecnológicos, também despontam novos desafios, com o surgimento de verdadeiros dilemas no campo da Ética e do Direito. Afinal, os limites para que uma inovação tecnológica seja revolucionária ou negativa para a sociedade são tênues. Para investigar essas questões, a psicóloga e filósofa Maria Clara Dias, que é Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, e professora do Departamento de Filosofia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS/UFRJ), e o filósofo Marcelo de Araujo, professor da FND e do Departamento de Filosofia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), dedicam-se ao projeto de pesquisa internacional Sienna – sigla para Stakeholder-Informed Ethics for New technologies with high socio-economic and human rights impact, que conta com recursos da ordem de 4 milhões de euros, providos pelo programa Horizon 2020, da União Europeia. Ambos são, também, pesquisadores do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), na modalidade “bolsa de produtividade”.
Lançado em outubro de 2017 e com duração prevista de três anos e meio, o projeto é coordenado pela Universidade de Twente, na Holanda, com o suporte da empresa especializada em consultoria multidisciplinar na área de desenvolvimento tecnológico Trilateral Research, do Reino Unido, sendo desenvolvido por uma rede de pesquisadores de instituições localizadas em diferentes países. O propósito do Sienna é fazer, em primeiro lugar, um levantamento de quais novas tecnologias já são usadas nos países integrantes, qual a opinião pública sobre os limites éticos e sociais da utilização delas em cada um desses países, e, a partir de discussões com acadêmicos e gestores da área tecnológica, lançar as bases para estabelecer, ao final do projeto, diretrizes internacionais para nortear a elaboração de normas jurídicas, a serem pactuadas futuramente por todas as nações que o integram, e assim orientar e regular o uso socialmente responsável dessas inovações tecnológicas.
“O objetivo do projeto é avaliar as implicações éticas e sociais do uso das novas tecnologias, em três eixos temáticos: genética, inteligência artificial e ‘aprimoramento humano’. Ainda não existe uma padronização internacional de legislação para essas inovações. Daí a necessidade de se estabelecer um projeto coletivo, pois não adianta um país estabelecer uma lei rígida e outros não, já que as empresas migram em busca de uma legislação mais branda”, explica Maria Clara, que coordena o estudo na UFRJ, lembrando que a universidade é a única instituição nas Américas que integra o projeto, além do Centro Berkman Klein para Internet e Sociedade, que integra a Escola de Direito da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
Marcelo de Araujo e Maria Clara Dias destacam que o projeto vai orientar o estabelecimento de normas de uso das novas tecnologias (Foto: Divulgação/UFRJ)
O grupo da UFRJ pesquisa o chamado “aprimoramento humano”, tema que vem ganhando destaque nas discussões filosóficas, mais particularmente, no campo da Ética. A questão em debate é que a tecnologia já é – e será ainda mais nos próximos anos – uma importante aliada para aprimorar as habilidades humanas, na forma de implantes (inclusive neurais) e próteses inteligentes, drogas, melhoramentos genéticos ou aparatos tecnológicos. O desejo de aprimoramento humano é antigo na história das sociedades, mas somente com o atual avanço das biociências, da robótica, da nanotecnologia e da biomecatrônica, esse ideal de aprimoramento, adaptação, superação e evolução biológica da espécie humana vem se tornando cientificamente mais tangível. Mas quais são os limites éticos e morais para a intervenção artificial sobre a constituição dos seres vivos? Qual a validade do argumento de que há uma fronteira entre aquilo que cresceu naturalmente e aquilo que foi feito artificialmente, e de que este limite deve, do ponto de vista moral, ser preservado?
Diante desses dilemas, torna-se cada vez mais urgente discutir os aspectos da ética e da bioética envolvidos com a ampliação das capacidades humanas mediante o uso de tecnologias já disponíveis e em desenvolvimento – que resultarão nos “humanos aprimorados”, ou seja, em pessoas dotadas de capacidades físicas e mentais acima das capacidades tidas como “normais” dos humanos. “O diferencial desse projeto é que ele pretende orientar o estabelecimento de políticas públicas para regulamentar a utilização das novas tecnologias de acordo com os valores de justiça social e direitos humanos. Poucos países possuem legislação sobre o tema, tampouco o Brasil tem, até pelo ineditismo do assunto”, completou Araujo, que, por sua vez, foi contemplado pela FAPERJ em 2014, com o programa Cooperação bilateral FAPERJ – Birmingham e/ou Nottingham.
De acordo com os pesquisadores, pode-se dizer, brevemente, que há duas correntes de pensamento teórico opostas sobre essa questão. O debate em torno da moralidade do uso das técnicas biocientíficas para o aprimoramento humano, dizem, está polarizado entre aqueles que assumem uma postura a favor do aprimoramento (os transhumanistas) e os que se posicionam como contrários a ele (os bioconservadores). “Entre os transhumanistas estão aqueles que acreditam que um amplo rol de técnicas de aprimoramento deve ser desenvolvido e que as pessoas devem ser livres para usá-las e transformar-se de acordo com sua vontade. Segundo esta perspectiva, até mesmo os indivíduos considerados saudáveis seriam beneficiados pelas inovações biotecnológicas. Já os bioconservadores defendem a indisponibilidade do patrimônio genético humano à tecnicização, pois as tecnologias de aprimoramento humano comprometeriam a dignidade humana”, resume Maria Clara.
A pesquisadora acredita que as novas tecnologias para aprimoramento humano devem ser utilizadas sim, mas com cautela, especialmente pela possibilidade de se criar um abismo em relação ao acesso a essas inovações. “O problema não são as inovações, mas quem terá o poder sobre elas. É preciso pensar na possibilidade real de um aumento nas desigualdades entre populações de diferentes países, desenvolvidos e periféricos, causado pela limitação do acesso às novas tecnologias utilizadas para o aprimoramento humano. Isto se o acesso a elas for mercantilizado, depender das condições econômicas das pessoas. Alguns segmentos populacionais, de menor poder aquisitivo, podem ficar deficitários cognitivamente ou fisicamente se não aderirem ao aprimoramento humano e as camadas mais ricas aderirem”, ponderou Maria Clara. “Um exemplo será o controle das técnicas de manipulação genética. Elas ficarão sob a responsabilidade de laboratórios, de empreendedores particulares ou dos governos? É preciso discutir e regular essas questões”, completou.
