sexta-feira, 30 de julho de 2021

Pesquisadores medem carga de coronavírus em locais públicos



Pesquisadores vinculados ao Instituto de Biologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Ibrag/Uerj) desenvolveram um equipamento para capturar e medir a carga de coronavírus em diversos ambientes a partir de aerossóis presentes na atmosfera. A ideia é fornecer informações mais precisas sobre a concentração de SARS-Cov-2 e a capacidade de contágio. "A maioria das pesquisas sobre risco de contágio está baseada em modelos teóricos. Nós estamos tentando verificar isso na prática", explica o coordenador do projeto, Heitor Evangelista.

De acordo com o biofísico, as pesquisas que indicam uma grande capacidade de contágio foram feitas em hospitais. Entre os ambientes em que Evangelista e sua equipe pretendem realizar os testes estão escolas públicas, a estação Central do Brasil, entre outros locais de grande aglomeração. O desenvolvimento do projeto conta, entre outras fontes de recursos, com financiamento da Segunda Chamada Emergencial de Projetos Para Combater os Efeitos da Covid-19, lançada pela FAPERJ após o início da pandemia.

O equipamento, batizado de CoronaTrap, atualmente passa pelos últimos ajustes para facilitar seu deslocamento. Como é possível visualizar neste vídeo de divulgação do projeto, os vírus capturados são armazenados em um recipiente de cor âmbar chamado “bioflask” e mantidos sob baixas temperaturas para que não se degradem. "Um dos grandes desafios para a realização dessas medições é a enorme sensibilidade do coronavírus à degradação ambiental. Então, ao lado do professor César Amaral/Uerj, quatro pesquisadores pós-doc, um mestrando e três graduandos, iniciamos este projeto logo no começo da pandemia", conta.


Heitor Evangelista (à esq. de óculos) e parte da equipe desenvolvedora do CoronaTrap em atividade na comunidade Santa Marta (Foto: Divulgação)


Para Evangelista, a baixa probabilidade de contágio nas atividades ao ar livre e com distanciamento entre pessoas deve ser confirmado pelos testes que estão sendo realizados. "Os coronavírus resistem pouco à luz solar e à temperatura, o que resulta em nossa dificuldade de capturá-los ao ar livre". Ele acrescenta que a equipe identificou uma grande diferença entre a quantidade de vírus em ambientes fechados e abertos. Enquanto ao ar livre o CoronaTrap fica praticamente sem vírus, em determinados locais fechados com aglomerações, com luz ambiente de baixa intensidade e ar condicionado, a coleta pode ser expressiva. "No entanto, é preciso realizar mais medição para que tenhamos certeza do que está faltando fazer quanto as medidas de prevenção do contágio", reforça.

Entender a composição dessas pequenas partículas suspensas na atmosfera, os aerossóis, é um trabalho para o qual Heitor Evangelista tem se dedicado há vários anos. Especialmente na região da Antártica e para o qual conta com financiamento do programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. A partir desses estudos é possível avaliar os impactos da ação humana na atmosfera e compreender o fenômeno das mudanças climáticas.




Autor: Juliana Passos
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 22/07/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4264.2.7

Pesquisas investigam tratamento de doenças neurológicas com células tronco



Enquanto debates éticos e judiciais discutiam a possibilidade do uso de células-tronco embrionárias em pesquisas nas últimas décadas, algumas alternativas passaram a ser investigadas. Com a descoberta de que as células-tronco não estão apenas presentes no embrião, mas em diversos tecidos do corpo, inclusive na vida adulta, e com a tecnologia das células de pluripotência induzida que transforma qualquer célula adulta em uma célula semelhante às embrionárias, pesquisas sobre modos de tratamento de doenças neurodegenerativas ganharam um novo impulso. "Ainda é cedo para falarmos em prazos para que os tratamentos saiam das etapas de pesquisa pré-clínicas ou clínicas, mas há muitos experimentos e estudos clínicos promissores em andamento", conta Rosália Mendez Otero, professora titular no Instituto de Biofísica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IBCCF/UFRJ).

Rosália trabalha com células-tronco adultas (denominadas células tronco-estromais ou mesenquimais) presentes em cordões umbilicais que iriam para descarte, mas que foram doados para a pesquisa pelas mães. "Essas células também estão presentes em indivíduos adultos e são produzidas em vários tecidos como a medula óssea e o tecido adiposo (gordura corporal), mas quanto mais jovem o tecido, maior nossa facilidade em obter as células", explica a pesquisadora, coordenadora do Laboratório de Neurobiologia Celular e Molecular (LNCM). As células-tronco estromais ou mesenquimais são capazes de exercer uma variedade de funções para modular a resposta inflamatória do organismo e auxiliar na regeneração de tecidos lesionados por traumas ou doenças. No caso das pesquisas coordenadas por Rosália, que recebe apoio do programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ, o objetivo é investigar a contribuição dessas células na contenção de lesões provocadas após um acidente vascular cerebral (AVC).

"Quando ocorre um AVC isquêmico o fluxo sanguíneo é interrompido em uma região do sistema nervoso e os neurônios morrem por falta de oxigênio e glicose. Como consequência, as funções neurais são afetadas e pode ocorrer perda de movimentos em uma parte do corpo", explica. "Mesmo que fluxo sanguíneo seja restabelecido esta área de lesão produz moléculas tóxicas e se inicia um processo inflamatório que pode levar a uma perda progressiva de mais neurônios e um aumento da perda funcional", acrescenta. Mas pesquisas coordenadas pela neurocientista em modelos animais têm mostrado que terapias com células tronco-estromais derivadas de cordão umbilical evitam esse processo de aumento de lesões. Outra vertente da pesquisa estuda a introdução, em animais, apenas das substâncias produzidas e encapsuladas em vesículas por estas células. No entanto, sem a presença da "fábrica" (as células), a capacidade de atuação da vesícula é limitada a um menor período de tempo.

Um obstáculo para o avanço das pesquisas foi a própria pandemia. Alguns equipamentos do laboratório foram emprestados para pesquisas em Covid-19 e o número de pesquisadores por sala também foi reduzido para atender as normas de segurança durante este período. Os estudos clínicos também foram adiados uma vez que os hospitais e equipes médicas estão quase todos direcionados para Covid-19. Alguns testes clínicos com células-tronco estromais já foram realizados ou estão para ser iniciados em doenças como Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), lesão espinal (paraplegia) e Covid-19 em diversas instituições no País.

Estudos com células-tronco de pluripotência induzida (iPS) também vem sendo realizados em diversos laboratórios, e no caso de Rosália Otero envolve uma parceria com os neurologistas do Instituto de Neurologia Deolindo Couto (INDC/UFRJ) e pesquisadores do Laboratório de Genética Humana do Instituto Osvaldo Cruz (LGH/Fiocruz). Estas células representam um excelente modelo de estudo para doenças para as quais não há modelos experimentais adequados, como a ELA, doença neurodegenerativa que pode ser investigada a partir de iPS derivadas de 4 ml de sangue de pacientes com esta patologia. As iPS podem ser diferenciadas em neurônios no laboratório, permitindo assim a investigação dos mecanismos de doença e de possíveis terapias que possam modificar o curso da degeneração destas células.

Avanços do tratamento de Parkinson

Rosália Otero: 'Pesquisas em doenças neurodegenerativas avançaram muito com o uso de células-tronco adultas' (Foto: Reprodução)


Ao traçar a evolução das pesquisas com células-tronco nos últimos anos, Rosália Otero dá exemplos sobre diferentes estágios das pesquisas pelo mundo. Ela lembra que o grande objetivo da Medicina Regenerativa e das pesquisas com células-tronco sempre foi o de poder gerar células específicas a partir de células pluripotentes (embrionárias ou induzidas) e utilizar estas células para repovoar órgãos como coração ou sistema nervoso com pequena ou nenhuma capacidade de regeneração endógena após lesões ou doenças. Na área de doenças neurológicas, as pesquisas têm avançado principalmente com doença de Parkinson, uma vez que, neste caso, um tipo específico de neurônio é afetado (neurônios dopaminérgicos) e a substituição destas células poderia atenuar ou reverter os sintomas da doença. Alguns grupos de pesquisa nos Estados Unidos já relataram métodos de obtenção de neurônios dopaminérgicos a partir de células-tronco embrionárias, e no Japão, o mesmo foi feito a partir de células-tronco de pluripotencia induzida(iPS). No país asiático, estas células já estão sendo utilizadas em estudos clínicos (fase 1 e 2) que avaliam a segurança e eficácia destas terapias. "Se os resultados mostrarem que as células são seguras (não há efeitos colaterais graves) e eficazes (melhoram os sintomas clínicos e/ou diminuem a progressão da doença), nestes pacientes com doença de Parkinson teríamos a possibilidade de uma terapia celular para uma doença neurológica em um futuro próximo e abriria a possibilidade de estudos semelhantes em outras doenças", avalia.




Autor: Juliana Passos
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 29/07/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4264.2.7

Estudo mostra um novo olhar sobre o meio rural metropolitano


Ruralidades metropolitanas I – O rural como opção é o primeiro de uma série de episódios do projeto “Viver e habitar o espaço rural metropolitano do Rio de Janeiro”, realizado pela pesquisadora Ève Anne Bühler, professora do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e pelo sociólogo Valter Lúcio de Oliveira, professor do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF). O documentário (https://www.youtube.com/watch?v=ex6gxjQG7Bs), de pouco mais de 26 minutos, é fruto de pesquisa multidisciplinar, nas áreas de Geografia e Sociologia. Esse primeiro episódio aborda a perspectiva de pessoas que escolheram construir suas vidas no meio rural metropolitano do Rio de Janeiro. Mostra um viver rural conectado à cidade, principalmente devido à proximidade das propriedades rurais da capital. Inseridas na região Metropolitana, estão localizadas nos municípios de Tanguá, a 65 km do Rio, e de Cachoeiras de Macacu, a 97 km da capital.

A locução que inicia o vídeo lembra que a dinâmica da metrópole parece se impor às demais e que a grande cidade é percebida como lugar de oportunidades, conquistas (...) e interação social. Entretanto, outras lógicas se manifestam, outras formas de viver, de se estabelecer relações sociais e econômicas. Em seguida, na forma de entrevista/depoimentos, o documentário lança olhares sobre o rural metropolitano, sob a perspectiva de três famílias, revelando um "rural moderno e atrativo, e não um êxodo". Ève diz que o objetivo do projeto foi observar as transformações do espaço rural metropolitano a partir das pressões sofridas em decorrência do crescimento urbano e do aumento do fluxo populacional e econômico motivado pela criação do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), no município de Itaboraí (leste do estado), cuja área de influência direta abrange sete municípios, entre eles Cachoeiras de Macacu e Tanguá.

