terça-feira, 30 de junho de 2020

Qual a diferença entre a vacina de Oxford e a do Butantan? Médica responde

Coronavírus: OMS registra 10.021.401 casos e 499.913 mortes no mundo

Dois estudos distintos sobre vacinas contra Covid-19 estão sendo foco de planejamento no combate ao coronavírus no Brasil. As vacinas de Oxford, no Reino Unido, e do Instituto Butantan, de São Paulo, já entram na terceira e última fase de testes.

Em entrevista à CNN na manhã desta segunda-feira (29), Rosana Richtmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, em São Paulo, e do Grupo Santa Joana, explicou que a tecnologia utilizada difere o estudo britânico do brasileiro.


"A principal diferença entre as duas é o uso de tecnologia distinta. Na de Oxford, por exemplo, eles usam um vetor - o adenovírus - e é de dose única. Por outro lado, a do Butantan já é uma vacina mais tradicional do ponto de vista de tecnologia, que nós já conhecemos em outras situações como a da gripe"

"Neste caso se usa um vírus inativo, morto e se requer, pelo menos, duas doses. O importante é que estamos falando de duas vacinas, e isso é muito importante para a população brasileira", acrescentou.

O governo brasileiro anunciou no sábado (27) uma parceria com o Reino Unido para a produção da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pelo laboratório AstraZeneca no combate ao coronavírus. A Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) receberá a tecnologia e insumos.

Richtmann afirmou ainda que é a primeira vez em que o processo de negociação acontece mesmo antes da comprovação de eficácia. Entretanto, neste cenário de pandemia, é uma agilidade necessária.

"É tudo muito novo, então esta parceria é extremamente importante. Esta rapidez não é normal em outras situações, mas neste caso de pandemia, é o ideal (...). Existem 140 vacinas registradas no mundo para serem candidatas [no combate ao Covid-19]. Pelo menos três delas já estão na fase final e testando a eficácia. Estamos falando de uma doença que nenhum de nós temos imunidade suficiente até que se pegue a mesma", concluiu.

(Edição: Bernardo Barbosa)




Autor: CNN
Fonte: CNN
Sítio Online da Publicação: CNN
Data: 29/06/2020
Publicação Original: https://www.cnnbrasil.com.br/saude/2020/06/29/qual-a-diferenca-entre-a-vacina-de-oxford-e-a-do-butantan-medica-responde

Uerj desenvolve aparelho que detecta carga de coronavírus no ambiente


O protótipo da Uerj custou R$ 200, enquanto um modelo similar importado custa R$ 4 mil Foto: UERJ/Divulgação

Cientistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) desenvolveram um aparelho de baixo custo que mapeia a carga viral do novo coronavírus (Covid-19) no ambiente. Batizado de Coronatrack, o dispositivo individual portátil foi criado pelas equipes do Laboratório de Radioecologia e Mudanças Globais (Laramg), do Departamento de Biofísica e Biometria da Uerj.

De acordo com a Uerj, o protótipo custou R$ 200, enquanto um modelo similar importado sai a R$ 4 mil. O pesquisador do Laramg Heitor Evangelista, que também é professor de Biofísica, disse que o aparelho vai possibilitar que o usuário monitore a carga viral nos locais por onde costuma circular.


“Ele tem uma mini bomba de ar, que você coloca numa caixinha presa no seu cinto. É ligado em uma mangueira que vai presa na sua gola, crachá ou bolso. Nessa extremidade, o sistema captura o vírus, quando eu ligo a bomba ele vai aspirar o ar em volta de você. Ele vai concentrando o vírus e no fim do expediente aquele material com o vírus acumulado é levado ao laboratório para ser analisado”, explicou.

De acordo com o professor, o sistema é parecido com o utilizado em mineração, para monitorar partículas de poeira no ar. “A gente fez umas modificações nesse equipamento para ser mais eficiente para o vírus. O vírus está ligado às partículas no ar, ele não fica livre, ele se agrega às partículas que já estavam no ar e você inala tudo junto.”

A proposta do projeto, segundo Evangelista, é mapear a concentração de vírus na cidade, por meio de amostras de locais e trajetos. “Esse sistema tem um GPS, então ele coloca o trajeto georreferenciado, aí eu vou medir aquele filtro e vou saber a carga viral daquele trajeto. Se tiver 200 aparelhinhos desses, a gente consegue mapear o Rio de Janeiro, e com isso a gente pode saber em que áreas a gente tem uma maior carga viral no ar do que outros lugares e, com isso, ver se precisa monitorar mais ali, fazer mais medidas.”

Subnotificação

Segundo o professor, o aparelho pode ser utilizado também para contornar o problema da subnotificação de casos do novo coronavírus, dando aos cientistas e autoridades mais noção sobre os locais onde a doença pode ter uma maior incidência.

“A subnotificação se dá porque você não consegue medir individualmente as pessoas. Com esse sistema, ao invés de medir individualmente as pessoas, você monitora uma área. Isso pode dar uma luz maior sobre essa questão”, disse Evangelista.

O professor Evangelista destaca também a possibilidade de monitorar a carga viral em ambientes fechados públicos e privados. “Esse equipamento pode ser usado em qualquer circunstância onde tem um trabalhador ou um usuário num ambiente em que circulam várias pessoas. Uma loja, uma academia, se reabrir um cinema, uma escola, qualquer lugar. Tudo isso pode ser feito porque ele é portátil e individual”.

O Coronatrack se mostrou eficiente nos primeiros testes e a equipe está trabalhando no desenvolvimento do produto para fabricação mais ampla e registro de patente. O protótipo está sendo testado no Hospital Universitário Pedro Ernesto (Hupe), da Uerj. A análise da carga viral acumulada no aparelho é feita no Laboratório de Histocompatibilidade e Criopreservação (HLA) da Uerj.

Segundo o professor, a equipe busca apoio do poder público ou da iniciativa privada para desenvolver o Coronatrack em larga escala.





Autor: Agência Brasil
Fonte: Agência Brasil
Sítio Online da Publicação: Agência Brasil
Data: 29/06/2020
Publicação Original: https://www.cnnbrasil.com.br/tecnologia/2020/06/29/uerj-desenvolve-aparelho-que-detecta-carga-de-coronavirus-no-ambiente

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Biodiversidade: a peça mais importante para um futuro sustentável, artigo de Malu Nunes



Por sua capacidade de mover-se por todas as direções do tabuleiro, a rainha (também conhecida como dama) é considerada a peça mais importante do xadrez, capaz de determinar a vitória ou a derrota de um jogador. Quanto maior a aptidão de um indivíduo às mudanças de cenário, maiores suas chances de êxito. No planeta Terra, também podemos identificar um fator capaz de definir nosso sucesso enquanto espécie: fora do tabuleiro, a biodiversidade é a rainha.

Não por acaso, neste ano o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) elegeu o tema para as comemorações do Dia Mundial do Meio Ambiente. A data é fixada em 05 de junho, mas as celebrações se estendem pelo mundo durante todo o mês. A ideia é enfatizar que “somos completamente dependentes de ecossistemas saudáveis e vibrantes para nossa saúde, água, alimentos, medicamentos, roupas, combustível, abrigo e energia”.

Diante do contexto de mudanças climáticas e dos efeitos da pandemia da Covid-19, precisamos de um olhar mais atento para a nossa relação com todas as formas de vida. Já não passa despercebido o fato de que, ao combater a degradação e incentivar a conservação da natureza e de toda vida que nela habita, fortalece-se uma rede orgânica de cooperação. Sem esse esforço coletivo, muitas das tecnologias que hoje se conhece, não existiriam.

Ao pensarmos em atividades econômicas, é impossível ignorar o papel que a biodiversidade exerce sobre cada uma delas. O próprio agronegócio, por exemplo. Não é possível desenvolver uma indústria agropecuária sem a diversidade genética presente nos microrganismos que garantem a qualidade do solo e os nutrientes necessários para o crescimento das culturas e, na ponta final, a geração de alimentos.

Além disso, sem o importante trabalho de espécies polinizadoras, como abelhas, borboletas ou aves, as propriedades rurais produziriam menos e com menor qualidade. E o que dizer da pesquisa científica, da produção de medicamentos, que busca na natureza os princípios ativos das plantas? Quanto do setor turístico depende dos ambientes naturais e das diversas espécies que promovem o ciclo da vida?

A ciência tem um papel fundamental nessa integração entre economia e biodiversidade. Mesmo diante da riqueza da diversidade de vida na Terra, estima-se que, com todos os estudos e pesquisas realizados pela humanidade, 86% das espécies terrestres e 91% das que habitam os oceanos, continuam desconhecidas pelo homem.

E o que acontece quando perdemos o que ainda não conhecemos? Um relatório divulgado este ano pelo Fórum Econômico Mundial, colocou a perda da biodiversidade como o terceiro risco de maior impacto para o planeta nos próximos 10 anos. O mesmo documento estima que os bens e serviços produzidos pelos ecossistemas somem um total de US$33 trilhões/ano – praticamente o Produto Interno Bruto da China e dos Estados Unidos, combinados.

Com a maior diversidade biológica do mundo, e organizações que clamam por políticas de conservação, o Brasil poderia ser referência nessa empreitada. Todas as nações precisam compreender que proteger a biodiversidade é proteger as liberdades individuais e coletivas das pessoas, promovendo a geração de riquezas e a qualidade de vida para a população. Quanto maior a adesão dos governos na construção de políticas públicas que tenham a biodiversidade como peça importante, maiores as nossas chances de vitória.

* Malu Nunes é diretora executiva da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza.




Autor: EcoDebate
Fonte: EcoDebate
Sítio Online da Publicação: EcoDebate
Data: 29/06/2020
Publicação Original: https://www.ecodebate.com.br/2020/06/29/biodiversidade-a-peca-mais-importante-para-um-futuro-sustentavel-artigo-de-malu-nunes/

Cientistas encontram duas 'superterras' próximas ao sistema solar



Por causa da proximidade à estrela GJ 887, os planetas têm órbitas mais curtas do que a que Mercúrio faz ao redor do Sol — Foto: MARK GARLICK/PA WIRE


Dois planetas foram encontrados por uma equipe internacional de cientistas perto da zona habitável de uma estrela que fica próxima ao Sistema Solar.


E existe a possibilidade de que haja ainda um terceiro planeta.


Ambos os planetas orbitam muito perto da zona habitável de GJ 887 (também conhecida como Gliese 887), uma estrela anã vermelha com cerca de metade da massa do Sol e localizada a 11 anos-luz.


A proximidade entre esses planetas e sua estrela - maior que a proximidade entre Mercúrio e o Sol - transforma o grupo de GJ 887 em um conjunto "compacto" e é o sistema desse tipo mais próximo do Sistema Solar descoberto até agora.


Os dois planetas cuja existência foi confirmada foram classificados como "superterras" porque possuem entre quatro e sete vezes mais massa que o nosso planeta, mas são menores que Urano e Netuno.


"Eles também devem ter um núcleo sólido, como o da Terra", disse à BBC News Sandra Jeffers, da Universidade de Göttingen (Alemanha) e principal autora da pesquisa.


Acredita-se que tenha uma atmosfera mais espessa que a nossa.


A pesquisa foi realizada pelo projeto Red Dots, formado por várias universidades ao redor do mundo e que busca exoplanetas semelhantes à Terra e próximos ao Sistema Solar. Os resultados foram publicados nesta quinta-feira na revista Science.


O que se sabe sobre esses dois planetas recém-descobertos?