As questões éticas que surgem com a possibilidade de editar ou modificar uma sequência do código genético humano são o tema da pesquisa que Marcelo de Araujo está desenvolvendo na Universidade de Konstanz, na Alemanha. O pesquisador obteve uma bolsa da Fundação Alexander von Humboldt para pesquisar a ética da edição genômica no Departamento de Filosofia daquela universidade alemã. Ele analisa, especificamente, os dilemas morais decorrentes da invenção de um novo método de edição genética, utilizando a proteína CRISPR-Cas9 – do inglês, Clustered Regularly Interspaced Short Palindromic Repeats, ou seja, Repetições Palindrômicas Curtas Agrupadas e Regularmente Interespaçadas –, que funciona como uma tesoura molecular, cortando e remendando, literalmente, trechos indesejados do DNA. Em 2015, esse sistema foi utilizado por cientistas da Universidade de Sun Yat-sen, na China, para editar o genoma de 86 embriões humanos não viáveis – sem condições de se tornarem embriões –, em um experimento que provocou um debate mundial sobre os limites éticos da ciência. Na ocasião, a equipe teve como objetivo modificar o gene responsável pela beta-talassemia, um distúrbio sanguíneo fatal.
Pouco tempo depois, em julho de 2017, houve a primeira tentativa de criar embriões humanos geneticamente modificados, realizada por pesquisadores da Oregon Health and Science University, nos Estados Unidos. Eles alteraram o DNA de embriões unicelulares, ainda nas primeiras fases de desenvolvimento, e conseguiram a completa alteração dos genes selecionados, logrando um resultado promissor, com poucas mutações erradas (off-target). Esses fatores representam um grande passo rumo ao nascimento da primeira geração de humanos geneticamente modificados. Uma vez editado geneticamente, o embrião seria capaz de transmitir a característica alterada aos seus descendentes.
O surgimento de inovações científicas e tecnológicas, como a edição do genoma humano, abre espaço para novos dilemas no campo da Ética e do Direito (Ilustração: Vitstudio)
E se pudéssemos, antes mesmo de a pessoa nascer, modificar o genoma de um embrião humano para que ele, mais tarde, se torne uma pessoa com capacidades especiais? E, igualmente, escolher o sexo do bebê, a cor dos olhos ou as suas habilidades quando ficasse adulto? A experiência, desse modo, suscita um temor do uso da engenharia genética para experimentos que promovam a segregação social – o que faz relembrar o fantasma da eugenia nazista, que com a teoria da “pureza racial” pregava a “melhoria” das populações por meio do casamento de pessoas com características supostamente “superiores” e a eliminação ou esterilização das ditas “indesejadas”, desde doentes mentais a homossexuais, passando por negros, índios e judeus.
O filósofo também defende o uso responsável e regulado das novas tecnologias. “Embora o objetivo dos cientistas seja desenvolver métodos que, no futuro, possam auxiliar na erradicação de doenças hereditárias por meio da edição dos genes responsáveis pelas enfermidades, o experimento é controverso por abrir uma porta para experimentos de engenharia genética que, se realizados irresponsavelmente, podem trazer, no futuro, efeitos temerários para a humanidade, como uma discriminação genética dos indivíduos geneticamente aprimorados sobre os indivíduos naturais”, avaliou Araujo.
Nos Estados Unidos, pesquisas com embriões humanos não são proibidas, mas elas não podem ser financiadas com verbas do governo federal. O experimento que ocorreu no Oregon Health and Science University foi financiado por meio de doações privadas. “Por isso, é preciso analisar o tema em âmbito internacional. No Brasil, uma nova legislação teria de ser amplamente debatida pela sociedade civil para se regular o uso de edição genômica em clínicas de fertilização. Curiosamente, a legislação brasileira não permite a compra ou venda de sêmen humano em território nacional, mas, por outro lado, também não proíbe a importação de sêmen humano”, disse o pesquisador, que coordena na UFRJ o grupo de estudo Ética, Direito, e Novas Tecnologias. Hoje, essas inovações tecnológicas discutidas no âmbito do projeto podem parecer distantes para a sociedade em geral, mas o desenvolvimento das tecnologias de aprimoramento humano vão forçar as populações a decidirem se aprovam ou não os dilemas que envolvem a bioética.
Entre as outras instituições que participam do projeto Sienna, estão a Universidade de Uppsala, na Suécia; a Fundação Helsinki de Direitos Humanos, na Polônia; a Universidade de Granada, na Espanha; a Universidade Ionian, na Grécia; a Universidade Tecnológica de Dalian, na China; o Centro Nacional de Pesquisa Científica (Sciences Po), da França; a Universidade da Cidade do Cabo, na África do Sul e a Universidade de Chuo, no Japão. O projeto também tem o suporte de organizações como a Organização Mundial de Saúde (OMS), a Organização para o Genoma Humano, o Instituto de Engenheiros Elétricos e Eletrônicos (IEEE), organização técnico-profissional dedicada ao avanço da tecnologia para a humanidade, a EURobotics, a All European Academies (ALLEA), a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) e o Conselho Europeu.
* Reportagem originalmente publicada em Rio Pesquisa, Ano XI, Nº 41 (dezembro de 2017)
Autor: Débora Motta
Fonte: Faperj
Sítio Online da Publicação: Faperj
Data de Publicação: 28/03/2018
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3540.2.6
quarta-feira, 28 de março de 2018
Febre Amarela: Ministério da Saúde distribui guia para profissionais
O Ministério da Saúde elaborou uma cartilha com instruções sobre a doença para auxiliar profissionais e gestores que atuam em unidades básicas de saúde localizadas em regiões com surtos constatados. O documento contou com a colaboração de quatro pesquisadores do Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz) em sua redação: André Siqueira, José Cerbino Neto, Juliana Arruda de Matos e Marília Santini de Oliveira.
A cartilha traz informações para gestores do SUS e profissionais das unidades básicas sobre como melhor acolher os pacientes e fazer frente ao surto. Além de informações para dar suporte à identificação e manejo de casos, suspeitos e confirmados, e o encaminhamento de casos graves, o guia apresenta medidas de controle e prevenção, identificação e manejo de eventos adversos pós-vacinação e conceitos de vigilância de Febre Amarela.