De acordo com a pesquisadora, as representações sociais do campo mudaram consideravelmente nos últimos 30 anos e atraíram para as periferias das metrópoles pessoas em busca de um rural idílico. Além disso, a tendência de buscar refúgio junto à natureza foi intensificada ao longo da pandemia do novo coronavírus, que impôs o confinamento à população. Segundo Ève, esse movimento foi verificado principalmente junto à população das grandes metrópoles, com fortes consequências no mercado imobiliário rural, que vivencia uma supervalorização.

As jovens irmãs Karine e Alessandra Bellas e seus maridos Carlos Alberto da Silva Filho e Gabriel de Faria, respectivamente, escolheram viver em um sítio em Tanguá, que sempre frequentaram junto com o pai, agrônomo da Embrapa, nos fins de semana. Karine e Carlos Alberto criam cabras e comercializam o leite; e Alessandra e Gabriel produzem e vendem tomates. Os dois casais dizem-se totalmente integrados à vida rural, especialmente porque contam com o auxílio da tecnologia (TV, internet, celular) para não ficarem isolados. Além disso, contam com todas as facilidades da cidade grande para fazerem compras ou buscarem uma opção de lazer. Alessandra e Gabriel garantem que a vida rural os ajudou a “saírem das caixinhas” e desenvolverem múltiplas habilidades. “Se um cano de água estoura, não podemos depender da chegada de um especialista; precisamos consertar logo”, explicam.


Valter Lúcio de Oliveira, sociólogo da UFF, e Ève Anne Bühler, geógrafa da UFRJ, ainda irão produzir mais 3 episódios com enfoques diferentes sobre a opção pelo rural metropolitano


Já o inglês Nicholas e a argentina Raquel Locke se dedicam, fundamentalmente, à conservação ambiental. Ele é o fundador e presidente da Reserva Ecológica do Rio Guapiaçú (Regua), cuja gestão divide com a esposa Raquel, vice-presidente da Organização Não Governamental (ONG), localizada em Cachoeiras de Macacu. Nicholas conta que a propriedade foi originalmente adquirida por seu bisavô. Filho de brasileiros, Nicholas nasceu na Inglaterra e retornou ao Brasil aos 19 anos, “nutrido com histórias de grandes naturalistas que vieram para esses cantos” e determinado a preservar e recuperar o remanescente de Mata Atlântica da fazenda. Em 1996, um gestor de uma Unidade de Conservação (UC) da Inglaterra em visita à fazenda se encantou com a variedade de aves da reserva ecológica e estimulou o casal a fundar uma ONG, que criou um fundo para captação de recursos na Inglaterra. Assim, eles começaram a promover visitações para observação de aves até que, em 2002, filantropos adquiriram mais terras no entorno da propriedade a fim de ampliar área preservada, hoje uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) de 302 hectares. De lá para cá, além de preservar a Bacia do Rio Guapiaçú, promover a pesquisa e a educação ambiental, a Regua (veja vídeo em https://vimeo.com/129346540) se dedica ao turismo ecológico, recebendo hóspedes na pousada.

O projeto conta com apoio da FAPERJ, por meio dos programas Jovem Cientista do Nosso Estado - no qual Ève foi contemplada - e Treinamento e Capacitação Técnica (TCT). A produção do vídeo, que também tem apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), foi interrompida durante a pandemia para que fossem respeitadas as recomendações de distanciamento social e, por isso, dividido em episódios. Além do primeiro, já disponível, que aborda a opção pelo viver rural, o segundo pesquisará como pessoas que têm origem no campo estão vendo as transformações no espaço e no uso da terra. O terceiro vídeo mostrará entrevistas com pessoas que enxergam o rural como um espaço de lazer e de bem-estar, e o quarto episódio focará nos efeitos do Comperj sobre o campo do seu entorno.

Ficha Técnica do documentário: Direção: Ève Anne Bühler e Valter Lucio de Oliveira; Assistente de Direção: Bárbara Marçal Barcelos; Edição: Maria Tereza Costa.





Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 29/07/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4264.2.7

IEC consolida metodologia de diagnóstico de tumores por biópsia líquida


Na fronteira do conhecimento, um grupo de pesquisadores do Instituto Estadual do Cérebro Paulo Niemeyer (IEC) vem avançando no estudo de uma metodologia para diagnosticar tumores por meio da biópsia líquida, tecnologia não invasiva e, por isso, com risco mínimo, que só demanda o exame de sangue do paciente. Os resultados foram apresentados nesta segunda-feira, 26 de julho, pela equipe liderada pelo diretor de Pesquisa do IEC Vivaldo Moura Neto, durante visita às dependências do IEC realizada pelo secretário de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação, Dr. Serginho, pelo presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, e pela diretora Científica da Fundação, Eliete Bouskela. A comitiva foi recebida pelo diretor médico do Instituto, o neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho, uma das maiores referências brasileiras nessa especialidade médica.

As pesquisas desenvolvidas por Moura Neto foram contempladas pela FAPERJ, por meio dos editais Apoio a Instituições de Ensino e Pesquisa Sediadas no RJ (que permitiu o desenvolvimento da plataforma de diagnóstico tumoral por meio da biópsia líquida) e Redes de Pesquisa em Saúde do Estado do Rio de Janeiro, além do programa Cientista do Nosso Estado. O estudo também contou com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Como desdobramento da pesquisa, a equipe publicou recentemente um artigo na revista científica internacional Pituitary Journal (confira a íntegra do artigo em: https://link.springer.com/article/10.1007/s11102-021-01151-6).

O secretário destacou os impactos positivos da pesquisa para a Ciência fluminense. “Esse é um trabalho que realmente impressiona, que nos faz observar ainda mais a importância de investimentos em pesquisa que gerem benefícios para a população, deixando um legado para as futuras gerações. Ficamos muito felizes com o que vimos hoje e seguiremos investindo cada vez mais para o desenvolvimento científico do nosso estado”, disse Dr. Serginho. “Vemos no Instituto Estadual do Cérebro a abnegação dos médicos e pesquisadores, como o Dr. Paulo Niemeyer Filho e o Dr. Vivaldo, e a presença de equipamentos nessa área da Medicina que só existem aqui na rede SUS do estado. A partir daí destaco a importância da FAPERJ, que vem dando suporte à realização de trabalhos científicos como esse”, acrescentou.

Na apresentação dos resultados da pesquisa no Laboratório de Biomedicina do Cérebro do IEC, Moura Neto (à frente) destacou os benefícios do diagnóstico tumoral por meio da biópsia líquida


Durante a visita, Vivaldo Moura Neto ressaltou os benefícios da metodologia por biópsia líquida, que permite o diagnóstico do câncer apenas por meio da análise do sangue. Normalmente, o diagnóstico do câncer é feito por meio de uma radiologia ou por meio da biópsia do tecido, procedimento invasivo, para análise patológica. “A biópsia líquida permite identificar no sangue a passagem dos DNAs mutantes indicativos do câncer. O IEC é o único local no estado do Rio de Janeiro que utiliza essa metodologia”, disse Moura Neto, líder do Laboratório de Biomedicina do Cérebro do instituto. “A biópsia líquida permite acompanhar o paciente para checar de forma mais prática o quanto ele está progredindo com a doença e se está limpo das moléculas ruins. Aqui no IEC trabalhamos especialmente com o cérebro, mas essa biópsia pode ser feita para detecção de tumores em outras partes do corpo também”, completou.

O neurocirurgião Paulo Niemeyer Filho ressaltou a inovação no tratamento em Saúde que o diagnóstico de tumores por biópsia líquida vai representar. “A biópsia líquida é um procedimento novo que está em uma fase final de pesquisa, entrando na fase clínica. Ela dá a possibilidade de fazer o diagnóstico de um tumor por meio de um exame de rotina. Isso vai facilitar o diagnóstico dos tumores cerebrais e depois o acompanhamento do paciente, pois com apenas um exame de sangue poderemos saber se o tumor está eliminado. É uma metodologia que vem se mostrando cada vez mais precisa nas pesquisas que estamos fazendo. No futuro, vamos chegar ao ponto em que o diagnóstico de tumores será feito em laboratórios de check-up”, explicou. Ele citou ainda o apoio da Fundação para as pesquisas e equipamentos do IEC. “Essa visita é marcante. Toda a pesquisa aqui é feita com apoio da FAPERJ e Dr. Vivaldo tem conseguido resultados muito expressivos, de alcance internacional. Tenho esperança de que possamos ampliar essa parceria com o Instituto do Cérebro.”

Inaugurado em 2013, O IEC é referência internacional em neurocirurgia de alta complexidade e também uma importante instituição de ensino e pesquisa. O Instituto, que atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS), é o primeiro centro voltado para o tratamento de doenças neurocirúrgicas do País.

Leia mais: http://www.faperj.br/?id=4246.2.5





Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 29/07/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4274.2.3

quinta-feira, 29 de julho de 2021

FAPESP e Sebrae-SP apoiarão o desenvolvimento de inovações

Chamada selecionará propostas voltados à pesquisa para o desenvolvimento de soluções inovadoras e à introdução dessas soluções ao mercado.

A FAPESP e o Sebrae-SP anunciam uma chamada de propostas para a seleção de projetos voltados à pesquisa para o desenvolvimento de soluções inovadoras e à introdução dessas soluções ao mercado.

A oportunidade resulta do convênio de cooperação firmado por FAPESP e Sebrae-SP em 16 de junho. A participação dos parceiros prevê, pelo lado da FAPESP, concessão de recursos financeiros e, pelo lado do Sebrae-SP, apoio financeiro e acompanhamento dos projetos selecionados.

Podem apresentar propostas pesquisadores vinculados a empresas de pequeno porte (com até 250 empregados) com unidade de pesquisa e desenvolvimento no estado de São Paulo e faturamento anual limitado a R$ 4,8 milhões.

Serão consideradas apenas propostas que se enquadrem na Fase 2 do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE), ou seja, que já tenham feito a viabilidade técnico-científica do produto e que tenham plano de negócios demonstrando viabilidade comercial e sustentabilidade da empresa.

FAPESP e Sebrae-SP reservaram ao todo R$ 25 milhões para apoiar projetos selecionados por este edital, sendo R$ 20 milhões pela FAPESP e R$ 5 milhões pelo Sebrae-SP.

Cada projeto poderá receber, por um período de até 24 meses, um máximo de R$ 1,25 milhão, incluindo o teto de R$ 1 milhão previsto pelo financiamento da modalidade PIPE-FAPESP Fase 2 e R$ 250 mil concedidos pelo Sebrae-SP para atividades de acesso ao mercado e desenvolvimento comercial dos resultados do projeto.

As empresas contempladas pela chamada deverão assinar um termo de outorga com cada um dos organizadores. Enquanto a FAPESP deve receber o relatório científico com os resultados da pesquisa, o Sebrae-SP fará acompanhamentos periódicos que exigem do outorgado a apresentação dos resultados obtidos com o desenvolvimento comercial e a atualização justificada do planejamento de negócios.

Propostas devem ser submetidas até 19 de outubro por meio da plataforma SAGe, da FAPESP.

A chamada está disponível em: https://fapesp.br/14986.