A Proxima Centauri é outra estrela anã vermelha que tem um exoplaneta rochoso em sua órbita, mas suas explosões solares tornam improvável que possa haver vida nos planetas ao seu redor — Foto: ESO/M. KORNMESSER


"Sistema compacto"


Ambos os planetas, chamados GJ 887b e GJ 887c, foram detectados usando o Buscador de Planetas em Velocidade Radial de Alta Precisão (Harpa, na sigla em inglês), um instrumento do Observatório Europeu do Sul (ESO) em La Silla, no Chile.


Com base no que foi observado, foi possível dizer que os dois planetas ficam relativamente "próximos" de sua estrela. O mais "remoto" da estrela, GJ 887c, leva apenas 21,8 dias terrestres para completar uma volta; e o GJ 887b leva apenas 9,3 dias terrestres.


Essas órbitas são muito mais rápidas e mais curtas que a que o planeta Mercúrio faz em torno do Sol, que leva 88 dias terrestres.


Os astrônomos já descobriram outros sistemas planetários mais próximos do Sistema Solar, como Proxima Centauri e Wolf359, localizados a 4,2 e 7,9 anos-luz de distância, respectivamente. Mas eles não são tão "compactos" quanto o GJ887.


"Esse tipo de sistema planetário é bastante comum em outras estrelas - entre 15 e 30% das estrelas do tipo solar - mas não havíamos encontrado nenhum muito próxima do Sol", disse Guillem Anglada-Escudé, do Instituto de Ciências do Espaço (ICE-CSIC) da Universidade Autônoma de Barcelona e um dos autores da pesquisa, para a agência EFE.



Mercúrio (o pontinho nessa imagem) leva 88 dias terrestres para dar a volta em torno do Sol — Foto: GETTY IMAGES/BBC

A "melhor estrela"


Os dois planetas ficam perto do limite da chamada "zona habitável" de sua estrela, ou seja, da região em que os planetas de um sistema podem apresentar condições que permitem a existência de vida.


Mas estando fora desta zona, os cientistas acreditam que o GJ 887b e o GJ 887c podem ser muito quentes. Tanto é assim que a água não pode nem ser mantida em estado líquido.


A temperatura de ambos é estimada entre 70º e 200ºC, segundo o Instituto de Estudos Espaciais da Catalunha (IEEC).


No entanto, os pesquisadores do projeto apontam que a estrela GJ 887 é bastante "inativa", o que é favorável para as atmosferas dos planetas próximos.


"A Gliese 887 é a melhor estrela que está próxima do Sol porque é geralmente uma estrela calma. Não passa pelas explosões energéticas (por exemplo, flashes) que vemos no Sol", diz Jeffers, da Universidade de Göttingen, à BBC Mundo, serviço da BBC em espanhol.


Se a GJ 887 "fosse tão ativo quanto o nosso Sol, é provável que o forte vento estelar [que produziria] simplesmente varresse a atmosfera dos planetas", explica a Universidade de Göttingen em comunicado divulgado na última quinta-feira.


Mas a ausência desse vento significa que "os planetas recém-descobertos podem reter suas atmosferas ou ter atmosferas mais espessas que a Terra e potencialmente abrigar vida, mesmo que recebam mais luz que a Terra", acrescenta ele.


"Os planetas recém-detectados são as melhores possibilidades (de todos os planetas conhecidos próximos ao Sol) para ver se eles têm atmosferas e estudá-los em detalhes. Ao estudá-los, os cientistas serão capazes de entender se as condições são adequadas para a vida", disse Jeffers à BBC Mundo.



Ambos planetas foram encontrados por um instrumento do Observatório Europeu do Sul (ESO) em La Silla, no Chile — Foto: AFP/GETTY IMAGES/BBC


Um terceiro planeta?


Os cientistas também detectaram sinais do que poderia ser um terceiro planeta, ainda maior que os dois anteriores, no sistema GJ 887.


Este terceiro planeta estaria dentro da zona habitável.


O Dr. John Barnes, astrofísico da Universidade Aberta, no Reino Unido, e outro dos autores do estudo, disse à Press Association (PA) que "se o sinal veio de um planeta, esse planeta teria uma órbita de 51 dias".


"No entanto, também vemos sinais semelhantes que sabemos que devem vir da estrela. É por isso que atualmente não podemos dizer com certeza que o terceiro sinal vem realmente de um planeta. Se observações subsequentes o confirmarem como um planeta, ele estaria localizado bem dentro da zona habitável", acrescentou Barnes.


Melvyn Davies, professor de astronomia da Universidade Lund, na Suécia, que não participou da pesquisa, escreveu na revista Science na sexta-feira que "se outras observações confirmarem a presença do terceiro planeta na zona habitável, então o GJ 887 poderá se tornar um dos sistemas planetários mais estudados".




Autor: BBC news Brasil
Fonte: BBC news Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC news Brasil
Data: 28/06/2020
Publicação Original: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2020/06/28/cientistas-encontram-duas-superterras-proximas-ao-sistema-solar.ghtml

Florestas 'artificiais' podem causar mais danos que benefícios, dizem estudos




O esquema de subsídios do Chile falhou em aumentar estoques de carbono e conter a perda de biodiversidade, diz estudo — Foto: Robert Heilmayr/BBC


Em vez de beneficiar o meio ambiente, o plantio em larga escala de árvores pode fazer justamente o contrário, segundo dois novos estudos publicados recentemente.


Uma das pesquisas apontou que os incentivos financeiros para plantar árvores podem ter efeitos negativos ao reduzir a biodiversidade e geram pouco impacto nas emissões de carbono.


Um outro estudo descobriu que a quantidade de carbono que as novas florestas podem absorver pode ser superestimada.


A mensagem principal de ambos os trabalhos é de que plantar árvores não é uma solução simples para as mudanças climáticas.



Solução de baixo custo e alto impacto?



Nos últimos anos, a ideia de plantar árvores como uma solução de baixo custo e alto impacto para combater as mudanças climáticas realmente ganhou força.


Estudos anteriores indicavam que as árvores têm um enorme potencial para absorver e armazenar carbono, e muitos países estabeleceram campanhas de plantio como um elemento-chave de seus planos.


No Reino Unido, por exemplo, as promessas dos partidos políticos de plantar um número cada vez maior de árvores foram parte da campanha para as eleições gerais do ano passado.


Nos Estados Unidos, até o presidente Donald Trump participou da campanha Trillion Trees — projeto que pretende plantar 1 trilhão de árvores.


Outra grande iniciativa de plantio de árvores é chamada de Desafio de Bonn.


Nele, os países estão sendo instados a restaurar 350 milhões de hectares de terras degradadas e desmatadas até 2030. Até o momento, cerca de 40 nações aderiram à ideia.


Mas os cientistas pedem cautela na corrida para plantar novas florestas.


Eles apontam para o fato de que, no Desafio de Bonn, quase 80% dos compromissos assumidos até o momento envolvem o plantio de monoculturas ou uma mistura limitada de árvores que produzem produtos específicos, como frutas ou borracha.



Incentivos financeiros



Um estudo analisou os incentivos financeiros dados aos proprietários privados para plantar árvores. Esses pagamentos são vistos como um elemento-chave para aumentar significativamente o número de árvores.


A pesquisa analisou o exemplo do Chile, onde um decreto subsidiando o plantio de árvores ficou em vigor de 1974 a 2012, e foi amplamente visto como uma política de reflorestamento de influência global.


A lei subsidiou 75% dos custos do plantio de novas florestas.


Embora a legislação não se referisse às florestas existentes, a aplicação negligente e as limitações orçamentárias fizeram com que alguns proprietários de terras simplesmente substituíssem as florestas nativas por novas plantações de árvores mais lucrativas.


O estudo constatou que o esquema de subsídios expandiu a área coberta por árvores, mas diminuiu a área de floresta nativa.


Os autores apontam que, como as florestas nativas do Chile são ricas em biodiversidade e armazenam grandes quantidades de carbono, o esquema de subsídios fracassou em aumentar os estoques de carbono e conter a perda de biodiversidade.


"Se as políticas para incentivar as plantações de árvores são mal projetadas ou mal aplicadas, há um alto risco de não apenas desperdiçar dinheiro público, mas também liberar mais carbono e perder a biodiversidade", disse o coautor da pesquisa Eric Lambin, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.


"Esse é exatamente o oposto do objetivo dessas políticas."



Absorção de carbono



Um segundo estudo se propôs a examinar quanto carbono uma floresta recém-plantada seria capaz de absorver da atmosfera.


Até agora, muitos cientistas calcularam a quantidade de carbono que as árvores podem retirar do ar usando uma proporção fixa.


Suspeitando que essa proporção depende das condições locais, os pesquisadores analisaram o norte da China, onde houve um plantio intensivo de árvores pelo governo por causa das mudanças climáticas, mas também em um esforço para reduzir a poeira do deserto de Gobi.


Os cientistas analisaram 11 mil amostras de solo retiradas de áreas florestadas, e descobriram que, em solos pobres em carbono, a adição de novas árvores aumentou a densidade do carbono orgânico.


Mas, onde os solos já eram ricos em carbono, a adição de novas árvores diminuiu essa densidade.


Os autores afirmam que suposições anteriores sobre quanto carbono pode ser absorvido com o plantio de novas árvores provavelmente são superestimadas.


"Esperamos que as pessoas entendam que o reflorestamento envolve muitos detalhes técnicos e equilíbrios de diferentes partes, e não vai resolver todos os nossos problemas climáticos", disse Anping Chen, da Universidade Estadual do Colorado, nos Estados Unidos, e principal autor do estudo.






Autor: BBC news Brasil
Fonte: BBC news Brasil
Sítio Online da Publicação: BBC news Brasil
Data: 27/06/2020
Publicação Original: https://g1.globo.com/natureza/noticia/2020/06/27/florestas-artificiais-podem-causar-mais-danos-que-beneficios-dizem-estudos.ghtml

sexta-feira, 26 de junho de 2020

Gestores de órgãos de fomento à ciência discutem tratamento para coronavírus

O presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, participou nesta quarta-feira, dia 17 de junho, da mesa-redonda virtual “Vacinas e medicamentos em desenvolvimento para a Covid-19”, ao lado de gestores de outros órgãos de fomento à Ciência e Tecnologia no País. O objetivo do encontro foi traçar um panorama das iniciativas em andamento de combate à pandemia e as possibilidades de acesso às soluções produzidas tanto nas diferentes instituições de pesquisa sediadas em território nacional como no exterior.

O encontro foi organizado pela Rede de Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro (RedeTec) e pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas (Ipea) e contou com a presença do o secretário de Políticas Públicas para Formação e Ações Estratégicas do Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação (MCTI), Marcelo Morales; o presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), Waldemar Barroso Magno Neto; o presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), Carlos Américo Pacheco, e o presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Evaldo Ferreira Vilela.

A pesquisadora Fernanda de Negri, do Centro de Pesquisa em Ciência e Tecnologia e Sociedade do Ipea, abriu a reunião destacando algumas das estratégias de profilaxia adotadas pelo mundo, número de pesquisas clínicas e testes realizados por países e a situação pouco favorável do Brasil nesse quadro. Também colocou como desafio a divulgação de informações atualizadas e confiáveis em relação aos testes e profilaxia, e os próximos passos a serem adotados pelo Brasil. Jorge Ávila, presidente da RedeTec e Pró-Reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UniRio), colocou preocupações semelhantes às da pesquisadora do Ipea e questionou os participantes sobre a complexidade dos medicamentos e vacinas que estão sendo desenvolvidos e a dificuldade de obter insumos para a produção interna. Ávila pontuou a questão tanto em relação ao financiamento de projetos para pesquisa e produção quanto ao da capacitação técnica em recursos humanos.

