Acredita-se que muitas crianças com TEA tenham sido submetidas a terapia com ocitocina intranasal baseada em dados supostamente promissores. Entretanto, apesar de haver muita esperança de que fosse uma alternativa terapêutica eficaz, uma recente pesquisa prospectiva demonstrou que a ocitocina não parece mudar os desfechos relacionados a função social de pacientes pediátricos portadores de TEA. O objetivo do estudo Autism Centers of Excellence Network Study of Oxytocin in Autism to Improve Reciprocal Social Behaviors [SOARS-B]) foi avaliar a eficácia de 24 semanas de tratamento com ocitocina intranasal para melhorar a função social nessas crianças. Os resultados foram publicados no jornal The New England Journal of Medicine.
Metodologia
Foi realizado um ensaio clínico randomizado de fase 2 de 24 semanas, controlado por placebo, de terapia de ocitocina intranasal em crianças e adolescentes com idades entre 3 e 17 anos e com diagnóstico de TEA. Os participantes deveriam preencher os critérios para TEA conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, fifth edition – DSM-5). Foram excluídos pacientes com outros diagnósticos sobrepostos ou que pudessem ter complicações com o uso de ocitocinas. Aqueles que haviam recebido ocitocina intranasal por um período superior a 30 dias também foram excluídos. O estudo foi conduzido de agosto de 2014 até junho de 2017.
Os participantes foram alocados aleatoriamente em uma proporção de 1:1, com estratificação de acordo com a idade e fluência verbal, para receber ocitocina ou placebo, administrado por via intranasal, com uma dose alvo total de 48 unidades internacionais diárias (UI). A ocitocina intranasal em concentrações de 8 UI por 0,1 mL e 24 UI por 0,1 mL e o placebo correspondente foram fabricados pela Tergus Pharma® e foram rotulados e distribuídos pela Patwell Pharmaceutical Solutions® em conformidade com os regulamentos atuais de Boas Práticas de Fabricação do Food and Drug Administration (FDA). O produto ativo continha peptídeo sintético de ocitocina. O placebo não continha ocitocina, mas era idêntico ao produto de ocitocina intranasal em relação aos outros ingredientes, volume, rotulagem, sistema de recipiente e outras características. A dosagem de ocitocina foi considerada flexível. Os pacientes começaram o tratamento com 8 UI pela manhã, todos os dias e essa dose foi aumentada para uma dose diária alvo de 48 UI (em geral 24 UI, duas vezes ao dia, na semana 8).
O desfecho primário foi a mudança média de quadrados mínimos da linha de base na subescala de Abstinência Social modificada da Lista de Verificação de Comportamento Aberrante (Aberrant Behavior Checklist modified Social Withdrawal subscale – ABC-mSW), que inclui 13 itens (as pontuações variam de 0 a 39, com pontuações mais altas indicando menos interação social). Os resultados secundários incluíram duas medidas adicionais de função social e uma medida abreviada de quociente de inteligência (QI).
Resultados
Das 355 crianças e adolescentes que realizaram a triagem, 290 foram incluídos no estudo. Um total de 146 participantes foram designados para o grupo de ocitocina e 144 para o grupo placebo; 139 e 138 participantes, respectivamente, completaram as avaliações de linha de base e, pelo menos, uma avaliação ABC-mSW pós-linha de base e foram incluídos nas análises de intenção de tratar modificadas. Ao final, dos 290 indivíduos que iniciaram o tratamento, 250 completaram 24 semanas.
Entre todos os participantes que foram incluídos na análise de eficácia, 48% tinham fluência verbal mínima e 52% tinham fala verbal fluente. A idade média foi de cerca de 10 para os minimamente verbais e 11 para os verbalmente fluentes. Todavia, a distribuição entre as faixas etárias foi a seguinte: 25% dos participantes tinham de 3 a 6 anos de idade, 39% tinham de 7 a 11 anos e 36% tinham de 12 a 17 anos. A maioria dos participantes (87%) era do sexo masculino. A mediana do escore ABC-mSW no início do estudo foi de 11 pontos. Das 1.939 avaliações ABC-mSW que eram esperadas se todos os participantes na população de intenção de tratar modificada completassem todas as avaliações programadas, 128 (6,6%) eram faltosas; os dados foram considerados ausentes aleatoriamente.