Autor: FAPESP
Fonte: FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 22/07/2021
Publicação Original: https://fapesp.br/15007/fapesp-e-sebrae-sp-apoiarao-o-desenvolvimento-de-inovacoes

FAPESP lança primeiro fascículo digital do livro "FAPESP 60 anos: Ciência, Cultura e Desenvolvimento"

Também foi aberto ao público portal que reunirá todas as iniciativas com as quais a Fundação celebra os seus 60 anos


A FAPESP lançou nesta quinta-feira (22/07) o site que dá acesso à Introdução e ao primeiro de dez fascículos digitais que comporão o livro "FAPESP 60 anos: Ciência, Cultura e Desenvolvimento", que oferecerá ao leitor um panorama do trabalho da Fundação ao longo de seis décadas e do avanço da pesquisa no Estado de São Paulo.

Coordenado por Carlos Vogt, coordenador do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e presidente da FAPESP de 2002 a 2007, o livro integra as comemorações dos 60 anos da FAPESP.

O livro será publicado em fascículos digitais mensais, entre julho de 2021 e abril de 2022. O conjunto dos dez fascículos comporá os capítulos de um livro impresso sob o selo da Edusp e das editoras da Unicamp e da Unesp, a ser lançado em maio de 2022.

A Introdução do livro, com o título Muito prazer, FAPESP, traz um texto do presidente da Fundação, Marco Antonio Zago, informações sobre a instituição e uma linha do tempo que destaca projetos e programas de grande impacto para o avanço da pesquisa em São Paulo.

O primeiro capítulo, Seis décadas de ciência e desenvolvimento, oferece um panorama histórico da contribuição da FAEPSP para o desenvolvimento social, ambiental e econômico do Estado, com números referentes a investimentos, projetos, produção científica, entre outros.

O segundo fascículo, DNA da ciência paulista, será lançado em agosto, seguido pelos seguintes títulos: Pioneirismo digital (setembro), Grandes projetos, grandes resultados (outubro), Políticas públicas baseadas em evidência (novembro), Contribuição social, cultural e artística (dezembro), Inovação e empreendedorismo (janeiro 2022), Diversidade e inclusão (fevereiro), Lições da pandemia (março) e De olho no futuro (abril).

A Introdução e o primeiro fascículo do livro estão disponíveis em https://60anos.fapesp.br/livro.

No vídeo, o professor Vogt dá mais informações sobre o projeto do livro “FAPESP 60 anos: Ciência, Cultura e Desenvolvimento”.



Portal FAPESP 60 anos

A FAPESP também lançou ontem (22/07) o portal que reunirá todas as iniciativas com as quais celebrará os seus 60 anos. Além de acesso ao livro “FAPESP 60 anos: Ciência, Cultura e Desenvolvimento”, o portal abriga o site A FAPESP e os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, que indexa seu portfólio de programas, projetos apoiados e notícias relacionadas a cada um dos 17 ODS com o objetivo de facilitar o acesso às pesquisas relacionadas e subsidiar políticas públicas nas diferentes áreas.

O portal dará acesso à série Conferências FAPESP 60 anos. Duas delas já foram realizadas em junho e julho, tendo como conferencistas Celso Lafer, sobre Ciência e Diplomacia, e Carlos Joly, Paulo Artaxo e Mercedes Bustamante, sobre Biodiversidade e Mudanças Climáticas. Até o final de 2021 estão programadas mais cinco conferências, com convidados do Brasil e do exterior, com os temas: Sociedades violentas (agosto), Desafios à saúde global (setembro), O uso de evidências e dados para a melhoria da educação nacional (outubro), Produtos naturais e química (novembro) e Memória cultural (dezembro). E, em 2022, serão realizadas outras 11 conferências com temas relacionados às diversas áreas do conhecimento.

No portal também estarão disponíveis as biografias dos presidentes e diretores científicos da FAPESP, vídeos, entre outras informações que oferecem aos visitantes uma visão geral da atuação e gestão da Fundação nos últimos 60 anos e um panorama dos principais desafios para o futuro.

FAPESP 60 Anos: 60anos.fapesp.br





Autor: Claudia Jurberg
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 15/07/2021
Publicação Original: https://fapesp.br/15008/fapesp-lanca-primeiro-fasciculo-digital-do-livro-fapesp-60-anos-ciencia-cultura-e-desenvolvimento

Bebês devem ser estimulados a segurar e alcançar objetos desde o nascimento, sugere estudo



Recém-nascidos e bebês de até três meses de idade já devem receber estímulos para manusear objetos e observar adultos desenvolvendo tarefas do dia a dia. Esse incentivo ajuda no desenvolvimento social, motor e cognitivo. É o que sugerem pesquisadores em artigo publicado na revista científica Infant Behavior & Development.

O estudo propõe que, desde o nascimento, os bebês assistam cotidianamente os adultos em suas atividades diárias, como, por exemplo, na manipulação de utensílios domésticos. Além disso, também devem ter contato frequente com objetos para que desenvolvam as habilidades de segurá-los e de estender os braços para alcançá-los.

Por meio dessas interações sociais, os bebês conseguem desde os primeiros dias de vida aprender a usar o próprio corpo de maneira funcional e a perceber as relações entre seus movimentos e as consequências no ambiente.

“Apresentamos evidências de que as atividades de imitação e manipulação neonatal estão conectadas e propomos práticas de estimulação baseadas em desenhos experimentais, nas quais os bebês devem ser posicionados de maneira favorável a observar as ações das pessoas. Isso terá impacto na forma como entendem o mundo social e a cadeia de ações possíveis nesse ambiente”, escrevem os pesquisadores no artigo Interweaving social and manipulative development in early infancy: Some direction for infant caregiving.

O trabalho teve apoio da FAPESP no âmbito de convênio com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal (FMCSV).

A pesquisadora Priscilla Ferronato, do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Paulista (Unip), primeira autora do trabalho, afirma que o estudo estabelece ligação entre os sistemas social de imitação e o motor de ação manipulativa. “As pesquisas têm demonstrado, desde os anos 1970, que os bebês conseguem copiar expressões faciais logo que nascem. Sugerimos que eles imitam tudo, tanto as expressões como as ações motoras de manipular objetos. Ao ver o adulto usando as mãos, eles copiam e aprendem a usá-las”, disse.

Ferronato explica que, nos primeiros três meses de vida, os bebês, em geral, não conseguem fazer sozinhos movimentos para alcançar objetos. “Os cuidadores normalmente estimulam o uso das mãos a partir do momento em que os bebês aprendem o movimento de alcançar objetos. Nossa proposta é o contrário: incentivar no período em que eles ainda não conseguem”, disse.

No artigo, os pesquisadores fizeram uma revisão de estudos e perspectivas teóricas e apresentaram a nova abordagem como alternativa para compreender a imitação e as atividades manuais.

As sugestões estão baseadas na reprodução de cenários simples e de fácil adaptação, que replicam situações experimentais de estudos clássicos do desenvolvimento infantil.

Um dos exercícios propostos é o de colocar nas mãos da criança um objeto com textura lisa. Em seguida, acrescentar rugosidade à superfície para que ela sinta a diferença na forma de agarrar. Outra sugestão é oferecer um dedo para o bebê segurar e, quando ele conseguir, sorrir para que haja a associação do toque com o estímulo visual.

Mais uma atividade proposta é, em um ambiente com baixa luminosidade, colocar um feixe de luz (com uma lanterna ou o celular) atravessando horizontalmente o bebê na altura do peito para que ele tente controlar os braços ao buscar o feixe de luz.

“O nosso objetivo final é levar essas informações não só a professores de creche para aplicação prática, mas também aos pais, já que, geralmente, os bebês estão em casa nesse período. A maioria dos pais não tem ideia de que os bebês são capazes de aprender logo nos primeiros meses de vida”, disse Ferronato.

Na pesquisa Primeiríssima Infância – Interações: Comportamentos de pais e cuidadores de crianças de 0 a 3 anos, publicada em 2020 pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 21% dos pais entrevistados disseram que as crianças começam a aprender a partir dos seis meses de idade, e outros 21%, de um ano em diante. Dos 58% que responderam que os bebês aprendem ainda no útero ou logo após nascer, a maioria tem ensino superior e renda mais alta.

Desenvolvendo habilidades

No Brasil, a Lei 13.257/2016 define a primeira infância como o período que abrange os primeiros seis anos completos da criança. Mas pesquisadores e entidades já utilizam o que chamam de “primeiríssima infância”, até os três anos. Nessa faixa etária estão cerca de 10 milhões de crianças no país, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua 2019.

Ainda antes desse período, os primeiros mil dias de um bebê (da gravidez até os dois anos) são considerados os mais importantes do desenvolvimento físico e mental do ser humano, podendo determinar inúmeros fatores da vida adulta. Conhecido como “intervalo de ouro”, é também marcado pela grande plasticidade cerebral, sendo muito favorável para situações de aprendizagem.

Em fevereiro, a FAPESP lançou o Centro Brasileiro para o Desenvolvimento na Primeira Infância, em parceria com a FMCSV e com sede no Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), em São Paulo.

Entre os seus objetivos estão a realização de pesquisa na área de mensuração do desenvolvimento da primeira infância (DPI) e a integração de dados de DPI registrados por diferentes fontes, além de oferecer cursos e oficinas (leia mais em: https://agencia.fapesp.br/35128/).

O artigo Interweaving social and manipulative development in early infancy: Some direction for infant caregiving, de Priscilla Ferronato, Briseida Resende e Edison de Jesus Manoel, pode ser lido em: https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S0163638321000394?via%3Dihub.





Autor: Luciana Constantino
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 28/07/2021
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/bebes-devem-ser-estimulados-a-segurar-e-alcancar-objetos-desde-o-nascimento-sugere-estudo/36439/

Pesquisadores desenvolvem método para detectar substância com potencial cancerígeno em água



A N-nitrosodimetilamina (NDMA), uma das nitrosaminas conhecidas por aumentar o risco de câncer, foi incluída em maio deste ano na lista de subprodutos de desinfecção formados durante o processo de tratamento de água que devem ser monitorados por representar danos à saúde.

Estudo feito por pesquisadores do Laboratório de Química Ambiental do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (LQA-IQ-Unicamp) é um dos primeiros a criar um método para esse monitoramento no Brasil.

Em artigo publicado na revista científica Environmental Science and Pollution Research, o grupo mostra a eficácia dessa ferramenta desenvolvida e validada, de acordo com as especificações do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), para detectar sete nitrosaminas em níveis de concentração traço (nanograma por litro) em água tratada para abastecimento público.

O trabalho contou com o apoio da FAPESP em dois projetos de pesquisa - um sobre contaminantes aquáticos e outro sobre o uso de líquidos iônicos em processos fermentativso – e do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA).

O método foi usado para analisar 18 amostras de água coletadas em maio de 2019 em sistemas de 13 cidades da Região Metropolitana de Campinas. O resultado: a NDMA foi a mais frequentemente detectada (em 89% das amostras) e teve o maior nível de concentração (67 ng L−1). Além dela, foram identificadas NMEA, NPYR, NDEA, NPIP, NDPA e NDBA.