O presidente da FAPERJ iniciou a rodada de exposições explicando que a tecnologia para desenvolvimento das vacinas utilizadas pelos projetos mais avançados, seja da Universidade de Oxford ou da empresa chinesa Sinovac, não são complexas e que o País tem conhecimento para desenvolvê-las. “Temos duas grandes instituições com tradição na produção de vacinas no Brasil, o Instituto Butantan e BioManguinhos, e acredito que temos condições de desenvolver os passos iniciais para produzi-las. A tecnologia do Sinovac é muito simples, já utilizada na vacina contra a raiva”. E completou: “Com a anuência do Conselho Superior da FAPERJ, decidimos lançar um conjunto de ações de combate à Covid-19, espelhada na atuação e na estratégia adotada com grande sucesso no combate ao vírus da Zika”. Entre as principais necessidades de resposta à pandemia, Jerson Lima destacou o entendimento sobre qual seria a imunidade necessária para declarar que o paciente não será reinfectado.

Professor titular do Instituto de Bioquímica Médica, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde coordena grupo de pesquisa envolvido em estudos relacionados ao combate da pandemia, Lima falou também sobre o esforço de pesquisadores em encontrar respostas para alguns dos principais desafios que se colocam no momento com a disseminação do novo coronavírus e a capacidade de produzir mais testes. “No Brasil todo, e no Rio também, não temos grandes estruturas para testes clínicos e um grupo grande de pesquisadores saíram das suas linhas de pesquisa para trabalhar em estudos que visam o entendimento da propagação da vírus e fazer mais testes”, disse. O maior desafio, de acordo com Lima, é construir estruturas para a produção, que necessitam estar no grau mais elevado de biossegurança (NB3). O presidente da FAPERJ enfatizou ainda a importância da pesquisa em rede, que embora esteja sendo adotada por padrão nessa pandemia, em sua visão, poderia ser mais estreita. Ele destacou que alguns dias depois que a OMS decretou o estado de pandemia, em março, a FAPERJ lançou chamadas para formação de redes de pesquisa e para apoio a projetos em regime de “fasttrack” (julgamento rápido) para o enfrentamento da COVID-19, que receberam , no total, uma dotação inicial de R$ 30 milhões.

O presidente da Fapesp, Carlos Américo Pacheco, dividiu as mesmas preocupações de Lima em relação ao escalonamento da produção e a construção de laboratórios seguros para a produção de vacinas. O economista lembrou a longa tradição de investimento da instituição nos grupos que têm destaque nas pesquisas de vacinas, mas direcionou sua exposição para os dilemas da produção da vacina. “A imunidade de rebanho só vai ser alcançada com a vacina, assim como a plena retomada, porque as pessoas têm medo. Os países ricos vão utilizar a estratégia de imunizar primeiro os seus nacionais e, depois, os outros. E as ações de filantropia serão voltadas, principalmente, para países africanos. Assim, precisamos ter produção própria”, enfatizou. Pacheco considerou positivo o fato de as vacinas mais promissoras – da Universidade de Oxford e da Sinovac – estarem em testes clínicos no Brasil, o que possibilita que o conhecimento de como produzi-la também poderá ficar no País.

Já o secretário de Políticas Públicas para Formação e Ações Estratégicas do MCTI, Marcelo Morales, destacou o financiamento de R$ 50 milhões para a chamada conjunta de projetos reunindo o Ministério da Saúde e CNPq, que terá liberação de recursos nas próximas semanas, ao mesmo tempo que foram realizadas contratações diretas de pesquisas dentro da Rede Vírus. De acordo com Morales, as estratégias de enfrentamento ao novo coronavírus começaram a ser desenhadas pelo ministério em fevereiro, e atualmente existem 16 iniciativas para produção de vacinas no Brasil e quatro linhas estratégicas para profilaxia: uso da heparina como anticoagulante, vacina BCG para imunidade, plasma convalescente e reposicionamento de fármacos, incluindo a hidroxicloroquina como tratamento preventivo. “Estamos investimento em infraestrutura NB3 e em breve uma chamada será lançada por meio da Finep”, declarou.


Em sua apresentação, o presidente da FAPERJ, Jerson Lima Silva, apresentou lista de projetos relacionados ao combate da pandemia que receberam recursos da Fundação.


Morales participou da mesa-redonda ao lado de Waldemar Barroso Neto. O presidente da Finep destacou o trabalho em conjunto e a atuação, em cadeia, de financiamento para pesquisa básica, aplicada, startups e empréstimos para empresas que precisam de capital. “Em abril, criamos um grupo de crise para pensar estratégias de combate à Covid, composto por todas as áreas da agência, para que nós possamos ter uma visão uniforme de todas as ações em andamento, não haja contraposição de processos e una esforços”, explicou. Barroso ressaltou que mantém uma comunicação regular com os pesquisadores financiados, citando o diretor do Laboratório de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), Jorge Kalil, e a pesquisadora Patrícia Rocco, chefe do Laboratório de Investigação Pulmonar, vinculado ao Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho (IBCCF), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Por último, lembrou que a Finep conta com recursos da ordem de R$ 150 milhões para empresas que queiram realizar reconversão industrial e atender às demandas da Covid-19.

Por último, o presidente do CNPq, Evaldo Vilela, destacou o alto nível da ciência brasileira e a rara oportunidade de mostrar à sociedade que a capacidade de fornecer boas respostas não se restringe unicamente à vacina. “Temos que aproveitar esse momento que a sociedade percebe o valor da ciência para convencer os gestores a fazer aportes à altura da nossa excelência em pesquisa”, disse. O ex-reitor da Faculdade Federal de Viçosa revelou que o CNPq está elaborando um planejamento de atuação que não está focado em grandes áreas, mas em temas voltados para uma atuação de caráter interdisciplinar. Vilela disse concordar com a necessidade do aumento dos recursos para a pesquisa, mas lembrou que o País vive um momento de grande dificuldade fiscal para os Estados e que não será possível contar apenas com recursos públicos para fomentar as pesquisas.




Autor: Ascom Faperj
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 18/06/2020
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4002.2.3

Startup carioca desenvolve game premiado em concurso da ONU

Um game de cartas e estratégias em que os jogadores devem assumir o papel de personagens, que apenas ganham pontos quando tomam decisões éticas, voltadas ao desenvolvimento sustentável da cidade e à participação social. Esse é o objetivo do jogo virtual Cidade do Amanhã, desenvolvido pela Delta Arcade, startup – palavra usada para designar as empresas nascentes de base tecnológica – carioca contemplada na quarta edição do programa Startup Rio, parceria entre a FAPERJ e a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Inovação do Rio de Janeiro (Secti). O projeto para a idealização do game foi o grande vencedor do 1° Concurso de Jogos Digitais do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), em novembro de 2019, entre 14 projetos inscritos em todo o Brasil. Com a vitória no concurso, a Startup recebeu apoio financeiro para o seu desenvolvimento, concluído recentemente, em maio.

O concurso da Pnud Brasil premiou o melhor projeto de game que apresentasse, como tema central, narrativas alinhadas ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) 16, que tem como foco “promover sociedades pacíficas e inclusivas, proporcionar o acesso à justiça e construir instituições eficazes”. Vale lembrar que, como parte da Agenda 2030 de desafios para a construção de um mundo sustentável e mais justo, a ONU estabeleceu 17 ODS, em declaração assinada em setembro de 2015 por chefes de Estado e de Governo na sede das Nações Unidas, em Nova York, no momento em que a organização comemorou seu septuagésimo aniversário (https://nacoesunidas.org/pos2015/agenda2030/).

O jogo é livre para todas as idades, sendo mais indicado para alunos do final do Fundamental II e Ensino Médio, na faixa etária de 11 a 15 anos. “O Cidade do Amanhã é um game que atende ao objetivo de motivar o jogador ao cumprimento do ODS 16 da ONU, mas sem ter a cara de um jogo educativo tradicional. Normalmente os jovens não gostam muito de games educativos porque costuma ter muitos textos, ser maçantes, pouco divertidos. Conseguimos criar uma experiência leve e lúdica de jogo”, contou um dos cinco sócios fundadores da Delta Arcade, Paulo Eduardo Aragon, de 27 anos. A premiação foi realizada em dezembro de 2019 em Brasília, em uma parceria do Pnud Brasil com o Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) e o programa Nordic Dialogues.

Para brincar, o jogador deve se posicionar como um dos seguintes avatares: prefeito, juiz, vereador, empresário ou cidadão comum. Cada um tem uma habilidade que pode ser usada ao longo do jogo. “No mapa da cidade, aparecem eventos que remetem à tomada de uma decisão social. Por exemplo, surge o evento ‘Empresários estão querendo acabar com o Procon’, ou ‘O prefeito quer dificultar a realização de uma manifestação pacífica’. O jogador tem que decidir se concorda ou discorda com esse evento e jogar cartas para continuar a partida. Mas ele só ganha pontos se tomar a decisão de acordo com os princípios éticos promovidos pelo ODS 16. Se ele discordar, perde pontos. No final, há um ranking e uma série de troféus tornam a dinâmica interessante”, explicou Aragon, em poucas palavras.

A história da Delta Arcade é a de cinco jovens que se uniram em torno de um ideal comum. “A ideia da criação da startup ocorreu em 2018 e se concretizou em 2019, quando fomos selecionados para integrar o programa Startup Rio. Nos unimos porque acreditamos que os jogos são ferramentas que vão além do entretenimento, capazes de gerar transformações no mundo, e que são inigualáveis para contar histórias poderosas”, afirmou Aragon, que trabalha ao lado do irmão, Luiz Victor Aragon, 22 anos, formado em Processos Gerenciais (Empreendedorismo) e responsável pelo desenvolvimento dos projetos; de Caio Portugal (game designer, 31 anos); Camila Schmitz (designer, 29 anos); e João Victor Bitencourt (gestor de Comunicação e Marketing, 22 anos). “Todos nós temos formações na área de games. O Caio e o Luiz são formados pelo Senac em Game Design. No Rio, não existe uma graduação acadêmica na área ainda. Em São Paulo, existem poucos cursos. O Brasil ainda está engatinhando, apesar de ter um imenso potencial nesse mercado”, contextualizou.

Desde 2007, a indústria de jogos eletrônicos retém o maior faturamento no ramo de entretenimento, ultrapassando a forte indústria do cinema e da música. Segundo dados da SuperData, empresa que realiza pesquisas sobre a indústria de games, a indústria mundial de jogos faturou em torno de 120 bilhões de dólares em 2019, e a expectativa é de movimentar cerca de 235 bilhões de dólares em 2022, segundo levantamento feito pelo banco de investimentos de produtos digitais Digi-Capital. “No Rio, temos um grande potencial. A cidade tem um dos maiores coletivos de empresas desenvolvedoras de games do Brasil, o Ring, que reúne muitos estúdios independentes. O Brasil está na 13ª posição entre os mercados consumidores de games no mundo. A vantagem é que os clientes desse mercado podem ser prospectados em vários países, pois os jogos têm uma linguagem universal, o que abre um mundo de possibilidades para nós”, ponderou Aragon.