Febre Amarela: Guia para Profissionais de Saúde pode ser acessado no site do INI.
Autor: Antônio Fuchs
Fonte: INI/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 27/03/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/febre-amarela-ministerio-da-saude-distribui-guia-para-profissionais
A cartilha traz informações para gestores do SUS e profissionais das unidades básicas sobre como melhor acolher os pacientes e fazer frente ao surto. Além de informações para dar suporte à identificação e manejo de casos, suspeitos e confirmados, e o encaminhamento de casos graves, o guia apresenta medidas de controle e prevenção, identificação e manejo de eventos adversos pós-vacinação e conceitos de vigilância de Febre Amarela.
Febre Amarela: Guia para Profissionais de Saúde pode ser acessado no site do INI.
Autor: Antônio Fuchs
Fonte: INI/Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 27/03/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/febre-amarela-ministerio-da-saude-distribui-guia-para-profissionais
Vacinação é essencial para erradicação do sarampo
A Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS) adverte que, diante dos surtos de sarampo nas Américas, os países devem redobrar esforços para vacinar suas populações, fortalecer a vigilância a fim de detectar possíveis pacientes e implementar medidas para responder rapidamente a qualquer caso suspeito. A avaliação foi publicada na última atualização epidemiológica da organização, na sexta-feira (16/3).
A região foi declarada por um Comitê Internacional de Especialistas como livre da rubéola e da síndrome da rubéola congênita, em 2015, e do sarampo, em 2016. A eliminação dessas três doenças foi o ponto culminante de um esforço de 22 anos que incluiu a vacinação em massa contra o sarampo, a caxumba e a rubéola em todo o continente.
No entanto, como o vírus do sarampo é altamente contagioso e permanece em circulação no resto do mundo, como o vírus da rubéola, a região corre o risco de surtos dessas doenças.
Nos primeiros meses de 2018, são nove os países que relataram casos confirmados de sarampo: Antígua e Barbuda (1 caso), Brasil (14 casos), Canadá (4 casos), Colômbia (1 caso), Estados Unidos da América (13 casos), Guatemala (1 caso), México (4 casos), Peru (2 casos) e Venezuela (886 casos no total, 159 em 2018), aponta a atualização epidemiológica.
Em 2017, quatro países relataram casos confirmados de sarampo: Argentina, Canadá, Estados Unidos e Venezuela. Além disso, os casos na região europeia quadruplicaram em 2017, o que aumenta o risco de casos de sarampo serem importados para países das Américas.
A OPAS/OMS vem alertando sobre esta situação desde maio de 2017 e em sucessivas atualizações epidemiológicas. A agência das Nações Unidas recomendou que os países das Américas vacinem a população para manter uma cobertura homogênea de 95% com a primeira e a segunda dose da vacina contra sarampo, caxumba e rubéola em todos os municípios.
Além disso, os países devem fortalecer a vigilância epidemiológica do sarampo para detectar casos suspeitos nos serviços de saúde públicos e privados; dar uma resposta rápida ao detectar casos importados de sarampo, com o objetivo de evitar o restabelecimento da transmissão endêmica do vírus (ou seja, que existe de forma contínua e constante dentro de uma determinada região), incluindo a ativação de equipes que deem seguimento aos casos e seus contatos; bem como manter uma reserva de vacina sarampo-rubéola para ações de controle de casos importados em cada país da região.
Em 2017, os países das Américas se comprometeram a tomar medidas para manter a eliminação do sarampo, rubéola e síndrome da rubéola congênita, ao aprovar um plano de ação com esse objetivo.
O plano enfatiza que, para manter a eliminação, os níveis de cobertura vacinal da população devem ser de 95% ou mais. Nos últimos cinco anos, a cobertura regional com a primeira dose da vacina contra o sarampo, a rubéola e a caxumba variou entre 92% e 94%.
O sarampo é uma das doenças mais contagiosas e afeta principalmente as crianças. É transmitida por gotas no ar ou contato direto com secreções do nariz, boca e garganta de indivíduos infectados.
Os sintomas consistem em febre alta, erupção cutânea generalizada em todo o corpo, nariz entupido e olhos avermelhados. Pode causar complicações graves, como cegueira, encefalite, diarreia grave, infecções de ouvido e pneumonia, especialmente em crianças com problemas nutricionais e pacientes imunodeprimidos.
A atualização epidemiológica sobre sarampo está disponível em espanhol e inglês.
Autor: OPAS/OMS
Fonte: Fiocruz
Sítio Online da Publicação: Fiocruz
Data de Publicação: 26/03/2018
Publicação Original: https://portal.fiocruz.br/noticia/vacinacao-e-essencial-para-erradicacao-do-sarampo
Metodologia Students' Evaluation of Teaching (SET): Potencialidades para a EaD
O embasamento teórico do pioneirismo da Educação a Distância (EaD) no mundo é escasso. A EaD está baseada no simples fato do ensino e a aprendizagem ocorrerem sem a necessidade do professor e o aluno estarem presencialmente em um mesmo espaço físico. As gerações da EaD perpassam pela comunicação através de cartas, transmissão de rádio, aulas na TV e a utilização da internet (ALVES, 2011). As gerações estão inteiramente ligadas ao meio de comunicação utilizado para transmitir um determinado conteúdo.
Os anos passaram, mas os moldes vistos atualmente na EaD são decorrentes de um processo elaborado que vem sendo trabalhado desde os seus primórdios. Vale ressaltar que, juntamente com a evolução das tecnologias digitais de informação e comunicação, precisam evoluir também as metodologias de aplicação e condução de cursos, além de materiais didáticos específicos. O atual cenário brasileiro continua apontando uma forte tendência: a utilização da EaD como facilitadora eminente dos processos de formações profissionais, tanto como suporte da modalidade presencial, quanto na semipresencial.
O grau de utilização da EaD depende da natureza dos cursos, seus conteúdos e da possibilidade do emprego de uma metodologia adequada para sua utilização. Em 1998, a extinta Secretaria de Educação a Distância (SEED) do Ministério da Educação (MEC), elaborou um ensaio sobre os padrões de qualidade para os cursos ofertados na modalidade EaD, o qual tornou-se referência para as instituições que ofertariam cursos de graduação a distância. A versão mais atual desse documento data do ano de 2007, que continua norteando os padrões de qualidade dos cursos em EaD no Brasil (SEED, 2007).
