quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Início e Desfecho do Tratamento da ILTB em migrantes

A infecção latente por Mycobacterium tuberculosis (ILTB) consiste em uma das infecções mais prevalentes em todo o mundo e consiste em um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento da tuberculose ativa. Estima-se que cerca de 25% da população global apresente ILTB e aproximadamente 5-15% daqueles infectados evoluem para a tuberculose ativa. Em diversos países com baixa carga da doença, a ILTB é predominante concentrada na população de migrantes, geralmente relacionada aos países de origem que apresentam índices altos de tuberculose. Muitos desses países, geralmente categorizados como “desenvolvidos”, desenvolveram programas governamentais de rastreio e tratamento da ILTB em migrantes de forma a prevenir o desenvolvimentos de casos futuros de tuberculose. Porém, não é claro o quanto esses programas são efetivos. De forma a tentar esclarecer essas dúvidas, Rustage et al. (2021) desenvolveram um estudo do tipo revisão sistêmica e meta-análise para a avaliação do início e desfecho do tratamento de ILBT entre migrantes, e os fatores que influenciam esses aspectos.



Metodologia do estudo

Para tal proposta, foram usados como banco de dados os artigos publicados acessíveis na Embase, Medline, Global Health ou manualmente selecionados entre 1 de janeiro de 2000 a 21 de abril de 2020. Foram incluídos artigos que incluíam dados sobre o início e/ou conclusão do tratamento de ILBT em populações de migrantes, sem restrição de linguagem ou região geográfica. Seguiu-se a metodologia Preferred Reporting Items for Systematic Reviews and MetaAnalyses (PRISMA) para o desenvolvimento do estudo.

De 2.199 publicações inicialmente rastreadas, foram criteriosamente selecionadas 39 publicações de estudos realizados em 13 países com baixa carga de tuberculose (Alemanha, Áustria, Canadá, Coréia do Sul, Espanha, Estados Unidos, Holanda, Israel, Japão, Noruega, Reino Unido, Suíça e Suécia) com dados sobre início do tratamento e/ou conclusão totalizando 31.598 migrantes positivos para ILTB. Em 25 estudos agrupados, a proporção geral de migrantes com início de tratamento e resultado positivo para o rastreio de ILTB foi de 69% (IC 95% 51-84, 4.409 de um total de 8.764). As origens dos imigrantes variaram entre a origem na África Subsaariana, norte da África ou Oriente Médio. Dentre os 35 estudos com detalhes sobre o desfecho, observou-se que pacientes que iniciaram o tratamento e concluíram a proposta terapêutica correspondiam a 74% (IC 95% 66-81, 15.516 de 25.629). Dentre os dados possíveis de serem extraídos com maior precisão em 25 estudos, a proporção de migrantes positivos que iniciaram e completaram o tratamento adequadamente consistiu de apenas 52% (IC 95% 40-64, 3289 de 6652). As análises de meta-regressão indicaram que os programas de tratamento de ILTB estão em desenvolvimento progressivo com dados melhor documentados no período de 2020 em diante, associado a melhores taxas de iniciação e conclusão adequada do tratamento. As propostas terapêuticas variaram de uso de isoniazida por 6 ou 9 meses, rifampicina por 4 meses ou uso de isoniazida associada à rifampicina por 3 meses.

Diversos fatores afetam a adesão e o melhor desfecho do tratamento dos migrantes, positivamente incluiu-se o contato com pacientes com tuberculose ativa reconhecida, local de nascimento na África, e desemprego. Negativamente observou-se o baixo nível educacional, ausência de suporte familiar, o prolongado tempo de tratamento, efeitos adversos do tratamento e outros. Um dos estudos inclusive indica maior sucesso na adesão ao tratamento para ILTB entre migrantes do que na população local. Verificou-se também que o uso do teste Quantiferon permitiu resultados superiores àqueles obtidos no teste tuberculínico (Teste de Mantoux). Os migrantes tratados na região europeia associada à Organização Mundial de Saúde apresentaram melhores resultados quanto à adesão e conclusão do tratamento para ILTB.
Conclusão

Tais dados indicam que a implementação de programas governamentais de diagnóstico, vigilância e tratamento de ILTB são possíveis e apresentam um elevado grau de sucesso para migrantes e podem evoluir para números de sucesso no combate à tuberculose conforme a estruturação e estímulo aos recém-migrados. Esses resultados consistem em um estímulo na caminhada rumo ao controle das infecções por M. tuberculosis em todo o mundo.




Autor: Rafael Duarte
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 12/01/2022
Publicação Original: https://pebmed.com.br/inicio-e-desfecho-do-tratamento-da-iltb-em-migrantes/

Um comentário:

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