A equipe da Delta Arcade: a partir da esquerda, em primeiro plano, Caio Portugal e Paulo Eduardo Aragon; atrás, Luiz Victor Aragon, Camila Schmitz e João Vitor Bitencourt (Foto: Divulgação)

Ele destacou a importância da participação da Delta Arcade no programa Startup Rio, um dos raros, senão o único, programa de fomento ao empreendedorismo custeado por governos estaduais do País. Atualmente, mais de 40 startups são aceleradas pelo programa e funcionam gratuitamente no espaço de co-working próprio, com mais de 1.000 m², na Zona Sul do Rio. No total, mais de cem startups já receberam o fomento do Governo do Estado do Rio, em seis anos. “Utilizamos a estrutura oferecida na sede do programa, no prédio situado no bairro do Catete, um ambiente de muita imersão, mentoria e parceria com as outras startups contempladas pelo programa. Foi uma oportunidade que tivemos de transformar algo que era apenas um sonho num modelo de negócios. Com a mentoria que tivemos, a equipe está mais madura, com visão de mercado. E a experiência adquirida ao atender as Nações Unidas como um de nossos clientes foi importante, permitindo, ainda, colocar em nosso portfólio um produto desenvolvido para a ONU”, concluiu.

O jogo Cidade do Amanhã será disponibilizado em breve no próprio site da ONU. Interessados em adquirir informações sobre o jogo, podem entrar em contato com a empresa: pelo email deltaarcade.devs@gmail.com ou pelos sites https://www.linkedin.com/company/42442618 e https://www.instagram.com/delta_arcade/?hl=pt-br




Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 25/06/2020
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4000.2.2

Acesso à saúde e mortes violentas reacendem debate sobre racismo

Dados do último relatório epidemiológico divulgado pela Secretaria de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde, divulgado em 14 de junho, informam que o número de pessoas brancas hospitalizadas por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) foi de 84.122, 77.476 pardas e 12.345 pretas. Ao compararmos esses números com a porcentagem de mortos, temos uma porcentagem de letalidade em 21% na população branca, 27% na parda e 25% na preta. Os números da maior pandemia dos últimos 100 anos também servem para colocar em evidência a persistente desigualdade racial que atravessa a formação da sociedade brasileira ao longo dos séculos.

Ao refletir sobre a questão racial por meio de dados e observações, o geógrafo Renato Emerson dos Santos, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Ippur/UFRJ), faz referência a uma fala do filósofo camaronês Achille Mbembe de que vivemos uma distribuição desigual dos riscos. No que toca o Brasil, Santos afirma que os riscos são desigualados de acordo com a raça, vulnerabilizando ainda mais a população negra, a partir de quatro campos principais: a infraestrutura, em que estão incluídos o acesso à saúde e à habitação; a inserção profissional, em que a precarização do trabalho incide proporcionalmente mais sobre a população negra, sobrerrepresentada nas atividades de manutenção dos serviços essenciais – mercados, transporte, saúde, segurança –, a seletividade do atendimento; e a prevalência de comorbidades prévias que agravam o risco da doença, como diabetes e cardiopatia.

Em paralelo ao problema do atendimento à população negra e parda nos serviços públicos de saúde, duas mortes recentes, de uma criança e um jovem, ambos negros chocaram o País. João Pedro Mattos brincava em casa, quando foi alvejado por um tiro durante operação policial no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo. Já Miguel Otávio caiu do nono andar de um prédio em Recife, quando estava sob os cuidados da empregadora de sua mãe Mirtes Renata, empregada doméstica na casa. As mortes contribuíram para reacender a discussão racial no País, influenciada ainda pelos protestos nos Estados Unidos, após o assassinato de George Floyd por um policial por asfixia.

Para o pesquisador, que coordena o Núcleo de Estudos e Pesquisas em Geografia, Relações Raciais e Movimentos Sociais (Negram), o cenário de desigualdades já existentes, combinada com a chegada da pandemia torna ainda mais evidente o que diversos estudos tem entendido como "o mito da democracia racial". “O mito da democracia racial funciona como uma blindagem cognitiva. Aqui observamos a desigualdade à nossa frente, mas não se entende isso como algo relevante. A negação do racismo faz com que aprendamos a conviver com o racismo, como, por exemplo, a aceitar trajetórias profissionais totalmente brancas. Um professor universitário pode passar sua carreira de 30 anos sem ter um colega negro e considerar isso natural. Podemos passar a vida inteira sem ter uma consulta com um médico negro, ver um juiz negro, e considerar isso normal em um país de maioria negra”, explica o pesquisador, que recebe apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas por meio do programa Jovem Cientista do Nosso Estado, e também do programa ProCiência, parceria entre a FAPERJ e Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), instituição a qual esteve vinculado de 2000 a 2018.

Coordenador de pré-vestibular popular da Rocinha por seis anos e professor por 18 na Faculdade de Formação de Professores da Uerj (FFP/Uerj), o geógrafo pesquisa o reforço e o combate ao racismo na dinâmica escolar do ensino público. “Nas turmas das séries iniciais nas escolas públicas, identificamos uma mistura de cores que vai desaparecendo ao longo dos anos e que fica bastante perceptível nas séries finais, quando os colégios costumam dividir os estudantes por questionáveis critérios de desempenho”, relata Santos. “As turmas mais promissoras são mais claras e aquelas que reúnem o maior número de alunos repetentes ou com descompasso entre idade e série, concentram maior proporção de estudantes negros, principalmente meninos. Os negros também são maioria nas turmas de Educação de Jovens e Adultos, evidenciando que, dentro das próprias escolas públicas, temos composições raciais diferentes nas turmas em séries iniciais e finais. O racismo interfere nas trajetórias escolares, independente da condição socioeconômica”.

Ao comentar trabalhos que identificaram diferenças de tratamento desde as séries iniciais entre estudantes brancos e negros, realizados pela professora da Universidade de São Paulo (USP) Marília Carvalho e por Eliane Cavalleiro, conferencista na Universidade de Stanford e doutora em Educação pela USP, o pesquisador defende a necessidade de reformulação dos currículos escolares, não só no conteúdo, mas também na adoção de práticas igualitárias. “Em um quadro de igualdade, ainda que sejam todos pobres, há uma diferença de desempenho por raça. E essa barreira não pode ser outra que não o racismo. O Brasil cresceu muito economicamente em anos anteriores, mas a desigualdade racial permanece. Não é possível dizer que a questão seja social e não racial”, avalia.

Estudioso da Lei 10.639/2003, que determinou a obrigatoriedade do ensino sobre história e cultura afro-brasileira, ele pôde perceber que não é uma tarefa fácil para os docentes falar sobre o continente africano fugindo de um roteiro que, invariavelmente, passa pela civilização egípcia, tráfico negreiro, partilha do continente pela Europa e tragédias humanitárias. “Essa maneira de ver o mundo, que associa os negros à África e a apresenta como um continente caracterizado apenas por tragédias, ocultando suas contribuições para a humanidade, faz parecer que esse grupo ‘nunca construiu nada’, o que é uma mentira, e autoriza sua subalternização”.

O geógrafo diz que essas reflexões são propostas em aulas e oficinas, mas não sem reações sobre a inexistência do racismo no Brasil. “O mito da democracia racial leva a reações fortes de negação. Quando fazíamos as oficinas nas escolas, sabíamos que esse era um problema que nós iríamos encontrar e eles se repetiam. Muitas pessoas não querem se se sentir responsabilizadas por isso e reconhecer o papel de transformação que têm”, comenta.

Muitas vezes se atribui ao clássico de Gilberto Freyre, Casa Grande Senzala, como a obra responsável pela criação de um imaginário do povo brasileiro como cordial e plural, esquecendo os conflitos existentes. Santos explica que a obra deve ser entendida dentro do contexto da época em que foi lançada, quando se discutia abertamente nas instituições do Estado brasileiro o branqueamento da população. “Atas de Congressos e de discussões parlamentares nos mostram que não havia discussão sobre a necessidade ou não de branqueamento, mas de qual imigrante europeu ou oriental seria mais adequado para o cumprimento da meta. Em 1911, houve um congresso em Londres e João Batista de Lacerda, diretor do Museu Nacional, disse que em um período de 100 anos o Brasil não teria mais problemas de racismo, pois o País estava trazendo imigrantes e em três gerações estaríamos puros”, exemplifica.


Renato Emerson dos Santos: para o geógrafo, a persistência da desigualdade social mesmo após o crescimento econômico por que passou o País em anos recentes confirma que a questão é racial (Foto: Arquivo pessoal)

O pesquisador entende que é preciso manter a memória viva sobre o racismo ao longo dos séculos e, por isso, avalia como polêmica a ideia de destruir estátuas de escravocratas, como tem sido feito nos Estados Unidos. “Essa discussão sobre as estátuas se insere nessa perspectiva sobre a formação humana, e vem se fortalecendo a ideia do território como ferramenta educativa – forte, por exemplo, na Alemanha por conta do nazismo. A questão é como construir uma memória que forme uma consciência crítica, a partir de patrimônios materiais e simbólicos com os quais as pessoas interagem na cidade. Um exemplo é o teleférico construído em La Paz, em que as estações foram nomeadas em espanhol, quéchua e aymara, três idiomas predominantes no país, valorizando as representações e identidades dos povos que compõem a nação – no caso boliviano, o Estado se reconhece como plurinacional. Esse é um esforço de uma construção de uma cidade anti-racista”, explica. Nessa mesma linha está a discussão sobre as nomenclaturas da região do Cais do Valongo, no centro do Rio, que passou a ser chamada de Porto Maravilha após as reformas para a Copa do Mundo, mas está em disputa para ser nomeada como Pequena África, e até as estações do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT) vem tendo sua nomeação disputada para valorizar as memórias negras da região.

Para finalizar, Santos faz a ressalva de que não é possível comparar os movimentos negros no Brasil e nos Estados Unidos, por se tratarem de sociedades bastante diferentes, ainda que haja influência mútua. Se o Brasil é influenciado pelas mobilizações atuais, o coordenador do Negram diz que o movimento pelos direitos civis dos EUA das décadas de 1960 e 1970 também sofreu influência da Frente Negra Brasileira, que se oficializou como partido, mas foi fechada em 1937, com o Estado Novo (1937-1945), de Getúlio Vargas. A Frente Negra lutava por direitos civis, como a educação e o combate à discriminação. “É preciso valorizar e difundir essa rica memória histórica das experiências de lutas dos negros no Brasil, em vez de fazer comparações”, conclui.




Autor: Juliana Passos
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 26/06/2020
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4006.2.5

Protagonista no enfrentamento da Covid-19 no Rio, epidemiologista concilia ciência e música

Ainda jovem, ele aprendeu violão clássico, admirava Bach e Villa-Lobos e queria ser maestro, escolha que não agradou seu pai. Roberto Medronho acabou se formando em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E tornou-se compositor popular. Ajudou a fundar o Bloco Simpatia É Quase Amor, Bloco do Barbas e Minerva Assanhada, tendo composto vários sambas campeões desses e de outros blocos da zona sul do Rio de Janeiro. Doutor em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e um dos expoentes da epidemiologia no Brasil, Medronho pauta sua vida pela ciência e cultura. Está à frente de diversas iniciativas de enfrentamento da Covid-19 na UFRJ e em comissões municipais e estaduais.

Há mais de 40 anos na UFRJ, foi diretor da Faculdade de Medicina até o início deste ano e atualmente dirige a Divisão de Pesquisa do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF). Além disso, coordena o Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da COVID-19, instituído em fevereiro pela Reitoria da universidade, na cidade do Rio de Janeiro. O médico ainda integra a Comissão Ciência RJ no Combate à COVID-19 (ComCiênciaRJCOVID) – uma iniciativa da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação em parceria com a FAPERJ.

