Nos últimos dez anos sua incidência quase dobrou nos EUA, porém essas estimativas permanecem subestimadas, inclusive no Brasil, devido ao fato de não ser uma doença de notificação compulsória. Não há transmissão interpessoal de MNTs como ocorre na tuberculose. Fatores de risco para infecção incluem a idade avançada, indivíduos imunocomprometidos e a presença de bronquiectasias, além de ser mais comum em homens que mulheres. Elas podem ser classificadas como micobacterioses de crescimento rápido, como o Mycobacterium abscessus, e de crescimento lento, como o complexo Mycobacterium avium (MAC) e o Mycobacterium kansasii, sendo estes os mais prevalentes na prática clínica.
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Micobacterioses não tuberculosas: diagnóstico e tratamento
As manifestações clínicas são inespecíficas, mas incluem principalmente dispneia, tosse secretiva, febre, astenia e hemoptise. A tomografia é essencial no diagnóstico e seguimento, apresentando múltiplas imagens em árvore em brotamento, nódulos (geralmente menores de 1 cm), consolidações, cavidades de paredes finas e uniformes e bronquiectasias sobretudo em lobo médio e língula, muitas vezes indistinguíveis da tuberculose. Pacientes imunocomprometidos tendem a ter uma apresentação exuberante com doença disseminada em alguns casos. A forma cavitária é mais prevalente em pacientes com MAC e geralmente é progressiva e mais grave, diferente das formas nodulares e bronquiectásicas que tendem a ser mais indolentes. Os critérios diagnósticos incluem a presença de sintomas respiratórios e sistêmicos (critério clínico), alterações radiológicas e a presença de duas culturas de escarro positivas ou uma cultura positiva do lavado broncoalveolar ou da biópsia.
Nem todos os pacientes diagnosticados serão tratados. A decisão de tratamento depende de uma série de variáveis, entre elas o paciente, o grau de sintomas, imunossupressão e o potencial de toxicidades. O tratamento geralmente envolve o uso de três drogas, não deve ser feito de forma empírica (é fundamental identificar a micobacteriose em cultura) e dura cerca de 18 a 24 meses, com no mínimo 12 meses de culturas negativas. As principais drogas utilizadas são macrolídeos, rifampicina, etambutol e isoniazida. A abordagem cirúrgica é eficaz em alguns casos, associada ao tratamento clínico, sobretudo nos indivíduos com doença localizada, com resistência às drogas utilizadas, a presença de hemoptise e boa performance clínica. Outras medidas importantes no seguimento desses pacientes é uma nutrição adequada, fisioterapia respiratória, medidas de higiene brônquica e tratamento da doença do refluxo gastroesofágico. Os critérios de resposta incluem melhora dos sintomas, redução das alterações tomográficas e negativação das culturas.
Mensagens Práticas:
As MNTs apresentam quadro semelhante ao da tuberculose e estão se tornando cada vez mais comuns;
O tratamento é longo e complexo, sobretudo pela toxicidade das drogas envolvidas.
A doença pode se manifestar em imunocompetentes e imunocomprometidos de formas diferentes, tendendo a ser mais grave nos últimos;
Os macrolídeos são fundamentais no tratamento e, sempre que possível, devem ter sua resistência testada.
Autor:
Guilherme das Posses Bridi
Residência em Clínica Médica e Pneumologia pelo HCFMUSP ⦁ Preceptor da disciplina de Pneumologia do InCor-HCFMUSP ⦁ Fellow em Doenças Intersticiais Pulmonares
Referências bibliográficas:
Daley CL, Iaccarino JM, Lange C, Cambau E, Wallace RJ Jr, Andrejak C, Böttger EC, Brozek J, Griffith DE, Guglielmetti L, Huitt GA, Knight SL, Leitman P, Marras TK, Olivier KN, Santin M, Stout JE, Tortoli E, van Ingen J, Wagner D, Winthrop KL. Treatment of nontuberculous mycobacterial pulmonary disease: an official ATS/ERS/ESCMID/IDSA clinical practice guideline. Eur Respir J. 2020 Jul 7;56(1):2000535. doi: 10.1183/13993003.00535-2020.
Hwang JA, Kim S, Jo KW, Shim TS. Natural history of Mycobacterium avium complex lung disease in untreated patients with stable course. Eur Respir J. 2017 Mar 8;49(3):1600537. doi: 10.1183/13993003.00537-2016.
Autor: Guilherme das Posses Bridi
Fonte: PEBMED
Sítio Online da Publicação: PEBMED
Data: 11/10/2021
Publicação Original: https://pebmed.com.br/micobacterioses-nao-tuberculosas-o-que-precisamos-saber/
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