Para garantir a qualidade dos cursos em EaD, e devido à complexidade e à necessidade de uma abordagem sistemática, indicadores de qualidade de cursos em EaD n devem compreender categorias que envolvem, fundamentalmente, aspectos pedagógicos, recursos humanos e infraestrutura. Tendo como principais tópicos (SEED, 2007): Concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendizagem; Sistemas de Comunicação; Material didático; Avaliação; Equipe multidisciplinar; Infraestrutura de apoio; Gestão Acadêmico-Administrativa; Sustentabilidade financeira.
Embora tenha ocorrido uma expansão na oferta de cursos a distância no Brasil, uma preocupação constante das Instituições de Ensino Superior (IES) é a respeito da qualidade dos cursos que são oferecidos. Tal preocupação torna fundamental a pesquisa e verificação da qualidade dos cursos de formação utilizando a modalidade EaD. A importância de se avaliar recai, principalmente, na melhoria da qualidade da educação. No entanto, este objetivo causa controvérsia pois, ao invés de servir de base para intervenções pedagógicas, a avaliação educacional pouco tem tido propósito.
Tais aspectos são discutidos detalhadamente em Sobrinho (2000) e Peixoto (2004). Este trabalho tem como objetivo apresentar a metodologia Students' Evaluation of Teaching (SET) para avaliação da qualidade do ensino na modalidade EaD a partir da sua aplicação em ambiente real. O SET tem como princípio uma avaliação realizada pelos alunos sobre assertivas que compõe indicadores de qualidade do ensino, conforme apresentado em Marsh e Bailey (1993) e validado para o contexto brasileiro da EaD por Silva et al. (2017). A adequação da metodologia SET para EaD, e seus possíveis ganhos para melhoria da qualidade do ensino, serão apresentadas e exemplificadas, incluindo também a possibilidade de discussão da diminuição de uma problemática constante nessa modalidade de ensino: a evasão.
Autor: Thomaz Edson Veloso da Silva, Francisco Herbert Lima Vasconcelos
Fonte: Revista SUSTINERE
Sítio Online da Publicação: Revista SUSTINERE
Data de Publicação: 19/09/2017
Publicação Original: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/29516/23148
Os anos passaram, mas os moldes vistos atualmente na EaD são decorrentes de um processo elaborado que vem sendo trabalhado desde os seus primórdios. Vale ressaltar que, juntamente com a evolução das tecnologias digitais de informação e comunicação, precisam evoluir também as metodologias de aplicação e condução de cursos, além de materiais didáticos específicos. O atual cenário brasileiro continua apontando uma forte tendência: a utilização da EaD como facilitadora eminente dos processos de formações profissionais, tanto como suporte da modalidade presencial, quanto na semipresencial.
O grau de utilização da EaD depende da natureza dos cursos, seus conteúdos e da possibilidade do emprego de uma metodologia adequada para sua utilização. Em 1998, a extinta Secretaria de Educação a Distância (SEED) do Ministério da Educação (MEC), elaborou um ensaio sobre os padrões de qualidade para os cursos ofertados na modalidade EaD, o qual tornou-se referência para as instituições que ofertariam cursos de graduação a distância. A versão mais atual desse documento data do ano de 2007, que continua norteando os padrões de qualidade dos cursos em EaD no Brasil (SEED, 2007).
Para garantir a qualidade dos cursos em EaD, e devido à complexidade e à necessidade de uma abordagem sistemática, indicadores de qualidade de cursos em EaD n devem compreender categorias que envolvem, fundamentalmente, aspectos pedagógicos, recursos humanos e infraestrutura. Tendo como principais tópicos (SEED, 2007): Concepção de educação e currículo no processo de ensino e aprendizagem; Sistemas de Comunicação; Material didático; Avaliação; Equipe multidisciplinar; Infraestrutura de apoio; Gestão Acadêmico-Administrativa; Sustentabilidade financeira.
Embora tenha ocorrido uma expansão na oferta de cursos a distância no Brasil, uma preocupação constante das Instituições de Ensino Superior (IES) é a respeito da qualidade dos cursos que são oferecidos. Tal preocupação torna fundamental a pesquisa e verificação da qualidade dos cursos de formação utilizando a modalidade EaD. A importância de se avaliar recai, principalmente, na melhoria da qualidade da educação. No entanto, este objetivo causa controvérsia pois, ao invés de servir de base para intervenções pedagógicas, a avaliação educacional pouco tem tido propósito.
Tais aspectos são discutidos detalhadamente em Sobrinho (2000) e Peixoto (2004). Este trabalho tem como objetivo apresentar a metodologia Students' Evaluation of Teaching (SET) para avaliação da qualidade do ensino na modalidade EaD a partir da sua aplicação em ambiente real. O SET tem como princípio uma avaliação realizada pelos alunos sobre assertivas que compõe indicadores de qualidade do ensino, conforme apresentado em Marsh e Bailey (1993) e validado para o contexto brasileiro da EaD por Silva et al. (2017). A adequação da metodologia SET para EaD, e seus possíveis ganhos para melhoria da qualidade do ensino, serão apresentadas e exemplificadas, incluindo também a possibilidade de discussão da diminuição de uma problemática constante nessa modalidade de ensino: a evasão.
Autor: Thomaz Edson Veloso da Silva, Francisco Herbert Lima Vasconcelos
Fonte: Revista SUSTINERE
Sítio Online da Publicação: Revista SUSTINERE
Data de Publicação: 19/09/2017
Publicação Original: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/29516/23148
Perfil epidemiológico dos acidentes por animais peçonhentos notificados no Estado de Minas Gerais durante o período de 2010-2015
Os ofídios, aranhas e escorpiões são os principais animais peçonhentos de interesse em saúde pública, pois causam acidentes cuja gravidade varia de leve a grave (BRASIL, 2016). Os escorpiões, por sua vez, são os responsáveis por quase a metade das notificações registradas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Com o surgimento das chuvas, aumenta o risco de acidentes com animais peçonhentos, por exemplo, no ano de 2012, o índice pluviométrico trouxe aumento de quase 6% nas notificações de acidentes, especialmente com escorpiões. Assim, registraram-se entre novembro de 2012 e março de 2013, temporada de chuvas na maior parte do país, 71.217 acidentes e 144 óbitos. Em comparação com o mesmo período do ano anterior, houve um acréscimo de quase 6% no número de acidentes com estes animais e 9% em relação a óbitos.