“Em 43 anos de UFRJ, eu nunca havia vivenciado uma experiência como esta, focada na cultura da cooperação”, afirma Medronho, ressaltando os esforços conjuntos e a interação de pesquisadores no enfrentamento da pandemia, não apenas no País, mas em todo o mundo. Membro da Rede de Pesquisa em Zika, Chikungunya e Dengue, apoiada pela FAPERJ, Medronho vai coordenar, a partir de agora, a Rede 5, criada por meio da Chamada C da Ação Emergencial Projetos para Combater os Efeitos da Covid-19 – Parceria Faperj/SES – 2020, que foi lançada no final de março pela FAPERJ, cujo resultado foi anunciado recentemente. Intitulada Epidemiologia da infecção do SARS-CoV-2 no Estado do Rio de Janeiro, a rede agrega quatro propostas que se dedicam ao estudo da epidemiologia do vírus por meio da utilização de plataforma de informações georreferenciadas, aplicação de modelagem e algoritmos matemáticos, estudo de determinantes socioeconômicos, demográficos, sanitários e ambientais, além de transformação digital e inteligência artificial.

A proposta 1 da Rede 5, encaminhada pelo próprio Medronho em nome de uma equipe de cerca de 60 pesquisadores, propõe a criação da Rede Temática de Combate aos Efeitos da Covid-19 no Centro de Excelência em Transformação Digital e Inteligência Artificial do Estado do Rio de Janeiro (Hub.Rio). O Centro de Excelência em Transformação Digital e Inteligência Artificial do Estado do Rio de Janeiro (Hub.Rio), instalado no Parque Tecnológico da UFRJ, integra um ecossistema de inovação aberta a fim de dinamizar a evolução da transformação digital e o desenvolvimento da inteligência artificial. O objetivo do Hub.Rio é integrar as comunidades científica e empresarial, fortalecendo ações para o desenvolvimento científico, tecnológico e social dos municípios. A iniciativa da UFRJ em parceria com o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), conta com a colaboração de diversas instituições de ensino e pesquisa na busca de soluções tecnológicas baseadas em inteligência artificial para enfrentar desafios em diversas áreas, como saúde.




Pesquisadores da UFRJ buscam novos testes e tratamentos desenvolvem equipamentos, como respiradores, máscaras de proteção e oxímetro (Fotos: Artur Moês e Divulgação/UFRJ)

Também conduzido na UFRJ, integra a Rede 5 o projeto Modelagem e aplicação de algoritmos utilizando Lógica Fuzzy para diagnóstico e tomada de decisões em Saúde Pública, Meio Ambiente e Economia, em apoio ao enfrentamento da epidemia de Covid-19 no Estado do Rio de Janeiro, coordenado pelo engenheiro e matemático Carlos Alberto Nunes Cosenza, professor emérito do Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe). Outro estudo complementar, encaminhado pelo pesquisador Antonio Carlos Monteiro Ponce de Leon, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), propõe o Desenvolvimento de Plataforma de Informações Georreferenciadas sobre as Relações Espaciais e Temporais sobre a Evolução da Covid-19, características da população e da rede de serviços de saúde no Estado do Rio de Janeiro. A quarta proposta integrante da Rede 5, apresentada pela doutora em Economia Cecilia Machado Berriel, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), apresentará Determinantes Socioeconômicos, Demográficos, Sanitários e Ambientais do Covid-19.

“Com a constituição da Rede 5, vamos reformatar os objetivos e alinhar as propostas dos quatro grupos, absolutamente interligados, que a compõem, para amalgamar as propostas”, explica Medronho. Segundo ele, o objetivo da formação de redes é a apresentação de novas ideias que, trabalhadas em cooperação, possam dar rápidas respostas ao enfrentamento da Covid-19. O pesquisador conta que a pandemia ajudou a colocar o Hub.Rio em evidência, devido às contribuições que o Centro poderia dar ao controle da doença. Ele está certo de que a iniciativa, que reuniu cerca de 60 pesquisadores de diversas instituições para utilizar a tecnologia no combate à Covid-19, renderá ganhos em escala. “Teremos uma produção consistente, robusta e cooperativa, como deve ser a ciência para o enfrentamento dessa doença, um dos mais graves problemas que a humanidade enfrentou nos últimos anos”, diz.

Para Medronho, a FAPERJ tem sido muito exitosa em abrir editais visando a criação de redes, como foi o caso do edital voltado para a criação de Redes de Pesquisa em Arboviroses, lançadas de forma pioneira e inovadora pela fundação no final de 2015. “Foi uma excelente novidade, que proporcionou experiências riquíssimas que rederam resultados concretos para o combate à Zika, dengue e chikungunya”, assegura Medronho. Em sua opinião, o fato de bilhões de pessoas terem passado ou ainda estarem passando pela experiência do confinamento vai mudar a forma como o mundo estava caminhando. E, neste caso, a ciência será fundamental para traçar as diretrizes não só para a prevenção, a identificação de uma vacina e de um tratamento eficaz, mas também para reformular as relações sociais, que precisarão ser reformatadas, para que no futuro a sociedade não enfrente uma situação tão grave como a atual. “As universidades e os institutos de pesquisa deverão estar muito atentos aos desafios decorrentes dessa pandemia”, avalia. Na opinião do médico, diante dos questionamentos quanto ao papel da ciência e aos os ataques às universidades, a comunidade científica agradece a existência de instituições como a FAPERJ, fomentando as pesquisas, induzindo a formação de redes, tentando dar soluções a partir da ciência para os graves problemas que a humanidade está enfrentando. “Se a FAPERJ sempre foi imprescindível, agora ela se torna essencial para que possamos dar respostas à sociedade na área da CT&I”, afirma Medronho.

Ao traçar um panorama destacando algumas das medidas de enfrentamento da pandemia pelos docentes, discentes e servidores da UFRJ, o professor lembra que, já em fevereiro, a reitoria criou um Grupo de Trabalho (GT) multidisciplinar para o enfrentamento da Covid-19, composto por 25 subcomissões. O objetivo inicial era elaborar recomendações para a comunidade, articular as estratégias de assistência à saúde por meio do complexo hospitalar da UFRJ e articular ações de pesquisa e a criação de um centro de testagem.

Segundo Medronho, pouco depois, diante do grande desafio apresentado pela doença, o GT se desdobrou em diversas outras ações, passando a se reunir diariamente, inclusive nos fins de semana. Ele conta que a primeira providência tomada pela UFRJ foi a criação de um site focado no coronavírus (www.cornavirus.ufrj.br), a fim de disseminar informações cientificamente relevantes, numa tentativa adicional de combater as fakenews. Paralelamente, foi elaborado um Plano de Contingência, para consolidar as medidas planejadas, instituídas e coordenadas durante a pandemia e no retorno das atividades após o período de isolamento, e também um Plano de Voluntariado composto por mais de 1.600 participantes, incluindo a sociedade civil, que alocou recursos que viabilizaram a reforma de vários setores do Hospital Universitário, entre outras. Medronho relata que desde o início diversos setores da universidade de uniram para produzir álcool em gel e as impressoras 3D de vários laboratórios começaram a ser utilizadas para produzir máscaras face shield. Ele destaca ainda o imprescindível apoio dos gestores municipais e estaduais, que incluíram pesquisadores da UFRJ nas comissões criadas para o enfrentamento da Covid-19, o que ajudou a reforçar a importância das decisões tomadas a partir das evidências científicas, mesmo diante de pressões contrárias, com as que defendiam o fim do isolamento social.



Medronho em dois momentos: na sessão solene da posse como diretor da Faculdade de Medicina da UFRJ e com o parceiro Noca da Portela, com quem já lançou um CD (Fotos: UFRJ e arquivo pessoal)

O epidemiologista explica que, para enfrentar as pressões psicológicas da quarentena, a UFRJ criou um grupo de apoio psicossocial, que inicialmente atendeu profissionais de saúde e hoje já apoia estudantes com problemas de depressão e ansiedade. Alunos da Faculdade de Medicina também têm se dedicado ao acolhimento de familiares dos mais de 600 pacientes atendidos no Hospital Universitário, visando minimizar o impacto da proibição das visitas em respeito ao distanciamento social. A universidade também criou seu Centro de Testagem, coordenado pela professora Terezinha Marta Castineiras, onde foram realizados mais de 12 mil exames de RT-PCR para profissionais de saúde de todo o estado. Paralelamente, a professora Leda Castilho, chefe do Laboratório de Engenharia de Cultivos Celulares da Coppe/UFRJ, vem desenvolvendo um teste sorológico com a proteína S do Sars-Cov-2, produzida e purificada em laboratório, bem mais específico que os disponíveis até agora, que usam as proteínas N e M.

Já no Laboratório de Virologia Molecular da UFRJ, o professor Amílcar Tanuri trabalha incansavelmente na biologia molecular do vírus e no sequenciamento do genoma, estudos que deverão trazer informações muito úteis para o desenvolvimento de um tratamento específico e de uma vacina. Em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a UFRJ também integra a rede mundial dedicada à realização de ensaios clínicos com antivirais para identificar, entre medicamentos existentes, os mais eficientes no combate à Covid-19. Em parceria com a Coppe, a universidade vem utilizando uma modelagem inovadora - a modelagem Bayesiana Aninhada à série histórica para estimar o número básico de reprodução da Covid-19 (o covidímetro), que, segundo Roberto Medronho, atualmente está em 1,57 para o estado do Rio de Janeiro e em 1,39 para a capital. O pesquisador também destaca a importância do desenvolvimento do ventilador mecânico, projeto coordenado pelo professor Jurandir Nadal da Coppe, que já atraiu empresas interessadas em iniciar a produção, o que ajudará o País a reduzir a dependência por equipamentos importados.

Na área da Tecnologia, o pesquisador destaca o uso de ferramentas de software, Inteligência Artificial, Big Data para o desenvolvimento de dispositivos como o oxímetro, projeto coordenado pelo professor Guilherme Travassos, que é utilizado para medir a oxigenação no sangue, frequência cardíaca, e temperatura de pacientes que se encontram isolados em casa ou internados. Nas bancadas da UFRJ, também foi desenvolvido o laringoscópio com câmera, que permite a visualização das cordas vocais do paciente na tela do telefone celular, a fim de facilitar a intubação de pacientes graves. A universidade também trabalha no desenvolvimento de sistema de dashboard público, projeto coordenado pelo professor Claudio Miceli do Núcleo de Computação Eletrônica (NCE) e Coppe para acompanhamento da evolução da Covid-19, correção e consolidação de dados, com versão de uso privativo da Secretaria Estadual de Saúde (SES) e do GT da UFRJ.


Apesar da rotina intensa, agora dedicada ao estudo da pandemia, Medronho sempre encontra tempo para se dedicar à música, de preferência ao samba. Há mais de 30 anos ele mantém uma parceria inseparável com o compositor, cantor e instrumentista Noca da Portela, com quem gravou o CD "Samba, Saúde e Simpatia", que contou com participações de Dudu Nobre, Nelson Sargento, Luiz Carlos da Vila, entre outros. Para o pesquisador, a pandemia do novo coronavírus, deixa um importante aprendizado: “Não há como enfrentar pandemias sem o Sistema Único de Saúde (SUS), de qualidade com acesso público e universal à saúde, amparado na ciência, tecnologia e inovação”, defende. Por fim, em defesa da ciência, Medronho relembra a célebre frase da filantropa americana Mary Woodard Lasker: “Se você pensa que a pesquisa é cara, experimente a doença”.




Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 25/06/2020
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=4004.2.4

quinta-feira, 25 de junho de 2020

O que são os exóticos 'buracos de minhoca' de Einstein e Rosen, que poderiam levar a viagens no tempo e no espaço


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Eles podem sequer existir... ou podem estar por toda parte

"Buracos de minhoca" é um nome curioso para algo tão exótico. Mas também é bastante ilustrativo.

