O método point-of-care utiliza células recém-modificadas, produzidas em 24 horas por meio de metodologias ultrarrápidas, com custo até 20 vezes menor (Ilustração: Shape Esquemas Didáticos)
Uma das terapias mais avançadas para o tratamento do câncer é a CART-Cell, que consiste na modificação das células do sistema imunológico do próprio paciente para combater o tumor. O processo de geração das CAR-T é realizado em laboratório a partir da junção de células T com receptores quiméricos de antígenos (CAR). Principais componentes do sistema de defesa do organismo e responsáveis por reconhecerem e eliminarem células infectadas, as células T são modificadas geneticamente e ligadas ao receptor artificial CAR (Chimeric Antigen Receptor, em inglês). Essa terapia é muito importante porque no organismo as células T, que geralmente nos protegem contra infecções e tumores, podem perder a capacidade de reconhecer as células do câncer.
Na prática, a terapia inclui várias etapas que demandam tempo, logística e alto custo. Primeiro a célula T é retirada do paciente, depois transferida para centros/laboratórios especializados – muitas vezes em outros países –, em seguida é ativada e modificada geneticamente para expressar o CAR, depois multiplicada/expandida – processo que pode levar de 5 a 20 dias –, até ser transferida para o hospital e reintroduzida no paciente. O maior fator limitante à sua expansão é o fato de ser um processo personalizado, no qual cada paciente exige um processo de produção próprio.
Apesar de bem-sucedida, em especial em leucemia e linfomas de células B, a terapia CART-Cell tem um custo muito elevado e é inacessível à maioria dos pacientes. Por isso, a equipe coordenada por Martín Bonamino no Programa de Terapia Celular e Gênica do Instituto Nacional do Câncer (Inca) desenvolveu um processo que reduz o tempo, o custo e facilita a logística. O estudo conquistou o primeiro lugar na categoria “Iniciativas para o Controle do Câncer” do Prêmio Marcos Moraes, promovido pela Fundação do Câncer.
O processo desenvolvido no Inca não requer laboratório de biossegurança e pula as etapas de ativação e expansão das células T. Chamado de point-of-care, o método utiliza células recém-modificadas, produzidas em 24 horas por meio de metodologias ultrarrápidas. O custo também pode ser 20 vezes menor do que o obtido pelo protocolo tradicional. A pesquisa integra a tese de doutorado da bióloga Luiza Abdo, que conta com bolsa de Doutorado Nota 10, da FAPERJ, para conduzir seus estudos. “Fico muito feliz e com o coração aquecido com esse reconhecimento”, diz Luiza. Segundo a pesquisadora, os ensaios vêm demonstrando a mesma sobrevida de camundongos obtida no protocolo tradicional. “Agora estamos aperfeiçoando o processo, adicionando moléculas para aumentar a longevidade das células”, explica.
Luiza Abdo diz que precisou ter experiências fora do País para entender que não estamos aquém do resto do mundo (Fotos: arquivo pessoal)
O trabalho, publicado na revista internacional OncoImmunology, em 2020, também foi premiado na categoria “Inovação Tecnológica em Oncologia” no 11º Prêmio Octavio Frias de Oliveira, no mesmo ano, e foi contemplado no prêmio internacional Jovem Pesquisador Promega, em 2022. “Precisei ter experiências fora do País para entender que não estamos aquém do resto do mundo e que nossas pesquisas são bastante reconhecidas no exterior”, confessa Luiza. Além de Luiza, integram a equipe da pesquisa Leonardo Chicaybam, Luciana Barros, Luísa Marques, Mariana Duarte e Priscila Souza, pesquisadores coordenados por Martín Bonamino, chefe do Programa de Terapia celular e gênica do Inca.
Formada em Biologia pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Luiza sempre se interessou pelas áreas do câncer e da obesidade, doenças que para ela apresentam grandes desafios futuros. Ela conta que sua opção pelo Inca deveu-se ao fato de ali ter a oportunidade de aplicar os resultados das pesquisas nos pacientes. Luiza também reconhece que sua opção pelo mestrado e pelo doutorado nas áreas da terapia celular e gênica contribuiu muito para impulsionar sua carreira. “Quero fazer com que os resultados das pesquisas cheguem ao maior número de pessoas possível e que a terapia seja acessível a pacientes do SUS”, afirma Luiza.
Autor: Paula Guatimosim
Fonte: faperj
Sítio Online da Publicação: faperj
Data: 03/11/2022
Publicação Original: https://www.faperj.br/?id=221.7.6
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