O resultado primário (alteração média dos mínimos quadrados desde a linha de base no escore ABC-mSW) foi de -3,7 no grupo de ocitocina e de -3,5 no grupo de placebo (diferença média dos mínimos quadrados, -0,2; intervalo de confiança de 95%, -1,5 a 1,0; P = 0,61).
Os resultados secundários não diferiram entre os grupos de ensaio de uma forma geral. A incidência e gravidade dos eventos adversos foram semelhantes nos dois grupos. Três eventos adversos graves ocorreram durante o estudo. Um evento adverso sério foi considerado pelos pesquisadores como relacionado à ocitocina: sedação durante a condução que levou a um acidente com veículo motorizado enquanto o participante tomava uma dose diária total de 48 UI. Na população de segurança, quatro participantes no grupo de ocitocina e três no grupo placebo descontinuaram o regime do estudo devido a eventos adversos. A maioria das interrupções no grupo da ocitocina foram relacionadas à irritabilidade ou agressão; apenas uma das interrupções no grupo placebo foi devido a causas comportamentais (aumento da libido com impulsividade). Os eventos adversos ocorreram em 82% dos participantes no grupo de ocitocina e em 83% daqueles no grupo de placebo. O grupo de ocitocina teve maiores incidências de:
Foi realizado um ensaio clínico randomizado de fase 2 de 24 semanas, controlado por placebo, de terapia de ocitocina intranasal em crianças e adolescentes com idades entre 3 e 17 anos e com diagnóstico de TEA. Os participantes deveriam preencher os critérios para TEA conforme o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, quinta edição (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, fifth edition – DSM-5). Foram excluídos pacientes com outros diagnósticos sobrepostos ou que pudessem ter complicações com o uso de ocitocinas. Aqueles que haviam recebido ocitocina intranasal por um período superior a 30 dias também foram excluídos. O estudo foi conduzido de agosto de 2014 até junho de 2017.
Os participantes foram alocados aleatoriamente em uma proporção de 1:1, com estratificação de acordo com a idade e fluência verbal, para receber ocitocina ou placebo, administrado por via intranasal, com uma dose alvo total de 48 unidades internacionais diárias (UI). A ocitocina intranasal em concentrações de 8 UI por 0,1 mL e 24 UI por 0,1 mL e o placebo correspondente foram fabricados pela Tergus Pharma® e foram rotulados e distribuídos pela Patwell Pharmaceutical Solutions® em conformidade com os regulamentos atuais de Boas Práticas de Fabricação do Food and Drug Administration (FDA). O produto ativo continha peptídeo sintético de ocitocina. O placebo não continha ocitocina, mas era idêntico ao produto de ocitocina intranasal em relação aos outros ingredientes, volume, rotulagem, sistema de recipiente e outras características. A dosagem de ocitocina foi considerada flexível. Os pacientes começaram o tratamento com 8 UI pela manhã, todos os dias e essa dose foi aumentada para uma dose diária alvo de 48 UI (em geral 24 UI, duas vezes ao dia, na semana 8).
O desfecho primário foi a mudança média de quadrados mínimos da linha de base na subescala de Abstinência Social modificada da Lista de Verificação de Comportamento Aberrante (Aberrant Behavior Checklist modified Social Withdrawal subscale – ABC-mSW), que inclui 13 itens (as pontuações variam de 0 a 39, com pontuações mais altas indicando menos interação social). Os resultados secundários incluíram duas medidas adicionais de função social e uma medida abreviada de quociente de inteligência (QI).
Resultados
Das 355 crianças e adolescentes que realizaram a triagem, 290 foram incluídos no estudo. Um total de 146 participantes foram designados para o grupo de ocitocina e 144 para o grupo placebo; 139 e 138 participantes, respectivamente, completaram as avaliações de linha de base e, pelo menos, uma avaliação ABC-mSW pós-linha de base e foram incluídos nas análises de intenção de tratar modificadas. Ao final, dos 290 indivíduos que iniciaram o tratamento, 250 completaram 24 semanas.