Imagine uma minhoca em uma maçã que quer chegar o mais rápido possível ao lado oposto de onde se encontra. Em vez de percorrer todo o caminho pela superfície, ela cava um buraco o mais reto possível.

E tal qual no Jardim do Éden ou como fonte de inspiração para Isaac Newton, a maçã nos conduz a um mundo de conhecimentos novos a serem explorados. E neste caso, estamos apenas começando a conhecer melhor esses buracos.

Os buracos de minhoca começaram como uma solução para um problema que afligia os cientistas.
Ponte

Depois de revelar sua teoria geral da relatividade em 1915, Albert Einstein se ocupou com um grande buraco em seu argumento.

"Ele concebeu uma nova teoria sobre todo o Universo, na qual também dizia que quando as estrelas entram em colapso elas formam buracos negros", disse à BBC o físico Jim Al-Khalili.

"Nessa época, e por vários outros anos, acreditava-se que não existiam os buracos negros, que eles eram só produtos da matemática. Inclusive Einstein pensava assim. Mas algo lhe incomodava."

"No centro do buraco negro está a singularidade, um ponto no qual toda a matéria se comprime a um tamanho zero e, portanto, de densidade infinita. Mas Einstein, como um bom físico, não gostava que algo pudesse ter matéria com tamanho zero. É como quando se divide algo por zero em uma calculadora e aparece uma mensagem de erro."

"Então, junto com o físico americano-israelense Nathan Rosen, ele publicou um artigo no qual sinalizaram que, com algumas pequenas mudanças matemáticas, essa singularidade se converteria em uma ponte que leva do centro do buraco negro a outro lugar, talvez a outro buraco negro ou até mesmo a um buraco branco", explica Al-Khalili.
Buraco branco?

"Um buraco negro é algo que se absorve tudo totalmente: inclusive a matéria e a luz que caem nele não saem mais dali. Um buraco branco é o oposto. Ele não engole nada e ainda expele tudo. A ideia é que talvez tudo que esteja caindo em um buraco negro esteja sendo expelido pelo outro extremo, que seria um buraco branco."


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Nathan Rosen (1909-1995, esq.) foi assistente de Einstein em Princeton entre 1934 e 1936.

"É isso que se chama de ponte Einstein-Rosen."

É esse o nome oficial dos buracos de minhoca. Este último termo foi introduzido pelo físico americano John Wheeler em 1957.
Atalho

Quase três décadas depois, o astrônomo, apresentador e ganhador do prêmio Pulitzer Carl Sagan (1934-1996) escreveu o romance Contato (publicado em 1985) no qual ele fala sobre um encontro entre humanos e extraterrestres.

Seu plano original era de que a protagonista, Eleanor Arroway, e outros quatro cientistas se jogassem em um buraco negro criado por alienígenas para chegar até o planeta deles, a 26 anos-luz de distância.

Mas a física não estava do seu lado.

O problema é que ao entrar em buraco negro o mais provável é que eles teriam um final... pouco comum.

Segundo os cientistas, na medida em que eles fossem se aproximando do buraco negro, diferentes partes de seus corpos seriam puxadas por distintas forças de gravidade — com seus corpos sendo esticados e comprimidos até virarem um espaguete (o nome do efeito é "espaguetização") e logo se chocariam com o núcleo do buraco negro.


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A "espaguetização" é um dos efeitos mais conhecidos do que poderia acontecer caso entrássemos em um buraco negro

Esse detalhe sobre o uso das pontes Einstein-Rosen preocupava Sagan.

Apesar de estar escrevendo ficção, ele era um cientista e não gostou da situação. Ele pediu ajuda a um amigo que era simplesmente um dos maiores especialistas em relatividade no mundo: Kip Thorne.

Quando Thorne começou a mexer nas equações de campo de Einstein, se deu conta de que teoricamente seria possível criar uma espécie completamente nova de "buraco de minhoca transitável".

E foi assim que a ficção científica gerou uma teoria moderna de buracos de minhoca, mais tarde publicada em uma revista de física que abriu um campo novo de investigação.

Mas se você acha estranha a ideia de pegar um atalho no espaço para chegar a lugares que estão a anos-luz daqui, o que vem a seguir é ainda mais esquisito.


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O livro 'Contato' de Carl Sagan virou um filme estrelado por Jodie Foster em 1997

De acordo com a teoria geral da relatividade de Einstein, os buracos de minhoca podem ser usados não só para se viajar através do espaço como também através do tempo.
Mais além do espaço

Como se faz?

Aqui estão, cortesia do astrônomo Andrew Pontzen, as instruções para transformar um buraco de minhoca em uma máquina do tempo.

"Se você é capaz de criar duas extremidades de um buraco de minhoca que entrelaçam dois espaços, e você pega uma dessas extremidades e as manda em uma viagem na velocidade da luz, o que você estaria fazendo é enviá-la para o futuro. Assim, você teria um buraco de minhoca que não só te leva de um lugar para o outro como também de uma época para a outra."

Assim, seria possível viajar ao futuro, mas não ao passado.

"Você poderia ir visitar o futuro e voltar ao presente. Não poderia ir a um momento anterior ao que você criou o buraco de minhoca, mas poderia voltar a esse momento", diz Pontzen.

Como você pode imaginar, essa estranha ideia dá origem a uma infinidade de problemas práticos.

Mas nada que tenha impedido a ficção científica de se divertir com essa ideia. Autores encantados com os buracos de minhoca para viajar no tempo transformaram isso em um elemento clássico da literatura, mesmo que nem sempre seguindo a ciência muito estritamente, como Sagan tentou fazer com Contato.


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"De Volta Para o Futuro" é um dos filmes que brincam com viagem no tempo, ainda que teoricamente não seja possível se viajar ao passado e só ao futuro

Na trilogia De Volta Para o Futuro, que foi lançada no mesmo ano em que Sagan publicou seu livro, o protagonista viaja para o passado e ainda tem a possibilidade de alterar eventos já ocorridos.

"A noção de poder mudar o passado é errônea. Há leis da física que te protegem", diz a escritora Jennifer Oullette.
Outro universo

No entanto, há outra maneira de se mudar o passado: produzindo outro Universo, que é parte de um multiverso que contém todas as diferentes versões do resultado que as suas ações criaram.

Segundo a física, isso é perfeitamente possível.

Mas antes de você achar que estamos falando bobagem, temos uma pergunta básica: realmente existem buracos de minhoca no espaço?

"Eles existem matematicamente no papel", responde o astrônomo Andrew Pontzen.


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Atalhos temporários e espaciais existem... na teoria.

"Que realmente existam, é outra coisa, porque para se criar um e sustentá-lo seria necessária uma vasta quantidade de uma forma muito exótica de energia, muito distinta da energia que conhecemos. É um tipo de energia que nem sequer sabemos se existe."

"Mas se existe, é possível que se crie um buraco de minhoca."

Essa energia exótica é necessária para manter abertas as extremidades do buraco de minhoca e mantê-lo estável.

E o que exatamente é tão exótico nesta energia?
"Uau!"


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Maçãs serviram de inspiração para descobertas famosas na física

Prepare-se para a resposta, pois o tema deixou boquiaberto quem descobriu tudo: o respeitado físico Al-Khalili.

"Falamos de matéria obscura, de antimatéria... isso não é nada comparado com a matéria exótica, que, se supõe, possui massa negativa. O que significa dizer que algo tem menos cinco quilos? Sem dúvida a menor quantidade possível de massa é nada."

"Mas claro, outra das lições de Einstein é que a massa e a energia estão relacionadas: E = mc². Assim a massa pode se converter em energia e vice-versa. E o que temos é energia negativa. Se pode absorver a energia de um vácuo de maneira que o vácuo fique com energia abaixo de zero, o que funciona bem se devolvemos esta energia ao vácuo rapidamente."

"É como quando você fica sem dinheiro e pega um empréstimo: você pode tomar o empréstimo mas precisa devolvê-lo em seguida."

"Assim pode-se imaginar em uma escala quântica um vácuo com energia negativa, e essa energia negativa convertida em massa para manter aberto um buraco de minhoca... uau!"

"Matematicamente isso funciona, mas na realidade ninguém consegue pensar em uma forma de tornar isso possível."

Então, depois de toda essa explicação, concluímos que os buracos de minhoca provavelmente não existem.

Mas não deixe a energia negativa te perturbar, pois, se você pensar bem, os buracos de minhoca podem estar em todas as partes.
Onipresentes

Essa é uma ideia muito nova na física, mas poderia proporcionar uma solução a outro pequeno problema sobre o qual Einstein se debruçou.

"Depois de publicar um artigo sobre as pontes Einstein-Rosen, em 1935, Einstein publicou no mesmo ano outro artigo sobre seu desconforto com algo na mecânica quântica: como duas partículas que estão entrelaçadas podem ser separadas e, ainda assim, de alguma forma, se manterem em comunicação?"

"Há sinais de que a resposta é que elas estão unidas por um buraco de minhoca quântico. É uma ideia tão fantástica! Mas por enquanto é só isso: uma ideia, ainda que partindo de físicos muito sérios. Talvez em uma escala quântica os buracos de minhoca existam", disse Al-Khalili à BBC.

E ele acredita que existem mesmo?

"Eu acredito que existem. Mas que nós podemos inflá-los a tamanhos grandes suficientes para mandar naves espaciais através deles é uma ideia que ainda só existe no reino da ficção científica."

E você, no que acredita?




Autor: BBC News
Fonte: BBC News
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 20/06/2020
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53067626

O inexplicável sinal recebido do espaço em pesquisa que busca matéria escura


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PURDUE UNIVERSITY
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Detector Xenon1T foi instalado em laboratório na Itália entre 2016 e 2018

Um experimento que busca a matéria escura detectou um sinal inexplicável do espaço.

Cientistas que atuam no experimento Xenon1T detectaram mais atividade do que esperavam.

Esse “excesso de eventos” pode apontar para a existência de partículas hipotéticas chamadas de axions, entre as quais há candidatas a matéria escura.

Cerca de 25% do Universo é composto de matéria escura, mas sua natureza é desconhecida. O que quer que ela seja, não reflete ou emite luz detectável.

Há três possíveis explicações para o novo sinal detectado no experimento Xenon1T. Duas demandam uma nova física para explicá-lo, e a terceira consiste na existência das partículas solares axions.

As descobertas foram divulgadas no servidor Arxiv de artigos não revisados por outros cientistas.

Até agora, cientistas só conseguiram fazer observações indiretas de evidências de matéria escura, sem uma detecção definitiva e direta dela.

Há diversas teorias que tentam dar conta de como essa partícula possa ser. A mais aceita é a WIMP (sigla em inglês para partículas maciças que interagem fracamente).

Físicos que integram a série de experimentos Xenon já gastaram mais de uma década em busca de sinais desses WIMPs, mas até agora não tiveram sucesso.
Ruído de fundo

O experimento foi realizado nas instalações subterrâneas de Gran Sasso, na Itália, de 2016 a 2018.

Seu detector foi preenchido com 3,2 toneladas de xenon líquido ultra-puro, sendo que 2 toneladas serviram de “alvo” para as interações entre átomos de xenon e outras partículas que se movimentaram ali.

Quando a partícula cruzou o alvo, ela gerou pequenos flashes de luz e elétrons liberados do átomo de xenon.

A maioria dessas interações, batizadas de eventos, são com partículas que já conhecemos, como múons, raios cósmicos e neutrinos. Elas constituem o que os cientistas chamam de sinais de fundo.

Um possível sinal de uma partícula não descoberta precisa ser forte o suficiente para superar esse ruído de fundo.

Cientistas estimaram cuidadosamente o número de eventos de fundo no Xenon1T. Eles esperavam ver 232, mas o experimento detectou 285.