Neste período, foram notificados 67.197 casos e 132 óbitos. Em todo o ano de 2012, foram notificados 143.658 acidentes com 273 mortes (BRASIL, 2014). O habitat natural modificado por ações antrópicas causa quebra na cadeia alimentar, acabando também com os abrigos. Com essa escassez, esses animais migram para as residências urbanas, lotes e terrenos baldios, áreas de construção, locais propícios ao desenvolvimento de artrópodes em decorrência do acúmulo de matéria orgânica, de modo a objetivar a busca por abrigo e alimento. Sendo assim, tornam-se vulneráveis a estes ataques as crianças, donas de casa e trabalhadores de construção civil, além de outros trabalhadores braçais (COSTA, 2011).
Na realidade, esta relação pode ser dada por meio da exposição da população aos animais, uma vez que, com o aumento de chuvas os animais buscam abrigo, se aproximando mais das habitações humanas. Das 86 espécies de escorpiões catalogadas no Brasil, apenas seis, pertencentes ao gênero Tityus, são causadoras de acidentes graves entre humanos, são elas, Tityus cambridgei e T. metuendus, encontrados na região amazônica; T. bahiensis, encontrado no Sudeste e no norte da região Sul, sendo inclusive a espécie que provoca mais acidentes no Estado de São Paulo; T. costatus, encontrado do Estado Minas Gerais ao do Rio Grande do Sul pela zona costeira coberta por Mata Atlântica; T. serrulatus, encontrado nos Estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal, o escorpião responsável pelo maior número deacidentes graves e óbitos no Brasil; e T. stigmurus, encontrado no norte de Minas Gerais eem todos os Estados do Nordeste, com exceção do Maranhão (SILVA et al., 2005).
Acidentes causados por aranhas são comuns, porém a maioria não apresenta repercussão clínica e não são prevalentes quando comparados aos acidentes escorpiônicos. Os gêneros de importância em saúde pública no Brasil são: Loxosceles (aranha-marrom), Phoneutria (aranha-armadeira ou macaca) e Latrodectus (viúva-negra). Entre essas, a maior causadora de acidentes é a Loxosceles (BRASIL, 2001). Já o acidente ofídico ou ofidismo é o quadro de envenenamento decorrente da inoculação da peçonha através das picadas das serpentes. No Brasil, as serpentes peçonhentas de interesse em saúde pública são representadas por quatro gêneros da Família Viperidae; serpentes do gênero Bothrops, vulgarmente denominadas de jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca e comboia, estão agrupadas em dois gêneros – Bothrops e Botrocophias; Crotalus (cascavel); Lachesis (surucucu-pico-de-jaca); Micrurus e Leptomicrurus (coral-verdadeira) (SANTANA; SUCHARA, 2015).
Autor: Patrick Leonardo Nogueira da Silva, Amanda de Andrade Costa, Renata Fiúza Damasceno, Ana Izabel de Oliveira Neta, Isabelle Ramalho Ferreira, Adélia Dayane Guimarães Fonseca
Fonte: Revista SUSTINERE
Sítio Online da Publicação: Revista SUSTINERE
Data de Publicação: 28/09/2017
Publicação Original: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/29816/23175
Neste período, foram notificados 67.197 casos e 132 óbitos. Em todo o ano de 2012, foram notificados 143.658 acidentes com 273 mortes (BRASIL, 2014). O habitat natural modificado por ações antrópicas causa quebra na cadeia alimentar, acabando também com os abrigos. Com essa escassez, esses animais migram para as residências urbanas, lotes e terrenos baldios, áreas de construção, locais propícios ao desenvolvimento de artrópodes em decorrência do acúmulo de matéria orgânica, de modo a objetivar a busca por abrigo e alimento. Sendo assim, tornam-se vulneráveis a estes ataques as crianças, donas de casa e trabalhadores de construção civil, além de outros trabalhadores braçais (COSTA, 2011).
Na realidade, esta relação pode ser dada por meio da exposição da população aos animais, uma vez que, com o aumento de chuvas os animais buscam abrigo, se aproximando mais das habitações humanas. Das 86 espécies de escorpiões catalogadas no Brasil, apenas seis, pertencentes ao gênero Tityus, são causadoras de acidentes graves entre humanos, são elas, Tityus cambridgei e T. metuendus, encontrados na região amazônica; T. bahiensis, encontrado no Sudeste e no norte da região Sul, sendo inclusive a espécie que provoca mais acidentes no Estado de São Paulo; T. costatus, encontrado do Estado Minas Gerais ao do Rio Grande do Sul pela zona costeira coberta por Mata Atlântica; T. serrulatus, encontrado nos Estados da Bahia, Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás e Distrito Federal, o escorpião responsável pelo maior número deacidentes graves e óbitos no Brasil; e T. stigmurus, encontrado no norte de Minas Gerais eem todos os Estados do Nordeste, com exceção do Maranhão (SILVA et al., 2005).
Acidentes causados por aranhas são comuns, porém a maioria não apresenta repercussão clínica e não são prevalentes quando comparados aos acidentes escorpiônicos. Os gêneros de importância em saúde pública no Brasil são: Loxosceles (aranha-marrom), Phoneutria (aranha-armadeira ou macaca) e Latrodectus (viúva-negra). Entre essas, a maior causadora de acidentes é a Loxosceles (BRASIL, 2001). Já o acidente ofídico ou ofidismo é o quadro de envenenamento decorrente da inoculação da peçonha através das picadas das serpentes. No Brasil, as serpentes peçonhentas de interesse em saúde pública são representadas por quatro gêneros da Família Viperidae; serpentes do gênero Bothrops, vulgarmente denominadas de jararaca, jararacuçu, urutu, caiçaca e comboia, estão agrupadas em dois gêneros – Bothrops e Botrocophias; Crotalus (cascavel); Lachesis (surucucu-pico-de-jaca); Micrurus e Leptomicrurus (coral-verdadeira) (SANTANA; SUCHARA, 2015).