A análise também mostrou que todas as amostras continham pelo menos duas nitrosaminas diferentes. Três delas – NDMA, NPYR e NPIP – foram encontradas em mais de 70% das amostras recolhidas.

“As concentrações de nitrosamina relativamente altas podem ser atribuídas à baixa qualidade da água e aos maiores níveis de atividade humana na região. Como as informações para nitrosaminas na água potável brasileira ainda são muito limitadas, este estudo pode fornecer os primeiros dados sobre possíveis tendências de ocorrência e riscos potenciais associados. É também de grande importância para investigações mais aprofundadas em todo o país”, escrevem os pesquisadores no artigo, cuja primeira autora é a doutoranda Beatriz de Caroli Vizioli.

Orientadora da pesquisa, a professora Cassiana Carolina Montagner, que é coordenadora do LQA-IQ-Unicamp, cita a importância prática do trabalho diante da necessidade de os laboratórios se enquadrarem à nova portaria publicada pelo Ministério da Saúde (nº 888, de 4 de maio de 2021). “Mostramos que o método funciona. O gargalo pode ser o custo, que ainda é alto por causa da fase extratora usada no preparo das amostras”, afirma.

Na pesquisa foi utilizado um cartucho, cuja fase extratora é feita de carvão ativado de fibra de coco, que funciona como um filtro para reter as nitrosaminas. Depois, percola-se um solvente orgânico (como o diclorometano) pelo cartucho para isolá-las.

O enriquecimento da amostra e a limpeza da matriz por extração em fase sólida (SPE, sigla em inglês para Solid Phase Extraction) foram realizados usando o método US EPA 521 com esse cartucho. Isso permitiu a identificação e a quantificação confiável de nitrosaminas na água em níveis de nanograma por litro. A validação foi realizada em três níveis de concentração (20, 100 e 200 ng L−1) em amostras de água ultrapura e de água tratada coletada antes da etapa de desinfecção.

No estudo também foi utilizada a cromatografia gasosa, uma técnica para separar e analisar misturas de substâncias voláteis. A amostra é vaporizada e introduzida em um fluxo de um gás (gás de arraste), que passa por um tubo contendo a fase estacionária (coluna cromatográfica), onde ocorre a separação da mistura.

Riscos

Nas últimas décadas, órgãos governamentais de vários países têm procurado definir metas de saúde pública para nitrosaminas na água tratada destinada ao consumo humano. No entanto, ainda há muita discussão sobre os valores máximos permitidos. A portaria do Ministério da Saúde brasileiro determina que, no caso da NDMA, o valor máximo permitido na água é de 100 ng L-1 (ou 0,0001 mg/L). O Canadá tem uma diretriz para a NDMA de 40 ng L-1, enquanto na Austrália esse valor é de 100 ng L-1.

As nitrosaminas são compostos comumente encontrados na água, em alimentos defumados e grelhados, laticínios e vegetais. Sabe-se que a exposição a essas substâncias dentro de limites seguros representa baixo risco à saúde, mas acima de níveis aceitáveis e por longos períodos aumenta o risco da ocorrência de câncer.

A NDMA é altamente tóxica, especialmente para o fígado, e reconhecida como carcinogênica por estudos realizados em animais. Para humanos foi classificada pela Agência Internacional de Pesquisa em Câncer como provável carcinogênica.

No fim do ano passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) criou o Programa Especial de Monitoramento de Nitrosaminas em Medicamentos para aprofundar investigações sobre a presença dessas substâncias em insumos farmacêuticos.

A formação da nitrosamina varia de acordo com muitos parâmetros, entre eles, o conteúdo de matéria orgânica presente na água e o tipo de desinfetante. A matéria orgânica rica em compostos nitrogenados fornece os precursores orgânicos das nitrosaminas e o uso de cloramina como desinfetante da água para combater patógenos, por exemplo, contribui com a formação desses compostos.

“A questão é o equilíbrio, ou seja, quanto de desinfetante precisa ser usado para resolver a contaminação por patógenos, mas garantindo que a ingestão contínua e prolongada da água não apresente risco de câncer devido à exposição a nitrosaminas”, explica Montagner.

Relatórios divulgados recentemente pela Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a situação do acesso à água no mundo vêm apontando preocupação com os chamados contaminantes emergentes, uma classe relativamente nova de substâncias químicas não reguladas presentes em diversas matrizes ambientais e que podem oferecer riscos. Eles incluem fármacos, hormônios, pesticidas, subprodutos de desinfecção e microplásticos.

Daí a importância do desenvolvimento de técnicas para detectar essas substâncias no sistema de abastecimento de água, principalmente no Brasil, onde quase 38% da população tinha alguma dificuldade de acesso à água tratada antes da pandemia de COVID-19, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com base em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) 2019, o IBGE apontou que 22,4% dos brasileiros moravam em domicílios sem abastecimento diário ou estrutura de armazenamento de água, enquanto 11,9% eram abastecidos por outra forma que não a rede geral. Além disso, 3,4% dos domicílios não estavam ligados à rede geral de água nem contavam com canalização.

Próximos passos

Agora, em seu trabalho de doutorado, Vizioli está estudando novos preparos de amostra para tentar substituir a extração em fase sólida por outras técnicas mais verdes, buscando métodos mais baratos e rápidos para o monitoramento.

“Esperamos fornecer ferramentas ambientalmente mais amigáveis para esse tipo de análise. A ideia agora é ampliar e entender melhor onde estão os maiores problemas relacionados à presença de nitrosaminas em nossas águas”, afirma Montagner.

O artigo Drinking water nitrosamines in a large metropolitan region in Brazil, de Beatriz De Caroli Vizioli, Leandro Wang Hantao e Cassiana Carolina Montagner, pode ser lido em https://link.springer.com/article/10.1007%2Fs11356-021-12998-4.




Autor: Luciana Constantino
Fonte: Agência FAPESP
Sítio Online da Publicação: FAPESP
Data: 29/07/2021
Publicação Original: https://agencia.fapesp.br/pesquisadores-desenvolvem-metodo-para-detectar-substancia-com-potencial-cancerigeno-em-agua/36453/

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Kit covid eficaz, rápido e de baixo custo


Equipe de pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) desenvolveu um kit de biologia molecular capaz de detectar o RNA do vírus SARS-CoV-2 em amostras de saliva e swabs nasofaríngeos de pacientes com suspeita de Covid-19. O diagnóstico fica pronto em menos de uma hora e tem um custo de apenas R$ 30. Ao contrário do PCR tradicional, não necessita de equipamentos complexos e nem caros. Com apenas um banho-maria a 600 C, pipetas e tubinhos, o teste tem demonstrado precisão se comparado ao tradicional PCR. O teste já foi realizado em amostras de 30 pacientes positivos e outros 30 negativos para Covid-19 e o resultado foi de 100% de acerto, comparado ao resultado obtido pelo PCR.

O teste, chamado de LAMP-COVID-19, amplifica o genoma viral em menos de 30 minutos e consegue detectar até 10 cópias do vírus em uma mesma amostra e é uma boa alternativa para ser realizado em lugares com pouca infraestrutura. O resultado é analisado de forma colorimétrica, sendo a cor vermelha para o resultado negativo e amarela para o positivo.


O resultado é apresentado de forma colorimétrica, sendo a cor vermelha para o negativo e amarelo para o positivo


A realização de testes, a partir da coleta da saliva para diagnostico da Covid, é uma ferramenta importante para ser aplicada em crianças, sobretudo em crianças internadas, e adultos acamados, que precisam ser testadas de forma repetida sem causar o incômodo da coleta nasofaringea.

Liderados pelas pesquisadoras Mônica Lomeli e Fabiana Ávila Carneiro, ambas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. "Queremos muito tornar possível a comercialização dos testes, por isso estamos em busca de parceiros que nos ajudem a produzir em larga escala e distribuir nossa produção.”, disse Mônica Lomeli. A equipe da pesquisadora.conta com cinco alunos que criaram a startup Osiris Life Sciences. No momento, a Osiris participa do iGEM, uma competição de biologia sintética criada pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) e hoje organizada pela iGEM Foundation, dos Estados Unidos, na busca de inovação na área da saúde. A equipe Osiris concorre com 343 outras equipes de diversos países.

Para participar da competição, a Osiris desenvolveu o projeto Ammit, uma proteína para ser utilizada como reagente em kits de diagnóstico sorológico para diferenciar dengue, zika e chikungunya. A Ammit faz parte do projeto principal que a startup desenvolve, o DiagSyn – dispositivo eletroquímico multidiagnóstico capaz de detectar infecções virais em qualquer estágio da doença e oferecer resultados sorológico e molecular, ao mesmo tempo, para as três doenças. O dispositivo elaborado pela Osiris é um biossensor que faz leitura em uma fitinha, como nos testes de glicose, e o produto já foi selecionado, dentre startups do mundo inteiro, em um programa de aceleração da Universidade Técnica de Munich, na Alemanha.


A Osiris Rio UFRJ é uma equipe multidisciplinar com alunos de de graduação nas áreas de Biotecnologia, Engenharia Química, Engenharia de Bioprocessos e Nanotecnologia (Foto: Divulgação)


A equipe Osiris recebeu, inicialmente, apoio da FAPERJ para participar de competições de caráter educacional – por meio do edital Apoio a Equipes Discentes em Projetos de Base Tecnológica para Competições de Caráter Educacional, e tem sido apoiada também por emendas parlamentares.

A Osiris Rio UFRJ é uma equipe multidisciplinar com alunos de cursos de graduação nas áreas de Biotecnologia, Engenharia Química, Engenharia de Bioprocessos e Nanotecnologia. A equipe é coordenada pelas professoras Mônica Montero Lomeli, do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis, e Fabiana Ávila Carneiro, do Campus de Duque de Caxias Geraldo Cidade, e conta com a colaboração da Plataforma Avançada de Biomoléculas, coordenada pelos pesquisadores Marcius da Silva Almeida e Katia Cabral. Além disso, possui parcerias com os professores Emerson Schwingel e Fernando Cincotto, ambos do Instituto de Química. Os testes LAMP foram realizados com auxílio de obtenção das amostras pelo Laboratório de Virologia Molecular, coordenado pelo professor Amilcar Tanuri, e o Centro de Triagem e Diagnóstico, coordenado pela professora Terezinha Marta Castiñeiras.

Alunos: Isis Botelho Nunes da Silva, Maria Eduarda Pereira Barros, Ramon Cid Gismonti Baptista, Vivian dos Santos Gomes, Lucas Santiago Menezes.