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NASA / ESA / CXC / M BRADAC / S ALLEN
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Evidencia indireta da matéria escura: a gigantesca colisão de dois clusters de galáxias separa matéria escura (azul) da matéria ordinária (rosa)

Uma explicação pode ser que uma nova fonte de ruído de fundo que não havia sido considerada antes, causada pela presença de pequenas amostras de trítio no detector do Xenon1T.

O resultado pode ter a ver também com neutrinos, que passam aos trilhões por seu corpo por segundo. Uma explicação pode ser que o momento magnético (uma propriedade de todas as partículas) dos neutrinos seja maior do que o valor no Modelo Padrão, que categoriza as partículas elementares na física.
Uma nova física

Há quem acredite que só uma nova física seja capaz de explicar o fenômeno.

No entanto, o excesso de eventos é mais consistente com sinais dos axions, uma classe de partículas ainda a ser detectada. Na verdade, o excesso de eventos tem um espectro de energia similar ao esperado dos axions produzidos pelo Sol.

Em termos estatísticos, a hipótese de axion solar tem uma significância de 3,5 sigmas.

Ainda que essa significância seja alta, ela não é grande o bastante para concluir que os axions existem. O patamar de 5 sigmas é geralmente considerado o limite para se confirmar uma descoberta como essa.

A significância das hipóteses de momento magnético e de trítio correspondem a 3,2 sigmas, o que significa que elas são consistentes com os dados.

Cientistas que atuam nos experimentos Xenon estão aprimorando as interações para um novo experimento, Xenon-nT. Com melhores dados dessa futura versão, os pesquisadores estão confiantes de que em breve eles poderão dizer se o excesso de eventos foi um acaso estatístico, uma contaminação do fundo, ou algo muito mais empolgante.




Autor: Paul Rincon - @rincon_p
Fonte: Editor de Ciência da BBC News
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 22/06/2020
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53140602

A descoberta da 'estrela impossível' que vai mudar a astronomia


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A colaboração LIGO-Virgo administra alguns dos instrumentos científicos mais ousados já feitos

Cientistas descobriram um objeto astronômico que nunca havia sido observado antes.

Ele tem massa maior do que estrelas colapsadas (conhecidas como "estrelas de nêutrons") mas possui menos massa que buracos negros.

O novo objeto, uma espécie de "estrela de nêutrons negra", era algo que não se imaginava ser possível. Portanto, novas ideias de como se formam as estrelas de nêutrons e os buracos negros terão que ser formuladas.

A descoberta foi feita por uma equipe internacional de pesquisadores usando detectores de ondas gravitacionais nos Estados Unidos e na Itália.

Charile Hoy, um estudante de pós-doutorado da Universidade de Cardiff, no Reino Unido, disse que a nova descoberta pode alterar a compreensão que temos da astronomia. Ele foi um dos pesquisadores da equipe.

"Não podemos descartar nenhuma possibilidade. Nós não sabemos o que é [esse objeto] e é por isso que tudo é tão animador, porque isso realmente muda o nosso campo de estudo."

Hoy é parte de uma equipe internacional trabalhando num projeto conhecido como Colaboração Científica Ligo-Virgo.
Colisão de buraco negro

O grupo internacional possui detectores de laser com vários quilômetros de alcance que captam pequenas ondulações no espaço-tempo causadas pela colisão de objetos massivos no Universo.

A informação coletada pode ser usada para determinar a massa dos objetos envolvidos.

Em agosto, os instrumentos detectaram a colisão de um buraco negro com massa 23 vezes maior do que a do Sol com outro objeto, que tinha 2,6 massas solares.

Isso faz com que o objeto mais leve seja mais massivo do que o tipo mais pesado de estrela morta (ou estrela de nêutron) já observado até agora - que tinha pouco mais que duas massas solares. Mas ele também era mais leve que o buraco negro mais leve já observado - com cerca de cinco massas solares.

Astrônomos têm pesquisado sobre esses objetos dentro de algo que eles costumam chamar de "buraco de massa".

Escrevendo na revista científica The Astrophysical Journal Letters, os pesquisadores dizem acreditar que, entre todas as possibilidades, o objeto provavelmente seja um buraco negro leve, mas eles não estão descartando nenhuma hipótese.


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Os laboratórios que detectam ondas gravitacionais disparam lasers por longos túneis

Depois de colidir com grandes buracos negros, o objeto não existe mais. No entanto, devem surgir novas oportunidades para se aprender mais sobre esses objetos de "buraco de massa" em futuras colisões, segundo o professor Stephen Fairhurst, também da Universidade de Cardiff.

"É um desafio determinar o que é isso", ele disse à BBC. "Seria o mais leve dos buracos negros já encontrado, ou a estrela de nêutrons mais pesada já encontrada?"

Se for mesmo um buraco negro leve, não existiria nenhuma teoria atual para descrever como esses objetos se formam. O professor Fabio Antonioni formulou uma hipótese de que em um sistema solar com três estrelas seria possível a formação de um buraco negro leve. Suas ideias começaram a receber mais atenção desde a nova descoberta.

Se no entanto este novo objeto for uma estrela pesada de nêutrons, as teorias sobre sua formação também teriam de ser revisadas, segundo Bernard Schutz, do Max Planck Institute em Potsdam, na Alemanha.

"Não sabemos muito sobre física nuclear das estrelas de nêutrons. Então as pessoas que estão olhando para equações exóticas que explicam o que acontece dentro delas devem estar pensando 'talvez isso seja evidência de que podemos ter estrelas de nêutrons bem mais pesadas'."


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Uma visualização científica da fusão de objetos em que um deles é 9,2 vezes maior que o outro

Tanto buracos negros como estrelas de nêutrons se formam quando as estrelas perdem seu "combustível" e morrem, segundo as teorias atuais. Se for uma estrela muito grande, ela entra em colapso para formar um buraco negro, que é um objeto com tanta força gravitacional que nem mesmo a luz escapa de seu alcance.

Se a estrela tiver massa abaixo de um determinado valor, uma opção seria que ela colapsasse em uma bola densa feita totalmente de partículas conhecidas como nêutrons, que são as mesmas que encontramos no núcleo dos átomos.

O material que forma estrelas de nêutrons é tão denso que uma pequena colher de chá dele teria peso de 10 milhões de toneladas.

Uma estrela de nêutron também possui gravidade potente que a mantém coesa, mas uma outra força entre os nêutrons, causada por um fenômeno de mecânica quântica conhecido como pressão de degenerescência, tenta afastar as partículas, funcionando como contraponto à força gravitacional.

As teorias atuais sugerem que a força gravitacional venceria esta pressão de degenerescência se a estrela de nêutron for maior que duas massas solares - causando um colapso que formaria um buraco negro.

De acordo com o professor Nils Andersson, da Universidade de Southampton, no Reino Unido, se o objeto misterioso for mais pesado que uma estrela de nêutron então os teóricos terão que repensar o que eles sabem sobre o interior destes objetos.

"A física nuclear não é uma ciência precisas onde sabemos tudo. Não sabemos como forças nucleares operam sob condições extremas de dentro de uma estrela de nêutron. Então cada teoria que temos atualmente sobre o que acontece dentro de uma delas tem algum grau de incerteza."

A professora Sheila Rown, diretora do Instituto de Pesquisas Gravitacionais da Universidade de Glasgow, disse que a descoberta desafia os modelos teóricos atuais.

"Mais observações cósmicas e pesquisa serão necessárias para se estabelecer se esse novo objeto é mesmo algo que nunca se viu antes ou se é o buraco negro mais leve já detectado."




Autor: Pallab Ghosh
Fonte: Correspondente de ciências da BBC News
Sítio Online da Publicação: BBC News
Data: 24/06/2020
Publicação Original: https://www.bbc.com/portuguese/geral-53168439

terça-feira, 23 de junho de 2020

Instituto Nupem, da UFRJ, avança em testes para diagnóstico de Covid-19 em Macaé

Um projeto desenvolvido no Instituto de Biodiversidade e Sustentabilidade, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Nupem/UFRJ), em Macaé, vem oferecendo à população desse município do Norte Fluminense, desde o mês de abril, a realização de testes de RT-PCR (do inglês, Reverse-Transcriptase Polymerase Chain Reaction) em tempo real, para o diagnóstico da doença Covid-19, causada pelo coronavírus (Sars-CoV-2). Os testes são vêm sendo realizados no Laboratório de Microbiologia e Bioprocessos Mario Alberto Neto, do Nupem. O coordenador geral do projeto é o médico e professor Amilcar Tanuri, do Laboratório de Virologia Molecular do Instituto de Biologia, do Centro de Ciências da Saúde da UFRJ, e a coordenação local é realizada pelo biomédico e professor Rodrigo Nunes da Fonseca, diretor do Nupem. Ambos os coordenadores foram contemplados pela FAPERJ no programa Cientista do Nosso Estado, de apoio à realização de pesquisas científicas.

Tanuri destaca que a realização dos testes em Macaé é uma questão estratégica para o controle da pandemia no estado do Rio de Janeiro. “Macaé é uma cidade portuária com a economia voltada para a indústria do gás e do petróleo, que tem como característica a grande circulação de pessoas que trabalham nas plataformas, inclusive estrangeiros. Por isso, a cidade é uma porta de entrada para o novo coronavírus. A realização dos testes de PCR em tempo real pelo Nupem também pode ajudar nos estudos da prevalência e da incidência da Covid-19 no município”, ponderou.

De acordo com o boletim da Vigilância Epidemiológica de Macaé, atualizado em 2 de junho, havia até aquele momento o registro formal de 936 casos confirmados de Covid-19 no município e 35 óbitos em razão da doença. “Logo no início de março, houve o fechamento completo da cidade com barreiras sanitárias, onde são realizados testes de temperatura, e caso as pessoas tenham febre, são encaminhadas para o Centro de Triagem do Paciente com Coronavírus de Macaé, que centraliza o atendimento aos pacientes de Covid-19 na cidade. Essa política de fechamento da cidade bem no início da pandemia foi positiva, e as taxas de ocupação nos CTIs estão em cerca de 60%”, contextualizou Fonseca.

Trata-se de um projeto amplo, que envolve a participação de diversas instituições públicas, como a Prefeitura de Macaé, o Ministério Público Federal (MPF) e Ministério Público do Trabalho (MPT), a Associação de Docentes da UFRJ (AdUFRJ), hospitais filantrópicos (Irmandade São João Batista) e instituições privadas (Unimed, Hospital São Lucas), médicos do trabalho, além de empresas da cadeia de óleo e gás. “O projeto é bom um exemplo de interação entre o poder público e o setor produtivo da cidade. No Laboratório de Microbiologia e Bioprocessos, do Nupem, são realizados testes de PCR em tempo real dos pacientes atendidos no Centro de Triagem do Paciente com Coronavírus de Macaé. As amostras são encaminhadas segundo as prioridades da lista de espera estabelecidas pela Secretaria Municipal de Saúde”, explicou Nunes-da-Fonseca. “Já o MPF e o MPT atuam no comitê gestor do projeto, na proposição e fiscalização das ações, bem como na divulgação da importância do projeto para as empresas, principalmente da indústria do petróleo”, completou.

Os testes de RT-PCR em tempo real realizados no Nupem são, segundo ele, o “padrão ouro” seguido por outros países e servem para a detecção da doença em estágio inicial. “O PCR é o teste indicado para pacientes com sintomas iniciais de Covid-19, entre o segundo e o décimo dia de sintomas, em média, e confirma se eles são positivos ou não para a doença. Ele é realizado a partir da retirada de uma amostra de secreção da mucosa nasal pois o coronavírus fica alojado inicialmente no trato respiratório superior, e depois, com a evolução da doença, desce para os pulmões. No laboratório do Nupem, verificamos se os swabs nasais contendo células extraídas da região nasofaríngea apresentam o RNA do coronavírus. O processo, feito de forma manual, leva cerca de quatro horas”, detalhou Nunes-da-Fonseca.