Autor: Patrick Leonardo Nogueira da Silva, Amanda de Andrade Costa, Renata Fiúza Damasceno, Ana Izabel de Oliveira Neta, Isabelle Ramalho Ferreira, Adélia Dayane Guimarães Fonseca
Fonte: Revista SUSTINERE
Sítio Online da Publicação: Revista SUSTINERE
Data de Publicação: 28/09/2017
Publicação Original: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/29816/23175
Riscos do trabalho dos motociclistas profissionais: estratégias de prevenção e regulação
O mundo capitalista tem contribuído de forma contundente na forma de ser e de fazer o trabalho e provocado conflitos e debates sobre as relações entre trabalho-capital. O trabalho constitui um dos vetores essenciais na estruturação das sociedades, o que nos leva a refletir sobre aspectos e processos relacionados à sua precarização, individualização das relações de trabalho, insegurança e vulnerabilidades, além de suas possibilidades de fragmentação da sociedade ou de integração social (TONI, 2003).
Diante disso, existem implicações sociais atribuídas às mudanças nas formas de organizá-lo e de geri-lo. A sociedade atual se caracteriza pela urgência, instantaneidade e velocidade, o que traz a necessidade de profissionais que atendam estas exigências. De acordo com Soares et al. (2011), diante dessas demandas, o surgimento dos motociclistas profissionais (MP's) foi de extrema importância para atendê-las.
Por se tratar de um veículo com facilidade de compra, graças a acesso ao crédito e ampliação dos prazos de pagamento, de acordo com dados do DENATRAN1 , o uso de motocicletas no Brasil apresentou uma tendência de crescimento. Além de um meio de transporte pessoal, as motocicletas servem como instrumentos de trabalho, sendo utilizadas para entregas de mercadorias (motociclistas profissionais), ou transporte de pessoas (moto-táxis). De acordo com Soares et al. (2011), os MP's se destacam nas grandes cidades em razão de uma maior exigência da sociedade local por mobilidade, com rapidez e agilidade, frente ao trânsito caótico, submetidos às precárias condições de trabalho e com alto risco de acidentes de trânsito.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde2 , em maio de 2015, o número de internações hospitalares após acidentes com motos cresceu 115% nos últimos 6 anos, o qual representa metade do total de internações por acidentes de trânsito no país. Em Minas Gerais, como relatado no estudo de Diniz, Assunção e Lima (2005, p. 906), em meados de 1999 já havia um expressivo crescimento do setor de motociclistas profissionais, acidentes graves e fatais e ausência de regulamentação das condições de trabalho e dos serviços realizados por esses trabalhadores.
Em relação ao trabalho dos profissionais que utilizam motos para desenvolvê-lo, foi descrito no estudo de Drumond Moraes (2008), que por causa do ritmo de trabalho, o qual toma uma forma de ser paradoxal entre angústias e prazeres, os MP's aprenderam a transitar em meios intransitáveis, transformando essa forma de ser em uma ferramenta que atende à demanda de produção.
Autor: Lucas Gabriel de Almeida Carvalho, Geraldo Fabiano de Souza Moraes, Davidson Passos Mendes
Fonte: Revista SUSTINERE
Sítio Online da Publicação: Revista SUSTINERE
Data de Publicação: 28/09/2017
Publicação Original: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/30170/23150
Diante disso, existem implicações sociais atribuídas às mudanças nas formas de organizá-lo e de geri-lo. A sociedade atual se caracteriza pela urgência, instantaneidade e velocidade, o que traz a necessidade de profissionais que atendam estas exigências. De acordo com Soares et al. (2011), diante dessas demandas, o surgimento dos motociclistas profissionais (MP's) foi de extrema importância para atendê-las.
Por se tratar de um veículo com facilidade de compra, graças a acesso ao crédito e ampliação dos prazos de pagamento, de acordo com dados do DENATRAN1 , o uso de motocicletas no Brasil apresentou uma tendência de crescimento. Além de um meio de transporte pessoal, as motocicletas servem como instrumentos de trabalho, sendo utilizadas para entregas de mercadorias (motociclistas profissionais), ou transporte de pessoas (moto-táxis). De acordo com Soares et al. (2011), os MP's se destacam nas grandes cidades em razão de uma maior exigência da sociedade local por mobilidade, com rapidez e agilidade, frente ao trânsito caótico, submetidos às precárias condições de trabalho e com alto risco de acidentes de trânsito.
No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde2 , em maio de 2015, o número de internações hospitalares após acidentes com motos cresceu 115% nos últimos 6 anos, o qual representa metade do total de internações por acidentes de trânsito no país. Em Minas Gerais, como relatado no estudo de Diniz, Assunção e Lima (2005, p. 906), em meados de 1999 já havia um expressivo crescimento do setor de motociclistas profissionais, acidentes graves e fatais e ausência de regulamentação das condições de trabalho e dos serviços realizados por esses trabalhadores.
Em relação ao trabalho dos profissionais que utilizam motos para desenvolvê-lo, foi descrito no estudo de Drumond Moraes (2008), que por causa do ritmo de trabalho, o qual toma uma forma de ser paradoxal entre angústias e prazeres, os MP's aprenderam a transitar em meios intransitáveis, transformando essa forma de ser em uma ferramenta que atende à demanda de produção.
Autor: Lucas Gabriel de Almeida Carvalho, Geraldo Fabiano de Souza Moraes, Davidson Passos Mendes
Fonte: Revista SUSTINERE
Sítio Online da Publicação: Revista SUSTINERE
Data de Publicação: 28/09/2017
Publicação Original: http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/sustinere/article/view/30170/23150
terça-feira, 27 de março de 2018
Estudo explica por que as baleias são tão grandes
Na imagem, baleia no litoral do Espírito Santo. Segundo estudo, baleias cresceram muito para não perder calor, mas também tiveram que conter o crescimento (Foto: Leonardo Merçon/Últimos Refúgios). A necessidade de reter calor na água é o motivo pelo qual as baleias são tão grandes, mostra estudo publicado no "PNAS". Elas ainda poderiam ser maiores se não fosse a necessidade de conter o metabolismo para evitar uma perda de energia ainda maior.
O tamanho de mamíferos aquáticos é um assunto debatido há muito tempo na ciência e muitas hipóteses foram formuladas -- uma delas é que a possibilidade de flutuar na água exerceria pouca pressão sobre o corpo dos animais; e, com isso, eles se tornariam maiores. O que a análise de 3859 espécies de mamíferos aquáticos e de 2998 fósseiis mostrou, no entanto, é que o crescimento de mamíferos aquáticos têm a ver com a preservação da energia e a manutenção do calor - e não com diferenças na pressão sobre o tamanho.