Autor: Claudia Jurberg
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 15/07/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4262.2.6

Genevieve Naylor: um olhar humanizado sobre o Brasil da Boa Vizinhança

As imagens oficiais do Brasil produzidas durante o período getulista do Estado Novo (1937-1945), pelo Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP), eram marcadas pelo discurso visual de exaltação à pátria e de grandiosidade, influenciado pelos regimes fascistas europeus da época. Um olhar feminino, entretanto, registrou de forma peculiar e humanizada o cotidiano do País nesse período, em um tempo que o acesso às câmeras fotográficas, ainda analógicas, era algo raro. A fotógrafa americana Genevieve Naylor (1915-1989), em expedição pelo Brasil, registrou imagens históricas que correram o mundo em galerias internacionais e se tornaram fundamentais para a construção da imagem da brasilidade no exterior durante o período conhecido na historiografia como Política da Boa Vizinhança, de estreitamento das relações culturais e diplomáticas entre Estados Unidos e América Latina. Esse é o tema de estudo da pesquisadora Ana Maria Mauad, professora titular do Departamento de História da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Integrante do Laboratório de História de Oral e Imagem (Labhoi/UFF), Ana vem se dedicando ao tema desde a realização do seu doutorado, na década de 1990, e atualmente recebe o apoio da FAPERJ por meio do programa Cientista do Nosso Estado. “São imagens muito significativas, porque no Brasil, durante o Estado Novo, não tinha muita gente fotografando, além dos fotógrafos oficiais do DIP, que eram, por sinal, todos homens, incluindo refugiados da Alemanha e da França, como Peter Langue, Erich Hess, Paul Stille e Jean Manzon, além dos brasileiros Jorge de Castro e Epaminondas Macedo. Ela foi uma fotógrafa humanista, apoiada nos padrões de uma fotografia que aproximava a câmera do seu fotografado e identificava as pessoas nos seus espaços”, contextualizou a historiadora da imagem.

As fotos de Genevieve não eram uma propaganda direta, como a cineasta alemã Leni Riefenstahl fazia ao nazismo de Hitler. “Sua obra retratava um território visual. Era uma cartografia sensível de pessoas e lugares que buscava aproximar a vivência cotidiana de brasileiros e estadunidenses. A Genevieve fotografava na altura do olho, não criava grandes cenários massivos nem estéticas grandiosas, como o DIP e a propaganda oficial fascista. Focava nas pessoas e nos entornos delas, com variedade de personagens e lugares, desde cenas cariocas, como o Carnaval, o passeio de um ambulante na praia de Copacabana, um jogo de futebol; passando por imagens de festas religiosas e de imagens do Aleijadinho, em Minas Gerais, até imagens do Brasil profundo, no sertão nordestino, captadas durante suas incursões rumo ao Rio São Francisco”, detalhou Ana.



Ana Mauad: pesquisa sobre a fotógrafa Genevieve Naylor, que contribuiu para a construção da imagem do Brasil no exterior durante o Estado Novo (Foto: Divulgação/UFF)

Genevieve Naylor fotografou o Brasil durante sua permanência no país, em 1941 e 1942, durante a Segunda Guerra, como funcionária do Office of the Coordinator of Inter-American Affairs (CIAA), órgão dirigido por Nelson Rockefeller e responsável pela cooperação interamericana e implementação da Política da Boa Vizinhança. Em janeiro de 1943, ela se tornou a primeira mulher convidada a expor no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA), com a mostra Faces and Places in Brazil, que foi levada a vários museus americanos, retratando os modos de vida do povo brasileiro à época. Apresentando o modo brasileiro de ser, a imprensa americana noticiou o trabalho dela juntamente com a do fotógrafo americano Kidder Smith, que registrou na mesma época a arquitetura de Brasília, na exposição Brazil Builds. “Genevieve tinha o olhar de quem se formou na melhor tradição da fotografia engajada, influenciada pela geração de fotógrafos da Farm Security Administration, agência criada durante o governo Roosevelt (1933-1945) que se notabilizou ao contratar fotógrafos profissionais que criaram uma estética original para registrar as condições de vida no campo nos Estados Unidos e validar a necessidade da implantação das medidas sociais e econômicas propostas no New Deal”, explicou.

O cenário norte-americano de então era delimitado pela experiência da depressão econômica dos anos 1930, pelo crescimento urbano, pelas experimentações das vanguardas artísticas e pelas instituições criadas no âmbito do Estado de Bem-Estar Social — o New Deal, lançado pelo presidente Roosevelt. “Havia ainda o interesse, por parte do Departamento de Estado dos EUA, em consolidar a presença estadunidense na América Latina através de acordos comerciais, planos de cooperação internacional e, por fim, de alianças políticas que garantissem a hegemonia dos Estados Unidos na região”, contextualizou Ana. Se o Brasil tinha, por um lado, Carmen Miranda como embaixadora da música nacional, o imaginário fotográfico da Boa Vizinhança ficou marcado pela obra de Genevieve.

A pesquisadora publicou diversos artigos sobre o tema, entre eles “Genevieve Naylor, fotógrafa: impressões de viagem (Brasil, 1941-1942)”, na Revista Brasileira de História (vol.25, nº 49); o artigo “O olhar engajado: fotografia contemporânea e as dimensões políticas da cultura visual”, em que compara aspectos da obra de Genevieve com as fotos de Sebastião Salgado, na revista ArtCultura, da Universidade Federal de Uberlândia (vol. 10, nº 16); e a Good Neighbor Photographer in Brazil (1941-42), na revista Crítica Cultural, de Santa Catarina (v. 12, n. 2). “A obra de Genevieve ajuda a reconstruir os itinerários da fotografia pública brasileira e a imagem do Brasil no exterior”, concluiu. Atualmente, a obra de Genevieve está em cartaz no Metropolitan, em Nova York, na exposição The New Woman Behind the Camera.






Autor: Débora Motta
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 22/07/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4258.2.2

Pesquisadores medem carga de coronavírus em locais públicos



Pesquisadores vinculados ao Instituto de Biologia, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Ibrag/Uerj) desenvolveram um equipamento para capturar e medir a carga de coronavírus em diversos ambientes a partir de aerossóis presentes na atmosfera. A ideia é fornecer informações mais precisas sobre a concentração de SARS-Cov-2 e a capacidade de contágio. "A maioria das pesquisas sobre risco de contágio está baseada em modelos teóricos. Nós estamos tentando verificar isso na prática", explica o coordenador do projeto, Heitor Evangelista.

De acordo com o biofísico, as pesquisas que indicam uma grande capacidade de contágio foram feitas em hospitais. Entre os ambientes em que Evangelista e sua equipe pretendem realizar os testes estão escolas públicas, a estação Central do Brasil, entre outros locais de grande aglomeração. O desenvolvimento do projeto conta, entre outras fontes de recursos, com financiamento da Segunda Chamada Emergencial de Projetos Para Combater os Efeitos da Covid-19, lançada pela FAPERJ após o início da pandemia.

O equipamento, batizado de CoronaTrap, atualmente passa pelos últimos ajustes para facilitar seu deslocamento. Como é possível visualizar neste vídeo de divulgação do projeto, os vírus capturados são armazenados em um recipiente de cor âmbar chamado “bioflask” e mantidos sob baixas temperaturas para que não se degradem. "Um dos grandes desafios para a realização dessas medições é a enorme sensibilidade do coronavírus à degradação ambiental. Então, ao lado do professor César Amaral/Uerj, quatro pesquisadores pós-doc, um mestrando e três graduandos, iniciamos este projeto logo no começo da pandemia", conta.




Heitor Evangelista (à esq. de óculos) e parte da equipe desenvolvedora do CoronaTrap em atividade na comunidade Santa Marta (Foto: Divulgação)


Para Evangelista, a baixa probabilidade de contágio nas atividades ao ar livre e com distanciamento entre pessoas deve ser confirmado pelos testes que estão sendo realizados. "Os coronavírus resistem pouco à luz solar e à temperatura, o que resulta em nossa dificuldade de capturá-los ao ar livre". Ele acrescenta que a equipe identificou uma grande diferença entre a quantidade de vírus em ambientes fechados e abertos. Enquanto ao ar livre o CoronaTrap fica praticamente sem vírus, em determinados locais fechados com aglomerações, com luz ambiente de baixa intensidade e ar condicionado, a coleta pode ser expressiva. "No entanto, é preciso realizar mais medição para que tenhamos certeza do que está faltando fazer quanto as medidas de prevenção do contágio", reforça.

Entender a composição dessas pequenas partículas suspensas na atmosfera, os aerossóis, é um trabalho para o qual Heitor Evangelista tem se dedicado há vários anos. Especialmente na região da Antártica e para o qual conta com financiamento do programa Cientista do Nosso Estado da FAPERJ. A partir desses estudos é possível avaliar os impactos da ação humana na atmosfera e compreender o fenômeno das mudanças climáticas.




Autor: Juliana Passos
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 22/07/2021
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4268.2.9

Litotipos do período do Ciclo da Borracha ganham destaque em e-book publicado pela USP




O e-book intitulado “Patrimônio em Pedra”, publicado recentemente pelo Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo (USP), apresenta descrições de diversos patrimônios brasileiros que tem como objetivo divulgar a geodiversidade brasileira. O livro destaca, no capítulo 4, pesquisa realizada por um grupo de pesquisadores do Curso de Geologia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) que apresenta os principais litotipos utilizados na construção de importantes momentos históricos de Manaus. Acesse o e-book: https://bit.ly/3iT7Bz1

O capitulo 4, cujo título é “O Patrimônio Pétreo Cretáceo do Centro Histórico de Manaus (AM), teve a colaboração dos professores Raimundo Humberto Cavalcante Lima e Roberto César de Mendonça Barbosa e do discente Linconl Levi Cabral da Silva.

O professor Humberto Lima disse que “a intenção foi oportunizar a vivência e o reconhecimento da paisagem no cotidiano do manauara por meio de um olhar sobre a cidade, sua percepção do patrimônio cultural arquitetônico e seus constituintes pétreos no Centro Histórico de Manaus. Esse olhar foi realizado a partir da perspectiva científica, histórica e da educação patrimonial em alguns bens culturais como o Teatro Amazonas, Palácio da Justiça, Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e Reservatório Mocó.”

De acordo com o docente, a pesquisa teve origem a partir de dados realizados nos anos de 2019 e 2020, resultados de pesquisas de Iniciação Científica (IC) e de Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC) que tiveram orientações dos professores do Degeo, permitindo assim a utilização para a base da investigação. Neste ano, segundo o professor, a equipe recebeu convite da organização do e-book para participação da publicação. “A partir daí, a equipe iniciou as visitações no Centro Histórico de Manaus, com intuito de observar as edificações que estivessem relacionadas ao turístico local e, em seguida foi elaborado um texto dessas visitações.

O docente disse que, "isso possibilitou conhecer a história da cidade de Manaus e a própria cultura arquitetônica demonstrada nas ricas edificações, principalmente as relacionadas ao Período do Ciclo da Borracha”. O professor relata que o Capítulo 4 descreve os litotipos utilizados naquele período, o qual cita o calcário que foi utilizado nos ambientes externos e internos das edificações, assim como o arenito que tinha como área de exploração, a BR-174 (Estrada que liga Manaus/AM a Boa Vista/RR).