Nunes-da-Fonseca destaca a importância da realização dos testes para diagnósticos no estágio inicial da doença

Ele explicou ainda que os testes de RT-PCR em tempo real têm objetivos totalmente diferentes dos testes imunológicos rápidos oferecidos, por exemplo, em farmácias, que servem para checar se a pessoa que adquiriu a doença recentemente e se desenvolveu anticorpos, indicando assim se ela teve ou não Covid-19. “A importância da realização dos testes de PCR em tempo real é que quando você detecta a infecção no início, a pessoa pode ser isolada imediatamente e deixar de transmitir o coronavírus. Se a pessoa infectada for assintomática ou tiver sintomas leves, por exemplo, não souber o seu diagnóstico e continuar circulando normalmente, o vírus continua a ser transmitido”, justificou.

Atualmente, são realizados cerca de 30 testes diários no laboratório do Nupem, por meio de equipamentos manuais, e já foram realizados mais de 600 testes, ao todo. “O nosso objetivo é conseguir recursos para acelerar esse processo. Se conseguirmos adquirir equipamentos para a automatização dos testes de PCR em tempo real e mais insumos, conseguiremos realizar até 300 testes por dia, totalizando de 4.000 a 6.000 testes por mês até o final do ano. Hoje, temos insumos para continuar trabalhando por mais dois meses e meio, apenas”, destacou Nunes-da-Fonseca. “Por isso, lançamos uma campanha para angariar fundos e contamos com a colaboração de entidades públicas e privadas”, ressaltou.

A Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Coppetec), voltada para o apoio de projetos de desenvolvimento tecnológico, de pesquisa, de ensino e de extensão, da Coppe e demais unidades da UFRJ, criou um fundo único e exclusivo, cujo acompanhamento financeiro pode ser seguido diariamente no link http://www.coppetec.coppe.ufrj.br/site/transparencia/pesquisa-covid19-macae.php. A utilização destes recursos será acompanhada pelo comitê gestor do projeto, incluindo o MPT e o MPF, sendo esta conta a única forma de doação de recursos financeiros para o projeto. Outra forma de contribuir é por meio da doação dos equipamentos necessários para a automação do processo. Empresas, entidades públicas e privadas e pessoas físicas interessadas em colaborar com a aquisição de equipamentos devem entrar em contato com a direção do Nupem pelo e-mail direcao@nupem.ufrj.br

Os testes vêm sendo coordenados pela professora Natália Martins Feitosa e o tecnólogo Bruno Rodrigues, e contam com a participação de mais 17 voluntários incluindo professores e alunos de pós-graduação do Nupem, pesquisadores contemplados pelo programa Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, além de bolsistas de mestrado e doutorado dos Programas de Pós-Graduação (PPG) Multicêntrico em Fisiologia; em Ciências Ambientais e Conservação do Nupem; em Produtos Bioativos e Biociências do campus Macaé da UFRJ; e em Ciências Morfológicas UFRJ-Sede. Todos esses programas de pós-graduação recebem apoio da FAPERJ, por meio de bolsas de estudo. O número de testes pode ser acompanhado em tempo real no site do Nupem.




Autor: Débora Motta
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 12/06/2020
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3991.2.2

Pesquisa avalia impacto da Covid-19 nos atletas

Para os que acreditam que o fato de uma pessoa ser ou ter sido atleta faz com que ela seja mais resistente à infecção pelo novo coronavírus, um trabalho conjunto entre equipes de pesquisadores do Centro Universitário Estadual da Zona Oeste (Uezo) e do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia Jamil Haddad (Into) põe por terra essa suposição. É que, ao contrário do que se poderia supor os mais apressados, a alta intensidade do volume de treino diário dos atletas profissionais, cerca de 6 a 8 horas por dia, pode aumentar a ventilação alveolar e diminuir os níveis do anticorpo IgA, tornando maior o risco de infecção viral no trato respiratório desses desportistas.

O estudo, coordenado pela pesquisadora Jamila Perini, está avaliando cerca de 1 mil atletas, com idade entre 18 e 45 anos, praticantes de diferentes modalidades esportivas. “Estamos trabalhando na identificação de alterações genéticas que levam à predisposição a lesões, buscando identificar um marcador genético que favoreça um diagnóstico precoce. Mas, diante do isolamento social, vimos a necessidade de voltar nossos esforços para as consequências da pandemia na vida dos atletas”, explica a médica, que recebe apoio da FAPERJ para a realização de suas pesquisas por meio do Programa Jovem Cientista do Nosso Estado. Segundo ela, as consequências da COVID-19 na vida dos atletas não se resumem à alteração na rotina de treinos, mas à crise financeira decorrente da redução de salários e os problemas psicológicos ocasionados pela quarentena.

Jamila ressalta que os fatos também comprovam a suscetibilidade dos atletas – profissionais ou não – ao novo coronavírus, já que o primeiro caso registrado na Europa, mais especificamente na Itália, foi a infecção em um homem de 38 anos, que participava regularmente de eventos esportivos, como corridas e jogos de futebol. Um dia antes de apresentar os primeiros sintomas ele havia participado de uma partida de futebol, mas, quatro dias depois, foi internado em unidade de terapia intensiva (UTI) por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG). Ou seja, apesar de muitas pessoas acreditarem que os atletas podem ser assintomáticos ou apresentarem sintomas leves de uma gripe sem maiores conseqüências, os estudos vêm mostrando que nem mesmo eles estão livres dos desfechos mais graves associados à doença.

Não é de hoje que a saúde respiratória do atleta é uma preocupação da medicina esportiva. Estudos realizados desde a década de 1990 já relatavam um aumento de episódios virais nas vias aéreas inferiores, em atletas de maratona, causando febre, tosse seca, mal-estar e dispneia como efeitos agudos na semana seguinte à competição. “Por terem um pulmão considerado ‘ideal’, com condições fisiológicas capazes de aumentar a ventilação alveolar durante exercícios intensos, os atletas ficam mais propensos a inalação de partículas virais”, explica Lucas Lopes, aluno de doutorado de Jamila. Graduado em Farmácia, Lucas vem se dedicando ao estudo de tendinopatias em atletas desde 2015, época em que foi bolsista de Iniciação Científica da FAPERJ. Ele ressalta o fato de que a pandemia do novo coronavírus pegou a comunidade esportiva num ano olímpico, com a maioria dos atletas de alto rendimento se preparando para as competições e outros ainda na fase seletiva, treinando de seis a oito horas por dia.


Lucas Lopes e Jamila Perini estão preocupados com as possíveis lesões muscoesqueléticas dos atletas


“Foi muito frustrante para os atletas o adiamento das competições”, afirma o pesquisador, lembrando que, inicialmente, para atender às diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS) no combate à pandemia, as competições esportivas seriam realizadas sem torcedores, evitando a transmissão por meio de contato próximo. No entanto, com a confirmação para a COVID-19 de um jogador de basquete norte-americano, a NBA foi uma das primeiras ligas a sinalizar que tal medida seria demasiado arriscada, optando por cancelar seu campeonato nacional. “Com a Olimpíada em Tóquio adiada e as consequências do isolamento social sobre a rotina dos atletas, fica difícil avaliar como será o retorno deles após a pandemia”, diz Lopes, que é mestre em Saúde Pública e Meio Ambiente pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Segundo ele, os atletas entraram em distanciamento social e muitos começaram a treinar em casa, para tentar manter o condicionamento físico. Porém, a falta da rotina de acompanhamento profissional presencial e de treinamentos específicos do esporte são preocupantes, e podem desfavorecer a aptidão física e o desempenho do atleta. Para Lopes, o que se teme no retorno pós-pandemia, além de lesões musculoesqueléticas em consequência do treinamento adaptado e às vezes inadequado, são as possíveis sequelas da COVID-19 nos atletas que se infectaram. “É possível que eles apresentem problemas respiratórios ou miocardites, impactando negativamente o seu condicionamento aeróbico”.

No universo de atletas atendidos pelo Into, um hospital público federal especializado em atendimento cirúrgico na área de Ortopedia e Traumatologia, Jamila diz que uma das motivações para se dedicar a esse estudo epidemiológico foi o fato de que muitos desses atletas precisam se dedicar a outra atividade para garantir uma renda. “Não podemos esquecer que apesar da excelência e de também abrigar o Centro de Medicina do Esporte, a maioria dos atletas atendidos no Into não tem plano de saúde”, destaca. Segundo ela, a realidade da maioria dos jogadores é bastante diferente daqueles que recebem salários exorbitantes, sendo inclusive muito comum atletas jogarem machucados, com dor, para não serem afastados do time.

O afastamento das atividades esportivas já causa uma crise financeira no meio esportivo, colocando em risco a atividade profissional dos atletas. Segundo Lopes, alguns clubes já reduziram salários, de acordo com a realidade econômica enfrentada pelo setor com a pandemia. Até mesmo a seleção olímpica de voleibol masculina, campeã em 2016, atualmente tem metade de seus jogadores sem contrato, ou seja, desempregados. “O esporte faz parte do entretenimento da sociedade. Porém, por vezes os atletas são tratados como mercadorias, sem considerar suas limitações físicas e abalos psicológicos que qualquer outro ser humano pode sofrer”, assinala o pesquisador. Lopes se preocupa com o retorno dos atletas às atividades após a pandemia. “Como os atletas irão retornar com sua rotina de treinamento de alta intensidade e em curto tempo para competições, sem sofrer lesões? Como estará o psicológico e o preparo físico dos atletas?”. Ele lembra que será fundamental considerar o tempo de readaptação dos atletas com a adoção de programas de retorno ao esporte.

As equipes de pesquisadores envolvidas no estudo aguardam a apreciação do questionário elaborado a ser submetidos aos atletas pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP). Além de Jamila e Lucas, compõem a equipe da Uezo Ana Carolina Leocadio de Souza, Camili Gomes Pereira, Jade Pires do Nascimento e Victor Soares Wainchtock. Já a equipe do Into é composta pelos pesquisadores Rodrigo Araújo Goes, Victor Rodrigues Amaral Cossich, Vitor Almeida Ribeiro de Miranda, João Antônio Matheus Guimarães e João Alves Grangeiro Neto.

O questionário abordará questões sócio demográficas, características do treinamento a que estão se submetendo, seus hábitos de vida e saúde, informações sobre a COVID-19 e a pandemia, incluindo se o atletas e/ou alguém da sua família foi infectado e o apoio dado pelo clube; aspectos sobre seu comportamento durante o distanciamento social, e sua escala de resiliência, ou seja, sua capacidade de lidar positivamente com as dificuldades. O que os pesquisadores também indagam é se a medicina esportiva está preparada para enfrentar todas as consequências da pandemia. E esperam que o estudo possa contribuir para esse enfrentamento. A revista The Lancet, um dos mais prestigiados periódicos científicos, publicou, no início de abril, artigo sobre os eventuais problemas respiratórios enfrentados pelos atletas com a chegada da pandemia:

https://www.thelancet.com/pdfs/journals/lanres/PIIS2213-2600(20)30175-2.pdf





Autor: Paula Guatimosim
Fonte: FAPERJ
Sítio Online da Publicação: FAPERJ
Data: 18/06/2020
Publicação Original: http://www.faperj.br/?id=3999.2.6