"Quando você é um mamífero muito pequeno, você perde calor para a água muito rápido. Não há comida que mantenha a temperatura", diz Jonathan Paine, coautor do estudo e professor da Universidade de Stanford. A análise dos fósseis mostrou ainda que embora alguns mamíferos tenham forma corporal similar, eles não estão intimamente relacionados. Focas e leões-marinhos estão mais relacionados aos cães, enquanto os peixes-bois têm os elefantes como ancestrais. Já as baleias e os golfinhos, estão mais relacionados aos hipopótamos.
O estudo dos fósseis e das espécies vivas mostrou também que quando esses animais terrestres foram para a água, eles chegaram rapidamente a aproximadamente 500 kg. Um outro ponto é que aqueles com ancestrais menores, como o cachorro, cresceram mais que aqueles com ancestrais maiores, como o hipopótamo. De acordo com os autores, esse achado sugere que ser grande é uma vantagem na água, mas só até determinado ponto.
A partir da análise, pesquisadores chegaram a uma teoria termoreguladora que se soma ao conjunto de hipóteses que tenta explicar o tamanho das baleias. "Sob esse modelo energético, verificamos que o custo da termorregulação aumenta o tamanho, enquanto limitações na eficiência da alimentação o contém", escreveram os autores.
Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data de Publicação: 27/03/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/natureza/noticia/estudo-explica-por-que-as-baleias-sao-tao-grandes.ghtml
Dois argentinos morrem por febre amarela após visitar o Brasil
Mosquitos Sabethes transmitem febre amarela em regiões de mata (Foto: Josué Damacena/IOC/Fiocruz)
O Ministério da Saúde da Argentina informou na última sexta-feira (23) que sete pessoas importaram a febre amarela do Brasil. Seis moradores do país vizinho foram infectados em Ilha Grande (RJ) e um em Ouro Preto (MG). Dois dos pacientes morreram e nenhum deles estava vacinado. Com isso, o governo do país passou a reforçar o pedido de vacinação contra a doença para cidadãos que pretendem viajar às regiões com recomendação. Os argentinos foram os que mais vieram ao Brasil em 2017, de acordo com dados da Polícia Federal analisados pelo Ministério do Turismo: foram 2.622.327 visitantes.
Até então, a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS), havia informado duas mortes em estrangeiros: de um chileno e de um suíço. Até o último dia 22, o órgão internacional de saúde tinha confirmado 11 casos de turistas infectados no Brasil.
Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data de Publicação: 26/03/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/bemestar/febre-amarela/noticia/dois-argentinos-morrem-por-febre-amarela-apos-visitar-o-brasil.ghtml
'Revolução do Viagra' completa 20 anos com mais de 65 milhões de prescrições
Viagra foi aprovado pela FDA nos EUA em 27 de março de 1998 (Foto: HO/AFP)
Há 20 anos uma pequena pílula azul em forma de losango virava uma verdadeira sensação. O Viagra permitiu que milhões de homens voltassem a ter relações sexuais e expôs ao mundo a questão da impotência sexual, um grande tabu. Mas esta revolução sexual ignorou as mulheres que sofrem de disfunção e perda de libido. Estas ainda estão à espera de uma cura milagrosa que também lhes permita retornar a uma vida sexual gratificante, apontam os especialistas.
Cerca de 65 milhões de prescrições de Viagra, fabricado pelo laboratório americano Pfizer, foram emitidas em todo o mundo. O medicamento foi aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) americana em 27 de março de 1998, tornando-se o primeiro comprimido a ajudar os homens a ter uma ereção. Os benefícios deste blockbuster milagroso foram elogiados nos programas de televisão, nos jornais e revistas. Sua comercialização coincidiu com a ascensão da internet e a explosão da pornografia online. O léxico do marketing também mudou: não é mais uma questão de "impotência masculina", mas de "disfunção erétil", uma condição médica que agora pode ser tratada.
O senador republicano Bob Dole, um veterano e candidato à presidência dos Estados Unidos em 1996, tornou-se seu primeiro embaixador na televisão, admitindo seus próprios medos ao mundo. "É um pouco embaraçoso para mim falar sobre DE ('disfunção erétil'), mas é muito importante para milhões de homens e suas parceiras", explicou.
Uma estratégia que funcionou.
Antes do Viagra, as conversas sobre disfunção erétil eram "embaraçosas" e "difíceis", lembra Elizabeth Kavaler, uma urologista do Hospital Lenox Hill, em Nova York. "Hoje, a sexualidade de um modo geral é um assunto muito presente", explica. "Tornou-se um elemento previsível em nossas vidas à medida que envelhecemos, e tenho certeza que o Viagra desempenhou um grande papel", acrescenta ela.
Versão genérica do medicamento foi liberada e preço despencou (Foto: Liu Jin/AFP)
"Higiene diária"
Para Louis Kavoussi, diretor do Departamento de Urologia do grupo Northwell Health, o Viagra teve um impacto semelhante ao dos antibióticos no tratamento de infecções ou das estatinas na luta contra doenças cardíacas. "Foi a droga perfeita para anunciar aos consumidores - era uma espécie de remédio para o estilo de vida", diz ele.
O Viagra, ou citrato de sildenafil, foi desenvolvido para tratar hipertensão e angina pectoris. Mas a partir dos primeiros testes clínicos, os homens descobriram rapidamente um efeito inesperado: a melhora de suas ereções. De U$S 15 por unidade no início, o preço subiu para mais de U$S 50 dólares. Com o lançamento no ano passado de uma versão genérica, o preço caiu para apenas U$S 1. Em 2000, o famoso programa de humor Saturday Night Live até encenou um quadro com o ator Christopher Walken parodiando uma propaganda. "Somos uma empresa muito puritana e acho que o Viagra nos relaxou um pouco", acredita Nachum Katlowitz, diretor do Departamento de Urologia e Fertilidade do Staten Island University Hospital.
"Mas as mulheres ficaram de fora da revolução de melhorar a sexualidade".