Importância

“A importância de divulgar a pesquisa produzida pelo Departamento de Geologia da Universidade em um periódico da USP nos permite que esta seja popularizada, difundindo o conhecimento científico para o público especializado, como também ao leigo, o não especializado. Dessa forma, a publicação proporciona o debate científico, assim como instiga novos talentos a desenvolver outros trabalhos na temática de patrimônio geológico e geodiversidade”, completou o pesquisador.

Processo investigativo

Segundo o professor Humberto Lima, a investigação esteve vinculada aos métodos de raciocínio geocientífico, em que foi utilizado o método de observação. “A gente realizou a visitação dos prédios, olhava-os. Questionávamos: qual era a constituição pétrea desse momento? Utilizamos a técnica de microscopia petrográfica que caracterizava as amostras de litótipos semelhantes as estudadas. Como é um patrimônio que não se pode fazer amostragem da pedra, a gente buscava alternativas como a utilização de materiais semelhantes para que fizesse análise microscópica.”, finalizou o pesquisador Humberto Lima.




Autor: Sebastião de Oliveira
Fonte: Equipe Ascom
Sítio Online da Publicação: ufam
Data: 27/07/2021
Publicação Original: https://www.ufam.edu.br/ultimas-noticias/2733-litotipos-do-periodo-do-ciclo-da-borracha-ganham-destaque-em-e-book-publicado-pela-usp.html

Propesp lança editais de apoio à publicação de livros e artigos científicos em periódicos nacionais e internacionais


A Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Federal do Amazonas (Propesp/Ufam) publicou nesta terça-feira, 27, dois editais de apoio à publicação de livros e de artigo científico para discentes dos Programas de Pós-graduação da Ufam.


O Edital de nº 031/2021, do Programa de Apoio à Publicação de Livros da Propesp/Ufam se destina ao pagamento de Auxílio ao pesquisador para apoiar a publicação de livros, priorizando aqueles cujo Qualis Livros (em vigência) é uma dimensão importante no processo de Avaliação da Pós-graduação pela CAPES.

Já o Edital nº 030/2021vai apoiar pesquisadores na publicação de artigos científicos em periódicos de circulação nacional e internacional (A1, A2, B1 e B2), segundo os critérios do sistema Qualis da CAPES (2013-2014) na área de atuação do pesquisador junto ao PPG ao qual está vinculado.

As solicitações de apoio deverão ser encaminhadas diretamente pelo pesquisador à Propesp, através do e-mail artigocientifico@ufam.edu.br, contendo formulário com assinatura do coordenador do PPG e demais documentos solicitados, em um único PDF, a partir do dia 30 de agosto até dia 10 de outubro de 2021.

Acesse os editais na página da Propesp.




Autor: Juscelino Simões
Fonte: Equipe Ascom
Sítio Online da Publicação: ufam
Data: 27/07/2021
Publicação Original: https://www.ufam.edu.br/noticias-destaque/2735-propesp-lanca-editais-de-apoio-a-publicacao-de-livros-e-artigos-cientificos-em-periodicos-nacionais-e-internacionais.html

terça-feira, 27 de julho de 2021

‘Laudato Si’ e a Pastoral da Ecologia Integral, artigo de Juacy da Silva



Se dou pão aos pobres, todos me chamam de santo. Se mostro por que os pobres não têm pão, me chamam de comunista e subversivo”, costumava dizer Dom Helder Câmara, idealizador e um dos fundadores da CNBB.

A preocupação com as questões ambientais, tanto no Brasil quanto no mundo inteiro, tem estado presente ao longo da caminhada da Igreja Católica e também de diversas outras religiões, principalmente nas últimas décadas, quando a degradação ambiental e as mudanças climáticas têm aumentado de forma vertiginosa, afetando negativamente todas as formas de vida existentes no Planeta, incluindo a vida humana,

O aquecimento global, a poluição do ar, das águas, inclusive dos oceanos; do solo incluindo erosões, desertificação, o desmatamento e as queimadas, estão presentes no noticiário praticamente todos os dias no Brasil e ao redor do mundo.

No caso do Brasil esta degradação está se tornando permanentemente e está afetando todos os biomas/ecossistemas, mas de uma forma mais devastadora e alarmante o Pantanal, considerado um santuário ecológico e patrimônio da humanidade; a Amazônia, também considerada o pulmão do mundo e responsável pela maior reserva de ÁGUA DOCE do planeta e o Cerrado, berço de todas as nascentes que formam as bacias do Amazonas, do Paraná/Paraguai e do São Francisco.

Estamos vivendo, já há alguns anos, uma verdadeira crise hídrica, com alteração do regime das chuvas, reduzindo drasticamente o volume de água nos reservatórios que tanto abastecem a população com este precioso líquido quanto afetando de forma drástica a produção de energia elétrica, impondo um pesado ônus, em termos de custos da tarifa para todo o Sistema produtivo e para a população em geral, prejudicando o dia a dia do país e também pressionando o custo de vida e as taxas de inflação.

Lamentavelmente, mesmo ante os alertas que tem sido feito há décadas pelos cientistas e estudiosos do clima quanto a este desastre anunciado, nossos governantes, em vez de investirem de forma massiva e estimularem a produção e uso de outras fontes de energias limpas e renováveis, nas quais o Brasil é privilegiado, como a energia eólica e a energia solar, decisões equivocadas, continuam pecando pela falta de visão de futuro e de planejamento estratégico em todos os níveis de governança.

Isto vem impondo `a população o medo quanto `a falta de energia, do racionamento e o uso de energia de fontes sujas, poluidoras e de custos mais elevados, como o uso das usinas termelétricas, que utilizam combustíveis fósseis ou ainda a construção de pequenas ou grandes usinas hidrelétricas, que, apesar de serem consideradas limpas, impõem um elevado custo ambiental, com alagamento de enormes áreas, deslocamentos populacionais, enfim, também degradação dos ecossistemas.

Em plena crise ambiental, com queimadas que destruíram quase dois milhões de ha do Pantanal, em Mato Grosso, diversas PCHs, (pequenas centrais hidrelétricas) estão em processo de serem construídas no Rio Cuiabá e diversos outros que formam o Pantanal, decretando, sem dúvida, a morte deste santuário ecológico.

Outro problema ambiental sério e grave tem sido os níveis de contaminação dos cursos d’água e dos solos pelo uso exagerado e abusivo de agrotóxicos, que tem colocado em risco a saúde pública e a vida humana e que apesar dos alertas quanto a tais riscos, pouco progresso tem sido feito nesta área, pelo contrário, o Brasil a cada ano tem permitido o registro e uso de mais agrotóxicos, indo na contramão da sustentabilidade, da agroecologia e de práticas que embasam a economia verde.

De forma semelhante, a questão ambiental urbana também vem se agravando ano após ano, seja pela forma desordenada e caótica da expansão territorial das cidades, sem infraestrutura, “empurrando” as grandes massas excluídas, milhões de famílias pobres para viverem em áreas insalubres, em encostas de morros, sem qualquer infraestrutura urbana, convivendo em meio a esgoto a céu aberto, com lixo e todas as formas de detritos que provocam doenças e sofrimento para imensas camadas populacionais.

A situação do saneamento no Brasil é simplesmente vergonhosa, principalmente se considerarmos que o nosso país é a oitava, nona ou décima maior economia do Planeta. Apesar disso, mais de 35 milhões de pessoas não tem água potável e mais de 104 milhões de brasileiros e brasileiras, inclusive crianças não tem coleta de esgoto e número muito maior que não tem acesso a esgoto tratado, cujo volume de bilhões de litros de esgoto “in natura” são despejados em córregos, rios, lagos e oceanos, aumentando significativamente os níveis de insalubridade e de miserabilidade em que vivem a grande maioria da população urbana brasileira.

Outro problema complexo e muito sério é a falta de moradia, de um teto digno para abrigar-se. Nada menos do que 220 mil pessoas vivem em situação de rua; que além da falta de teto, não dispõe de condições alimentares, de higiene e proteção contra a violência. Essa massa humana representa os párias da sociedade brasileira.

Além desta calamidade da população de rua que tem crescido assustadoramente nos últimos cinco anos e em maior intensidade com o advento da pandemia do coronavírus, segundo o IBGE 45,2milhões de pessoas, incluindo crianças, adolescentes e idosos/idosas vivem em “habitações” extremamente precárias, são essas pessoas que sofrem os impactos dos desastres naturais e dos despejos, já que muitas vezes ocupam irregularmente as áreas em que construíram seus barracos ou casebres.

Do contingente de pessoas que vivem nessas condições, em torno de 31,3 milhões 69,2% são pessoas de cor Negra, parda, enfim, afrodescendentes e apenas 30,8% de cor branca, indicando que esta é ainda uma herança da escravidão e exclusão que por séculos perduraram em nosso país.

Como mencionado anteriormente, a Igreja Católica tem estado presente ao longo de nossa história, desde os tempos do descobrimento, no Império e durante todo o período republicano, ora estando mais próxima dos poderosos, das elites do poder, ora mais ao lado dos pobres e excluídos, como tem acontecido nas últimas décadas.

Diversos tem sido os desafios enfrentados pela Igreja em sua caminhada no Brasil, cabendo enfatizar que nas últimas décadas, principalmente desde o surgimento/fundação da CNBB em.14 de outubro de 1952, sob a inspiração de Dom Hélder Câmara, seu papel tem sido destacado na defesa do meio ambiente/ecologia integral, dos direitos humanos em geral, principalmente dos direitos de grupos populacionais vulneráveis como os povos indígenas, os trabalhadores urbanos e rurais, os quilombolas, os ribeirinhos, os agricultores familiares, moradores de ruas, pessoas privadas de liberdade, migrantes, mulher marginalizada, além de outros grupos demográficos que constantemente sofrem violência, abusos e diversas outras formas de desrespeito `a dignidade humana.

A Igreja busca alcançar, socorrer e apoiar as pessoas em sua integralidade, ou seja, cuida ou se preocupe tanto com os aspectos espirituais, transcendentais quanto dos aspectos temporais, materiais, enfim, procura ir ao encontro de todos e todas, principalmente quem está nas diversas periferias, materiais ou existenciais.

Em decorrência, desde o Concílio Vaticano II, a Igreja tem mestrado uma face mais humana, social e solidária, em consonância com sua “opção preferencial, mas não excludente, pelos pobres”, opção esta sempre enfatizada e re-enfatizada, como na atualidade pelo magistério do Papa Francisco.

No Brasil, a Igreja realiza e concretiza esta opção pelos pobres e excluídos através das ações das Pastorais, dos movimentos e diversas organismos que integram esta gama de atividades.

Podemos mencionar as Pastorais: afro-brasileira; da AIDS, dos brasileiros no exterior, carcerária, de comunicação (PASCOM), da criança, da família, da juventude, do menor, da mobilidade humana, dos migrantes, da mulher Negra, dos nômades, operária, dos pescadores, da pessoa idosa, do povo de rua, rodoviária, da saúde, da sobriedade, do turismo, vocacional, do dízimo, pastoral da Terra e, um pouco mais recentes cabe destaque `as pastorais do meio ambiente e por último da Ecologia Integral.