Entre todos os participantes que foram incluídos na análise de eficácia, 48% tinham fluência verbal mínima e 52% tinham fala verbal fluente. A idade média foi de cerca de 10 para os minimamente verbais e 11 para os verbalmente fluentes. Todavia, a distribuição entre as faixas etárias foi a seguinte: 25% dos participantes tinham de 3 a 6 anos de idade, 39% tinham de 7 a 11 anos e 36% tinham de 12 a 17 anos. A maioria dos participantes (87%) era do sexo masculino. A mediana do escore ABC-mSW no início do estudo foi de 11 pontos. Das 1.939 avaliações ABC-mSW que eram esperadas se todos os participantes na população de intenção de tratar modificada completassem todas as avaliações programadas, 128 (6,6%) eram faltosas; os dados foram considerados ausentes aleatoriamente.
O resultado primário (alteração média dos mínimos quadrados desde a linha de base no escore ABC-mSW) foi de -3,7 no grupo de ocitocina e de -3,5 no grupo de placebo (diferença média dos mínimos quadrados, -0,2; intervalo de confiança de 95%, -1,5 a 1,0; P = 0,61).
Os resultados secundários não diferiram entre os grupos de ensaio de uma forma geral. A incidência e gravidade dos eventos adversos foram semelhantes nos dois grupos. Três eventos adversos graves ocorreram durante o estudo. Um evento adverso sério foi considerado pelos pesquisadores como relacionado à ocitocina: sedação durante a condução que levou a um acidente com veículo motorizado enquanto o participante tomava uma dose diária total de 48 UI. Na população de segurança, quatro participantes no grupo de ocitocina e três no grupo placebo descontinuaram o regime do estudo devido a eventos adversos. A maioria das interrupções no grupo da ocitocina foram relacionadas à irritabilidade ou agressão; apenas uma das interrupções no grupo placebo foi devido a causas comportamentais (aumento da libido com impulsividade). Os eventos adversos ocorreram em 82% dos participantes no grupo de ocitocina e em 83% daqueles no grupo de placebo. O grupo de ocitocina teve maiores incidências de:
Aumento do apetite (16%, vs. 10%);
Aumento de energia (10% vs. 3%);
Inquietação (8% vs. 2%);
Perda subjetiva de peso (7% vs. 3%);
Aumento da sede (6% vs. 3%);
Desatenção (6% vs. 3%);
Mialgia (3% vs. 1%).
Não houve outras alterações clinicamente significativas nos sinais vitais, altura, avaliações laboratoriais clínicas ou achados eletrocardiográficos em nenhum dos grupos.
O estudo apresentou algumas limitações, descritas pelos pesquisadores. Uma delas é o fato de que o produto de ocitocina específico que usaram pode ter problemas de absorção em altas doses. Além disso, os autores do estudo reconheceram que a escala ABC-mSW não é uma medida de resultado validada para pesquisa em TEA.
Conclusão
Neste importante estudo envolvendo crianças e adolescentes com TEA, os pesquisadores demonstraram que 24 semanas de tratamento diário com ocitocina intranasal, quando comparadas ao placebo, não melhoraram a interação social ou outras medidas da função social relacionadas ao TEA. Portanto, o uso off-label atual de ocitocina no tratamento do TEA em pediatria não é recomendado diante desses resultados insatisfatórios.
Autor(a):
Autor: Roberta Esteves Vieira de Castro
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 21/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/estudo-soars-b-sem-evidencias-para-o-uso-de-ocitocina-como-tratamento-para-o-transtorno-do-espectro-autista/
Referências bibliográficas:
- Sikich L, Kolevzon A, King BH, et al. Intranasal Oxytocin in Children and Adolescents with Autism Spectrum Disorder. N Engl J Med. 2021;385(16):1462-1473. doi:10.1056/NEJMoa2103583
Autor: Roberta Esteves Vieira de Castro
Fonte: pebmed
Sítio Online da Publicação: pebmed
Data: 21/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/estudo-soars-b-sem-evidencias-para-o-uso-de-ocitocina-como-tratamento-para-o-transtorno-do-espectro-autista/
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