Em 2015, a FDA aprovou a flansanserina – comercializada nos Estados Unidos sob o nome de Addyi –, qualificada como "viagra feminino" e apresentada como um tratamento para reviver a libido das mulheres. Mas desde o seu lançamento, provoca controvérsia. Como Addyi pertence à família dos antidepressivos, as mulheres são aconselhadas a não consumir álcool ao mesmo tempo. Também custa várias centenas de dólares e pode causar efeitos colaterais significativos (náuseas, vômitos, pensamentos suicidas, etc.). "Não funcionou muito bem", diz Katlowitz.
O problema nas mulheres vem principalmente da secura vaginal no momento da menopausa, o que pode tornar as relações dolorosas. De acordo com Elizabeth Kavaler, tomar hormônios ou até mesmo tratamentos a laser pode fornecer soluções que, apesar de seu custo às vezes alto, são cada vez mais populares.
"Estamos pelo menos vinte anos atrás dos homens", diz ela.
Autor: G1 Saúde
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data de Publicação: 27/03/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/a-cientista-brasileira-premiada-por-pesquisar-doencas-negligenciadas-pela-industria-farmaceutica.ghtml
A cientista brasileira premiada por pesquisar doenças negligenciadas pela indústria farmacêutica
Rafaela Salgado Ferreira pesquisa tratamentos mais eficientes para a doença de Chagas e a Zika (Foto: Divulgação)
A ciência pode mudar a realidade vivida pelas populações carentes. Esse é o lema da pesquisadora mineira Rafaela Salgado Ferreira: ela decidiu focar seu trabalho, que acaba de ser premiado internacionalmente, na busca de remédios para doenças que afetam áreas pobres do planeta – e que, por isso, geralmente não interessam à indústria farmacêutica.
Ferreira dirige o laboratório de modelização molecular e de concepção de medicamentos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), onde também dá aulas, e concentra suas pesquisas em tratamentos mais eficazes para a doença de Chagas.
No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, há pelo menos 1 milhão de pessoas infectadas pela doença de Chagas – infecção transmitida por insetos barbeiros que tem entre os sintomas febres prolongadas, fraqueza intensa, inchaço no rosto e nas pernas e falta de ar e que pode causar inflamações no coração e acúmulo de água no pulmão.
Descoberta há mais de cem anos, ela integra a lista das "doenças tropicais negligenciadas" da Organização Mundial da Saúde (OMS), que inclui a dengue, esquistossomose, a hanseníase e outros males que matam mais de 500 mil pessoas por ano no mundo.
Para lidar com a constante falta de recursos para pesquisas no Brasil e evitar o alto custo do desenvolvimento de medicamentos por meio de vários testes em laboratório, Rafaela Salgado Ferreira faz experimentos no computador.
Na prática, ela faz simulações computadorizadas de moléculas que possam inibir uma proteína responsável pela ação do protozoário Trypanosoma Cruzi, o causador da doença de Chagas.
"Consigo dessa forma reduzir o número de experimentos, o que torna (a pesquisa) muito mais barata", explica a pesquisadora.
As mesmas técnicas computacionais são utilizadas para encontrar substâncias que possam agir no vírus Zika e impedir sua replicação, mas suas pesquisas sobre a doença de Chagas estão bem mais avançadas.
Premiação destaca mulheres promissoras na ciência; na foto, brasileira é a segunda da esquerda para a direita (Foto: Divulgação)
Premiação a jovens cientistas
A mineira de 35 anos recebeu neste mês em Paris o prêmio "Rising Talents" ("talentos promissores", em tradução livre) concedido pela Fundação L'Oréal em parceria com a Unesco, agência da ONU para a educação, ciência e cultura.
A premiação recompensa as 15 melhores jovens cientistas do mundo, selecionadas entre as 250 vencedoras das edições nacionais do programa "Para Mulheres na Ciência" da Fundação L'Oréal, que já haviam sido escolhidas entre cerca de 10 mil candidatas.
O "Rising Talents" oferece 15 mil euros (cerca de R$ 60 mil) às cientistas premiadas para pesquisas.
A equipe dirigida por Ferreira, de 13 pesquisadores, já encontrou dois compostos, entre 400 substâncias analisadas, que podem inibir a proteína do Trypanosoma Cruzi e, dessa forma, prejudicar a ação do protozoário.
Os remédios existentes contra a doença de Chagas, como o benznidazol, foram desenvolvidos nos anos 70 e têm eficácia limitada, além de efeitos colaterais graves, diz ela.
"Todos deveriam ter direito a receber tratamento para qualquer doença. É importante termos tratamentos para doenças negligenciadas que funcionem melhor e sejam mais seguros", diz Ferreira. "A indústria farmacêutica tem a estratégia de desenvolver tratamentos para populações mais ricas e que devem ser tomados a longo prazo."
Ela cita o exemplo de tipos raros de câncer para os quais já existem tratamentos eficazes, embora ocorram em menor número no mundo do que a doença de Chagas.
Ferreira ressalta que é difícil contabilizar o número de casos porque há uma fase indeterminada na qual o paciente não apresenta sintomas, o que dificulta o diagnóstico.
Visibilidade
A paixão da mineira pela Ciência começou na adolescência, e ganhou impulso com o programa de vocação científica da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que a levou a obter graduação em Farmácia na UFMG.
Ferreira é a única pessoa de sua família a conquistar um diploma de doutorado, de Química Biológica, obtido na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos.
Ela também fez um pós-doutorado na Universidade de São Paulo (USP).
Segundo a pesquisadora, o prêmio conquistado em Paris poderá favorecer suas pesquisas, pois dará mais visibilidade ao seu trabalho, e favorecer a atração de investimentos.
"A disputa por recursos para pesquisa é bem intensa", diz. "É cada vez mais difícil obter financiamentos no Brasil. E mesmo quando eles são concedidos, muitas vezes o dinheiro não chega."
Ferreira afirma ainda que o Brasil, com quase 50% de cientistas mulheres, está acima da média global (de cerca de 30%) nessa área.
"Mas nos cargos de mais alto escalão (na ciência) ainda há poucas mulheres", ressalta.
Autor: BBC
Fonte: G1 Saúde
Sítio Online da Publicação: G1 Saúde
Data de Publicação: 27/03/2018
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/a-cientista-brasileira-premiada-por-pesquisar-doencas-negligenciadas-pela-industria-farmaceutica.ghtml
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