Além das ações das pastorais cabe destacar o trabalho voltando a essas camadas populacionais realizado há décadas pela Caritas Brasileira, pelas Campanhas da Fraternidade, pelo CIMI, pela Comissão brasileira de Justiça e Paz, pelos Vicentinos; enfim, a Igreja está presente não apenas no Brasil inteiro em termos de territorialidade, desde os grandes centros urbanos até os confins da Amazônia e também, junto `as periferias urbanas, rurais, nas florestas e também nas periferias existenciais.

É fundamental ter em mente que as pastorais, os movimentos e organizações através das quais a Igreja atua na sociedade, não são entidades com finalidade politicas, comerciais ou ideológicas, mas sim, escudadas na doutrina da Igreja Católica, principalmente nas Escrituras Sagradas (Bíblia Sagrada), nos Evangelhos, na Doutrina Social da Igreja, nas Encíclicas Papais, da teologia cristã/católica, nos princípios do ecumenismo e nas exortações apostólicas (emanadas pelos Papas a cada pontificado).

Por isso é que costuma-se dizer e destacar que “pastoral não é apenas mais uma ONG”; mas sim, conforme a CNBB, “A ação pastoral da Igreja no Brasil ou simplesmente pastoral é a ação da Igreja Católica no mundo ou o conjunto de atividades pelas quais a Igreja realiza a sua missão de continuar a ação de Jesus Cristo junto a diferentes grupos e realidades”.

Por isso, podemos dizer, sem sombra de dúvida que a organização e o desenvolvimento de uma Pastoral e com a Pastoral da Ecologia Integral não poderia ser diferente, com certeza é um trabalho árduo, lento, de convencimento, passa pela motivação, conversão ecológica, pelo despertar das pessoas e das consciências e do coração, pela formação de equipes regionais, arquidiocesanas/diocesanas, paroquiais e inclusive nas comunidades.

Neste sentido, a Pastoral da Ecologia Integral deve estar inserida e integrada na vida da Igreja, articulada com as demais pastorais, movimentos e organizações, somando com os esforços que cada paróquia desenvolve, incluindo esta nova dimensão que compreende, conforme a “LAUDATO SI”, a ecologia ambiental, econômica e social; a ecologia cultural e a ecologia da vida do cotidiano, voltada para o bem comum e para os cuidados com todas as formas de criação, enfim, com a Casa Comum, dentro do princípio de que tudo, na realidade que nos cerca, esta interligado, como tanto enfatiza o Sumo Pontífice.

As vezes, mesmo tendo presente que a Encíclica Laudato Si, tenha sido publicada há seis anos, em 24 de Maio de 2015, a organização da Pastoral da Ecologia Integral ainda enfrenta algumas resistências, até mesmo dentro da Igreja ou tem dificuldade de conseguir uma maior adesão tendo em vista a enorme gama de atividades já em curso com outras pastorais, movimentos e organismos que sobrecarregam as pessoas, principalmente as que já estão engajadas.

Aqui cabe a menção bíblica de que “a messe e grande, mas os trabalhadores são poucos”, urge, pois, a necessidade de formação de mais agentes de pastorais para realizar o trabalho que se espera da Igreja em momentos decisivos como o que estamos vivendo no Brasil em relação `a grave crise ambiental/ecológica.

Com toda a certeza, apesar de já se terem transcorridos 6 anos desde que a LAUDATO SI foi publicada, o seu conteúdo ainda é muito pouco conhecido, difundido, discutido e refletido na grande maioria das Arquidioceses, Dioceses, paróquias e comunidades por este imenso Brasil, inclusive na Amazônia, no Pantanal e no Cerrado; tres biomas que representam a maior parte do território brasileiro e que estão sofrendo de forma devastadora a destruição da biodiversidade com o desmatamento, as queimadas, a monocultura, o uso abusivo de agrotóxico e a degradação desses ecossistemas.

Da mesma forma, também a Doutrina Social da Igreja, as diversas Encíclicas, as Cartas e as Exortações apostólicas continuam como algo bem distante do dia a dia da vida da Igreja e dos cristãos. Este conjunto, incluindo o estudo da Bíblia, formam o corpo da Doutrina Católica que serve ou deveria servir de base, como uma bússola, para todas as ações da Igreja, seja no Brasil ou em outros países. Quem navega sem uma bússola corre o risco de perder-se no caminho e jamais chegar ao destino planejado.

Todavia, nem por isso devemos desanimar, precisamos preparar o terreno, preparar a equipe que vai plantar as sementes, regar, cuidar com zelo e carinho este trabalho que também faz parte da messe e onde a presença da Igreja é importante, fundamental e não pode estar ausente.

Afinal, como deseja e nos exorta o Papa Francisco, precisamos de uma Igreja em saída, missionária, apostólica, misericordiosa, profética, pobre e voltada, preferencialmente para os pobres e aqueles que estão nas periferias existenciais e da sociedade; cabendo destacar que principalmente quando se trata da degradação ambiental, da destruição do meio ambiente, ai, também, podemos identificar a presença dessas periferias existenciais e onde a Igreja não pode estar ausente.

A degradação ambiental representa a destruição da biodiversidade, da vida e atenta contra a Casa Comum, contra a obra do Criador, por isso, as Pastorais da Ecologia Integral são tão importantes tanto nas Paróquias, comunidades e outras estruturas da Igreja quanto na atualidade em nosso país, principalmente na Região Centro-Oeste, no Pantanal e na Amazônia, regiões onde o meio ambiente está gemendo e clamando por socorro.

Estar ausente neste momento e nesses lugares, Diante do tamanho dos desafios, representa omissão de socorro e conivência com a destruição e a degradação desta parte do Planeta, da Mãe Terra.

Em boa hora, mesmo em meio a esta pandemia que assola nosso país, tem sido possível a realização de eventos como cursos, encontros e rodas de conversa, virtuais, sobre a LAUDATO SI, sobre as Pastorais da Ecologia Integral, eventos sobre a ECONOMIA DE FRANCISCO E CLARA, discussões e ações da REPAM, encontros virtuais sobre a 6a. Semana Social Brasileira e também as ações preparativas para a Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe, além de cursos de formações de agentes da Pastoral da Ecologia Integral.

Olhando para a caminhada histórica da Igreja Católica no Brasil e na América Latina e no Caribe, podemos concluir que muitas coisas já foram feitas, muitas ações estão sendo realizadas e, por certo, muito mais poderemos realizar no futuro, que começa hoje, agora.

Esta é, sem dúvida, a missão da Igreja e também nossa missão como cristãos comprometidos com a situação em que vivem e o destino das pessoas, das obras da criação e com o futuro de nosso planeta!

Concluindo, tenhamos em mente a exortação de Jesus, quando disse “Se eles (os profetas) se calarem, até as pedras falarão”, Evangelho de Lucas, 19:40.

JUACY DA SILVA, professor universitário, fundador, titular e aposentado Universidade Federal de Mato Grosso, sociólogo, mestre em sociologia. Email profjuacy@yahoo.com.br Twitter@profjuacy



in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/07/2021




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/07/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/07/27/laudato-si-e-a-pastoral-da-ecologia-integral/

A Justiça Ambiental, Bacias Hidrográficas e o papel do Congresso Nacional de Educação Ambiental nesse Diálogo

A Justiça Ambiental, Bacias Hidrográficas e o papel do Congresso Nacional de Educação Ambiental nesse Diálogo, por Nubia Caramello e Aldenilson Costa

Os atores da sociedade é que de fato são impactados pela forma como os recursos hídricos são utilizados, sobretudo pela degradação a que muitas bacias estão sujeitas, tornando ainda mais fundamental a participação social

 

A Justiça Ambiental, Bacias Hidrográficas e o papel do Congresso Nacional de Educação Ambiental nesse Diálogo

Nubia Caramello

Docente SEDUC e PROFÁGUA Rondônia

Aldenilson Costa

Docente DAP/PPGDT/UFRRJ

Email: alsvcosta@gmail.com


Para iniciar o diálogo

O ano de 1997 é um divisor de águas literalmente, momento em que é aprovada a Lei das Águas 9.433, que trás no bojo de seu texto a gestão compartilhada e descentralizada por meio da implantação da implantação de comitês de bacias hidrográficas. Um marco porque dá relevância a implantação de diretrizes para uma justiça ambiental, onde legalmente todos os atores hidrográficos representativos passam a ter voz e direito, considerando-se tanto os usuários como as comunidades.

Em janeiro de 2021 a referida Lei completou seus 24 anos de promulgação, e o direito a participação na tomada de decisões sobre os impactos gerados por empreendimentos de diferentes naturezas nas águas e os rios ainda é uma luta constante, exigindo frequente reivindicação e luta dos atores sociais para que isto de fato ocorra. Cabe dizer que a possibilidade de participação é quase sempre perdida quando a “disputa” ocorre entre as pequenas comunidades e os empreendimentos privados, levando a questionar “Onde está a garantia de uma justiça ambiental, na gestão hídrica participativa, tal como preconizado na Lei de Águas?”.

Em todas as partes do país, verifica-se que a sociedade vem despertando interesse pela questão hídrica, sobretudo pela frequente possibilidade de restrição desse recurso, seja pela seca que afeta diferentes regiões ou pela contaminação dos recursos hídricos que ocorre, sobretudo, em áreas metropolitanas. Como resultado, inúmeras pessoas passam a adotar a proteção das águas e dos rios, trazendo um protagonismo a esse elemento natural, que até então, parecia ser significativo apenas aos povos indígenas e comunidades tradicionais, que são aqueles com histórico vinculo cultural com este recurso territorial. O que nos leva a concordar com Magalhães Junior (2017) quando afirma que há uma nova cultura da água em marcha, isto porque observa-se, entre outras coisas, uma mudança de postura da sociedade em geral em relação a este recurso, seja em ambientes urbanos ou rurais.

Importante salientar que as ações em prol dos rios podem ser arquivadas, como apenas a luta de um grupo, ou se tornar pública, passando a alimentar a alma da indignação diante da injustiça ambiental em vários recantos do nosso país. Neste sentido, eventos como a Conferência da Terra e o Congresso Nacional de Educação Ambiental trazem a oportunidade de apresentar elementos das diferentes realidades, reflexões e experiências levadas a cabo, promovendo a socialização e produção de conhecimento novo. Isto contribui para a produção de políticas públicas de gestão dos recursos hídricos mais alinhadas tanto com as necessidades ambientais, quanto sociais.

A Justiça ambiental e as bacias hidrográficas

A pauta para uma gestão hídrica mundial inicia-se oficialmente no século XX, todavia, o uso de referências a bacias hidrográficas é bastante antigo. Donald Worster (1985) na obra “Rivers of Empire” registra a necessidade de planejar a ocupação do Colorado nos Estados Unidos, a partir das delimitações das bacias hidrográficas, apontados por atores envolvidos no processo de colonização. Isto mostra que antes as bacias hidrográficas eram consideradas apenas do ponto de vista instrumental, sem uma real preocupação com o recurso hídrico.

Acselrad, Mello e Bezerra (2009) já na capa da obra O que é Justiça Ambiental, retratam um pescador e um mapa mental que reflete os vários usos de uma bacia, usos esses vinculados a ilustração de inúmeros rios, todos conectores de direitos e deveres. Essa foi nossa particular interpretação, e o fator que vincula a obra a reflexão sobre a relevância da aplicabilidade na integra da Lei 9.433/97, na gestão hídrica participativa para se iniciar a projetar a aplicabilidade de fato do termo sustentabilidade ambiental.

Sendo a justiça ambiental conceituada por Acselrad, Mello e Bezerra (2009, p. 16) como “[…] o direito a um meio ambiente seguro, sadio e produtivo para todos, onde o meio ambiente é considerado em sua totalidade, incluindo suas dimensões ecológicas, físicas, construídas, sociais, políticas, estéticas e econômicas”, a gestão de recursos hídricos deve considerar a bacia hidrográfica no seu conjunto, reconhecendo-a para além da sua dimensão material, mas também, cultural, simbólica, cotidiana (Caramello, 2016). Por sua vez, as bacias hidrográficas são unidades de planejamento que pode ampliar as esferas participativas por meio dos comitês de bacia hidrográfica, tal como estabelecido na lei das águas, e que são formados, entre outros atores, pelos usuários das águas e entidades civis que atuam em cada bacia. Isto mostra que a menos ao nível legal se preconiza a participação dos distintos atores, embora nem sempre isto seja verdade.

Os usos múltiplos dos recursos hídricos em uma BH, quando não assegurados geram conflitos socioambientais, dos quais vale destacar movimentos ocorridos no primeiro semestre de 2021 com solicitação nacional para salvar o Rio Cuiabá e o Pantanal (secure.avaaz.org ), ambos no estado do Mato Grosso e o Rio Una, em Búzios, Rio de Janeiro (secure.avaaz.org).

O primeiro trás a manifestação contra construção de represas por barragens, sendo seis com processo de licenciamento na Secretaria de Meio Ambiente do Mato Grosso. No comunicado se anuncia “Junte se a nós para impedir que esse absurdo aconteça! […] Toda cultura cuiabana está diretamente ligada ao rio, a renda de milhares de pessoas está vinculada direta ou indiretamente a ele”.

O segundo manifesto ocorre em prol da Bacia Hidrográfica do Rio Una e a proteção do mar onde esse desagua, liderado por representantes da sociedade civil organizada e instituições, contra um projeto que visa lançar esgoto da Região dos Lagos do Estado do Rio de Janeiro, na BH Una.

Ambos os manifestos têm como indicador o impacto promovido pelos empreendimentos nos rios e o envolvimento da sociedade que percebe uma injustiça ambiental que os afeta diretamente. Assim, ao lutar pelo ambiente abrem também a luta pela justiça socioambiental. A esse respeito Acselrad, Mello e Bezerra (2009) apontam estudos que apresentam indicadores diagnosticados e trazem reflexões da organização da sociedade em territórios fluviais:
  1. Ocorrências da sobreposição espacial entre pobreza e três tipos de risco urbano: risco por ocupação de áreas inundáveis, risco por ocupação de áreas de alta declividade e risco de desabastecimento de água;

  2. Não há diminuição das diferenças entre as áreas mais abastadas e pobres da cidade e para uma maior provisão de serviços urbanos por parte do Estado ás periferias;

  3. Mercados de terras que tornam as áreas de risco ambiental (próximas a lixões, sujeitas inundações, desmoronamentos, etc) as únicas acessíveis a grupos de baixíssima renda;

  4. Importante avançar na detecção de indicadores de injustiça ambiental em relação a projetos mineradores, construção de barragens e fenômenos de desertificação (p.54 63);

  5. Estudo urbano próximo a cursos hídricos urbanos é importante observar as condições ambientais e de localização desses domicílios, tais como qualidade da construção, presença de insetos e roedores (revela e explicita a associação entre a exposição e risco ambiental, fumaça na vizinhança, acesso à rede de esgoto, localização no interior ou próxima de favelas, etc. (p. 54);

  6. Considerar no Índice de Exclusão Social seus sete subíndices: pobreza, emprego, desigualdade, alfabetização, escolaridade, presença juvenil e violência.

  7. A qualidade ambiental urbana pode ser mensurável através de subíndices como: abastecimento de água, o destino de águas servidas e do lixo, presença de vegetação entre outros.


Esses são alguns fatores selecionados para reflexão junto a um grupo de engenharia ambiental, porém muitos poderiam ser extraídos da obra. A universidade por meio de pesquisas nos diferentes níveis (produtividade em pesquisa, pós-doutorado, doutorado, mestrado, iniciação científica), desenvolvimento de projetos de extensão, pode contribuir no processo de tomadas de decisões, trazendo os indicadores apontados para estudos de caso nas regiões onde vivem.

Tão relevante quando desenvolver a pesquisa é torná-la pública, inicialmente ao publico diretamente envolvido, aos órgãos com competência de tomada de decisão e com a sociedade em geral, de forma a dar maior visibilidade às realidades que precisam de intervenção de todos os atores.

O papel do Congresso Nacional de Educação Ambiental e o Encontro de Biogeografia

Dentro do processo de visibilidade dos fatos que acontecem nas bacias hidrográficas, e que, consequentemente, envolvem atores e processos, e que podem servir para refletir sobre a gestão de recursos hídricos, cumpre destacar o papel das conferências científicas que têm lugar em diferentes partes do país e do mundo. Dentre as conferências, destacam-se, International Conference on Water Resource and Environment, International Conference on Environmental and Water Resources Engineering, que são eventos que ocorrem periodicamente em diferentes partes do mundo. Do ponto de vista nacional, vem demonstrando papel fundamental o Congresso Nacional De Educação Ambiental e o ENCONTRO DE BIOGEOGRAFIA, na medida em que concentram um conjunto de eixos temáticos que condensam resultados de investigações e reflexões sobre distintas temáticas, entre elas uma exclusiva sobre Recursos Hídricos.

A Lei 9.433/97 apresenta os instrumentos de gestão de recursos hídricos, entre eles esta o “Sistema de Informação”, pensando desde o Sistema de Informação Geográfica (SIG) ao direito de acesso pela sociedade, todavia, esses dados somente serão consultados a partir do momento que a sociedade tomar ciência de seu protagonismo e das realidades que a impactam. E, neste aspecto, o Congresso Nacional de Educação Ambiental e o Encontro Nordestino de Biogeografia, unem a sensibilização para que uma nova consciência ambiental seja adota juntamente com a exposição de realidades para que posturas em prol dos territórios fluviais sejam tomadas. Os eventos que ocorrem paralelamente tomaram o cuidado de inserirem a linha de pesquisa “Gestão de Bacia Hidrográfica” em seus Grupos de Trabalhos (GT), ampliando o espaço de diálogo em um ambiente que pensa a EA para as BH.

Desde sua primeira edição esse GT já publicou em formato de capítulo de livro, exatamente 168 contribuições científicas de 2009 a 2020 (tabela 1).

 

Edição

Ano

Título do eixo temático

Capítulos

I CNEA

2009

Planejamento dos Recursos Hídricos

37

II CNEA

2011

Gestão de Recursos Hídricos

39

III CNEA

2013

Gestão de Recursos Hídricos Superficiais e Subterrâneos

38

IV CNEA

2016

Gestão dos Recursos Hídricos

13

V CNEA

2017

Gestão de Recursos Hídricos e Bacias Hidrográficas

19

VI CNEA

2020

Reservas Hídricas e Gestão da Água

22


Tabela 1 Capítulos de livros publicados nos eixos temáticos sobre Recursos Hídricos


Fonte: Elaboração própria a partir de dados disponíveis em: https://www.cnea.com.br/publicacoes

Apesar da redução no número de capítulos ao longo dos anos, observa-se a ampliação dos eixos temáticos ao longo dos anos, sendo que na última edição foram exatos 22 eixos temáticos, que apesar de não contemplarem exclusivamente as bacias hidrográficas, permitiam uma inserção da temática de forma transversal. Além disso, ressalta-se que a pandemia da Covid-19, cujo ápice ocorre em 2020, altera todas as dinâmicas sociais, impossibilitando a realização do congresso presencial, o que, consequentemente, pode ter impactado na redução do número de trabalhos a este GT. Em cada capítulo existe uma reflexão sobre fatos, atores e processos que têm lugar nas diferentes realidades socioespaciais e que marca o território. Além disso, mesclam elementos sociais, culturais, ecológicos, na tentativa de produzir conhecimento que contribua a uma melhor gestão dos hídricos.

Para concluir te convidamos a iniciar a participação

A participação no processo de gestão dos recursos hídricos envolve diferentes agentes, sejam públicos, privados e, também, da sociedade civil organizada.

Os atores da sociedade é que de fato são impactados pela forma como os recursos hídricos são utilizados, sobretudo pela degradação a que muitas bacias estão sujeitas, tornando ainda mais fundamental a participação social. Isto porque são os atores do cotidiano aqueles que experienciam o território, que vivenciam as suas transformações, o que atribui papel relevante na construção de políticas de gestão.

Diante do exposto, nosso posicionamento é que cada leitor tem a missão de relatar acontecimentos com aspectos positivos e negativos nos territórios fluviais que habitam, contribuindo com reflexões da realidade local, e do envolvimento de outros atores.

Quando a primeira alternativa ainda não for possível em razão da necessidade de maior aprofundamento temático, ainda assim o CNEA é o espaço de aprendizagem para que a construção de uma justiça ambiental em nível das bacias hidrográficas passe a ser uma reflexão coletiva. Esse ano o VIII CNEA e o IX ENBIO está em sua jornada “Atitudes e Ações Resilientes para o (re)Equilíbrio dos Sistemas Socioambientais”. Que tal iniciar sua participação?

Referências

ACSELRAD, H; MELLO, C. C; BEZERRA, G. O que é justiça ambiental. Rio de Janeiro: Editora Garamond, 2009.

BRASIL. Lei 9.433/97. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9433.htm

HENRIQUE, W. O direito à natureza na cidade. Salvador: EDUFBA, 2009. 186 p. ISBN 978-85232-0615-4. Available from SciELO Books <http://books.scielo.org>.

WORSTER, D. Rivers of Empire: Water, Aridity, and the Growth of the American West. New York: Oxford University Press. 1985.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 27/07/2021





Autor: Nubia Caramello e Aldenilson Costa
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 27/07/2021
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2021/07/27/a-justica-ambiental-bacias-hidrograficas-e-o-papel-do-congresso-nacional-de-educacao-ambiental-nesse-dialogo/